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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA INSTITUTO DE ARTES E DESIGN BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM ARTES E DESIGN Relações de Gênero no Design de Embalagens Projeto de pesquisa Modalidade Bacharelado em Design Nubia Sales Pinheiro Oliveira Juiz de Fora Junho/2015 1. Introdução A pratica do design está diretamente relacionada à preocupação com o usuário em seu contexto social e cultural, e em seu processo são estabelecidos conceitos que servem como parâmetros do projeto. No entanto, nem sempre estes padrões estabelecidos refletem a preocupação social do design. Um grande exemplo disto é a distinção de gênero em embalagens. Segundo Forty (2007, pg. 92) “artigos em que o design é definido pelo sexo do usuário são encontrados em todos os períodos da história”. Na contemporaneidade, não é raro encontrar produtos cujo design é definido pelo “sexo” do usuário e este é um grande problema. Isto por que, atualmente, com as incessantes discussões sobre gênero, tornou-se errado classificar algum produto de acordo com o sexo do indivíduo, pois assim ele fica restringido à um fator biológico. O início das discussões acerca das relações entre gênero e design ainda é recente e talvez por isso Uma grande parcela dos produtos de design ainda são projetados com uma fundamentação estereotipada de gênero, ou seja, o conjunto de cores e formas empregados em uma embalagem, seguem padrões de gênero construídos socialmente, o que acarreta em um estreitamento do publico alvo. A grande questão à ser levantada é a influência desta distinção no design das embalagens sobre a aceitação do produto, a decisão de compra dos consumidores. O design de uma embalagem interfere diretamente na aceitação de um produto, uma vez que a embalagem é o instrumento primário de comunicação da marca, é através dela que o cliente se identifica com produto. Tendo em vista que a embalagem tem grande importância para a decisão de compra do usuário, tudo o que é exposto nela deve ser planejado de forma atrativa para convencer o consumidor. Assim, quando a distinção de gênero baseada em estereótipos populares é empregada na embalagem, pode ocorrer uma segregação do público, pois a imagem que ela transmitirá é de que nem todos os usuários terão suas necessidades atendidas. 2. Objetivos O entendimento da forma como a distinção de gênero, no design de embalagens, interfere na aceitação do produto é o objetivo geral definido para esta pesquisa. Por conseguinte os objetivos específicos são: Identificar uma embalagem em que ocorra distinção de gênero; Averiguar se esta distinção se faz necessária para os fins do produto; Avaliar a aceitação deste produto e de outros com distinção de gênero desnecessária; De acordo com os resultados das avaliações, desenvolver proposta de redesign da embalagem para que melhor se adeque às necessidades dos consumidores. 3. Justificativa A atual conjuntura dos estudos de gênero tem sido expandida para diversas áreas de estudo e conhecimento, ajudando na melhoria das relações humanas. No entanto, no que se diz respeito ao design, estas discussões são, ainda, um tanto precárias. E esta falta de conteúdo sobre o tema acaba por afetar diretamente a prática do design. Produtos produzidos com base em estereótipos de gênero que não atendem às necessidades dos consumidores, são o resultado desta ausência de conhecimento e discussão sobre o assunto. Tendo isto em vista, a iniciativa de pesquisar sobre o tema, partiu – além de uma necessidade acadêmica de conhecimento – de uma indignação pessoal aliada à uma vontade social de atender, de forma igualitária e precisa, através do design, às necessidades do consumidor. Logo, este projeto visa contribuir significativamente – através de estudos de caso e dos dados obtidos através deles – para o fomentar o conhecimento acerca das discussões de gênero no âmbito do design. Servindo, assim, como base para futuros estudos sobre distinção de gênero no design, e sua a influência no design de embalagens. 4. Referencial Teórico De modo geral o design de embalagem é uma área que engloba as duas vertentes básicas do design: o design gráfico e o de produto. O designer de produto é responsável pela parte estrutural da embalagem, levando-se em conta questões de ergonomia. Já o designer gráfico trabalhará o rótulo. As funções primárias de uma embalagem, de acordo com Bill Steweart (2009) são: proteger, identificar e conter. Fabio Mestriner (2004, p.9), então, atesta que “Com a evolução da humanidade e de suas atividades econômicas, a embalagem foi incorporando novas funções e passou a conservar, expor, vender os produtos.” E neste cenário de evolução econômica, a embalagem ganha cada vez mais importância, uma vez que se torna um fator de influência na decisão de compra de um produto. Dada esta grande importância da embalagem para o desempenho de competição do mercado, o designer, ao projetá-la, deve buscar uma solução utilizando-se de diversos recursos táteis e visuais, tais como: dimensões, tipografias, formas, imagens, figuras, texturas e etc. Segundo Stewart (2009): Os objetivos do design são utilizar todos esses critérios a fim de criar embalagens que comuniquem a mensagem certa com o objetivo de atender as necessidades racionais e os desejos emocionais dos consumidores-alvos. (STEWART, 2009, p.7) O termo “gênero” trouxe consigo diversas variantes de significado ao longo das décadas. A sua primeira aparição, como a variante conhecida na atualidade, ocorreu por meados dos anos 1970 entre grupos de feministas norte-americanas. E indicava uma rejeição do determinismo biológico implícito no uso de termos como “sexo”, aponta Joan Scott (1995). Á partir deste ponto, o termo gênero passa a ser entendido como “uma forma de indicar “construções-culturais” – a criação inteiramente social de ideias sobre os papeis adequados aos homens e as mulheres” Scott (1995, p.75). Esta é a definição empregada na atualidade, e que se torna um interessante instrumento de investigação e análise do design e a sua relação com a cultura material. A distinção de gênero no design de produtos é algo recorrente em todo processo civilizatório. Homens e mulheres sempre usaram produtos distintos, sejam roupas ou produtos de beleza. Adrian Forty (2007) alega que a diferenciação sexual em produtos de uso pessoal é problemática, uma vez que produtos como pentes, relógios e barbeadores elétricos dificilmente funcionam como sinais de gênero, ou seja, produtos cuja utilização não depende de fatores biológicos distintivos como o sexo. A maneira mais correta de explicar esta distinção de design é através da abordagem histórica de Scott, de que gênero é uma construção social: É por meio de sua conformidade com ideias aceitas do que é apropriado para homens ou mulheres - em outras palavras, por meio das noções de masculinidade e feminilidade, que não se referem a diferenças biológicas, mas a convenções sociais. (FORTY, 2007, p.92) Apesar desta diferenciação de gênero ainda estar presente na atualidade, ocorre com frequência muito menor do que no século XIX, assegura Forty. Esta redução se dá, em grande parte, pelas conquistas dos movimentos feministas. A preocupação social deveria ser uma das principais responsabilidades num projeto de design, isso por que os designers muitas vezes participam ativamente da amenização ou solução de problemasatravés da cultura material. Desta forma, estudos de gênero são constantemente necessários, pois existem projetos que são direcionados para públicos específicos sejam homens, mulheres ou transexuais, e que demandam um conhecimento acerca das necessidades do público-alvo. Assim sendo a maior problemática apresentada por Forty (2007) está na diferenciação de gênero desnecessária. Isto é, por exemplo, na produção de dois produtos com a mesma finalidade e a mesma forma de uso, porém distintos no design: um masculino e outro feminino. Desta forma, um designer, ao elaborar a embalagem do produto, deverá fazer todas as considerações pertinentes acerca dos consumidores-alvo – tais quais faixa etária, renda, gênero e etc. – a fim de estabelecer a melhor alternativa de design para aquele produto. E tomando o devido cuidado para não deixar que as convenções sociais e os estereótipos populares interfiram de forma à segregar os consumidores. O design da embalagem é crucial, isto por que é através da embalagem que o consumidor irá construir a imagem e perceber atributos da empresa fabricante do produto, ela atua como um instrumento para construção da marca (MESTRINER, 2004, p. 19). A embalagem é um dos instrumentos primários de comunicação da marca, é ela que vai construir a relação de afinidade entre marca e consumidor, portanto o design deve ser original e criativo. Celso Negrão e Eleida Camargo (2008, p.118) elucidam: “A identificação da marca exposta na embalagem influencia o cliente em sua decisão de compra. Em muitos casos, é ela que imprime “personalidade” ao produto, diferenciando-o dos concorrentes.” Tendo em vista todos os autores acima citados, é possível perceber que a embalagem é a constituição básica da relação consumidor-produto-marca, uma vez que é através dela que a marca pode transmitir a sua mensagem. Pode-se assegurar também, que gênero é uma construção social baseada nos ideais sobre papeis adequados para homens e mulheres. Tendo em vista esta definição de gênero, têm- se a diferenciação sexual no design dos artefatos, assinalada por Forty e fundamentada pela abordagem histórica de Scott. Assim, o designer tem o papel de elaborar uma embalagem que vá de encontro às necessidades dos consumidores – sem deixar-se influenciar demasiado por convenções sociais –, que seja atrativa e que represente a marca. Afinal a embalagem é o fator de maior influência sobre a decisão de aquisição do produto. 5. Metodologia Esta pesquisa será desenvolvida com base em uma metodologia qualitativa de cunho descritivo buscando compreender de que forma o design da embalagem influencia a aceitação de um produto. Primeiramente, através de um estudo de caso será identificada uma embalagem em que ocorra a distinção de gênero para em seguida averiguar se a mesma é necessária. Determinado o objeto de estudo, verificar a aceitação do produto pelos consumidores, através de entrevistas focalizadas e semiestruturadas – a fim de compreender suas necessidades, expectativas e preferências. Estabelecendo, assim, as variáveis que influenciam na decisão de compra dos consumidores. Com base nos resultados desta pesquisa experimental e de acordo com os arquétipos estabelecidos através do contato com os consumidores, propor o redesign da embalagem estudada para que melhor se adeque às necessidades dos consumidores, abandonando estereótipos de gênero desnecessários que possam não atender às necessidades dos seus consumidores. 6. Cronograma Ações: Trab. de Bacharelado – sem/2015 Mês 1 Mês 2 Mês 3 Mês 4 Confirmação (ou adequação) do projeto com orientador Levantamento bibliográfico, leituras e fichamento Coleta, organização e registro de dados Análise de dados Redação do relatório final de pesquisa Revisão geral e entrega do texto Apresentação do trabalho final Referências Bibliográficas MESTRINER, Fabio. Design de embalagem: curso avançado. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. STEWART, Bill. Estratégias de Design para Embalagens. 2. ed. São Paulo: Editora Blucher, 2009. FORTY, Adrian. Objetos do desejo: design e sociedade desde 1750. São Paulo: Cosac Naify, 2007. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, 20(2), p. 71-99, jul./dez. 1995. CAMARGO, Eleida.; NEGRÃO, Celso. Design de embalagem: do marketing à produção. São Paulo: Novatec Editora, 2008.
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