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FILOSOFIA GERAL E JURÍDICA

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PROF. DR. DELMO MATTOS 
FILOSOFIA GERAL E 
JURÍDICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
I- Caracterização do discurso Filosófico: 
Sempre que vamos estudar alguma disciplina, a primeira coisa que fazemos é procurar saber o que é aquilo que vamos estudar. O mesmo 
ocorre com a filosofia. Mas nesse momento surge um problema: explicar o que é a filosofia. Quando estudamos matemática, economia ou biologia, por 
exemplo, já sabemos desde o início, ou pelo menos já temos uma idéia aproximada daquilo acerca de que essas ciências tratam: a matemática lida com 
números, enquanto a economia estuda as relações econômicas e a biologia estuda os seres vivos. Em outras palavras, isso significa que cada uma dessas 
ciências é definida em função do setor de objetos que lhe diz respeito. A realidade como um todo pode ser dividida em diferentes setores de objetos, os 
quais, por sua vez, podem se tornar temas de investigação científica. 
Segue-se que sabemos o que é a matemática porque sabemos quais são os objetos que ela estuda, da mesma forma que sabemos distinguir 
perfeitamente um problema de biologia de um problema econômico. Sabemos que a botânica estuda as plantas e a física estuda os fenômenos da 
matéria, e jamais confundiríamos um problema jurídico com um de medicina. Entretanto, diferentemente, a filosofia não é definida por um determinado 
setor de objetos. 
 Poderíamos começar buscando uma série de definições de filosofia, preferencialmente aquelas fornecidas pelos próprios filósofos, Kant, 
Hegel, Aristóteles, Nietzsche, etc. O problema é que encontraríamos definições, à primeira vista, muito diversas. Nesse estágio inicial de contato com a 
filosofia dificilmente podemos perceber uma característica fundamental que costure todas essas definições e reúna as diferentes reflexões dos diferentes 
filósofos em uma única classe, a filosofia propriamente dita. Deveria haver, contudo, uma característica fundamental e comum que diferenciasse a 
reflexão filosófica dos outros setores do saber. 
 Poderíamos também começar pela discussão de temas filosóficos. Esse é um bom caminho, não resta dúvida, pois somente o estudo demorado 
dos problemas com os quais se ocupou a filosofia, desde o seu surgimento na antiga Grécia até os dias de hoje, pode propiciar uma adequada introdução 
ao tipo de reflexão e de discurso essencialmente filosóficos. Por outro lado, tendo em vista que um questionamento filosófico pode ser aplicado nas mais 
diferentes áreas do conhecimento humano, do direito à matemática, passando pela lingüística e até mesmo pela medicina, é importante que tenhamos 
uma noção inicial daquilo que caracteriza essencialmente esse questionamento. Precisamos saber o que torna a filosofia propriamente filosofia, e não 
sociologia, história ou direito, mesmo quando o questionamento filosófico se dirige para cada umas dessas disciplinas. O filósofo alemão Ernst 
Tugendhat nos indica o caminho que possibilita compreender a diferença entre a filosofia e a ciência. 
 
“O que se dá previamente numa ciência é apenas o âmbito de objetos. Em contrapartida, na filosofia não pensamos num âmbito 
determinado de objetos, mas num modo de saber ou de questionar, portanto, numa determinada atividade” ( Tugendhat, E. Lições 
Introdutórias à Filosofia Analítica da Linguagem, p. 28), 
 
 
II – Objeto da Filosofia: 
Todas as atividades intelectuais têm um objeto determinado do qual se ocupam: a 
biologia, os seres vivos, a astronomia, os corpos celestes, a sociologia, os grupos 
sociais. Mas qual seria o objeto da filosofia? O objeto da filosofia não é algo 
particular ou algum dado da experiência, pois a filosofia considera os objetos da 
experiência, mas não se limita a eles. A filosofia busca as causas últimas de todas 
as coisas (Aristóteles). Buscando as causas últimas, a filosofia busca chegar a 
conceitos universais válidos. 
Para definir qual o objeto da filosofia, antes necessitamos distinguir dois tipos de 
objeto: 
 Objeto material – conjunto de coisas estudadas por uma ciência 
 Objeto formal – aspecto ou ângulo do objeto estudado pela ciência 
O objeto da filosofia é a totalidade. Seu objeto é tudo o que existe, enquanto 
existente inteligível. Existente é o real, o atual, o concreto, com realidade própria. 
Deste modo: 
Objeto material da filosofia – o ser 
Objeto formal da filosofia – o existente, o real, o concreto, seja ele 
sensível ou inteligível. 
Assim, o objeto da filosofia é a totalidade. É tudo o que existe, enquanto existente 
inteligível. A totalidade é o real, o atual, o concreto, com realidade própria. 
 
III- Definição etimológica Clássica da filosofia: 
Podemos definir a filosofia de diversos modos. Geralmente inicia-se com o 
mais imediato, o caminho etimológico. O termo filosofia vem diretamente do 
grego: 
philia = amor, amizade 
sophia = sabedoria 
Assim, filosofia é o amor, a amizade à sabedoria. Esta definição 
nasceu de um gesto de humildade, atribuído por alguns a Pitágoras, e por 
outros a Heráclito: o filósofo em questão teria recusado o título de sábio 
(sophos), preferindo referir-se a si mesmo como um "amante da sabedoria". 
Neste sentido, o filósofo não a teria nunca em plenitude, mas sempre a 
buscaria, numa relação de conquista e sedução, e nunca de posse absoluta. 
Neste sentido enquadra-se perfeitamente a frase atribuída a Sócrates: "Eu só 
sei que nada sei". O filósofo assim seria mais sábio justamente por 
compreender os limites de seu conhecimento. Esse amor à sabedoria 
consistiria numa permanente vontade de saber, de conhecer, unida a um 
profundo respeito pela verdade. Seria tentar contemplar a realidade tal qual 
ela é, de maneira objetiva e válida universalmente. A conquista da sabedoria 
seria, portanto o objetivo da filosofia, em última instância. 
Por outro lado, podemos definir a filosofia de uma forma mais 
científica, ou seja, tratando-a como ciência que ela é. Assim, podemos defini-
la como a ciência das realidades inteligíveis, não observáveis sensivelmente, 
mas alcançáveis pela razão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
IV- A Especificidade da Filosofia: 
O que caracteriza a filosofia é ser um modo de questionamento, uma determinada postura com a qual podemos nos colocar diante 
dos conhecimentos científicos em geral, das ações humanas e normas que as regulam, dos conceitos fundamentais das diferentes 
ciências, da arte, da cultura, da religião, etc. Mas o que é esse modo característico de questionar? Como se dá o questionamento 
genuinamente filosófico? Resposta: a filosofia é pensamento crítico. 
 
“A filosofia, ao contrário do saber científico, dirige um olhar crítico a qualquer hipótese ou princípio (inclusive 
sobre si mesma). Trata-se, assim, de um pensar radical. Não apenas porque não aceita nenhuma afirmação 
‘porque sim’, mas porque revisa e discute, em cada caso, as razões que pretendem justificá-las. Em filosofia, 
qualquer afirmação é suscetível de reflexão e revisão. Em cada caso será preciso explicitar e debater hipóteses, 
conseqüências, implicações. É assim que se manifesta seu caráter essencialmente crítico”. 
 
 A filosofia revisa e discute as razões, busca as conseqüências, não aceita afirmações não justificadas. Questionar 
criticamente a perguntar pela legitimidade, pelos limites de validade e pela fundamentação de alguma coisa. Esse questionamento 
pode ser direcionado para qualquer âmbito do saber em geral, dos conhecimentos científicos às máximas do senso comum. Das 
ciências sociais às ciências exatas, passando pelas ciências da naturezae pelo estudo das artes, toda disciplina pode ser abordada 
conforme uma perspectiva filosófica. Quando perguntamos pela legitimidade, pelos limites e pela fundamentação dos 
conhecimentos e dos métodos de uma disciplina estamos fazendo filosofia. 
 
V- Características do saber filosófico: 
Radicalidade: Apresenta questões que ultrapassam as idéias 
feitas, o nível do senso comum. À filosofia interessa descobrir a 
natureza íntima das coisas, a sua razão de ser. É intenção do 
filósofo ir à raiz dos problemas; 
Universalidade: A filosofia visa compreender ou determinar o 
princípio ou princípios de todo o real. Mesmo quando um 
determinado filósofo incide a sua reflexão sobre um aspecto 
particular a experiência humana - a arte, a ciência ou a religião - o 
que em última instância procura compreender é a Totalidade e não 
simples casos particulares. Outro aspecto revela ainda a dimensão 
universal da filosofia: ao abordar questões que são comuns a todos 
os homens, o filósofo acaba por elaborar um discurso que se dirige 
a todos os homens; 
Autonomia: A filosofia implica uma atitude livre e todas as 
coerções e de todos os constrangimentos exteriores, sejam eles de 
natureza religiosa ou políticas. A reflexão filosófica recusa 
qualquer forma de autoridade no seu exercício. Ser autônomo 
(Auto+ nomos = aquele que cria a sua própria lei) é a primeira 
condição do Homem enquanto ser racional. A legitimidade da 
filosofia está nela própria. Neste sentido, é a expressão de um ser 
que pensa e age por si, procurando orientar-se por finalidades que 
ele próprio reconhece como sendo suas. 
Historicidade: A filosofia, enquanto expressão de racional é 
sempre um saber situado. Os filósofos partilham as preocupações 
do seu tempo, neste sentido todas as filosofias não deixam de 
refletir a sociedade em que surgiram, inserindo-se igualmente 
numa dada tradição. A filosofia, contudo, reclama um estatuto 
semelhante à arte: as grandes idéias como as grandes obras de arte 
transcendem o seu tempo, assim tenhamos nós capacidade para 
apreendê-las e sentir; 
Saber fundamentado: Não basta construir novas idéias sobre as 
coisas, o filósofo tem que apresentar os fundamentos do que 
afirma de uma forma coerente e sistemática, utilizando uma 
linguagem rigorosa; 
Atividade racional: exige a utilização do pensamento. Por sua 
vez, o uso da razão torna viável a reflexão e a crítica, cuja 
principal finalidade é à procura da verdade e do sentido da 
existência humana. O uso da razão permite ainda, a autonomia e a 
independência intelectual, ou seja, pensar por si mesmo. 
 
A Filosofia é uma forma de interpretação da realidade como 
a ciência e o senso comum. Diferentemente da ciência, esta 
não assenta em experimentações nem em observação, sua 
especificidade está no pensamento. Ao contrário do Senso 
comum, a Filosofia não surge da necessidade de se 
enfrentar as circunstâncias imediatas sem a necessidade de 
uma prévia discussão ou fundamentação. 
De uma maneira geral, o que diferencia o 
conhecimento filosófico das outras formas de conhecimento 
é a forma como problematiza as coisas. A Filosofia é uma 
forma de reflexão, ou melhor, uma reflexão crítica acerca 
dos fundamentos de todas as coisas. Ela pode ser 
considerada uma ciência, mas uma ciência que possui a 
pretensão de obter as explicações mais complexas e 
profundas sobre todas as coisas, a partir de suas causas e 
seus fins últimos. Não vá pensando que os mesmos 
problemas da ciência sejam os problemas da Filosofia. 
A ciência pretende alcançar a determinação dos 
nexos constante, ou seja, a regularidade dos fenômenos, 
com a descrição do que acontece na realidade e suas causas 
próprias, susceptíveis de serem registradas pela experiência. 
A experiência permite fornecer uma uniformidade às 
investigações cientificas, de modo que esta adquire mais 
objetividade. Ao contrário a Filosofia pretende saber as 
razões últimas de todos os seres, sem a preocupação de uma 
referência à experiência, pois a Filosofia parte da 
experiência vivida o que permite ir além da mera 
constatação científica. 
O conhecimento filosófico é um saber crítico e 
conceitual. A exigência da crítica é própria do ideal da 
Filosofia. Trata-se um conhecimento que se assenta em base 
crítica, mas não basta apenas a crítica para caracterizar a 
Filosofia. A Filosofia é uma atividade de investigação e 
questionamento permanente. A atitude filosófica exige uma 
insatisfação constante para a abertura de novos horizontes a 
fim de solucionar os problemas mais gerais que se impõe 
aos homens. Enfim, podemos concluir que a Filosofia é uma 
forma de conhecimento que, a partir da reflexão rigorosa, 
radical e totalizante sobre o real, procura construir um 
conhecimento cada vez mais verdadeiro através da sua 
atitude questionadora a fim de ultrapassar o caráter finito e 
óbvio da interpretação superficial que apresenta o saber 
comum. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VI - A positividade e o caráter crítico da filosofia 
O trabalho filosófico é essencialmente teórico. Mas isso não significa que a filosofia esteja à margem do mundo, nem 
que ela constitua um corpo de doutrina ou um saber acabado, com determinado conteúdo, ou que seja um conjunto de 
conhecimentos estabelecidos de uma vez por todas. 
 Para Platão, a primeira virtude do filósofo é admirar-se. A admiração é a condição de onde deriva a capacidade de 
problematizar, o que marca a filosofia não como posse da verdade, mas como sua busca. Para Kant filósofo alemão do século 
XVIII, "não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar". 
Isto significa que a filosofia é, sobretudo, uma atitude, um pensar permanente. É um conhecimento instituinte, no 
sentido de que questiona o saber instituído. Portanto, a teoria do filósofo não constitui um saber abstrato, O próprio tecido do 
seu pensar é a trama dos acontecimentos, é o cotidiano. Por isso a filosofia se encontra no seio mesmo da história. No entanto, 
está mergulhada no mundo e fora dele: eis o paradoxo enfrentado pelo filósofo. Isso significa que o filósofo inicia a caminhada a 
partir dos problemas da existência, mas precisa se afastar deles para melhor compreendê-los, retornando depois a fim de dar 
subsídios para as mudanças. 
A primeira característica da atitude filosófica é negativa, isto é, um dizer não ao senso comum, aos pré-conceitos, aos 
pré-juízos, aos fatos e às idéias da experiência cotidiana, ao que “todo mundo diz e pensa”, ao estabelecido. A segunda 
característica da atitude filosófica é a positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são as coisas, os fatos, as situações, os 
comportamentos, os valores, nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e de nós, a uma interrogação 
sobre como tudo isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da 
atitude filosófica. 
 Atitude filosófica negativa 
 DESCONSTRUÇÃO 
 Atitude filosófica positiva 
 CONSTRUÇÃO 
Desconfiar de tudo aquilo que é simplesmente dado e costuma ser aceito como um pressuposto é um elemento fundamental do 
questionamento filosófico. A indiferença diante da realidade, inversamente, indica um estado de espírito acrítico, não questionador. De fato, é 
muito mais fácil, pelo menos inicialmente, aceitar a realidade da forma como ela nos é dada. Agimos e pensamos de determinada forma 
simplesmente porque sempre se pensou e agiu assim. Nós nos agarramos a opiniões prontas porque elas, supostamente, nos fornecem 
segurança,na medida em que nos dão a impressão de que nossas idéias e nossas ações são previsíveis e, conseqüentemente, são as mais 
adequadas. Esse modo impessoal de pensar e agir é um conjunto de regras e expectativas de ação que aceitamos, pelo menos em um primeiro 
momento, sem maiores questionamentos. Mas será que a forma mais adequada de agir e pensar é mesmo o modo como sempre se agiu e 
pensou? Quando seguimos costumes e regras preestabelecidas nem sempre percebemos que esses costumes e regras são, em grande medida, 
arbitrários e contingentes. Usualmente, a realidade nos é apresentada, não somente pelas ciências, mas também pelo senso comum, a partir de 
um único ponto de vista, como se somente essa perspectiva fosse possível, como se nada muito diferente pudesse nem mesmo ser concebido. 
O olhar crítico da filosofia torna visível o que está oculto nos modos de agir e pensar em meio aos quais estamos desde sempre inseridos e, por 
conseguinte, possibilita que eles sejam questionados, avaliados e transformados. Descobre falhas nos conhecimentos e métodos das ciências, 
assim como descobre injustiças nas leis, exige que reconheçamos essas falhas e injustiças, o que, por sua vez, implica um trabalho intelectual, 
teórico e sistemático, de determinação de critérios e avaliação segundo esses critérios. Nossos modos de pensar e agir só podem ser 
modificados se forem antes questionados, se tiverem sua legitimidade e seus limites de validade postos em questão – isto é, se forem 
criticados. O filósofo francês Michel Foucault, ao esclarecer o significado da palavra crítica, indica o seu caráter positivo. 
“Uma crítica não consiste em dizer que as coisas não estão bem como estão. Consiste em ver sobre que tipo de evidências, de familiaridades, 
de formas de pensar adquiridas e não pensadas repousam as práticas que se aceitam. (...) O pensamento existe aqui, muito mais além ou mais 
aquém dos sistemas e das construções discursivas. É algo que se esconde com freqüência, mas que anima todos os comportamentos 
cotidianos. (...) A crítica consiste em fazer sair este pensamento e tentar mudá-lo: mostrar que as coisas não são tão evidentes quanto 
parecem, procurar que o que se aceita como evidente já não seja tão evidente”. 
 
 A filosofia tem de início, um caráter negativo, na medida em que começa colocando em questão tudo o que sabemos (ou que 
pensávamos saber). Por outro lado, tem também um caráter positivo que se revela na possibilidade de transformar os valores e as idéias 
predominantes que, a partir do momento em que são questionados, podem ser modificados. O lado positivo da postura crítica da filosofia 
consiste na possibilidade de construir novos valores e idéias. Mas não resta dúvida de que essas novas formas de pensar, num segundo 
momento, serão também colocadas em dúvida e questionadas. A positividade do questionamento filosófico, contudo, somente se concretiza se 
for adotado, juntamente com o olhar crítico, um procedimento investigativo sistemático, metódico, causal e lógico: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
VIII - A reflexão filosófica 
 
Reflexão: significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si 
mesmo. Em outras palavras, ela é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si 
mesmo, interrogando a si mesmo. 
 
A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de volta do 
pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como 
é possível o próprio pensamento. Não somos, porém, somente seres 
pensantes. Somos também seres que agem no mundo, que se relacionam com 
os outros seres humanos, com os animais, as plantas, as coisas, os fatos e 
acontecimentos, e exprimimos essas relações tanto por meio da linguagem 
quanto por meio de gestos e ações. A reflexão filosófica também se volta para 
essas relações que mantemos com a realidade circundante, para o que 
dizemos e para as ações que realizamos nessas relações. 
A reflexão filosófica organiza-se em torno de três grandes 
conjuntos de perguntas ou questões: 
1- Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e 
fazemos o que fazemos? Isto é, quais os motivos, as razões e as 
causas para pensarmos o que pensamos, dizermos o que dizemos, 
fazermos o que fazemos? 
2- O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer 
quando falamos, o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual 
é o conteúdo ou o sentido do que pensamos, dizemos ou fazemos? 
3- Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, 
fazemos o que fazemos? Isto é, qual é a intenção ou a finalidade 
do que pensamos e dizemos. 
 A Reflexão Filosófica não é qualquer reflexão, ela tem suas 
exigências. Dermeval Saviani aponta três exigências para que possamos 
caracterizar uma reflexão como filosófica: 
1- Primeira é a radicalidade. Já ouvimos falar em esportes radicais ou atitudes 
radicais. Os esportes radicais são aqueles praticados por pessoas que gostam 
de superar os limites e vão além dos outros. Por exemplo, várias pessoas 
dirigem, algum bem, outras nem tanto. Algumas correm com seus 
automóveis, mas o automobilismo busca superar os limites do piloto e do 
automóvel, desafiando a velocidade. O mesmo poderia ser dito sobre a 
radicalidade da reflexão filosófica; 
2- A segunda exigência de uma reflexão filosófica é a sistematização. Se nos 
perguntarmos o que é sistema, veremos que se trata de um conjunto de dados 
coerentemente organizados e relacionados de tal forma, que tudo parece estar 
ligado a tudo. Isto pode ser mais facilmente compreendido se pensarmos, por 
exemplo, na computação. O mesmo se pode afirmar sobre a reflexão 
filosófica, é preciso que as idéias tenham relações umas com as outras, que 
não sejam contraditórias ou incoerentes, que se mostrem bem fundamentadas; 
3- E a terceira exigência da reflexão filosófica é a abrangência. A reflexão 
filosófica, como dizia Hegel, é como a coruja de Minerva que alça seu vôo ao 
entardecer. Alçar voo significa ver de uma forma mais ampla. Olhar aquilo 
que não foi olhado no todo, mas só nas partes. 
 
 
 
 
 
VII- A filosofia como “reflexão racional” 
A filosofia estabelece conexões e distinções entre 
diferentes contextos e diferentes objetos porque possui uma visão 
de conjunto que é perdida pelas ciências positivas, na medida em 
que estas restringem a sua investigação a setores delimitados da 
realidade. A filosofia nos fornece instrumentos tanto para criar, 
utilizar e julgar critérios de avaliação, quanto para analisar e 
avaliar argumentos, de forma que possamos reconhecer e evitar 
raciocínios que levem a conclusões erradas ou indevidamente 
justificadas. Podemos, dessa forma, distinguir razões efetivas, 
devidamente fundamentadas e válidas, de falsas razões e discursos 
puramente retóricos. 
 Em suma, a filosofia utiliza procedimentos racionais 
para tratar dos problemas que aborda, é sempre e necessariamente 
uma reflexão racional. Segue-se que fazer filosofia não é apenas 
desconfiar de tudo, levantar questões, colocar em dúvida 
princípios e normas. Fazer filosofia é mostrar por que se duvida 
de algo, por que as questões são levantadas, por que tais 
princípios e regras devem ser colocados em dúvida. O 
questionamento crítico, para ser essencialmente filosófico, exige a 
sua própria fundamentação através de argumentos racionais, 
claros, inteligíveis e fundamentados. 
 A filosofia é importante observar, em função do seu 
próprio caráter crítico, freqüentemente se volta sobre si mesma e 
faz perguntas como: quais são os limites entre o racional e o 
irracional? A realidade pode ser totalmente abarcada em 
princípios racionais?Procedimentos metódicos rigorosos são 
necessariamente o melhor caminho para se chegar a 
conhecimentos novos e seguros? Quais os limites do princípio da 
contradição? O que fundamenta o princípio da causalidade? 
Devemos aceitar sem mais o princípio segundo o qual tudo o que 
acontece tem uma causa? Até que ponto esse princípio é legítimo? 
O que significam, afinal, as palavras verdade, causa e razão? 
 Por outro lado, as respostas a essas perguntas, sejam 
quais forem, têm de ser fundamentadas, justificadas. Se for 
verdade que a aplicabilidade do princípio da contradição tem 
limites, é necessário expor e justificar esses limites, se é verdade 
que o princípio da causalidade não tem um fundamento legítimo, 
deve-se explicar o porquê, e assim por diante. Toda crítica deve 
ser fundamentada em razões. Somente dessa forma o 
questionamento crítico, inclusive nos momentos em que se dirige 
para a própria filosofia, pode ser considerado genuinamente 
filosófico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
XI. Qual a utilidade da filosofia? 
 Quando o assunto é filosofia, uma questão recorrente é aquela acerca da sua utilidade, posto que, decorridos mais de 2500 anos, os 
filósofos ainda não foram capazes de responder definitivamente a uma série de perguntas feitas pela primeira vez na antiga Grécia. Essa afirmação, 
entretanto, precisa ser atentamente examinada. Precisamos investigar por que a filosofia não apresenta respostas conclusivas para as questões por 
ela mesma elaboradas. Em primeiro lugar, devemos examinar o significado da palavra ‘utilidade’. Perguntar pela utilidade da filosofia é o mesmo 
que perguntar para que serve a filosofia. Segundo o filósofo francês Gilles Deleuze, 
“Os ‘para quê’ são vistos quase que exclusivamente sob o prisma da utilidade imediata, ou da produtividade mercantil e do 
benefício econômico. Esta grosseira utilidade regula os ‘para quê’, que devem ser medidos, quantificados e, sobretudo, rentáveis. 
(...) Neste contexto, as escolas trabalham, predominantemente, para que possam melhor satisfazer os ‘para quê’ socialmente 
reconhecidos; para que aqueles que passam por suas aulas possam inserir-se ‘melhor’ na sociedade e em suas leis de mercado. Para 
que ‘saibam escolher’ o que na verdade já foi escolhido por eles”1. 
 
 Será que é mesmo segundo esses critérios, que determinam o que é útil em função da eficácia para a obtenção de resultados imediatos, 
que devemos avaliar a utilidade da filosofia? Ou, inversamente, não será que a filosofia serviria justamente para questionar esses critérios de 
avaliação? A filosofia não pode ser avaliada em função dos mesmos critérios de produtividade e eficácia que servem de parâmetro, de um modo 
geral, para atestar o sucesso das engenharias, da informática ou da medicina. A filosofia, compreendida como pensamento crítico, é uma atividade 
constante, um caminho a ser percorrido, constituído sobretudo por perguntas que são mais essenciais do que as suas possíveis respostas. Por sua 
própria natureza, a filosofia transforma cada resposta em uma nova pergunta, na medida em que o seu papel é questionar tudo o que é pressuposto 
ou simplesmente dado. Por isso, costuma-se dizer que as perguntas, para o filósofo, são mais importantes do que as respostas. Segundo Deleuze, 
“O que pode acontecer de melhor a muitas perguntas é não poderem ser respondidas definitivamente. Com outras perguntas, é a 
única coisa possível de acontecer. Porque são inesgotáveis ou, simplesmente, porque sua maior razão encontra-se na pergunta que 
propõem. E, embora se pretenda esgotá-las, como se se quisesse acabar com uma irreverente doença, reaparecem de vez em quando 
em lugares diferentes”. 
 
 O caminho aberto pela filosofia, portanto, é marcado sobretudo por debates e controvérsias, e não por unanimidades e certezas. O método 
é a discussão das teorias propostas para resolver os problemas, a formulação de argumentos e a análise dos argumentos apresentados para atacar e 
defender essas teorias. Agora podemos ver com clareza por que filósofos diferentes podem oferecer definições tão diferentes da filosofia, e também 
por que as investigações filosóficas são freqüentemente inconclusivas: o problema de definir a si própria, assim como o fato das suas investigações 
não chegarem a resultados universalmente aceitos, indica algo da própria essência da filosofia – seu caráter crítico. A filosofia, desde as suas 
origens gregas, foi sempre um instrumento de crítica e reflexão acerca dos mais variados setores do mundo humano: as ciências, as leis, as 
instituições, as práticas sociais e econômicas, a organização política. Para que serve, então, a filosofia? Cito a filósofa brasileira Marilena Chauí: 
“Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às idéias dominantes 
e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar compreender e significação do mundo, da cultura e da história for útil; se conhecer o 
sentido das ações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para 
serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer 
que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes que os seres humanos são capazes”. 
 
 Há uma questão de termos, que devemos esclarecer, enfim, para que se compreenda a questão em todo o seu alcance. Que quer dizer 
"útil"? E que quer dizer "inútil"? "Útil" significa tudo aquilo que tem um fim noutro, e não em si mesmo. Um lápis é útil, porque o seu fim é 
escrever; uma tesoura é útil, porque o seu fim é cortar etc. Ninguém faria um lápis ou uma tesoura como objeto estético, isto é, apenas para serem 
contemplados. Ora, pelo próprio conceito de "útil" podemos verificar que ele não pode ser considerado como um critério por excelência para o 
julgamento dos valores, pois o que é "útil" não tem valor por si, mas só tem valor por aquilo a que serve. O "útil" é sempre instrumento, é sempre 
meio, é intermediário, e vale por aquilo a que se dirige: não vale por si. Como, pois, elevar o "útil" a um critério primordial da vida humana, se ele 
para ter significação fica na dependência de outro? O que por vezes nos impede de valorizar o inútil é não termos sobre ele um conceito preciso. Ou 
então o uso vulgar da palavra "inútil", sempre considerada no seu aspecto pejorativo, é esquecida no seu aspecto nobre e dignificante. Se a palavra 
"útil" significa o que tem um fim noutro, a palavra "inútil" significa o que não tem um fim noutro. Ora, aqui está todo o problema: "o que não tem 
um fim noutro" pode ser entendido de duas formas, pois "não tem um fim noutro" porque não tem finalidade alguma; ou, então, "não tem um fim 
noutro" porque tem um fim em si mesmo. Em geral, empregamos a palavra "inútil" para significar o que não tem finalidade alguma. A palavra 
"inútil", no entanto, não significa apenas isto. Significando aquilo que tem um fim em si mesmo, coloca-nos diante de um conceito que, 
efetivamente, define ao lado do conceito de "útil" o outro aspecto da vida humana. O homem pratica atos úteis e inúteis. Os atos úteis são aqueles 
que estão dirigidos a um fim externo ao que os pratica. Os atos inúteis, no sentido de atos que têm um fim em si mesmos, definem a vida humana 
na ordem da perfeição e da liberdade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
X. As formas de interpretação da realidade 
A Filosofia não é a única forma de saber ou conhecimento. Existem outras formas sob os quais interpretamos a 
realidade e buscamos respostas para nossos problemas. A partir deste momento iremos conhecer as outras formas de 
interpretação da realidade,de modo que possamos distingui-las umas das outras e buscar compreender o papel da Filosofia 
diante de outras formas de interpretação da realidade. Cercado pelas coisas do mundo em que e no convívio com seus 
semelhantes, o homem é um ser que, diferentemente dos demais, problematiza a realidade que o rodeia, colocando perguntas e 
investigando possíveis respostas. O homem não se contenta em simplesmente estar ou transitar entre as coisas, mas procura 
esclarecer o seu significado, seu porquê, ou seja, as causas das coisas. 
Para Buzzi (1992, p. 73), 
“A diferença do animal que vive no puro aberto, que não vê espaço e o tempo, o homem vê sempre 
dentro de uma moldura, define e delimita as coisas. Isso é o seu espaço. As coisas são vistas a partir 
desse espaço. São colhidas dentro de um determinado horizonte. Surge daí aquilo que chamamos de 
mundo, história, cultura, sociedade. Não vemos jamais as coisas puras em si, vemos a partir de uma 
representação, nas malhas de uma interpretação”. 
O filósofo norte-americano contemporâneo Richard Rorty nos traz a definição mais freqüente dos filósofos para essa 
questão: “Conhecer é representar cuidadosamente o que é exterior à mente”. A representação, por sua vez, é o processo pelo 
qual a mente torna presente diante de si a imagem, a idéia oi o conceito de algum objeto. Portanto, para que exista 
conhecimento, sempre será necessária a relação entre dois elementos básicos: um sujeito conhecedor (nossa consciência, nossa 
mente) e um objeto conhecido (a realidade, o mundo, os inúmeros fenômenos). Só haverá conhecimento se o sujeito conseguir 
apreender o objeto, isto é, conseguir representá-lo mentalmente. 
 SUJEITO OBJETO 
 REPRESENTAÇÃO 
 
 
 
Todo indivíduo ao nascer já se encontra imediatamente inserido em um mundo previamente interpretado. Ao nascer 
encontramos um “sistema” de coisas como uma significação definida, transmitida pela cultura de uma determinada sociedade. A 
interpretação da realidade é uma necessidade essencial do ser humano, pois surge da necessidade de resolver certos problemas 
impulsionados pelos mais variados interesses. Assim, de acordo como certos interesses, o homem interpreta a realidade das mais 
variadas formas. Há muitos modos de se conhecer e interpretar a realidade, que dependem da postura do homem frente as suas 
necessidades fundamentais. De acordo com esta postura a interpretação da realidade pode ser explicada através do o mito, do 
Senso comum, da Ciência, da Filosofia e da Arte. Todos eles são formas de conhecimento, pois cada um, a seu modo, oferece 
uma resposta para os mais variados interesses do homem e atribuindo-lhes um sentido. Sendo assim, o mito é um modo de 
interpretação da realidade em que ocorre o apelo ao sagrado na medida em que fornece segurança e conforto ao homem. O 
Senso comum ou “conhecimento espontâneo” é a primeira compreensão do mundo resultante da herança do grupo a que 
pertencemos e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas. 
A ciência procura descobrir o funcionamento da natureza através, principalmente, das relações de causa e efeito, busca o 
conhecimento objetivo e lógico, através de métodos desenvolvidos para manter a coerência interna de suas afirmações. Dotada de 
aplicabilidade, pode resultar em tecnologias que permitem ao homem intervir na natureza. A Filosofia, por sua vez, propõe-se oferecer um tipo 
de conhecimento que busca, com todo o rigor, a origem dos problemas, relacionando-os a outros aspectos da vida humana, numa abordagem 
“totalizante”, e o conhecimento proporcionado pela Arte nos dá não o conhecimento de um objeto, mas de um mundo, interpretado pela 
sensibilidade do artista e traduzido numa obra individual. Como vimos, podemos conhecer e interpretar a realidade de diversas maneiras. A 
seguir iremos examinar os três tipos básicos de interpretação da realidade: Senso comum, Conhecimento científico e a Filosofia. 
 
 
 
 
 
 
 
I- Senso comum, conhecimento vulgar, 
 
O conhecimento que se elabora da necessidade de enfrentar fatos imediatos, á necessidade de resolver problemas 
propostos por interesses os mais diversos, quando feito sem prévia discussão, o chamamos de senso comum ou de bom 
senso. O terrrio comum, na expressão «senso comum», não tem primordialmente um sentido de quantidade, como se 
comum fosse apenas o partilhado por muitos. Indica antes um modo sempre idêntico consigo mesmo uma atitude não 
cambiante no trato da realidade. 
 É um tipo de conhecimento empírico, porque se baseia na experiência cotidiana e comum das pessoas, distinguindo-
se por isso da experiência científica, que exige planejamento rigoroso. É também um conhecimento ingênuo: ingenuidade 
aqui deve ser entendida como atitude não - critica típica do saber que não se coloca como problema e não se questiona 
enquanto saber. 
Por isso, o senso comum não argumenta nem justifica. Vico dizia que é "um julgamento sem qualquer reflexão, 
comumente sentido por toda uma classe, todo um povo, toda uma nação, ou por todo o gênero humano" (Vico, G. 
Dignidade 12, em Ciência Nova, 1744). O senso comum não é uma faculdade particular, nem uma espécie de instinto, nem 
uma ciência, mas a concordância prática, o acordo espontâneo ou a síntese do que o homem entende, imagina, sente e 
deseja. As expressões: «falta-lhe o bom senso», ou «é um indivíduo sem qualquer senso» indicam o desacordo em que 
alguém está com esse «acordo comum», princípio universal de toda comunicabilidade. 
 
 Neste sentido, o senso comum é o conhecimento espontâneo tal como foi descrito, no seu caráter acrítico, difuso, 
fragmentário, dogmático, pois depende de ‘juízos pessoais’ a respeito das coisas, contém envolvimento das emoções e dos 
valores de quem observa. O senso comum, enquanto conhecimento espontâneo ou vulgar é ametódico e assistemático e 
nasce diante da tentativa do homem de resolver os problemas da vida diária. O homem do campo sabe plantar e colher 
segundo normas que aprendeu com seus pais, usando técnicas herdadas de seu grupo social e que se transformam 
lentamente em função dos acontecimentos casuais com os quais se depara. É um tipo de conhecimento empírico, porque 
se baseia na experiência cotidiana e comum das pessoas, distinguindo-se por isso da experiência científica, que exige 
planejamento rigoroso. É também um conhecimento ingênuo: ingenuidade aqui deve ser entendida como atitude não-
critica, típica do saber que não se coloca como problema e não se questiona enquanto saber. 
Vejamos alguns exemplos de sabedoria do senso comum: Quando uma pessoa faz um bolo, segue a receita e 
incorpora uma série de informações para o melhor sucesso do seu trabalho. Sabe que, ao bater as claras em neve, elas 
crescem e se tornam esbranquiçadas; que não convém abrir o forno quando o bolo começa a assar, senão ele murcha; que a 
medida adequada de fermento faz o bolo crescer. Se estiver fazendo pudim em banho-maria, sabe que uma fatia de limão 
na água evita o escurecimento da vasilha, o que facilitará seu trabalho posterior de limpeza. Essa pessoa sabe tudo isso, 
mas não conhece as causas, não consegue explicar por que e como ocorrem esses fenômenos. 
Em comparação com a ciência, o conhecimento espontâneo é fragmentário, pois não estabelece conexões onde 
estas poderiam ser verificadas. Por exemplo: não é possível ao homem comum perceber qualquer relação entre o orvalho 
da noite e o "suor" que aparece na garrafa que foi retirada da geladeira; nem entre a combustão e a respiração (esta é uma 
forma de combustão discreta, ou seja, a queima dos alimentos no processo digestivo paraobter energia é também uma 
combustão). Talvez o exemplo mais interessante seja o de Isaac Newton que, se dermos crédito à velha história, sem 
dúvida apócrifa, teria descoberto a lei da gravitação universal ao associar a queda de uma maçã à "queda" da Lua. 
É ainda um conhecimento particular restrito a pequena amostra da realidade, a partir da qual são feitas 
generalizações muitas vezes apressadas e imprecisas. O homem comum seleciona os dados observados sem nenhum 
critério de rigor, de forma ametódica e fortuita. Em outras palavras, conclui para todos os objetos o que vale para um ou 
para grupo de objetos observados. O senso comum é freqüentemente conhecimento subjetivo, o que ocorre, por exemplo, 
quando avaliamos a temperatura ambiente com a nossa pele, já que só o termômetro dá objetividade a essa avaliação. A 
mais: o senso comum depende de juízos pessoais a respeito das coisas, contêm envolvimento das emoções e dos valores de 
quem observa. É difícil para a mãe avaliar objetivamente a conduta do filho. Do mesmo modo, se temos antipatia por 
alguém, é preciso certo esforço para reconhecer, por exemplo, o seu valor profissional. Também, ao observar o 
comportamento de povos com costumes diferentes dos nossos, tendemos a julgá-los a partir de nossos valores, 
considerando-os estranhos, ignorantes, engraçados ou até desprezíveis. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As principais Características do Senso Comum são: 
●Caráter empírico – o senso comum é um saber que deriva diretamente da experiência quotidiana, não 
necessitando, por isso de uma elaboração racional dos dados recolhidos através dessa experiência. 
 
●Caráter acrítico – não necessitando de uma elaboração racional, o senso comum não procede a uma crítica 
dos seus elementos, é um conhecimento passivo, em que o indivíduo não se interroga sobre os dados da 
experiência, nem se preocupa com a possibilidade de existirem erros no seu conhecimento da realidade. 
 
●Caráter assistemático – o senso comum não é estruturado racionalmente, tanto ao nível da sua aquisição, 
como ao nível da sua construção, não existe um plano ou um projeto racional que lhe dê coerência. 
 
●Caráter ametódico – o senso comum não tem método, ou seja, é um saber que não segue nenhum 
conjunto de regras formais. Os indivíduos adquirem-no sem esforço e sem estudo. O senso comum é um 
saber que nasce da sedimentação casual da experiência captada ao nível da experiência quotidiana (por isso 
se diz que o senso comum é sincrético). 
 
●Caráter aparente ou ilusório – Como não há a preocupação de procurar erros, o senso comum é um 
conhecimento que se contenta com as aparências, formando por isso, uma representação ilusória, deturpada e 
falsa, da realidade. 
 
●Caráter coletivo – O senso comum é um saber partilhado pelos membros de uma comunidade, permitindo 
que os indivíduos possam cooperar nas tarefas essenciais à vida social. 
 
●Caráter subjetivo – O senso comum é subjetivo, porque não é objetivo: cada indivíduo vê o mundo à sua 
maneira, formando as suas opiniões, sem a preocupação de as testar ou de as fundamentar num exame isento 
e crítico da realidade. 
 
●Caráter superficial – O senso comum não aprofunda o seu conhecimento da realidade, fica-se pela 
superfície, não procurando descobrir as causas dos acontecimentos, ou seja, a sua razão de ser que, por sua 
vez, permitiria explicá-los racionalmente. 
 
●Caráter particular ou subjetivo – o senso comum não é um saber universal, uma vez que se fica pela 
aquisição de informações muito incompletas sobre a realidade (por isso também se diz que ele é 
fragmentário), não podendo, assim, fazer generalizações fundamentadas. 
 
●Caráter prático e utilitário – O senso comum nasce da prática quotidiana e está totalmente orientado para 
o desempenho das tarefas da vida quotidiana, por isso as informações que o compõem são o mais simples e 
direto possível. 
 
 
 
 
Senso comum (sensus communis): na tradição escolástica e mesmo ainda na filosofia 
cartesiana, órgão central que unifica as impressões oriundas dos diferentes *sentidos, 
constituindo a unidade dos dados sensoriais e, portanto, do *objeto. Em uma acepção 
mais típica do pensamento moderno, o senso comum é um conjunto de opiniões e valores 
característicos daquilo que é correntemente aceito em um meio social determinado. "O 
senso comum consiste em uma série de crenças admitidas no seio de uma sociedade 
determinada e que seus membros presumem serem partilhadas por todo ser racional" (C. 
Perelman). 
 (Dicionário básico de filosofia. Hilton Japiassú, Danilo Marcondes). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
X - A Ideologia 
Ideologia é o conjunto de idéias, conceitos e comportamentos que prevalecem sobre uma sociedade. Seu objetivo é 
encobrir as divisões existentes na sociedade e na política, mostrando uma forma maquiada de “indivisão”. A ideologia 
funciona invertendo os efeitos e as causas, resultando em imagens e sintomas, produzindo uma utopia social, usando o 
silêncio para encobrir a incoerência. 
A ideologia é um fenômeno histórico-social decorrente do modo de produção econômico. À medida que, numa formação 
social, uma forma determinada da divisão social se estabiliza, se fixa e se repete, cada indivíduo passa a ter uma atividade 
determinada e exclusiva, que lhe é atribuída pelo conjunto das relações sociais, pelo estágio das forças produtivas e pela 
forma da propriedade. 
 
Cada um, por causa da fixidez e da repetição de seu lugar e de sua atividade, tende a considerá-los naturais (por exemplo, 
quando alguém julga que faz o que faz porque tem talento ou vocação natural para isso; quando alguém julga que, por 
natureza, os negros foram feitos para serem escravos; quando alguém julga que, por natureza, as mulheres foram feitas 
para a maternidade e o trabalho doméstico). 
 
A naturalização surge sob a forma de idéias que afirmam que as coisas são como são porque é natural que assim sejam. As 
relações sociais passam, portanto, a ser vistas como naturais, existentes em si e por si, e não como resultados da ação 
humana. A naturalização é a maneira pela qual as idéias produzem alienação social, isto é, a sociedade surge como uma 
força natural estranha e poderosa, que faz com que tudo seja necessariamente como é. Senhores por natureza, escravos por 
natureza, cidadãos por natureza, proprietários por natureza, assalariados por natureza, etc. 
 
A divisão social do trabalho, iniciada na família, prossegue na sociedade e, à medida que esta se torna mais complexa, leva 
a uma divisão ente dois tipos fundamentais de trabalho: o trabalho material de produção de coisas e o trabalho intelectual 
de produção de idéias. No início, essa segunda forma de trabalho social é privilégio dos sacerdotes; depois, torna-se função 
de professores e escritores, artistas e cientistas, pensadores e filósofos. 
 
Os que produzem idéias separam-se dos que produzem coisas, formando um grupo à parte. Pouco a pouco, à 
medida que vão ficando cada vez mais distantes e separados dos trabalhadores materiais, os que pensam 
começam a acreditar que a consciência e o pensamento estão, em si e por si mesmos, separados das coisas 
materiais, existindo em si e por si mesmos. Passam a acreditar na independência entre a consciência e o mundo 
material, entre o pensamento e as coisas produzidas socialmente. Conferem autonomia à consciência e às idéias 
e, finalmente, julgam que as idéias não só explicam a realidade, mas produzem o real. Surge a ideologia como 
crença na autonomia das idéias e na capacidade de as idéias criarem a realidade. 
 
Ora, o grupo dosque pensam sacerdotes, professores, artistas, filósofos, cientistas não nasceu do nada. Nasceu 
não só da divisão social do trabalho, mas também de uma divisão no interior da classe dos proprietários ou 
classe dominante de uma sociedade. Como conseqüência, o grupo pensante (os intelectuais) pensa com as idéias 
dos dominantes; julga, porém, que tais idéias são verdadeiras em si mesmas e transformam idéias de uma classe 
social determinada em idéias universais e necessárias, válidas para a sociedade inteira. 
 
Como o grupo pensante domina a consciência social, tem o poder de transmitir as idéias dominantes para toda a 
sociedade, através da religião, das artes, da escola, da ciência, da filosofia, dos costumes, das leis e do direito, 
moldando a consciência de todas as classes sociais e uniformizando o pensamento de todas as classes. 
 
Alienação Social 
A alienação social é o desconhecimento das condições 
histórico-sociais concretas em que vivemos, produzidas 
pela ação humana também sob o peso de outras 
condições históricas anteriores e determinadas. Há uma 
dupla alienação: por um lado, os homens não se 
reconhecem como agentes e autores da vida social com 
suas instituições, mas, por outro lado e ao mesmo tempo, 
julgam-se indivíduos plenamente livres, capazes de 
mudar suas vidas individuais como e quando quiserem, 
apesar das instituições sociais e das condições históricas. 
No primeiro caso, não percebem que instituem a 
sociedade: no segundo caso, ignoram que a sociedade 
instituída determina seus pensamentos e ações, 
As três formas da alienação social: 
1-Aliienação social, na qual os humanos não se 
reconhecem como produtores das instituições 
sociopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam 
passivamente tudo o que existe, por ser tido como 
natural, divino ou racional, ou se rebelam 
individualmente, julgando que, por sua própria vontade e 
inteligência, podem mais do que a realidade que os 
condicion 
 
2- Alienação econômica, na qual os produtores não se 
reconhecem como produtores, nem se reconhecem nos 
objetos produzidos por seu trabalho. Em nossas 
sociedades modernas, a alienação econômica é dupla: 
3- Alienação intelectual, resultante da separação social 
entre trabalho material (que produz mercadorias) e 
trabalho intelectual (que produz idéias). A divisão social 
entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o 
trabalho material é uma tarefa que não exige 
conhecimentos, mas apenas habilidades manuais, 
enquanto o trabalho intelectual é responsável exclusivo 
pelos conhecimentos. Vivendo numa sociedade alienada, 
os intelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla: 
Primeiro, esquecem ou ignoram que suas idéias estão 
ligadas às opiniões e pontos de vista da classe a que 
pertencem, isto é, a classe dominante, e imaginam, ao 
contrário, que são idéias universais, válidas para todos, 
em todos os tempos e lugares. Segundo, esquecem ou 
ignoram que as idéias são produzidas por eles para 
explicar a realidade e passam a crer que elas se 
encontram gravadas na própria realidade e que eles 
apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias 
gerais. Terceiro, esquecendo ou ignorando a origem 
social das idéias e seu próprio trabalho para criá-las, 
acreditam que as idéias existem em si e por si mesmas, 
criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. 
instrumentos delas. As idéias se tornam separadas de seus 
autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se 
um outro. 
 
 
 
 
 
 
 
O conhecimento científico e a sua caracterização 
Quando nos deparamos com o tema da ciência, uma polêmica logo se faz presente quanto ao significado que se quer dar ao 
termo ciência. Assim, para o senso comum a ciência significa uma coisa, como significou outra coisa para Aristóteles e Platão, tem, 
ainda um significado bem especifico para os filósofos e cientistas da contemporaneidade. Para o senso comum, a ciência pode significar 
habilidade na execução de uma tarefa específica ou uma informação mais apurada sobre um determinado assunto. Nos dias atuais, a 
ciência reveste-se de um caráter especial: não é simplesmente uma habilidade especial, nem um conhecimento obtido com o uso da razão 
sobre um objeto qualquer, mas sim um conhecimento rigoroso, sistematizado e demonstrado metododicamente. 
É neste sentido que trataremos de examinar o conhecimento científico, ou seja, através do seu caráter sistemático, metodológico 
e do seu rigor. Diferentemente do senso comum, que concebia o mundo fragmentado, a ciência ou o conhecimento científico passa a 
conceber os fatos do mundo através de uma explicação investigativa, cuja causa deve ser explicada e comprovada. Explicar uma causa é 
resolver um problema sobre o porquê de um fato. No entanto, no caso do conhecimento cientifico somente se pode explicar um fato 
através da utilização de um método adequado. 
A ciência é ruptura ou uma extensão intelectualizada do senso comum? A resposta parece óbvia, mas é preciso pensar o 
problema. O óbvio aqui é dizer que é ruptura, crítica ao senso comum, porque é evidente que a ciência é um saber cumulativo muito mais 
sólido que o saber do cidadão que vive normalmente sua vida, tem sua fonte de informações na TV e se interessa pouco pela literatura 
científica especializada. Mas qual o sentido dessa diferença? Será que os cientistas fazem ciência por amor ao saber pelo saber? Será que 
se consideram acima dos simples mortais? 
A primeira questão inevitável é esta: ciência é uma forma de saber que não se constrói ao acaso, mas se obtém por meio de um 
método científico. O método científico exige uma dose considerável de penetração, de análise, experimentação e organização. Você 
pode até dizer que essas características também estão presentes no senso comum, mas não é a mesma coisa. O senso comum é 
caracterizado por um apego a imagens, sensações e por um desinteresse na busca de explicações e justificativas. 
 
A palavra método tem sua origem na língua grega (em grego ‘meta’ quer dizer através de, por meio de e ‘hodós’, caminho). O 
método, portanto, sinaliza para a ciência que suas especulações precisam seguir um caminho para se obter resultados seguros, embora o 
caminho não lhe traga garantias que de que os resultados esperados sejam realmente o que buscamos. É como você ter uma receita e 
querer fazer um bolo. A receita é o método e o bolo é a solução do problema que você irá resolver. Na ciência, tudo se passa como se 
alguém perguntasse se o “bolo está bom”, e você respondesse que ele está delicioso porque você seguiu perfeitamente a receita. Ou seja, 
você não pode aperfeiçoar seu bolo com toques especiais na preparação, não pode por seus preconceitos e sentimentos, e muito menos 
suas crenças pessoais. A ciência quer somente que seu bolo seja conforme a receita diz. Tudo bem que a receita pode em certos casos ser 
omissa. Mas neste caso, você pode fazer o que quiser, sem ficar em desacordo com o método. 
O método é um estranho caminho, que nos leva a um lugar, mas não temos certeza que lugar é este. Assim o método configura-
se como um “roteiro de pesquisa”, ou seja, uma orientação que guia a ciência na busca das explicações sobre os fatos. No entanto, é 
importante notar que a utilidade do método para a ciência não consiste em chegar a conclusões dos seus problemas mais gerais, mas, 
sobretudo, em evitar que a sua atividade se perca enquanto procura resolver seus problemas. Ou seja, o método não garante que se 
chegue lá onde se quer chegar, mas garante que não se assumam certos procedimentos em desacordo com o procedimento científico. O 
método cientifico pode ser resumido em quatro momentos principais: a observação, a hipótese, a experimentação e a generalização:>A observação científica: Observar é uma das atitudes mais comuns de todo ser humano. 
Observarmos o comportamento dos outros, como se veste, como fala, como come etc., observamos o clima 
dentre outras coisas. Este tipo de observação, normalmente, ocorre de uma forma superficial e aleatória, isto 
é, observamos por acaso sem uma preocupação de levarmos isso a diante, pois esta observação é própria de 
nossa consciência espontânea ou natural. Ao contrário da observação natural, a observação científica só se dá 
numa consciência anteriormente preparada para a pesquisa científica. Portanto, a observação cientifica 
pressupõe um conjunto de conhecimentos e informações prévias daquilo que se está observando. 
>A hipótese científica: A observação cientifica pode originar a uma hipótese cientifica. Por hipótese 
deve se entender uma explicação provisória que necessita de um amadurecimento maior e uma averiguação 
posterior. 
>A experimentação científica: A característica da hipótese consiste em não concluir a certeza ou a 
evidencia, pois assim, não seria mais considerada uma hipótese, mas um postulado. Uma vez lançada a 
hipótese, a ciência prepara as condições necessárias para a sua verificação. Enquanto, no primeiro momento, 
a observação se dá in loco, aqui a observação se faz a partir de um artifício, pois o cientista forja uma 
situação o qual o objeto de seu estudo pode receber um tratamento mais minucioso. Além disso, a ciência faz 
uso dos instrumentos que considera adequado para o controle do mesmo. 
>Generalização: Uma vez confirmada a hipótese, o cientista chega ao momento mais almejado: a 
generalização da sua hipótese, ou seja, a conclusão obtida em que seja aplicada a situações semelhantes 
àquela particularmente testada. As generalizações são, portanto, o ponto de chegada de uma pesquisa 
científica. No entanto, esta deve proceder de uma linguagem apropriada. Isto quer dizer que a ciência possui 
uma linguagem extremamente rigorosa cujos conceitos são definidos de a evitar ambigüidades. Desta forma, 
a linguagem científica torna-se cada vez mais precisa, na medida em que utiliza a matemática como a 
linguagem específica da ciência. A matematização da ciência se inicia com a partir do século XVII com 
Galileu Galileu. Depois de Galileu Galilei, os acontecimentos do mundo são interpretados enquanto 
representados matematicamente, portanto, enquanto experimentados e medidos. 
 
 
 
“Entre o conhecimento comum e o conhecimento científico a ruptura nos parece tão nítida que estes 
dois tipos de conhecimento não poderiam ter a mesma filosofia. O empirismo é a filosofia que convém 
ao conhecimento comum. O empirismo encontra aí sua raiz, sujas provas, seu reconhecimento. Ao 
contrário, o conhecimento científico é solidário com o racionalismo e, quer se queria ou não, o 
racionalismo está ligado à ciência, o racionalismo reclama fins científicos. Pela atividade científica, o 
racionalismo conhece uma atividade dialética que prescreve uma extensão constante de métodos”. 
(BACHELARD, 1972, p. 45) 
 
 
 
 
 
 
Atitude Científica 
O que distingue a atitude científica da atitude costumeira ou do senso comum? Antes de qualquer coisa, 
a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de 
crítica e da falta de curiosidade. Por isso, ali onde vemos coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê 
problemas e obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas. Sob quase 
todos os aspectos, podemos dizer que o conhecimento científico opõe se ponto por ponto às características do 
senso comum: 
 
■ Sistematização: A ciência organiza-se sob a forma sistêmica, isto é, em sistemas. Por sistema, entende-se 
o caráter orgânico e coerente em que as hipóteses e conclusões da ciência estão dispostas; 
■ Verificação: As conclusões científicas são passiveis de verificação. Certos casos, através dessas 
experiências uma hipótese é comprovada, torna-se, por sua vez, uma teoria; 
■ Operatividade: Consiste no postulado de que todo e qualquer conceito cientifico somente tem valor 
científico, se for definido mediante uma série de operações físicas, experiências e medidas idealmente 
possíveis; 
■ Objetividade: Capacidade de distanciamento de todo elemento afetivo e subjetivo, isto é, tendência a ser 
independente dos “sentimentos pessoais”. A objetividade da ciência quer dizer, sobretudo, que o seu 
conhecimento tem um caráter universal. 
 
 
O que é uma teoria científica? 
 
É um sistema ordenado e coerente de proposições ou enunciados baseados em um pequeno número 
de princípios, cuja finalidade é descrever, explicar e prever do modo mais completo possível um 
conjunto de fenômenos, oferecendo suas leis necessárias. A teoria científica permite que uma 
multiplicidade empírica de fatos aparentemente muito diferentes sejam compreendidos como 
semelhantes e submetidos às mesmas leis; e, vice-versa, permite compreender por que fatos 
aparentemente semelhantes são diferentes e submetidos a leis diferentes. 
 
Ciência (lat. scientia: saber, conhecimento) 1. Em seu sentido amplo e clássico, a ciência é um *saber metódico e 
rigoroso, isto é, um conjunto de conhecimentos metodicamente adquiridos, mais ou menos sistematicamente 
organizados, e suscetíveis de serem transmitidos por um pro-cesso pedagógico de ensino. 2. Mais modernamente, é a 
modalidade de saber constituída por um conjunto de aquisições intelectuais que tem por finalidade propor uma 
explicação racional e objetiva da realidade. Mais precisamente ainda: é a forma de conhecimento que não somente 
Pretende apropriar-se do real para explicá-lo de modo racional e objetivo, mas procura estabelecer entre os fenômenos 
observados relações universais e necessárias, o que autoriza a previsão de resultados (efeitos) cujas causas podem 
ser detectadas mediante procedi-mentos de controle experimental. (Dicionário de Filosofia, Japiassú & Marcondes). 
 
 
 
 
 
 
Classificação das ciências: 
 
Ciência, no singular, refere-se a um modo e a um ideal de conhecimento que examinamos até aqui. 
Ciências, no plural, refere-se às diferentes maneiras de realização do ideal de cientificidade, segundo os 
diferentes fatos investigados e os diferentes métodos e tecnologias empregados. A primeira classificação 
sistemática das ciências de que temos notícia foi a de Aristóteles, à qual já nos referimos no início deste 
livro. 
O filósofo grego empregou três critérios para classificar os saberes: 
 
1- critério da ausência ou presença da ação humana nos seres investigados, levando à distinção entre as 
ciências teoréticas (conhecimento dos seres que existem e agem independentemente da ação humana) e 
ciências práticas (conhecimento de tudo quanto existe como efeito das ações humanas); 
 
2- critério da imutabilidade ou permanência e da mutabilidade ou movimento dos seres investigados, 
levando à distinção entre metafísica (estudo do Ser enquanto Ser, fora de qualquer mudança), física ou 
ciências da Natureza (estudo dos seres constituídos por matéria e forma e submetidos à mudança ou ao 
movimento) e matemática (estudo dos seres dotados apenas de forma, sem matéria, imutáveis, mas 
existindo nos seres naturais e conhecidos por abstração); 
 
2- critério da modalidade prática, levando à distinção entre ciências que estudam a práxis (a ação ética, 
política e econômica, que tem o próprio agente como fim) e as técnicas (a fabricação de objetos artificiais 
ou a ação que tem como fim a produção de um objeto diferente do agente). 
 
Com pequenas variações, essa classificação foi mantida até o século XVII, quando, então, os 
conhecimentos se separaram em filosóficos, científicos e técnicos. A partirdessa época, a Filosofia tende 
a desaparecer nas classificações científicas (é um saber diferente do científico), assim como delas 
desaparecem as técnicas. Das inúmeras classificações propostas, as mais conhecidas e utilizadas foram 
feitas por filósofos franceses e alemães do século XIX, baseando-se em três critérios: tipo de objeto 
estudado, tipo de método empregado, tipo de resultado obtido. Desses critérios e da simplificação feita 
sobre as várias classificações anteriores, resultou aquela que se costuma usar até hoje: 
 
1- ciências matemáticas ou lógico-matemáticas (aritmética, geometria, álgebra, trigonometria, lógica, 
física pura, astronomia pura, etc.); 
 
2- ciências naturais (física, química, biologia, geologia, astronomia, geografia física, paleontologia, etc.); 
 
3- ciências humanas ou sociais (psicologia, sociologia, antropologia, geografia humana, economia, 
lingüística, psicanálise, arqueologia, história, etc.); 
 
4- ciências aplicadas (todas as ciências que conduzem à invenção de tecnologias para intervir na 
Natureza, na vida humana e nas sociedades, como por exemplo, direito, engenharia, medicina, 
arquitetura, informática, etc.). 
 
Cada uma das ciências subdivide-se em ramos específicos, com nova delimitação do objeto e do 
método de investigação. Assim, por exemplo, a física subdivide-se em mecânica, acústica, óptica, etc.; a 
biologia em botânica, zoologia, fisiologia, genética, etc.; a psicologia subdivide-se em psicologia do 
comportamento, do desenvolvimento, psicologia clínica, psicologia social, etc. E assim sucessivamente, 
para cada uma das ciências. Por sua vez, os próprios ramos de cada ciência subdividem-se em disciplinas 
cada vez mais específicas, à medida que seus objetos conduzem a pesquisas cada vez mais detalhadas e 
especializadas.

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