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Lineações Apresentação Alguns autores restringem o conceito lineação somente às estruturas lineares que são penetrativas por toda a massa rochosa, mas em amostras de mão ou em pequenos afloramentos. Alguns não consideram os eixos das dobras como lineação, mesmo eles constituindo elementos lineares e sendo considerados como lineações por muitos autores. Alguns desses autores excluem os eixos das dobras, porque eles combinam propriedades geométricas simultâneas de um plano e uma linha. Consideram o eixo de dobras como lineação somente quando ocorre em um corpo que é homogêneo em relação ao dobramento em uma escala pequena. Esses mesmos autores não tratam como lineação os slickensides, porque ocorrem em superfícies discretas de movimentos descontínuos e não permeiam as rochas nas redondezas, que até podem não ser deformadas. Por outro lado, estruturas maiores, como mullion, rod-structure e seixos alongados, os mesmos autores definem como sendo estruturas lineares. Os eixos de crenulações de uma superfície-S, assim, são considerados lineações, enquanto os eixos das dobras com amplitudes de várias dezenas de metros não o são. Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai aprender a conceituar as lineações, vai compreender os tipos existentes, bem como determinar os seus comportamentos. Bons estudos. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar lineações.• Determinar os tipos de lineações primárias e secundárias.• Descrever o comportamento de lineações.• Desafio Costuma-se distinguir duas grandes categorias gerais de lineação, ou seja, a lineação primária e a lineação secundária. A lineação primária é a que se desenvolve durante a formação de rochas sedimentares e ígneas. Por exemplo, nas rochas sedimentares, as marcas de “sole marking” usadas para determinar o topo e a base de estratos. Em rochas ígneas intrusivas e extrusivas, a lineação primária resulta do paralelismo linear de minerais prismáticos, platiformes, inclusões ou fragmentos de outras rochas que se orientam com seu comprimento maior, seguindo a direção de fluxo do magma antes de sua completa cristalização. Já a lineação secundária é aquela desenvolvida nas rochas após a sua formação durante a ação de processos metamórficos, afetando rochas ígneas, sedimentares e metamórficas preexistentes. Com base no contexto, uma empresa contrata você como consultor para avaliar as possíveis estruturas presentes nos afloramentos de uma antiga pedreira. O objetivo é que, a partir da identificação dessas estruturas, os planos de desmonte possam ser condicionados por elas. Mostre, a partir da imagem obtida de um dos pontos do afloramento, as lineações primárias (S0) e secundárias (S1). Infográfico A lineação é um dos elementos de textura das rochas mais significativo e deve ser incluído em todos os mapas estruturais. Muitas lineações são indicadores de tensão, fundamentalmente paralelos à direção máxima de extensão finita. Uma subdivisão conveniente de lineações pode ser feita nos seguintes grupos: - Lineações indicando a direção do movimento ao longo de uma superfície (por exemplo, estrias laterais cortadas) ou uma zona de movimento (alongamento em zonas de cisalhamento). - Eixos de crenulações paralelas ou dobras em pequena escala e interseção de conjuntos de planos que não têm relação específica com eixos de tensão finita e direções de movimento de massa. Neste Infográfico, veja melhor o conceito de lineações e como elas podem estar presentes nas distintas famílias de rochas. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/7d632edb-38d3-48ba-831b-110d42d705a5/e1f10fd1-b94a-48e7-bcf7-b62c318fb462.jpg Conteúdo do livro O conceito de lineação é um tema polêmico no meio técnico-científico. Alguns autores ainda preferem indicar como estruturas lineares todas as feições causadas por paralelismo dos elementos lineares de uma rocha e considerar lineação como uma categoria de elementos lineares e de estruturas. Existe, por outro lado, uma tendência em empregar o conceito lineação somente às estruturas lineares menores, sendo, assim, uma questão de dimensão. No capítulo Lineações, da obra Geologia Estrutural, veja o conceito de lineação, os tipos de lineação, que podem ser primária ou secundária, bem como a sua origem. Boa leitura. GEOLOGIA ESTRUTURAL Márcio Fernandes Leão Lineações Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir lineações. Descrever o comportamento de lineações. Determinar os tipos de lineações primárias e secundárias. Introdução Foliação é uma estrutura planar, e lineação é uma estrutura linear — ambas são distribuídas de forma homogênea nas rochas. As lineações podem ser superficiais se estiverem presentes em superfícies discretas ou penetrantes se ocorrerem em todo o volume de uma rocha. Exemplos de lineações superficiais incluem moldes de sulcos sedimentares em uma superfície de acamamento e os alinhamentos paralelos de fibras minerais que se desenvolvem ao longo de algumas superfícies de falha. As lineações penetrantes incluem charneiras de pequenas crenulações generalizadas em uma foliação, o alinhamento preferencial de grãos minerais alongados, como anfibólios ou quartzo, e o alinhamento linear de grupos de minerais alongados específicos, como quartzo ou mica. Neste capítulo, você vai estudar sobre o conceito e descrever o com- portamento das lineações, além de determinar lineações primárias e secundárias. 1 O que são lineações? A maioria das lineações e das foliações é de origem secundária, embora algumas delas possam ter características primárias herdadas. S-tectonics e L-tectonics são termos empregados em rochas dominadas por orientação, em especial, planar e linear, respectivamente, de grãos minerais. Em geral, a lineação é considerada uma estrutura distribuída de forma homogênea, ou penetrante, se o espaçamento ou a escala da estrutura em uma rocha for muito pequena em comparação ao tamanho do volume da rocha em consi- deração. Para que uma estrutura seja qualifi cada como foliação ou lineação ela deve ser penetrante em um volume que tenha uma dimensão de dezenas de centímetros; os elementos planos que têm um espaçamento médio em metros não são foliações, mas estruturas como fraturas, falhas ou zonas de cisalhamento. O espaçamento de muitas foliações, por exemplo, em ardósias, é tão pequeno que pode ser observado na amostra de mão. Se uma lineação ocorrer em uma estrutura plana penetrante, como uma foliação, a lineação também será penetrante. Às vezes, são usados termos como “lineação sedimentar”, “lineação ígnea” e “foliação tectônica” para especificar a origem inferida de uma lineação. No entanto, como a origem de uma estrutura é baseada na interpretação, essa é uma forma inadequada para classificar e para definir foliação e lineação em termos estritamente descritivos. A clivagem de rocha, ou simplesmente clivagem, é a tendência que uma rocha tem de quebrar ou de rachar ao longo de superfícies de uma orientação específica. Todas as clivagens são foliações, e os dois termos com frequência são usados para descrever a mesma estrutura. Foliação é um termo mais geral do que clivagem, no entanto, considera a inclusão de elementos geométricos planares que podem não resultar em clivagem. O alinhamento planar de grãos levemente achatados (p. ex., quartzo em um quartzito, olivina em peridotita ou faixas composicionais em um gnaisse) definiria uma foliação, mas poderia fornecer pequena anisotropia mecânica que não resultaria em uma clivagem. Os termos acamamento e bandamento descrevem características tabulares e planares em rochas que são caracterizadas por diferenças na composição, ou possivelmente na textura, das rochas adjacentes. Os termos são comumente usados em descrições de rochasígneas plutônicas e gnáissicas (metamórficas de alto grau). O Quadro 1 mostra uma classificação morfológica de lineações em rochas deformadas. Para alguns autores, o termo “lineação” descreve qualquer ca- racterística linear que ocorre de forma penetrativa em uma rocha e, portanto, exclui características como slickensides, slickenfibers e striations que são restritos a uma única superfície. Lineações2 Fonte: Adaptado de Davis (1984). Lineações em S-tectonics ou tectonitos Estrutural Discreta Seixos, fósseis e manchas de alteração. Marcante Linhas de charneira, interseções de charneiras, boudins, mullions, lineações estruturais em slickenlines. Mineral Policristalina Rods (aglomerados superficiais ou minerais penetrantes), slickenlines de minerais policristalinos, grãos não fibrosos, supercrescimento. Grão mineral Grãos de hábito acicular, grãos alongados, fibras minerais, preenchimento de veios fibrosos de grãos minerais, slickenfibers, grãos hibrosos, supercrescimento. Quadro 1. Classificação morfológica das lineações As primeiras descrições das estruturas lineares categorizaram as linea- ções de acordo com a sua orientação em relação à geometria da dobra, por exemplo, em que as “a-lineações” são perpendiculares e as “b-lineações” são paralelas ao eixo da dobra. Atualmente, quatro tipos principais de lineações são efetivamente distinguidas (DAVIS, 1984): Lineações estruturais — Defi nidas pela orientação preferida de uma estrutura linear contida em uma rocha. Incluem as lineações discretas, produzidas pela deformação de objetos discretos, como oóides, seixos, fósseis e pontos de alteração, e lineações marcantes, formadas a partir de características planares construídas ou deformadas durante as deformações e incluem a interseção de duas foliações, linhas de charneira de crenulação, linhas de boudin, slickenlines estruturais e montantes. Lineações de crenulação — São formadas por linhas de charneira de mi- crodobras e/ou bandamentos de torção no plano de foliação. As lineações de interseção são formadas por dois conjuntos de superfícies que se cruzam. 3Lineações Lineações de alongamento — São defi nidas por prolato agregado de grãos equidimensionais ou levemente alongados que podem ser distinguidos dos elementos de texturas vizinhas; e por prolato de grãos únicos deformados de minerais como quartzo, calcita ou feldspato, que normalmente têm uma forma equidimensional quando mal formados. Objetos deformados, como xenólitos em granitoides ou seixos em um conglomerado, também podem ser esticados, gerando lineações em maior escala se estiverem presentes em um volume de rocha considerável. Lineações minerais — Defi nidas pela orientação preferencial de um grão mineral não deformado único com um hábito alongado ou placar. Exemplos desse tipo são lineações de silimanita, de turmalina ou deactinolita, bem como de grãos de mica que compartilham um eixo comum. Além disso, as rochas que geram texturas lineares podem ser classifi cadas em dois tipos diferentes (S-tectonics e L-tectonics) com base na razão axial de objetos elogiados que constroem uma lineação. Essa nomenclatura utilizada para lineações tem vários problemas, entre eles a ambiguidade ou a associação genérica de termos como “extensão”. Por exemplo, é difícil distinguir o segundo tipo de lineação de estiramento de uma lineação mineral. O problema está com a conotação interpretativa do termo “lineação”, ou seja, se uma camada policristalina em um milonito é desmembrada por faixas de cisalhamento, o resultado pode ser uma "lineação de alongamento" em ângulos estreitos com a orientação do maior eixo axial de deformação finito. Essa lineação não se desenvolveu devido ao alongamento na forma elipsoidal (GHOSH, 1993). Podemos adotar um termo descritivo geral para representar as características lineares de elementos, conforme apresentado na Figura 1, a seguir. Assim, uma lineação de objetos é formada por arranjos paralelos de distintas partes alongadas da rocha com um volume mensurável, já uma lineação de traços é formada pelo traço de linhas charneira ou pela interseção de superfícies. As lineações de elementos (objetos) são divididas da seguinte forma: lineações de agregados: é definida por agregados prolatados de grãos dos mesmos ou de minerais diferentes, nos quais os grãos individuais têm uma razão menor do que a do agregado geral. Esse tipo de lineação também inclui objetos deformados distintos, como seixos e pontos de redução que consistem em um agregado de grãos; Lineações4 lineação de grãos: lineação formada por prolatos de grãos individuais de um mineral, em que os elementos longos dos grãos minerais são orientados de maneira semelhante. Pode ter elementos de alongamentos e lineações minerais e o uso desse termo elimina a ambiguidade men- cionada anteriormente. O termo lineação de alongamento também pode ser usado se a orientação em relação aos eixos de deformação finitos e ao modo de desenvolvimento puder ser estabelecida (KULLBERG, 1995). Figura 1. Exemplo de terminologia que pode ser praticada para definir as lineações. Fonte: Adaptada de Twiss e Moores (1992). O conceito de lineação é muito dependente da escala de observação, pois ela é determinada se a estrutura está presente de maneira penetrativa em uma rocha. Por exemplo, uma lineação de interseção em um micaxisto grosseiro está presente apenas em uma escala que excede a escala de grãos. Os termos descritivos aqui definidos são provavelmente mais úteis no campo, onde nem sempre é possível decidir sobre os mecanismos de desenvolvimento da lineação. Em todos os casos, a natureza de uma lineação deve ser descrita juntamente com a escala de observação. 2 Comportamento das lineações As diversas foliações e lineações descritas se formam de muitas maneiras diferentes e seu signifi cado nem sempre é óbvio. As principais respostas quanto ao comportamento das lineações são os seguintes: 5Lineações achatamento dúctil e alongamento da própria rocha; rotação mecânica; solução e precipitação; recristalização. Em geral, solução e precipitação e recristalização envolvem reação química. A composição da rocha também influencia o tipo de lineação desen- volvida. As lineações estilolíticas, por exemplo, são amplamente restritas a rochas calcárias, embora também se formem em outras rochas, prin- cipalmente em arenitos calcários ou argilosos. De forma característica, um arenito rico em quartzo desenvolve uma lineação disjuntiva áspera a suave, mas nunca uma lineação fina e contínua. Da mesma forma, uma foliação de crenulação, em geral, se forma em rochas que contêm uma alta proporção de minerais placares, embora também possa se desenvolver em rochas finamente laminadas. O primeiro comportamento das lineações está relacionado ao encurta- mento e alongamento dos grãos minerais (Figura 2). Quando um quadrado é achatado de forma homogênea, ele se transforma em um retângulo alon- gado; quando é cisalhado de maneira homogênea, ele se transforma em um paralelogramo (TWISS; MOORES, 1992). Generalizada em três dimensões, uma deformação achatada transforma um cubo em um prisma retangular (Figura 2a), no qual uma dimensão é reduzida e as outras duas aumentadas. Se duas dimensões do cubo forem encurtadas e apenas uma for alongada, a deformação é uma constrição (Figura 2a). O cisalhamento de um cubo paralelo a uma face e a uma aresta produz um romboedro (Figura 2a). Em cada caso, o volume original do cubo pode ser conservado. As faces sombreadas dos blocos mostram a deformação bidimensional no plano que contém as instruções de encurtamento e alongamento máximos. Em vez de usarmos um cubo, é mais conveniente representar o efeito da deformação observando um círculo ou uma esfera, porque todas as linhas em todas as direções começam com o mesmo comprimento. Os lados esquerdos dos blocos na Figura 2a ilustram a relação entre a deformação de um quadrado e de um círculo inscritono quadrado. A Figura 2b mostra a deformação de uma esfera equivalente à deformação mostrada na Figura 2a. O círculo é deformado em uma elipse de deformação e a esfera é deformada em um Lineações6 elipsoide de deformação. Podemos definir a geometria de uma elipse (ou de um elipsoide) pelos comprimentos dos dois (ou três) eixos principais, que são os principais eixos de deformação. Figura 2. Tipos de deformação homogênea: (a) cúbica e (b) elipse. Fonte: Adaptada de Twiss e Moores (1992). Uma rocha é composta por grãos minerais e , em geral, contém fósseis ou outros objetos deformáveis. Esses objetos são inicialmente esféricos, incluindo oóides, radiolários e zonas de alteração, são transformados em elipsoides por uma deformação como um achatamento. Os objetos deformados são alinhados de forma paralela ao plano de achatamento e ao eixo de alongamento máximo, fornecendo o mecanismo mais direto para a formação de uma foliação ou 7Lineações lineação, respectivamente. Uma lineação paralela é chamada de lineação de alongamento (TWISS; MOORES, 1992). Outras características, como grãos minerais equantes, aglomerados de grãos minerais e clastos em um conglomerado, podem não ter uma forma inicialmente esférica ou distribuição aleatória de orientações. Uma deformação do tipo achatamento, no entanto, também altera essas características para produzir foliações e lineações, embora o efeito de uma orientação preferencial inicial nunca possa ser completamente eliminada. Os boudins são desenvolvidos durante a deformação se houver um componente de alongamento paralelo a uma camada competente em uma matriz incompetente. A extensão dúctil da camada competente não pode acompanhar o ritmo da matriz incompetente, e a camada tende a se separar em boudins. À medida que a diferença de competência aumenta de pequena para grande, a forma dessas rochas muda de uma estrutura de pinch and swell, por meio de boudins separados com pescoços pronunciados, para boudins com extremidades afiadas. Se a matriz é competente demais para fluir em torno dos boudins de separação, a região de baixa tensão entre eles se torna um local favorável para a precipitação de um mineral como quartzo ou calcita. Outro mecanismo que influencia no comportamento das lineações é a rotação mecânica (Figura 3). A ocorrência de rotação mecânica de grãos minerais durante a deformação é demonstrada por granadas "bola de neve" e por crescimentos fibrosos curvilíneos. Várias linhas de evidência indi- cam que a rotação de grãos minerais em uma orientação preferencial é um importante mecanismo de formação de foliações e lineações. Por exemplo, grãos de mica originalmente detríticos, que, em geral, são paralelos ao acamamento de sedimentos não deformados, são paralelos a uma foliação tectônica em seus equivalentes deformados. Os grãos de mica em algumas foliações de crenulação são rotacionados ou dobrados em paralelismo com a nova foliação. A deformação experimental de rochas que contêm micas orientadas de forma aleatória produziu uma orientação preferida sob condições para as quais a rotação é o único mecanismo possível de reorientação. Essa rotação pode ocorrer de três maneiras, as quais: giro de um grão mineral como uma partícula rígida cercada por uma matriz dúctil (Figura 3a); ação de um grão como um marcador estritamente passivo na rocha deformada (Figura 3b); Lineações8 cisalhamento em planos de deslizamento cristalográficos e giro de modo que sua deformação seja compatível com a da matriz circundante (Figura 3c). Figura 3. Mecanismos de rotação dos minerais pela deformação. Fonte: Adaptada de Twiss e Moores (1992). Durante o achatamento homogêneo (Figura 2a), qualquer um dos três mecanismos de rotação resulta na rotação de partículas planas ou alongadas, como placas de mica ou agulhas de anfibólio, em direção ao paralelismo com o plano de achatamento para produzir uma foliação. Durante a constrição homogênea (Figura 3a), grãos placares ou alongados giram em direção ao paralelismo com a direção de extensão para produzir uma lineação. Grãos paralelos a qualquer um dos planos principais não giram, e aqueles inicialmente subparalelos permanecem em ângulos altos para a foliação. Outro mecanismo de formação das lineações é por meio da dissolução, difusão e precipitação (TWISS; MOORES, 1992). A deformação rochosa que produz foliações e lineações depende, em parte, da mobilidade de espécies minerais através da rocha (Figura 4a). Os mecanismos envolvidos incluem a decomposição 9Lineações de minerais por solução e reação química, a migração dos componentes quími- cos através da rocha e a formação de novos grãos minerais por precipitação e recristalização. Muitas foliações espaçadas resultam em parte de tais processos. Foliações estilolíticas, comumente encontradas em pedras calcárias e mármores deformados, são talvez o exemplo mais conhecido. Os domínios irregulares de clivagem do estilolito podem truncar fósseis, o que indica que parte do fóssil foi dissolvida (Figura 4b) e essa solução participou do encurtamento acomodado em todo o estilólito. O material que preenche esses estilólitos (principalmente minerais de argila, óxidos de ferro e matéria car- bonática) é o resíduo insolúvel da solução de calcário e pode incluir também alguns minerais secundários. Figura 4. Crescimento mineral por processos de dissolução, difusão e precipitação. Fonte: Adaptada de Twiss e Moores (1992). Em alguns argilitos arenosos deformados que possuem uma foliação disjuntiva grosseira, o truncamento de grãos de areia detríticos contra do- mínios de clivagem (Figura 4c) resulta da solução e não no deslocamento por cisalhamento ao longo da clivagem. Grãos detríticos originalmente equivalentes, como o quartzo, podem ser quase dissolvidos de forma completa em grãos finos e parecidos com placas, paralelos e definindo parcialmente a foliação (Figura 4d). Um resíduo insolúvel de minerais e óxidos de platina forma os domínios de clivagem. Lineações10 O material dissolvido migra através da rocha, provavelmente pela difusão dos limites dos grãos em distâncias curtas ou pelo transporte em um fluido que se movimenta por grandes distâncias. através dos poros ou das fraturas O material dissolvido, em geral, reprecipita no local, possivelmente em micrólitos, que acomodam uma dilatação local (um aumento de volume); como crescimento excessivo de minerais ou de partículas preexistentes na rocha (Figura 4b); como fibras finas em superfícies de cisalhamento (Figura 4a); ou como depósitos fibrosos ou maciços nas veias. Em alguns casos, no entanto, a composição geral da rocha pode ser alterada de forma permanente pela remoção ou intro- dução de um ou mais componentes químicos. Dois fatores principais afetam a dissolução de minerais e qualquer mineral deformado é mais solúvel do que um não deformado, devido à sua maior energia de deformação bloqueada. Um cristal sujeito a uma tensão diferencial tende a se dissolver mais facilmente em superfícies nas quais o componente de tensão normal é o máximo. As foliações de crenulação, em geral, exibem uma faixa de composição associada aos domínios de clivagem e de micrólitos. Os domínios de clivagem tendem a ser enriquecidos em minerais de platina e empobrecidos em quartzo, comparados aos micrólitos e às rochas não crenuladas. Em alguns casos, os micrólitos são enriquecidos em quartzo, sugerindo solução de quartzo na clivagem e domínios e precipitação nesses cristais. O bandamento, por exemplo, pode resultar da solução preferencial de minerais mais altamente deformados nos domínios de clivagem ou da solução sob pressão, em especial se o quartzo se dissolver em uma interface quartzo- -mica. Esse mecanismo poderia, portanto, ser responsável pela migração de quartzo do domínio da clivagem para o micrólito. A recristalização é a criação de novos grãos de cristal a partir dos anti- gos. Durante a deformação, esse processo pode resultar em umaorientação preferida dos grãos minerais. Dois tipos de recristalização são importantes na geologia estrutural: Recristalização coerente: os grãos mais antigos deformados são trans- formados, de maneira progressiva, em novos grãos não deformados, à medida que um limite de grãos migra pela antiga estrutura de cristal ou os grãos mais antigos são subdivididos em muitos novos grãos pela rotação de pequenos domínios internos chamados subgrãos. A estrutura cristalina e a composição dos grãos novos e antigos são as mesmas, embora os novos grãos tenham orientações de rede diferentes das antigas (TWISS; MOORES, 1992). 11Lineações Recristalização reconstrutiva: a antiga estrutura cristalina se quebra, por exemplo, durante uma reação química, e uma nova estrutura se forma, em geral, com uma composição diferente. A distinção entre o processo de solução/precipitação e a recristalização reconstrutiva nem sempre é bem definida. Ambos os tipos de recristalização podem alterar a forma e o arranjo dos grãos. Uma foliação ou uma lineação pode se desenvolver por solução ou reação química, por exemplo, pela destruição seletiva de grãos velhos, que deixam apenas grãos com uma orientação específica, ou pela produção de novos grãos que crescem em uma orientação preferida. A evolução da clivagem de ripas é um exemplo do efeito da recristalização reconstrutiva. Sem algum fator de controle externo, esse tipo de recristaliza- ção, em geral, não produz uma orientação preferida e pode até destruir uma orientação preexistente. A recristalização associada à deformação, no entanto, pode produzir uma orientação preferida ou aprimorar uma já existente, e pelo fato de esses processos serem muito comumente associados, a interação entre eles tem grande influência nos tecidos resultantes. Os slickensides nas falhas (Figura 5), em geral, contêm linhas que são paralelas à direção do deslizamento na superfície da falha e incluem sli- ckenlines estruturais, slickenlines minerais e slickenfibers. As lineações de fibras minerais ocorrem não apenas como fibras finas, mas também como preenchimentos de veias fibrosas e supercrescimentos fibrosos. Figura 5. Slickensides em falhas. Fonte: Studio Karel/Shutterstock.com. Lineações12 Essas lineações são originadas por uma variedade de mecanismos dife- rentes, como os seguintes (TWISS; MOORES, 1992): Slickenlines estruturais — As superfícies de falha nunca são perfeitamente planas, mas contêm pequenas irregularidades ou saliências chamadas rugosi- dades. Se as rugosidades forem particularmente fortes e resistentes à abrasão e à fratura, elas podem arranhar e arrancar a superfície oposta da falha, dando origem a um tipo de slickenline estrutural. O comprimento dessas lineações é um limite inferior para o deslocamento na superfície da falha. Pequenas cristas podem se desenvolver onde o plano de fratura é desviado por trás de uma rugosidade forte e uma ranhura correspondente deve se formar na superfície oposta. Da mesma forma, as lineações de cumeeira na ranhura, ou montantes de falha, se formam se a superfície da falha for irregular e não plana, e se as irregularidades forem lineares e paralelas à direção do escorre- gamento. Nos dois casos, o comprimento da lineação não é necessariamente relacionado à quantidade de deslocamento na falha, porque a crista e a ranhura correspondentes formam parte do processo de propagação da fratura, não são resultado do deslocamento na falha; portanto, eles não podem ser usados para restringir a magnitude do deslocamento. Em algumas superfícies de falha, o deslocamento é acomodado pela solução em que há um componente de encurtamento na falha. O mecanismo é semelhante à produção de estilólitos, a não ser pelo fato de a superfície da solução, denominada superfície slickolita, ser subparalela à direção de deslocamento e não aproximadamente normal, como nos estilólitos. A contraparte da estrutura dentária dos estilólitos é uma espiga na superfície do slickolito. Slickenlines minerais — São defi nidas por faixas no lado slickenside e resultam da mancha de grãos minerais e de rugosidades suaves. Eles também podem se acumular por trás de rugosidades duras e podem se formar em combinação com arranhões e linhas de goiva. Slickenfi bers — As lineações de fi bras minerais ocorrem como fi bras lisas em superfícies de falha, como preenchimentos de veias fi brosas e como supercres- cimento fi broso em grãos ou partículas. A continuidade e a morfologia das fi bras minerais que ocorrem através da superfície da veia ou de cisalhamento implicam que o crescimento das fi bras acompanhou o ritmo do deslocamento gradual e da abertura da fi ssura. Vários outros termos são usados para descrever características planares penetrantes em rochas. O termo superfície S, em geral, é sinônimo de fo- 13Lineações liação (o “S” vem da palavra alemã schiefer, que significa xisto). Refere-se a qualquer característica plana penetrante de uma rocha e, portanto, inclui lineamentos sedimentares, xistosidades e superfícies axiais de dobras, que podem ser simplesmente construções geométricas, em vez de definidas por características físicas reais na rocha. Em geral, o fundamento é designado “S0”, e outros recursos planares penetrantes, como foliações e superfícies axiais, são rotulados como “Sb”, “S2”, etc., em que normalmente os subscritos indicam a sequência na qual os diferentes elementos se desenvolveram. O artigo “Diagrama tangente: útil recurso do programa Ester 2.1 para projeção estereográfica em Geologia”, de Celso Dal Ré Carneiro et al., mostra como podemos identificar as características das lineações por meio de recursos computacionais. 3 Lineações primárias e secundárias Foliações e lineações são primárias se originadas por processos sedimentares ou ígneos primários. Processos sedimentares primários, como transporte e deposição de sedimentos, produzem, por exemplo, marcas lineares, que são a orientação preferencial de clastos sedimentares e acamamentos. Processos ígneos primários, como fl uxo e cristalização, resultam na orientação prefe- rencial de bolhas e fragmentos de pedra-pomes ou em faixas de composição. Foliações e lineações são secundárias se originadas por processos secundários, como deformação tectônica ou metamorfi smo (LEYSHON; LISLE, 1996). Os principais tipos de lineações, do ponto de vista descritivo e geométrico são apresentados a seguir e ilustrados na Figura 6. Eixos de dobras em todas as escalas — Apesar da opinião contrária de muitos geólogos, os eixos das dobras são considerados lineação por numerosos autores (Figura 6a). Interseções de superfícies S, tais como estratifi cação, xistosidade, foliação, planos de deslizamento, etc. e crenulações — A interseção de duas superfícies S produz uma linha, assim, se uma superfície de acamamento (S0) sofre um obramento com desenvolvimento contemporâneo de clivagem plano axial Lineações14 (S1), a interseção será uma estrutura linear. Se fi zermos uma fratura fresca na rocha, de maneira paralela à clivagem, o traço do acamamento no plano de clivagem aparecerá sob a forma de riscos paralelos. Se a fratura for paralela ao plano de acamamento, o traço da clivagem aparecerá como minúsculas fi ssuras naquele plano. De forma análoga, a interseção de acamamento com a xistosidade é uma lineação. As crenulações ou corrugações são dobras mi- núsculas cuja amplitude e comprimento de onda são expressos em milímetros, sendo penetrativas por toda a rocha e originadas pela interseção da clivagem ou xistosidade de transposição com os planos S0 de acamamento (Figura 6b). Uma lineação resultante da interseção da estratificação (S0) e uma clivagem ou xistosidade (S1) plano axial é paralela ao eixo principal das dobras regionais. Isso é válido se for considerado o traço de S1 em S0 ou o traço de S0 em S1. Analogamente, a interseção de S0 com uma clivagem de fratura relacionada ao dobramento é paralela aos eixos de dobramento, o mesmo acontececom a interseção da clivagem de fratura com a clivagem (ou xistosidade) paralela ao plano axial das dobras regionais (MATTAUER, 1973). Paralelismo linear de partículas que compõem as rochas como minerais platiformes, tabulares, prismáticos ou aciculares, em que seixos, oolitos, psolitos e fósseis alongados e subparalelos ocorrem de forma isolada ou agregada — Durante a deformação, a neocristalização dos grãos que compõem a rocha, assim como todas as partículas nela existentes como fragmentos, oolitos, psolitos, fósseis e seixos, são submetidos a esforços, que, dependendo da inten- sidade, podem provocar seu alongamento ou achatamento. Os seixos e os fósseis constituem o melhor exemplo. Minerais platiformes, prismáticos ou aciculares, como micas, feldspatos ou agulhas de hornblenda, podem se dispor, durante a constituição da rocha, com suas dimensões maiores orientadas de preferência segundo linhas paralelas, originando uma das lineações mais comuns das rochas. A trama beltreropórica, é um dos exemplos de importante estrutura linear (Figura 6c). A orientação de lineações originadas por componentes alongados das rochas tem sido objeto de muita análise e controvérsia, em especial porque vários autores defendem a hipótese de que elas sejam, em geral, relacionadas de maneira sistemática às dobras associadas, fato que nem sempre ocorre (PARK, 1973). A lineação conferida por minerais com as formas supracitadas, como agulhas de hornblenda, cristais de feldspato ou palhetas de mica, não resulta na deformação plástica desses elementos, mas de sua cristalização segundo a lineação, em virtude de ser essa a direção mais fácil de crescimento. Isso é válido tanto durante o fluxo de rochas magmáticas (lineação primára) quanto de rochas metamórficas (lineação secundária). 15Lineações Eixo de rotação de minerais girados durante o metamorfi smo — Grãos minerais desenvolvidos e girados durante a cristalização combinada com a deformação proporcionam eixos de rotação de elementos lineares úteis, men- suráveis, mesmo quando as dobras não são visíveis. Quando porfi roblastos, como granadas, estaurolitas, etc., crescem durante a rotação, as superfícies S podem ser arrastadas no movimento originando formas sigmoidais ou espiraladas (Figura 6d). Os minerais podem sofrer rotação segundo diferentes sentidos nos flan- cos opostos de dobras individuais de deslizamento flexural (PASSCHIER; TROUW, 1996). Em algumas situações privilegiadas, quando o fechamento das sobras é bem exposto, o profiroblastos girados revelam o eixo principal e a deformação rotacional de planos S (foliação), que produz corrugamentos diminutos, cujos eixos são paralelos ao eixo principal. Estrias de deslizamento (slickensides), sulcos ou riscos — As estrias de deslizamento (slickensides), sulcos ou riscos, sejam elas de falha ou contidas em superfícies S e dispostas normalmente aos eixos das dobras fl exurais, constituem também um tipo de lineação, apesar de não serem uma propriedade penetrativa da rocha e, por isso, não são consideradas como tal por certos autores. Em geral, pode ocorrer a cristalização de minerais de forma paralela às estrias, tornando-as mais notáveis, constituindo uma estria mineralógica (Figura 6e). A interseção de planos S0 de estratificação com planos de clivagem ou xistosidade pode resultar em diminutas dobras, designadas crenulações ou corrugamentos, cujos eixos podem ser paralelos às dobras regionais, se estas e os planos S1 forem contemporâneos. Isso decorre do fato de as crenulações serem essencialmente microdobras de arrasto originadas em virtude de diminutos deslocamentos dos planos de clivagem plano axial (ou xistosidade) no sentido das charneiras das dobras maiores, por esforços de compressão, e por meio de clivagem (ou xistosidade) de transposição desen- volvida também de forma paralela aos planos axiais das dobras regionais (PRICE; COSGROVE, 1990). Contudo, muitas vezes os estratos podem ser comprimidos de tal maneira que os planos de movimentos, paralelos a S0 ou a S1, não se relacionam com os eixos de dobramentos regionais de orientação preferencial. Por outro lado, certas áreas são tipificadas por sis- temas ou por famílias de crenulações com orientação da lineação particular. Cada um deles pode ter se derivado, seja por fases de deformação distintas Lineações16 ou por sucessão durante uma mesma fase, mas devido ao deslizamento das rochas segundo direções diferentes paralelamente a S0 e a S1. Quando o deslizamento interestratal, processando-se durante a conformação de dobras e normalmente a seus eixos, produz estrias, estas serão dispostas também de forma perpendicular àqueles eixos. Isso também acontecerá com lineações conferidas para minerais crescidos contemporaneamente ao deslizamento de planos interestratais. No caso de estrias de falhas, sua orientação declarará a direção de movimento dos blocos ao longo do plano de falha onde ocorrem (RAMSAY; HUBER, 1983). Linha boudins na estrutura conhecida como boudinage — O termo boudi- nage aplica-se à estrutura desenvolvida durante a deformação, quando uma rocha competente, como uma camada, um dique ou um veio, encaixada em litologias menos competentes, sofre espessamento, adelgaçamento e constri- ções, de modo que, em seção, tem-se uma série de elipses, em geral, ligadas entre si por meio das extremidades de seus eixos maiores, de modo a simular um cordão de salsichas. Cada corpo rochoso de seção elíptica e alongado de maneira longitudinal é designado boudin, e sua associação é a estrutura boudinage (salsicha, em francês). A atenuação contínua da rocha em processo de boudinamento pode terminar por romper boudins individuais e separá-los. Em rochas submetidas a elevado grau de metamorfi smo, a linha de boudin, ou a cicatriz de separação ou o espaço criado com a separação dos boudins, pode ser ocupada por quartzo, feldspato e calcita, dependendo das rochas envolvidas na deformação. Acredita-se que tais minerais formam-se a partir de segregação das rochas envolventes, acumulando-se naqueles locais que são caracterizados por baixa tensão. Por vezes, pode ocorrer a substituição dos boudins pelos minerais introduzidos. Além da confi guração supracitada da boudinage, são descritas várias outras formas que ocorrem em litologias diversas, como em quartzitos intercalados com ardósias, fi litos ou xistos, em dolomitos e itabiritos, em cherts interestratifi cados com calcários, em gabros foliados, e em gnaisses bandeados e migmatitos (Figura 6f). Segundo vários autores, a boudinage forma-se a partir de um processo de distenção (ou estiramento) paralelo ao acamamento em rochas competentes intercaladas com incompetentes, mas orientada, de forma perpendicular, às linhas de boudins. Em regiões dobradas, a boudinage pode derivar da distenção de uma camada competente nos flancos de uma dobra disposta das seguintes formas: 17Lineações perpendicular aos eixos de dobramento com linhas de boudins paralelas aos eixos; paralelo aos eixos de dobramentos com as linhas de boudins orientando- -se normalmente aos eixos; normal à direção de tensão, com desenvolvimento de sistemas de boudins perpendiculares entre si, isto é, as linhas de boudins em um sistema serão orientadas em paralelo e, em outro sistema, per- pendicularmente aos eixos das dobras regionais originadas naquele campo de tensão. Estrutura colunar (mullion structure) e estruturas em barras (rod structure) — As estruturas colunares (mullion structures) são colunas paralelas ou subparalelas resultantes da subdivisão ou da conformação de uma camada durante deformação e metamorfi smo (Figura 6g). As colunas podem ter sua superfície suave e cantos arredondados ou serem um pouco angulosas. As seções, perpendiculares ao seu comprimento maior, podem ser grosseiramente circulares, elípticas ou poligonais. Podem se desenvolver em numerosas rochas, como quartzitos, xistos, ardósias, gnaisses granu- litos, migmatitos, etc. Asdimensões das colunas são muito variáveis, vão desde 1 cm a dezenas de centímetros e a dimensão longitudinal varia de alguns centímetros a vários metros. Podem ser mencionadas as seguintes estruturas colunares: Colunas de dobramento ( fold mullions): são formadas por superfícies S cilíndricas correspondentes a planos de estratificação S0 primitivos ou de foliação preexistentes. Com frequência, as colunas são compostas de linhas de charneiras destacadas e estranguladas de dobras parasíticas (closure), em que um dos lados é delimitado por uma superfície S, que é, em geral, a laminação de estratificação, e o outro por uma superfície estriada que corta as superfícies S internas. Colunas de estratificação (bedding mullions): são similares às an- teriores e consistem em ondulações do plano S0 de estratificação, que se mostra alisado, polido ou estriado e, formam-se em regiões de dobramento menos intenso. As ondulações variam de estruturas pinch and swell em uma única camada até flexuras suaves ou corru- gamentos amplos. Lineações18 Colunas de clivagem de xistosidade ou de foliação (cleavage mullions): são longos prismas rochosos com seções transversais mais ou menos poligonais ou arredondadas, formados pela interseção de planos S, como, por exemplo, de duas xistosidades, de estratificação e de foliação, etc. Tais planos delimitantes são, em geral, suaves ou levemente arqueados, mas dobramentos posteriores podem modificar as arestas de interseção, de modo a tornar as colunas mais arredondadas, podendo ser causado também pelo intemperismo. Colunas irregulares (irregular mullions): são longos corpos cilíndricos de seção transversal muito irregular em virtude da “nervação”, estria- mento ou sulcos na superfície externa, semelhantes aos existentes em telhas (folhas) de zinco corrugadas. As colunas prismáticas se justapõem de forma semelhante a peças de um mosaico. As estruturas colunares, bem como as barras de quartzo, em geral, orientam- -se de forma paralela aos eixos principais das dobras cilíndricas regionais e de maneira perpendicular à direção de transporte tectônico, desde que sejam originados contemporaneamente com estas. Em áreas de dobramentos complexos e repetidos, a orientação das colunas pode ser controlada pela distribuição local das tensões. Em geral, as relações entre a forma externa e as superfícies S são inexis- tentes, obscuras ou pobres, a primeira trunca em regra esta última. A estrutura interna desse tipo irregular revela extremo contorcimento das lâminas de estratificação. Barras de quartzo (quartz rods) — Corresponde a um termo descritivo, não genético, aplicado a corpos legados cilíndricos de quartzo, desenvolvidos em charneiras de dobras, em geral, comprimidas. Embora o mineral mais comum dessas dobras seja o quartzo, a calcita poderá aparecer em barras desenvolvidas em rochas carbonáticas deformadas. Existe muita confusão entre essa estrutura e a colunar, mas as duas são bem distintas. As barras são essencialmente monominerálicas e distinguem-se das colunas por serem compostas por material diferente das rochas que as encaixam. As barras originam-se por meio de segregação do mineral que as constitui, a partir das rochas encaixantes para as charneiras das dobras, durante o dobramento, cisalhamento e metamorfi smo (Figura 6h). 19Lineações (Continua) Lineações20 As lineações têm grande importância prática, como a clivagem e a xisto- sidade, por se relacionarem de forma geométrica com as estruturas regionais, permitindo, por meio de seu conhecimento, resolver numerosos problemas Figura 6. Exemplo de terminologia que pode ser praticada para definir as lineações. Fonte: Adaptada de Rubilar (1999); (e) deLoon/Shutterstock.com; (h) Zelenskaya/Shutterstock.com. (Continuação) 21Lineações estruturais. As relações são válidas quando as lineações e os dobramentos, por exemplo, são contemporâneos e originam-se a partir dos mesmos campos de tensões. No caso de tectonizações superpostas, é necessário restaurar cada estrutura linear (e também as superfícies S) à sua posição primitiva, anterior à deformação que a afeta, a fim de identificar as diferentes fases de dobramentos. As estruturas menores mapeadas no campo se prestam a um papel importante na elucidação de problemas de grandes estruturas regionais e oferecem valiosos elementos para a elaboração de sínteses tectônicas. As aplicações práticas da lienação são inúmeras. A lineação primária fornece excelentes dados sobre o modo de posicionamento de corpos magmáticos plutônicos e a forma desses corpos, além disso, permite a obtenção de informações sobre a estrutura de rochas efusivas e a direção de fluxo de lavas. A lineação secundária desenvolvida em metassedimentos dobrados, por exemplo, pode ter uma relação geométrica com as dobras, de maneira análoga às mantidas pela clivagem ardosiana e pela xistosidade. DAVIS, G. H. Structural geology of rocks and regions. New York: Wiley, 1984. GHOSH, S. K. Structural geology. Oxford: Pergamon, 1993. KULLBERG, M. C. Geologia estrutural: apontamentos. Lisboa: Universidade de Lisboa, 1995. LEYSHON, P. R.; LISLE, R. J. Stereographic projection techniques in structural geology. Oxford: Butterworth/Heinemann, 1996. MATTAUER, M. Les déformations des matériaux de l'écorce Terrestre. Paris: Hermann, 1973. PARK, R. G. Foundations of structural geology. 3rd ed. Glasgow: Chapman & Hall, 1973. PASSCHIER, C. W.; TROUW, R. A. J. Micro tectonics. New York: Springer, 1996. PRICE, N. J.; COSGROVE, J, W. Analysis of geological structures. Cambridge: Cambridge University Press, 1990. RAMSAY, J. G.; HUBER, M. I. The techniques of modern structural geology. New York: Academic, 1983. 2 v. RUBILAR, N. H. Geología estructural. Santiago (Chile): Ril Editores, 1999. TWISS, R. J.; MOORES, E. M. Structural geology. New York: Freeman, 1992. Lineações22 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. Leituras recomendadas CARNEIRO, C. R. et al. Diagrama tangente: útil recurso do programa Ester 2.1 para pro- jeção estereográfica em Geologia. Terrae Didatica, v. 14, n. 1, p. 15–26, 2008. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/td/article/view/8652044/17731. Acesso em: 7 jun. 2020. WILSON, G. Introduction to small-scale geological structures. Boston: Allen & Unwin, 1982. 23Lineações Dica do professor As estruturas planares, como clivagem, xistosidade, foliação, bem como as estruturas lineares que podem ser associadas fornecem importantes dados sobre a evolução tectônica de uma dada região. Além disso, tais estruturas mantêm-se, via de regra, com a mesma orientação (trend) por vastas áreas e relacionam-se ao campo de stress e ao panorama de movimento que governou durante a evolução tectônica de uma região. Nesta Dica do Professor, saiba um pouco mais sobre a origem e o comportamento das lineações. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/cee29914fad5b594d8f5918df1e801fd/04bcee4141aec1681f7c5308c4435757 Exercícios 1) Slickensides são superfícies de rocha naturalmente polidas pelo movimento de falhas provenientes do atrito, sendo consideradas lineações. Em relação aos slickensides, pode-se afirmar que: A) eles geralmente exibem estrias, que são estruturas lineares devido ao deslizamento por atrito nas superfícies de falha. B) eles possibilitam a identificação de um vetor, ou seja, permitem identificar a direção do movimento. C) as estrias oriundas do movimento das falhas são restritas a essas superfícies, não sendo uma texturapenetrante. D) esse tipo de estrutura é restrito a movimentos de falhas, não sendo observadas em dobras, por exemplo. E) esse tipo de estrutura é restrito a movimentos de dobras, não sendo observadas em falhas, por exemplo. 2) Crenulações são estruturas tipicamente observadas em rochas xistosas, onde é possível observar nos planos de xistosidade esse tipo de feição. Em relação à crenução, pode-se afirmar que: A) as crenulações minerais, típicas de xistos, são estruturas primárias penetrativas, em que é possível obter o sentido da deformação. B) as crenulações são feições onduladas de pequena escala, produzindo uma matriz linear com rugosidade espaçada e regular. C) esse tipo de lineação é um bom indicativo de deformações sobrepostas, como observado em granitos. D) esse tipo de lineação é um bom indicativo de deformações sobrepostas, como observado em calcários. Carlos Henrique Realce Carlos Henrique Realce E) duas ou mais famílias de lineações de crenulação não podem se cruzar, não havendo variações de padrão. 3) O conceito de lineação é utilizado para descrever qualquer alinhamento repetido, geralmente penetrante e paralelo a elementos lineares dentro de uma rocha. Medidas de deformação finita em rochas contendo marcadores de deformação, como fósseis, oólitos ou vesículas, mostram que a lineação mineral, se desenvolvida na foliação, geralmente coincide com o eixo de alongamento máximo X do elipsóide de deformação finita, sendo uma maneira de definir essas estruturas. Com base no contexto apresentado, podemos afirmar que: A) as lineações e foliações, por serem estruturas não correlacionáveis, permitem avaliação das deformações adicionais. B) as texturas planar e linear são estruturas de aspectos distintos, embora componham uma geometria tridimensional. C) as lineações e foliações, por serem estruturas correlacionáveis, não permitem avaliação das deformações adicionais. D) As lineações são geneticamente relacionadas aos planos de foliação em que ocorrem. E) as lineações são definidas basicamente nos planos onde os minerais são remodelados. Vários mecanismos são utilizados para explicar o desenvolvimento de lineações. Como na formação de foliações, elas incluem crescimento preferencial, rotação passiva e ativa e deformação de grãos. Com base no contexto apresentado, analise as seguintes sentenças: I – Uma lineação mineral também pode ser devido à rotação em direção a uma atitude definida durante a deformação. A rotação pode ser acompanhada pela desintegração de grãos grandes e agregados de grãos. II – Lineações definidas pela orientação linear paralela de grãos e fibras minerais alongadas são atribuídas ao crescimento orientado (elas mostram anisotropia de crescimento) em resposta ao estresse desviador local. III – Os núcleos alongados formados pela segregação do quartzo, por exemplo, estão frequentemente relacionados a uma rotação direcional. Essa situação pode reproduzir uma lineação pré-existente. IV – A deformação dúctil e a solução sob pressão podem ser responsáveis pelo alongamento dimensional. Essa situação geralmente contribui para o desenvolvimento de orientação 4) Carlos Henrique Realce preferencial cristalográfica. Quais sentenças estão corretas? A) Apenas as sentenças I e III estão corretas. B) Apenas as sentenças I e IV estão corretas. C) Apenas as sentenças II e III estão corretas. D) Apenas as sentenças I, II e IV estão corretas. E) Apenas as sentenças II, III e IV estão corretas. 5) Uma compreensão da origem dos vários tipos de lineações pode fornecer algumas dicas sobre o histórico de esforços e movimentos de uma área. Durante muito tempo, as lineações foram usadas mais ou menos indiscriminadamente como indicadores de direção do transporte tectônico. Com base no contexto apresentado, analise as seguintes sentenças: I – Estruturas lineares podem ser utilizadas para determinar a orientação do eixo da dobra ou a direção do movimento independente de suas relações geométricas com as dobras, tendo em vista a sua penetratividade. II – Muitas lineações são indicadores de tensão, fundamentalmente paralelas à direção máxima de extensão finita. III – Lineações indicando a direção do movimento ao longo de uma superfície ou zona de movimento podem ser uma forma de definir um grupo de lineações. IV - Eixos de crenulações paralelas ou dobras em pequena escala e interseção de conjuntos de planos que não têm relação específica com eixos de tensão finita podem ser uma forma de definir um grupo de lineações. Quais sentenças estão corretas? A) Apenas as sentenças I e III estão corretas. B) Apenas as sentenças I e IV estão corretas. C) Apenas as sentenças II e III estão corretas. D) Apenas as sentenças I, II e IV estão corretas. E) Apenas as sentenças II, III e IV estão corretas. Carlos Henrique Realce Carlos Henrique Realce Na prática A palavra lineação é usada para definir qualquer tipo de estrutura linear no interior ou na superfície de uma rocha. A estrutura linear é conferida estatisticamente pelo paralelismo de elementos planares ou lineares existentes em uma rocha, ou seja, a trama rochosa. Atualmente, é preferível que a caracterização das lineações seja em função de seu significado genético, sendo usado em possíveis elementos puramente descritivos, objetivos, geométricos e de sentido quantitativo. Veja, Na Prática, como identificar as lineações em afloramentos e obter as suas "coordenadas" geológicas, ou seja, a atitude da lineação. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://statics-marketplace.plataforma.grupoa.education/sagah/4dcf0338-5791-4f4a-a54e-571745141334/fc0a7c8f-67ed-4d6e-b87d-500b53397232.jpg Saiba + Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Medição de parâmetros de rocha com a bússola Neste vídeo, veja, na prática, como podemos utilizar esse importante instrumento de trabalho de geólogos para a identificação das estruturas geológicas, entre elas as lineações, em campo. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. Caracterização estrutural dos veios de auríferos da região de Cuiabá (MT) Veja, neste artigo, como o entendimento e a identificação das características das lineações podem ser idealmente aplicados para a busca por depósitos minerais e de importância econômica. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. A ZONA DE CISALHAMENTO TAUÁ, CEARÁ: SENTIDO E ESTIMATIVA DO DESLOCAMENTO, EVOLUÇ Neste artigo, o autor utiliza o conhecimento acerca das lineações para verificar a gênese de magmas, lembrando que a gênese dos magmas é um indicativo sobre a história geológica da região. Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar. https://www.youtube.com/embed/4hH7OhhgJN8 https://www.yumpu.com/pt/document/read/7108434/caracterizacao-estrutural-dos-veios-de-quartzo-auriferos-da http://bjg.siteoficial.ws/1991/n.2/7.pdf