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Aula_05

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AULA 5
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LITERATURA PORTUGUESA
LETRAS – PROFA. DRA. DANIELLE CRISTINA MENDES
Rio de Janeiro, 14 de maio de 2011.
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AULA 5:
A PARENÉTICA EM ANTÔNIO VIEIRA
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O movimento barroco
Séculos XVI -XVIII 
O nome do movimento
Criação posterior
O barroco como “pérola imperfeita”.
Para os neoclássicos, a arte barroca era exagerada e de mau gosto; deveria ser combatida pelo apelo ao equilíbrio e à harmonia.
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O início do barroco português
Massaud Moisés
Morte de Camões
União Ibérica. 
António Saraiva
Confluência entre o estilo da escolástica medieval e do classicismo italiano.
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Os paradoxos do movimento barroco
“Luta por conciliar o claro e o escuro, a matéria e o espírito, a luz e a sombra, no esforço de anular pela unificação a dualidade básica do Homem dividido entre os apelos do corpo e da alma” (MOISÉS, 2003). 
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O esforço de conciliação presente no barroco, como aludido por Moisés, não se resolve, mas mantém-se em torno de um modo de expressão artística construído na tensão entre duas forças opostas: o teocentrismo e o antropocentrismo. 
A tensão barroca potencializada pela Reforma e pela Contra-Reforma.
 São geradas percepções do mundo fundadas no choque entre o espírito e a matéria, o pecado e a virtude, o eterno e o fugaz, em um enfrentamento que não se resolve, mas antes agrega os opostos, e que se torna uma marca forte da mentalidade e da arte barroca.
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Agudeza e engenho
O discurso engenhoso
Habilidade e conhecimento dos códigos estéticos
“Interessava menos a representação do real do que a arte 	criada pelo puro engenho. A agudeza, mãe do engenho, não 	se confunde com o juízo, que serve para discriminar o 	verdadeiro do falso” (SARAIVA,1999, p.73).
Afastamento proposital da realidade no discurso engenhoso.
A arte barroca é “engenhosa, aguda e maravilhosa” (J. A. HANSEN) 
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Domínio da linguagem e do diálogo com os códigos artísticos estabelecidos
Criação de cadeias de imagens correspondentes
Paralelismo
Correspondência entre dois elementos diferentes
Imagens simétricas ou contrastantes
Emprego da hipérbole
Antíteses, quiasmas e hipérbatos
Preciosismo das imagens
O falar com propriedade, isto é, usando as palavras mais adequadas possíveis para o que se deseja exprimir.
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Cabe ressaltar que o discurso engenhoso já se encontrava na produção anterior ao barroco, em novelas de cavalaria, no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende e, até mesmo, na poesia lírica e épica camoniana, por exemplo. 
Alguns tratados de poética criados no século XVII dedicaram-se ao estudo e à proposição da agudeza. 
Agudeza de Arte do Engenho (Baltasar Grácian)
A poesia engenhosa afasta-se da realidade, ao expressar-se por dois estilos: o gongorismo, também conhecido como cultismo, e o conceptismo.
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O Cultismo 
Ou gongorismo → referência ao castelhano Gôngora, o principal poeta identificado a este estilo.
Uso exagerado de figuras de sintaxe 
Emprego abundante de metáforas e de imagens
Descrição de objetos “raros e luminosos” (SARAIVA, 1999, p. 74) 
Objetivo de levar o leitor à surpresa e ao conhecimento. 
Enfeitada, rebuscada e cheia de pompa. 
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O conceptismo
Principal representante: Quevedo
Jogos de pensamento e de conceitos pautados na lógica e na razão. 
Conceituação de aspectos da realidade. 
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Portanto, o cultismo e o conceptismo são estilos opostos. Contudo, é incorreto pensá-los como excludentes, pois, em algumas obras, ambos encontravam-se interpenetrados.
Era comum, entre alguns autores barrocos, a alternância, em suas obras, de poemas cultistas e conceptistas. 
 
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A parenética em António Vieira
Antônio Vieira nasceu em 1608 e foi educado na Bahia, em um ambiente culturalmente incipiente. 
Viveu durante o reinado de Dom João IV e tornou-se jesuíta, além de alto funcionário da monarquia portuguesa. 
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Vieira tinha plena ciência do poder do Mercantilismo. 
Segundo Alfredo Bosi, em Dialética da colonização (1996, p.120), Vieira, ao contrário do poeta baiano Gregório de Matos: 
“Sabia que a máquina mercante viera para ficar, irreversível e inexorável. E que, sendo inútil lastimar a sua intrusão nos portos da Colônia, importava dominá-la imitando os seus mecanismos e criando, na esfera do poder monárquico luso, uma estrutura similar que pudesse vencê-la na concorrência entre os impérios”.
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A palavra literária foi fundamental para essa tentativa de domínio, em um contexto no qual era preciso, ainda, posicionar-se contra o crescimento da Reforma Protestante, na condição de jesuíta, mas, ao mesmo tempo, questionar os desmandos e os excessos dos processos de inquisição da própria igreja da qual participava.
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Parenética
 Arte da pregação, do sermão.
Sermão
Interpretação de um texto religioso, retirado de uma obra considerada sagrada. 
A citação do texto precede ao início do sermão.
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    Os sermões de Vieira foram instrumentos expressivos da reflexão sobre questões de seu tempo.
Polêmicas: questionamento do tratamento dado aos escravos , indígenas e cristãos-novos.
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Engenho e agudeza em Vieira
Organização de elementos como o esforço de criação de cadeias de imagens correspondentes, o uso da hipérbole e as imagens representadas com precisão. 
Busca da escrita com propriedade. 
O estilo adotado para a construção do discurso engenhoso, por Vieira, é claramente o conceptista. 
Há, ainda, uma oposição profunda ao cultismo, visto pelo autor como um discurso fútil, manipulador e nocivo.
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Sermão da Sexagésima
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“Já que falo contra os estilos modernos, quero alegar por mim o estilo do mais antigo pregador que houve no Mundo. E qual foi ele? O mais antigo pregador que houve no mundo foi o Céu. Suposto que o Céu é pregador, deve ter sermões e deve ter palavras. E quais são estes sermões e estas palavras do céu? – As palavras são as estrelas, os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas. O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, de outra há de estar negro; se de uma parte está dia, de outra há de estar noite? Se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário?”
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Apesar de sua aderência aos princípios da agudeza, típicos do universo artístico barroco, a parenética em Vieira sustenta-se em uma linguagem herdada da escolástica, semelhante aos dos sermões de Santo Antônio de Lisboa, no século XIII. 
Como meios para alcançar a persuasão, emprega a dialética e o silogismo. Interpela a platéia de modo irônico, no sentido de fingir desconhecer as respostas às perguntas feitas, às quais dá respostas propositalmente contraditórias, como um modo de fazer a audiência questionar-se.
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Em termos de estrutura, os sermões de Vieira, em sua maioria, aderem à tripartição clássica, que divide os sermões em:
Intróito
Parte conhecida também como exórdio. Apresenta o texto sagrado escolhido e expõe o tema do sermão.
Desenvolvimento
Interpretação do texto e exposição do argumento. 
Peroração
Conclusão do sermão e exortação aos fiéis.
 
Alguns sermões escritos por Vieira não apresentam todas as três partes, como o “Sermão da Primeira Sexta-Feira da Quaresma”, que não
possui a peroração. 
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No que toca à interpretação, Vieira também segue a tradição escolástica, que prevê quatro sentidos para o texto:
Literal ou histórico
Alegórico
Moral 
Referente ao comportamento na vida terrena.
Anagógico
Referente à vida após a morte terrena.
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Antônio Saraiva defende em sua obra que os modelos de interpretação escolástica serviam como “um óptimo pretexto para o exercício do engenho e da agudeza” (1999, p. 76). Logo, a estrutura rígida da exegese medieval não se contrapôs ao exercício barroco da escrita engenhosa, mas amalgamou-se a este.
Outro ponto de interseção entre o universo medieval e da Época Moderna, em Vieira, ocorre na mescla das alegorias bíblicas ao pensamento mercantil, como notou Alfredo Bosi, presente em seu modo de interpretação. 
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Esse processo interpretativo é potencializado pelo domínio do latim e da língua portuguesa, por Vieira. 
“Para o sermão vir nascendo há de três modos cair: há-de cair com queda, há-de cair com cadência, há-de cair com caso”.
No trecho citado, o autor trabalha com a comparação de três palavras, “cair”, “queda” e “cadência” e organiza uma rede comparativa de significados alusivos aos modos de proferir o sermão. 
A escolha dos termos dá-se por conta dos três serem derivados da palavra latina cadere, que significa cair, o que exemplifica o veio engenhoso e conceptista de Vieira.
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Apesar do domínio da linguagem parenética e do emprego do discurso engenhoso, os sermões de Vieira não se deram apenas como um exercício reflexivo; com eles, o autor intentava promover mudanças concretas e chamar à ação, como podemos perceber no trecho do “Sermão do Terceiro Domingo do Advento”:
“A verdadeira fidalguia é a ação. O que fazeis, isso sois, nada mais”.
A questão do desejo de agir expõe uma contradição fundamental no discurso panerético de Vieira: a construção de argumentos universais, mas que objetivava atingir, de modo particular, a nobreza e o clero portugueses, como pontua Alfredo Bosi (1997). 
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Essa contradição era um grande desafio retórico para o padre, mas que ele consegue superar, por exemplo, no “Sermão da Epifania”, pregado na capela Real, no Maranhão, uma das localidades da colônia que mantinha a escravidão indígena. 
Vieira aproveitou a presença do rei e do infante para expor um discurso antiescravocrata, buscando na exegese da bíblia os seus argumentos, estratégia clássica da escolástica. 
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“Sermão XIV do Rosário”
Jogo de agudeza em torno de uma rede analógica, centrada no paralelismo entre o sofrimento dos escravos e a paixão de Cristo:
 
“Em um engenho sois imitadores de Cristo Crucificado: porque padeceis em um modo muito semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz, e em toda sua paixão. A sua cruz foi composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. (...) Cristo despido, e vós despidos; Cristo sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo”. 
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Sermão Vigésimo sétimo
“Comparo o presente com o futuro, o tempo com a Eternidade, o que vejo, com o que creio, e não posso entender, que Deus que criou estes homens tanto à sua imagem e semelhança, como os demais, os predestinasse para dois infernos, um nesta, vida, outro na outra.”
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Por fim, destacamos outro ponto importante nos sermões de Vieira: a distância existente entre o texto do sermão e a sua prática efetiva.
 Cabe lembrar: apenas temos acesso parcialmente aos textos dos sermões, pois só podemos lê-los, de modo que nos escapa a presença do orador, a inflexão de sua voz  e os seus gestos.
 Afora isso, muitos dos sermões por nós conhecidos foram redigidos posteriormente às declamações, com a inserção ou exclusão de trechos. 
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O Sebastianismo nos livros de Vieira
Na visão de Vieira, o Quinto Império começaria quando Cristo voltasse à Terra, o que ocorreria junto à vinda do Messias judeu, que seria Dom João IV. 
Desse modo, Vieira estabeleceu uma analogia entre os hebreus e os portugueses. O fato revela algo instigante: além da fabulação, as profecias tinham um cunho pragmático: a defesa do retorno dos judeus portugueses ao país e, consequentemente, do capital que possuíam. Portanto, as profecias sebastianistas de Vieira eram uma tentativa de ação política consciente, e não apenas fruto de uma mente fantasiosa.
 Um importante leitor das profecias de Vieira foi Fernando Pessoa. Em seu livro, Mensagem, empreendeu a releitura do mito sebastianista e do Quinto Império, tendo como uma de suas fontes a obra messiânica do escritor.  
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Caravaggio, “Descida da Cruz”.
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