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FARIA e ATTIE Contradições Limitações e possibilidades

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Contradições, Limitações e Possibilidades de Sobrevivência das Organizações Solidárias de
Produção diante da Economia de Mercado: Relacionando Experiências
Professor Dr. José Henrique de Faria i - UFPR - jhfaria@pesquisador.cnpq.br
Janaina Pimenta Attieii - UFPR - Janaina_attie@yahoo.com.br
RESUMO
Pretende-se apresentar neste trabalho o tema das Organizações Solidárias de Produção e
da Autogestão, enquanto alternativas ao modo de produção dominante, sob uma perspectiva
crítica, explicitando as contradições inerentes ao encontro de duas lógicas diversas: a da
solidariedade, da autonomia e da cooperação e, ao mesmo tempo, a do poder do capital, da
heteronomia e da competição. O que se pretende é delinear as linhas de pensamento mais
proeminentes no debate teórico atual em torno da questão sem, no entanto, ter a pretensão de
cobrir ou esgotar todas as produções sobre esse tema. Será também apresentado o caso do kibbutz
Hatzerim com intuito de extrair contribuições deste modelo, ao mesmo tempo verificando
possíveis aplicações às Organizações Solidárias de Produção no Brasil. Com base nas concepções
aqui reunidas, pretende-se abrir espaço para discussões e análises como forma de contribuir para
uma reflexão teórica crítica sobre esse fenômeno contemporâneo que vem ganhando cada vez
mais espaço na realidade de muitos trabalhadores no Brasil e em outras partes do mundo.
Introdução
Desde o século XIX até os dias atuais, o modo de produção dominante, o capitalismo,
baseado na economia de mercado, caracterizou-se por sua habilidade em desenvolver a
capacidade produtiva fundada, principalmente, na crença de auto-regulação, tendo a competição
como a melhor forma de relação entre os atores sociais. Entretanto, sua evolução tem sido
acompanhada por uma progressiva concentração de renda e riquezas resultando em crescentes
desigualdades sócio-econômicas. Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD), no período entre 1950 a 2000 o produto mundial foi multiplicado por
nove, tendo esse mesmo produto regredido em 80 países. A mesma engrenagem que gerou
crescimento econômico também criou abismos de desigualdade, miséria e exclusão social.
O paradoxo está em que ao mesmo tempo em que hoje aparece, mais do que nunca,
reunidas as condições técnicas para cumprir as promessas da modernidade ocidental, como a
promessa da liberdade, da igualdade, da solidariedade e da paz, também é cada vez mais evidente
que tais promessas nunca estiveram tão longe de serem cumpridas. Nesse sentido, a globalização
neoliberal vem se mostrando como um novo regime de acumulação do capital que visa, ao
mesmo tempo, dessocializar o capital, libertando-o dos vínculos sociais e políticos que no
passado garantiram alguma distribuição social e submeter a sociedade à lei do valor, no
pressuposto de que toda atividade social é mais bem organizada quando organizada sob a forma
de mercado (SOUZA SANTOS, 2002).
No Brasil, políticas públicas recessivas ligadas à estabilização e ao ajuste
macroeconômico neoconservador somadas à inovação tecnológica intensiva e à reestruturação da
produção e da distribuição dos bens e serviços estão na raiz do crescimento do desemprego o qual
já não é mais visto como um fenômeno meramente relacionado com os ciclos de
desenvolvimento do capitalismo. Ele pressiona os trabalhadores a buscar uma redefinição do
trabalho, enquanto as organizações de trabalhadores são obrigadas a repensar seu papel em um
mundo para o qual já não são adequadas (ARRUDA, 1996). Vive-se um período em que as
2
formas clássicas de resistência dos trabalhadores, pela via dos afrontamentos de classe, pela
reclusão em modos de vida tradicionais e por tentativas de buscar soluções individualizadas,
mostraram-se cada vez mais impotentes. Ao mesmo tempo, observa-se o ressurgimento de
alternativa que foi acionada pelos trabalhadores desde os primórdios de sua luta contra a
submissão ao capital e que a rigor jamais arrefeceu de todo, embora tenha conhecido duras
derrotas e desvirtuamentos, além de períodos de perda de força e de estagnação (GAIGER, 2004).
Trata-se dos empreendimentos que têm sido chamados de Economia Solidária, os quais, a
princípio, visam colocar em benefício dos trabalhadores a capacidade de trabalho que possuem,
em lugar de aliená-la como instrumento de sua própria submissão, assim instaurando as bases de
uma economia do trabalho que subverte a lógica de produção de mercadorias e converte a
economia, de imperativo absoluto, em meio de realização de necessidades, de fruição e de bem-
estar.
Mas, se por economia se entende a ciência que trata dos fenômenos relativos à produção,
distribuição e consumo de bens e por solidária se entende a forma de relação de responsabilidade
entre grupos ou classes sociais unidas por interesses comuns, de maneira que cada elemento deste
grupo (ou classe) se sinta na obrigação moral de apoiar o(s) outro(s) grupos (ou classes), pode-se
deduzir, em princípio, que economia solidária seria aquela que trataria da produção, distribuição
e consumo de bens e serviços a partir de uma relação de responsabilidade e de interesses comuns
entre grupos ou classes, de forma que cada elemento destes grupos ou classes se sentisse
moralmente obrigado a apoiar outros grupos e classes nestas funções.
Tratam-se de organizações pautadas sob os princípios autogestionários e que podem
constituir-se sob diversas formas. Entretanto, para os fins deste estudo, pretende-se analisar um
tipo em específico: as Organizações Solidárias de Produção (OSPs) que são definidas por Faria
(2006) como
“Organizações com características autogestionárias, sob o comando dos produtores
diretos, os quais têm responsabilidades ou interesses recíprocos no processo de produção e
se solidarizam a partir de um vínculo social comum ou recíproco. Dito de outro modo,
trata-se de uma forma de organização, pelos produtores, da produção das condições
materiais de sua existência, a partir de relações de responsabilidade entre trabalhadores
unidos por vínculos sociais e interesses comuns, de maneira que cada sujeito do grupo
social se sinta comprometido, tanto ética e moralmente quanto em sua práxis política, com
os demais sujeitos da organização. As Organizações Solidárias de Produção supõem uma
gestão democrática tanto na esfera decisória quanto na da propriedade dos meios de
produção (FARIA, 2006).
Este conceito apresenta apenas uma aparente proximidade com aquilo que se
convencionou chamar de Economia Solidária. A aparente semelhança entre os conceitos de
Economia Solidária (SINGER, 2000) e de Empreendimentos de Economia Solidária – EESs
(GAIGER et alii, 1999) e de Organizações Solidárias de Produção encobre, na verdade, um
importante aspecto que os diferencia de maneira abrupta. Trata-se de uma discussão entre modo
de produção (Economia Solidária – ES), tipo de organização (Empreendimento de Economia
Solidária – EES) e forma de produção (Organização Solidária de Produção - OSP), isto é, entre a
totalidade da economia, as firmas (espécies microeconômicas) e as unidades produtivas
específicas (FARIA, 2006). A instauração plena de um modo de produção exige engendrar
previamente um novo modo material de produção, que lhe seja próprio e adequado, pois isso é o
que lhe faculta dominar o conjunto do processo de produção social e subverter as instituições
que, contra as suas necessidades de desenvolvimento, ainda sustentam a ordem social. A
alteração profunda do modo de apropriação da natureza é, ao mesmo tempo, requisito e vetor de
toda nova formação social (Godelier, 1981).
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Considerando a impossibilidade – pelo menos até o momento – de tais organizações
constituírem de fato uma “outra economia” atrelada a um novo modo de produção que não o
capitalista, torna-se mais coerente – para os fins deste estudo - a utilização do conceito
OrganizaçãoSolidária de Produção.
Diante disto, pretende-se apresentar neste trabalho o tema das Organizações Solidárias de
Produção e Autogestão enquanto alternativas ao modo de produção dominante, para em seguida
apresentar, sob uma perspectiva crítica, as contradições inerentes ao encontro de duas lógicas tão
diversas: a da solidariedade, da autonomia e da cooperação e, ao mesmo tempo, a do poder do
capital, da heteronomia e da competição. A revisão bibliográfica que se apresenta a seguir
pretende delinear as linhas de pensamento mais proeminentes no debate teórico atual em torno da
questão sem, no entanto, ter a pretensão de cobrir ou esgotar todas as produções sobre esse tema.
Em seguida será apresentado o caso do kibbutz Hatzerim com intuito de extrair contribuições
deste modelo, ao mesmo tempo verificando possíveis aplicações às Organizações Solidárias de
Produção no Brasil. Com base nas concepções aqui reunidas, pretende-se abrir espaço para
discussões e análises como forma de contribuir para uma reflexão teórica crítica sobre esse
fenômeno contemporâneo que vem ganhando cada vez mais espaço na realidade de muitos
trabalhadores no Brasil e em outras partes do mundo.
1. Organizações Solidárias de Produção: reações e propostas face à crise do mercado
de trabalho
Diante de um quadro de incertezas e intensas transformações, de elevados índices de
desemprego e da incapacidade dos setores público e privado em gerar postos de trabalho estáveis
e regulamentados, muitos trabalhadores têm buscado soluções alternativas em forma de
empreendimentos coletivos. Tem-se acompanhado o surgimento de organizações que se
caracterizam pela articulação de trabalhadores em situação de desemprego em grupos
comunitários, associações ou cooperativas na tentativa de gerar renda coletivamente, além de
ampliar o controle sobre o próprio trabalho através de uma gestão pautada em princípios
democráticos e solidários com intuito de fortalecer a autonomia do grupo. Ao conjunto de
experiências desse modelo, convencionou-se chamar Organizações Solidárias de Produção.
O movimento das Organizações Solidárias de Produção não é novo. Pelo contrário, ele
remonta ao século XIX como reação ao empobrecimento generalizado dos artesãos provocado
pela difusão das máquinas e da organização fabril da produção propagada pela Revolução
Industrial. Apesar de grandes autores denominados socialistas utópicos como Proudhon, Fourier e
Owen, terem dado sua devida contribuição ao tema, tal movimento não foi resultado da criação
de ninguém. O movimento surgiu através de uma demanda natural de reação contra a política
econômica geradora de desemprego. Ele foi uma criação dos próprios trabalhadores em luta
contra o sistema pelo qual foram deixados à margem.
Desde as três últimas décadas, o movimento pelas Organizações Solidárias de Produção
tem se articulado de maneira inédita, reflexo do modelo econômico que o gerou. Ele se manifesta
em torno de organizações bastante heterogêneas quanto ao tipo de atividade econômica que
realizam, tais como produção, distribuição, consumo e prestação de serviços diversos. Os
empreendimentos de Economia Organizações Solidárias de Produção podem ser definidos como
sendo organizações coletivas de trabalhadores voltadas para a geração de trabalho e renda,
regidas, idealmente, por princípios de autogestão, democracia, participação, igualitarismo,
cooperação no trabalho, auto-sustentação, desenvolvimento humano e responsabilidade social.
4
Nesses empreendimentos, o trabalho é o elemento central e a manutenção de cada posto tem
prioridade maior que a lucratividade (EID, GALLO & PIMENTEL, 2001).
Não estamos, portanto, nos referindo a um setor não mercantil e não monetário, como a
economia da dádiva. Também não estamos falando de um setor não lucrativo, como o
terceiro setor. O aspecto central (...) não é a sua não lucratividade, até porque a dimensão
do lucro está presente nas suas expressões mercantis. [...] Dessa forma, é preciso realçar
que uma das originalidades (...) é estar no mercado sem se submeter à busca do lucro
máximo como se evidencia pela prática do preço justo pelos seus empreendimentos
(LISBOA, 2005, p.109).
Segundo Pinho (2004), ao colocar o homem como sujeito e fim da atividade econômica,
as Organizações Solidárias de Produção buscam resgatar a dimensão ética e humana das
atividades produtivas e opor-se a um modelo econômico único para todas as culturas e todas as
sociedades. Nesse sentido, Pinho tece uma crítica à teoria econômica dominante, inspirada por
economistas neoliberais e baseada em uma ética utilitarista, por reduzir o homem a mero
indivíduo guiado pela ambição e interessado apenas em satisfazer suas necessidades imediatas
(homo economicus). França e Laville (2004) acrescentam ainda que as Organizações Solidárias
de Produção dotam as atividades de um sentido de compartilhamento, podendo também permitir
a abertura progressiva de espaços onde se conjugam formas de diversificação do trabalho que
levam em consideração a situação social dos atores implicados.
Utilizando-se de práticas de autogestão, essas organizações possuem natureza singular,
uma vez que modificam o princípio e a finalidade da extração do trabalho excedente.
Caracterizam-se por funcionarem com base na propriedade social dos meios de produção,
vedando a apropriação individual desses meios ou a sua alienação particular. O controle e a
decisão pertencem à coletividade dos trabalhadores, em regime de paridade de direitos e sua
gestão está atrelada à comunidade de trabalho que organiza o processo produtivo, operando as
estratégias econômicas e decidindo sobre o destino do excedente produzido (GAIGER, 1999).
Tal organização
Nega a separação entre trabalho e posse dos meios de produção, que é
reconhecidamente a base do capitalismo. [...] O capital [...] é possuído pelos que
nela trabalham, e apenas por eles. Trabalho e capital estão fundidos porque todos
os que trabalham são proprietários [...] e não há proprietários que não trabalhem
nela (SINGER, 2002, p.84).
Tal mecanismo pressupõe uma reconciliação entre o trabalhador e as forças produtivas
que ele detém e utiliza. Não sendo mais um elemento descartável e não estando mais separado do
produto do seu trabalho, agora sob seu domínio, o trabalhador recupera as condições necessárias
para uma experiência integral de vida laboral e ascende a um novo patamar de satisfação e de
atendimento a aspirações não apenas materiais ou monetárias.
Em torno das Organizações Solidárias de Produção hoje confluem muitas correntes,
tornando-as um vasto e heterogêneo agregado de atividades que, no momento, se expandem, mas
que ainda não consistem um campo articulado. De todo modo, as formulações convergem para
um núcleo comum: a autogestão e a solidariedade como o âmago de todas as propostas.
2. Autogestão: a busca por novas formas de organização do trabalho
Um dos pressupostos básicos para que as Organizações Solidárias de Produção alcancem
seus objetivos sociais de transformação nas relações de trabalho, traduz-se na presença ou não de
um modelo de gestão adequado às características peculiares desses empreendimentos. Originária
da língua francesa, a palavra autogestão é relativamente recente no vocabulário moderno podendo
ser datada da década de 1950 em conseqüência da introdução na Iugoslávia de um sistema de
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Nota
Me parece aqui bem próimo à concepção sobre os negócios da cultura popular trazidos com o PCV.
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organização econômica e estatal assim denominado. Seu correto significado ainda é pouco
conhecido embora tenha conquistado bastante espaço nas três últimas décadas (GUILLERM &
BOURDET, 1976).
Bobbio, Matteucci & Pasquino (1986) definem autogestão como um sistema de
organização das atividades sociais desenvolvidas mediante a cooperação de várias pessoas
(atividadesprodutivas, serviços, atividade administrativa), em que as decisões relativas à gestão
são diretamente tomadas por quantos dela participam, com base na atribuição do poder decisório
às coletividades definidas por cada uma das estruturas específicas de atividade. São, portanto,
identificáveis duas determinações essenciais do conceito de autogestão. A primeira é a superação
da distinção entre quem toma as decisões e quem as executa, no que diz respeito ao destino dos
papéis em cada atividade coletiva organizada com base na divisão do trabalho. A segunda é a
autonomia decisória de cada unidade de atividade, ou seja, a superação da interferência de
vontades alheias às coletividades concretas na definição do processo decisório.
Em sentido mais amplo, Guillerm e Bourdet (1975) consideram que a autogestão constitui
uma forma de organização direta da vida coletiva em todos os níveis, resultante da supressão do
aparelho de direção separado da sociedade (Estado). Complementando a definição, afirmam
ainda que:
[...] a autogestão impõe uma transformação radical, não somente econômica, mas
política, levando em conta que destrói a noção comum de política (como gestão
reservada a uma casta de políticos) para criar um outro sentido da palavra
política: a saber, a manipulação, sem intermediários e em todos os níveis, de
todos os “seus negócios” por todos os homens (GUILLERM & BOURDET,
1975, p.31).
Existe, contudo, uma orientação sociológica bastante difusa que abrange a autogestão
juntamente à co-gestão numa mesma problemática: a da participação operária e da democracia
industrial, baseando-se no fato de que ambos os princípios visam restituir aos trabalhadores o
controle da situação do trabalho. Entretanto, a co-gestão tem por objetivo a simples modificação
do processo decisório das empresas mediante a inclusão de consultas aos associados ou de formas
de co-decisão com seus representantes, podendo até atribuir-lhes um poder autônomo restrito a
alguns aspectos das condições de trabalho (serviços sociais, ambiente, segurança, etc.). Enquanto
isso, a autogestão vai além, visando tornar realidade a socialização do poder gerencial, atribuindo
aos trabalhadores poder em todas as decisões que lhes dizem respeito (BOBBIO, MATTEUCCI
& PASQUINO, 1986).
Aproxima-se mais da autogestão a idéia de associativismo cooperativo, tanto em termos
estruturais, como no tocante à matriz ideológica de seus princípios. Contudo, enquanto o
associativismo cooperativo em seu modelo tradicional “posiciona a alternativa do trabalho
assalariado na redistribuição paritária da propriedade dos meios de produção entre todos os
membros de uma unidade econômica”, a autogestão considera, ao contrário, a necessidade de
redefinição do papel e do poder dos trabalhadores no processo econômico, apontando como
condição de tal processo não já a aquisição generalizada do status de proprietário privado, mas
sim a supressão de tal status e a “conquista igualitária do poder de gestão mediante o direito
indivisível do usufruto dos meios ‘sociais’ de produção” (BOBBIO, MATTEUCCI E
PASQUINO, 1986). A autogestão pode ser definida, portanto, como um modo de gestão que
tem como pressuposto básico as relações de igualdade e a valorização do trabalhador na medida
em que rompe o processo de alienação, expande e estimula a difusão do conhecimento, além de
destruir a estrutura hierarquizada verticalmente de forma que todos se tornem conscientes de sua
responsabilidade para com o sucesso ou insucesso da organização.
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Nota
Interessante aqui refletir sobre proposta política do EStado para a cultura a partir do conceito aqui tratado de co-gestão.
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2.1 A organização autogerida: aspectos organizacionais
A trajetória da autogestão, inserida no contexto atual das Organizações Solidárias de
Produção, soma cerca de 30 anos de presença no ambiente organizacional. Partindo de uma
proposta política abrangente e revolucionária, são encontradas hoje experiências pragmáticas que
objetivam a preservação dos postos de trabalho e, mais do que isto, a melhoria gradual e contínua
da qualidade de vida dos trabalhadores.
Para Gutierrez (1991), a organização autogerida é antes de tudo uma empresa como
qualquer outra, ou seja, uma organização que alia esforço humano e material para produção de
bens e/ou serviços com o objetivo de comercializá-los na comunidade. Ela é um sistema auto-
regulado internamente, com os elementos que dela participam buscando o equilíbrio como forma
de atingir seus objetivos. De acordo com uma visão típica de Guerreiro Ramos (FARIA, 2006), a
idéia de empresa enquanto sistema em equilíbrio é comum no estudo da Administração, de forma
que a diferença está no enfoque, ou seja, enquanto o equilíbrio proposto para a organização
tradicional baseia-se na razão instrumental, o da empresa autogerida deveria, pelo menos
parcialmente, incorporar uma visão substantiva.
Quanto a sua dimensão organizacional, as empresas de autogestão diferem das empresas
convencionais em alguns pontos cruciais:
Quadro 01 – Organização Convencional “versus” Organização Autogerida
Organização Convencional Organização Autogerida
Estrutura altamente hierarquizada Supressão/flexibilização hierárquica
Competição entre setores Colaboração/cooperação entre setores
Alienação, absenteísmo Participação direta e efetiva
Decisões centralizadas pela gerência Democratização das decisões
Prioridade: busca de excedentes
econômicos crescentes
Prioridade: preservação e valorização
dos postos de trabalho
Fonte: adaptado de SINGER (2002b)
A estruturação de organizações rigidamente hierarquizadas como apregoado pelos
princípios fundamentais do taylorismo-fordismo, bem como pelo modelo tecnoburocrático
descrito por Max Weber (1971) pode ser comumente encontrada no universo industrial bem
como nas atividades desenvolvidas pelo setor de serviços. Segundo Guillerm & Bourdet (1975),
tais práticas apresentam como resultado direto o desinteresse pelo trabalho, alienação,
absenteísmo e instabilidade e, como conseqüência, comprovadas quedas de rendimento uma vez
que acarretam a separação entre a concepção e a execução das atividades.
Ao propor a supressão da estrutura hierárquica de suas organizações, a autogestão
preconiza o desenvolvimento de habilidades criativas nos trabalhadores além de habilitá-los a
tomar suas próprias decisões eliminando, assim, estruturas piramidais impostas de cima para
baixo. Entretanto, tal objetivo não implica a instalação do caos. Pelo contrário, ela diz respeito
muito mais a uma rede de relações baseada no desejo de cada um fazer da organização um
produto da discussão, das decisões e do controle do conjunto de seus membros (NAKANO,
1997). A eliminação da rigidez hierárquica torna a administração mais enxuta uma vez que
confere ao trabalhador poder de decisão sobre as atividades da organização e, ao mesmo tempo,
torna os trabalhadores capacitados a expressar autodisciplina e cooperação voluntária permitindo
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Nota
Fiquei aqui pensando omo ser uma organização de mercado e não focar nos clientes. Já que o que se diz aqui é que o foco estaria nos trabalhadores.
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que a organização autogerida saia do campo da retórica para se tornar realidade (NAKANO,
2003).
Pedrini (2003) analisa um exemplo de empresa autogerida que vem atuando há 14 anos no
mercado e desde seu início implantou um sistema de rotatividade funcional, tendo como
principais objetivos: superação da hierarquia entre trabalho intelectual e braçal, alcance do
conhecimento global do processoprodutivo, quebra da rotina, conhecimento de todo o processo
produtivo e organizacional, realização e/ou necessidades pessoais, prevenção de problemas de
saúde e doenças de trabalho (LER, DORT, stress, etc.). O modelo de polivalência funcional desta
empresa foi criado pelos próprios sócios, que foram experimentando as melhores formas de se
organizar. Estruturas hierárquicas flexíveis que possibilitam a existência de um sistema como
esse pressupõe a existência de cooperação entre todos os membros da organização de forma que
esta se torne a mais integrada possível.
O surgimento da cooperação é datado de 1890 quando William King empregou-o como
antônimo de concorrência. Alguns autores atribuem o uso desse vocábulo no sentido econômico a
Robert Owen que o teria utilizado como sinônimo de comunismo. Atualmente, define-se o termo
cooperação como um processo social no qual as pessoas colaboram entre si com a finalidade de
alcançar um objetivo comum. Nas empresas convencionais (heterogestão) a própria forma como
se dá a divisão de trabalho, ou seja, hierarquizada, acarreta, em muitas ocasiões, a existência de
competição exagerada e rivalidade entre setores prejudicando a organização em sua totalidade.
Cultivar a cooperação em detrimento à competição se tornou tarefa árdua em tempos de
mundialização de mercados (SINGER 2002b). O termo “competitivo” invadiu o imaginário como
elemento indissociável do sucesso organizacional sendo que, dependendo da forma como é
operacionalizado, pode vir a apresentar resultados muitas vezes contrários ao esperado.
A Corporação Cooperativa Mondragón constitui um dos exemplos mais bem sucedidos de
cooperação no ambiente organizacional. Localizada no País Basco (Espanha) abrange cerca de
200 cooperativas e mais de 80 mil cooperados, sendo considerada o maior complexo cooperativo
do mundo. Combina cooperativas de produção industrial e de serviços com um banco
cooperativo, uma cooperativa de seguro social, uma universidade e diversas cooperativas
dedicadas à realização de pesquisa tecnológica. Entretanto, o que há de mais notável em
Mondragón, segundo Singer (2002b), é a coerente aplicação de todos os princípios do
cooperativismo a todas estas sociedades: elas empregam assalariados apenas em caráter
excepcional e, apesar de enfrentarem algumas dificuldades, praticam os princípios
autogestionários em uma medida que dificilmente se pode encontrar em grandes organizaçõesiii.
Outro eixo central na condução do processo de implantação da autogestão é a valorização
da participação dos membros em todas as esferas da empresa. A participação nas organizações
autogeridas requer um envolvimento total com o trabalho tanto no sentido técnico da execução de
uma tarefa, como na gestão da organização, em oposição à crítica de uma formação autoritária e
burocrática inculcada pelo meio social em sentido amplo: familiar, escolar, profissional, político,
etc. (EID, GALLO & PIMENTEL, 2001). As decisões relativas à organização são tomadas pelo
conjunto de seus membros por meio de reuniões e assembléias. Quando o número de membros
torna isso inviável, recorre-se à constituição de comitês representativos nos quais alguns
membros são eleitos democraticamente pelos demais com intuito de conceder-lhes autorização
para a tomada de decisões simples, que demandem ação imediata (decisões programadas).
Entretanto, participar também significa ter mais trabalho, tanto no que diz respeito ao
cotidiano da produção, quanto nas questões de políticas e estratégias administrativas da
organização. Este é um ponto decisivo uma vez que a administração tradicional, baseada no
taylorismo-fordismo e, em alguns casos no neotaylorismo-fordismo (FARIA, 2004), ocupou-se
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ao longo de vários anos em consolidar um modelo de cultura organizacional em que a
participação das pessoas se restringia ao mero cumprimento de ordens ou a alguns aspectos
limitados da dinâmica operacional da empresa. A descentralização das decisões em oposição à
centralização pela cúpula permite a democratização das idéias e opiniões do grupo. Nesse
sentido, Grzybonski (2001) afirma que a democracia é uma grande invenção humana que deve
ser vista como um adendo ao desenvolvimento econômico. No que diz respeito às organizações
autogestionárias, a democracia é fundamental, pois o elemento primeiro é a participação.
Pretende-se ressaltar, como pressuposto da organização autogerida, a primazia dos
indivíduos e do trabalho sobre o capital na distribuição dos lucros, ou seja, é preciso notar que a
contribuição da autogestão não se reduz à criação de empregos, mas sim postos de trabalho mais
estáveis, relações participativas, criativas, eficientes e eficazes, além de estratégias de
desenvolvimento. Em geral, a primeira conseqüência da crise é o desemprego, mas a segunda é a
precarização do emprego que sobrevive (trabalho instável, mal remunerado, condições
previdenciárias deficientes, etc.) “o que faz do auto-emprego coletivo uma opção atrativa, com
uma taxa de precarização significativamente menor” (GUTIERREZ, 1998, p.71).
3. Organizações Solidárias de Produção e sociedade de mercado
A literatura existente sobre Organizações Solidárias de Produção é marcada pela seguinte
polêmica: alguns vislumbram nelas uma alternativa para a geração de emprego e renda no
capitalismo; outros consideram tal proposta como inviável e utópica o que faz com que o tema
constitua alvo de críticas contundentes. Mesmo entre seus proponentes não há unicidade de
discurso. Da parte de seus opositores, são lançadas críticas chamando a atenção para a natureza
contraditória das propostas no campo das Organizações Solidárias de Produção. Sem dúvida, a
maior de todas as contradições existentes reside na seguinte questão: como uma organização
deste tipo pode sobreviver ao ambiente altamente competitivo imposto pela economia de
mercado sem deixar de lado seus princípios norteadores?
São vários os pontos a serem analisados. Para sobreviver em uma economia de mercado
as Organizações Solidárias de Produção devem buscar formas de se manter competitivas? O
grande desafio dessas iniciativas se coloca em termos de seu funcionamento democrático (que se
encontra intimamente ligado ao grau de autonomia da experiência), em face dos riscos de
instrumentalização institucional. Diante das injunções do Estado e do mercado, o
desenvolvimento das Organizações Solidárias de Produção as coloca permanentemente em
confronto com a realidade. Há uma tendência que o modelo de referência do modo associativo
seja o mesmo que o do funcionamento de uma empresa privada ou de um serviço público. Dito
de outro modo, uma tendência à profissionalização da gestão das associações, em termos
tecnoburocráticos, acompanhando certo nível de crescimento, implicando a submissão da
dimensão de projeto associativo (autônomo e espontâneo) aos imperativos funcionais (uma lógica
instrumental), fundada em um modo formal de gestão na busca de resultados passíveis de
quantificação (FRANÇA e LAVILLE, 2004).
Robert Castel (1998) identifica modos de “quase-assistência ou de quase voluntariado”
nessas iniciativas. Por isso, segundo ele, muito poucas realizações dessa natureza são inovadoras
e portadoras de futuro. Sua opinião é a de que, efetivamente, podem existir experiências que
tentem mobilizar recursos monetários e não-monetários, articular a esfera pública e a privada, os
investimentos pessoais e as regulações gerais. Contudo, são pouco visíveis socialmente e não
ultrapassam o estágio da experimentação. Salerno (2000) apresenta o mesmo ponto de vista, uma
vez que não vê as cooperativas e as organizações autogestionárias como uma saída para a
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economia, apenas as reconhece como uma saída eventual para as pessoas envolvidas. Há um
questionamento em função do risco da falta de sustentação dessas unidades econômicas (LIMA,
2001).
A idéia de Organizações Solidárias de Produçãonão faz sentido, uma vez que se trata de
tentar reunir elementos que se repelem e se opõem. No mundo da economia capitalista não há
lugar para a solidariedade, uma vez que os espaços de solidariedade são regidos por outros fins,
outros valores, outras práticas. As Organizações Solidárias de Produção não constituem um
modelo alternativo de organização social, pois qualquer projeto amplo e abrangente de
solidariedade social é inseparável da crítica econômica. Sob o capitalismo há uma
impossibilidade de se construir um projeto de solidariedade social, uma alternativa à organização
da produção e suas leis, nos marcos da economia. “Quando assumidas por pessoas bem
intencionadas, a idéia de gerar alternativas locais ao capitalismo global, ou de organizar, em
âmbito local, cooperativas que dariam origem a uma economia solidária não passa de
ingenuidade” (LIMA, 2001).
As manifestações de autogestão são tidas por vários autores como utópicas e de difícil
sustentação; para eles, as unidades econômicas autogeridas, por serem guiadas por uma “outra
lógica”, são incapazes de participar da dinâmica do mercado em condições de igualdade com as
organizações típicas do sistema capitalista. Mesmo porque ao submeterem-se às regras do
mercado capitalista buscando a inserção de seus partícipes no sistema de produção/consumo
vigente, os elementos anticapitalistas (ou “solidários”) diluem-se na competição típica das
unidades de produção que precisam disputar mercados para a realização de seus produtos. O
resultado é o retorno da reificação do trabalho e do fetichismo da mercadoria. Em outras palavras,
a solidariedade está confinada às paredes da organização solidária. Mais ainda, dadas as
condições atuais de concentração e centralização do capital, as iniciativas autogeridas estariam
condenadas ao gueto das áreas de ação que o capital oligopolista não tenha atingido ainda; as
condições de concorrência entre organizações solidárias e empresas tradicionais estaria
condicionada pela capacidade nitidamente superior das empresas capitalistas em reproduzirem de
forma ampliada o capital, em virtude justamente do processo de exploração da mais-valia, afora
suas condições privilegiadas de disputa que são oriundas dos mecanismos de formação de
monopólios (CRUZ, 2005).
Segundo esta perspectiva, portanto, a autogestão não faria mais que reeditar as ilusões do
socialismo utópico do século XIX, denunciadas por Marx em “A Miséria da Filosofia”. Em
outras palavras, a autogestão, ao invés de produzir organização e luta política, tenderia a esvaziar
seu potencial transformador na luta quotidiana da disputa de mercado, uma vez que suas formas e
estruturas se encontram em flagrante contradição com a lógica capitalista da apropriação
individual do trabalho e do produto do trabalho, o que significa colocá-la em contradição com as
relações de mercado capitalistas. As Organizações Solidárias de Produção nascem das relações de
mercado e se confrontam com elas. Elas se encontram imersas em um mercado dominado pelas
relações sociais que elas rechaçam, ainda que em boa parte das vezes este rechaço resulte de
experiências práticas (empíricas) e não de escolhas políticas e ideológicas. É forçoso admitir que
as possibilidades de viabilidade e de sobrevivência dessas iniciativas no mercado é estreita
devido à capacidade reduzida de reprodução ampliada do capital. A concorrência entre iniciativas
solidárias e empresas tradicionais é muito difícil e com oligopólios é impensável. Tal
consideração nos sugere que o “lugar” das Organizações Solidárias de Produção é o nicho ainda
não explorado pelo grande capital e que exige ainda uma grande proporção de trabalho humano
com poucas exigências de qualificação técnica, como, aliás, tem sido até agora.
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Em meio a tais constatações, tem-se ainda outra grande dificuldade resultante da
complexidade crescente da moderna divisão do trabalho, na qual grande parte das atividades
especializadas é predeterminada, fazendo com que dificilmente se possam suprimir
completamente as relações heterônomas no seio do processo econômico. Atualmente, o trabalho
profissional envolve saberes especializados e se insere em uma cultura cada vez mais técnica e
numa complexa divisão macrossocial de tarefas. Isso engendra sempre um traço de alienação, que
não se pode eliminar, inscrito de forma irreversível nas forças produtivas, pois a alienação do
trabalho não se reduz à sua condição de mercadoria, nem seria revogada se esta pudesse ser
abolida. Sempre permanecerá uma dimensão de heteronomia, inclusive nas atividades produtivas
autônomas, pois estarão predeterminadas por um sistema, não podendo ser livremente
estabelecidas, pois não há possibilidade de escolha, de rechaçar sua função produtiva e optar por
se liberar do trabalho. André Gorz caracteriza isso como autonomia na heteronomia.
As experiências de cooperação entre produtores e/ou consumidores que se proclamam
alternativas, quando não pautam a mudança do estilo de vida e a ruptura com o produtivismo na
sua agenda, acabam por ficar prisioneiras do ethos capitalista. Ainda que necessários, os valores
da autonomia, cooperação, democracia ou mesmo do consumo solidário não são suficientes para
quebrar o espírito capitalista e subordinar, assim, o mercado às finalidades supremas da
sociedade. É o desafio ético de construir novos estilos de vida, de assumir a prática do consumo
solidário incorporando o valor da austeridade, de buscar uma oikonomia que articule eficiência
com suficiência (LISBOA, 2005). O resultado disso é a seguinte contradição: como se sustentar
em um ambiente de mercado cada vez mais competitivo relegando a segundo plano a questão da
produtividade?
Buscando contribuir de alguma forma para responder a este impasse será apresentada no
tópico a seguir a experiência dos kibbutzim israelenses uma vez que se tratam de comunidades
que conseguiram seguir os princípios norteadores da autogestão e das Organizações Solidárias de
Produção em sua dinâmica interna ao mesmo tempo em que conseguiram manter relações
competitivas com a economia de mercado capitalista.
4. Os kibbutzim israelenses: a utopia possível
Em uma época em que o capitalismo parece triunfar e as alternativas a ele parecem
conduzir ao caos, o movimento dos kibbutzim em Israel significa um esforço viável de
implementação de uma sociedade em que o processo de trabalho não seja regido pela dominação
capitalista mediante a subordinação e exploração do trabalhador. Pelo contrário, os kibbutzim são
sociedades democráticas baseadas na propriedade comum e na responsabilidade coletiva. De fato,
não constituem nem “uma organização nem uma coletividade, mas um organismo com uma
existência correlacional em que “eu” e “nós” são conceitos indivisíveis” (BARZEL apud
WARHURST, 1998).
O primeiro kibbutz foi estabelecido em 1910. Seus criadores desejavam prevenir o avanço
do desenvolvimento do capitalismo na Palestina criando e mantendo uma economia e uma
sociedade livre de classes sociais. Hoje existem cerca de 270 kibbutzim em Israel com uma
população total de 123.900 membros (WARHURST, 1998). Eles variam muito em tamanho indo
desde menos de 100 membros até mais de 1000.
Quanto aos membros, também existe grande diversidade. Alguns são religiosos enquanto
outros são seculares, alguns são ateus, outros agnósticos, alguns são marxistas, outros liberais e
outros social-democratas. Os kibbutzim são povoados por imigrantes e nativos da região: pessoas
de origem européia, americana, asiática e africana. Existem kibbutzim mais prósperos e outros
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nem tanto. Alguns se concentram em atividades agropecuárias, outros em atividades turísticas,
fabricação de produtos e alguns possuem indústrias de alta tecnologia.
Apesar das diferenças existentes todos se apóiam em um princípio comum: “a cadaum de
acordo com suas habilidades, a cada um de acordo com suas necessidades”. Todo kibbutz é
organizado através das decisões tomadas na Reunião Geral da qual podem participar todos os
membros. Ela geralmente ocorre a cada duas semanas ou de acordo com as necessidades do
kibbutz. Nesta reunião ocorre a eleição de um comitê composto por uma secretaria, tesoureiro,
organizador de atividades (work organizer) e administrador rural. Este comitê “governa” por
cerca de dois anos. São eleitos também comitês de planejamento, trabalho, habitação, segurança,
educação, cultura, férias e problemas pessoais (GAVRON, 2000).
Todos os membros recebem do kibbutz moradia, mobília, alimentação, serviços médicos,
atividades culturais e educação para seus filhos. Em troca devem trabalhar para o kibbutz nas
tarefas que forem designadas pelo organizador de atividades (work organizer). Os kibbutzim
possuem refeitório, centro cultural, biblioteca, escritórios e casa para crianças. A maioria deles
também possui quadras esportivas, piscinas e teatros. Cada kibbutz possui direito de usufruto
sobre toda a propriedade da comunidade que, por sua vez, controla coletivamente a produção de
bens apropriando e distribuindo o trabalho e os recursos que são alocados democraticamente.
Os kibbutzim incorporam várias características identificadas por Marx (1946, 1900) e
Marx e Engels (1986) como elementos de uma sociedade comunista como, por exemplo, o
trabalho socializado, a acumulação e distribuição pelo consenso da coletividade, a erradicação
das classes sociais e da desigualdade. As relações entre as diferentes formas de produção se dão
através de trocas, sendo a produção industrial o principal meio desta troca (WARHURST, 1998,
p. 479). Trata-se, de fato, de uma sociedade em miniatura, além de um modo de produção
totalmente distinto dos demais, uma vez que consegue coexistir com o modo capitalista de
produção no qual está “imerso”.
Com intuito de compreender melhor o funcionamento de um kibbutz e, a partir disso
verificar as contribuições que este “modo de produção” pode fornecer às experiências de
Economia Solidária no Brasil, selecionou-se um exemplo que se destacou por seu tempo de
existência, quantidade de membros e prosperidade econômica.
4.1 O kibbutz Hatzerim: provando que a utopia pode funcionar
O kibbutz Hatzerim fica situado no deserto de Negev e possui uma economia forte e
avançada. Desde a década de 1980, os kibbutzim vêm sofrendo crises econômicas decorrentes do
avanço do capitalismo na região de Israel e, em conseqüência disto, muitos deixaram seus
princípios de lado buscando sobreviver em um mercado cada vez mais competitivo Entretanto,
Hatzerim optou pela conservação de seus princípios básicos e, mesmo assim, tem conseguido
manter sua economia em permanente ascensão.
Atualmente Hatzerim possui cerca de 850 membros os quais recebem do kibbutz casas
espaçosas e modernas, computadores, telefones celulares, cartões de crédito e automóvel para uso
particular. Podem viajar para o exterior uma vez por ano e seus filhos têm educação paga até o
nível de pós-graduação (não importa onde eles estudem). Por outro lado, os membros não são
proprietários de nada; ganham o mesmo se forem executivos, engenheiros ou lixeiros; e todos
eles – não importa a profissão ou cargo – devem trabalhar uma vez por semana na linha de
produção da fábricaiv.
Hatzerim foi criado em 1946, em uma região onde o solo possui altos índices de
salinidade, dificultando a prática da agricultura (atividade ainda predominante na maior parte dos
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kibbutzim), fazendo-se necessário o desenvolvimento de formas alternativas de irrigação que
possibilitassem que o solo se tornasse apropriado para o plantio. Com o passar do tempo, os
sistemas de irrigação foram sendo aperfeiçoados até que se chegasse a um modelo revolucionário
e inédito no mundo baseado em sistemas de gotejamento. Em 1965, com intuito de aproveitar a
“invenção” para fins comerciais surgiu a idéia de comercializar este novo sistema de irrigação em
larga escala e, com isso, nasceu a Netafim, uma próspera indústria de irrigação com cerca de 30
filiais espalhadas por todo o mundo (inclusive o Brasil) e com faturamento anual de US$ 300
milhões. A fábrica, com seu vasto espaço de produção, possui máquinas computadorizadas,
laboratório de pesquisa e escritórios modernos que podem ser comparados aos de qualquer
indústria de alta tecnologia do mundo. O kibbutz possui ainda uma lucrativa produção de
laticínios, granjas, plantações de grãos e jojoba (que é usada na manufatura de óleo para a
indústria de cosméticos) e um escritório jurídico. Entretanto, a maior parte da renda do kibbutz
provém da fábrica de sistemas de irrigação, a Netafim (NETAFIM, 2005; GAVRON, 2000).
Netafim é um empreendimento de alta tecnologia que tem se expandido e se diversificado
constantemente. Opera em um mercado dinâmico e seu controle de qualidade é bastante eficiente.
Mais de cinco por cento do seu faturamento é investido em pesquisa e desenvolvimento, o que
tem feito a organização se manter competitiva no mercado. Seus agentes locais mantêm contato
contínuo com consumidores formando uma rede internacional de agrônomos, geólogos, peritos
em solo e engenheiros. Entretanto, ao contrário de outros kibbutzim, Hatzerim evita ao máximo
empregar pessoas do entorno, sendo que a Netafim, que é o maior empreendimento de Hatzerim,
atualmente conta com cerca de 20 pessoas contratadas, que é um número muito baixo em relação
a outros kibbutzim e em relação ao número total de trabalhadores da fábrica (GAVRON, 2000).
Atualmente a Netafim pode ser considerado o maior empreendimento de criação,
manufatura e distribuição de sistemas de irrigação do mundo. Em 1999, construiu duas plantas na
Califórnia (EUA) e outra no oeste da Austrália e organizou uma rede de sistemas de vendas e
distribuição global. Sua primeira subsidiária foi estabelecida em 1981 nos Estados Unidos.
Depois disso, muitas outras foram sendo estabelecidas por todo o mundo. O crescimento da
Netafim se tornou especialmente rápido a partir dos anos 1980. Em 1970, a área irrigada por seus
equipamentos era de cerca de 75.000 hectares, em 1980, cerca de 120.000, em 1990 mais de
600.000 hectares e em 1998 cerca de 2.400.000 hectares. De 1991 a 1998, as vendas cresceram
quase cinco vezes em termos nominais indo de US$50.000 para US$240.000 (NETAFIM, 2005).
Apesar de ser um dos mais prósperos kibbutzim conhecidos hoje, existem parasitas em
Hatzerim – como em qualquer outro kibbutz. Entretanto, há poucas pessoas que simplesmente
fazem o seu trabalho sem nenhum esforço ou disposição especial, pois a grande maioria dos
membros do kibbutz está disposta a se empenhar ao máximo em seu trabalho. A ética é muito
valorizada em Hatzerim e isso – entre outras qualidades já mencionadas do kibbutz – tem atraído
pessoas altamente qualificadas profissionalmente (GAVRON, 2000).
Entre os fatores que propiciaram a sobrevivência e o sucesso de Hatzerim em meio à
economia de mercado pode-se ressaltar o fato de seus membros terem mantido os princípios da
vida coletiva mesmo que o kibbutz tenha se tornado um empreendimento rico e bem sucedido,
terem sabido vislumbrar uma oportunidade em um momento de dificuldade (sistemas de
irrigação) e terem investido em educação e em tecnologia e pesquisa para a Netafim.
5. Organizações Solidárias de Produção e kibbutzim: relacionando experiências
Nas condições atuais, as Organizações Solidárias de Produção experimentam uma dupla
subsunção à economia capitalista: de um lado, estão sujeitas aos efeitos da lógica de acumulação
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e às regras de intercâmbio impostas ao conjunto dos agentes econômicos, de conteúdo
eminentemente utilitário; de outro, como forma de responder à premissa de produtividade
competitiva, estão compelidas a adotar a base técnica do capitalismo, os processos materiais de
produçãopor ele introduzidos continuamente, configurando-se com isso uma subsunção inversa,
de uma base sobre uma forma, similarmente ao caso da economia camponesa. Essas coerções,
naturalmente, cerceiam a lógica econômica solidária, pois obrigam a conviver com
tensionamentos e a conceder em seus princípios. Se fossem adotados sem restrição os princípios
que regem as Organizações Solidárias de Produção, estas terminariam por descaracterizar o que
há de específico no solidarismo econômico (GAIGER, 2005).
No Brasil, a maioria das Organizações Solidárias de Produção se constitui sobre uma
realidade bastante dura de escassez de recursos tecnológicos, materiais e financeiros, baixa
qualificação profissional dos trabalhadores e ausência de estruturas institucionais capazes de
garantir níveis mínimos de sustentabilidade. Além disso, um problema mais complexo e de difícil
solução permeia esta questão. Vive-se hoje em uma cultura do consumo, na qual ter se tornou
mais importante do que ser, em que “a ambição tem se mostrado mais forte do que o altruísmo e
o individualismo têm vencido a responsabilidade comunitária” (GAVRON, 2000, p.11). Sendo
assim, analisando-se o contexto em que se encontram as Organizações Solidárias de Produção
percebe-se uma infinidade de contradições.
O kibbutz Hatzerim vem demonstrando que Organizações Solidárias de Produção
baseadas na cooperação, participação e solidariedade podem ser possíveis e viáveis. Entretanto,
estas possuem uma particularidade cultural muito importante que são os princípios de vida
comunitária de todo o movimento dos kibbutzim. Mesmo que tais princípios sejam interiorizados
pelos sujeitos da ação que fazem parte das Organizações Solidárias de Produção, isto não é
suficiente, pois os mesmos vivem imersos em uma sociedade amplamente dominada pelo poder
do capital e precisam, a todo tempo, se relacionar com esta sociedade. Os membros de Hatzerim
optaram por manter seus laços de cooperação e solidariedade dentro do kibbutz. Entretanto, a
empresa Netafim é orientada pelos mesmos princípios que regem toda a economia de mercado:
competição, individualismo e dominação. Esta foi a solução encontrada para conservar os valores
da comunidade e ao mesmo tempo sobreviver em meio a sociedade capitalista.
Paralelamente a isto, devido a suas limitações de recursos, as Organizações Solidárias de
Produção no Brasil possuem uma forte tendência a se concentrarem em setores da economia
rejeitados pelo capital justamente por serem considerados pouco lucrativos. São geralmente
empreendimentos que requerem bastante esforço humano e pouca tecnologia como, por exemplo,
as cooperativas de catadores de lixo, de artesanato ou de costura. Tais setores apresentam baixa
rentabilidade fazendo com que as Organizações Solidárias de Produção tenham grande
dificuldade em se desenvolver e se tornar auto-sustentáveis a médio e longo prazo.
De forma similar, este problema também vem sendo enfrentado pelo movimento dos
kibbutzim uma vez que a maioria deles concentra suas atividades econômicas em atividades
agropecuárias que não são suficientes para propiciar-lhes condições razoáveis de sobrevivência e
autonomia. Hatzerim constitui uma das exceções por possuir uma indústria próspera e de alto
nível produtivo e tecnológico. Isto demonstra a importância do investimento em educação e
capacitação dos sujeitos envolvidos.
Esta questão, contudo, se torna bastante complexa à medida que a maioria dos sujeitos
envolvidos nas Organizações Solidárias de Produção está lutando por necessidades básicas como
alimentação e moradia, não sobrando recursos, portanto para investir em sua formação
profissional. Resolver esta questão é um ponto chave para o desenvolvimento dessas iniciativas.
O Governo Federal criou em 2003 a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) que
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tem por objetivo viabilizar e coordenar as atividades de apoio a estes empreendimentos. Além
disso, 18 universidades de todo o país têm desenvolvido projetos atrelados à Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP). Entretanto, isto ainda não é suficiente, seja
porque, em certa medida, tais iniciativas são assistencialistas, seja porque existem há pouco
tempo e não acumularam experiência prática e nem teórica, seja por não atuarem em uma grande
área de abrangência.
De qualquer forma, como alertava Marx, uma sociedade nunca se coloca problemas que
ainda não está apta a resolver. Assim, acredita-se que apesar das inúmeras dificuldades e
contradições apresentadas por este tipo de organização, a vivência de uma experiência coletiva
em um momento de desintegração social conduzida pela crise do emprego e pela dificuldade da
sociedade civil e do Estado em prover as necessidades básicas dos cidadãos, as Organizações
Solidárias de Produção permitem que os trabalhadores reorganizem e resignifiquem suas vidas.
Se o desemprego conduz a uma perda, um mundo que se desintegra, também faz nascer uma
busca ativa que reorganiza a subjetividade, restabelecendo a sua presença do trabalhador no
espaço coletivo. Quando isso acontece, a vivência pode se transformar em experiência e o ser
vitimizado pode sair da passividade individualizante em que foi colocado e passar para a
condição de ser ativo, mesmo com todas as limitações da sua condição pessoal e do meio social
em que vive.
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i Diretor Geral da UNIBRASIL; Professor Titular Sênior dos Cursos de Mestrado e Doutorado em Administração e
Educação da UFPR; Líder do Grupo de Pesquisa Economia Política do Poder e Estudos Organizacionais.
ii Mestranda em Administração pela UFPR.
iii Paul Singer exagera em seu entusiasmo. Em Mondragón há emprego de trabalhadores assalariados e isto
caracteriza este empreendimento como uma empresa capitalista que compra força de trabalho. Também não se
observa tão rigorosamente os princípios cooperativos como sugerido. Trata -se, na verdade, de um grande complexo
organizacional comunitário que atua no mercado capitalista como um empreendimento capitalista e que,
internamente, adota regras de repartição de rendimentos e de gestão comunitárias.
iv O rodízio de trabalho na linha de produção apesar de tornar mais complexo o trabalho do organizador de tarefas,
aumenta o senso de identificação com a fábrica além de possibilitar o aumento da valorização do trabalho realizado
no chão de fábrica e um melhor entendimento acerca de seu funcionamento.

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