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ADMINISTRAÇÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM > Descrever o processo legal para a formalização de empresas. > Identificar procedimentos que protegem os segredos comerciais de uma organização. > Diferenciar os principais tipos de direitos de propriedade intelectual. Introdução A formalização de uma empresa no Brasil é um passo essencial e estratégico para garantir a segurança jurídica e o desenvolvimento sustentável do negócio. Além de conferir legitimidade às atividades comerciais, ao formalizar a empresa, o empresário obtém acesso a linhas de crédito, financiamentos e programas de incentivo governamentais. O registro da organização contribui para a geração de empregos formais, garante a transparência nas transações comerciais e combate a sonegação fiscal. Portanto, a formalização de empresas apoia o desenvolvimento econômico e social do país. A legalização da empresa, bem como a proteção de seus segredos comerciais, garante sua competitividade e sustentabilidade no mercado atual. A proteção não apenas resguarda o patrimônio intelectual da empresa, mas também fortalece sua posição competitiva e contribui para seu crescimento e sucesso no longo prazo. Ainda, os direitos de proteção intelectual desempenham um papel fundamental Aspectos legais da constituição de empresas Ediane Elis S. Dal Sasso na proteção e valorização de criações intelectuais, oferecendo proteção específica para diferentes tipos de ativos intangíveis. Neste capítulo, você vai conhecer o processo de formalização de empresas no Brasil, identificar os procedimentos que protegem segredos comerciais e ver os principais tipos de direitos de propriedade intelectual. Formalização de empresas Em primeiro lugar, é importante destacar que o processo de formalização de empresas no Brasil é regido por uma série de leis, regulamentos e normas, que variam de acordo com o tipo de empresa e o seu ramo de atuação. No entanto, existem algumas etapas comuns a todos os empreendimentos, independentemente do porte ou da natureza jurídica. Com o intuito de padronizar os procedimentos, aumentar a transparência e reduzir os custos e prazos de abertura de empresas, foi criada a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim) (Brasil, 2007). Por meio dela, é possível acessar os portais estaduais e realizar o processo de registro. Vale lembrar que as regras de registro empresarial passam por modificações recorrentes, e o empreendedor precisa estar atento a essas mudanças. Em geral, essas alterações buscam a simplificação e a modernização dos procedimentos adotados. Como exemplo, é possível citar a Instrução Normativa DREI nº 1, de 24 de janeiro de 2024 (Brasil, 2024), que possibilitou a introdução do uso de inteligência artificial nas juntas comerciais. A seguir, você vai conhecer cada uma das etapas que envolvem o processo de registro de empresas. Consulta Prévia de Viabilidade A Consulta Prévia de Viabilidade é um “ato pelo qual o interessado submete consultas, por meio eletrônico e on-line, com a finalidade de obter a viabilidade de localização, pesquisa de nome da pessoa jurídica e classificação de risco das atividades” (Brasil, [2021], art. 2, inc. VI). Para dar início ao processo, é preciso definir em qual entidade será feito o registro. A oferta desses serviços pode variar de acordo com o estado e o município escolhido, mas, em geral, o processo pode ser realizado por meio de cartório ou junta comercial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ou até mesmo na Receita Federal do Brasil (RFB). Também é necessário apresentar diversas informações, como as seguintes. Aspectos legais da constituição de empresas2 � Natureza jurídica e município da matriz. � Dados do quadro societário e administradores (QSA) e denominação/ razão social pretendida. � Informações do imóvel (endereço e áreas do imóvel e estabelecimento). � Objetivo da empresa, atividades econômicas e tipo de unidade. � Dados complementares referentes à Lei da Liberdade Econômica que interferem nos licenciamentos, alvarás e permissões dos demais órgãos. Podem variar de acordo com o município. O endereço onde a empresa será instalada precisa ser aprovado para que o munícipio autorize o início das atividades por meio do alvará de funcionamento. Assim, é prudente obter a aprovação do endereço na Consulta Prévia de Viabilidade antes de comprar ou alugar o espaço destinado à empresa (Jucepar, 2023). Coleta de dados Durante a etapa de coleta de dados, será necessário preencher a Ficha de Cadastro Nacional (FCN). Entre as informações solicitadas, é possível destacar: � nome fantasia; � capital social; � informações de contato da empresa; � dados complementares do QSA informados na consulta prévia; � representante legal da empresa. Para algumas atividades econômicas, há obrigatoriedade de coleta de dados do contador e/ou advogado. Após fornecer as informações, é necessário gerar as taxas para paga- mento e o contrato social. O contrato social pode ser gerado pelo sistema, que apresenta um modelo padrão pré-aprovado. Entretanto, é importante salientar que o contrato social “é composto dos termos de constituição e do estatuto social que estabelecem as regras de governança da empresa” (Ross et al., 2022, local. 2052). Ou seja, esse documento estabelece as regras e os direitos dos sócios, bem como a forma de funcionamento e gestão da empresa. Aspectos legais da constituição de empresas 3 Caso a empresa tenha especificidades não atendidas pelo contrato pa- drão, é possível apresentar um contrato próprio, que vai ter de passar por análise prévia antes da coleta de assinaturas. Após a coleta das assinaturas, o contrato é aprovado e autenticado, o que possibilita dar continuidade ao processo junto aos demais órgãos interessados. Licenças Após o registro nos órgãos competentes e a obtenção das inscrições tribu- tárias, a etapa final para legalizar a pessoa jurídica é o licenciamento. Nesse procedimento, o órgão regulador avalia o cumprimento dos requisitos de segurança sanitária, controle ambiental, prevenção contra incêndios e outras exigências legais para autorizar o funcionamento da empresa (Brasil, [c2023]). O empreendedor deve consultar as regras de licenciamento antes de abrir sua pessoa jurídica, a fim de compreender as exigências dos órgãos licenciadores para as atividades planejadas (Jucepar, 2023). Diversos órgãos estão envolvidos nos procedimentos de licenciamento, como a Vigilância Sanitária, o Corpo de Bombeiros e os órgãos de proteção ao meio ambiente. As licenças são concedidas após o cumprimento de exigências diretamente relacionadas à atividade econômica realizada pela organização. A Vigilância Sanitária busca eliminar, reduzir ou prevenir riscos à saúde coletiva. Isso envolve a intervenção em problemas sanitários originados do ambiente, da produção, da circulação de bens e dos serviços de saúde e relacionados à saúde pública. Suas ações incluem o controle sanitário sobre produtos e serviços que, de forma direta ou indireta, possam impactar a saúde da população em todas as fases, desde a produção até o consumo final (Brasil, 1999). Os serviços do Corpo de Bombeiros compreendem todas as atividades que buscam auxiliar no processo de prevenção a incêndios e desastres em edificações, enquadradas como passíveis de licenciamento e fiscalização de acordo com a legislação vigente em cada estado. O licenciamento ambiental, estabelecido pela Lei Federal nº 6.938/81 e regulamentado pela Resolução Conama 237/97, é um procedimento que au- toriza a localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos e atividades que utilizam recursos ambientais e têm potencial de poluição ou degradação ambiental (Medeiros; Giordano; Reis, 2012). A licença ambiental visa Aspectos legais da constituição de empresas4 a garantir o direito coletivo a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Sua renovaçãoé periódica, podendo ser revogada se a empresa deixar de cumprir as normas legais estabelecidas. O portal da Redesim integra os processos de licenciamento (estaduais e municipais) de todos os órgãos e entidades responsáveis. Cada órgão define o nível de risco da atividade, determinando os requisitos para obtenção do licenciamento. Atividades de baixo risco são dispensadas de atos públicos, enquanto as de médio risco permitem licenças provisórias. As de alto risco, por sua vez, necessitam de vistoria prévia. Em posse das licenças, a empresa pode iniciar suas operações legalmente, garantindo competitividade e credibilidade no mercado. Vale ressaltar que aspectos legais devem pautar as atividades da empresa de forma recorrente, não apenas para garantir a legalidade das atividades, mas também para protegê-la. A seguir, você vai ver estratégias para a proteção dos segredos comerciais, que visam a impedir o acesso não autorizado a informações confidenciais que podem influenciar negativamente a organização. Segredos comerciais O segredo comercial é uma estratégia de proteção que visa a evitar a divul- gação ou a revelação, por parte de terceiros, de informações que possam causar prejuízos à empresa (Hisrich; Peters; Shepherd, 2014). Manter em sigilo o lançamento de uma nova linha de produtos, os métodos de fabricação ou até mesmo a identidade de clientes e fornecedores pode ser decisivo para a viabilidade e o crescimento de diversas organizações. A segurança de segredos comerciais depende de medidas de proteção adequadas, como cláusulas de confidencialidade em contratos, códigos de ética, políticas internas e acordos com clientes, fornecedores e demais par- ceiros. Tais medidas buscam prevenir o uso não autorizado de informações confidenciais. De acordo com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual (Ompi), um segredo comercial não costuma ser conhecido ou facilmente acessível às pessoas. Ele tem valor comercial devido ao seu caráter confidencial, e as pessoas legalmente responsáveis pela informação se empenham para preservar sua confidencialidade (Agreement [...], c2024). Para proteger um segredo comercial, é possível realizar um registro na Ompi, que, por meio de criptografia digital, certifica a data de armazena- mento de suas informações confidenciais. Esse registro é chamado de prova Aspectos legais da constituição de empresas 5 de anterioridade e é válido no mundo todo. Entretanto, é importante que o registro seja elaborado em conjunto com uma assessoria jurídica experiente no assunto. A Ompi é uma instituição internacional de direito internacional pú- blico com sede em Genebra, na Suíça. É parte integrante do Sistema das Nações Unidas e é composta por 193 Estados-membros. Fundada em 1967, a Ompi é uma das 16 agências especializadas da ONU e tem como objetivo promover a proteção da propriedade intelectual em todo o mundo por meio da cooperação entre os Estados (Inside [...], c2024). Outro procedimento bastante utilizado na proteção de segredos comerciais é o contrato de confidencialidade, conhecido pela sigla NDA, do inglês non- -disclosure agreement. Ele pode ser definido como um instrumento jurídico que serve para proteger segredos industriais, comerciais e informações confidenciais não abrangidas por leis de propriedade intelectual. “Em síntese, é um contrato que visa à proteção de informações estratégicas, em que as partes concordam (agree) em não divulgarem o conteúdo pactuado” (Pereira et al., 2022, p. 15). Esse modelo de contrato garante a segurança de negocia- ções estratégicas, parcerias comerciais e transações cotidianas, protegendo informações cruciais para a empresa. A confidencialidade pode ser assegurada por meio de contratos especí- ficos ou cláusulas anexas em diferentes tipos de contratos, como contratos de trabalho, prestação de serviços, contratos com clientes e parceiros. Em certas circunstâncias, é possível assegurar não apenas a confidencialidade, mas também o sigilo absoluto da própria existência do contrato. Sob essa abordagem, nenhum detalhe relativo ao contrato, sua natureza ou partes envolvidas pode ser divulgado publicamente. Tal estratégia visa a proteger integralmente informações sensíveis, preservando a privacidade e os inte- resses das partes contratantes. O contrato de confidencialidade visa a garantir a segurança das infor- mações envolvidas no objeto contratual e deve incluir cláusulas punitivas, como as moratórias e compensatórias. Embora o contrato de NDA não impeça totalmente o vazamento de informações sigilosas, o responsável pela quebra do contrato vai enfrentar penalidades severas. Tanto a cláusula punitiva quanto a compensatória são essenciais nesse tipo de contrato, sendo a última Aspectos legais da constituição de empresas6 importante para a liquidação antecipada do prejuízo estimado causado pela violação do sigilo (Pereira et al., 2022). No entanto, é importante notar que calcular os danos resultantes do vaza- mento das informações confidenciais pode ser difícil, levando a um prejuízo genérico. Portanto, o valor da indenização pode ser acordado previamente entre as partes, desde que respeite o limite do valor total do contrato, con- forme o Código Civil (Brasil, [2022]). Pequenas e médias empresas tendem a usar segredos comerciais para proteger suas inovações, devido à sua praticidade e eficácia. Os segredos comerciais não estão limitados por assunto, são menos burocráticos e custo- sos, garantem uma proteção coesa e complementam contratos e medidas de segurança (Hull, 2019). Muitas vezes, os segredos comerciais mais valiosos não são passíveis de patente e incluem informações como propostas comerciais, listas de clientes, dados financeiros e planos estratégicos. Outro aliado importante na preservação dos segredos comerciais é o código de ética, também conhecido como código de conduta, código de conduta ética ou código de conduta moral. Esse documento desempenha um papel fundamental ao estabelecer diretrizes para o comportamento tanto da empresa quanto daqueles que se relacionam com ela. O código de ética corporativa é mais do que um documento simbólico; é uma expressão dos valores e da missão específica de uma empresa. É essencial que ele seja genuíno, e não uma imitação de outros códigos. Sua redação deve refletir a cultura corporativa e ser construída de forma cola- borativa, envolvendo todos os membros da organização. O conteúdo deve abordar uma variedade de questões, desde critérios de seleção e promoção até direitos humanos, diversidade, assédio e integridade. É crucial que o código seja conhecido, constantemente revisado e aplicado de forma consistente (Bittar, 2023). É vital buscar a implementação efetiva do código de ética, que deve ir além da mera enumeração de normas e procedimentos. Ele deve abordar situações de risco com clareza, indicando a postura esperada diante dessas condições. Além disso, é fundamental que ele disponibilize um canal seguro para denúncias e apresente os procedimentos para apuração e possível responsabilização. Veja, no Quadro 1, uma proposta para construção de um código de ética. Aspectos legais da constituição de empresas 7 Quadro 1. Proposta de etapas para a construção do código de ética Etapa Ação Etapa 1 Identificar os recursos internos (humanos, materiais e tecnológicos) e os recursos externos, como mercado, clientes, fornecedores, concorrentes, entre outros. Essa avaliação deve ser realizada com as diversas áreas envolvidas. Etapa 2 Analisar a missão atual e os valores e refletir se eles são condizentes com os recursos identificados. No caso de não serem ou de não existir uma missão formal atual, deve-se construir tal missão. Essa missão e esses valores, da mesma forma que são utilizados para a construção de planejamento estratégico, devem ser utilizados para a construção do código de ética. Recomenda-se realizar esta etapa junto à etapa 1. Etapa 3 Elaborar os tópicos considerados relevantespara serem abordados no código de ética. Esses tópicos devem ser validados pelos envolvidos, buscando atender a aspectos internos e externos, todas as áreas da instituição e diferentes níveis hierárquicos. Etapa 4 Com a participação das áreas, elaborar o código de ética com o conteúdo de cada tópico. Etapa 5 Validar o código de ética. A validação pode ser feita pela alta gestão, mas deve passar pela área jurídica da empresa. Também é possível consultar profissionais capacitados da área de implantação de políticas éticas. Etapa 6 Disseminar o código para os stakeholders. Etapa 7 Fazer revisão periódica e, quando for perceptível que o código não atende mais às necessidades do ambiente organizacional, adaptá-lo. Fonte: Adaptado de Santos (2023). Como visto, a proteção dos segredos comerciais pode ser realizada de várias maneiras. Independentemente do método, o sigilo é sempre funda- mental. No entanto, criações intelectuais no campo da ciência, tecnologia, arte e literatura também podem ser resguardadas pelas leis de propriedade intelectual quando a confidencialidade não for viável ou necessária. A seguir, você vai conhecer a abrangência dos direitos de propriedade intelectual, que asseguram a exclusividade, o valor comercial e a vantagem competitiva de inovações, marcas e produtos. Aspectos legais da constituição de empresas8 Direitos de propriedade intelectual A propriedade intelectual protege investimentos em inovação, diferenciando produtos e marcas, garantindo a exclusividade e impedindo cópias. Além disso, a propriedade intelectual pode ser uma fonte de valor comercial significativa, contribuindo para a reputação da empresa, o reconhecimento da marca e o potencial de lucro a longo prazo. Assim, entender e garantir a proteção dos direitos de propriedade intelectual pode preservar vantagens competitivas e contribuir para o sucesso da empresa. Existem diversos tipos de direitos de propriedade intelectual. A seguir, veja alguns exemplos. � Patentes: concedem direitos exclusivos a invenções, permitindo ao titular controlar seu uso enquanto publicam informações técnicas sobre elas. � Direitos autorais: protegem obras literárias e artísticas, incluindo músicas, livros e filmes, garantindo aos criadores o controle sobre sua utilização. � Marcas registradas: distinguem produtos ou serviços de uma empresa dos de outras, remontando à ideia de artistas que assinam suas obras. � Desenhos industriais: referem-se ao aspecto estético de um artigo, como forma ou padrões, protegendo seu design. � Indicações geográficas: identificam produtos com origens específicas, reconhecendo qualidades atribuíveis a esses locais. As empresas precisam conhecer os diversos tipos de direitos de proprie- dade intelectual para aplicar aqueles que melhor atendem aos interesses da organização. É comum que uma mesma empresa utilize tipos distintos para atender a necessidades específicas. A Mauricio de Sousa Produções (MSP) é uma das principais empresas de entretenimento do Brasil, reconhecida por criar a Turma da Mônica. Com um forte foco em inovação, a MSP produz conteúdo de alta qualidade em todas as plataformas, integrando educação, cultura e entretenimento. No campo do licenciamento, colabora com 150 empresas, resultando em mais de 4 mil produtos com seus adorados personagens. A marca tem uma forte presença no YouTube, com mais de 12 bilhões de visualizações. Além disso, na área editorial, a MSP opera um dos maiores estúdios do mundo, contando com um catálogo de mais de 300 títulos e vendas que ultrapassam 1 bilhão de revistas (MSP, c2024). Aspectos legais da constituição de empresas 9 De acordo com Almeida (2021), a propriedade intelectual é fundamental para o sucesso da MSP, que se tornou líder no mercado editorial do Brasil, com um amplo portfólio de produtos além dos quadrinhos, incluindo filmes animados, espetáculos de palco, parques temáticos e jogos de computador. Desde o início, Mauricio de Sousa licenciou suas obras para empresas de bens de consumo, garantindo a proteção de suas criações por meio do registro de marcas comerciais, como a Turma da Mônica, em diversos países. A MSP enfrenta desafios com a pirataria, mas investe em proteção jurídica e colaborações estratégicas para combater a falsificação de seus produtos. Com uma visão internacional crescente e uma abordagem digital para expandir seu alcance, a MSP continua comprometida com a proteção dos direitos de propriedade intelectual para garantir o sucesso de seus negócios (Almeida, 2021). A seguir, você vai conhecer os diversos tipos de direitos de propriedade intelectual e suas possíveis aplicações. Patentes O sistema de patentes tem sido empregado para estimular o avanço tecno- lógico desde o século XV. Ele pode ser entendido como uma troca entre o inventor e o Estado, fornecendo ao inventor exclusividade temporária sobre sua invenção em troca da divulgação pública. Isso impulsiona a inovação e beneficia a sociedade com novas tecnologias. As estratégias comerciais modernas muitas vezes incluem a solicitação de patentes em vários países para garantir a exclusividade em diferentes mercados (Ahlert; Camara Junior, 2019). No Brasil, o sistema de patentes é garantido pela Constituição Federal e pela Lei da Propriedade Industrial, que estabelece requisitos de patentea- bilidade. “É patenteável a invenção que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial” (Brasil, 1996, art. 8). O requisito de novidade em uma patente implica que o objeto do pedido não tenha sido acessível ao público antes da data de depósito, exceto em situações específicas, como o período de graça. A novidade é essencial para a obtenção da patente, baseando-se na troca entre inventor e sociedade, em que o inventor revela sua criação em troca do reconhecimento do direito à exclusividade temporária. Quanto ao requisito de novidade, é importante observar que apenas alguns países têm um período de graça, como é o caso da legislação brasileira. Portanto, embora uma divulgação prévia da invenção antes do de- Aspectos legais da constituição de empresas10 pósito da patente possa não afetar o requisito de novidade no Brasil, ela pode comprometer significativamente a novidade em outros países, resultando na impossibilidade de obter uma patente válida nessas jurisdições (Brasil, 1996). A definição de atividade inventiva, essencial para a concessão de uma patente, ocorre quando a proposta de invenção não é óbvia para um especia- lista no campo. Enquanto a novidade é objetiva, a atividade inventiva envolve certa subjetividade, exigindo que a invenção resolva um problema técnico de forma não convencional. Essa característica pode ser avaliada considerando critérios como avanço tecnológico, redução de custos ou simplificação na fabricação (Ahlert; Camara Junior, 2019). Por fim, a legislação define uma invenção ou modelo como passível de aplicação industrial quando ele pode ser utilizado ou produzido em qualquer tipo de indústria, abrangendo desde indústrias agrícolas e extrativas até produtos manufaturados ou naturais. O termo “indústria” engloba qualquer atividade prática e útil de natureza técnica, diferenciando-se dos campos artísticos e teóricos. A invenção deve ser uma realização prática e operacional no contexto industrial, não se limitando a princípios abstratos ou teorias simples (Brasil, 1996). Direito autoral O direito autoral, também conhecido como copyright, protege as criações intelectuais de autores e criadores. Ele concede aos detentores de obras o direito exclusivo de autorizar ou proibir a reprodução, distribuição, execução pública, adaptação e comunicação ao público de suas criações. Isso signi- fica que o autor tem o controle sobre como sua obra é utilizada e pode ser remunerado pelo seu uso. Para as empresas, o direito autoral garante a proteção de ativos intelec- tuais e a diferenciação competitiva, protege contra violações e pode seruma importante fonte de receita. A Lei de Direitos Autoriais apresenta diversos exemplos de obras inte- lectuais protegidas, abrangendo uma ampla gama de criações do espírito, desde textos literários e obras artísticas até programas de computador e coletâneas. Além disso, delimita o que não é objeto de proteção, como ideias abstratas e informações de uso comum, e estabelece que o título das obras também está protegido, desde que seja original e inconfundível com outros títulos já existentes (Brasil, [2015]). Aspectos legais da constituição de empresas 11 Marcas registradas As marcas registradas são sinais que diferenciam os produtos ou serviços de uma empresa dos de outras empresas, protegidos por direitos de propriedade intelec- tual. A proteção é obtida por meio do registro junto aos institutos competentes, conferindo ao proprietário o direito exclusivo de uso. Em geral, a proteção dura 10 anos e pode ser renovada indefinidamente. As marcas podem ser palavras, combinações de letras e números, desenhos, símbolos, formas tridimensionais, sons, fragrâncias ou tonalidades de cores (Trademarks [...], c2024). O Protocolo de Madri representa uma solução prática e acessível para o registro e a administração de marcas em escala global. Com essa plataforma, é possível submeter um único pedido de marca internacional e efetuar o pagamento de uma taxa única para garantir proteção em até 130 países. Além disso, oferece a flexibilidade para ajustar, renovar ou ampliar o portfólio de marcas registradas de forma centralizada, simplificando todo o processo. Qualquer indivíduo ou empresa com cidadania, domicílio ou estabelecimento em um dos 130 países abrangidos pode usar essa ferramenta. Essa inclusão permite que uma ampla gama de partes interessadas aproveite os benefícios desse sistema eficiente e unificado de registro de marcas (Members [...], c2024). Desenhos industriais Os desenhos industriais referem-se ao aspecto visual decorativo ou estético de um produto. Podem englobar características tridimensionais, como a forma ou textura de um item, ou características bidimensionais, como padrões, linhas ou cores. De acordo com a Lei de Propriedade Industrial (Brasil, 1996, art. 95): Considera-se desenho industrial a forma plástica ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial. Nem sempre as fronteiras entre direito autoral e desenho industrial são bem definidas. Se pensarmos em um vaso para plantas com um formato diferente e único, ele pode ser visto como uma escultura. Se o objetivo do vaso for puramente estético e decorativo, a obra pode ser protegida por direito autoral. Entretanto, se for concebido como suporte para plantas e tiver um caráter utilitário, como um modelo para a fabricação industrial, ele poderá ser protegido no âmbito do desenho industrial. Aspectos legais da constituição de empresas12 Indicações geográficas De acordo com o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI, 2015a), a ideia de associar um produto ou serviço à sua origem é antiga, embora o termo “indicação geográfica” seja relativamente recente. A primeira intervenção estatal oficial na proteção de uma indicação geográfica ocorreu no século XVIII, quando o governo português registrou o nome “Porto” para vinhos, protegendo os produtores locais da concorrência desleal. No Brasil, a Lei de Propriedade Industrial regulamentou a matéria, reco- nhecendo as indicações de procedência e denominações de origem. O registro no INPI é crucial para proteger o nome geográfico e garantir diferenciação no mercado, evitando o uso indevido da indicação geográfica (INPI, 2015a ). O Quadro 2 apresenta alguns exemplos. Quadro 2. Exemplos de indicações geográficas Indicação geográfica Requerente Produto/ serviço Data do registro Delimitação Denominação de origem Costa Negra Associação dos Carcinicultores da Costa Negra Camarões marinhos cultivados da espécie Litopenaeus vannamei 16/08/2011 Área aproximada de 428,74 km² na região do Baixo Acaraú, englobando o território dos municípios de Acaraú, Cruz e Itarema, no Ceará Denominação de origem Mamirauá Federação dos Manejadores e Manejadoras de Pirarucu de Mamirauá Pirarucu manejado 13/07/2021 Envolve trechos de nove municípios do Amazonas: Alvarães, Fonte Boa, Japurá, Juruá, Jutaí, Maraã, Tefé, Tonantins e Uarini Denominação de origem Cachaça Paraty Associação dos Produtores e Amigos da Cachaça Artesanal de Paraty Cachaça 10/07/2007 Município de Paraty, área de aproximadamente 700 km² Indicação de procedência Vale do Submédio São Francisco Conselho da União das Ass. e Coop. dos Produtores de Uvas de Mesa e Mangas do Vale do Submédio São Francisco Uvas de mesa e mangas 07/07/2009 Região sertaneja no oeste de Pernambuco Fonte: Adaptado de INPI (2015b). Aspectos legais da constituição de empresas 13 Newton Silveira (2018) ressalta que, além da proteção oferecida pelo direito autoral e pelo registro de desenho industrial, os empresários podem recorrer às normas de repressão à concorrência desleal quando não têm outro título de exclusividade sobre a forma de seus produtos. Essas normas, tanto penais quanto civis, visam a combater atos que podem gerar confusão entre os consumidores, como a imitação servil. A diferenciação entre produtos concorrentes é crucial. O empresário pode introduzir pequenas modificações em modelos de domínio público para evitar a confusão, desde que não prejudique a utilidade do produto. A proteção contra a concorrência desleal é independente da tutela dos modelos registrados e abrange uma variedade de elementos, como cores, formas, sons e slogans, desde que tenham capacidade distintiva e atendam ao interesse do empresário de se diferenciar no mercado (Silveira, 2018). No contexto globalizado e altamente competitivo em que as empresas brasileiras operam, a formalização e a proteção de ativos intangíveis, como segredos comerciais e direitos de propriedade intelectual, são imperativos para o sucesso e a sustentabilidade dos negócios. Diante disso, é essencial que os empresários busquem constante aprimoramento e adaptação às demandas do mercado, atendendo às especificidades de seus negócios. Referências AGREEMENT on trade-related aspects of intellectual property rights (unamended). World Trade Organization (WTO), c2024. Disponível em: https://www.wto.org/english/ docs_e/legal_e/27-trips_01_e.htm. Acesso em: 13 mar. 2024. AHLERT, I. B.; CAMARA JUNIOR, E. G. Patentes: proteção na lei de propriedade industrial. São Paulo: Atlas, 2019. E-book. ALMEIDA, C. Mauricio de Sousa Produções: sucesso em quadrinhos sustentado pela propriedade intelectual. Wipo Magazine, n. 3, p. 22-28, 2021. BITTAR, E. C. B. Curso de ética geral e profissional. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2023. E-book. BRASIL. Comitê para Gestão da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (CGSIM). Resolução nº 61, de 12 de agosto de 2020. Dispõe sobre as medidas de simplificação e prevê o modelo operacional de registro e legação de empresários e pessoas jurídicas. Brasília: CGSIM, [2021]. Disponível em: https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/drei/cgsim/arquivos/copy_of_Resoluo- 612020alteradapela66.pdf. Acesso em: 13 mar. 2024. BRASIL. Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial. Brasília: Presidência da República, 1996. Disponível em: https:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9279.htm. Acesso em: 13 mar. 2024. BRASIL. Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, [2015]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9610.htm. Acesso em: 13 mar.2024. Aspectos legais da constituição de empresas14 BRASIL. Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Define o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1999. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/l9782.htm. Acesso em: 13 mar. 2024. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília: Presidência da República, [2022]. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/ l10406compilada.htm. Acesso em: 13 mar. 2024. BRASIL. Lei nº 11.598, de 3 de dezembro de 2007. Estabelece diretrizes e procedimentos para a simplificação e integração do processo de registro e legalização de empresários e de pessoas jurídicas, cria a Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios - Redesim... Brasília: Presidência da República, 2007. 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