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Adaptações de Obras Literárias para o Audiovisual

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Aula 10 - A Literatura e as outras Artes na era da cultura digital	
	
LITERATURA COMPARADA
De modo sucinto vamos apresentar, um debate sobre uma das questões mais importantes no que diz respeito à relação entre Literatura e Cultura Audiovisual: as adaptações de textos ficcionais consagrados para outras linguagens, notadamente o cinema, pondo em destaque o debate em torno da fidelidade ao original, a adaptação enquanto experiência intertextual e outros tópicos. 
Tema da Apresentação
LITERATURA COMPARADA
O amplo espectro da cultura digital é uma novidade das últimas décadas, mas também integra o universo mais amplo do que já denominamos de era do audiovisual. Vamos debater aqui como se pensam os problemas da criação literária na época em que vivemos, diante deste novo contexto, como também os rumos que os Estudos Literários, em geral, e a Literatura Comparada, em particular, tem tomado. 
Tema da Apresentação
LITERATURA COMPARADA
Vamos nos ater a três tópicos principais: a adaptação de obras literárias para as linguagens audiovisuais, das quais o cinema é a que dá mais o que falar; 
a questão do hipertexto; 
o debate de como ficam os estudos de Literatura Comparada diante do novo contexto representado pelo conjunto da produção de cultura audiovisual, em particular a era digital.
Tema da Apresentação
LITERATURA COMPARADA
Uma das grandes questões que se pode propor é se ocorre um aproveitamento temático da informática em poemas, contos, novelas e romances. Ou será que existe apenas um aproveitamento da internet como instrumento de divulgação de textos que mantém as mesmas temáticas já consagradas na literatura de outros tempos?
Vimos em nossa aula passada o quanto a cultura audiovisual veio se incorporando e adquirindo um respeito dentro do universo dos estudos literários na segunda metade do século XX. Agora, podemos perceber que parte dos novos recursos que as linguagens digitais nos trazem já estava em uso. Particularmente no que diz respeito à convivência do texto literário com a imagem e o som. Com efeito, a poesia concreta, por exemplo, antecipou possibilidades que hoje a internet potencializou
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LITERATURA COMPARADA
O emprego de imagens associadas aos textos também já havia se generalizado nos livros reais, muito antes do advento da era digital. Contudo, agora este recurso pode ser usado de modo mais intenso, com uma quantidade maior de variáveis. Os livros digitais podem colocar ao dispor dos leitores modos de aumentar ou diminuir o tamanho das imagens, ou mesmo fazer com que as imagens se movimentem e falem... 
Um maior estímulo ao uso de recursos de técnicas de animação associadas ao texto. Mas, uma questão importante se impõe: até que ponto isto tudo não empobrece a relação do leitor com o texto, na medida em que não se estimula mais a imaginação das pessoas, entregando “tudo pronto” em suas mãos?
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LITERATURA COMPARADA - A adaptação de obras literárias para o universo do audiovisual
Um dos aspectos mais importantes no que diz respeito ao diálogo entre a Literatura e as novas Artes que emergem do universo do audiovisual é a questão das adaptações de obras literárias, principalmente de romances, para outras linguagens. Isto pode se dar quando se transpõe uma narrativa ficcional para vários meios, como o rádio, a TV, as histórias em quadrinhos, mas vamos nos ater a um deles – o cinema. 
Tema da Apresentação
LITERATURA COMPARADA - A adaptação de obras literárias para o universo do audiovisual
A preocupação de se entender as relações entre literatura e cinema tem a mesma idade desta nova arte, que data dos últimos anos do século XIX, mas que viria a se desenvolver plenamente no XX. Em suas primeiras tentativas de contar histórias por imagens, no tempo em que ainda era mudo, o cinema foi se abrindo a experiências de expressão estéticas novas, que guardavam relação com outras linguagens, como a do teatro, mas possuíam elementos inteiramente novos. 
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LITERATURA COMPARADA - A adaptação de obras literárias para o universo do audiovisual
O cinema possui uma linguagem própria, na qual os enquadramentos de câmera são a chave fundamental. Um único enquadramento poderia nos dizer muita coisa, como se fosse uma foto, mas o cinema se realiza, na verdade, por meio da sequência de enquadramentos. Este é o fundamento de sua linguagem, que se completa no trabalho de montagem, na edição das cenas. 
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LITERATURA COMPARADA - A adaptação de obras literárias para o universo do audiovisual
Desde muito cedo, logo nas primeiras décadas do século XX, a adaptação de obras literárias para o cinema já ocupava um lugar importante no conjunto da produção cinematográfica. Os resultados tem sido, desde então, muito variados: obras literárias sem grande expressão podem dar origem a filmes muito bem elaborados, assim como excelentes textos literários podem resultar em filmes de qualidade duvidosa. Mas, antes de prosseguir, é importante destacar que um roteiro adaptado de cinema não está obrigado a manter uma relação de estrita fidelidade ao original que o inspirou, ou seja, ao texto literário.
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LITERATURA COMPARADA - A adaptação de obras literárias para o universo do audiovisual
Vários são os motivos que estão por trás desta impossibilidade. Um deles é o tempo. Como os filmes raramente duram mais de duas horas, dificilmente poderiam conter todas as cenas que são narradas em romances. 
Não podemos esquecer que na era da indústria cultural, como já vimos, uma obra audiovisual não pode se dar ao luxo de desinteressar o público. Ainda mais em se tratando do cinema, que exige investimentos bem grandes. Isto, sem dúvida, limita a capacidade de um filme em se tornar uma obra de arte digna de crédito, mas não chega a exterminar esta possibilidade. 
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Outro motivo reside na própria natureza visual de uma obra cinematográfica. Impossível que ela resulte inteiramente fiel ao romance adaptado. Cada arte possui seus aspectos peculiares. O rosto das personagens, por exemplo, fica diretamente associado aos atores e atrizes que atuam no filme, enquanto que numa obra literária cabe ao leitor imaginar a fisionomia dos personagens. 
Por muito tempo prevaleceu a noção, ainda corrente no senso comum, de que uma adaptação teria que ser o mais fiel possível ao texto adaptado. Disso resultava a noção de que o cinema devesse ser subserviente ao texto literário. A superação de tal conceito é necessária. Se o filme consegue captar a essência da mensagem da obra literária adaptada, isso já pode ser considerado como um dado positivo. E o filme pode ser avaliado de modo positivo pela crítica, mesmo se não mantiver uma fidelidade literal ao texto adaptado. 
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LITERATURA COMPARADA - A adaptação de obras literárias para o universo do audiovisual
Toda esta problemática da fidelidade ganha outros contornos se consideramos o problema à luz dos conceitos de dialogismo e intertextualidade, que já estudamos. Assim, o filme que se oferece como adaptação de uma obra literária é outro texto, não mais o original. Mantém com este um diálogo inegável, mas não precisa copiá-lo. Antes, pelo contrário, será melhor que não o faça, abrindo-se como experiência de paráfrase, ao mesmo tempo em que busca se realizar plenamente em sua realidade de obra cinematográfica, e não mais como a mera transposição para as telas de uma narrativa ficcional escrita. 
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LITERATURA COMPARADA - A adaptação de obras literárias para o universo do audiovisual
Na verdade, o trabalho de análise de uma adaptação cinematográfica tem que partir do pressuposto de que o livro e o filme nele baseado são “dois extremos de um processo que comporta alterações de sentido em função do fator tempo, a par de tudo o mais que, em princípio, distingue as
imagens, as trilhas sonoras e as encenações da palavra escrita e do silêncio da leitura” (Xavier, 2003: 61).
Todo o problema da “fidelidade” está ligado ao mesmo processo que levava os primeiros comparatistas a considerar a necessidade de se manter a primazia das “fontes”, ou seja, dos textos mais antigos e consagrados.
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A adaptação é uma relação entre dois sistemas simbólicos bem diferentes. A obra dita “original” é escrita num determinado período, influenciada por uma série de códigos de representação e por um momento histórico delimitado, do mesmo modo que a adaptação fílmica dessa obra. O diálogo se desenvolve não só entre o filme e o texto primeiro, mas com uma série de outras referências, inclusive cinematográficas.
Os novos estudos sobre adaptação de obras literárias para o cinema buscam ultrapassar a preocupação com a fidelidade, abrindo caminhos para metodologias e abordagens mais integrais, no sentido de acompanhar outras variantes da relação entre cinema e literatura. 
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LITERATURA COMPARADA - A adaptação de obras literárias para o universo do audiovisual
Não adianta apenas catalogar as semelhanças e diferenças entre um filme e um livro (ou entre os códigos representacionais do cinema, do teatro e da literatura), o mais importante a ser feito é contribuir para relacionar a análise textual comparativa a uma perspectiva mais ampla que envolva tanto os meios de produção cinematográfica, mercado editorial e circuito de exibição – inserindo a leitura interpretativa das obras no movimento dos vários agentes produtores, realizadores e exibidores.
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LITERATURA COMAPRADA -O conceito de hipertexto e sua utilidade para a criação literária	 
Como bem assinalou o criador do termo, Ted Nelson, essa forma de textualidade deve ser pensada como intimamente ligada à máquina capaz de produzi-la em sua forma mais completa, ou seja, ao computador, e isso, via de regra, através das linguagens conhecidas como “html” (“hypertext markup languages”). O hipertexto, como explicava Nelson em meados da década de 1970, constitui “uma forma de escrita não sequencial – um texto que se espalha em ramificações e permite ao leitor escolher caminhos, [e deve ser] preferencialmente lido em uma tela interativa” (Nelson 1992, p. 2).
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LITERATURA COMAPRADA -O conceito de hipertexto e sua utilidade para a criação literária	 
Estamos vivendo o começo de um novo século. Mais do que mera marca temporal, temos transformações consistentes à nossa volta, e uma parte delas se relacionam ao uso generalizado do computador e da internet. Para compreender o impacto que esta nova realidade tem sobre a Literatura e os estudos literários, é preciso, antes de mais nada, se desfazer de preconceitos quanto aos novos meios.
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LITERATURA COMAPRADA -O conceito de hipertexto e sua utilidade para a criação literária	 
Uma das discussões mais recorrentes é a de que o livro estaria condenado ao desaparecimento, sob o impacto das novas técnicas, o que traria um risco para a sobrevivência da própria Literatura. Ora, durante a maior parte da existência do homem sobre a Terra, as civilizações persistiram sem possuir nenhum sistema de escrita, o que não as impediu de criar tesouros de imaginação poética. Para tanto, valiam-se da oralidade, fazendo o texto fluir e ser divulgado por declamação, canto, discursos orais etc.
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LITERATURA COMAPRADA -O conceito de hipertexto e sua utilidade para a criação literária	 
O que se pode dizer é que ainda é cedo para se afirmar que os novos suportes eletrônicos trarão a superação da era do livro. Provavelmente, não. Ele permanecerá como uma alternativa a mais de acesso a textos escritos. Agora, o que não se concebe de modo algum é que a humanidade possa algum dia deixar de ter a capacidade de criar e fruir de textos literários se, porventura, o livro desaparecer. Assim como já havia uma multiplicidade de formas poéticas antes, elas tendem a continuar e a se diversificar ainda mais no futuro. 
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LITERATURA COMAPRADA -O conceito de hipertexto e sua utilidade para a criação literária	 
No ambiente virtual, o texto impresso sofre uma transformação a qual influencia na forma como a leitura é feita. O texto eletrônico ou virtual possibilita ao leitor a tornar-se um coautor, visto que o hipertexto exige, de certa forma, uma interação do leitor com esse texto por meio de escolhas realizadas durante a leitura, as quais podem levar a resultados diferentes a cada leitura realizada no mesmo texto.
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LITERATURA COMAPRADA -O conceito de hipertexto e sua utilidade para a criação literária	 
O uso generalizado do computador veio acompanhado de uma forma de textualidade conhecida como “hipertexto”. Tal modalidade possui semelhanças como o “intertexto”, ou seja, uma forma de textualidade sem autonomia, já que existe apenas como parte de uma extensa rede textual e está desde sempre contaminada por um número muito grande de outros textos culturais. Já o hipertexto traz como novidade o fato de ser marcado por uma diferença fundamental em relação a quaisquer outras formas de textualidade do passado
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LITERATURA COMAPRADA -O conceito de hipertexto e sua utilidade para a criação literária	 
O hipertexto traz uma importante alteração para os estudos literários: é que não mais estamos diante de apenas um texto, capaz por si mesmo de ampliar a capacidade do leitor em interpretar; o que temos agora é uma ferramenta utilizada para a abertura de novas janelas, por onde se pode complementar a narrativa, ter acesso a detalhes acerca da trajetória pessoal de cada personagem, etc.. Desta forma, o texto abre novas possibilidades de informação que vão além do conteúdo básico, quando não oferece várias alternativas de conclusão do enredo, cabendo ao leitor escolher uma, de sua preferência. 
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LITERATURA COMAPRADA -O conceito de hipertexto e sua utilidade para a criação literária	 
O hipertexto, ao incorporar as possibilidades que nos são abertas no mundo de hoje, tende a romper com nossa visão linear dos fatos, da história, das narrativas ficcionais. 
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LITERATURA COMAPRADA -Os estudos comparatistas na era digital 	 
Ressaltemos agora alguns aspectos que dizem respeito aos rumos que os estudos de Literatura Comparada passam a tomar dentro de um contexto em que o audiovisual e a cultural digital impõem sua presença de tal modo que se torna imperioso considerar como os rumos que terá a Literatura daqui para frente.
As obras audiovisuais adaptadas não são mera cópia dos textos literários que lhe deram origem. São textos novos, e a melhor forma de estudá-los é se valendo de recursos do comparatismo. Percebemos que uma adaptação é uma aventura intertextual, frequentemente operando no campo da paráfrase, mas buscando se articular dentro de uma linguagem que lhe é própria.		
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LITERATURA COMAPRADA -Os estudos comparatistas na era digital 	 
O audiovisual tende a ampliar ainda mais o campo de atuação da Literatura Comparada, pois nos oferece a possibilidade de estudar os contatos entre as modalidades de ficção literária e as que são operadas no campo de atuação de outras artes, ou mesmo em artefatos mistos, como a canção popular, nos quais o texto se encontra presente, ao lado de outros elementos. 
		Uma das tarefas mais instigantes para os comparatistas, nos dias de hoje, é justamente considerar os diálogos interartes, do que não se exclui, obviamente, os que são sugeridos pela emergência dos hipertextos, sejam eles hiperpoemas ou obras de hiperficção. 
		
Tema da Apresentação
LITERATURA COMAPRADA -Os estudos comparatistas na era digital 	 
Se no começo de sua história, a Literatura Comparada atuava mais no sentido de aproximar obras literárias de
diferentes nações, hoje ela atua cada vez mais como um campo de pesquisas em que o literário dialoga com as demais linguagens artísticas, particularmente as que emergiram no contexto da era do audiovisual. Assim, cresce em número, cada vez mais, as pesquisas voltadas para o estudo do diálogo entre Literatura e Cinema, Literatura e Televisão, bem como a problemática decorrente da conjunção do texto literário com outras artes, algo que ocorre tanto na canção popular, como no hipertexto. 
		
Tema da Apresentação
LITERATURA COMAPRADA -Os estudos comparatistas na era digital 	 
Tudo isso vem a se constituir num território ainda em aberto, tendo em vista que os estudos de análise literária e cultural devem estar sempre em alerta para acompanhar a própria dinâmica da criação, algo em constante ebulição no mundo de hoje.
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