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O Retrato de Dorian Gray - Resenha Crítica

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Dorian Gray: Um retrato da personalidade humana?
WILDE, Oscar. O Retrato de Dorian Gray, (em inglês: The Picture of Dorian Gray). Portugal: Abril Controljornal, 2000.
Por Arysson Gonçalves de Lima
 
 A obra aqui apresentada, originalmente publicada em 1891, exibe algumas facetas realmente assustadoras e intrigantes na personalidade, por muitas vezes, oculta, dos seres humanos, demostrando, com um toque sutilmente hipocondríaco, característico ao personagem central, que a beleza, o prazer e o gosto pela perfeição são, se desmedidos, nocivos àqueles que tanto os apreciam. Dorian Gray, um garoto de apenas 17 anos, de uma estética física imaculada e personalidade ingênua, encanta Basil Hallward desde o seu primeiro encontro. Pintor de excelentes virtudes, Basil acaba tomando Dorian como modelo e inspiração para suas obras. Lorde Henry, personagem frio e cínico, conhece o rapaz em uma visita ao ateliê, onde o retrato descrito no título da obra será concebido. Embora as advertências de Basil, Harry, apelido dado ao personagem pelos íntimos, acaba influenciando Dorian a refletir de uma maneira negativa, materialista, trivial, pessimista, condenando as boas ações humanas e valorizando o desprezo pela filantropia, pela vida alheia, pelo matrimônio, pela velhice, pelo abstrato e pela fealdade; dentre outras coisas. A partir disso, Dorian faz um pedido, clamando para que seja sempre jovem e belo, pedido que o assolará por toda a sua vida doravante. 
 Oscar Wilde é singular e detalhista em sua forma de escrever: a linguagem é rebuscada, típica de romances mais voltados para a filosofia, mas não cansativa; os diálogos diretos entre os personagens, embora longos, são simples de se compreender e envolventes. A natureza é bastante presente – a narrativa faz questão de apresentar flores que enfeitam as localidades e exalam doces aromas. As referências a artistas, músicos e escritores, em geral, franceses e ingleses, são abundantes. O desenrolar da história também é tênue, percebe-se que nenhuma figura está ali por acaso, todos possuem alguma ligação e se conhecem: no geral, membros da elite inglesa do século XIX, reunidos quase sempre em grandes jantares, teatros ou clubes, e dessa forma Wilde consegue revelar outra característica negativa da humanidade: a falsidade. Damas e duquesas concebem boatos, maledicências sem fundamentos à outras mulheres que ali não estão presentes. Os homens, barões, condes e lordes, não deixam por menos: julgam outros pela fortuna, pela marca dos ternos, pela linhagem familiar ou por meras habilidades. 
 A maior constância ao ler a obra é, sem dúvida, observar com certa agonia a ascensão e a queda de Dorian Gray. Antes um garoto ingênuo, encantador e amistoso, um “príncipe encantado”, como o apelidou Sibyl Vane, primeira personagem a sofrer com o que se tornou o rapaz: um devasso, cruel, impiedoso, assassino, ludibriado pela sua juventude e beleza eternas. Enquanto isso, ao transcorrer do seu envelhecimento, o retrato o manifesta monstruoso, hediondo, decrépito, uma amarga e realística imagem da sua maldade e frieza. As influências de Lorde Henry, responsáveis pelas manifestações egocêntricas e agressivas de Dorian, evidenciam o quão instável é a mente de um adolescente: quase sempre imaturos demais para possuir senso crítico, acabam seguindo opiniões ou linhas de raciocínio que os levam a escolhas erradas. O protagonista em questão resolveu seguir essas opiniões até o fim da sua vida, sem, ao decorrer dos acontecimentos, mostrar uma ínfima impressão de arrependimento. 
 É perceptível que “O Retrato de Dorian Gray” é uma imagem mais moderna do mito de Narciso: Egocêntricos, jovens, ambos, cada um com suas peculiaridades, encontram similaridades na forma com que cultuam sua própria aparência, verdadeiros apaixonados por si, e da própria admiração encontram suas perdições, de forma semelhante: Um, ao afogar-se no poço onde resplandecia seu reflexo, o outro, ao observar que sua aparência nada mais era do que uma casca que envolvia uma alma abstrusa e aterrorizante. Ambos também desprezam o amor daquelas que os cobiçavam. Narciso foi empurrado ao poço por Eco, uma ninfa que por ele morria de paixões, e matando-o, se vingou pelo desaforo da rejeição; enquanto Dorian Gray é o responsável pela desgraça de Sibyl Vane, numa das mais pesarosas passagens do romance, ao tratá-la com tremendo escárnio, catapultando de uma vez a corrupção da sua alma e a sua aparência medonha no retrato. Complexos semelhantes que poderiam chamar a atenção de psicólogos\psicanalistas que tenham interesse em ler o livro. 
 O Retrato de Dorian Gray é uma obra distinta e original, que leva o leitor a refletir de um jeito mais profundo a respeito das artes, da longevidade das convicções humanas e da própria natureza, com uma carga filosófica e psicológica que remete diretamente a questões que todos sempre se perguntam: Até onde a índole de um ser humano pode chegar? Até onde ela pode se modificar? Oscar Wilde não alcança uma resposta clara, mas sugere que aparência, principal abre-alas para uma boa ou má impressão a respeito de alguém, não revela individualidade. Atrás de uma máscara, pode existir um belo rosto ou uma expressão horrenda. Sob um traje de extremo mal gosto pode estar o mais rico ou mais inteligente dos homens. A ideia que o livro reproduz sobre o prazer também é digna de destaque: seria ele material ou abstrato? Cada personagem corrobora uma concepção diferente: Basil Hallward, como um artista, deleita-se com a sua arte, surgida através da inspiração e pela aparência de Dorian Gray, em poucas palavras, um prazer que não vem do materialismo. Já Lorde Henry e Dorian apreciam a beleza física, enxergam apenas aquilo que os olhos podem ver, apreciam o que é palpável, e disso tiram seus proveitos. De acordo com tais reflexões, se descobre que a obra resenhada é uma das mais sagazes, importantes e impactantes da sua época, que abrangeu um grande número de leitores já na sua primeira publicação e que continua, até hoje, a ser estudada, apreciada e interpretada das mais diferentes formas. 
BIOGRAFIA DO AUTOR
 Oscar Fingal O’Flahertie Wills, mais conhecido como Oscar Wilde, é um poeta\dramaturgo\ensaísta Irlandês nascido em 16 de outubro de 1854, na cidade de Dublin. Estudou nas faculdades de Dublin, Magdalen e Oxford, onde se estabeleceu como poeta talentoso e ganhou seu primeiro prêmio acadêmico por “Ravena”, publicado em 1874. Polêmico, passou por alguns escândalos ao longo da sua vida. Foi acusado publicamente de ser homossexual, chegando a ser encarcerado durante os anos 1890. “O Retrato de Dorian Gray” é o seu único romance, mas sua obra é ampla e variada, passando pela poesia, pelo conto e também a crônica. Morreu em Paris, em 1900.
Principais obras: 
Ravena (1874);
Poemas (1881);
A Duquesa de Pádua (1883);
O Príncipe Feliz (1888);
Uma Casa de Romãs (1891);
O Crime de Lord Arthur Saville (1891);
O Retrato de Dorian Gray (1891);
Intenções (1891);
Salomé (1891);
O Leque de Lady Windermere (1892);
Uma Mulher sem Importância (1893);
Um Marido Ideal (1895);
A Balada do Presídio de Reading (1898);
A Importância de Se Chamar Ernesto (1898);
De Profundis (1905) [Póstuma];

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