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Teoria Geral do Direitos Humanos. 2016

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DIREITOS 
HUMANOS 
Volume I 
TEORIA GERAL DOS DIREITOS 
HUMANOS 
1. Introdução; 
2. Conceito de Direitos Humanos; 
3. Terminologia; 
4. Estruturas das normas de Direitos Humanos: princípios e regras. 
5. Fundamentação dos Direitos Humanos; 
6. Classificação e rol dos direitos humanos; 
7. Características dos Direitos Humanos na Ordem Internacional. 
 
 
Página 3 de 32 
 
I – TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS 1. Introdução: “Gênero Humano” 
É correto dizer que os Direitos Humanos sempre 
existiram? 
A resposta necessariamente está relacionada a algo que 
pode ser denominado “gênero humano”. 
Para possibilitar a compreensão é necessário 
inicialmente percorrer alguns conceitos como os de 
“Ética”, de Direitos Humanos e Tolerância. 
1.1. Ética, Moral, Universalismo e relativismo. 
A discussão sobre Ética se inicia na Grécia Antiga 
quando os estudiosos e filósofos perceberam que a vida é 
finita. Se a vida é finita, qual é a melhor forma de viver a 
vida? A partir de tais reflexões se inicia a discussão sobre 
os “modelos de existência” (sinônimo de ética). 
Assim, para viver melhor, adotar a ética seria adotar um 
determinado modelo de existência que varia conforme o 
objetivo que se busca alcançar. Para que esse objetivo fosse 
alcançado se fazia necessário a sujeição do indivíduo a dois 
elementos: um “saber” e um “sacrifício”, este último 
denominado “ascese”. Surge aí o conceito de moral, o 
julgamento dos atos à luz do saber específico. 
Assim, o indivíduo deveria fazer um julgamento de 
suas condutas à luz do saber que se sujeitava, se seu 
comportamento fosse adequado à orientação filosófica 
proposta, o sujeito possuía então uma conduta moral. 
A moral seria assim o julgamento da conduta à luz do 
estatuto, do saber, a que o indivíduo se sujeitou para atingir 
um modelo de existência. Imoral seria as conduta que 
violava tal saber relacionado a um determinado modelo de 
existência, afastando o agente que as viola, do perfil ético 
buscado ou exigido. 
Dessa forma, a noção de Ética e de Mora lpode ser 
esquematizada a partir da seguinte forma, a partir da 
orientação teórica de Edson Passetti na obra “´Ética dos 
amigos: invenções libertárias da vida”; 
ÉTICA (MODELO DE EXISTÊNCIA) = SABER + 
SACRIFÍCIO = RESULTADO QUE SE ALMEJA. 
MORAL: JULGAMENTO DA CONDUTA À LUZ DO 
SABER. 
 
DO ADVOGADO (MODELO DE EXISTÊNCIA DO 
ADVOGADO) = SABER (CÓDIGO DE ÉTICA DO 
ADVOGADO) + SACRIFÍCIO (OBSERVAR OS DEVERES 
DO ADVOGADO) = RESULTADO (ADVOGADO ÉTICO). 
ÉTICA CRISTÃ (MODELO DE EXISTÊNCIA 
DO CRISTÃO)= SABER (BÍBLIA) +SACRIFÍCIO 
(NÃO INCORRER NOS PECADOS) - 
RESULTADO (CONVERSÃO, INSERÇÃO NO 
REINO DE DEUS, APÓS A MORTE).
Já a Dignidade é valor que integra os Direitos 
Humanos excessivamente caro à sua conceituação e 
compreensão, uma vez que os Direitos Humanos são o 
conjunto de normas e princípios que conduzem a um 
tratamento DIGNO. 
Sobre a Dignidade, seu significado variou com o 
tempo e momento histórico, e mesmo, trata-se de uma 
concepção pessoal de cada um: o que é digno para uma 
pessoa pode não ser para outra. Neste sentido, discute-
se se existe algo que é UNIVERSAL (o que é 
indispensável para uma pessoa é para todos) ou se tudo é 
RELATIVO, ou seja, depende do ponto de vista de cada 
um. 
A partir desse momento já é possível dizer que os 
Direitos Humanos remontam à antiguidade, pois, no 
Página 4 de 32 
 
decorrer dos períodos históricos determinadas 
pessoas possuíam sim um tratamento digno. 
Contudo, deve ser analisada a Ética (modelo de 
existência) que orientou o perfil do que se entende por 
“direitos humanos” em cada época. 
Como se verá, nos diferentes momentos, houve 
tratamento digno para alguns, e intolerância para outros, 
surgindo desde a antiguidade, discussão da existência de 
um Direito que regeria não somente os indivíduos ligados 
por “laços comuns”, como por exemplo, o fato de ser 
oriundo de uma mesma cidade, de um mesmo grupo 
social ou religião, mas um Direito Universal que fosse 
independente face às distinções e que fosse algo inerente 
ao gênero humano. 
Neste sentido, seria um “Direito natural”,“universal”, 
que todo individuo tivesse acesso somente pelo fato de 
ser humano, ou seja, absoluto, que não poderia ser 
relativizado que concedesse a todos, tratamento digno 
apesar das diferenças. 
1.2 Ética dos Direitos humanos em diferentes 
momentos históricos 
1.2.1 Grécia 
Na Grécia antiga, a ética dos Direitos humanos 
compreendia o modelo do cidadão. Somente possuía 
tratamento digno, aquele que fosse participante das 
atividades da pólis, como políticos, pessoas ricas, 
sacerdotes, que eram os que participavam efetivamente 
das decisões nas cidades-estados gregas. 
Neste sentido, o contingente da população, alvo de 
discriminação, eram os pobres, escravos, os 
trabalhadores, mulheres e estrangeiros. Estes eram alvo 
da intolerância, não tendo acesso ao tratamento digno, 
pois não participavam da vida da Pólis. 
Apesar de haver essa intolerância com esse contingente, 
segundo o exemplo de FÁBIO KONDER 
COMPARATTO, Aristóteles em sua obra “Retórica” 
(1368 b, 8-10), em relação ao estrangeiro mencionou a 
existência de “leis particulares” e “leis comuns”. As 
primeiras seriam aquelas que cada cidade adota para si e 
que vão regulamentar as condutas dos indivíduos que 
habitam um espaço comum(uma cidade, um país) e, as 
segundas, seriam aquelas que embora não escritas, são 
admitidas em todo o mundo se aplicando ao Estrangeiro 
independente do local. 
Seguindo raciocínio semelhante (de que existem 
Direitos Universais) Cícero em Roma, a partir do 
pensamento estóico, mencionou que haveria um “direito 
natural” que regia não somente a vida familiar e pública, 
mas também relações entre cidadãos e estrangeiros. De 
acordo com o pensamento esposado por Cícero (em “De 
officius”): 
“Dizer que se deve respeitar os concidadãos, mas não 
os estrangeiros [...] é destruir a sociedade comum do 
gênero humano”. 
Trata-se do que se denominou à época de 
communishumani generis societas”. 
Relatos históricos atestam, inclusive, que houve a 
organização de uma magistratura (corporação de juízes), 
onde o praetorperegrinus era uma espécie de juiz 
incumbido de dirigir processos em que uma das partes 
seriampessoas estrangeiras. 
Tal prática foi repetida no período Imperial pelos 
iurisprudentes, que admitiam a existência de um Direito 
Natural, a par do direito próprio de cada povo. 
A partir da discussão sobre a existência de um direito 
que a todos se aplicasse pelo fato de todos tratarem-se de 
seres humanos, o que seria um Direito Universal, foi 
Gaio (na obra “Institutas I, 1”) que nomeou esse “Direito 
Página 5 de 32 
 
Natural” (por ser algo natural do homem, que o 
acompanha desde o nascimento) de ius gentium, o 
“direito das gentes”, que pertence a todos pelo fato de que 
todos “são gente”. 
Contudo apesar de tais contribuições, sabe-se que tanto 
na Grécia quanto em Roma, se admitiu a escravidão 
oficialmente, mostrando que o direito comum a todos não 
se estendia àqueles que tinham decaído da “condição 
humana” em razão da escravidão ou classe social baixa. 
Ou seja, a intolerância tinha como alvo aqueles que não 
eram considerados “gente” ou “humanos” ou 
pertencentes ao gênero humano. 
1.2.2 Idade Média (cristianismo). 
Posteriormente na Idade Média, a cidadania (o direito 
de participar da vida pública) deixou de ser um laço de 
base política e passou a ser um laço de base religiosa. 
Neste caso, possuíam tratamento digno a realeza, os 
sacerdotes, os nobres(guerreiros), os barões. 
À época a intolerância se dava contra aqueles que não 
se adequavam ao modelo de existência cristã, à ética 
cristã, como os escravos, mulheres, que muitas vezes 
foram apontadas como bruxas, e os infiéis (que eram 
adeptos a outra religião) que eram tidos como “hereges” 
que muitas vezes eram torturados e assassinados em 
praça pública. Neste caso, os estrangeiros, considerados 
infiéis (por não congregar da mesma religião) eram 
também alvo da intolerância, não tendo acesso ao 
tratamento digno. 
Na doutrina do religioso Tomás de Aquino (em “Suma 
Teológica), no Século XI, é possível verificar que este foi 
o critério de distinção entre os que eram cidadãos e os 
não cidadãos, ou seja, distinção entre os que iam 
participar ou não da vida da cidade, ter tratamento digno 
e acesso aos direitos. 
 Nesse caso, aquele que não fosse “cristão” era 
considerado um herege (traidor do cristianismo), e era 
punido com a excomunhão (era expulso). Dessa forma, 
da leitura de sua obras, sabe-se que Tomás de Aquino 
nem cogitava uma convivência com os islamitas, pois 
estes eram inimigos do gênero humano; 
Percebe-se que apesar de toda a teorização sobre um 
Direito Universal que alcançaria a todos e era natural ao 
homem somente pelo fato de ser homem não alcançava 
nem o escravo, nem o herege. 
Pode-se dizer assim, que para alguns havia “direitos 
humanos”, contudo esses indivíduos que se encontravam 
nas condições acima mencionadas, simplesmente não 
eram considerados humano. 
No início da Idade Moderna, Século XVII, com o 
surgimento do “cristianismo protestante” 
ocorreram muitas guerras que ensangüentaram 
toda a Europa e se davam “em nome de Deus”. 
Assim, conforme FABIO KONDER 
COMPARATTO, o sentido etimológico da 
expressão religião acabou por perder o sentido, já 
que a mesma, mais dissociava do que ligava o 
“gênero humano”. 
Após tais guerras, no decorrer da Idade 
Moderna, percebendo a dissociação criada pela 
Religião, HUGO GRÓCIO, em suas teorizações, 
ressuscitou o “velho direito natural” sustentando 
que a segurança – e não a fé religiosa – era o 
verdadeiro fundamento da paz entre os povos. 
obrigado a ser cristão). Aqueles que tivessem 
outra religião não poderiam professá-la 
Página 6 de 32 
 
publicamente, devendo fazê-lo em seu âmbito 
privado (escondido ou dentro de sua casa). 
Assim, o preço da paz, do tratamento digno, e 
dos direitos humanos passa a ser a convenção 
entre Estados, sendo que quem não fosse nacional 
de um país não reconhecido pelos demais não 
possuía direito nenhum, afastando-se mais uma 
vez da concepção de “Direito Natural” etrazendo a 
noção de um Direito puramente convencional 
(convencionado entre os Estados). 
1.2.3 Transição Idade Média e Renascimento: 
nascimento dos direitos humanos modernos e 
tolerância moderna. 
Com o Tratado de Vestefália (1648), que proibiu 
a “guerra dos Trinta anos”, a religião continua 
sendo uma questão de ordem pública, mas restrita 
a profissão de fé do Monarca Monarca (ou seja, o 
Rei era obrigado a ser cristão). Aqueles que 
tivessem outra religião não poderiam professá-la 
publicamente, devendo fazê-lo em seu âmbito 
privado (escondido ou dentro de sua casa). 
Assim, o preço da paz, do tratamento digno, e 
dos direitos humanos passa a ser a convenção 
entre Estados, sendo que quem não fosse nacional 
de um país não reconhecido pelos demais não 
possuía direito nenhum, afastando-se mais uma 
vez da concepção de “Direito Natural” etrazendo a 
noção de um Direito puramente convencional 
(convencionado entre os Estados). 
Surge assim esse sistema convencional de Direitos 
Humanos, em que o acesso a estes direitos pelo 
indivíduo, o status de cidadão dependia de 
convenções entre o Estado de que esse indivíduo 
precedia e o Estado que este visitava Com a 
transição do Mercantilismo para o Capitalismo 
(orientações da economia), as orientações políticas 
sofrem uma transição do Sistema monárquico para 
o Liberalismo. 
Com isso, conforme demonstram inúmeros 
pensadores - mas com maior maestria Michel 
Foucault – o sistema mercantilista retira suas 
riquezas da aglomeração de bens, enquanto o 
capitalismo enriquece a partir da exploração do 
trabalho humano, e desta forma, neste momento se 
necessita da proteção ao homem que deve ser 
normal, dócil e saudável, para trabalhar nas 
fábrica. Com isso surgem novas verdades 
argumentadas principalmente nas obras dos 
contratualistas: Kant, Voltaire, Locke, Rousseau, 
Stuart Mill, Bentham.
Todas os autores em questão ajudaram a produzir 
a noção de direitos humanos no período do início 
da modernidade, da revolução industrial e do 
liberalismo. 
Todos pregavam que os direitos humanos 
deveriam ser universais exigindo que o Estado 
respeitasse as hoje chamadas “garantias 
fundamentais de 1ª geração”, pois há época essa 
era a noção de Dignidade, a verdade da época. 
Os Direitos Humanos modernos são os que são 
orientados pela ética universal, ou seja a de que os 
direitos humanos são para todos, e para isso é 
necessária a tolerância. 
A noção de Direitos Humanos modernos é 
chamada no campo da política e das ciências 
sociais de “tolerância moderna” por que a essência 
de nova proposta exige a “tolerância” esteve 
Página 7 de 32 
 
presente no livro “Tratado da Tolerância” de 
Voltaire. 
No livro em questão ensina-se que a tolerância é 
a capacidade de conviver com alguém que não se 
gosta, não se aprecia, mas que se respeita e para 
isso se preserva seus direitos naturais por se tratar 
de uma pessoa, propondo as extinções dos 
castigos corporais e cruéis, momento do 
nascimento da prisão. 
Para Voltaire educar pela tolerância é educar 
pela punição em tribunais estatais com as 
garantias processuais. A crítica à tal proposta é 
conduzida por William Godwin, no sentido que 
educar não é punir, não se educa pelo medo da 
punição mas mediante argumentos inteligentes. 
A proposta da tolerância moderna em Voltaire 1é 
o projeto de sociedade moderna que está aí até 
hoje, que foi projetado pela ONU para o mundo 
todo, uma orientação que foi garantida 
mundialmente pelo chamado sistema estatutário. 
1.2.4.Advento Sistema Estatutário de Proteção 
dos Direitos Humanos (Internacionalização dos 
Direitos Humanos) a partir da criação da 
ONU. 
No período da Segunda Guerra Mundial, a 
humanidade estremeceu com a intolerância dos 
Nazistas direcionada aqueles que não o fossem, 
aos judeus, aos homo afetivos, aos ciganos e 
especialmente os afrodescendentes. 
 Dessa forma, com a morte de milhões, ao 
final da guerra surge a ONU que propõe um 
novo sistema de proteção, não mais 
 
1
 Texto complementar 1. 
convencionado entre Estados, mas estatutário, 
de observância obrigatória por toda a 
comunidade política. 
Assim, quase um século depois, o paradigma dos 
Direitos humanos Universais é confirmado na 
Declaração Universal dos Direitos Humanos, da 
ONU, em que se menciona: “o reconhecimento da 
dignidade inerente a todos os membros da família 
humana e de seus direitos iguais e inalienáveis 
como fundamento da liberdade, da justiça e da paz 
do mundo”. 
Dessa forma, se afirmou que acima dos critérios 
de qualificação do indivíduo comostatus de 
cidadão de um Estado, está a condição de “pessoa 
humana” dispensando qualquer outra qualificação 
de raça, gênero, nacionalidade ou religião 
trazendo o que pode ser denominado de ética 
universal dos Direitos humanos, direitos humanos 
universais ou tolerância moderna. 
Atualmente, abandona-se assim o mencionado 
sistema convencional (Estados definem os 
indivíduos que terão acesso a direitos humanos) 
pelo princípio estatutário, em que se dá a transição 
de um sistema pautada na soberania dos Estados,para um sistema em que a soberania pertence à 
humanidade. 
Assim pode-se dizer que haviam alguns 
Tratados Internacionais que versavam sobre os 
Direitos Humanos e dignidade anteriores à 
ONU, como as Convenções de Genebra, a 
Convenção de Haia, a Liga das Nações, a OIT 
(Organização Internacional do Trabalho), mas 
estes, são considerados precedentes da 
Página 8 de 32 
 
Internacionalização, que de fato, somente irá 
ocorrer com a criação da ONU. 
1.2.5 Noções de Dignidade 
Nos Direitos Humanos modernos se tem a 
clássica noção de dignidade: algo inerente ao 
ser humano. 
Essa noção surge primeiramente com Kant: para 
o autor se trata de algo inerente às pessoas. 
Segundo ele, tudo tem um valor, algo que pode ser 
substituído por um equivalente. Menos as pessoas. 
As pessoas são um fim em si mesmo e portanto 
não possuem valor mas dignidade. São um fim e 
não um meio. 
Neste sentido argumentam autores mais recentes 
como Perez Luno e Wolfgang Sarlet, de que se 
trata de uma qualidade humana que distingue os 
seres humanos dos demais seres. 
Surge assim a visão de que o núcleo da 
dignidade é a preservação do mínimo existencial, 
um conjunto de garantias mínimas essenciais à 
sobre vivência humana adequada. 
Atualmente André de Carvalho Ramos destaca 
quatro usos da Dignidade: 1) Fundamentação na 
criação jurisprudencial de novos direitos (eficácia 
positiva); 2) Formatação da criação adequada da 
interpretação de direitos específicos; 3) Criação de 
limites ao Estado (eficácia negativo); 4) Formação 
do juízo de ponderação. 
Além dessas visões recentes há também a de 
Aluísio Iunes que inovou sobre a discussão 
acerca do significado de “dignidade”. 
Considerando que nenhuma das posições traduz 
o significado de dignidade como algo absoluto e 
universal para todas as pessoas, pois o que é digno 
para alguns pode não o ser para outros, surge um 
autor que amplia noções sobre a discussão do 
significado de dignidade quando fala sobre a 
missão da Defensoria Pública enquanto 
instituição. 
Para Aluísio Iunes2, dignidade não é um valor 
em si, mas sim, a principal forma de “proteção da 
pessoa”, sendo a proteção, a essência real dos 
direitos humanos e não a dignidade. 
O autor propõe que toda pessoa possui um centro 
íntimo em que não se sente vulnerável. Quanto 
mais distante do centro íntimo mais vulnerável 
fica. 
A metáfora do pássaro e seu ninho é utilizada 
pelo autor: cada vez mais longe do ninho, mais 
vulnerável uma pessoa está. 
Essa solução se adéqua perfeitamente às 
necessidades atuais (pós modernas): encerrar uma 
noção que abranja as múltiplas identidades, 
considerando o mundo plural e fragmentado do 
século XXI. 
Assim, por exemplo, quando uma criança fala 
em público, a repercussão do que foi falado a 
coloca em estado de vulnerabilidade. Diferente 
seria se fosse um jornalista ou pessoa pública 
falando sobre o mesmo assunto. 
 
 
2
 Texto complementar 2. 
Página 9 de 32 
 
2. Conceito de Direitos Humanos 
PÉRES LUNO estabelece uma construção 
didática que permite analisar o conceito de 
Direitos Humanos mediante 3 critérios: 
1) Definição Tautológica ou lógica; 
2) Definição formal; 
3) Finalista ou teleológica; 
A primeira definição (muito criticada) consiste 
em definir os Direitos Humanos como os direitos 
que pertencem aos seres humanos, pois como 
diz o nome, pelo fato de serem “seres 
humanos” e não outras espécies. 
A segunda, denominada “formal”, não trabalha o 
conteúdo do conceito, mas sim, funda-se no 
regime jurídico especial em que se insere essa 
espécie de Direitos, sendo assim os direitos 
humanos, os direitos indispensáveis, 
indisponíveis. 
A terceira (considerada a melhor) enfoca a 
finalidade de tais direitos para conceituá-los e os 
considera, portanto, como o conjunto de normas 
essenciais para o desenvolvimento digno de 
toda pessoa humana. Sendo assim, seriam 
aquelas normas que buscam estabelecer um 
tratamento digno aos seres humanos 
concedendo-lhes o acesso aos bens jurídicos 
indispensáveis e cidadania. 
2.1. Outros Conceitos 
Para DALMO DE ABREU DALLARI, são 
“[...] direitos fundamentais, pois sem eles, a 
pessoa humana não consegue existir ou não é 
capaz de desenvolver-se e participar plenamente 
da vida”. 
Para PECES BARBA são “[...] faculdades que o 
Direito atribui a pessoas e aos grupos sociais, 
expressão de suas necessidades relativas à vida, 
liberdade, igualdade e participação política ou 
social ou de qualquer outro aspecto fundamental”. 
Para PERES LUNO, que enfoca a evolução 
histórica dos direitos humanos para conceitua-los 
como “[...] conjunto de faculdades ou instituições 
que em cada momento histórico, concretizam as 
exigências de dignidade, liberdade e igualdades 
humanas que devem ser reconhecidas pelos 
ordenamentos positivos dos Estados”. 
Para ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS, 
consiste em “conjunto mínimo de direitos 
necessários para assegurar uma vida do ser 
humano baseada na liberdade, igualdade e na 
dignidade”. 
2.2. Conceito de Direito Internacional dos 
Direitos Humanos 
ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS conceitua 
Direito Internacional dos Direitos Humanos como 
o “[...] conjunto de direitos e faculdades que 
garantem a dignidade da pessoa humana e se 
beneficiam de garantias internacionais 
institucionalizadas”. 
 Para VILLÁN DURÁN, o Direito 
Internacional dos Direitos Humanos é um “[...] 
sistema de princípios e normas que regula a 
cooperação internacional entre os Estados e 
cujo objetivo é a promoção do respeito aos 
Direitos Humanos e liberdades fundamentais 
Página 10 de 32 
 
universalmente reconhecidas, assim como o 
estabelecimento de mecanismos de garantia e 
proteção de tais direitos”. 
O marco inicial do sistema internacional de 
proteção dos Direitos Humanos é a Carta de São 
Francisco, o tratado internacional que criou a 
ONU editada em 1945, logo após o fim da 2ª 
Guerra Mundial, que em seu preâmbulo 
manifestou o objetivo de “consagrar a vontade 
internacional de proteção dos Direitos Humanos”, 
embora tenham existido outros documentos 
importantes como os que buscaram o fim da 
escravidão, convenções de paz como a Convenção 
de Haia, respeito à dignidade na Guerra como 
Convenção de Genebra, o respeito aos Direitos do 
trabalhador pela criação da OIT (Organização 
Internacional do Trabalho). 
 
 3. Terminologia 
Tanto na doutrina quanto no direito positivo(nas 
normas tanto nacionais quanto internacionais) se 
percebe a ampla utilização de diversos termos 
para e expressões para traduzir o conceito dos 
chamados “direitos humanos”. 
Estão entre as mais citadas, “Direitos 
fundamentais”, “liberdades públicas”, “direitos da 
pessoa humana”, “direitos do homem”, “direitos 
da pessoa”, “direitos individuais”, “direitos 
fundamentais da pessoa humana”, “direitos 
públicos subjetivos” e finalmente “direitos 
humanos”. 
No ordenamento jurídico brasileiro, a própria 
Constituição faz diferentes utilizações: 
Art. 4º , II – Direitos humanos. 
Título II – Direitos fundamentais. 
Art.5º, XLI -Direitos e liberdades fundamentais. 
Art. 17 – Direitos fundamentais da pessoa 
humana. 
Art. 34 – “direitos da pessoa humana”. 
Art. 60 – Direitos e garantias individuais. 
ADCT, Art. 7º - “Direitos Humanos”. 
No direito Internacional isso também ocorre: 
Declaração Americana dos Direitos e deveres 
dos homens (preâmbulo) –Direitos naturais, 
Direito do Homem e Direitos essenciais dos 
Homens. 
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos 
– Direitos do Homem, Direitos Fundamentais dos 
homens e Direitos e liberdades fundamentais dos 
homens. 
Carta da Organização das Nações Unidas – 
Direitos humanos; Liberdades fundamentais. 
Considerandoessa ausência de precisão 
terminológica, PERES LUNO menciona que trata-
se de um “paradigma de equivocidade” que pode 
conduzir a uma dificuldade na determinação do 
objeto de estudo. 
Assim, se pergunta: Afinal um texto legal que 
menciona “direitos humanos básicos” pode ter o 
mesmo tratamento jurídico de um que use o 
termo “direitos humanos”?Em alguns casos sim. 
Página 11 de 32 
 
O surgimento de tantas terminologias está 
intrinsecamente ligado ao fato de que no decorrer 
da evolução do conceito, a denominação de tais 
direitos foi sendo alterada. Ou seja, com o passar 
dos anos, a proteção dos direitos humanos foi se 
ampliando, no sentido de alcançar a tutela de 
novos direitos essenciais (ia aumentando a 
amplitude da proteção de determinado direito e 
conseqüentemente a terminologia foi mudando). 
Abaixo se menciona as críticas apontadas por 
RAMOS a cada uma dessas terminologias para 
que se alcance a mais exata: 
3.1. Direitos Naturais 
Essa denominação foi muito utilizada pelos 
jusnaturalistas que os consideravam como 
inerentes à natureza do homem. Contudo tal visão 
é considerada ULTRAPASSADA em razão de 
que pela historiciedade entende-se que são 
direitos conquistados gradualmente frente ao 
Estado e não algo “natural”. Assim é importante 
compreender que o Direito é sempre uma ficção, 
uma criação humana, ou seja, não é algo natural, 
mas algo construído, convencionado. 
3.2.Direitos do homem 
Trata da mesma inspiração jusnaturalista de 
proteção de determinados direitos do indivíduo, 
no momento histórico de sua afirmação frente ao 
Estado autocrático europeu nas revoluções 
liberais. Assim, se aplica a mesma crítica 
referenciada ao termo “direitos naturais”. Além 
disso, há quem critique o caráter sexista do termo, 
que não contempla a mulher. 
3.3.Direitos Individuais 
Apesar de haver grande utilização do termo, este 
contempla somente a proteção de uma parcela de 
bens tutelados pelos direitos humanos, os 
chamados “Direitos de primeira geração ou 
dimensão” (vida, liberdade, igualdade, 
propriedade). Como se verá, atualmente discute-se 
até a 5ª geração ou dimensão dos direitos. Dessa 
forma, chamar a totalidade dos direitos humanos 
de direitos individuais é inadequado, pois não 
contempla a proteção de todos os bens 
considerados atualmente indispensáveis para que 
se tenha uma vida digna. 
3.4. Liberdades Públicas 
De uso freqüente na doutrina francesa, está 
voltado para a participação e liberdade política, 
mas é criticado por não englobar os direitos 
econômicos e sociais (de 2ª geração).Existem 
assim, para JORGE MIRANDA, uma exclusão 
das prerrogativas do plano econômico e social do 
Estado. 
3.5. Direitos Públicos subjetivos. 
Criado pela Escola Alemã de Direito Público do 
Século XIX, tem um nítido caráter de “direito 
contra o Estado”. Por ser um direito que limita a 
ação do Estado, se entende que ignora a transição 
do Estado Gendarme, que é aquele que não realiza 
intervenções para o Estado Social (Wellfare State) 
ou Estado de bem estar social que tem como 
principal característica a intervenção na sociedade. 
Além disso, considerando que os direitos 
humanos podem regular relações entre 
particulares (eficácia horizontal) a expressão 
acaba por deixar de ter maior utilização. 
Página 12 de 32 
 
3.6.DIREITOS HUMANOS X DIREITOS 
FUNDAMENTAIS 
Existe uma corrente doutrinária que entende que 
Direitos humanos é expressão voltada para 
Tratados Internacionais sobre a Matéria, enquanto 
que “direitos fundamentais” é expressão utilizada 
pelo ordenamento pátrio. 
Essa é a visão INGO WOLFGANG SARLET 
e também de Constitucionalistas como 
GILMAR MENDES. 
Apesar da visão da doutrina acima mencionada, 
conforme explica outro doutrinador pátrio de 
referência, PAULO BONAVIDES, trata-se de 
uma questão de tradição. Segundo o autor, o termo 
Direitos Humanos é mais utilizado na América e 
em países latinos, ao passo que a expressão 
Direitos Fundamentais é mais utilizada na Europa 
e países da Europa Ocidental. Neste sentido 
menciona que existe uma Convenção européia 
denominada Convenção dos Direitos 
Fundamentais, sendo que se trata de um 
documento internacional. 
Para exemplificar, pode-se mencionar que 
recentemente foi criada a “Carta dos Direitos 
fundamentais da União Européia” que é um 
declaração internacional de Direitos dos países 
integrantes da União européia e mesmo assim, 
utilizou-se o termo “direitos fundamentais”. 
RAMOS não é adepto a diferenciação adotada por 
MENDES, JORGE MIRANDA e INGO 
WOLFGANG SARLET. 
JORGE MIRANDA leciona que utilização do 
termo “Direitos humanos” tem o condão de tornar 
mais transparente a atinência desses direitos ao 
individuo e em detrimento da visão que esse 
direitos pertencem ao Estado ou organização 
internacional. 
Por outro lado, uma outra crítica, é a de que a 
expressão é redundante porque somente o ser 
humano pode ser titular de Direitos. 
Contudo, apesar das considerações críticas, o 
termo é bem prestigiado por propor que é um 
direito que cabe a todo aquele que tem a condição 
humana, independente de desigualdades, sendo 
assim um “direito de todos”. 
3.7. Direitos humanos fundamentais e Direitos 
fundamentais dos homens 
Como se mencionou, já se observa a utilização 
dessa expressão, que é uma mistura de direitos 
humanos e direitos fundamentais, que neutraliza a 
discussão acima. 
4. Estruturas das normas de Direitos 
Humanos: princípios e regras. 
Para ALEXY, a estrutura do ordenamento 
jurídico é divido em regras e princípios. 
Segundo RAMOS, “As regras correspondem a 
enunciados jurídicos tradicionais, nos quais se 
engloba um pressuposto fático e uma 
conseqüência jurídica”. Por exemplo: Aquele que 
mata outrem será preso em flagrante. 
Já os princípios são “mandamentos de 
otimização de um determinado valor ou bem 
jurídico, ordenando que esse bem jurídico seja 
realizado na maior medida do possível”. Dentro da 
estrutura de princípio está a NORMA. Exemplo: 
Página 13 de 32 
 
“todos tem direito a um processo com duração 
razoável” – como se percebe, não há pressuposto 
de fato, nem conseqüência jurídica. 
4.1. Momento da aplicação 
As regras se diferenciam dos princípios não 
somente no enunciando, mas no momento da 
aplicação. As regras são aplicadas a partir da 
técnica da subsunção que consiste em determinar 
se o caso concreto ajusta-se ou não ao pressuposto 
fático do enunciado jurídico. Caso a resposta seja 
positiva, aplica-se a conseqüência jurídica sendo 
conhecida como a regra do “tudo ou nada”. 
Já os princípios são aplicados mediante a 
técnica da ponderação, em que não se acata a 
regra do “tudo ou nada” da subsunção (ou se 
ajusta ou não se ajusta ao pressuposto fático), mas 
responde à lógica do “mais ou menos”, ou seja, 
perante o caso concreto, no conflito entre 
princípios (qual princípio será aplicado) 
prevalecerá o princípio que mais se aproximar do 
bem jurídico que se busca aperfeiçoar ou que é a 
base da validade do sistema (No Brasil estão 
presentes no artigo 1º, Incisos). Assim, há a busca 
por uma maior otimização (aperfeiçoamento) do 
valor ou bem jurídico nele contido, nas medidas 
da possibilidade do caso concreto. 
Os Direitos humanos são majoritariamente 
formados por princípios, contudo existem regras 
de direitos humanos como a “exigência de ordem 
judicial ou flagrante delito para que alguém seja 
preso”. Segundo ALEXY, a diferenciação das 
normas de Direitos Humanos em princípios e 
regras é importante para o estudo da 
disciplina, uma vez que é necessário 
compreender como é desempenhado o papel 
dos Direitos Humanos em um ordenamento. 
5. Fundamentação dos Direitos Humanos 
Neste momento, o objeto do estudo é a análise 
das principais teorias que historicamentebuscaram explicar o fundamento dos Direitos 
Humanos, ou seja, a discussão que busca saber 
qual foi o motivo determinante para a existência 
de tais Direitos. 
Para ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS, as 
fundamentações dos Direitos humanos são as 
“[...] razões que legitimam e motivam o 
reconhecimento dos Direitos Humanos”. 
5.1. Negacionistas 
NOBBERTO BOBBIOé uma grande referência 
da Teoria “Negacionista” que entende que não há 
fundamento absoluto dos Direitos Humanos, 
não sendo possívelapontar um motivo 
específico que o legitima e que promova o 
reconhecimento. Na visão do jurista, essa tarefa 
de apontar um fundamento absoluto dos Direitos 
Humanos, trata-se de uma tarefa impossível, pelo 
que apresenta motivos: 
1) Há divergência até na definição do que 
seria o conjunto de direitos humanos. 
Aqui o aspecto abordado pelo filósofo é o 
seguinte: considerando que o conceito de direitos 
humanos é todo conjunto de regras que conduzem 
ao tratamento e reconhecimento da existência 
digna do ser humano, pode-se dizer que houve 
Direitos Humanos na Grécia antiga, em Roma e 
mesmo, no período da Idade Média. Contudo, 
Página 14 de 32 
 
como se sabe esse tratamento não era destinado a 
todos. 
 
Como se viu, é possível assim fazer um recorte, 
no sentido de que, a partir do Século XVIII, com a 
revolução burguesa (seja na França ou nos EUA) e 
a Modernidade é que surgem os direitos humanos 
universais, ou seja, quando esse tratamento digno 
passa a ter como alvo, todas as pessoas, 
independente de distinções com etnia, raça, credo, 
classe social, etc. Assim, dependendo do autor, há 
divergência na definição do que seria o conjunto 
dos Direitos Humanos. 
1) BOBBIO afirma que os Direitos 
Humanos constituem uma classe de direitos 
variável, conforme nos mostra a evolução de 
seu rol. 
Para Bobbio é possível verificar que com o 
passar dos tempos houve ampliação do rol dos 
Direitos Humanos, sendo absolutamente possível 
que um Direito que não é considerado como 
integrante do rol dos Direitos Humanos possa no 
futuro passar a ser ou mesmo, deixe de ser. Logo é 
impossível fundamentar Direitos Humanos de 
modo unívoco, pois cada contexto histórico 
possuiria sua própria fundamentação. 
2) Os Direitos Humanos constituem uma 
categoria heterogênea, possuindo pretensões 
muitas vezes conflitantes a exigir muitas vezes 
a ponderação. 
Neste sentido, para BOBBIO, apresentar um 
fundamento absoluto de Direitos Humanos 
poderia configurar um pretexto para petrifica-los, 
ou seja, impedir a evolução dos mesmos. 
 
3) Seriam esses Direitos fundados em 
meros juízos de valor 
Tal afirmação baseia-se no seguinte raciocínio: 
os valores dependem de convicção pessoal, ou 
seja, o que é justo para alguns pode não ser para 
outros; o que é digno para alguns pode não ser 
para outros; e ainda, o que é moral para alguns 
pode ser imoral para outros. Ou seja, sendo 
baseados em juízos de valores, que mudam 
conforme a época, como se viu no exemplo das 
Polis gregas, do período da Igreja, do Estado 
absolutista e mesmo no Estado de Direito, é 
impossível apontar um motivo, um fundamento 
absoluto para o surgimento dos Direitos Humanos. 
4) Os Direitos Humanos foram conquistas 
históricas em face da arbitrariedade dos 
detentores de poder. 
Contudo a importância de analisar a 
fundamentação dos Direitos Humanos nos dias de 
hoje, é justamente, a análise da relação direitos 
humanos e direito positivado pelo Estado, o que se 
torna mais importante ainda, quando há ausência 
explícita do reconhecimento de algum desses 
direitos pelo Estado. 
5.2. Jusnaturalistas 
Reconhecida a importância das análises, adentra-
se a correntes ideológicas que apontam um 
fundamento para os Direitos Humanos. Neste 
sentido, para a corrente jusnaturalista, o 
fundamento dos direitos humanos é a própria 
natureza do homem, ou seja, são direitos 
anteriores mesmo ao surgimento do Estado, 
que acompanha o homem desde o seu 
surgimento. 
Página 15 de 32 
 
Um dos mais antigos registros sobre o assunto 
está na obra de Sófocles, “Antígona3”. 
Assim existiriam normas anteriores e superiores 
em relação ao Direito estatal posto. Em sua obra, 
ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS, faz análise 
de duas correntes do Jusnaturalismo: 
(A)Direito Natural de inspiração divina. 
A grande referência dessa visão são os estudos 
de responsabilidade do teólogo SÃO TOMÁS DE 
AQUINO. Para este, “[...] a lexhumana deve 
obedecer a lexnaturalis, que era fruto da razão 
divina, mas perceptível pelos homens”. Assim, 
pode-se dizer que o fundamento dos Direitos 
humanos seria a natureza dos homens, e o que há 
de natural, “comum” entre os homens é o fato de 
que todos são “filhos de Deus”. 
 (B)Direito Natural moderno ou da 
“razão humana”. 
Tendo como precursor HUGO GRÓCIO, 
apontado como um dos fundadores do Direito 
Internacional moderno, sustentou no decorrer do 
Século XVI, a existência de um conjunto de 
“normas ideais” que são frutos da “razão 
humana”. Assim esse Direito Natural seria 
revelado pela própria razão e por isso, o direito 
dos legisladores humanos encontrava como 
obstáculo, a lei imutável e eterna que é a razão. 
Pode-se observar assim, que a corrente 
Jusnaturalista propõe que existe um direito 
preexistente ao Direito produzido pelo homem que 
ou é oriundo de Deus, ou é oriundo da razão. Os 
 
3
 Texto complementar 3. 
Direitos Humanos seriam assim os equivalentes 
atuais dos Direitos Naturais. 
(C)Iluminismo de LOCKE e ROSSEAU 
Os iluministas retornam a discussão dos Direitos 
Naturais e a utilização doJusnaturalismo como 
fundamento dos Direitos Humanos. Isso fica claro 
em suas perspectivas no sentido de que há 
supremacia do indivíduo em relação ao Estado, 
que deve observar um Contrato social focado na 
realização dos direitos do Homem. 
Na transição do século XVII para XVIII surgem 
documentos como a “Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão”, que estabeleceu em um de 
seus dispositivos que “[...] a finalidade de toda 
associação política é a conservação dos Direitos 
Naturais imprescritíveis”. 
Para essa corrente iluminista os direitos humanos 
são direitos atemporais e inerentes a qualidade de 
homem de seus titulares. Nesse período era 
comum tais teóricos afirmarem que o homem 
“nasce livre e igual em dignidade”. 
 Apesar de sua influência sentida até nos 
documentos atuais sobre Direitos Humanos o 
jusnaturalismo sofre de falta de comprovação no 
que pertine à afirmação de que tratam-se de 
Direitos INERENTES aos homens. 
 Mais uma vez a crítica que se faz é que a 
“natureza” do homem, ou seja, a compreensão do 
que seja natural ao homem, foi passível de 
mudança com a passar dos períodos históricos. 
ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS enuncia 3 
exemplos de previsões jurídicas relacionada ao 
destino dos bens e riquezas daqueles que falecem: 
Página 16 de 32 
 
1) Retorno dos bens à comunidade; 
demonstra o ser humano solidário com seus iguais 
que fazem parte da mesma comunidade. 
2) Transmissão de pai para filho; Demonstra 
um instinto do ser humano de preocupar-se como 
a prole. 
3) Livre disposição do proprietário em 
testamento: Mostra a natureza do ser humano livre 
e autônomo, capaz de dispor de seus bens. 
Como se vê, todas as três alternativas são 
compatíveis com a natureza humana. Dessa forma 
conclui-se que:A História mostra que os direitos humanos 
são direitos conquistados, não são naturais. Mais relacionados 
àS relações de troca e concessões entre governantes e 
governados nos diversos períodos históricos, sendo até possível 
que um direito consagrado seja posteriormente retirado dos 
catálogos dos Direitos Protegidos. 
Como exemplo, o fato de que o Direito de Propriedade,contemplado na Declaração Universal dos Direitos Humanos 
não foi contemplado no Pacto Internacional dos Econômicos 
Sociais e Culturais da ONU. 
5.3. Positivistas 
 O surgimento de um novo formato de 
Estado no período da revolução francesa levou a 
consolidação de uma nova organização do poder 
estatal a partir de ordenamentos jurídicos e criação 
de Constituições escritas. Nesse sentido se deu a 
adoção dos preceitos da Escola positivista que 
desenvolveu ao longo do Século XIX e XX 
traduzindo a idéia de um ordenamento jurídico 
criado de modo coerente por meio de uma 
pirâmide de hierarquia das leis. 
 Assim as constituições passam a estar no 
topo da hierarquia das leis, e os direitos humanos 
passam a ser positivados nessas Constituições. 
Dessa forma, conforme indica ANDRÉ DE 
CARVALHO RAMOS, para a Escola positivista, 
o fundamento dos Direitos humanos seria a 
existência de uma lei positiva, em que o 
pressuposto de validade estaria em sua edição 
conforme as regras de uma Constituição. A 
justificativa dos Direitos Humanos passa a ser a 
validade formal: a justificação desses direitos está 
na vontade da lei e a vontade da lei é que 
fundamenta a preservação e reconhecimento dos 
Direitos Humanos. Contudo esse fundamento se 
enfraquece quando a lei é omissa ou contrária a 
dignidade da pessoa humana. 
 O exemplo Nazista demonstra a fraqueza 
dessa visão positivista do fundamento dos Direitos 
Humanos. 
Nesse sentido explica FÁBIO KONDER 
COMPARATTO: 
 “É justamente aí que se põe de forma 
aguda, a questão do fundamento dos Direitos 
humanos pois sua validade deve se assentar em 
algo mais profundo e permanente que a ordenação 
estatal, ainda que se baseie em uma Constituição”. 
Nesse sentido, a preocupação é que o regime de 
direitos humanos fique sujeito aos interesses 
políticos de um determinado modelo de Estado. 
 Como se sabe, no Nazismo todo o abuso, 
discriminação e intolerância contra os judeus, 
negros, homo afetivos e ciganos, estava previsto 
em normas jurídicas, que inclusive previam a 
condenação e mesmo, a execução daqueles que 
desrespeitassem tais normas, não havendo 
Página 17 de 32 
 
previsão de Direitos Humanos para esses 
indivíduos. 
 Sabe-se também, mediante a obra Hannah 
Arendt (1906-1975), teórica política alemã, em 
seu livro "Eichmann em Jerusalém: informe sobre 
a banalização do mal”, que no julgamento de 
Eichmann, importante autoridade da Alemanha 
nazista, este ao ser questionado sobre o mal que 
tinha promovido, autorizando por vezes a 
execução dos inimigos do nazismo, respondeu que 
estava simplesmente cumprindo as normas, a 
legalidade e, que se não cumprisse seria 
sancionado. 
 A partir desse exemplo é possível perceber 
o enfraquecimento do paradigma positivista do 
Direito, o paradigma do deontológico da norma 
posta. Dessa forma é completamente temerário 
fundamentar o reconhecimento dos Direitos 
Humanos na lei, no positivismo. 
5.4. Fundamentação moral 
 ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS 
menciona o conceito de DWORKIN dos “Direitos 
Morais” que seriam o conjunto de direitos 
subjetivos originados diretamente de valores 
(contidos em princípios) independentemente de 
regras positivas. 
 A partir desse conceito, entra em discussão 
a equivalência dos Direitos humanos como 
Direitos morais que não tem sua “validade 
condicionada a uma norma positiva mas sim aos 
valores morais da coletividade humana”. A 
inserção da moralidade no ordenamento se daria 
por meio de princípios jurídicos, mesmo que não 
positivados. 
 DWORKIN menciona os chamados hard 
cases em que os interpretes debatem termos de 
direitos e obrigações jurídicas, a partir da análise 
de padrões que não funcionam como regras 
propriamente ditas, mas como princípios. O 
princípio serve para direcionar o interprete em 
determinada direção quando do conflito das 
normas jurídicas. 
 Pode-se dizer que os direitos morais são 
mais que exigências éticas do jusnaturalismo, pois 
são títulos “na acepção de pretensão que permitem 
exercer direitos”. 
 Segundo a transcrição de ANDRÉ DE 
CARVALHO RAMOS, Para CARLOS NINO, “a 
diferença entre o jusnaturalismo clássico e esse 
novo positivismo é que se determina o Direito não 
somente pelas fontes formais, mas também em sua 
aplicação”. 
 Dessa forma, a fundamentação moral seria 
esse novo fundamento dos Direitos Humanos que 
estaria na reconciliação dos valores éticos morais 
do jusnaturalismo clássico com o positivismo 
jurídico, no sentido que agora, o princípio que 
contém tais valores passa a ser positivado, na 
forma de princípios, um novo positivismo, um 
pós-positivismo, em que a validade da norma está 
condicionada à observância dos valores de justiça 
e de dignidade da pessoa humana, que os 
constitucionalista denominam de 
Neoconstitucionalismo, verdadeira axiologia 
positiva. 
Página 18 de 32 
 
6. Classificação do rol de Direitos Humanos 
 Em 1979, em uma Conferência 
Internacional de Direitos Humanos no Instituto 
Internacional dos Direitos do Homem em 
Estrasburgo, um jurista francês chamado KAREL 
VASAK, classificou os Direitos Humanos em três 
gerações cada uma como características próprias, 
a partir de uma análise histórica, jurídica e social 
que denominou de Teoria das Gerações dos 
Direitos Humanos. 
 É relevante ressaltar que PAULO 
BONAVIDES, jurista brasileiro propõe o uso da 
expressão “dimensão” ao invés de “geração” pelo 
fato de que o surgimento de uma geração aniquila 
a geração anterior, quando o que acontece, no caso 
dos Direitos Humanos, é que o posterior 
surgimento de outras espécies de Direitos 
Humanos não impede ou aniquila os anteriores, e 
sim, há uma ampliação do rol e uma relação 
harmônica. Já o termo “dimensão” induz à 
compreensão de que há uma interação entre os 
direitos que fazem parte do rol e não uma 
aniquilação. 
 Neste sentido FLÁVIA PIOVESAN 
entende tratar-se realmente de uma interação entre 
os direitos e exemplifica com a propriedade e a 
necessidade do exercício de uma função social o 
que demonstra a interação da primeira e segunda 
geração. 
 Mediante tal classificação, o jurista em 
questão aponta o surgimento de espécies de 
Direitos humanos, a partir do contexto histórico, 
social, cultural e econômico percorrendo 
necessariamente a análise da transição dos 
modelos estatais. 
6.1.Direitos de 1ª geração (dimensão) ou 
Direitos Civis e Políticos ou Direitos da 
Personalidade ou Direitos de Liberdade. 
 Contextualização: O antigo regime. 
No período do absolutismo, as garantias de 
direitos humanos estavam pautadas em tradições e 
costumes do passado que asseguravam o 
tratamento digno apenas para algumas classes 
privilegiadas, sendo que a grande maioria da 
população não era possuidora de direitos básicos 
como a vida, a integridade física e a liberdade (em 
todas as suas variantes), igualdade, a segurança 
jurídica e o direito a julgamento por um tribunal 
imparcial, podendo-se dizer que não eram 
“sujeitos de direito”. 
 Nesse sentido, o povo não possuía direito à 
vida e integridade física, pois a qualquer 
momento, se fosse vontade do Estado (soberano), 
independente de um julgamento imparcial, um 
indivíduo poderia ser condenado a uma pena de 
morte em praça pública, prática que ficou 
conhecida como “suplícios”, ou mesmo, se não 
perdesse sua vida, poderia ser submetida a 
castigos cruéis que maculavam a integridade 
física. Neste sentido uma pessoa poderia ser 
gravemente machucada e perder algum membro 
como braço e perna, e ainda, homens e mulheres 
não possuíam os mesmos direitos. 
Já o direito de propriedade também não existia, 
pois a qualquer momento essa poderia ser 
usurpada por um oficial do Estado ou mesmo, um 
Página 19 de 32 
 
bando de ladrões. O ambiente não era propício 
para os negócios,pois não havia segurança 
jurídica e muitas vezes, contratos não eram 
cumpridose tributos abusivos eram cobrados junto 
aos comerciantes. 
Não havia liberdade em nenhum de seus 
aspectos, como locomoção, opinião ou crença, 
havendo escravismo, a censura que não permitia a 
livre manifestação, opiniões divergentes em 
relação à opinião dos governantes, nem 
propagaçãomediante meios de comunicação. 
Quem não observasse a religião do governante 
poderia ser queimado vivo e sabe-se ainda da 
prática constante de queima de livros. 
Todas essas práticas estavam intrinsecamente 
ligadas à questão econômica. Nesse período, 
tratava-se do mercantilismo, em que o Estado 
buscava enriquecer a partir da aquisição de bens e 
valores, como ouro, madeira e especiarias, além 
da progressiva aquisição de propriedades seja o 
governo da realeza, seja o governo da igreja. 
Para que o mercantilismo funcionasse, não era 
necessário preservar, cuidar das pessoas, pois a 
riqueza do sistema não se baseava na exploração 
do trabalho das pessoas e conceder a elas direitos 
ou não era algo irrelevante. Como não se concedia 
direitos, o perigo de revoltas era muito grande e 
portanto, em razão dessa falta de controle, como 
se verifica da leitura de “vigiar e punir”, obra de 
Michel Foucault, era necessário governar as 
pessoas pelo medo, mostrar exemplos, o que 
inspirava a prática das execuções em praça 
pública. 
6.1.2.Revolução burguesa 
 Com a queda da nobreza e ascensão da 
burguesia como classe hegemônica mediante 
revoluções ocorridas em todo o mundo, os novos 
governantes se deparam com um “rebanho” (povo 
governado) completamente desordenado e 
descontrolado, pois ao passo que havia muita 
ilegalidade, seja do povo, seja das classes que se 
juntavam para burlar algum interesse do Estado 
(por vezes classes ricas apoiavam classes mais 
baixas para burlar alguma lei que consideram 
abuso estatal) seja dos próprios governantes (reis 
que confiscavam bens das pessoas) a 
implementação de um novo paradigma 
econômico, o capitalismo, era algo impossível. Se 
fez necessário organizara “casa” e criar 
umasociedade pautada na legalidade. 
Para organizar a “casa”, a fórmula escolhida foi 
o Direito, mas diferente do que se fazia antes (uso 
de normas costumeiras) sendo que agora, a 
utilização do Direito baseava-se na utilização de 
normas positivadas, o uso da lei e da legalidade, 
seria a única forma de implementar o capitalismo. 
Nesse momento com a intenção de desenvolver o 
industrialismo, as pessoas passam a ser 
importantes, pois o sistema ia se basear na 
exploração do trabalho assalariado. 
Outro aspecto, como se sabe, é que sendo o 
capitalismo um sistema pautado no lucro, um 
grande comerciante não poderia lucrar se no 
momento em que seus empregados roubassem 
estoque, não houvesse como promover 
responsabilização civil ou penal. Considerando 
esses dois aspectos, se afigurou como necessário a 
criação de normas de direito, e ainda, a concessão 
Página 20 de 32 
 
da condição de “sujeito de direito” às pessoas,o 
que facilitava o controle. 
 Além disso, para instalar o capitalismo, 
sendo necessário ter trabalhadores nas fábricas, 
estes deveria haver pessoas “vivas” nas fábricas, 
com condições de trabalho (possuir integridade) 
além de que deveria haver uma massa de 
consumidores. 
 Foi assim que se afastou o escravismo, as 
penas capitais, as torturas, a intolerância religiosa, 
os privilégios para somente uma parcela da 
população. Houve a criação de tribunais com 
juízes imparciais e também o surgimento dos 
meios de comunicação. 
6.1.3.Modelo de Estado: Surgiu o Estado 
Liberal, “burguês”, “Gendarme” ou simplesmente 
“Estado de Direito”. Pode-se dizer que esse 
modelo de Estado era o inverso do Estado 
absolutista, pois não buscava de forma “absoluta” 
o enriquecimento, não buscava governar tudo e 
sim, se preocupar com o cumprimento da lei e não 
intervir na vida e liberdade das pessoas, ou seja, 
não intervir em seus direitos individuais. 
Assim, diz-se que é o Estado de prestações 
negativas ou não interventivo, pois tem 
obrigação de “não fazer”, não intervir na vida, 
liberdade e propriedade das pessoas. 
6.1.4.Foco: Individualismo. Esses direito são 
também chamados de Direitos da 
personalidade, pois são fundamentais para o 
desenvolvimento da personalidade. 
6.1.5.Espécies 
- Vida; 
- Integridade física; 
- Propriedade; 
-Liberdade (locomoção, expressão, religião, 
comércio); 
- Igualdade formal. Obs. Nessa espécie, todos 
são iguais perante a lei que não diferencia nem 
pessoas desiguais. 
 - Intimidade/imagem; 
 - segurança jurídica; 
‘ - Devido processo legal; 
 - Direitos políticos; 
 
 
6.1.6.Marcos documentais 
 
1)Declaração de Direitos da Virginia (EUA 1776) 
2)Declaração de Independência (EUA 1776) 
3) Constituição dos EUA (1787) 
4) Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão (França 
1789). 
 
6.2. Direitos de segunda geração (dimensão) ou 
Direitos Sociais ou Direitos da Igualdade 
substancial. 
6.2.1. Contextualização: a decepção com a 
mão invisível. 
 Após um século do surgimento e 
consolidação da proposta do Iluminismo em todo 
mundo, do Estado liberal de prestações negativas, 
dos direitos e garantias de 1ª geração, não ocorreu 
a esperada igualdade social e de renda. Essa 
previsão foi de autoria de Adam Smith, o 
economista que teorizou sobre a “mão invisível”. 
Página 21 de 32 
 
A partir dessa visão haveria uma estabilização 
social e de renda, pois o capitalismo se “auto 
compensaria”. 
Contudo com a explosão demográfica, e 
mesmo, na prática isso seria impossível pois, o 
capitalismo é um sistema econômico pautado na 
concorrência, ou seja, desigualdade. Dessa forma, 
as desigualdades se tornaram gritantes em vários 
âmbitos, como por exemplo: no acesso à quase 
todas as oportunidades como educação, saúde, 
moradia, lazer, saneamento e no trabalho (entre 
empregado e empregador). 
Ideologicamente falando, a grande teoria que 
fundamentou o surgimento dos direitos de 
segunda geração foi o socialismo, que surge como 
crítica ao capitalismo e indicava a falta de justiça 
social em relação à distribuição de renda. Os 
principais teorizadores do movimento era líderes 
sindicais pertencente à classe do “proletariado”, 
ou seja, a massa de trabalhadores e operários das 
grandes empresas. Esses líderes, em sua maioria 
eram russos ou franceses. 
Pode-se mencionar os nomes de Marx, Engels, 
Lenin, Trotsky na dita corrente “comunista”, uma 
vez que estes almejavam a consolidação do 
“comunismo” que propunha um Estado onde 
houvesse socialização dos meios de produção, ou 
seja, todos teriam acesso à produção dos bens de 
consumo e não somente os empresários. Contudo, 
os mesmos entendiam que o Estado não deveria 
ser abolido. Quando o golpe ocorreu na Rússia, o 
que se viu foi uma inversão de posições, e por 
isso, o movimento foi vulgarmente denominado 
de “ditadura do proletariado”. 
Por outro lado, alguns socialistas buscaram 
outro rumo: Proudhon, Bakunin, Godwin 
buscavam o socialismo, mas com a extinção do 
Estado, sendo que a sociedade é que iria se auto 
organizar, o poder seria social e não estatal. Em 
razão disso, receberam a alcunha de Anarquistas. 
Deixando o historicismo de lado, é possível 
dizer que havia alguns interesses em jogo além da 
vontade de justiça social. Segundo Eros Grau, em 
seu livro “Direito Econômico na Constituição de 
1988”, o autor menciona que essa melhora na vida 
das pessoas foi uma necessidade do 
industrialismo, pois, os trabalhadores não tinham 
educação, formação, saúde necessária para 
trabalhar e as epidemias e os problemas 
decorrentes dessas condições impediam a criação 
de médias e previsões sobre custos com certa 
segurança estatística,pois de uma hora para outra 
poderia haver a perda de todo o corpo de trabalho. 
Michel Foucault, em o “nascimento da 
biopolítica” explica o surgimento desse “poder 
sobre a vida”, ou seja, essa forma de investimento 
nas pessoas, uma vez que o sistema está pautado 
na exploração da vida das pessoas. Se as riquezas 
são criadas por um rebanho, é melhor investir na 
saúde desse rebanho para que este seja mais 
lucrativo. 
6.2.2.Modelo de Estado: Estado social, Estado 
dirigente, Estado de bem-estar social, Wellfare 
State, Estado interventivo.Com a decepção com 
relação aos efeitos do capitalismo, surge uma 
grande desigualdade social e de renda. 
Assim esse modelo estatal busca trazer justiça 
social alterando os papeis do modelo anterior, 
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passando a ser de prestações positivas. Ou seja, 
este Estado deverá ter obrigações de fazer, 
fazer escolas públicas, saúde pública, moradias 
gratuitas, lazer público, intervir nas relações de 
trabalho, mediante normas e legislação 
trabalhista, inclusive autorizando a 
fiscalização. 
A principal função é de intervenção na 
economia, para assegurar a igualdade. Ou seja, se 
no modelo anterior, o Estado deixa um espaço 
livre para o comércio, este modelo social intervém 
na economia, assumindo em alguns casos, o 
próprio papel de prestar o serviço. Em razão dessa 
orientação, no fim do século XX, houve uma 
crítica a esse modelo, pois o Estado cresceu 
demais e não se manteve em superávit, se tornou 
deficitário e muito burocrático, assumindo a 
exploração de quase todos os serviços e não os 
prestando de forma correta como, por exemplo, na 
educação, saúde, telefonia, água, energia elétrica, 
petróleo, etc. Posteriormente surge o 
neoliberalismo, que esvazia o Estado, trazendo o 
surgimento das agências estatais, em que o papel 
do Estado passa a de ser regulador e não prestador 
das atividades econômicas mediante os serviços. 
6.2.3.Foco: justiça social. Todos as prestações 
estão relacionadas à busca da justiça social. 
 Espécies de Direitos 
 - Educação pública; 
 - Saúde Pública; 
 - Lazer público (praças públicas); 
 - Moradias públicas; 
 - Direitos trabalhistas; 
 - Previdência e assistência social. 
 6.2.4.Marcos documentais 
6.3. Direitos de terceira geração (dimensão) 
ou direitos da solidariedade, comunidade ou 
fraternidade. 
 6.3.1. Contextualização: Segundo 
ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS, a terceira 
geração dos Direitos é composta de direitos 
relacionados ao âmbito coletivo, seja de uma 
vizinhança, de um grupo de pessoas, de uma 
comunidade ou mesmo, da humanidade. Enfim, o 
critério para distingui-lo dos demais é 
simplesmente o fato de que são transindividuais, 
ou seja, superam o indivíduo. Em âmbito interno 
dos Estados, são denominados de Direitos difusos 
e coletivos. 
 IMPORTANTE: Muitas vezes acontece o 
equívoco do aluno em pensar que os direitos de 2ª 
geração são chamados de “direitos sociais” por 
serem direitos coletivos, mas na verdade possuem 
essa alcunha por serem direitos que buscam a 
justiça social, sendo os de 3ª geração, os 
verdadeiros direitos da coletividade. 
 Estão relacionados com a descoberta do 
homem vinculado ao planeta terra, com recursos 
finitos, divisão desigual de riquezas, círculos 
viciosos e ameaças concretas à espécie humana. 
 6.3.2.Foco: A coletividade, a 
humanidade. 
 Modelo de Estado: O modelo de Estado 
que se busca é o Estado ligado à comunidade 
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internacional, que abre mão de parte de sua 
soberania para observar regras internacionais. Diz-
se também que há a pretensão de criar, neste 
sentido, uma nova ordem mundial em que haja um 
único governo. 
 6.3.3.Espécies 
 - direito ao desenvolvimento; 
(principalmente reivindicado pelo países 
subdesenvolvidos) 
 - direito à paz; 
 - direito à autodeterminação; 
 - direito ao meio ambiente equilibrado; 
 - Reivindicação sobre o desarmamento; 
 - Reconhecimento do fundo dos oceanos 
como patrimônio comum da humanidade; 
 - Tombamento de patrimônios 
internacionais; 
 6.4. Direitos de 4ª geração (dimensão) ou 
da Globalização ou da globalização política ou 
da cidadania. 
 6.4.1.Contextualização: O neoliberalismo 
político caminha silenciosamente para o 
predomínio e garantia de um status quo, sem 
qualquer referência a valores. Isso ocorre porque o 
neoliberalismo está preocupado em implementar 
uma “ordem de mercado”. Ou seja, o Direito 
perde a função de ser o fundamento de validade 
ou legitimidade de alguma atividade, sendo 
substituído pelo mercado. Assim, se alguma 
atividade é lucrativa para o mercado, as discussões 
sobre dignidade e valores vai por terra, entrando 
em jogo, a utilização do direito enquanto regra do 
jogo e não como fundamento de validade. 
Exemplo: teóricos neoliberais postulam acerca da 
liberação das drogas (uma vez que é um grande 
mercado) propondo somente que o tal seja 
regulamentado pelo Direito. Não há discussão 
sobre dignidade do “viciado” ou saúde pública. 
 6.4.2.Foco: busca-se assim uma 
globalização política em que todos os países 
deveriam se organizar na forma de uma 
democracia direta, possível graças ao avanço 
tecnológico, aumentando a possibilidade de 
cidadania, ao pluralismo, à participação 
democrática. 
 Assim, segundo PAULO BONAVIDES: 
“Já na democracia globalizada. O Homem 
configura a presença moral da cidadania. Ele é a 
constante axiológica, o centro de gravidade, a 
corrente de convergência de todos os interesses do 
sistema. Nessa democracia, a fiscalização da 
constitucionalidade daqueles direitos enunciados – 
direitos, conforme vimos, de quatro dimensões 
distintas, - será obra do cidadão legitimado, 
perante uma instância constitucional suprema”. 
6.4.3. Espécies de Direitos 
 - direito à democracia; 
 - direito à informação; 
 - direito ao pluralismo; 
 -democracia direta globalizada e que 
tecnologicamente permite a Cidadania 
fiscalizadora das violações e materialização 
objetiva e axiológica das dimensões anteriores. 
 
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6.5. Direito à paz 
A quinta geração dos direitos humanos engloba 
somente a paz, já mencionada na 3ª geração, mas 
que agora toma um lugar central em razão dos 
novos tratados sobre a paz cada vez mais comuns 
frente aos constantes conflitos que ocorrem pelo 
globo. 
7. Características dos Direitos Humanos na 
Ordem Internacional. 
A análise das características dos Direitos 
Humanos na ordem internacional é relevante pois 
além de demonstrar o atual estágio de 
desenvolvimento da proteção dos direitos 
humanos na esfera internacional interessa ao 
jurista brasileiro, pois sendo o Brasil signatário de 
dezenas de tratados de direitos humanos essas 
características passam a ser de utilização no 
âmbito interno. 
Assim, se analisa cada uma dessas 
características: 
7.1.Superioridade Normativa 
No Direito Interno, as normas que contemplam 
Direitos Humanos são, em geral, de estatura 
constitucional , o que as coloca em posição de 
superioridade hierárquica em relação as demais 
normas. Nesse sentido, os Direitos individuais são 
inclusive cláusulas pétreas, imutáveis, não 
podendo ser abolidas nem pelo poder constituinte 
derivado. 
Já no Direito Internacional, a posição de 
supremacia das normas de direitos humanos é 
fruto da existência de sociedade descentralizada e 
paritária que é a sociedade internacional. 
Segundo CARRILLO SALCEDO, a sociedade 
internacional é “[...] uma sociedade paritária e 
descentralizada relativamente não orgânica em 
que o destinatário da norma se confunde com o 
legislador e que o acordo passa a ser a principal 
fonte de normas”. 
Assim, como o conceito de sociedade 
internacional é recente, ou seja, basicamente surge 
no pós-guerra, essanoção de hierarquia de normas 
no Direito Internacional também é recente. 
Contudo, atualmente se discute o conceito de 
normas imperativas internacionais (normas 
cogentes) ou jus cogens que não podem ser 
derrogadas em razão de que são valores 
fundamentais da sociedade internacional, que 
somente podem ser derrogadas por normas de 
mesmo status, mesma dignidade. 
Dessa forma, as normas cogentes de Direito 
Internacional são aquelas que contêm valores 
considerados essenciais para a comunidade 
internacional prevalecendo quando em choque 
com outras normas de Direito Internacional. O jus 
cogensentão vem a ser o conjunto de normas 
internacionais insuscetíveis de serem derrogadas, 
abolidas, afastadas por outra norma que não seja 
também jus cogens também chamado de Direito 
Internacional imperativo. 
 Analisando historicamente, o jus cogens 
surge na doutrina alemã como uma crítica ao 
voluntarismo no Direito Internacional, ou seja, o 
sistema convencional entre os Estados. A crítica 
se baseava no Direito Natural, que seria um limite 
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à vontade dos Estados, entendendo HEFNER que 
os tratados que desrespeitassem a moral da época 
eram nulos. 
 Posteriormente, foi o jurista alemão 
VERDROSS um dos primeiros a sustentar a tese 
de um jus cogens desvinculado do Direito Natural 
e vinculado ao fato de que são expressão de 
valores considerados fundamentais pela 
comunidade internacional. 
 Assim, para que fique claro: o Direito 
Internacional é composto de normas dispositivas, 
que são as não imperativas e que os Estados não 
são obrigados a seguir e as normas imperativas, 
que são aquelas em que este é obrigado a seguir 
em razão de que são normas que toda a 
comunidade internacional reconhece como 
fundamentais. 
A crítica relativa à teorização do jus cogens 
partiu de doutrinadores como 
SCHWARZENBERGER, se deu no sentido de 
que qualquer Estado pode então estar livre para 
caracterizar qualquer norma de Direito 
Internacional como jus cogens, ou pelo contrário 
para opor-se, por tratar-se de um conceito aberto. 
FRANCISCO REZEK, juiz brasileiro da Corte 
Internacional de Justiça se opõe ao conceito de jus 
cogens em por considerar o “consentimento” a 
base dos acordos em Direito Internacional. 
Contudo, o conceito de jus cogenscontinuou a 
ser desenvolvido, considerando o contexto 
mundial de risco à humanidade baseado nos 
recentes acontecimentos do Século XX como o 
apartheid, a Segunda Guerra Mundial e os 
desastres ambientais. Nesse sentido, a importância 
do jus cogens é a prevenção de mundiais da 
existência e consolidação de regimes de injustiça e 
discriminação como no período da colonização e 
apartheid à revelia do consenso mundial de 
dignidade ou mesmo, catástrofes mundiais que 
conduzam à extinção da humanidade. Neste 
sentido, ANDRÉ DE CARVALHO RAMOS 
menciona que na década de 70, o homem se viu 
preso no planeta terra. 
A existência das normas internacionais 
imperativas foram reconhecidas pela Corte 
Internacional de Justiça em 1951 quando da 
interpretação das normas de Direitos Humanos 
contidas na Convenção de Prevenção e Repressão 
no crime de Genocídio. 
 Tais interpretações não foram vinculantes 
mas influenciaram a criação da Convenção de 
Viena sobre o direito dos Tratados elaborada pela 
Comissão de Direito Internacional da ONU, que 
em seu art. 53 menciona expressamente o conceito 
de jus cogens, e indica ser nulo o Tratado que 
conflita com normas dessa espécie. 
 Em razão da Convenção ter sido omissa 
sobre o rol de direitos que são considerados jus 
cogens, essa é a discussão que se faz 
hodiernamente: quais direitos humanos são 
considerados Jus cogens. 
Como se reconhece o caráter de jus cogens de 
uma norma internacional? 
Não existem tratados que estabelecem o rol de 
Direitos humanos internacionalmente imperativos, 
e dessa forma, restou ao costume internacional 
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esse reconhecimento de determinado direito por 
ser valor fundamental à comunidade internacional. 
Nesse sentido a Comissão de Direito Internacional 
da ONU deve reunir os Estados representativos de 
todas as tendências políticas e econômicas do 
mundo. 
Assim para que haja esse reconhecimento não é 
necessária uma unanimidade ou maioria, mas sim, 
que os principais blocos políticos e econômicos e 
existentes se manifestem a favor do 
reconhecimento. 
 Sendo essa a forma de produção da norma 
imperativa é necessário saber quais normas de 
direitos humanos são reconhecidas. Nesse sentido 
o interprete deve buscar a análise de outras fontes 
de Direito Internacional como decisões judiciais e 
recomendações de instituições internacionais 
especializadas que não são normas mais ajudam a 
explicar o alcance das normas. 
 A partir dessas decisões é possível levantar 
o seguinte rol: 
1) Direitos de 1ª geração; (Comissão 
Internacional de Direito Internacional – ONU); 
2) Normas internacionais de Direito 
Humanitário (Convenção de Viena, art. 60); 
3) Vida, Integridade física, liberdade 
(Estatuto de Roma que criou o TPI, assinado por 
aproximadamente 161 Estados); 
4) Proibição da Tortura (Tribunal Penal 
Internacional para Iugoslávia); 
5) Proibição de desaparecimento forçado; 
 
7.2. Universalidade 
Segundo PECES BARBA, a universalidade dos 
Direitos Humanos pode ser discutida a partir de 3 
critérios: 
Titularidade – os direitos humanos pertencem a 
todos independente de raça, etnia, opção política, 
religiosa, afetiva, nacionalidade, entre outros. 
 Temporal – Os direitos humanos são 
direitos universais pois sempre pertenceram aos 
seres humanos em todas as épocas, pelo simples 
fato de serem seres humanos. 
 Cultural – São universais pois devem 
permear todas as culturas, por todas as partes do 
globo, apesar das diferenças históricas e 
contextuais. 
 Abaixo será abordado o plano da 
titularidade; 
 Titularidade dos Direitos Humanos 
A universalidade da titularidade dos Direitos 
Humanos remonta períodos históricos remotos 
como por exemplo a Grécia antiga e em Roma, 
momento em que Gaio, jurista romano do Século 
XII propõe o Ius Gentium, que seria o Direito 
pertencente a “todas as gentes”, somente pelo fato 
de serem pessoas humanas trazendo a idéia de 
“direito natural”. Mais a frente, se retorna a essa 
discussão com Hugo Grócio, Hobbes, Rosseau 
eLocke. 
O Direito natural também esteve presente, no 
século XVIII, na Declaração dos Direitos do 
Homem e do cidadão, na França e na Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, da ONU, no 
século XX. Contudo, o momento mais recente, e 
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diga-se de passagem, importante, do 
reconhecimento da universalidade dos Direitos 
Humanos foi certamente a Convenção de Mundial 
de Direitos Humanos, realizada em Viena, 1993. 
A Convenção contou com a participação de mais 
de 180 Estados, situação em que mais de 
oitocentas organizações não governamentais 
foram credenciadas como “observadoras oficiais” 
e mais de duas mil encontram-se no “Fórum das 
ONG´s”, com a participação de mais de 10 mil 
indivíduos conhecedores do tema. Como 
resultado, a criação de uma Declaração (que 
reconheceu a universalidade em seu parágrafo 5º 
como inerente a todos os direitos humanos) e um 
Programa de ação para a promoção dos Direitos 
Humanos. 
Apesar de ser essa a intenção da ONU, a 
proposta encara ainda muitas represálias, por parte 
de determinados países, em razão de que seus 
costumes históricos e culturais vão de encontro à 
dignidade universal da ONU. Tais países alegam 
que em razão de tais laços culturais se trataria de 
uma margem de apreciação, que para alguns se 
trata de uma máscara para o exercício do 
relativismo. 
 São exemplos: 
1. A clitoridectomia (mutilação da genitália 
feminina) defendida por alguns comotradição 
cultural de países regido pela religião mulçumana, 
mas que para os direitos humanos universais, 
trata-se de uma violação a dignidade e integridade 
física da mulher. 
2. Punições exacerbadas: penas de morte no 
Texas, entidade federativa nos EUA; 
Assim questiona-se: 
 São os direitos humanos universais? 
Tratam-se os Direitos humanos universais de um 
discurso ocidental orientado por um 
imperialismo estadunidense ou mesmo, dos 
países capitalistas? A universalização não seria 
uma ameaça a diversidade cultural? Os direitos 
humanos universais não violam o 
multiculturalismo? 
Objeções ao universalismo dos Direitos 
Humanos 
 Visão antropocêntrica do mundo - 
Raimundo PANNIKAR defende que as culturas 
contrárias ao universalismo são aquelas que 
possuem uma visão cosmoteológica do mundo e 
não antropológica. Ou seja, se Deus é o centro, é a 
vontade de Deus, prevista em livros sagrado é que 
deve ser realizada. 
 Expressão disfarçada do imperialismo- 
POLLIS e SCHWAB defendem que apesar da 
aprovação da Declaração Universal de Direitos 
Humanos sem qualquer voto em sentido contrário, 
houve oito abstenções (Bielorússia, 
Tchecoslosváquia, Polônia, União Soviética, 
Ucrânia, Iugoslávia, Arábia Saudita e África do 
Sul). Além disso, menciona-se que muitas das 
potências que assinaram a declaração possuíam 
colônias principalmente na Ásia e na Africa. 
 Países assinam convenções em razão da 
política externa–Para KAU WA MUTUA, 
vários Estados aderem a instrumentos 
internacionais para fins de política externa, sem 
implementar direitos humanos no cotidiano de 
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seus povos. Exemplo: A ditadura sanguinária 
criada por Mobutu no Zaire, aderiu à várias 
convenções internacionais. 
 As potências utilizam o universalismo 
para alcançar fins econômicos e geopolíticos– 
Muitos países no cenário mundial se mostram 
incoerentes omitindo-se, em alguns casos na 
defesa dos Direitos Humanos, como por exemplo, 
quando os EUA realizou embargo à CUBA 
alegando que o overno local comunista havia 
realizado maciça violação de direitos humanos ao 
passo que apoiavam a China comunista. 
 A cultura asiática tem como centro a 
comunidade e não o individualismo – Para 
NIARA SUDARKASA, na Ásia existe uma 
complexa relação do indivíduo com sua 
comunidade, o que inclui as noções de respeito, 
responsabilidade, auto restrição e reciprocidade, 
não havendo correspondência com a noção de 
Direito da cultura ocidental. 
A favor do Universalismo 
 Justificativas culturais estão baseadas 
no totalitarismo-Para THAROOR, a aceitação 
de justificativas “culturais” conduz a condutas 
violatórias dos Direitos Humanos, carregando 
forte assento totalitário , pois representa a coerção 
daqueles que embora membros da comunidade 
não se identificam mais com seus valores. 
O universalismo permite a livre comunhão 
pois proporcionar a cada indivíduo a opção - 
em distanciar-se ou em aproximar da sociedade. 
Considerando o paradigma dos Direitos Humanos 
universais não interessa a opção abstrata de cada 
um em relação à comunidade, mas sim a coerente 
imposição da liberdade política e jurídica. 
A utilização geopolítica pode ser utilizada em 
qualquer tema de Direito Internacional – sobre 
a afirmação de que a utilização do discurso 
universalista é máscara para interesses 
econômicos e a utilização muitas vezes não condiz 
com uma aplicação em âmbito interno pode 
ocorrer em qualquer tema de direito internacional 
como comprova a experiência e, Direito 
Internacional, como em matéria de Direito dos 
Tratados. Assim tal crítica deve recair não sobre o 
Direito Internacional dos Direitos Humanos, e sim 
, sobre a comunidade internacional. 
 Diga-se que inclusive, é no setor do 
Direito Internacional dos Direitos Humanos é que 
surgem mecanismo judiciais e quase judiciais para 
inibir esse doublestandart. 
7.3. Indivisibilidade 
A indivisibilidade determina que todos os 
direitos humanos devem ter a mesma proteção 
jurídica pois são essenciais para a vida humana. 
Pode-se dizer que a indivisibilidade teve seu 
reconhecimento na Declaração Universal dos 
Direitos Humanos de 1948 e, mais recentemente, 
na Primeira Convenção Mundial dos Direitos 
Humanos em 1968 da ONU, no Teerã. 
Posteriormente em 1993, em Viena, tal 
característica foi confirmada como um dos 
principais atributos dos Direitos Humanos, na 
Segunda Conferência Mundial. É oportuno dizer 
que em 1966, no âmbito da ONU, foram criados 
dois pactos internacionais: “dos Direitos Civis e 
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Políticos” e “dos Direitos econômicos, sociais e 
culturais” em que o primeiro não mencionou 
direitos de segunda geração e vice-versa, tendo 
havido países que só assinaram um dos pactos, e 
nessa oportunidade isso representava que o paíssó 
se responsabilizada em cumprir direitos humanos 
de forma fracionada. 
Contudo, isso somente ocorreu pelo fato de que 
há época, estava em vigência, a Guerra Fria, em 
que os mundo estava dividido em dois blocos – 
capitalista e comunista – e a intenção de criar dois 
pactos buscou garantir, de alguma forma, a 
proteção de direitos humanos, mesmo de forma 
fracionada. 
7.4. Interdependência 
Também adotada pela Conferência Internacional 
em 1993, caminha em conjunto com a 
indivisibilidade. Trata-se da mútua dependência 
entre os Direitos Humanos protegidos, pois o 
conteúdo de um dos direitos pode se vincular ao 
conteúdo de outro, demonstrando interação e 
complementariedade. Exemplo: Liberdade de 
expressão e de informação, Liberdade de 
locomoção e garantia de Habeas corpus. 
Nesse sentido, aduz ALEXANDRE DE 
MORAES, que os direitos humanos não devem 
ser interpretados separadamente, mas de forma 
conjunta, com finalidade de alcance de fins 
previstos pelo legislador. 
7.5. Indisponibilidade 
 A indisponibilidade implica no reconhecimento 
de sua total irrenunciabilidade ou de que a 
renunciabilidade do titular só pode ser 
manifestada sobre controle. Tal atributo vincula-se 
às escolhas sociais daquilo que deve merecer 
proteção especial, evitando-se que seja dilapidada 
com anuência do titular. 
Antes da internacionalização dos direitos 
humanos, a doutrina e a jurisprudência inseriam os 
casos de limitação da liberdade de disposição de 
direitos pelo titular como cláusula geral de 
violação de ordem pública, da moral e bons 
costumes, ou requisitos do negócio jurídico, como 
a licitude do objeto que também não poderia 
contrariar a ordem pública, a moral e os bons 
costumes. 
A ordem pública é o conjunto de princípios tidos 
como fundamentais e integrantes do sistema 
jurídico, sendo o reflexo da filosofia sócio- 
política e jurídica de toda a legislação que 
representa a moral básica de uma nação. 
A ordem pública limita a disponibilidade dos 
direitos considerando os seguintes critérios: 
a) Qualidade especial do titular: crianças, 
adolescentes, incapazes. 
b) Objeto: bens fora do comércio. 
c) Relações jurídico-institucionais; 
casamento, família, etc.. 
Com a consagração da dignidade da pessoa 
humanal, prevista constitucionalmente como valor 
supremo, o ser humano passa não poder se despir 
de sua condição humana passando a ser um 
objeto. 
Um importante precedente a prática do 
arremesso do anão. Na França, se ofertava em 
uma casa noturna tal atividade, o que foi proibido 
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no momento em que a prefeitura de Paris fazendo 
uma vistoria interditou a boite sob o fundamento 
de defesa da ordem pública. 
O anão insatisfeito procurou o comitê de direitos 
humanos, órgão previsto no Pacto Internacional 
dos Direitos Civis e Políticos, e na oportunidade, 
alegou que utilizava equipamentos de proteção, 
que o trabalho era livre. Contudo o pedido foi 
arquivado com base na dignidade da

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