Prévia do material em texto
SEPSE P R O F . B R U N O B U Z O Estratégia MED INFECTOLOGIA Prof. Bruno Buzo | Sepse 2 PROF. BRUNO BUZO APRESENTAÇÃO: @drbrunobuzo Fale, futuro Residente, tudo bem com você? Hora de usarmos toda sua dedicação para estudar um assunto transversal que cai muito por aí: sepse. Esse tema é confuso para a maioria dos alunos, pois tivemos três consensos norteadores sobre as principais classificações e manejo desses pacientes, sendo um tópico que se atualiza com velocidade enorme. Não se desespere: estou aqui para desfazer cada nó em sua cabeça e garantir que nenhum dos detalhes favoritos da banca torne-se uma dificuldade para você. Mais que aprender para os exames de Residência, leia este livro digital com carinho, pois a sepse é uma das urgências mais comuns na prática clínica de crianças, adultos e idosos. Conte comigo neste capítulo e no nosso fórum, tanto para resolver as dúvidas sobre esse tema quanto para organizar seus estudos e ajudá-lo a chegar mais perto de seus objetivos. Meu nome é Bruno, sou médico infectologista, nascido e criado em Rio Claro - SP, professor e viajante do mundo. Provavelmente ao contrário de você, resolvi fazer Medicina aos quarenta e cinco do segundo tempo, após desistir das carreiras de comunicação e artes cênicas e dizer ao meu professor de Biologia: “quero estudar fisiologia humana e ajudar pessoas”. Foi quando ele riu, virou-se pra mim e disse: “acho que você acabou de decidir que quer ser médico”. Aquilo me assustou na hora e subiu-me um frio pela espinha: Medicina? Concorrência? Anos no cursinho? A ideia gerou insônia por três longos dias. Porém, algo que sempre admirei em mim é minha persistência em relação a um objetivo. https://www.instagram.com/drbrunobuzo/ https://www.instagram.com/profsergioinfecto/ Estratégia MED INFECTOLOGIA Prof. Bruno Buzo | Sepse 3 @estrategiamed /estrategiamed Estratégia MED t.me/estrategiamed Minhas horas de estudo diário renderam-me duas aprovações nos vestibulares, sem precisar de uma segunda chance. A partir disso, tornei-me um entusiasta das primeiras chances e vou fazer você acreditar na sua durante todo este processo. Estudei Medicina na PUC-Campinas e sempre fui reconhecido pelos resumos cheios de tabelas, esquemas, desenhos e a letra redondinha. Acredito que o conhecimento só cresce quando a gente o compartilha e eu sempre aprendia mais quando ensinava aos colegas. Por conta disso, fiz muitas monitorias na universidade: histologia, microbiologia, imunologia e epidemiologia clínica. Percebeu que sempre nadei contra a maré, né? Jamais gostei das coisas populares, como técnica cirúrgica, mas bastava ter um assunto cheio de flechinhas, números, nomes em itálico e lá estava eu: fascinado. Como nada na minha vida foi fruto de decisões fáceis, decidi seguir em alguma especialidade da clínica médica, mas a batalha era grande entre infectologia, hematologia e oncologia. No quinto ano, fiz estágio opcional no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, onde me apaixonei pela especialidade e suas nuances entre microrganismos, pessoas e sociedade: eram pacientes que melhoravam rápido e para os quais eu poderia falar a palavra “cura” mais frequentemente que o normal. Foi aí que resolvi deixar as concorrentes de lado para me tornar Infectologista. Em 2016, iniciei minha Residência Médica no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, programa que escolhi por ter maior foco em infectologia geral e porque tinha essa visão acadêmica, que misturava ensino e pesquisa e que sempre foi muito agradável para mim. No segundo ano da Residência, uma nova paixão surgiu: transplantes. Que ideia maluca transferir um órgão de uma pessoa e oferecer muitos anos de vida a uma outra com doença terminal, não é mesmo? E se a gente temperar essa maluquice toda com imunossupressores de diversas classes, fungos com nomes estranhos e diagnósticos diferenciais desafiadores? Eu estava lá, de olhinhos brilhando. Resolvi, então, deixar a proposta de preceptoria de lado, guardei o giz no armário e fui fazer um ano adicional de fellowship em Infecção de Transplantados e Oncologia na University of Alberta, no Canadá. Percebi que – no fundo – eu estava juntando todas as áreas nas quais tinha dúvidas lá atrás, com mais sete meses de neve no caminho e um pager que não parava de tocar (e eu achando que só existia isso em seriado). Quando percebi, estava randomizando estudos-chave em infectologia e respondendo a mensagens de outros médicos que pediam minha opinião sobre casos. Sou a prova viva de que muita coisa muda em 10 anos e que você estará, certamente, onde nunca imaginou que estaria. Além de ser professor no Estratégia MED, trabalho em Salvador/BA com infectologia geral e desenvolvo protocolos para prevenção, tratamento e acompanhamento de infecções em pacientes transplantados. Acredito que repassar informação é fácil, mas ensinar, tirar o balãozinho da dúvida da cabeça do aluno e garantir um sorriso seguido de “entendi!” é algo totalmente diferente disso. Um forte abraço e muita persistência nessa jornada. Lembre-se: ela é que vai definir a distância do seu sucesso. https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.instagram.com/estrategiamed/ https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.facebook.com/estrategiamed1 https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw https://www.youtube.com/channel/UCyNuIBnEwzsgA05XK1P6Dmw https://t.me/estrategiamed https://t.me/estrategiamed Estratégia MED INFECTOLOGIA Prof. Bruno Buzo | Sepse 4 O QUE CAI SOBRE SEPSE POR AÍ? No gráfico abaixo, notamos que, dentro deste tema, as medidas de manejo inicial e a classificação da sepse são os temas mais prevalentes. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 5 INFECTOLOGIA Sepse SUMÁRIO O QUE CAI SOBRE SEPSE POR AÍ? 4 1.0 INTRODUÇÃO 7 1.1 EPIDEMIOLOGIA DA SEPSE 7 1.2 FATORES DE RISCO 8 2.0 EVOLUÇÃO DOS CONSENSOS DE SEPSE 10 3.0 DEFINIÇÕES 11 4.0 FISIOPATOLOGIA DA SEPSE 13 4.1 CITOCINAS PRÓ E ANTI-INFLAMATÓRIAS 15 4.2 ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS E ACIDOSE METABÓLICA 18 4.3 ALTERAÇÕES VENTILATÓRIAS NA SEPSE 20 4.4 ALTERAÇÕES CARDIOLÓGICAS NA SEPSE 23 4.5 ALTERAÇÕES RENAIS NA SEPSE 24 4.6 ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS NA SEPSE 28 4.7 ALTERAÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL NA SEPSE 30 4.8 ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS NA SEPSE 30 4.9 ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS NA SEPSE 34 5.0 ESCORES DE TRIAGEM PARA SUSPEITA DE SEPSE 34 5.1 SÍNDROME DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA SISTÊMICA (SIRS) 34 5.2 ESCORE QUICK SOFA 39 5.3. NEWS2 E MEWS 40 5.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS ESCORES 42 6.0 ESCORES PROGNÓSTICOS NA SEPSE 45 6.1. ESCORE SOFA 45 6.2 ESCORE MOTTLING (LIVEDO RETICULAR) 49 7.0 CLASSIFICAÇÃO DA SEPSE 50 Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 6 7.1 CLASSIFICAÇÃO PELO SEPSIS-1 E SEPSIS-2 51 7.2 CLASSIFICAÇÃO PELO SEPSIS-3 (ATUAL) 51 8.0 MANEJO DA SEPSE 55 8.1 COLETA DE PROVAS DE DISFUNÇÃO ORGÂNICA (INCLUINDO LACTATO) 55 8.1.1 LACTATO ARTERIAL 56 8.2 COLETA DE CULTURAS 56 8.3 ANTIBIOTICOTERAPIA E CONTROLE DO FOCO 57 8.4 RESSUSCITAÇÃO VOLÊMICA 58 8.5 DROGAS VASOATIVAS (DVAS) 59 8.6 MONITORIZAÇÃO DA RESSUSCITAÇÃO NA SEPSE 61 9.0 CONDUTAS ADICIONAIS NO MANEJO INICIAL DA SEPSE 65 7.1 USO DE CORTICOSTEROIDES 65 9.2 CONTROLE GLICÊMICO 66 9.3 VENTILAÇÃO PROTETORA 66 9.4 NUTRIÇÃO DO PACIENTE COM SEPSE 66 9.5. TRANSFUSÃO DE HEMÁCIAS 67 10.0 CONDUTAS CONTRAINDICADAS NO MANEJO INICIAL DA SEPSE 67 10.1 USO DE BICARBONATO DE SÓDIO 67 10.2 TERAPIA RENAL SUBSTITUTIVA PRECOCE 67 10.3 PROTEÍNA C ATIVADA 68 11.0 LISTA DE QUESTÕES 69 12.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 70 13.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS 71 Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 7 INFECTOLOGIA Sepse CAPÍTULO 1.0 INTRODUÇÃO 1.1 EPIDEMIOLOGIA DA SEPSE A sepse é definida como uma resposta inflamatória exacerbada e deletéria do hospedeiro frente a uma infecção adquirida na39 INFECTOLOGIA Sepse 5.2 ESCORE QUICK SOFA Pensando na alta sensibilidade do antigo SIRS e na dificuldade de aplicação em áreas com poucos recursos, a Society of Critical Care Medicine, junto à European Society of Intensive Care Medicine, criou um novo escore, em 2016: o quick SOFA. “E do que esse escore é composto, professor?” De três critérios clínicos exclusivos e frequentemente alterados no paciente com sepse: alteração do nível de consciência, pressão arterial sistólica e frequência respiratória. Veja o que compõe o quick SOFA? Veja abaixo: “E como eu decoro isso, professor?” É só lembrar do “CPF da sister”: Alteração do nível de Consciência Componentes do Quick SOFA Pressão arterial sistólica 22 irpm > 2 pontos: critério positivo Consciência Pressão Frequência SIStólica Figura 15: Componentes do quick SOFA Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 40 Temos de lembrar, também, que o quick SOFA não tem coração, ele é cruel. Nunca marque uma alternativa que coloca frequência cardíaca no quick SOFA. É sempre a respiratória. Agora olhe com carinho para o sinal matemático: a pressão é menor ou igual a 100 mmHg e a frequência respiratória maior ou igual a 22 irpm. Sempre tem o igual. Várias bancas já brincaram com isso. O quick SOFA surgiu como alternativa aos antigos critérios de SIRS, apresentando maior especificidade para identificar pacientes com maior risco de evolução grave, mas à custa de menor sensibilidade — ou seja, poderia-se deixar de identificar alguns pacientes com sepse nas fases iniciais. Essa limitação gerou críticas importantes ao Sepsis-3. De fato, a Surviving Sepsis Campaign 2021 emitiu uma recomendação forte contra o uso do qSOFA como ferramenta única de triagem para sepse ou choque séptico, destacando sua baixa sensibilidade. A diretriz não afirma que outros escores (como SIRS, NEWS ou MEWS) são superiores ao qSOFA em desempenho, mas sim destaca que o qSOFA tem baixa sensibilidade, o que pode levar à falha na identificação precoce de pacientes sépticos. 5.3. NEWS2 E MEWS Além do qSOFA e dos critérios de SIRS, é importante conhecer outros dois escores utilizados para detectar sinais precoces de deterioração clínica: o NEWS2 (National Early Warning Score 2) e o MEWS (Modified Early Warning Score). Esses escores são usados principalmente em prontos-socorros e enfermarias para monitorar pacientes com risco clínico aumentado, mesmo fora da UTI, permitindo intervenções precoces em casos de infecção, insuficiência respiratória ou outras causas de instabilidade. O NEWS2 é uma versão atualizada do NEWS original, desenvolvido pelo NHS do Reino Unido. Ele inclui ajustes importantes para pacientes com hipóxia crônica, como os portadores de DPOC, e é hoje um dos escores utilizados em protocolos de detecção precoce de sepse. Tabela – NEWS2 Parâmetro 3 pontos 2 pontos 1 ponto 0 pontos 1 ponto 2 pontos 3 pontos FR (irpm) ≤8 9–11 12–20 21–24 ≥25 SpO₂ – Escala 1 (%) ≤91 92–93 94–95 ≥96 SpO₂ – Escala 2 (%) (hipóxia crônica) ≤83 84–85 86–87 88–92≥93 (em ar) 93–94 (com O₂) 95–96 (com O₂) ≥97 (com O₂) Uso de O₂ suplementar — — — 0 = ar ambiente +2 se com oxigênio suplementar PAS (mmHg) ≤90 91–100 101–110 111–219 ≥220 FC (bpm) ≤40 41–50 51–90 91–110 111–130 ≥131 Consciência (AVPU) — — — Alerta (A) — — Confuso, responde à voz/dor ou inconsciente (CVPU) Temperatura (°C) ≤35,0 35,1–36,0 36,1–38,0 38,1–39,0 ≥39,1 Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 41 INFECTOLOGIA Sepse Interpretação da pontuação do NEWS2 Nível de alerta Definição Conduta recomendada Baixo NEWS2 total entre 1 e 4 Monitoramento clínico contínuo; avaliação de rotina Alerta por escore vermelho Pontuação 3 em qualquer parâmetro isolado (mesmo com escore total baixo) Reavaliação clínica imediata Médio NEWS2 total de 5 ou 6 Avaliação médica urgente – risco de deterioração aguda Alto NEWS2 total ≥ 7 Alerta crítico – considerar transferência para UTI MEWS – Modified Early Warning Score O MEWS é um escore mais simples, tradicionalmente usado em enfermarias para monitoramento de pacientes. Embora menos detalhado que o NEWS2, continua sendo útil em ambientes com menor estrutura de monitoramento contínuo. Tabela – MEWS Pontuação 3 2 1 0 1 2 3 Frequência respi- ratória 30 Frequência cardíaca 130 Pressão arterial sistólica 200 Temperatura 38,5 Nível de consciência Alerta Comando de voz Dor Não responsivo MEWS ≥ 5 está associado a maior risco de óbito ou necessidade de admissão em UTI. Além disso, uma pontuação de 3 em qualquer parâmetro isolado já indica a necessidade de considerar cuidados de maior complexidade. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 42 Importante: Não é fácil decorar todos os intervalos numéricos do NEWS2 e do MEWS, e isso nem sempre é cobrado com exatidão em provas. O mais importante é entender o conceito por trás desses escores: eles ajudam a identificar precocemente pacientes em risco de deterioração clínica e indicam quando é necessário intensificar o monitoramento ou acionar uma resposta médica rápida. 5.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS ESCORES Tabela Comparativa – Escores para Triagem de Sepse e Deterioração Clínica Escore Critérios Utilizados Foco Clínico P o n t o de Corte Típico Principais Vanta- gens Limitações qSOFA - FR ≥ 22 irpm - PAS ≤ 100 mmHg - Rebaixamento do nível de consciência (Glasgow 38°C ou 90 bpm - FR > 20 irpm ou PaCO₂ 12.000 ou 10% bastões Resposta inflamatória sistêmica, não específica ≥ 2 critérios Alta sensibilidade; bom para triagem inicial Pouca especificidade; pode superestimar sepse NEWS2 - FR - Saturação de O₂ - Necessidade de O₂ - Temperatura - FC - PAS - Nível de consciência (AVPU) Deterioração clínica global (não específico para sepse) ≥ 5 pontos Alta acurácia preditiva; usado em monitoramento contínuo Mais complexo; exige monitoramento e cálculo MEWS - FR - FC - PAS - Temperatura - Nível de consciência (AVPU) Risco clínico e alerta precoce de deterioração ≥ 5 pontos Fácil aplicação em enfermarias; mais simples que o NEWS2 Menos abrangente; menor acurácia que o NEWS2 Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 43 INFECTOLOGIA Sepse Lembre-se de que a Surviving Sepsis Campaign, em sua versão mais recente, não recomenda qSOFA como ferramenta única de triagem, mas também não afirma diretamente que SIRS, NEWS ou MEWS são claramente superiores. Ela defende que o uso de ferramentas de triagem deve ir além do qSOFA, considerando-se o contexto clínico, outros escores (como SIRS, NEWS, MEWS) e ferramentas automatizadas quando disponíveis, sem especificar um único escore para triagem. Agora é hora de você ver o quanto aprendeu até aqui: CAI NA PROVA (UDI - 2018 - Acesso Direto) No intuito de facilitar a triagem de pacientes suspeitos de sepse à beira do leito, a Sepsis International Task Force passou a recomendar o uso do quick SOFA (qSOFA) como ferramenta. As três variáveis avaliadas no qSOFA são: A) Frequência respiratória, nível de consciência e frequência cardíaca. B) Pressão arterial, oximetria de pulso e frequência cardíaca. C) Frequência cardíaca, frequência respiratória e pressão arterial. D) Nível de consciência, pressão arterial e frequência respiratória. E) Oximetria de pulso, pressão arterial e nível de consciência. COMENTÁRIO: Questão direta, certo? Só lembrar do CPF da sister (consciência, pressão sistólica e frequência respiratória). Correta a alternativaD: (UNIFESP - 2019 - Acesso Direto) Em 2016 foi publicado o SEPSIS-3, com a proposta de novas definições para sepse. Um escore sugerido para a identificação de pacientes com sepse foi o Quick Sequential Organ Failure Assessment (qSOFA). Quais são os componentes deste escore? A) Taquicardia, taquipneia e alteração do nível de consciência. B) Taquipneia, alteração do nível de consciência e febre. C) Taquipneia, hipotensão e febre. D) Hipotensão, febre e alteração do nível de consciência. E) Taquipneia, hipotensão e alteração do nível de consciência. COMENTÁRIO Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 44 INFECTOLOGIA Sepse As questões repetem-se e querem saber as variáveis componentes do quick SOFA. É só jogar o “CPF da sister” aqui novamente, vendo que a alternativa correta é a que fala sobre taquipneia, hipotensão (para completar, teria que ser sistólica) e alteração do nível de consciência. Correta a alternativa E. (HFA-DF - 2020 - Acesso Direto) Um paciente de 72 anos de idade, diabético, foi admitido no departamento de emergência sonolento, hipoativo, taquipneico e febril. Familiares informaram tosse produtiva e hiporexia há quatro dias. Os sinais vitais aferidos no atendimento inicial mostraram pressão arterial de 70/40 mmHg, frequência cardíaca de 126 batimentos por minuto, frequência respiratória de 28 incursões por minuto, saturação periférica de oxigênio de 81% em ar ambiente, temperatura axilar de 39,1 ºC e glicemia de 168 mg/dL. Ao exame físico, o paciente pontuava 6 na escala de coma de Glasgow, suas pupilas estavam isocóricas e fotorreagentes e a ausculta pulmonar era rude, com crepitações predominantes em base pulmonar direita. O hemograma evidenciou leucocitose (21.000 leucócitos), com 14% de bastões. Com base nesse caso hipotético e nos conceitos médicos a ele associados, julgue o item a seguir. O paciente pontua 2 no escore quick SOFA, o que confirma o diagnóstico de sepse. A) Certo. B) Errado. COMENTÁRIO: Cuidado com essa questão, senhor ligeirinho. Se você leu o quadro clínico desse idoso e falou “já sei, é sepse” e marcou a opção A, você errou. Esse paciente tem sepse sim, mas tem três pontos no escore quick SOFA (alteração do nível de consciência com seis pontos na escala de coma de Glasgow, taquipneia de 28 irpm e hipotensão sistólica de 70mmHg). Correta a alternativa B. (SP - Faculdade de Medicina de Marília - FAMEMA - 2024) A escala de qSOFA considera os seguintes itens: A) saturação de oxigênio, nível de consciência e temperatura. B) frequência respiratória ≥ 22/minuto, alteração do nível de consciência e pressão arterial sistólica ≤ 100 mmHg. C) valor de bilirrubina, creatinina e pressão arterial média. D) valor de lactose, presença de formas jovens de leucócitos e frequência cardíaca. COMENTÁRIO: Apesar da recomendação da Surviving Sepsis Campaign de não utilizar o qSOFA como única ferramenta de rastreio na sepse, veja que as bancas ainda têm cobrado esse escore. Os critérios avaliados no qSOFA (quick SOFA) são: Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 45 6.0 ESCORES PROGNÓSTICOS NA SEPSE CAPÍTULO 6.1. ESCORE SOFA Futuro Residente, muita atenção, não estamos falando aqui de quick SOFA, estamos falando do SOFA (Sequential Organ Failure Assessment). Esse é um escore prognóstico que foi desenvolvido pela European Society of Intensive Care Medicine e tem como objetivo estimar a mortalidade associada à sepse por meio da análise do grau de disfunção orgânica desses pacientes. Para que utilizo o SOFA? Ele pode ajudar a priorizar recursos (pacientes que devem ser atendidos antes ou ter prioridade de exames diagnósticos) e também a limitar cuidados, priorizando paliação em situações com baixa probabilidade de resposta clínica. Para estimar a mortalidade e o grau de disfunção orgânica, utilizamos critérios gradativos por sistema afetado, pontuando de 0 (sem disfunção) até 4 (disfunção máxima). Os sistemas avaliados pelo SOFA são: respiratório, hematológico, neurológico, hepático, cardiovascular e renal. Veja a seguir quais são os parâmetros utilizados na avaliação de cada um deles: • Frequência respiratória de 22 respirações por minuto ou mais. • Alteração do nível de consciência (escore da escala de coma de Glasgow menor que 15). • Pressão arterial sistólica de 100 mmHg ou menos. Esses parâmetros são usados para identificar rapidamente pacientes com suspeita de infecção que estão em risco de desenvolver sepse grave. O qSOFA não inclui medições laboratoriais como bilirrubina, creatinina ou lactato, nem parâmetros como a presença de formas jovens de leucócitos ou frequência cardíaca. Gabarito: alternativa B. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 46 INFECTOLOGIA Sepse Disfunção Respiratória Escore SOFA Disfunção Hematológica Disfunção Neurológica Disfunção Hepática Disfunção Cardiovascular Disfunção Renal Relação PaO2 / FiO2 Grau de plaquetopenia Escala de coma de Glasgow Bilirrubina total Hipotensão ou uso de drogas vasoativas Oligúria ou aumento de creatinina Figura 16: Disfunções utilizadas no escore SOFA para estimativa de mortalidade na sepse. Fonte: Adaptado de Shutterstock. “Professor, eu preciso saber os pontos de corte de cada critério do SOFA?” Como regra geral, a resposta é não. Você precisa saber que parâmetros indicam a disfunção de um sistema, é isso que o examinador quer saber: se você pedirá os exames corretos ao avaliar um paciente com sepse no seu plantão de R1. Vamos praticar? CAI NA PROVA (SP - Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - 2024) Sepse é definida pela presença de disfunção orgânica ameaçadora à vida, decorrente da resposta desregulada do organismo frente a um processo infeccioso. Em relação aos critérios atuais para o diagnóstico de sepse, marque a assertiva correta: A) Um dos critérios diagnósticos de sepse é a identificação da disfunção orgânica por meio do quick-SOFA, utilizado por sua praticidade e sensibilidade e especificidade elevadas. B) A presença de disfunção em um único órgão ou sistema, mesmo que na suspeita de infecção, não fecha critério para o diagnóstico de sepse. C) O escore SOFA não deve ser utilizado em pacientes com disfunção orgânica prévia, devendo-se utilizar os critérios de síndrome de resposta inflamatória sistêmica. D) O critério operacional para definição de disfunção orgânica é a variação de dois pontos no escore SOFA, que leva em conta a disfunção respiratória, hematológica, hepática, cardiovascular, neurológica e renal. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 47 Correta a alternativa D. (SUS-SP (2023) ACESSO DIRETO) Cada uma das alternativas a seguir apresenta um paciente e algumas de suas informações clínicas. Entre essas alternativas, assinale aquela que apresenta o paciente com maior gravidade e provável quadro de sepse. A) Mulher de 27 anos de idade, após litotripsia para nefrolitíase, afebril, com FC de 102 bpm e PA igual a 90 mmHg × 40 mmHg, com confusão mental e com contagem de leucócitos igual a 9.000/µL. B) Homem de 45 anos de idade, com pancreatite, temperatura igual a 38°C, FC igual a 110 bpm, PA de 110 mmHg × 60 mmHg e contagem de leucócitos igual a 14.000/µL. C) Mulher de 53 anos, em pós-operatório imediato de ressecção de tumor de cólon, que está taquicárdica e requer intubação orotraqueal. D) Senhora que reside em casa de repouso, de 84 anos de idade, com cultura de urina positiva para Proteus spp. E) Homem de 18 anos de idade que apresentou quadro de apendicite gangrenosa, estando agora no pós-operatório imediato de uma apendicectomia laparoscópica, febril (39º C) e taquicárdico (FC = 130 bpm), com PA igual a 140 mmHg × 70 mmHg. COMENTÁRIOS Esta questão interessante pede para selecionarmos o paciente com maior gravidade na sepse. Como estimamos isso? Utilizando as disfunçõesorgânicas de diferentes órgãos e sistemas contidas no escore SOFA que você acabou de aprender! Veja só, essa paciente apresenta disfunção hemodinâmica (PAD 1,5 x normal (ou maior que 2,0 mmol/L) sem outra causa explícita. B) Disfunção renal caracterizada por débito urinário 1,2. C) Plaquetas > 100.000/mm³ ou com elevação de 50% ou mais nas últimas 24h. D) Choque: PA sistólica65. (SCMRP - 2017 - Acesso Direto) Faz parte do escore de SOFA (Sequential Organ Failure Assessment), exceto: (UERJ (2020) Acesso Direto) Um paciente de 57 anos, previamente hígido, deu entrada em um hospital com quadro de pneumonia bacteriana adquirida na comunidade (PAC). Apresentava febre de 38.7°C e semiologia respiratória típica. Quadro era associado à instabilidade hemodinâmica (PA = 80 x 40 mmHg), taquicardia (FC = 122 bpm), taquidispneia (FR = 26 irpm) e rebaixamento de consciência (escala de coma de Glasgow modificada = 12 pontos). Considerando a hipótese diagnóstica de sepse, foram solicitados exames complementares e iniciada a avaliação pelo escore SOFA. Esses exames revelaram leucocitose (17.800/mm³ ) com desvio à esquerda (1% de metamielócitos e 11% de bastões), trombocitopenia (77.000/mm³ ), acidose metabólica moderada, com hiperlactatemia (4,5 mmol/L), retenção de escórias nitrogenadas e hiperbilirrubinemia direta. O paciente foi abordado de acordo com as diretrizes vigentes para a abordagem da sepse. Apresente quatro sistemas ou órgãos componentes do principal escore utilizado para a definição de disfunção orgânica na condição mórbida em questão. COMENTÁRIO �ocê leu e se desesperou achando que eu menti, não é mesmo? Mas, confie em mim: saber esses números não é necessário, mas sim o conceito por trás deles. Vamos ver as assertivas uma a uma? Correta a alternativa A. No último consenso de 2016 tivemos a adição do lactato como marcador disfuncional, no entanto sem consenso sobre um ponto de corte. O lactato é considerado positivo se estiver acima do valor de referência (para o Instituto Latino-Americano de Sepse) ou maior que 1.5x o valor de referência (Sepsis-3). Correta a alternativa B. Oligúria e aumento de creatinina são equivalentes de disfunção renal na sepse. Incorreta a alternativa C. Aqui fica “mamão com açúcar” se você entendeu o conceito: a sepse causa plaquetopenia como disfunção hematológica, não plaquetose. Correta a alternativa D. A hipotensão sistólica (PASinocente, RCR em 2T, BNF, enchimento capilar de 5 segundos, abdome indolor à palpação com sinal de Giordano positivo à esquerda, membros inferiores sem edemas ou sinais de TVP, apresentando livedo. Frente ao quadro clínico apresentado, quais dos sinais estão relacionados com hipoperfusão e claro mau prognóstico? A) Enchimento capilar e presença de livedo. B) Pressão arterial e frequência cardíaca. C) Pressão arterial e livedo. D) Frequência cardíaca e enchimento capilar. COMENTÁRIO O examinador descreve uma mulher que estava em tratamento para uma cistite e é admitida com sinais de pielonefrite (dor lombar, febre e sinal de Giordano positivo). Além disso, ela apresentava taquicardia, livedo reticular e tempo de enchimento capilar lentificado, sendo então um quadro sugestivo de sepse de foco urinário, pois não há choque séptico sem hipotensão. Vamos agora analisar as assertivas: Correta a O livedo reticular e o tempo de enchimento capilar prolongado indicam uma resistência vas- cular periférica débil, sendo achados clínicos habitualmente identificados em pacientes com menor resposta à expansão com soluções cristaloides, estando associados à maior mortalidade atribuída à sepse. Incorreta a alternativa B. A frequência cardíaca elevada é frequentemente encontrada nos casos de sepse e resulta da resposta compensatória do nosso corpo ao tentar elevar o débito cardíaco para vencer a resistência vascular sistêmica (reduzida pela vasodilatação), não sendo associada à maior mortalidade. Incorreta a alternativa C. A hipotensão, resultante da redução de pré-carga cardíaca e da resistência vascular sistêmica, responde à expansão com soluções cristaloides na maior parte das vezes e não é, por si só, associada à maior mortalidade. Incorreta a alternativa D. Justificada pela alternativa B. Correta a alternativa A: 7.0 CLASSIFICAÇÃO DA SEPSE CAPÍTULO Muita atenção, futuro Residente, pois este tópico é histórico. Temos uma classificação que foi utilizada no Sepsis-1 e Sepsis-2 (2012), sendo modificada no atual Sepsis-3 (2016). A principal diferença é que as classificações antigas utilizavam os critérios de SIRS para triar pacientes suspeitos de sepse, além do termo “sepse grave”. Na classificação atual, sepse deverá ser suspeitada quando tivermos infecção confirmada ou presumida com disfunção orgânica ameaçadora à vida. Além disso, o termo “sepse grave” foi abolido desde 2016. Agora confira como isso caiu, indiretamente, em uma questão: Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 51 7.1 CLASSIFICAÇÃO PELO SEPSIS-1 E SEPSIS-2 Antes dos critérios atualmente utilizados, a sepse era definida com base nos consensos Sepsis-1 (1991) e Sepsis-2 (2001), que utilizavam a presença de dois ou mais critérios de SIRS associados a um foco infeccioso para caracterizar sepse, além das antigas categorias de “sepse grave” e “choque séptico” com base em disfunções orgânicas e resposta à expansão volêmica. Esses critérios, embora tenham sido amplamente utilizados, foram substituídos pelo Sepsis-3, que é o modelo atual e mais preciso para identificar os pacientes com maior risco de evolução grave. Portanto, ao longo deste capítulo, utilizaremos exclusivamente os critérios atuais (Sepsis-3). 7.2 CLASSIFICAÇÃO PELO SEPSIS-3 (ATUAL) Use esta parte da teoria apenas para responder às questões novas (após 2016). Como vimos acima, houve uma mudança conceitual interessante no Sepsis-3: o desuso do termo sepse grave. Por que esse termo foi inutilizado? Estudos americanos identificaram que a classificação como sepse em vez de sepse grave reduzia os cuidados imediatos essenciais no atendimento de um paciente com sepse, como a ressuscitação volêmica guiada por metas e o uso precoce de antimicrobianos. Dessa forma, o consenso preferiu considerar que “toda sepse é importante”, enterrando o termo grave. Agora, preste muita atenção: segundo o Sepsis-3, sepse é uma disfunção orgânica com risco de morte, resultante de uma resposta desregulada do organismo a uma infecção. Para fins de padronização, considera-se disfunção orgânica um aumento de dois pontos ou mais no escore SOFA. Já o choque séptico é definido como sepse associada à necessidade de vasopressores para manter a PAM ≥ 65 mmHg, apesar da reposição volêmica adequada, além de lactato arterial elevado (> 2 mmol/L ou 18 mg/dL). Definições segundo o Sepsis-3 (2016): Sepse: disfunção orgânica com risco de morte, causada por uma resposta desregulada do organismo à infecção (resposta desregulada = aumento ≥ 2 pontos no escore SOFA). Choque séptico: sepse com hipotensão persistente apesar de reposição volêmica adequada (necessidade de vasopressores para manter PAM ≥ 65 mmHg) + lactato > 2 mmol/L (18 mg/dL). Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 52 INFECTOLOGIA Sepse Visto isso, temos três cenários possíveis: infecção sem disfunção orgânica, sepse e choque séptico. Ficou mais fácil, né? Vamos esquematizar: Grave as diferenças principais entre os dois consensos para não passar aperto nas questões atuais. Vamos praticar? Baixa letalidade Alta letalidade Choque SépticoSepseInfecção Doença causada por microrganismo sem disfunção orgânica Infecção COM disfunção orgânica ameaçadora à vida (Disfunção orgânica = elevação do SOFA > 2) Sepse com hipoperfusão e hipotensão persistente, apesar da ressuscitação volêmica PAM 2mmol/L ou 18mg/dL CAI NA PROVA (SURCE - 2023 ACESSO DIRETO) Gestante de 36 anos, com 26 semanas de idade gestacional, procura unidade de pronto atendimento referindo quadro de polaciúria, disúria e dor lombar há 7 dias, com agravamento há 12 horas, quando surgiram febre e tontura. Ao exame: pressão arterial de 80x40 mmHg, pulso de 144 bpm, sudoreica, frequência respiratória de 23 irpm. O diagnóstico mais adequado e sua respectiva conduta são: A) Choque séptico e antibiótico venoso iniciado na primeira hora. B) Sepse e antibiótico venoso iniciado na primeira hora. C) Pielonefrite e antibiótico venoso. D) Cistite e antibiótico oral. Figura 19: Classificação da sepse e choque séptico a partir de 2016. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 53 COMENTÁRIOS Temos, aqui, uma gestante com sepse de foco urinário. Ela tem um quadro suspeito de infecção (pielonefrite) com sinais da SIRS (febre, taquicardia e taquipneia) e também do qSOFA (hipotensão e taquipneia). Incorreta a alternativa A. A paciente não tem choque séptico, pois ele é definido como um paciente que, após ressuscitação volêmica adequada, requer vasopressor para manter a pressão arterial média ≥ 65 mmHg e tenha um lactato > 2 mmol/L (> 18 mg/dL). (MG - Processo Seletivo Unificado - PSU MG 2025) Paciente de 72 anos, sexo masculino, submetido à gastrectomia total há cinco dias, inicia quadro de agitação e confusão mental, taquipneia (30irpm), drenagem de secreção de mau cheiro pela ferida operatória, alteração aguda de 5 pontos no escore SOFA (Sequential Sepsis-related Organ Failure Assessment), necessitando de vasopressores para manutenção da pressão arterial média maior ou igual a 65mmHg e dosagem de lactato de 7mmol/litro, mesmo após reposição volêmica adequada. Considerando os dados descritos acima, o diagnóstico MAIS PRECISO para o quadro apresentado por este paciente é: A) Choque séptico. B) Resposta orgânica ao trauma exacerbado. C) Sepse. D) Síndrome da resposta inflamatória sistêmica. COMENTÁRIO: No caso descrito, o paciente apresenta sinais claros de choque séptico, com infecção evidente (secreção purulenta e fétida da ferida operatória), disfunção orgânica (aumento de 5 pontos no SOFA), necessidade de vasopressores e lactato elevado (7 mmol/L). Correta a alternativa B. Como vimos, temos um quadro de sepse e devemos iniciar antibiótico venoso na primeira hora. Além disso, devemos também coletar culturas e iniciar a infusão de cristaloides. Você vai aprender sobre issomais adiante neste livro. Incorreta a alternativa C. A paciente tem uma pielonefrite, porém devemos ir além disso: ela tem uma sepse de foco urinário. Incorreta a alternativa D. A presença de febre e dor lombar descartam cistite e indicam um quadro de pielonefrite. hipotensão refratária à reposição volêmica adequada e lactato elevado. Incorreta a alternativa B. Resposta orgânica ao trauma exacerbado não explica a presença de infecção evidente (secreção purulenta), necessidade de vasopressores e elevação significativa do lactato. Incorreta a alternativa C. Embora o paciente apresente critérios para sepse (disfunção orgânica causada por infecção), o quadro evoluiu para choque séptico, que é uma forma mais grave de sepse. O diagnóstico mais preciso, portanto, é o de choque séptico. Incorreta a alternativa D. Asíndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS) é um conjunto de sinais e sintomas que indicam uma resposta inflamatória do organismo. No entanto, o paciente apresenta sinais de infecção e disfunção orgânica, o que torna o choque séptico um diagnóstico mais preciso. Correta a alternativa A. Choque séptico é o diagnóstico mais preciso neste caso, pois preenche os critérios definidos: sepse com Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 54 INFECTOLOGIA Sepse COMENTÁRIO Correta a alternativa E. (SUS-SP - 2018 - Acesso Direto) Um paciente de 21 anos é admitido na sala de emergência sonolento e visivelmente desidratado. Segundo familiares, paciente apresenta diarreia e febre nos últimos 5 dias. Não há relato de comorbidades ou uso de medicações contínuas. Ao exame físico: REG, sonolento, Glasgow 11, desidratado IV+/IV+, pele fria. Taquicárdico, ausculta cardíaca em sopros. FC: 138 bpm e PA: 70 × 40 mmHg. Ausculta pulmonar sem achados. Taquipneico, FR: 27 ipm e Saturação de 98% em ar ambiente. Abdome plano, normotenso, ruídos hiperativos e sem dor a palpação. Exames laboratoriais: hemograma com leucocitose, neutrofilia, desvio à esquerda e presença de granulações tóxicas. Contagem de plaquetas e coagulograma normais. Cr 2,8 mg/dL e U 95 mg/dL. Na+ 148 mEq/L, K+ 3,0 mEq/L. Cl −120 mEq/L (VR 90-110 mEq/L). Albumina 4g/dL. Lactato VR 18 mg/dL (VR 18 mg/dL). Gasometria arterial: pH 7,0; HCO₃- 5 mEq/L; pCO2 28 mmHg. Neste caso é correto afirmar que: A) Há critérios para choque séptico segundo o estudo Sepsis-3. Deve-se realizar expansão volêmica com coloides sintéticos; coleta de culturas; antibioticoterapia precoce. B) Há critérios para choque séptico segundo o estudo Sepsis-3. Deve-se realizar noradrenalina em acesso venoso periférico; coleta de culturas; antibioticoterapia precoce. C) Não há critérios para sepse segundo o estudo Sepsis-3. Deve-se realizar expansão volêmica com cristaloides balanceados; coleta de culturas e antibioticoterapia precoce. D) Há critérios para sepse segundo o estudo Sepsis-3. Deve-se realizar expansão volêmica com coloides sintéticos; coleta de culturas; antibioticoterapia precoce. E) Há critérios para sepse segundo o estudo Sepsis-3. Deve-se realizar expansão volêmica com cristaloides balanceados; coleta de culturas; antibioticoterapia precoce. Questão difícil do SUS-SP, um grande concurso. Temos aqui um paciente jovem com três critérios positivos de qSOFA (alteração neurológica, taquipneico e hipotenso), a partir de um foco infeccioso gastrointestinal (diarreia com febre). Logo, esse paciente tem, no mínimo, sepse. A grande pergunta é: ele tem choque séptico? Vamos relembrar os critérios: PAM 2 mmol/L (18 mg/dL) ou uso de drogas vasoativas. Como o paciente não preenche nenhum desses critérios, ele não pode ser classificado como choque séptico. Temos então, como possíveis, as alternativas D e E. A diferença entre uma e outra é o fluido de escolha para a expansão volêmica em um paciente com sepse (que veremos a seguir), que deverá ser realizada, preferencialmente, com soluções cristaloides. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 55 CAPÍTULO 8.0 MANEJO DA SEPSE Durante anos, a pergunta "o que fazer no atendimento inicial de um paciente com sepse?" permaneceu com muitas respostas e verdades mutáveis. No entanto, uma coisa era visível: quanto mais tempo levava-se para iniciar medidas de tratamento para pacientes com sepse, maior era a mortalidade desses pacientes. Assim como a definição da sepse é estabelecida pelo International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock, o tratamento é convencionado por um grupo de especialistas e publicado na Surviving Sepsis Campaign. Este capítulo resume as informações contidas nesse consenso. Em uma atualização de 2018, a Surviving Sepsis Campaign introduziu o famoso "pacote de 1 hora" para o tratamento da sepse. Esse pacote é baseado no fato de que a sepse é uma emergência médica, sendo necessário iniciar seu tratamento o mais precocemente possível. O pacote de 1 hora tem cinco elementos: 1. Medir o nível de lactato (medir novamente se o nível inicial de lactato for maior que 2 mmol/L); 2. Obter culturas antes da administração de antibióticos; 3. Administrar antibióticos; 4. Iniciar administração de cristaloide a 30 mL/kg para hipotensão ou sinais de hipoperfusão; 5. Iniciar vasopressores se o paciente estiver hipotenso durante ou após a ressuscitação de fluidos para manter a pressão arterial média igual ou superior a 65 mm Hg. Vamos agora ver detalhes de cada um desses passos. 8.1 COLETA DE PROVAS DE DISFUNÇÃO ORGÂNICA (INCLUINDO LACTATO) Tome um cafezinho se cansou ao chegar até aqui, pois esta parte é importante e confunde a maior parte dos alunos. Que exames preciso coletar, inicialmente, em um paciente com suspeita de sepse? Pense comigo: eu quero ver o grau de disfunção orgânica dele. Logo, deverei coletar os marcadores prognósticos contidos no escore SOFA que vimos anteriormente. Das seis disfunções do SOFA, a única que não tem exame laboratorial é a disfunção neurológica. Veja abaixo a lista dos exames essenciais: Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 56 INFECTOLOGIA Sepse Disfunção Respiratória Exames a serem coletados inicialmente na Sepse Disfunção Hematológica Disfunção Neurológica Disfunção Hepática Disfunção Cardiovascular Disfunção Renal Gasometria arterial Hemograma Bilirrubina total Lactato arterial Creatinina Figura 20: Exames iniciais utilizados no manejo da sepse. Fonte: Adaptado de Shutterstock. 8.1.1 LACTATO ARTERIAL Sempre devemos tentar isolar o agente infeccioso durante o manejo inicial da sepse. Isso nos auxiliará a guiar o tratamento antimicrobiano (espectro e dose) e até a encontrar focos infecciosos adicionais. Dessa forma, a etapa fundamental a realizar-se com todos os pacientes com sepse é a coleta de dois pares de hemoculturas de sítios distintos antes do início de antimicrobianos. Darei um exemplo: dois frascos de hemocultura (aeróbio/anaeróbio) coletados do braço esquerdo e dois frascos coletados do braço direito, totalizando 4 amostras. Aproximadamente, 30 a 50% dos pacientes com sepse terão os agentes etiológicos identificados por meio da hemocultura. Além das hemoculturas, ainda dentro da primeira hora de atendimento (preferencialmente antes do início de antimicrobianos), deveremos coletar culturas de outros sítios pertinentes, conforme o quadro clínico: A associação de lactato arterial elevado e mortalidade em pacientes com sepse é bem estabelecida na literatura médica. Além disso, lactato elevado é um dos critérios necessários para a definição de choque séptico segundo o Sepsis-3. Embora não seja uma medida direta de perfusão tecidual, o lactato sérico é um biomarcador importante para a detecção indireta de hipóxia e disfunção tecidual. Outra função importante do lactato arterial na sepse é sua medição repetida ao longo do tratamento como uma forma de avaliar (mesmo que indiretamente)a melhora da perfusão tecidual. Assim, o tratamento da sepse em pacientes com lactato arterial inicialmente elevado deve buscar a redução do lactato em uma nova aferição. 8.2 COLETA DE CULTURAS Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 57 • Infecção do trato respiratório: cultura de secreção traqueal ou escarro; • Infecção do trato urinário: urocultura; • Infecção gastrointestinal: coprocultura (se diarreia patológica); • Pele, partes moles, sítio cirúrgico: cultura de abscessos, cultura profunda de infecçã de sítio cirúrgico etc. • Artrite séptica: cultura de líquido sinovial; • Infecção do sistema nervoso central: cultura de LCR. 8.3 ANTIBIOTICOTERAPIA E CONTROLE DO FOCO O controle de foco infeccioso é um passo essencial nessa fase da sepse, deve ser feito logo que se atingir a estabilidade clínica do paciente: abordagem cirúrgica de infecções intra-abdominais, drenagem de empiemas torácicos, artrocentese com lavado articular de artrites sépticas etc. Também temos que pensar em cateteres, sondas e derivações cirúrgicas como fontes de uma possível infecção, visto que algumas bactérias formam biofilmes nesses dispositivos e são dificilmente erradicadas. Em 2021, a campanha Surviving Sepsis atualizou suas diretrizes para o início da terapia antimicrobiana. Se antes a recomendação de prescrição de antibióticos na primeira hora era a regra para todos os pacientes com suspeita de sepse, a última atualização tornou essa decisão mais maleável. Após obtermos hemoculturas e culturas de sítios pertinentes, devemos iniciar antibióticos de largo espectro via intravenosa, ajustados para o peso do paciente, idealmente dentro da primeira hora. Para você ter uma ideia, cada hora de atraso na prescrição de antimicrobianos aumenta a letalidade da sepse em 7.6%. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 58 INFECTOLOGIA Sepse 8.4 RESSUSCITAÇÃO VOLÊMICA Recomendações quanto ao uso de soluções para a expansão volêmica Solução Exemplo Recomendação Comentário Cristaloides NaCl 0,9%, ringer lactato 1ª escolha sempre Dose: 30 mL/kg Soluções associadas com melhor performance e menor mortalidade. A partir da atualização de 2021, é recomendado o uso de solução cristaloide balanceada. Coloides Albumina Pode ser feito como escolha alternativa, em especial para pacientes que receberam grande volume de cristaloide Maior custo. Mesma performance das soluções cristaloides. Amidos Solução de amido 1% Contraindicado Maior risco de mortalidade e efeitos adversos (disfunção renal). Gelatina (coloide sintético) Gelatina fluida modificada (obtida de colágeno hidrolisado) Contraindicada Maior risco de efeitos adversos (anafilaxia e disfunção renal). A ressuscitação volêmica adequada permitirá um aumento da resistência vascular periférica, a redução da acidose metabólica e assegurará o volume de distribuição de antimicrobianos na sepse. E quem precisará recebê-la? Os pacientes com sinais de hipoperfusão (quais são eles? Basta lembrar-se da "Regra dos 3 Ps": Pressão arterial médiaem pacientes com lactato elevado, conforme mencionado anteriormente. Além disso, o tempo de enchimento capilar pode ser utilizado como um indicador adicional de perfusão durante a ressuscitação em pacientes com choque séptico. Por fim, quando possível e disponível, é recomendado o monitoramento invasivo da pressão arterial em vez de métodos não invasivos. Vamos praticar? CAI NA PROVA COMENTÁRIO: (SP - Faculdade de Medicina do ABC - 2025) Paciente, 19 anos, com disúria, polaciúria e urgência miccional, foi tratada, inicialmente, com sintomáticos, com melhora parcial. Após alguns dias, evoluiu com calafrios e febre, dores lombares e queda do estado geral. Poucas horas depois, a paciente evoluiu com sonolência e ausência de urina. Assinale a alternativa correta. A) Considerando que atrasos no tratamento da sepse aumentam intensamente a mortalidade, o diagnóstico precoce e a introdução de antibioticoterapia empírica na 1ª hora é essencial para uma evolução favorável. B) Expansão volêmica, coleta de culturas, dosagem do lactato sérico e início da antibioticoterapia são metas das primeiras 6 horas da sepse. C) Trata-se de choque séptico, necessitando associar drogas vasoativas e internação em UTI. D) Exames como análise de rotina de urina e urocultura são sempre obrigatórios para fechar diagnóstico de infecção do trato urinário. O caso clínico apresentado descreve uma jovem com sintomas iniciais de infecção do trato urinário (ITU) que evoluiu rapidamente para um quadro mais grave, com sinais de disfunção orgânica (alteração do nível de consciência e anúria). Correta a alternativa A. O diagnóstico precoce da sepse e o início da antibioticoterapia empírica dentro da primeira hora após o reconhecimento do quadro de sepse estão associados a uma melhora significativa nos desfechos clínicos, incluindo redução da mortalidade. Incorreta a alternativa B. Expansão volêmica, coleta de culturas, dosagem de lactato e início da antibioticoterapia são medidas importantes no manejo da sepse, mas a meta é iniciá-las na primeira hora, e não em 6 horas. A alternativa B está incorreta por indicar um prazo mais longo. Incorreta a alternativa C. A paciente pode estar evoluindo para um choque séptico, mas ainda não preenche os critérios. O choque séptico é caracterizado pela necessidade de drogas vasoativas para manter a pressão arterial média adequada, apesar da reposição volêmica, e pela presença de lactato sérico elevado (> 2 mmol/L) na ausência de hipoperfusão tecidual. A alternativa C afirma categoricamente que se trata de um choque séptico, sem ainda apresentar os critérios para tal. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 62 INFECTOLOGIA Sepse (SP - Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP - 2024) Homem, 54 anos de idade, hipertenso, é trazido ao PS com quadro de febre e rebaixamento de nível de consciência. Apresenta dor em flanco direito, disúria e polaciúria há três dias. Exame físico: FC = 120 bpm; PA = 80/40 mmHg; T = 38 ºC; tempo de enchimento capilar = 5 segundos. Exames laboratoriais: hemograma com leucócitos = 19.000 cél/ mm³ (desvio à esquerda), creatinina = 2,7mg/dL e lactato arterial = 36mg/dL; urina 1 com leucocitúria, hematúria e presença de nitrito. Considerando a hipótese diagnóstica mais provável e as orientações da Campanha de Sobrevivência a Sepse de 2021, qual é a conduta imediata mais adequada? A expansão volêmica é a medida mais urgente para iniciar a recuperação da perfusão tecidual nesse paciente. Incorreta a alternativa D. Não se deve utilizar drogas vasoativas sem antes tentar a expansão volêmica com soluções cristalóides. A última atualização da Surviving Sepsis Campaign (SSC) permite o uso de drogas vasoativas em conjunto com a expansão volêmica, mas não como tratamento isolado. A) Iniciar ceftriaxona e manter por pelo menos 10 dias B) Coletar hemoculturas e urocultura assim que houver estabilidade hemodinâmica. C) Fazer expansão volêmica com cristaloides para atingir 30mL/Kg nas primeiras 3 horas. D) Administrar noradrenalina em dose inicial 0,1 mcg/kg/min. Aqui temos um homem jovem com febre, dor no flanco direito e sintomas urinários, sugerindo um quadro de pielonefrite. A presença de disfunções orgânicas, como aumento de creatinina, lactato arterial elevado e hipotensão, indica que o paciente está desenvolvendo sepse de foco urinário. O manejo precoce da sepse com instabilidade hemodinâmica deve incluir a coleta de culturas, ressuscitação volêmica, administração imediata de antimicrobianos e, quando necessário, o controle do foco infeccioso, seja por intervenção cirúrgica ou remoção de dispositivos. Essas ações são fundamentais para reduzir a mortalidade associada à sepse. Incorreta a alternativa A. A prioridade imediata para esse paciente é a ressuscitação volêmica adequada, dado que ele apresenta sinais claros de déficit perfusional. A antibioticoterapia deve, sim, ser iniciada; no entanto, a ressuscitação volêmica é a medida mais urgente. Incorreta a alternativa B. s culturas não devem ser coletadas apenas após a estabilização hemodinâmica. Elas devem ser obtidas simultaneamente à ressuscitação volêmica. Incorreta a alternativa D. Em casos de sepse, o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível, com base na suspeita clínica. Aguardar exames como análise de urina e urocultura pode atrasar o início da antibioticoterapia e comprometer a vida da paciente. Embora esses exames sejam importantes para confirmar o diagnóstico e guiar o tratamento, a prioridade na fase aguda é a estabilização clínica. COMENTÁRIO: Correta a alternativa C (SURCE - 2023. Acesso Direto) Paciente de 68 anos foi trazido por seus familiares para a UPA para avaliação devido ao quadro de confusão mental e sonolência nos últimos três dias, que piorou hoje, associado ao surgimento de tosse com escarro esverdeado, além de episódio de vômitos. Refere histórico de acompanhamento com urologista por hiperplasia prostática benigna, em uso de finasterida. Nega outras comorbidades e nega uso de antibióticos nos últimos meses. No momento, paciente apresentando PA 80x40 e sonolência (escala de coma de Glasgow 13 - abertura ocular 3 pontos; resposta verbal 4 pontos; resposta motora 6 pontos). FC = 110 bpm, em ritmo sinusal. FR = 32 irpm. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 63 Ausculta cardíaca normal. Ausculta pulmonar com crepitações em base direita. Abdome flácido, indolor. Tempo de enchimento capilar de 5 segundos. Sem edema em membros inferiores. Qual das opções abaixo descreve a conduta mais correta para essa situação clínica? A) Iniciar tratamento por via intravenosa com levofloxacino com necessidade de internação hospitalar em ambiente de enfermaria B) Iniciar expansão volêmica com cristaloides e prescrever ceftriaxona, após confirmação de resultado em culturas, e internação em leito de UTI. C) Iniciar expansão volêmica com cristaloides, coleta de culturas e lactato, associar ceftriaxona e azitromicina empíricos e internação em leito de UTI. D) Iniciar tratamento ambulatorial com antibioticoterapia via oral com amoxicilina e azitromicina com acompanhamento na unidade básica de saúde. Temos, aqui, um paciente com sepse de foco pulmonar e com sinais de choque (tempo de enchimento capilar de 5s). Qual é o próximo passo? Para responder a essa pergunta, vamos antes relembrar o bundle (pacote de medidas) de ressuscitação inicial do paciente séptico que deve ser feito em até 1 hora: Bundle de 1 hora COMENTÁRIO: 1. Medir lactato * 2. Coletar culturas antes da administração dos antibióticos. 3. Administrar antibióticos de amplo espectro. 4. Administrar cristaloide rapidamente (30ml/Kg) se hipotensão ou hipoperfusão 5. Iniciar vasopressor se hipotensão durante ou após a ressuscitação volêmica para manter uma PAM ≥ 65 mmHg. * Medir o lactato novamente se valor inicial elevado (> 2 mmol/L). Incorreta a alternativa A. A levofloxacina deve ser feita em alérgicosa betalactâmicos, o que não é o caso desse paciente. Além disso, pelo quadro de sepse, ele deve ser internado em UTI. Incorreta a alternativa B. O antibiótico deve ser feito em até 1h, não após o resultado da cultura. Correta a alternativa C. Que antibiótico devemos iniciar? A pneumonia bacteriana adquirida na comunidade é causada principalmente por bactérias típicas e atípicas. Entre as típicas mais comuns, temos o pneumococo, a Haemophilus influenzae e a Moraxella catarrhalis. As atípicas principais são a Legionella spp, o Mycoplasma pneumoniae e a Chlamydia pneumoniae. Para um tratamento empírico adequado, temos que cobrir esses germes. Por esse motivo, a associação de um betalactâmico com macrolídeo é o esquema inicial recomendado, que trata respectivamente as bactérias típicas e atípicas. Como droga alternativa para alérgicos aos betalactâmicos, podemos usar uma quinolona respiratória, como levofloxacino ou moxifloxacino. Agora, que já sabemos o que fazer e que antibiótico utilizar, vamos analisar as alternativas: Essa alternativa traz as medidas de manejo iniciais da sepse e antibióticos adequados para o tratamento em ambiente de UTI. Incorreta a alternativa D. Paciente séptico deve ser encaminhado à UTI, nunca ser acompanhado ambulatorialmente. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 64 INFECTOLOGIA Sepse (PSU-MG - 2020 - Acesso Direto) Mulher de 45 anos foi internada na UTI devido a quadro de choque séptico de provável foco abdominal. Encontra-se intubada sob ventilação mecânica, com fração inspirada de O₂ de 0,90. Dentre as alternativas abaixo, a primeira medida a ser adotada é a administração de: A) Coloide para expansão volêmica. B) Corticosteroide. C) Esquema antimicrobiano. D) Noradrenalina e vasopressina. Viu como devemos saber não somente as condutas iniciais no manejo do paciente com sepse, mas também a ordem delas? Lembre-se do pacote de 01 hora! Correta a alternativa C. (UFMT - 2019 - Acesso Direto) J.S.C., 44 anos, masculino, diabético tipo 2 há quatro anos. Apresenta quadro de tosse produtiva iniciada há quatro dias. Há dois dias começou a apresentar febre não aferida, mal-estar geral e dispneia leve. Nesta manhã, passou também a apresentar tonturas e confusão mental, sendo então trazido pelos familiares ao serviço de pronto atendimento de uma UPA em Cuiabá. À admissão, o paciente encontra-se confuso, taquipneico, porém responsivo. Sinais vitais: FR 32 irpm, FC: 112 bpm, PA: 80x50 mmHg e T: 35,5°C. Glicemia capilar: 290 mg/dL. Ausculta pulmonar revela estertores crepitantes em terço médio e inferior de hemitórax direito. Gasometria arterial mostra pH 7,29; pO₂: 82 mmHg; pCO₂: 25 mmHg; Bicarbonato: 12 mEq/L; BE: -8,0. Diante do quadro clínico e das hipóteses diagnósticas mais prováveis, qual é a conduta terapêutica inicial mais adequada? A) Antibioticoterapia de largo espectro e bicarbonato de sódio para corrigir o distúrbio acidobásico observado. B) Antibioticoterapia de largo espectro, hidratação cautelosa (500 mL de cristaloide em três horas) e furosemida IV para reduzir a possibilidade de congestão pulmonar. C) Antibioticoterapia de largo espectro e norepinefrina para elevar a pressão arterial média acima de 85 mmHg. D) Antibioticoterapia de largo espectro e infusão de 30 mL/Kg de cristaloide nas primeiras três horas. COMENTÁRIOS: COMENTÁRIO �uestão que mostra um paciente com sepse (foco pulmonar + três critérios do quick SOFA → confusão mental, hipotensão sistólica e taquipneia). Ele tem choque séptico? Impossível afirmar, pois ele ainda não recebeu expansão volêmica adequada. Vamos analisar as condutas propostas, baseando-nos nos pacotes de manejo que vimos? Incorreta a alternativa A. Não se faz correção de acidose com bicarbonato de sódio durante o atendimento inicial do paciente com sepse. Incorreta a alternativa B. A hidratação não deverá ser cautelosa, mas agressiva, em pacientes sem antecedentes de doença cardíaca restritiva ou com fração de ejeção reduzida, por meio da reposição de cristaloides na dose de 30mL/kg, claramente superior aos 500mL propostos nessa assertiva. O uso de furosemida não é indicado no manejo inicial do paciente com sepse. Incorreta a alternativa C. Não se faz uso de norepinefrina antes de realizar expansão volêmica, exceto em casos de hipotensão ameaçadora à vida, o que não aparenta ser o caso (PA: 80 x 50 mmHg, paciente ainda responsivo, acidose discreta etc.) Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 65 Correta a alternativa D. Conforme vimos, o uso de antimicrobianos e de expansão volêmica com cristaloide consiste em passos essenciais no atendimento de primeira hora do paciente com sepse. (EMESCAM - 2019 - Acesso Direto) Mulher de 55 anos com tosse produtiva e secreção purulenta há 5 dias, com febre e dor torácica, é admitida com FR 32 irpm, PA 80/35 mmHg, Glasgow 14, pO2 91 mmHg em ar ambiente. Assinale a melhor opção para o manejo na primeira hora de abordagem. A) Noradrenalina, cristaloide, ceftriaxona, azitromicina. B) Cristaloide, ceftriaxone, azitromicina. C) Noradrenalina, dobutamina, ringer lactato, piperacilina + tazobactam. D) Ringer lactato, noradrenalina, meropenem. COMENTÁRIOS: �emos aqui uma adulta com sepse de foco pulmonar (tosse produtiva e purulenta + três critérios do quick SOFA → alteração do nível de consciência, hipotensão e taquipneia). Ela tem choque? Não sabemos, pois ainda não foi realizada a expansão volêmica adequada com soluções cristaloides. Devemos usar noradrenalina já? Não, devemos iniciar a reposição volêmica e reavaliar ao final da primeira hora, visto que, nesse caso, não há hipotensão ameaçadora à vida (paciente Glasgow 14, pO2 adequada em baixo suporte de oxigênio suplementar etc.). Sendo assim, vamos excluir todas as assertivas que contêm noradrenalina. Por que deveremos escolher ceftriaxona e azitromicina nesse caso? Porque a paciente não advém do ambiente hospitalar e não tem comorbidades, não tendo – portanto – risco adicional para pneumonias por Pseudomonas aeruginosa, gram-negativos resistentes e S. aureus. Veja detalhes sobre o tratamento de pneumonia no livro-texto de Pneumonias. Correta a alternativa B. 9.0 CONDUTAS ADICIONAIS NO MANEJO INICIAL DA SEPSE CAPÍTULO 7.1 USO DE CORTICOSTEROIDES O bom funcionamento do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal é essencial para a resposta do organismo ao estresse causado por infecções. Na sepse, esse eixo pode estar prejudicado. Assim, há evidências de que o uso de corticosteroides na sepse, em dose baixa, pode acelerar a resolução do choque séptico. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 66 INFECTOLOGIA Sepse O corticosteroide recomendado é a hidrocortisona, na dose de 200 mg ao dia (50 mg a cada 6 horas ou como infusão contínua), por via intravenosa. Medidas essenciais Medidas adicionais 9.2 CONTROLE GLICÊMICO A partir de 2021, a Surviving Sepsis Campaign passou a sugerir o uso de corticosteroides para pacientes com choque séptico e necessidade de terapia vasopressora. Como vimos, o paciente com sepse poderá apresentar uma resposta endócrino-metabólica à infecção, que resultará em um estado hiperglicêmico. Diversos estudos demonstraram um aumento de letalidade apenas quando há hipoglicemia sustentada na sepse, visto o estado catabólico dessa condição. Embora os benefícios do controle glicêmico sejam incertos, a Surviving Sepsis Campaign recomenda que todos os pacientes com sepse recebam insulinoterapia visando uma concentração de glicose abaixo de 180 mg/dL. A teoria que justifica essa correção: estudos in vitro mostram uma pior performance de neutrófilos em condições hiperglicêmicas excessivas. Agora atenção, Estrategista: isso não é parte dos objetivos do manejo inicial do paciente com sepse e nem deve ser resposta de nenhuma questão sobre manejo inicial. Estamos falando aqui de uma etapa complementar. 9.3 VENTILAÇÃO PROTETORA No caso de insuficiênciarespiratória associada à sepse, a intubação orotraqueal não deverá ser postergada, especialmente nos casos em que essa insuficiência respiratória é resultante de uma hipoperfusão tecidual severa. Os pacientes com sepse desenvolverão, em 15% a 20% dos casos, a síndrome do desconforto respiratório do adulto (SDRA), condição na qual a ventilação protetora reduzirá morbidade e mortalidade. O termo é bonito, mas do que se trata a ventilação protetora? Ela consiste no uso de baixos volumes correntes (cerca de 6 mL/kg de peso ideal do paciente), limitando uma pressão de platô durante a ventilação em 30 cmH2O. Essas estratégias visam reduzir a lesão pulmonar induzida por ventilação e barotraumas durante a assistência do paciente com sepse. Temos algum objetivo com essa ventilação? Sim, temos que objetivar uma PaO2 entre 70 e 90 mmHg. 9.4 NUTRIÇÃO DO PACIENTE COM SEPSE Como vimos, a sepse produz um estado catabólico intenso, tendo em vista a redução da absorção de nutrientes, impactada pela gastroparesia e íleo adinâmico, além do aumento do consumo energético causado pelo estresse infeccioso. Em teoria, garantir uma dieta com aumento de calorias e proteínas auxiliaria a resposta imunológica e atuaria na prevenção da desnutrição na sepse, reduzindo algumas complicações, como distúrbios hidroeletrolíticos e neuropatia do doente crítico. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 67 No entanto, essa conta não foi bem positiva nas pesquisas... Ensaios clínicos randomizados recentes não demonstraram diminuição de mortalidade ou do tempo de hospitalização com dieta enteral ou parenteral de forma agressiva e precoce na sepse. Qual é a recomendação atual? Não deixar o paciente instável em jejum e no "soro glicosado", mas oferecer, preferencialmente, dieta enteral conforme tolerância. Esses pacientes devem ter a gastroparesia reavaliada de forma periódica, a fim de evitar-se refluxo e broncoaspiração. 9.5. TRANSFUSÃO DE HEMÁCIAS Na sepse, é recomendada uma estratégia de transfusão restritiva, com transfusão de hemácias indicada para pacientes com hemoglobina abaixo de 7 g/dL. No entanto, a decisão de transfundir hemácias não deve ser baseada exclusivamente na concentração de hemoglobina. É importante avaliar o estado clínico geral do paciente e considerar circunstâncias específicas, como isquemia miocárdica aguda, hipoxemia grave ou hemorragia aguda. 10.0 CONDUTAS CONTRAINDICADAS NO MANEJO INI- CIAL DA SEPSE CAPÍTULO Tão importante quanto saber o que fazer na sepse, é saber o que não fazer no seu manejo inicial, ou seja, condutas que aumentam a mortalidade. Elas são frequentemente cobradas nos exames de Residência, independentemente do ano de consenso em que a prova baseia- se. Vamos ver algumas delas? 10.1 USO DE BICARBONATO DE SÓDIO Quase que na totalidade das questões, o uso de bicarbonato de sódio será uma conduta errada na sepse. Por quê? Temos que tratar a causa da acidose: a má perfusão. Isso é feito por meio da ressuscitação volêmica agressiva e uso de drogas vasoativas quando necessário, e é suficiente para a resolução de quase 90% das acidoses metabólicas na sepse. Logo, não faz sentido neutralizar íons H+ utilizando ativamente bicarbonato de sódio, visto que isso não tratará o núcleo do problema. Além de ser uma medida paliativa, o bicarbonato de sódio pode aumentar o risco de distúrbios do sódio e até edema cerebral. Isso já foi comprovado por diversos estudos que demonstraram maior letalidade em pacientes que usam bicarbonato precocemente na sepse. A única situação em que há indicação do uso de bicarbonato de sódio na sepse, segundo a Surviving Sepsis Campaign, é para pacientes com todos os critérios a seguir: choque séptico, acidose metabólica grave (pH ≤ 7,2) e disfunção renal aguda. 10.2 TERAPIA RENAL SUBSTITUTIVA PRECOCE Vimos, lá na seção de fisiopatologia, que a lesão renal aguda na sepse tem dois problemas centrais: hipoperfusão e inflamação. Visto isso, a maior parte das lesões renais agudas responderá adequadamente à expansão volêmica e ao uso de antimicrobianos. Consecutivamente, não há recomendação para hemodiálise (seja contínua ou intermitente) de forma precoce nesses pacientes. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 68 INFECTOLOGIA Sepse 10.3 PROTEÍNA C ATIVADA Estrategista, veja bem a diferença: não estou falando de proteína C reativa, mas de proteína C ativada. A proteína C ativada foi uma droga desenvolvida no início dos anos 2000, que tinha como objetivo o bloqueio da sinalização de moléculas de trombina presentes no endotélio dos vasos, impedindo a ativação da cascata inflamatória da sepse. A ideia parece genial, não é mesmo? "Eu bloqueio a via inflamatória, que é o cerne de todos os problemas hemodinâmicos na sepse, e resolvo toda a situação". Bem, na prática não foi bem assim... A proteína C ativada recombinante foi analisada no estudo PROWESS (2001), que demonstrou uma redução de mortalidade no primeiro mês, para pacientes que a utilizaram quando comparados ao grupo placebo. No entanto, sua aplicação foi contraindicada ao demonstrarem um aumento de sangramento de 7,2% no grupo de pacientes com quadros mais severos de sepse, colocando-os em risco de grandes hemorragias. Vamos praticar esse último tópico? (HUSE - 2019 - Acesso Direto) A gasometria arterial de uma paciente com sepse de foco pulmonar em tratamento mostrou: pH= 7,1, pCO2= 30 mmHg, pO2= 82 mmHg, HCO3= 14 mEq/L, BE=-6, SatO2= 92%, lactato= 60 mg/dL (normal até 14). Qual a conduta mais adequada neste momento? A) Repor o bicarbonato de sódio 60 mEq e coletar hemoculturas. B) Expansão volêmica com cristaloides 30 ml/kg 30 minutos e mudar o esquema antibiótico. C) Iniciar SF 0,9% 1000mL em 30 minutos e trocar antibiótico após resultados de culturas. D) Iniciar SF 0,9% 500 mL em 3 horas e trocar antimicrobianos. COMENTÁRIO O examinador descreve uma gasometria que mostra um pH baixo (acidose) com bicarbonato baixo, ou seja, uma acidose predominantemente metabólica. Qual é a causa da acidose? Visto que a causa dessa acidose é a produção de lactato resultante da má perfusão, a primeira conduta não é dar bicarbonato para corrigi-la, mas volume para garantir melhor perfusão e menor produção de lactato. A maior parte dos pacientes responderá a essa etapa e não precisará de correção posterior com bicarbonato. Incorreta a alternativa A. Como vimos acima, o uso de bicarbonato de sódio não faz parte do manejo inicial da sepse. Correta a alternativa B. O consenso atual indica que os pacientes com distúrbios perfusionais (incluindo a hiperlactatemia, que é nosso marcador laboratorial de má perfusão) deverão receber soluções cristaloides na dose de 30mL/kg, preferencialmente, em fase rápida. Como essa paciente desenvolveu uma progressão da acidose e do choque em vigência do esquema antimicrobiano em curso, esse não deverá ser mantido, pois há grandes chances dessa complicação ser relacionada à cobertura antimicrobiana inadequada. Incorreta a alternativa C. Não se deve aguardar resultados de culturas para ampliar espectro de antimicrobianos, visto que esses resultados demoram – no mínimo – 48 horas e a intervenção precoce na sepse, com antibioticoterapia, reduz a mortalidade associada a essa síndrome. Incorreta a alternativa D. 500mL de solução cristaloide é certamente insuficiente para a meta de 30mL/Kg de expansão volêmica inicial fundamentada pelo Surviving Sepsis Campaign. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 69 INFECTOLOGIA Sepse Baixe na Google Play Baixe na App Store Aponte a câmera do seu celular para o QR Code ou busque na sua loja de apps. Baixe o app Estratégia MED Preparei uma lista exclusiva de questões com os temas dessa aula! Acesse nosso banco de questões e resolva uma lista elaborada por mim, pensada para a sua aprovação. Lembrando que você pode estudar online ou imprimir as listas sempre que quiser. Resolva questões pelo computadorCopie o link abaixo e cole no seu navegador para acessar o site Resolva questões pelo app Aponte a câmera do seu celular para o QR Code abaixo e acesse o app https://estr.at/3bAF6lO https://estr.at/3bAF6lO Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 70 INFECTOLOGIA Sepse 12.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPÍTULO 1. Sepsis. (n.d.). Acessado em 04 de Fevereiro de 2021 de: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/sepsis. 2. Sepsis Alliance. Fact Sheet 2018. Acessado em 04 de Fevereiro de 2021 de: https://www.sepsis.org/wp-content/uploads/2017/05/Sepsis- Fact-Sheet-2018.pdf. 3. Kumar, G.; Kumar, N.; Taneja, A.; Kaleekal, T.; Tarima, S.; McGinley, E.; Jimenez, E.; Mohan, A.; Khan, R. A.; Whittle, J.; Jacobs, E.; Nanchal, R. (2011). Nationwide Trends of Severe Sepsis in the 21st Century (2000–2007). Chest, 140(5), 1223–1231. https://doi.org/10.1378/ chest.11-0352. 4. Hall, M.J.; Williams, S.J.; DeFrances, C.J.; Golosinsky, A. Inpatient Care for Septicemia or Sepsis: A Challenge for Patients and Hospitals. Acessado em 04 de Fevereiro de 2021 de www.cdc.gov/nchs/data/databriefs/db62.pdf. 5. Instituto Latino-Americano de Sepse. O que é sepse? Acessado em 04 de Fevereiro de 2021 de: https://ilas.org.br/o-que-e-sepse.php. 6. Seymour, C. W.; Gesten, F.; Prescott, H. C.; Friedrich, M. E.; Iwashyna, T. J.; Phillips, G. S.; Lemeshow, S.; Osborn, T.; Terry, K. M.; Levy, M. M. (2017). Time to Treatment and Mortality during Mandated Emergency Care for Sepsis. New England Journal of Medicine, 376(23), 2235–2244. https://doi.org/10.1056/nejmoa1703058; 7. Paoli, C. J.; Reynolds, M. A.; Sinha, M.; Gitlin, M.; Crouser, E. (2018). Epidemiology and Costs of Sepsis in the United States—An Analysis Based on Timing of Diagnosis and Severity Level*. Critical Care Medicine, 46(12), 1889–1897. https://doi.org/10.1097/ccm.0000000000003342; 8. Daviaud, F.; Grimaldi, D.; Dechartres, A.; Charpentier, J.; Geri, G.; Marin, N.; Chiche, J.-D.; Cariou, A.; Mira, J.-P.; Pène, F. (2015). Timing and causes of death in septic shock. Annals of Intensive Care, 5(1). https://doi.org/10.1186/s13613-015-0058-8; 9. Prescott, H. C., Angus, D. C. (2018). Enhancing Recovery from Sepsis. JAMA, 319(1), 62. https://doi.org/10.1001/jama.2017.17687; 10. Cheng, B.; Li, Z.; Wang, J.; Xie, G.; Liu, X.; Xu, Z.; Chu, L.; Zhao, J.; Yao, Y.; Fang, X. (2017). Comparison of the Performance Between Sepsis-1 and Sepsis-3 in ICUs in China. Shock, 48(3), 301–306. https://doi.org/10.1097/shk.0000000000000868; 11. Singer, M.; Deutschman, C. S.; Seymour, C. W.; Shankar-Hari, M.; Annane, D.; Bauer, M.; Bellomo, R.; Bernard, G. R.; Chiche, J.-D.; Coopersmith, C. M.; Hotchkiss, R. S.; Levy, M. M.; Marshall, J. C.; Martin, G. S.; Opal, S. M.; Rubenfeld, G. D.; van der Poll, T.; Vincent, J.-L.; Angus, D. C. (2016). The Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock (Sepsis-3). JAMA, 315(8), 801. https://doi. org/10.1001/jama.2016.0287; 12. Solomkin, J. S.; Mazuski, J. E.; Bradley, J. S.; Rodvold, K. A.; Goldstein, E. J. C.; Baron, E. J.; O’Neill, P. J.; Chow, A. W.; Dellinger, E. P.; Eachempati, S. R.; Gorbach, S.; Hilfiker, M.; May, A. K.; Nathens, A. B.; Sawyer, R. G.; Bartlett, J. G. (2010). Diagnosis and Management of Complicated Intra-abdominal Infection in Adults and Children: Guidelines by the Surgical Infection Society and the Infectious Diseases Society of America. Clinical Infectious Diseases, 50(2), 133–164. https://doi.org/10.1086/649554; 13. Brun-Buisson, C.; Doyon, F.; Carlet, J.; Dellamonica, P.; Gouin, F.; Lepoutre, A.; Mercier, J.C.; Offenstadt, G.; Régnier, B. Incidence, risk factors, and outcome of severe sepsis and septic shock in adults. A multicenter prospective study in intensive care units. French ICU Group for Severe Sepsis. JAMA. 1995 Sep 27;274(12):968-74. PMID: 7674528; 14. Drosatos, K.; Lymperopoulos, A.; Kennel, P. J.; Pollak, N.; Schulze, P. C.; Goldberg, I. J. (2014). Pathophysiology of Sepsis-Related Cardiac Dysfunction: Driven by Inflammation, Energy Mismanagement, or Both? Current Heart Failure Reports, 12(2), 130–140. https://doi. org/10.1007/s11897-014-0247-z; 15. Schrier, R. W.; Wang, W. (2004). Acute Renal Failure and Sepsis. New England Journal of Medicine, 351(2), 159–169. https://doi. org/10.1056/nejmra032401; Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 71 16. Chung, H.-Y.; Wickel, J.; Brunkhorst, F. M.; Geis, C. (2020). Sepsis-Associated Encephalopathy: From Delirium to Dementia? Journal of Clinical Medicine, 9(3), 703. https://doi.org/10.3390/jcm9030703; 17. Instituto Latino-Americano de Sepse. Sepse: um problema de saúde pública. Acessado em 04 de Fevereiro de 2021 em https://ilas.org.br/ assets/arquivos/ferramentas/livro-sepse-um-problema-de-saude-publica-cfm-ilas.pdf; 18. Levi, M.; de Jonge, E.; van der Poll, T. (2003). Sepsis and Disseminated Intravascular Coagulation. Journal of Thrombosis and Thrombolysis, 16(1/2), 43–47. https://doi.org/10.1023/b:thro.0000014592.27892.11; 19. Vincent, J.-L.; Moreno, R.; Takala, J.; Willatts, S.; De Mendonça, A.; Bruining, H.; Reinhart, C. K.; Suter, P. M.; Thijs, L. G. (1996). The SOFA (Sepsis-related Organ Failure Assessment) score to describe organ dysfunction/failure. Intensive Care Medicine, 22(7), 707–710. https://doi. org/10.1007/bf01709751; 20. Martin, G. S.; Mannino, D. M.; Eaton, S.; Moss, M. (2003). The Epidemiology of Sepsis in the United States from 1979 through 2000. New England Journal of Medicine, 348(16), 1546–1554. https://doi.org/10.1056/nejmoa022139. 21. 21. Evans L, Rhodes A, Alhazzani W, Antonelli M, Coopersmith CM, French C, et al. Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Sepsis and Septic Shock 2021. Crit Care Med. 2021 Nov 1;49(11):e1063-e1143. doi: 10.1097/CCM.0000000000005337. 13.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS CAPÍTULO É com muito carinho e prazer que finalizo este livro-digital para que você sempre se lembre da sepse na sua prova de clínica médica, pediatria ou cirurgia. Lembre-se sempre dos critérios mais atuais para o diagnóstico dessa síndrome, que não consideram mais o termo sepse grave e que oferecem novos critérios para o diagnóstico de choque séptico. Nunca se esqueça do pacote de manejo inicial, principalmente daquilo que você não deve fazer: amidos, transfusões, correção de acidose metabólica com bicarbonato e proteína C ativada, pois são medidas que aumentam a mortalidade desses pacientes. E recorde-se do que é essencial e salva os pacientes com sepse na primeira hora de atendimento: volume e antimicrobianos. Estou acessível através do nosso fórum, caso você tenha qualquer dúvida sobre o assunto. Você está um passo mais próximo da sua vaga de Residência. Bons estudos! Prof. Bruno https://doi.org/10.1056/nejmoa022139 Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 72 INFECTOLOGIA Sepse https://med.estrategia.com/ O QUE CAI SOBRE SEPSE POR AÍ? 1.0 INTRODUÇÃO 1.1 EPIDEMIOLOGIA DA SEPSE 1.2 FATORES DE RISCO 2.0 EVOLUÇÃO DOS CONSENSOS DE SEPSE 3.0 DEFINIÇÕES 4.0 FISIOPATOLOGIA DA SEPSE 4.1 CITOCINAS PRÓ E ANTI-INFLAMATÓRIAS 4.2 ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS E ACIDOSE METABÓLICA 4.3 ALTERAÇÕES VENTILATÓRIAS NA SEPSE 4.4 ALTERAÇÕES CARDIOLÓGICAS NA SEPSE 4.5 ALTERAÇÕES RENAIS NA SEPSE 4.6 ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS NA SEPSE 4.7 ALTERAÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL NA SEPSE 4.8 ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS NA SEPSE 4.9 ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS NA SEPSE 5.0 ESCORES DE TRIAGEM PARA SUSPEITA DE SEPSE 5.1 SÍNDROME DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA SISTÊMICA (SIRS) 5.2 ESCORE QUICK SOFA 5.3. NEWS2 E MEWS 5.4. COMPARAÇÃO ENTRE OS ESCORES 6.0 ESCORES PROGNÓSTICOS NA SEPSE 6.1. ESCORE SOFA 6.2 ESCORE MOTTLING (LIVEDO RETICULAR) 7.0 CLASSIFICAÇÃO DA SEPSE 7.1 CLASSIFICAÇÃO PELO SEPSIS-1 E SEPSIS-2 7.2 CLASSIFICAÇÃO PELO SEPSIS-3 (ATUAL) 8.0 MANEJO DA SEPSE 8.1 COLETA DE PROVAS DE DISFUNÇÃO ORGÂNICA (INCLUINDO LACTATO) 8.1.1 LACTATOcomunidade ou no ambiente hospitalar. Por que devemos saber sepse muito bem? Vou convencê-lo: Frequência: Em adultos: estima-se que, em 2017, tivemos 48.9 milhões de casos de sepse em todo o mundo, com 11 milhões de mortes relacionadas a ela, correspondendo a 20% de todas as mortes globais. No Brasil, estimam-se 600.000 casos de sepse todo ano. Em nosso país, 25% dos pacientes em UTI estão internados por sepse e suas complicações, sendo essa a causa mais comum de óbito em unidades de terapia intensiva. Em crianças: estima-se que, em 2017, quase metade dos casos de sepse no mundo ocorreram na faixa etária pediátrica (20 milhões). Disparidades sociais: Aproximadamente, 85% dos casos de sepse e óbitos relacionados a ela ocorreram em países em desenvolvimento, em 2017, sendo esse um indicador de assistência inadequada em saúde. Dentre esses países está o Brasil, onde a mortalidade atribuída à sepse chega a 65%, quando comparada a 30% e 40% dos países Magnitude: A ocorrência de sepse advinda da comunidade ou do ambiente hospitalar aumenta em até US$ 18.000 o custo de uma internação simples, podendo triplicar, caso o paciente precise de cuidados intensivos. Nos EUA, gastam-se US$ 24 bilhões por ano com sepse e suas complicações. Tendência: A sepse será uma complicação cada vez mais encontrada nos serviços de saúde, devido ao aumento da realização de procedimentos invasivos, maior emprego de imunossupressão e aumento da expectativa de vida humana. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 8 Morbidade: Até 50% dos pacientes com diagnóstico prévio de sepse desenvolverão sequelas físicas e psicológicas nos meses após sua internação, como: hipotrofia muscular, impacto cognitivo, ansiedade, depressão, infecções recorrentes, exacerbação de disfunções prévias (como DPOC, doença renal crônica e insuficiência cardíaca) e impacto em sua reintegração sociolaboral. E a sepse tem fatores de risco demográficos? Sim, e isso já foi cobrado em provas de Residência. Um grande estudo multicêntrico de 2003 demonstrou que a maior parcela dos quadros de sepse ocorre em pacientes do sexo masculino, não brancos, admitidos da comunidade, com infecções bacterianas multissensíveis. 1.2 FATORES DE RISCO Algumas condições clínicas prévias e medicações de uso contínuo também já foram correlacionadas com maior ocorrência de sepse. De forma lógica e geral, um paciente com algum grau de imunodeficiência terá maiores chances de desenvolver infecções bacterianas, virais, fúngicas e parasitárias invasivas. Veja abaixo os fatores de risco clínicos associados à maior ocorrência de sepse: Fatores de risco para o desenvolvimento de sepse Idade Imunodeficiências Abaixo de 2 anos/Acima de 55 anos Imunodeficiência primária (fatores genéticos) ou secundária Doenças crônicas Transplantes Câncer Quimioterapia/Radioterapia Diabetes Corticoterapia crônica DPOC Hemotransfusão Cirrose/obstrução biliar Quebra de barreira Fibrose cística Trauma e queimados Doença renal crônica Cirurgias Insuficiência cardíaca congestiva Dispositivos (cateter central, tubo orotraqueal) Doenças do colágeno Outros Obesidade Desnutrição/Infecções ativas Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 9 INFECTOLOGIA Sepse CAI NA PROVA (UESPI - 2014 - Acesso Direto) São fatores de risco para a sepse, EXCETO: A) Pneumonia adquirida na comunidade. B) Diabetes. C) Imunossupressão. D) Idade acima de 50 anos. E) Fatores genéticos. COMENTÁRIO: Questão superespecífica e que abordou, exatamente, a idade de corte como fator de risco para sepse. A sepse é, comprovadamente, mais prevalente em pacientes maiores de 55 anos, de acordo com os maiores estudos retrospectivos sobre o tema, não 50 anos, como aponta a assertiva incorreta. Os outros fatores de risco são corretos e estão descritos na tabela que acabamos de ver, sendo associados à maior ocorrência de sepse. Os fatores genéticos podem levar às doenças autoimunes, imunodeficiências primárias e também participam na “proteção” contra o choque séptico, visto que alguns pacientes são geneticamente predispostos a uma menor inflamação, conforme veremos adiante. Correta a alternativa D: Vamos entender agora como diferentes consensos abordaram essa síndrome. Agora, confira como isso foi cobrado em provas anteriormente: Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 10 CAPÍTULO 2.0 EVOLUÇÃO DOS CONSENSOS DE SEPSE É normal “bater um desespero” ao treinar suas questões sobre sepse no SQMED. Essas questões são temporalmente distintas, pois podem abordar conceitos mutáveis estabelecidos em diferentes consensos, como o Sepsis-1 (criado em 1991 e sedimentado em 1998), Sepsis-2 (2012) e Sepsis-3 (2016). Portanto, querido Estrategista, seu treinamento com questões deverá sempre começar com a pergunta: “De que ano é essa prova?” seguida de “Qual era o consenso vigente nessa época?”. Depois de responder de acordo com o diagnóstico e conduta estabelecidos pelo consenso da época, você sempre tem que, por fim, questionar: “Se fosse pelo consenso atual (Sepsis-3), essa resposta seria diferente ou a mesma?”. Isso vai ajudá-lo a desenvolver maturidade e a sedimentar os conceitos que mais importam para suas provas do futuro: aqueles contidos no Sepsis-3. Veja abaixo as diferenças: Ano Sepsis - 1 Por que foi criado? Triagem Classificação Manejo Sepsis - 2 Ano Por que foi modificado? Triagem Classificação Manejo Sepsis - 3 Ano Por que foi modificado? Triagem Classificação Manejo 1991 Sistematizar a identificação de pacientes suspeitos, visto o pico de mortalidade atribuída à sepse no início dos anos 90 2 critérios de SIRS + foco infeccioso = Sepse Infecção, Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico Não tinha pacote de 6 horas, indicava monitorização de PVC e cateterismo de Swan-Ganz, considerava o uso de 2 vasopressores 2012 Foco na conduta. Evitar manejo invasivo e sistematizar o cuidado 2 critérios de SIRS + foco infeccioso = Sepse Infecção, Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico Adicionou escore SOFA. Introduziu pacote de 6 horas, retirou necessidade universal de monitorar PVC e cateterismo de Swan- Ganz, Noradrenalina como vasopressor preferencial 2016 Critério de SIRS eram muito sensíveis e pouco específicos 2 critérios do qSOFA + foco infeccioso = Sepse Infecção, Sepse e Choque Séptico Foco no diagnóstico clínico de componente cardiogênico, endossou particularidades em pacientes idosos e imunossuprimidos Figura 1: Evolução dos consensos de sepse. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 11 INFECTOLOGIA Sepse 3.0 DEFINIÇÕES CAPÍTULO A definição e a classificação da sepse são publicadas pelo International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock, sendo a mais recente conhecida como estudo Sepsis-3. Apesar de ser de 2016, suas definições continuam vigentes. Esse guia define a sepse como “disfunção orgânica ameaçadora à vida, causada por uma resposta desregulada do organismo à infecção”. Considerando a necessidade de padronização, a disfunção orgânica ameaçadora à vida foi definida, nesse documento, como um aumento de dois pontos ou mais no escore SOFA. Já o choque séptico ficou definido como a presença de sepse somada a níveis elevados de lactato arterial (acima de 18mg/dL ou 2mmol/L) e hipotensão arterial que requer o uso de medicamentos vasopressores para manter a pressão arterial média igual ou superior a 65mmHg, mesmo após adequada reposição de volume. Alguns pacientes têm uma resposta inflamatória mais acentuada que o normal e isso provavelmente está relacionado a alguns polimorfismos genéticos, que levam esses pacientes a uma exacerbada tempestade de citocinas a partir de uma infecção. Nem sempre a sepse cursará com bacteremia (detecção de uma bactéria em hemoculturas). Por exemplo, posso ter o cenário de uma pielonefrite com choque séptico e múltiplasARTERIAL 8.2 COLETA DE CULTURAS 8.3 ANTIBIOTICOTERAPIA E CONTROLE DO FOCO 8.4 RESSUSCITAÇÃO VOLÊMICA 8.5 DROGAS VASOATIVAS (DVAs) 8.6 MONITORIZAÇÃO DA RESSUSCITAÇÃO NA SEPSE 9.0 CONDUTAS ADICIONAIS NO MANEJO INICIAL DA SEPSE 7.1 USO DE CORTICOSTEROIDES 9.2 CONTROLE GLICÊMICO 9.3 VENTILAÇÃO PROTETORA 9.4 NUTRIÇÃO DO PACIENTE COM SEPSE 9.5. TRANSFUSÃO DE HEMÁCIAS 10.0 CONDUTAS CONTRAINDICADAS NO MANEJO INICIAL DA SEPSE 10.1 USO DE BICARBONATO DE SÓDIO 10.2 TERAPIA RENAL SUBSTITUTIVA PRECOCE 10.3 PROTEÍNA C ATIVADA 11.0 LISTA DE QUESTÕES 12.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 13.0 CONSIDERAÇÕES FINAIShemoculturas negativas. A infecção está lá, no parênquima renal, mas não é a bactéria que faz essa instabilidade toda e sim as citocinas e interleucinas produzidas por células de defesa que respondem a ela. No entanto, vale lembrar que as hemoculturas serão positivas em 30% a 50% dos pacientes com sepse associada à disfunção orgânica. O que não é sinônimo de sepse Febre com leucocitose Infecção com hipotensão Bacteremia ou infecção de corrente sanguínea Infecção por microrganismo multirresistente Infecção de múltiplos órgãos Vamos ver como isso cai nas nossas provas: CAI NA PROVA (UNICESUMAR - 2019 - Acesso Direto ) Qual é a definição mais atual e adequada da sepse? A) Presença de disfunção ameaçadora à vida decorrente da presença de resposta desregulada à infecção. B) Infecção bacteriana que se espalha por vários órgãos, causando múltiplas disfunções. C) Infecção ocasionada por germe multirresistente e relacionada aos serviços de saúde. D) Presença de Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) associada a uma infecção. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 12 COMENTÁRIO Questão que aborda os conceitos que acabamos de ver. A dúvida principal ficaria entre as alternativas A e D. Vamos ver uma a uma: Correta a alternativa A: Essa definição é a que sedimenta os conceitos mais atuais sobre sepse, que é descrita como uma hiper- inflamação disfuncional causada por uma infecção. Incorreta a alternativa B. A sepse também pode ser causada por infecção viral e fúngica, por exemplo, e não necessariamente terá o patógeno detectado em diversos órgãos. Incorreta a alternativa C. A sepse também pode ser causada por microrganismos multissensíveis, que é o que ocorre na maioria dos casos. Incorreta a alternativa D. Essa seria a definição estabelecida pelo Sepsis-1 e 2, mas não é a mais atual: o Sepsis-3 entende sepse como dois critérios positivos do quick SOFA associados a uma infecção suspeitada ou confirmada. Veremos esse conceito posteriormente. (UNIOESTE - 2018 - Acesso Direto) Segundo as novas definições de sepse, publicadas em 2016 (SEPSIS-3), entende-se por sepse A) Toda infecção que esteja associada à febre e leucocitose. B) SIRS + infecção. C) a presença de disfunção orgânica ameaçadora à vida causada por uma resposta desregulada do organismo frente a uma infecção. D) o escore de SOFA > 2. E) infecção + hipotensão refratária aos fluidos. COMENTÁRIO Depois de vermos a definição geral, ficou simples, né? Vamos analisar as assertivas: Incorreta a alternativa A. A sepse é definida como uma resposta inflamatória exacerbada causando disfunções orgânicas. Uma faringite aguda poderia dar febre e leucocitose sem sepse, por exemplo. Incorreta a alternativa B. Lembre-se de que essa questão é de 2018, ano no qual o Sepsis-3 já era vigente, não utilizando os critérios de SIRS para definir sepse. Correta alternativa “C” Ela define sepse integralmente, conforme vimos acima. Incorreta a alternativa D. O escore de SOFA não faz parte da definição de sepse. Veremos mais à frente: ele é um escore de disfunções orgânicas utilizado para estimar a mortalidade dos pacientes. Incorreta a alternativa E. Infecção com hipotensão refratária não é sepse, mas choque séptico, como veremos logo à frente. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 13 INFECTOLOGIA Sepse 4.0 FISIOPATOLOGIA DA SEPSE CAPÍTULO Toda infecção por um microrganismo ativará nosso sistema imunológico. Tal resposta terá início, primeiramente, pela resposta inata (ou inespecífica), que englobará a resposta de macrófagos, neutrófilos e eosinófilos contra o agente infeccioso. Essa resposta manifestar- se-á, principalmente, através da fagocitose, produção de exotoxinas, enzimas proteolíticas e ativação de células dendríticas. Figura 2: Imunidade Inata e Adaptativa. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 14 Células dendríticas, por sua vez, serão os maestros da interseção entre a resposta inata e a adaptativa: elas apresentarão uma molécula proteica ou polissacarídica que compõe o microrganismo invasor (também chamada de epítopo), ativando linfócitos T helper (auxiliares). Consecutivamente, os linfócitos auxiliares ativarão as células efetoras da resposta adaptativa (ou específica): linfócitos B (que produzirão anticorpos), linfócitos T (que executarão uma resposta celular citotóxica) e células NK (natural killer), que produzirão uma resposta citotóxica em células infectadas e liberarão exotoxinas. Grave uma coisa a respeito da resposta adaptativa: ela desenvolve memória imunológica (linfócitos T de memória), que permite uma resposta mais rápida e mais potente diante de uma possível reexposição ao mesmo antígeno. Vamos relembrar os componentes de cada uma dessas respostas? Confira no esquema e tabela abaixo: Comparativo entre as respostas inata e adaptativa Característica Imunidade inata Imunidade adaptativa Células envolvidas Macrófagos, neutrófilos, células dendríticas, células NK Linfócitos T e B Tempo de existência no período evolutivo Antiga Recente Início de ação Rápida Lenta Especificidade Inespecífica Específica Memória Ausente Significativa Eficiência Não aumenta com a exposição Aumenta conforme exposição repetida Por último, gostaria de falar com você sobre superantígenos. O que são eles? São antígenos bacterianos que se ligam externamente a receptores de células T, exclusivamente ao complexo maior de histocompatibilidade classe II (MHC classe II). Não lembra a diferença entre os complexos de histocompatibilidade? Veja aqui essa explicação no Livro de Reumatologia – Introdução à resposta imune. Essa ligação é forte, pouco reversível e estimula linfócitos T a produzirem uma grande tempestade de citocinas. Tal tempestade culminará em uma intensa resposta inflamatória, causando vasodilatação, redução intensa da resistência vascular periférica, choque e dano ao endotélio vascular (favorecendo a trombose). Temos como exemplos de superantígenos principais a toxina-1 da síndrome tóxica estafilocócica (TSST-1), a exotoxina pirogênica estreptocócica (SPE), a exotoxina estafilocócica (SE) e exotoxinas da E. coli enterotoxigênica (ETEC). Veja abaixo como essa ligação funciona: Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 15 INFECTOLOGIA Sepse 4.1 CITOCINAS PRÓ E ANTI-INFLAMATÓRIAS Sim, querido Estrategista, as bancas estão cada vez mais criativas e acabam perguntando sobre a produção e ação de cada citocina na sepse. Isso acontece porque estudos recentes sobre polimorfismos genéticos mostraram a razão pela qual alguns pacientes têm sepse com maior gravidade e choque, enquanto outros têm quadro com boa resposta. Um dos motivos principais é o desvio da resposta para uma hiperprodução de IL-10, citocina essa que reduz a ação vasodilatadora das outras, poupando o paciente de um choque refratário. Vamos ver abaixo alguns fatores pró e anti-inflamatórios na sepse: Figura 3: Superantígenos. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 16 Citocinas, fatores celulares e endoteliais envolvidos na sepse Classificação Mediador Produção Ação na sepse Citocinas pró- inflamatórias IL-1β Linfócitos T e B, monócitos e células endoteliais Febre, vasodilatação, choque e supressão do miocárdio IL-6 Linfócitos T e B, células endoteliais Febre e expansão clonal de linfócitos IL-17 Linfócitos T Expansão da secreção de quimiocinas IL-8 Macrófagos e monócitos Expansão clonal de linfócitos T, migração de neutrófilos TNF-α Macrófagos Febre, vasodilatação, choque e ativação de neutrófilos Citocina anti-inflamatória IL-10 Macrófagos, linfócitos e células endoteliais Reduz ativação de macrófagos, feedback negativo do TNF-α Mediadores endoteliais Óxido nítrico Células endoteliais Aumenta permeabilidade vascular, reduzindo a resistência vascular periférica e causando hipotensãoMediadores lipídicos Prostaglandinas Leucócitos Vasoconstrição, broncoespasmo Leucotrienos Leucócitos Vasoconstrição, broncoespasmo Tromboxanos Leucócitos Vasoconstrição, broncoespasmo Fator de ativação plaquetária (FAP) Leucócitos Ativação de células endoteliais e agregação plaquetária, levando à plaquetopenia Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 17 INFECTOLOGIA Sepse Quer ver como imunologia cai em provas? Acompanhe-me: CAI NA PROVA Grave assim: o paciente com muita IL-10 fica 10! Ele não adoece, porque ela o protege. (SURCE - 2014 - Acesso Direto) Paciente masculino, 69 anos, diabético e com mal perfurante plantar no pé direito, há 3 dias vem evoluindo com febre, calafrios e drenagem de secreção purulenta pela lesão cutânea. Duas hemoculturas colhidas em locais de punção distintos detectaram a presença de uma bactéria Gram-negativa. Do ponto de vista fisiopatológico, qual das condições abaixo se associa à menor chance de progressão para o choque? A) Aumento da concentração sérica de Interleucina 10. B) Redução da concentração sérica de proteína C-reativa. C) Aumento da concentração sérica de Óxido nítrico. D) Redução da concentração sérica de Cortisol. COMENTÁRIO Questão que era pra ser difícil, mas que ficou “moleza” depois que vimos as interleucinas envolvidas na sepse, não é mesmo? Correta alternativa A. A IL-10 tem efeito protetor na sepse, diminuindo a secreção de TNF-α e, consecutivamente, protegendo pacientes de progredirem ao choque. Incorreta a alternativa B. A proteína C reativa é uma proteína de fase aguda produzida pelo fígado e altamente reativa em casos de infecções sistêmicas e outras condições inflamatórias. No entanto, durante a sepse grave e choque séptico, podemos ter disfunção hepática aguda com a redução da concentração dessa proteína, indicando pior prognóstico, não melhor. Incorreta a alternativa C. O óxido nítrico resulta do estímulo endotelial vascular pelas citocinas pró-inflamatórias IL-1, IL-6 e TNFα, e é pioneiro nos fenômenos de vasodilatação, redução da resistência vascular periférica e, consecutivamente, progressão ao choque. Incorreta a alternativa D. O cortisol pode ser reduzido na sepse grave, que pode piorar o choque já em curso com uma insuficiência adrenal associada a essa síndrome, complicação ligada à maior mortalidade atribuída a essa doença. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 18 (SUS-SP (2021) Acesso Direto) Assinale a alternativa correta referente à imunidade inespecífica: A) A imunidade inespecífica é constituída de mecanismos de defesa bioquímicos e celulares que já estão presentes no organismo antes mesmo de se iniciar o processo infeccioso, respondendo, prontamente, à infecção. B) A imunidade inespecífica exige a existência de estímulos prévios e costuma ter períodos de latência longos, de, pelo menos, um ano. C) A imunidade inespecífica é a linha de frente da defesa do nosso organismo, mas tem pouca capacidade de impedir a instalação de uma doença, necessitando de reforço imunológico. D) O interferon é uma substância de natureza lipídica produzida pelas células de defesa do organismo após uma infecção viral, e se constitui no único mecanismo de imunidade inespecífica. E) A imunidade inespecífica inicia-se quando os agentes infecciosos são reconhecidos nos órgãos linfoides pelos linfócitos T e B. COMENTÁRIO Vamos relembrar os braços da resposta imunológica? Como vimos, temos a imunidade inata (que nasce com a pessoa), também chamada de inespecífica, pois não se adapta ao agente infeccioso. Ela é composta por barreiras naturais (pele e mucosas, secreções, flora endógena, ácido gástrico) e pela linha inflamatória inata (macrófagos, neutrófilos, células dendríticas, células NK e proteínas do sistema complemento). A resposta adaptativa, por outro lado, precisa ser ativada por linfócitos auxiliares e gerará uma resposta personalizada a um agente infeccioso, produzindo uma imunidade humoral (anticorpos) ou celular (linfócitos CD4+ e CD8+) específica contra ele. Relembre mais conceitos básicos de imunologia nesse capítulo do Livro de Reumatologia. Vamos analisar as assertivas? Correta alternativa A. A imunidade inata é presente em nosso corpo desde o nascimento, antes das infecções aparecerem. Incorreta a alternativa B. A imunidade inespecífica é inata, não precisa de estímulos prévios para desenvolver-se e não gera memória imunológica, por não conter linfócitos entre suas células efetoras. Incorreta a alternativa C. A maior parte das infecções resolve-se-á com os braços iniciais da resposta inata. Incorreta a alternativa D. Interferons são proteínas sinalizadoras (citocinas) produzidas por células da resposta inata e da resposta adaptativa, atuando, principalmente, na resposta antiviral. Incorreta a alternativa E. Linfócitos T e B participam da imunidade específica, também chamada de adaptativa. 4.2 ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS E ACIDOSE METABÓLICA Esse é o tópico mais importante dentro das alterações fisiológicas da sepse, pois explicará todas as outras disfunções orgânicas associadas a essa síndrome. Um estímulo infeccioso (por exemplo, uma pneumonia, pielonefrite ou celulite) levará à intensa liberação de citocinas pró-inflamatórias (principalmente IL-1, IL-6 e TNFα). Essas citocinas promoverão uma intensa vasodilatação de capilares, com eventual extravasamento plasmático. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 19 INFECTOLOGIA Sepse A vasodilatação intensa gera, consecutivamente, uma redução importante da resistência vascular periférica (RVP), e aí é que mora o principal mecanismo disfuncional da sepse... Você se lembra daquela fórmula que aprendemos em fisiologia para entender a hidrodinâmica da pressão arterial? Figura 4: Equação de composição da pressão arterial. Lactato Figura 5: Alterações hemodinâmicas na sepse. Pressão arterial Débito cardíaco Resistência vascular periférica Frequência cardíaca Volume sistólico Venha comigo: se reduzo a resistência vascular periférica, consequentemente, a pressão arterial é reduzida, levando à hipotensão arterial sistêmica. Para compensar a hipotensão arterial e não deixar o organismo morrer de choque, nosso corpo tenta aumentar o débito cardíaco através do aumento da frequência cardíaca. Visto isso, temos aqui dois achados clínicos da sepse: taquicardia e hipotensão. Confira abaixo: Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 20 A redução da pressão arterial com vasodilatação capilar intensa privará células de diversos órgãos de receberem oxigênio e glicose adequadamente. Sem glicose, células e tecidos entram em estado catabólico, produzindo inúmeros tipos de radicais livres. Sem oxigênio, as células realizarão sua produção de energia através do metabolismo anaeróbio, que, além de ser ruim do ponto de vista energético (produz apenas 2 ATPs), tem como subproduto o ácido lático. O ácido lático, por ser um ácido facilmente ionizável, irá dissociar-se em íons H⁺ e lactato. O acúmulo de íons H⁺ gerará, então, uma acidose metabólica. Vamos mais longe, lá na nefrologia: não temos um ácido novo sendo produzido? Sim, temos! Portanto, a sepse vai apresentar-se com uma acidose metabólica de ânion gap aumentado às custas de lactato, que consumirá os íons bicarbonato (HCO3¯) disponíveis no sangue. Temos duas coisas que podem causar uma acidose: uma redução dos íons bicarbonato (acidose metabólica) e um aumento dos níveis de pCO2 (acidose respiratória). Venha comigo: o que nosso corpo tenta fazer para resolver a acidose metabólica? Ele tenta reduzir a pCO2 "eliminando" mais gás carbônico (alcalose respiratória compensatória) e isso é feito por meio do aumento da frequência respiratória e das amplitudes inspiratórias (aumentando então o volume corrente). Visto isso, essa respiração mais frequente e mais profunda vista na acidoseé chamada de ritmo respiratório de Kussmaul. Lembre-se de que esse ritmo não é exclusivo da sepse, podendo também ser encontrado em outros casos de acidose, como na cetoacidose diabética. Confira como é a respiração de Kussmaul, no esquema abaixo: 4.3 ALTERAÇÕES VENTILATÓRIAS NA SEPSE Vo lu m e m in ut o (V M ) Tempo Expiração Inspiração Pausa Respiração de Kussmaul Já vimos acima que nosso paciente fica taquipneico e com maior amplitude inspiratória durante um episódio de sepse, mas existe uma complicação mais específica muito temida: a síndrome do desconforto respiratório do adulto (SDRA). Essa síndrome acontece em 18 a 25% dos casos de sepse e é causada pela hiperinflamação resultante de um foco infeccioso, independentemente de seu foco. Isso mesmo, o paciente não precisará ter, necessariamente, uma pneumonia para ser diagnosticado com SDRA. Figura 6: Alterações hemodinâmicas na sepse. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 21 INFECTOLOGIA Sepse Como essa síndrome ocorre? Citocinas pró-inflamatórias produzidas em qualquer infecção (por exemplo, numa pielonefrite) atingem a corrente sanguínea junto a padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) e padrões moleculares associados ao dano (DAMPs). Lembra-se da diferença? PAMPs são conteúdos componentes da estrutura do microrganismo (pilina, flagelina, LPS, galactomanana) e DAMPs são produtos moleculares eliminados no fim de uma reação inflamatória (uratos, proteínas nucleares etc.), como se fossem "restos da guerra". Imunologia, às vezes, é cansativa, porém é essencial para entendermos a fisiopatologia da SDRA: os PAMPs, DAMPs e citocinas produzidos pela infecção atingirão os capilares alveolares, aumentando a permeabilidade capilar e levando à formação de NETs (armadilhas extracelulares de neutrófilos). Essas armadilhas aumentarão a pressão dentro do capilar. Como a permeabilidade estará aumentada, teremos extravasamento de plasma para zonas de menor pressão (alvéolos), levando ao acúmulo de líquido interalveolar, achado essencial da SDRA (Figura 7). Figura 7: Alterações inflamatórias na SDRA. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 22 Como ficará mais difícil realizar trocas gasosas - afinal, há líquido no alvéolo - a relação PaO2/FiO2 ficará, obrigatoriamente, reduzida (abaixo de 300), na SDRA. Como a SDRA manifesta-se em uma radiografia de tórax? Geralmente, vemos preenchimento alveolar bilateral, poupando ápices pulmonares, com eventuais broncogramas aéreos. A presença de derrame pleural é frequente, ocorrendo em 80% dos pacientes (Figura 8). CAI NA PROVA (HMTJ - 2011 - Acesso Direto) A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) inclui: A) Sinais sugestivos de insuficiência cardíaca congestiva. B) PaO2/FiO2precoce de drogas vasoativas pode reduzir o fluxo pré-renal, piorando a lesão renal aguda, e não deve ser estimulado. Para finalizar, o uso precoce de terapia renal substitutiva foi correlacionado, em diversos estudos, a um aumento da mortalidade atribuída à sepse e não deve ser indicado. Vamos ver como isso é cobrado nas provas? CAI NA PROVA RJ - Secretaria Estadual de Saúde - SES RJ - 2025) Durante o desenvolvimento da sepse, várias alterações imunológicas e vasculares ocorrem, levando a disfunção orgânica e hipotensão. Qual dos mecanismos abaixo é considerado um dos principais responsáveis pela vasodilatação periférica e queda da pressão arterial observada no choque séptico? A) Produção excessiva de cortisol. B) Aumento da liberação de endotelina. C) Ativação do sistema complemento. D) Excesso de óxido nítrico (NO) devido à indução de óxido nítrico sintase (iNOS). E) Produção excessiva de tromboxano A2. COMENTÁRIO: Questão difícil sobre sepse, que aborda a fisiopatologia do choque séptico. Embora esse tema não seja comum em provas, vale a pena aproveitar para revisar e aprender mais sobre o assunto. Incorreta a alternativa A. A produção excessiva de cortisol não está associada à vasodilatação periférica. Pelo contrário, em estados de sepse grave, pode haver insuficiência adrenal relativa, o que exacerba a hipotensão devido à incapacidade de manter o tônus vascular e regular a resposta inflamatória. O cortisol tem efeito vasoconstritor indireto ao aumentar a sensibilidade dos vasos à noradrenalina e à angiotensina II. Incorreta a alternativa B. A endotelina é um potente vasoconstritor produzido pelo endotélio vascular. Apesar de ter papel na disfunção microvascular durante a sepse, não é responsável pela vasodilatação observada no choque séptico. A endotelina pode, na verdade, contribuir para o dano vascular e disfunção orgânica. Incorreta a alternativa C. O sistema complemento é um conjunto de proteínas que fazem parte da resposta imune inata. A ativação do complemento pode levar à liberação de mediadores inflamatórios que contribuem para a resposta inflamatória sistêmica na sepse. No entanto, a ativação do complemento não é o principal mecanismo responsável pela vasodilatação no choque séptico. Correta a alternativa D. O óxido nítrico (NO) é um potente vasodilatador produzido pelas células endoteliais e macrófagos. Durante a sepse, a produção de NO aumenta significativamente devido à indução da enzima óxido nítrico sintase induzível (iNOS). O excesso de NO leva ao relaxamento da musculatura lisa vascular, vasodilatação periférica e consequente queda da pressão arterial, contribuindo para o choque séptico. Incorreta a alternativa E. O tromboxano A2, derivado do metabolismo do ácido araquidônico, é um agente vasoconstritor e pró-agregante plaquetário. Sua produção excessiva pode estar envolvida em alterações microcirculatórias, mas não é um mecanismo de vasodilatação no choque séptico. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 26 (RS - Associação Médica do Rio Grande do Sul - AMRIGS - 2024) Considerando as particularidades do choque séptico, analise as assertivas a seguir: I. O seu substrato fisiopatológico envolve componentes distributivos, hipovolêmicos e cardiogênicos. II. O componente distributivo é o responsável pela fase hiperdinâmica inicial e pelos sinais clínicos precoces. III. O tratamento é determinado pela evolução. Inicia com expansão volumétrica, necessitando frequentemente suporte hemodinâmico medicamentoso. Quais estão corretas? A) Apenas I e II. B) Apenas I e III. C) Apenas II e III. D) I, II e III. COMENTÁRIOS Essa questão foca nas alterações cardiovasculares e hemodinâmicas da sepse. Vamos analisar cada afirmativa individualmente. I – correta. O choque séptico envolve uma complexa resposta fisiopatológica que inclui componentes distributivos (vasodilatação sistêmica), hipovolêmicos (perda de volume intravascular) e, em alguns casos, também pode apresentar componente cardiogênico devido à disfunção cardíaca associada à sepse. II – correta. Na fase inicial do choque séptico, ocorre uma resposta inflamatória sistêmica que leva a uma vasodilatação generalizada e aumento do débito cardíaco, resultando em uma fase hiperdinâmica. III – correta. O tratamento do choque séptico envolve uma abordagem escalonada e adaptada à evolução clínica do paciente. Inicialmente, é realizado um manejo agressivo com expansão volêmica por meio de fluidoterapia para restaurar o volume intravascular adequado. Em casos refratários à ressuscitação volêmica, é necessário o uso de suporte hemodinâmico medicamentoso, como vasopressores, para manter uma perfusão adequada dos órgãos. Gabarito: alternativa D. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 27 INFECTOLOGIA Sepse (UFSC - 2020 - Acesso Direto) Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ) em relação à injúria renal aguda na sepse. ( ) A identificação precoce da hipoperfusão tecidual e o tratamento imediato da sepse podem minimizar a evolução para insuficiência renal. ( ) A lesão renal é causada por alterações na resposta inflamatória, não sendo possível interferir na instalação da insuficiência renal uma vez que foi desencadeada a cascata inflamatória. ( ) O acúmulo de fluidos sempre é desejável e reverterá a progressão para necrose tubular aguda. ( ) A expansão volêmica com soluções cristaloides balanceadas está associada à menor incidência de lesão renal aguda. ( ) O uso precoce de vasopressina melhora o desfecho renal. Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo. A) V - F - V - V - V B) V - F - F - V - F C) F - V - V - F - V D) F - V - V - F - F E) F - V - F - V - V COMENTÁRIO Viu como os examinadores pedem – com detalhes – os mecanismos fisiopatológicos das disfunções orgânicas associadas à sepse? Vamos analisar as assertivas: Primeira assertiva: verdadeira. Como vimos acima, a lesão renal aguda na sepse tem causas inflamatórias, hemodinâmicas e pró- trombóticas, em que a ressuscitação volêmica é etapa essencial para prevenção dessa disfunção. Segunda assertiva: falsa. É possível reduzir os danos inflamatórios, garantindo boa perfusão renal, por meio da ressuscitação volêmica adequada e do uso racional de drogas vasoativas. Terceira assertiva: falsa. O balanço hídrico excessivamente positivo não previne a necrose tubular aguda e, eventualmente, é associado à maior letalidade. Quarta assertiva: verdadeira. Veremos mais à frente, mas pacientes que utilizam soluções cristaloides apresentam menor incidência de lesão renal aguda, quando comparados àqueles que usam soluções coloides, sendo cristaloides – então – as soluções de primeira escolha no manejo volêmico da sepse. Quinta assertiva: falsa. O uso precoce de drogas vasoativas sem ressuscitação volêmica adequada pode aumentar a mortalidade na sepse e levar a pior desfecho na lesão renal aguda, justamente por reduzir o fluxo aferente renal através da vasoconstrição. Correta a alternativa B. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 28 (UFG - 2018 - Acesso Direto) Na lesão renal aguda induzida pela sepse, alguns fenômenos patogênicos ocorrem e têm implicações para o tratamento. Uma das implicações é: A) A redução do fluxo sanguíneo renal. B) O aumento da densidade capilar. C) O aumento da resistência vascular periférica. D) A vasodilatação sistêmica e renal. COMENTÁRIO Achou que não pediriam fisiopatologia? Observe essa questão, que foi uma arapuca armada pela banca: muita gente errou por ter o conceito universal que a lesão renal aguda na sepse é sempre pré-renal, mas você vai sobrevoar essa armadilha após ter lido nosso capítulo. Vamos lá! Incorreta a alternativa A: A fase inicial da sepse cursa com vasodilatação sistêmica, incluindo o leito vascular renal. Assim, na fase inicial, há aumento do fluxo sanguíneo. Incorreta aalternativa B: Apesar de termos inflamação do mesângio e migração de neutrófilos para o tufo glomerular, não teremos o aumento da densidade dos capilares, pois não há formação de neovasos na fisiopatologia que acabamos de descrever. Incorreta a alternativa C: A sepse causa uma redução da resistência vascular periférica, gerando, consecutivamente, vasodilatação. A vasodilatação causada pela tempestade de citocinas e acúmulo de óxido nítrico reduz a resistência vascular periférica e gera hipofluxo renal, sendo um dos processos implicados na lesão renal aguda. Correta a alternativa D: A encefalopatia associada à sepse (ES) é uma das complicações mais comuns durante a fase aguda da sepse e pode carregar uma grande morbidade, após a alta hospitalar. A fisiopatologia dessa síndrome também é complexa e multifatorial. O aumento de citocinas na sepse levará ao distanciamento das junções de oclusão da barreira hematoliquórica, permitindo sua maior permeabilidade e levando exotoxinas e células inflamatórias a alcançarem o sistema nervoso central. Outro mecanismo de lesão será resultado da encefalopatia causada por outras situações que podem ocorrer na sepse: hipoxemia, hipercapnia, hipoglicemia, choque com redução da pressão de perfusão cerebral e hipernatremia. 4.6 ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS NA SEPSE Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 29 INFECTOLOGIA Sepse A longo prazo, diversos estudos observaram mudanças estruturais e funcionais no cérebro do paciente com sepse: temos uma redução de densidade neuronal ao decorrer o tempo, seja por regeneração resultante da injúria inflamatória ou por lesões trombóticas/hemorrágicas que ocorreram durante o episódio de sepse, além do aumento do número de astrócitos na composição do parênquima cerebral. Tais alterações podem levar, no futuro, a uma atrofia cerebral difusa e alterações cognitivo-motoras. Há, também, uma desregulação na secreção de determinados neurotransmissores, com níveis reduzidos de ácido gama-aminobutírico, norepinefrina, serotonina e dopamina, que explicam alterações neurocognitivas e psiquiátricas na forma crônica da doença. A fase aguda da ES é marcada por sintomas de delirium e mudanças agudas/subagudas do nível de consciência do paciente (tanto que é um dos critérios atuais de triagem para sepse). Outros sintomas também podem aparecer, como: agitação, sonolência, alucinações, alterações do ciclo sono-vigília e, em casos mais graves, coma. Pacientes com alterações neurológicas em fase aguda têm 60% mais chances de óbito quando comparados a pacientes sem essas alterações. Na fase crônica, a ES é marcada por disfunções neurocognitivas, como alterações de memória, atenção, fluência verbal e função executora, no momento da alta. Além disso, alterações cognitivo-psiquiátricas resultantes do desbalanço de neurotransmissores são encontradas em maior frequência que na população geral, o que inclui: depressão, ansiedade e estresse pós- traumático. Não há tratamento específico para essa disfunção. Rivastigmina (inibidor de colinesterase), haloperidol (neuroléptico) e ziprasidona (antipsicótico) não demonstraram benefício clínico e nem redução na duração do delirium relacionado à sepse. O cerne do controle dessa encefalopatia consiste em manejar o foco infeccioso, controlar estritamente distúrbios metabólicos, evitar algumas drogas (como benzodiazepínicos) e ventilar adequadamente pacientes em ambiente intensivo (evitando hipercapnia e hipoxemia). Densidade neural Trombose / hemorragia Número de astrócitos Atrofia cerebral difusa Neurotransmissores Quebra da barreira hematoliquórica Exotoxinas Células inflamatórias Hipoxemia Hipercapnia Hipoglicemia e distúrbios hidroeletrolíticos Figura 11: Alterações neurológicas na sepse. Fonte: Adaptado de Shutterstock. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 30 Colestase trans-infecciosa Secreção de bilirrubinas Gastroparesia Íleo adinâmico Desnutrição Estímulo parassimpático Exotoxinas Células inflamatórias Hipoglicemia Distúrbios hidroeletrolíticos Fosfatase Alcalina Bilirrubinas GGT 4.7 ALTERAÇÕES DO TRATO GASTROINTESTINAL NA SEPSE As disfunções gastrointestinais na sepse são bastante frequentes e, por vezes, negligenciadas no atendimento desses pacientes. O aumento de citocinas e a exposição aos DAMPs e PAMPs, habitualmente, levarão à inflamação dos ductos biliares, causando uma colestase transinfecciosa. Essa colestase é marcada pelo aumento de enzimas canaliculares (fosfatase alcalina e gama glutamil transferase - GGT). Além disso, é perceptível uma desregulação na excreção de bilirrubina direta pelos hepatócitos, levando a uma hiperbilirrubinemia total e direta, marcador disfuncional gastrointestinal com maior correlação com a mortalidade atribuída à sepse. Das disfunções hepáticas, a boa notícia é que os hepatócitos raramente sofrem insuficiência aguda, exceto em casos em que há doença hepática preexistente, sendo as transaminases, habitualmente, pouco alteradas na sepse. Visto que o estado toxêmico e pró-inflamatório da sepse impedirá o estímulo vagal parassimpático, são esperados a gastroparesia (redução da motilidade do estômago, com aumento do resíduo gástrico) e o íleo adinâmico, que facilitam a desnutrição já acelerada pelo estado catabólico do paciente. 4.8 ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS NA SEPSE O sistema hematológico sofre anormalidades durante a tempestade de citocinas gerada pela sepse, o que leva ao estado de hipercoagulação, que pode ser seguido de um estado pró- hemorrágico, com redução na hematopoiese por diversos fatores. Existem duas interleucinas-chave nos fenômenos trombóticos da sepse, a IL-6 e o TNFα. Figura 12: Alterações gastrointestinais na sepse. Fonte: Adaptado de Shutterstock. Enquanto a IL-6 aumenta a expressão de fatores tissulares pró-trombóticos, o TNFα colabora para o estado pró-coagulante por meio de dois mecanismos distintos: inibindo vias fisiológicas anticoagulantes e reduzindo a fibrinólise pelo aumento expressivo da síntese de plasminogênio. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 31 INFECTOLOGIA Sepse A sucessão desses eventos leva à trombose microvascular, piorando a hipoperfusão da sepse e a disfunção orgânica, quadro que denominamos de CIVD – coagulação intravascular disseminada. A CIVD manifesta-se através de múltiplas disfunções orgânicas (renais, gastrointestinais, pulmonares etc.), sem que haja, Nem sempre o paciente com CIVD apresentará trombose visível. Muitas vezes, a CIVD manifesta-se como uma microtrombose disfuncional de múltiplos órgãos, com aumento de creatinina (na microtrombose renal), aumento da ALT/AST (na microtrombose hepática) etc. É comum vermos, nessa síndrome, um alargamento do tempo de tromboplastina parcial (TTPA), com aumento do tempo de protrombina (TP), junto à queda abrupta de plaquetas e redução do fibrinogênio. Como o d-dímero aumenta em estados pró-trombóticos, por ser um produto de degradação da fibrina, seus níveis são aumentados na CIVD moderada e grave. Consecutivamente, como há consumo dos fatores de coagulação na formação de microtrombos, uma trombose microvascular generalizada poderá ser sucedida por fenômenos hemorrágicos. Confira abaixo um resumo dos principais eventos da CIVD relacionada à sepse: Inibição de vias anticoagulantes Sepse Aumento de citocinas pró-inflamatórias TNFαIL-6 Lesão endotelial Expressão de fator tissular Trombina Formação de trombos Consumo de plaquetas Consumo de fibrinogênio Consumo de fatores de coagulação tPA Plasmina Plasminogênio Fibrinólise Figura 13: Alterações fisiopatológicas na CIVD relacionada à sepse. necessariamente, trombose visível ou sangramento exteriorizado. Hemácias deformam-se ao tentar passar pelas recém-formadas redes de trombos, gerando os típicosesquizócitos encontrados na CIVD, resultantes da hemólise intravascular microangiopática. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 32 Uma particularidade já perguntada por diversos examinadores é que tipo de sepse bacteriana causa CIVD com maior frequência. Sabe- se que a sepse causada por Gram-negativos tem maior capacidade de resultar em CIVD, tendo em vista a condição hiperinflamatória gerada pelo LPS (lipopolissacarídeo), superantígeno componente da membrana externa de gram-negativos. Outra disfunção frequente na sepse é a anemia, que é causada por múltiplos fatores e pode reduzir a oferta de oxigênio tecidual, além de aumentar a letalidade em pacientes com disfunção pulmonar associada. Confira abaixo as causas mais comuns: Causas de disfunção hematopoiética e anemia na sepse Supressão medular por IL-1, IL-6 e TNFα Anemia iatrogênica devido à coleta excessiva de amostras Perda oculta de sangue (intracavitária, por exemplo) Redução da absorção de ferro e de seu transporte Redução na produção de eritropoetina (EPO) Aumento do sequestro esplênico Agora que vimos os fenômenos hematológicos encontrados na sepse, é hora de praticarmos: CAI NA PROVA (HRMS - 2010 - Acesso Direto) Em relação à Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD) em pediatria, assinale a alternativa incorreta. A) A causa mais comum de CIVD em UTI pediátrica é a sepse B) A liberação de endotoxinas lesa diretamente a parede vascular, expondo o subendotélio C) Pode levar a formação de microtromboses disseminadas provocando isquemia de órgãos D) Os germes mais frequentemente envolvidos são os gram-positivos E) A superfície subendotelial exposta ativa o fator XII e toda via intrínseca da coagulação Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 33 INFECTOLOGIA Sepse Os microrganismos mais comu- Como vimos acima, o TP e o PTTa são alargados na CIVD, por consumo de fatores pró-coagulantes, além da redução de plaquetas devido ao seu consumo para a formação de trombos e êmbolos. Incorreta a alternativa D: Correta a alternativa E: A exposição do colágeno subendotelial leva à ativação refratária da cascata da coagulação (toda via intrínseca, através do fator XII), alimentando a CIVD. (PSU-MG - 2019 - Acesso Direto) Homem de 44 anos foi admitido em CTI com choque séptico que teve como foco lesão traumática infectada extensa em membro inferior direito. Algumas horas após a admissão, foram observadas petéquias, equimoses, sangramento no sítio de inserção de cateter venoso central e gengivorragia. O plantonista solicitou hemograma e coagulograma para avaliação inicial. À hematoscopia foram observados numerosos esquizócitos. Dentre as opções abaixo, qual é o diagnóstico mais provável e como devem estar o tempo de protrombina (TP), o tempo parcial de tromboplastina ativado (PTTa) e contagem de plaquetas? A) Coagulação intravascular disseminada, TP e PTTa prolongados e trombocitopenia. B) Deficiência prévia de fator de coagulação e infecção aguda, TP e PTTa prolongados e trombocitose. C) Púrpura trombocitopênica trombótica, TP normal, PTTa prolongado e trombocitopenia. D) Uso prévio de Warfarina e infecção aguda, TP prolongado, PTTa normal e trombocitopenia. COMENTÁRIO A coagulação vascular disseminada (CIVD) é uma situação grave, secundária de uma patologia não controlada como a sepse, por exemplo. Nesse contexto, ocorre um consumo dos fatores de coagulação, o que obviamente aumenta o risco de sangramento. Entretanto, esse consumo serviu para formar trombos e êmbolos, gerando, em última análise, uma situação hemorrágica e trombótica ao mesmo tempo. Além disso, a presença de esquizócitos é frequente e resulta da hemólise intravascular microangiopática. Correta a alternativa A: Incorreta a alternativa B. Em primeiro lugar, não temos relatos de sangramento prévio desse paciente para pensarmos em deficiência prévia de fatores pró-coagulantes e, em segundo, vimos que, na CIVD, há plaquetopenia. Incorreta a alternativa C. Apesar de a apresentação da púrpura trombocitopênica trombótica (PTT) ser semelhante à da CIVD, essa, geralmente, apresenta-se com anemia microangiopática. Além disso, devemos lembrar que em ambas o TP será alargado. Incorreta a alternativa D. O uso prévio da varfarina (um antagonista da vitamina K) poderá causar alargamento do TP com TTPa normal. A pergunta é: por que a paciente estaria usando varfarina antes do quadro atual? Não está relatado o uso prévio nesse caso, nem uma comorbidade que o justificasse. COMENTÁRIO �iu como ficou fácil depois que vimos os conceitos sobre CIVD? Vamos analisar as assertivas: Correta a alternativa A: A sepse é a causa mais comum de CIVD na infância. Correta a alternativa B: As endotoxinas lesam a parede vascular, o que gera exposição do subendotélio. Isso é um dos principais pontos da CIVD. Correta a alternativa C: O consumo dos fatores de coagulação e das plaquetas gera microtromboses, com consequentes isquemias em vários órgãos. mente envolvidos na sepse que desencadeia a CIVD são as bactérias gram-negativas. Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 34 4.9 ALTERAÇÕES ENDÓCRINAS NA SEPSE Não menos importantes, os distúrbios do sistema endócrino também resultam da tempestade de citocinas da sepse e manifestam-se através de disfunções tireoidianas, adrenais e pancreáticas. A disfunção adrenal (com redução da secreção de mineralocorticoides e glicocorticoides) contribui para uma intensa vasodilatação resultante da redução da resistência vascular periférica, aumentando o choque distributivo na sepse. Diferentemente de outros cenários, a insuficiência adrenal primária na sepse raramente cursa com distúrbios hidroeletrolíticos, como a hiponatremia e hipercalemia. Isso ocorre, visto que tais distúrbios são frequentemente mascarados a partir da infusão de cristaloides durante o tratamento do paciente com sepse. Essa insuficiência adrenal pode ser primária (por redução da perfusão do córtex adrenal pela intensa vasodilatação periférica) ou secundária, visto que a IL-1β e o TNFα, comprovadamente, inibem a secreção de CRH pelo hipotálamo e do ACTH pela hipófise, reduzindo o feedback positivo das glândulas adrenais. Em pacientes com choque refratário com suspeita de insuficiência adrenal, doses baixas de hidrocortisona mostram-se efetivas na redução do choque e da demanda por drogas vasoativas. A hiperglicemia também ocorre, tanto na sepse quanto em outras situações hiperinflamatórias. Ela acontece por diversos motivos: aumento da resistência periférica à insulina e gliconeogênese hepática. Isso não é surpreendente: afinal, o corpo humano tenta deixar mais energia disponível em uma condição catabólica como a sepse. 5.0 ESCORES DE TRIAGEM PARA SUSPEITA DE SEPSE CAPÍTULO Historicamente, tivemos diversas definições e escores de classificação para suspeitarmos de pacientes com sepse. Durante décadas, antigas nomenclaturas, como septicemia, síndrome séptica e infecção sistêmica, causaram confusão, tanto do ponto de vista assistencial quanto na classificação de pacientes suspeitos em protocolos de pesquisa. Embora o conceito inflamatório da sepse seja conhecido desde os anos 50, o primeiro critério objetivo para sua suspeição só surgiu no início dos anos 90. Os consensos publicados sobre sepse sempre buscaram uma ferramenta prática para identificar os pacientes com essa condição. O problema é que isso não é uma tarefa fácil, pois não existe escore perfeito para essa função. Vamos estudar aqui os escores mais utilizados para a detecção de pacientes com sepse. 5.1 SÍNDROME DA RESPOSTA INFLAMATÓRIA SISTÊMICA (SIRS) No início dos anos 90, percebeu-se que a maior parte dos pacientes com sepse apresentava febre ou hipotermia, taquicardia, taquipneia ou hipoxemia e alterações nas contagens de leucócitos. Dessa forma, esses sinais clínicos e achados laboratoriais foram agrupados como critériosde uma “síndrome nova”, a síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SRIS ou SIRS). Como os critérios dessa síndrome eram heterogêneos, dificultando a comparação interinstitucional de número de casos, letalidade e morbidade, em 1992 decidiu-se, em consenso pela Society of Critical Care Medicine (SCCM) e o American College of Chest Physicians (ACCP), pela utilização dos critérios de SRIS para o diagnóstico de sepse. Estratégia MED Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 35 INFECTOLOGIA Sepse Portanto, todo paciente com infecção presumida ou confirmada (por exemplo: tosse expectorada, no caso de uma pneumonia, ou disúria com dor lombar, no caso de uma pielonefrite) + dois critérios de SIRS, seria classificado como sepse, devendo ser manejado como uma urgência médica. Os critérios de SIRS foram históricos e importantes, pois possibilitaram a inclusão objetiva de pacientes em estudos-chave no manejo de sepse, que nos ensinaram muito sobre o manejo particular dessa síndrome, estudando melhor o uso de soluções • Como vou triar um paciente com sepse no meio da floresta amazônica? • Eu deveria esperar o resultado de um hemograma para iniciar o manejo de um paciente com sepse? cristaloides, antibioticoterapia e desfechos com diferentes drogas. Mais que padronizar pacientes para estudos clínicos, o critério de SIRS possibilitou que pacientes fossem identificados precocemente no pronto-socorro para receber tratamento imediato, gerando protocolos assistenciais. Repare que nem tudo são flores: os critérios de SIRS (desenvolvidos para triagem) envolviam tanto variáveis clínicas (temperatura, frequência cardíaca, respiratória) quanto laboratoriais (leucometria). Sentiu o problema? Figura 14: Critérios de SIRS. Vamos relembrar quais eram eles? Estratégia MED INFECTOLOGIA Sepse Prof. Bruno Buzo | Curso Extensivo | 2025 36 Fica a provocação contra esse critério, que foi o “fiel escudeiro” dos profissionais de triagem em saúde durante anos, mas que era imperfeito, no fim de tudo. Vamos praticar como esse critério era cobrado: CAI NA PROVA (SUS-SP - 2012 - Acesso Direto) São características da SIRS (Síndrome de Resposta Inflamatória Sistêmica), exceto: A) Leucocitose ou leucopenia. B) Taquicardia. C) Febre ou hipotermia. D) Trombocitopenia. E) Taquipneia. COMENTÁRIO Como vimos, os critérios de SIRS envolvem variáveis clínicas (temperatura, frequência cardíaca, respiratória) e laboratoriais (leucometria). A trombocitopenia, apesar de acontecer frequentemente na sepse, não faz parte desse critério. Correta a alternativa D. (SCMCMT - 2019 - Acesso Direto) Assinale a alternativa INCORRETA sobre os critérios para classificação e SIRS. A) Taquicardia. B) Queda de saturação de oxigênio. C) Taquicardia e leucopenia. D) Hipertermia ou hipotermia. E) Taquipneia. COMENTÁRIO Parece cópia, viu? As questões sobre SIRS sempre perguntarão sobre seus critérios e suas variações. Desses, o único que não está presente na tabelinha que estudamos é a queda na saturação de oxigênio. Lembre-se do critério respiratório: frequência respiratória > 20 irpm ou PaCO2