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Técnico em Radiologia Módulo I Professora Aline Delani Radiobiologia A Radiobiologia é o estudo dos efeitos biológicos da radiação ionizante em seres vivos, especialmente na saúde. A radiação ionizante pode ser prejudicial e até letal, mas também pode ser usada na radioterapia e em imagens médicas. A Radiobiologia é uma disciplina destinada a explicar como a radiação interage com o corpo humano e como essa interação pode ser útil e beneficiar o tecido quando aplicada de forma controlada Esta disciplina é a base para o curso de radiologia pois estará presente em outras disciplinas por meio dos limites estabelecidos a cada órgão, conforme sua sensibilidade. A tolerância da dose das radiações será determinada conforme sua aplicação de acordo com os protocolos dos órgãos reguladores. Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-NC https://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/ Aspectos históricos • A radiação ionizante está presente desde que a Terra foi criada. Antes da década de 1890, existiam apenas fontes naturais de radiação, tais como a radiação de origem cósmica, e material radioativo proveniente do corpo, rochas, solo e ar. Grande parte da exposição à radiação deu-se sob a forma de radiação cósmica ou terrestre de baixo nível. Como a radiação não pode ser observada por meio de qualquer um dos cinco sentidos, os humanos não tinham conhecimento da sua existência. • Só a partir da descoberta dos raios misteriosos ou "raios-X" em 1895 é que as pessoas começaram a tomar consciência da quase mágica presença destes "raios" invisíveis que nos permitem ver dentro do corpo. No Verão de 1894, Wilhelm Röentgen iniciou experiências com tubos de raios catódicos. Catódicos: raios que partem do cátodo numa ampola elétrica onde se fez o vácuo (tubo de Crookes). Estes raios, constituídos por elétrons muito rápidos, provocam a fluorescência de um grande número de corpos impressionam a chapa fotográfica e uma substância ferida por eles emite raios X. https://estraviz.org/cat%C3%B3dico https://www.youtube.com/watch?v=mz5JIVPWVsc Aspectos históricos • No dia 8 de Novembro de 1895, ele observou alguns cristais de paltinocianeto de bário que estavam em cima de uma mesa e que produziam um brilho fluorescente. • Em seguida verificou a presença de um componente desconhecido ("X"), proveniente do tubo de raios catódicos, que penetrava as substâncias sólidas, e que os raios emitidos, os "raios-X", tinham o mesmo efeito que a luz visível sobre uma chapa fotográfica. • O que se seguiu foi à primeira "exposição Röentgen", ou "radiografias", que eram fotografias capazes de mostrar as formas dos objetos de metal dentro de uma caixa de madeira e os ossos das mãos de sua esposa Sra. Bertha Röntgen. Aspectos históricos • Um mês depois, Röentgen enviou um manuscrito sobre a sua extraordinária descoberta à Associação de Física Médica em Wuerzburg, intitulado “Relativamente a um novo tipo de raio: Relatório Preliminar”. Outros periódicos, tais como Nature e Science publicaram o relatório no ano seguinte. Röentgen foi aclamado devido à sua descoberta pelas comunidades científica e leiga, nos anos subsequentes. • Outros rapidamente encontraram aplicações práticas para os raios-X (também chamados de "raios Röentgen"). Em 1896, o primeiro diagnóstico com recurso a raios-X foi feito nos Estados Unidos por E. Frost. No espaço de dois anos foi obtida, a primeira imagem raios-X de um feto in útero, o que foi seguido pela estreia desta radiação em odontologia. Aspectos históricos • Efeitos adversos para a saúde devido à exposição aos raios-X foram rapidamente comunicados. Estes incluíram um relatório por Thomas Edison, em que este afirma que a exposição aos raios-X pode provocar lesão ocular, e um relatório de Daniel, identificando alopecia e eritema três semanas depois de este ter radiografado a cabeça do assistente de Thomas Edison. • Ainda de acordo com Moreira (2011), a descoberta por Röentgen dos raios-X foi seguido pela descoberta por Henri Becquerel da radioatividade, em Novembro de 1896. Becquerel descobriu que as chapas fotográficas que estavam próximas à pechblenda (variedade, provavelmente impura, de uranita. Dela é retirado o urânio) foram expostas, apesar de estarem seladas em envelopes à prova de luz. A exposição que encontrou, foi devido a radiações emitidas a partir da pechblenda. Estudos subsequentes mostraram que havia três tipos diferentes de radiação, a que chamou de radiações α (alfa), β (beta) e γ (gama). Posteriormente, verificou-se que os raios-X de Röentgen e os raios gama de Becquerel são o mesmo tipo de radiação. Henri Becquerel Uma outra descoberta revolucionaria as concepções sobre a natureza da matéria: a radioatividade. Entre os cientistas que se surpreenderam com as descobertas de Röntgen estava o matemático francês Henri Poincaré. Em 20 de janeiro de 1896, ele mostrava a seus colegas da Academia de Ciências da França as fotografias que Röntgen lhe enviara. Um deles, Henri Becquerel, perguntou-lhe de que parte da válvula emergiam os raios, e Poincaré respondeu que estes provavelmente eram emitidos da área da válvula oposta ao cátodo, a área em que o vidro se tornara fluorescente. Becquerel imediatamente procurou uma relação entre raios X e fluorescência, e já no dia seguinte iniciou suas próprias experiências a respeito. Membro de uma família de quatro gerações de físicos de renome, Henri Becquerel tinha interesse pela fosforescência e pela fluorescência, e a descoberta de Röntgen o levou a fazer observações para verificar se substâncias fosforescentes ou fluorescentes emitiam raios X. Os primeiros resultados foram negativos. “Cobri uma chapa fotográfica com duas folhas de papel negro grosso, tão grosso que a chapa não ficou manchada ao ser exposta ao sol um dia inteiro. Coloquei sobre o papel uma camada de substância fosforescente e expus tudo ao sol por várias horas. Quando revelei a chapa fotográfica, percebi a silhueta da substância fosforescente sobre o negativo... A mesma experiência pode ser feita com uma lâmina de vidro fina colocada entre a substância fosforescente e o papel, o que exclui a possibilidade de uma ação química resultante dos vapores que poderiam emanar da substância quando aquecida pelos raios solares. Portanto, podemos concluir dessas experiências que a substância fosforescente em questão emite radiações que penetram no papel opaco à luz...” Era como se os raios X fossem emitidos pelo composto de urânio. Quando a Academia voltou a se reunir, em 2 de março, Becquerel já tinha outros resultados. Como o tempo mudara em Paris e nos dias 26 e 27 de fevereiro houvesse muito pouco sol, ele colocou as chapas fotográficas em um gaveta escura, deixando sobre elas o sal de urânio, envolto em papel. Extraída da mesma fonte antes citada, eis aqui uma parte de seu relatório à Academia: “Como o sol não voltou a aparecer durante vários dias, revelei as chapas fotográficas a 1º de março, na expectativa de encontrar imagens muito deficientes. Ocorreu o oposto: as silhuetas apareceram com grande nitidez. Pensei imediatamente que a ação poderia ocorrer no escuro.” Este é um relato em que o acaso e a perspicácia foram decisivos. Becquerel creditou méritos dessa descoberta a seu pai e a seu avô, que trabalharam com o mesmo assunto. Mas ele, no momento propício, fez uma descoberta muito importante, que não teve a princípio, no entanto, a repercussão do trabalho de Röntgen. Já em 9 de março de 1896, Becquerel descobrira que a radiação emitida pelo urânio não apenas escurecia as chapas fotográficas, mas também ionizava gases, transformando- os em condutores Dois anos depois da descoberta de Becquerel, Pierre e Marie Curie entram em cena nos eventos que modificaram o panorama da ciência na última virada do século. Primeiro, pesquisaram os ‘raios de Becquerel’ em outros elementos além do urânio, descobrindo então o polônio e o rádio, modificando completamente a nova ciência da radioatividade.As descobertas mostraram que, diferente dos raios X, as radiações descobertas por Becquerel eram de origem nuclear. As descobertas de Becquerel — evidenciando que alguns átomos eram instáveis e emitiam diferentes partículas e radiações — exigiram, então, novas propostas de modelos para os átomos, que não mais podiam ser considerados indivisíveis. Aspectos históricos Após estas descobertas, o interesse científico nas propriedades da radiação aumentou dramaticamente. Tório radioativo foi descoberto por Schmidt em 1898. Poucos meses depois, Marie e Pierre Curie isolaram o polônio (Po) a partir de pechblenda. O casal Curie posteriormente isolou o rádio radioativo (226Ra) a partir da pechblenda e explicou a transformação natural de um átomo instável, de um maior número atômico, num de menor número atômico, processo conhecido como transformação ou "decaimento". O casal Curie, em última análise cunhou a palavra "radioatividade." Nos anos seguintes outros cientistas notáveis contribuíram para esta nova área científica: • Villard descobriu os raios gama. • Rutherford descobriu gases radioativos provenientes de tório, e utilizou uma fonte que emitia partículas alfa para desenvolver um novo modelo teórico do átomo. • Planck criou a teoria quântica. • Einstein descobriu a relação massa-energia e o efeito fotoelétrico. • Hess relatou a existência de "Raios cósmicos" (radiação ionizante) em altas altitudes. Aspectos históricos Logo após a descoberta dos raios X e da radioatividade, teve início o uso desenfreado das radiações. Os próprios médicos queriam ver a forma de seu crânio e por curiosidade tiraram suas radiografias e que mais tarde, viram seus cabelos caírem, uma vez que não havia controle do feixe de raios X. Em 1904, Ernest Rutherford disse: "Se alguma vez fosse possível controlar como quiséssemos a taxa de desintegração dos elementos radioativos, uma enorme quantidade de radiação poderia ser obtida a partir de uma pequena quantidade de matéria”. Esta declaração expressou as implicações óbvias para a utilização dos radionuclídeos (urânio, em particular, e plutônio) na geração de grandes quantidades de energia elétrica em reatores nucleares e na produção de armas nucleares, aproximadamente, 40 anos depois. • A utilização da "bomba atômica" (este termo é um tanto equívoco, uma vez que é o núcleo do qual essa energia deriva) daria uma contribuição importante para término da Segunda Guerra Mundial. Aspectos históricos Em Hiroshima, com uma população civil de cerca de 250.000 pessoas, 45.000 morreram no primeiro dia após o bombardeamento nuclear e mais 19.000 morreram durante os quatro meses subsequentes. Em Nagasaki, com uma população residente de cerca de 174.000, um número estimado de 22.000 morreram no primeiro dia e houve 17.000 mortes adicionais durante os quatro meses seguintes. Os efeitos teratogênicos em fetos fortemente expostos foram graves, resultando em deformidades ao nascimento e muitos óbitos fetais ao longo dos nove meses seguintes. A principal fonte de radiação para a população das duas cidades foi proveniente das radiações gama penetrantes. O estudo dos sobreviventes japoneses tem provado ser muito valioso para se perceber melhor os efeitos para a saúde da radiação em baixas doses. Aspectos históricos O desenvolvimento das "bombas atômicas" tem recebido mais atenção do que o uso pacífico da energia atômica e da radiação. O uso da radiação com fins pacíficos também tem evoluído com bastante êxito. Uma aplicação importante tem sido na geração de fontes de energia segura, controlada e de longo prazo para a população civil. Em 20 de Dezembro de 1951, iniciou-se a produção de eletricidade utilizando energia nuclear. Embora os reatores nucleares continuem sendo utilizados como fonte de energia por vários países, a preocupação pública sobre a segurança destes tem-se intensificado devido a acidentes. No entanto, apenas três acidentes envolveram reatores nucleares: Three Mile Island, Chernobyl e Fukushima. O uso médico de máquinas produtoras (reatores e aceleradores) de radiação e radionuclídeos emissores de radiação também foram desenvolvidos, e estes desempenham um papel significativo no diagnóstico e tratamento médico. Quantidades controladas de radiação na forma de raios-X são utilizadas há um século, como auxiliar no diagnóstico e tratamento de doenças. • Hoje se sabe quais os efeitos das altas doses de raio-X para a saúde, bem como de outros tipos de radiação, no entanto, isso nem sempre foi o caso (MOREIRA, 2011): • Em 1947 a lesão eritematosa do couro cabeludo era tratada com 400 rad (4 Gy) de raios-X para provocar alopecia, mais tarde constatou-se que este esquema de tratamento conduzia a um aumento da incidência de tumores de tiroide e câncer no cérebro. • Radium-224 foi utilizado no tratamento da espondilite anquilosante na década de 1940, estes tratamentos mais tarde foram associados a um aumento da incidência de tumores ósseos.