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ART-NOUVEAU A ARTE NOVA E SUAS RELAÇÕES COM O DESENHO INDUSTRIAL Na última década do século XIX, uma nova tendência arquitetônica e artística que recebeu o nome de Arte Nova nasceu em Bruxelas, Bélgica. Daí, difundiu-se em seguida pelo resto da Europa, quase contemporaneamente à afirmação, noutros países, de movimentos análogos, como o Art-Nouveau na França, o Jugendstil na Alemanha, a Sezession na Áustria, o Stile Floreale ou Liberty na Itália, e o Modernismo na Catalunha. O Art-Nouveau, nome pelo qual esse movimento tornou-se mais conhecido, reunia as mais diversas tendências na época: as ideias da industrialização crescente, as influências do movimento inglês Arts & Crafts, da arte oriental, das artes decorativas e das iluminuras medievais, envolvendo principalmente os objetos ornamentais e a arquitetura. Teve o enorme mérito de propor à criação arquitetônica e do desenho, módulos e decorações que abstraíam completamente de qualquer recordação estilística precedente, inspirando-se em elementos naturalistas (espécies florais) e em motivos onde era possível notar influências extremo orientais. Este vaguear pelo mundo da natureza nas decorações da Arte Nova revela a sua afinidade com as já consideradas elaborações dos movimentos de Morris e dos pré- rafaelitas, afinidade que vai também no sentido de uma mais íntima ligação entre estrutura e decoração. No entanto, este movimento distancia-se das posições de John Ruskin e William Morris, na medida em que aceita incondicionalmente a intervenção da máquina. “O poderoso jogo dos seus braços de ferro...” – como escreve Henry Van de Velde nos seus Kunstgewerbliche Laienspredikten, 1901 – “...criará a beleza, desde que a beleza o guie”. O arquiteto belga pode, portanto, ser considerado como o mais iluminado expoente do novo estilo. Substitui a sua atividade inicial de pintor pela de cultor das artes aplicadas e da arquitetura, dedicando-se a desenhar móveis, estofos, tapeçarias. E através dessas atividades teve um sucesso clamoroso na França quando foi chamado em 1939 por S. Bing, negociante de arte parisiense, a tomar conta do negócio na galeria que tomou precisamente o nome de Art-Nouveau. O furor criado em torno da galeria de Bing naquela ocasião deu origem ao aparecimento, também na França, de um movimento análogo (o estilo Gallé), a que aderiram aderecistas ceramistas, industriais e artistas como Gallé e Hector Guimard (o criador das famosas estruturas de ferro nas entradas do metrô de Paris) que acentuaram ainda mais o imaginativo decorativismo dos arquitetos belgas Van de Velde e Victor Horta. Correntes análogas à Arte Nova surgiram na Áustria (onde J. Hoffmann (1870- 1956) fundou, em 1903, com K. Moser o Wiener Werksraetten) e na Alemanha, onde foi dado um notável desenvolvimento à criação de móveis, objetos para a casa, objetos decorativos. Por sua vez, a Grã-Bretanha, a obra de Morris e do Arts and Crafts era prosseguida e aperfeiçoada pela escola escocesa de Charles Rainer Mackintosh (1869- 1928) e de Mackmurdo (1851-1942). Uma importante ligação entre os fermentos artísticos anglo-saxônicos e germânicos iria depois ser realizada por Hermann Muthesius (t871-1927), o qual - como adido na embaixada alemã em Londres - teve oportunidade de estudar os problemas da industrialização do produto artesanal naquele país e, uma vez regressado à pátria, patrocinou o aparecimento de um novo Maschinenstil, (o Estilo da Máquina) que teve depois na Deutsche Werkstaetten (a partir de 1907) a sua primeira realização. Só recentemente se deu o devido valor à importância dos movimentos da Arte Nova na promoção do aparecimento de uma forma de arte já decisivamente industrializada, mas ao mesmo tempo dotada de uma nova originalidade estilística. E isto porque, salvo a partir de há alguns anos, se continuou a considerar a Arte Nova como uma corrente oposta e inimiga da corrente racionalista . Na realidade, as duas correntes, aparentemente distintas e adversas, tiveram conjuntamente a função de promover a utilização da máquina na criação, quer arquitetônica, quer das artes aplicadas, com a diferença que o Racionalismo quis fazer tábua rasa de todo e qualquer motivo decorativo e ornamental, na procura de uma pureza construtiva absoluta e de uma total funcionalidade. Nas tendências mais destacadamente racionalistas participaram, desde a primeira década do século, algumas personalidades importantes, como Berlage, na Holanda, Adolf Loos, na Áustria, Tony Garnier e Auguste Perret, na França, e Behrens, na Alemanha. A Behrens (que se tornou conselheiro da AEG, em 1909, e foi o construtor da fábrica de Berlim) torna-se necessário reconhecer o mérito - ou a sorte - de ter sido talvez o primeiro caso de “conselheiro artístico” - de designer, portanto - requisitado diretamente por uma indústria, com o fim de, simultaneamente, se encarregar da organização técnica e artística. É por isso que Behrens, no cargo seguinte de diretor da Academia de Arte de Dusseldorf, tal como Henry Van de Velde no cargo de diretor da Escola de Weimar, merecem o máximo reconhecimento como pioneiros de um método didático destinado a reconhecer o peso que o desenho industrial iria assumir no setor técnico e artístico da produção em série.
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