Buscar

História da Literatura Comparada no Brasil

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

LITERATURA COMPARADA
Aula 06: A história da Literatura Comparada no Brasil	
O fato de o Brasil ser uma nação colonial deixou marcas profundas :
A produção literária e o conjunto da produção cultural ocorre em debate com as obras oriundas de outras terras, que vieram a ser lidas por nossos autores, configurando um processo constante de releitura de material importado. 
Daí veio a prática constante de se mirar em exemplos externos para dimensionar a qualidade do que era feito.
Isso trouxe muitos problemas, no que se refere à conquista de uma identidade, uma das preocupações centrais de nossos intelectuais em várias etapas da história cultural do país. 
Por outro lado, eles sempre se mantiveram antenados com o que de melhor se fazia nos grandes centros irradiadores de cultura. 
Pensar sobre a Literatura Brasileira sempre pressupôs pensar a sua relação com outras Literaturas, como a Portuguesa e a Francesa. Como afirma Sandra Nitrini, em seu interessante estudo Literatura Comparada: 
“Independente de seu estatuto institucional, a Literatura Comparada existe no Brasil há muito tempo: desde que se começou a refletir sobre a formação da literatura brasileira e sobre a criação de um projeto de literatura nacional. Em outras palavras, desde que os intelectuais e escritores da antiga colônia de Portugal começaram a tomar consciência da necessidade de se por em busca de sua identidade (Nitrini, 2000:188).”
Ainda mais que, mesmo quando se propunham a partir em busca do que fosse genuinamente nosso, estes autores se deixavam permear pelas influências externas. Afinal, no século XIX, era a Europa quem ditava os modelos de civilização a serem copiados e seguidos pelos demais povos que pretendessem se livrar do atraso. 
Os trabalhos pioneiros
Tobias Barreto – é o primeiro a usar, no país, a expressão “Literatura Comparada”, em ensaio escrito em 1886, mas jamais concluído;
Não é por ideais nacionalistas, mas por influência da obra do crítico Georg Brandes;
Afirmava que a Literatura Comparada só podia existir nas nações cultas, pois somente elas tinham obras capazes de resistir ao confronto severo dos intercâmbios culturais; 
 Não se podia esperar postura muito diferente de um intelectual brasileiro do final do século XIX. 
Os trabalhos pioneiros
Autores do começo do século XX iriam contribuir realmente para uma Literatura Comparada nacional, como por exemplo João Ribeiro, que em Páginas de Estética (1905), é o primeiro a se afastar dessa perspectiva tradicional, eurocêntrica, quando propõe que a literatura comparada se constitua como uma atividade de "crítica histórica", mas principalmente ao conceber a produção cultural nas suas relações entre dois polos: o "culto" (a literatura erudita) e o "espontâneo" (a literatura popular).
Os trabalhos pioneiros
Proposta inovadora em alguns aspectos, pois antecipava concepções que só viriam à tona a partir de meados do século, quando René Wellek (“Escola norte-americana”) daria início ao seu esforço de renovação da Literatura Comparada. 
João Ribeiro foi reconhecido pelos modernistas de 1922 como um importante precursor dos ideais de renovação estética propostos pelo grupo, o que ratifica a sua importância como um ativo homem de letras e um inovador no campo da reflexão estética.
Nas décadas seguintes, pesquisadores de renome como Otto Maria Carpeaux, Eugênio Gomes e Augusto Meyer também participaram do processo de nascimento do comparatismo brasileiro. 
 
Os trabalhos pioneiros
Otto Maria Carpeaux se especializou em procurar, nos textos analisados, afinidades, elementos comuns e convenções, prática que o levava diretamente a assumir uma perspectiva comparativista, não somente em sua História da Literatura Ocidental, como em vários ensaios críticos isolados.
Eugênio Gomes, no ensaio Machado de Assis – influências inglesas, de 1939, buscou identificar tanto os termos de contato, de coincidência com autores ingleses, como também as modificações e adaptações introduzidas pelo autor brasileiro, refutando assim a visão antes difundida por Silvio Romero de que Machado teria se limitado à obras de Swift e Sterne, Gomes dá especial atenção à presença de elementos shakespeareanos em Machado. 
Os trabalhos pioneiro
Augusto Meyer, versátil ensaísta e incansável erudito, demonstrou interesse na pesquisa das fontes, inspirado na obra de Ernst Robert Curtius, Literatura Européia e Idade Média Latina (1948), cuja tradução foi editada pelo Instituto Nacional do Livro, por iniciativa de Meyer.
A Literatura Comparada nas universidades 
Estes primeiros ensaístas dedicaram-se ao tema sem, contudo, transformá-lo numa área de interesse acadêmico, a ponto de motivar sua implantação nas universidades. Mas é preciso reconhecer que nem mesmo os cursos de Letras estavam devidamente sistematizados em nossas instituições de ensino superior, no começo do século XX.
A chegada de nossa disciplina na universidade brasileira ocorreu ainda na década de 1940, quando aparece pela primeira vez a cadeira de Literatura Comparada, ministrada por Tasso Silveira, na Faculdade de Filosofia do Instituto Lafayette (depois Faculdade de Filosofia e Letras do Estado da Guanabara, embrião da atual Universidade do Estado do Rio Janeiro). 
A Literatura Comparada nas universidades 
Ele produz o primeiro manual de Literatura Comparada editado no Brasil, em 1964, reunindo os fundamentos de sua atividade docente, ao mesmo tempo em que deixa transparecer a sua perfeita adesão aos princípios do francês Van Tieghen, expressos na obra de 1931- La Littérature Comparée. 
O manual de Tasso Silveira trazia todas as orientações dos mestres franceses, não trazendo nenhum avanço significativo para a disciplina.
Antonio Cândido, a partir de 1962, solicita e obtém da instituição que sua cátedra, Teoria da Literatura, fosse renomeada, passando ser de Teoria da Literatura e Literatura Comparada. Por meio desta iniciativa, este importante autor já mostra consciência do quanto as duas disciplinas ganhariam se passassem a se alimentar mutuamente. A partir dessa época, passa a desenvolver intensa atividade docente, bem como a orientar muitas teses de mestrado e doutorado, solidificando cada vez mais o prestígio da USP como centro de pesquisa na área dos estudos literários.
A Literatura Comparada nas universidades 
Embora jamais tenha escrito um livro dedicado exclusivamente à Literatura Comparada, Antonio Candido tem produzido um vasto material ensaístico, demonstrando sempre como é importante manter uma visada comparativista em qualquer trabalho de análise literária. Já numa de suas primeiras e mais importantes obras, Formação da Literatura Brasileira – Momentos decisivos, cuja primeira edição é de 1957, o autor demonstra isso com muita clareza. 
Este livro não faz referência direta à Literatura Comparada, mas assume uma postura de comparatista, quando deixa claro ser impossível conhecer profundamente nossa própria Literatura sem considerar seu diálogo com as Literaturas de outras nações. 
A Literatura Comparada nas universidades 
Antonio Cândido utiliza no seu livro um método de trabalho que integra a análise dos fatos estéticos e históricos, com uma capacidade de observação que ultrapassa os limites dos debates havidos entre os seguidores das linhas “francesa” e “norte-americana”.
Ele se aproxima muito mais de uma perspectiva marxista. Aproveitando apenas o método dialético de interpretação da realidade, Cândido não deixa de manter intenso diálogo com várias outras tendências teóricas, o que só contribui para enriquecer ainda mais a sua vasta produção ensaística. 
A Literatura Comparada nas universidades 
No final dos anos 1960 e início dos 1970, começa um processo de expansão nos estudos de Literatura Comparada no Brasil com a introdução dos cursos regulares de pós-graduação, determinando uma produção mais sistemática de trabalhos de pesquisa. Entre eles, alguns se destacam por
se dedicarem a registrar transformações e diferenças no confronto da literatura brasileira com a europeia, mas principalmente por recusarem uma noção tradicional de influência, oriunda do comparatismo francês, vista como débito, filiação, dentro de uma perspectiva etnocêntrica.
A Literatura Comparada nas universidades 
No estudo Byron no Brasil, Traduções, de Onédia Barbosa (1969), a ensaísta demonstra que o byronismo estava mais na imaginação dos tradutores do que no texto original, caracterizando uma verdadeira "aclimatação de Byron" ao Brasil.
Ao destacar a tradução como mecanismo de modificação do texto original, Onédia Barbosa toca num ponto que mereceu especial atenção dos ensaístas e poetas Haroldo e Augusto de Campos, para quem a tradução é mais do que a mera transposição de uma mensagem original em outro idioma, vindo a constituir num processo por eles chamado de “transcriação”. 
A Literatura Comparada nas universidades 
A diferença é que os irmãos Campos fazem deste processo um uso consciente, ao passo que os tradutores de Byron, estudados por Onédia não se apercebem de modo tão claro do quanto estão alterando a obra do poeta inglês. 
O fato é que em toda tradução, entram em consideração questões relativas à estrutura do poema, como o ritmo e as combinações sonoras (rimas, assonâncias, etc.). Por isso, não basta traduzir o sentido as palavras: é preciso recriar o texto, restituir sua estrutura original em outro idioma. 
Os anos 80 e a criação da Abralic 
O progressivo desenvolvimento da Literatura Comparada levou a uma irresistível tendência a se implantar a disciplina em universidades de todo o país, criando o clima propício que conduziu à realização do I Seminário Latino-Americano de Literatura Comparada (Porto Alegre, 1986), ocasião em que foi criada a Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC), tendo como sua primeira presidente a Profa. Tania Franco Carvalhal, da UFRGS.
Os anos 80 e a criação da Abralic 
Chamamos atenção para o fato de que tal expansão se liga ao próprio processo de expansão do ensino universitário brasileiro, bem como ao processo de abertura política, em curso na década de 1980, que ajudaram a criar o clima de pluralismo que caracteriza a entidade.
Logo no ano seguinte, foi criado o GT (Grupo de Trabalho) de Literatura Comparada, dentro da ANPOLL – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Letras e Linguística (1987), Com isso, se consolidava a disciplina também como campo de pesquisa em nível de pós-graduação.
Os anos 80 e a criação da Abralic 
A Literatura Comparada no Brasil tem, portanto, o duplo desafio de seguir traçando rumos próprios e, ao mesmo tempo, acompanhar e contribuir para os debates que se realizam no cenário internacional. Ou seja, não se pode fechar numa postura excessivamente nacionalista, nem abrir-se por completo, a ponto de comprometer os aspectos peculiares de nossa trajetória cultural.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais