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LITERATURA BRASILEIRA II
Aula 10: O panorama contemporâneo – tendências da
prosa de ficção.
Nesta aula, você verificará o panorama das tendências da prosa contemporânea.
Identificará contos e romances representativos deste período.
Fará a leitura de contos de autores representativos deste momento histórico e literário.
Aula 10: O panorama contemporâneo – tendências da prosa de ficção.
LITERATURA BRASILEIRA II
Estudaremos as tendências da prosa contemporânea. 
Vários artistas produziram e ainda produzem suas obras em um período em que a informação é acessível em escala nunca antes imaginada pelo homem. A arte e a literatura são pensadas como mercadorias. A literatura passa a ser vista como objeto de consumo com livre circulação pelo mercado editorial.
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O geógrafo David Harvey pensa a relação do homem com a realidade na contemporaneidade ou na pós-modernidade da seguinte maneira:
“a flexibilidade pós-modernista, por seu turno, é dominada pela ficção, pela fantasia, pelo imaterial (particularmente do dinheiro), pelo capital fictício, pelas imagens, pela efemeridade, pelo acaso e pela flexibilidade em técnicas de produção, mercados de trabalho e nichos de consumo.(...)”
(HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. p. 201)
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Jair Ferreira dos Santos, em seu livro O que é pós-moderno, tenta decifrar o que veio a ser o “fantasma” pós-moderno. 
Ele aponta que este surgiu em 1950, quando ocorreram as mudanças em vários campos: sociedade, ciências, artes, etc. Podendo ser encontrado em nosso dia a dia diante da explosão e saturação das informações. O pós-modernismo é a característica da sociedade pós-industrial com base na informação. Temos como exemplo os Estados Unidos, o Japão e a Europa.
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Hoje em dia, percebemos o alastramento do pós-modernismo na música, no cinema, na literatura, no cotidiano associado à tecnologia.
Podemos perceber a invasão pós-modernista no nosso dia a dia através da saturação de informações, serviços e lazer. Na economia, ele está lado a lado com a sociedade de consumo, “a fábrica, suja, feia, foi o templo moderno; o shopping, feérico em luzes e cores, é o altar pós-moderno”. Nas artes, o pós-modernismo se apresenta satírico, pasticheiro e sem esperança. Se os modernistas complicaram a arte por levá-la muito a sério, os pós-modernistas querem rir de tudo. 
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Não podemos atribuir um significado fechado ao pós-modernismo, caracterizando-o como decadente ou um renascimento cultural, pois, para alguns críticos, ele não tem força intelectual. Entretanto, por outro lado, ele fragiliza os preconceitos, procura destruir os muros que separam a arte vista como culta e superior da arte adjetivada de massa. Ele é pluralista, pois tem como proposta a conivência de vários estilos. Essas contradições fazem parte do pós-modernismo. Nele, está presente a ausência de valores (niilismo), a entrega ao prazer, ao consumo e ao individualismo.
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Os pós-modernistas não acreditam mais em nada. Adotam a filosofia do niilismo – o nada, o vazio, a ausência de valores e sentidos. Dessa maneira, o homem pós-moderno se entrega ao prazer, ao consumo, ao individualismo, ao narcisismo.
Jair Ferreira dos Santos aponta as palavras que são senhas para invocar o fantasma pós-moderno: 
Saturação, 
niilismo, 
hiper-realismo, 
desreferencialização, 
fragmentação, 
dessubstancialização, entre outras.
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Entendemos por hiperrealismo a intensificação do real. O pós-modernismo prefere a imagem ao objeto, a cópia ao original, pois o simulacro fabrica um real mais real.
A Pop Art, abreviatura de Popular Art, foi um movimento artístico que se desenvolveu na década de 1950, na Inglaterra e nos Estados Unidos. Foi na verdade uma reação artística ao movimento do expressionismo abstrato das décadas de 1940 e 1950. Andy Warhol: maior representante da Pop Art. Além de pintor, foi também cineasta. 
 
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Hiper-realismo, também chamado de fotorrealismo ou super-realismo, foi um movimento artístico que surgiu nos Estados Unidos nos anos 1960, em que os artistas procuraram criar imagens altamente realistas, que reproduziram não a natureza ou as coisas diretamente, mas sim as imagens obtidas dessas coisas por meio da fotografia ou outras técnicas. Segundo Jair Ferreira dos Santos, “na pós-modernidade, matéria e espírito se esfumam em imagens, em dígitos num fluxo acelerado”. O sujeito pós-moderno sente-se frágil, sente-se vazio. Para os filósofos, o que ocorre é a desreferencialização do real e a dessubstancialização do sujeito.
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Surgem vários escritores neste cenário pós-moderno. Infelizmente, não teremos tempo para estudar todos eles, por isso, selecionamos os prosadores da ficção contemporânea mais representativos. 
Dalton Trevisan 
Moacyr Scliar 
Rubem Fonseca
Miltom Hatoum
Luiz Ruffato
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Dalton Trevisan é um dos maiores contistas vivos da literatura brasileira segundo a maioria dos críticos do país. Apesar disso, é avesso a entrevistas e exposições em órgãos de comunicação social. Por isso, recebeu a alcunha de “Vampiro de Curitiba”, nome de um de seus livros.
Com base nos habitantes da cidade, criou personagens e ocorrências de significado universal, em que as tramas psicológicas e os costumes são refeitos por meio de uma linguagem breve e popular, dando valor aos incidentes do cotidiano sofrido e angustiante.
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Ele apresenta uma surpreendente capacidade de síntese. Trevisan explora bem os acontecimentos cotidianos através de uma narrativa que remete não apenas ao universo do subemprego – entregadores em domicílio – mas também a um outro universo, menos prosaico, próximo a uma experiência mítica.
 
Dalton Trevisan explora como poucos a perversidade dos desejos humanos, levando os seus leitores a observarem o latente que pulsa nas frases mais cotidianas, por detrás das quais se expõem as vidas anônimas de qualquer cidade. 
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O ciclista
“Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se perturba – levanta vôo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte com o trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio. É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.[...] Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim. [...]”
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Uma Vela para Dario
Dario vinha apressado, guarda-chuva no braço esquerdo e, assim que dobrou a esquina, diminuiu o passo até parar, encostando-se à parede de uma casa. Por ela escorregando, sentou-se na calçada, ainda úmida de chuva,
e descansou na pedra o cachimbo.
Dois ou três passantes rodearam-no e indagaram se não se sentia bem. Dario abriu a boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta. O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia sofrer de ataque.
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A vocação para a literatura surgiu cedo, para Moacyr Scliar. Os pais, imigrantes judeus-russos moradores no bairro do Bom Fim, em Porto Alegre, eram grandes contadores; a mãe, professora, iniciou-o cedo na leitura. Mais tarde, estudante de Medicina, publicou vários contos. Sua primeira obra de importância apareceu em 1968; era O Carnaval dos Animais, um livro de contos que alcançou grande repercussão crítica.
Duas influências são importantes na obra de Scliar. Uma é sua condição de filho de imigrantes; a outra é sua formação como médico de saúde pública, porta de entrada para a realidade social brasileira.
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Sua condição de filho de imigrantes aparece em obras como A Guerra no Bom Fim, O Exército de um Homem Só, O Centauro no Jardim, A Estranha Nação de Rafael Mendes, A Majestade do Xingu. A de médico de saúde pública, que teve conhecimento da realidade brasileira com a morte, o sofrimento e a doença, está presente em obras ficcionais, como A Majestade do Xingu, e não-ficcionais, como A Paixão Transformada: História da Medicina na Literatura.
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Sobre Rubem Fonseca, alguns afirmam que por ter trabalhado como advogado, aprendido medicina legal, e comissário de polícia, nos anos 1950, no subúrbio do Rio de Janeiro, venha dessa experiência um vasto catálogo de casos e personagens do submundo do crime. Mas isso, não justifica o fato de o autor conseguir enxergar as tragédias humanas, dando a elas uma densidade única. Isso diz respeito à própria sensibilidade e à exímia arte no manejo das palavras e da imaginação. A escrita agressiva se caracteriza pela utilização de frases curtas, cortes abruptos e diálogos ríspidos, agrupando esses elementos a algumas particularidades voluntariamente abomináveis.
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Rubem Fonseca ficou conhecido, em 1975, através de Alfredo Bosi, como brutalista, por sua literatura repleta de violência gratuita, dando ênfase à banalização da morte e por apresentar o ser humano totalmente desumanizado. 
Fonseca, além de contos, produziu vários romances. Em muitos deles, encontramos um mesmo cenário: cidade violenta e decadente, contaminada pelo crime comum (organizado também) e pela corrupção. Estas narrativas são estruturadas sob a forma de romances policiais, apresentando a figura do detetive e do criminoso e/ou delinquente.
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Em seus contos e romances, utiliza-se de uma maneira de narrar na qual destacam-se personagens que são ao mesmo tempo narradores. Várias das suas histórias (em especial, os romances) são apresentadas sob a estrutura de uma narrativa policial com fortes elementos de oralidade. É pródigo em deixar as coisas para o leitor completar.
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“Não era uma ferramenta como as outras. Era feita de material de qualidade superior e o aprendizado do seu ofício muito mais longo e difícil. Para não falar no uso que dela fazia seu portador. Ele conhecia todas as técnicas do utensílio, era capaz de executar as manobras mais difíceis – in-quartata, a passata sotto – com inigualável habilidade, mas usava-o para escrever a letra P, apenas isso, escrever a letra P no rosto de algumas mulheres.
A mulher estava deitada ao seu lado falando banalidades. Ele olhou à sua volta. As paredes eram pintadas de verde, como certos hospitais. Havia um toca-discos, coberto por uma capa empoeirada de acrílico, ao lado de uma televisão portátil. Uma lata de talco ordinário estava sobre a cama e ele tocou-a com o pé descalço.
Não adiantava imaginar porque fazia aquilo. Era uma perda de tempo especular porque determinadas coisas dão prazer. O P não tinha ressonâncias literárias, nem ele se considerava um psicótico puritano querendo esconjurar a congênita corrupção feminina.”
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Podemos observar, no romance A grande Arte, que o autor descreve o início de um crime praticado por um psicopata sem, de fato, apresentar um motivo real para cometer tamanha atrocidade.
Este fragmento já nos permite verificar como Rubem Fonseca constrói a imagem do ser humano – uma espécie de objeto sem a mínima expressão, vazio, desumanizado. Podemos utilizar uma das palavras senha da pós-modernidade – um ser dessubstancializado.
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Segundo os críticos literários, o tema recorrente nas narrativas de Miltom Hatoum é a dissolução da família. Os personagens, sentindo-se sozinhos em suas próprias casas, vão à procura de suas origens em outros espaços. O autor situa as tramas dos romances na cidade em que nasceu, uma Manaus rodeada pela imensidão da floresta amazônica. Prevalecendo-se da origem libanesa de sua família, o autor reconstrói o mundo dos respectivos imigrantes chegados à cidade no princípio do século.
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Podemos apontar que o que interessa na saga familiar é o desmoronamento de seu próprio universo, que acaba por representar a ruína dos valores tradicionais na era da globalização. O passado só existe como linguagem do presente; é na narrativa da reinvenção do vivido que se localiza a força poética dessas histórias que levam umas às outras.
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Luiz Ruffato, em suas obras, apresenta personagens que se movimentam entre as classes baixa e média da sociedade. São tipos que se envolvem em situações de violência, convivem com a miséria econômica. 
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“O professor amanheceu em Caratinga, vindo num ônibus São Paulo – salvador, que tinha tomado em Leopoldina. Demorara a se decidir, e agora, quando estava prestes a concluir seu intento, titubeava. Seria pecado matar a cobra que tinha se instalado sob a cama? Não seria aquela a Serpente do Paraíso? Aquela cujo veneno o asfixiava pouco a pouco? E se, não tendo coragem para matar a cobra com suas próprias mãos, contrata-se alguém para fazer, seria pecado? Estava ali, num restaurante à beira da Rio-Bahia, um maço de notas no bolso esquerdo do paletó, pronto para entregá-lo aquele que poria fim a seus infortúnios, àquele que daria cabo à caninana. Estaria agindo errado? Quem pode saber? Deus não nos manda mensagens se estamos ou não no caminho justo. É o remorso que os indica. É a culpa que nos suplicia. Quantas noites sem dormir passara, tenteando decifrar sinais que nunca chegavam...”
(RUFFATO, Luiz. O segredo. IN: Os sobreviventes. P. 76)
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Podemos perceber, nas narrativas de Marçal Aquino, uma influência de gêneros: jornalístico, roteirístico e literário. Aquino também apresenta em suas obras temas que tratam de violência. No romance Cabeça a prêmio, dois personagens matadores estão se preparando para praticar um assassinato.
Convém ainda ressaltar que a literatura que vem sendo produzida nos dias de hoje apresenta uma mistura de gêneros: narrativas policiais misturam-se aos romances históricos, textos de caráter documental
ou jornalístico misturam-se a crônicas de humor e a contos fantásticos.
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Embora, nesta aula, não tenha apresentado a vocês o ficcionista Luiz Alfredo Garcia-Roza, sugiro a leitura de seus romances policiais: Vento Sudoeste, O silêncio da chuva, Perseguido, Achados e Perdidos, Berenice Procura, Na multidão, Céu de Origamis, Uma janela em Copacabana, Espinosa sem saída e Fantasma. São excelentes narrativas não só para quem é apaixonado pelo gênero policial, mas para os amantes da literatura.

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