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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE FACULDADE DE EDUCAÇÃO DE ITAPIPOCA – FACEDI LICENCIATURA EM CIÊNCIAS SOCIAIS ACADÊMICA: SABRINA BARROSO TABOSA DISCIPLINA: TEORIA SOCIOLÓGICA PROFESSOR: ANDRÉ ALCMAN OLIVEIRA DAMASCENO FICHAMENTO SOBRE O TEXTO: “WEBER - OS FUNDAMENTOS RACIONAIS E SOCIOLÓGICOS DA MÚSICA’’ ITAPIPOCA – CE 2025 1 – '’Para um tempo em que o além significava tudo, quando a posição social de um cristão dependia de sua admissão à comunhão, os clérigos com seu ministério, a disciplina da Igreja e a pregação exerciam uma influência (que pode ser apreciada nas coleções consília, casus conscietiae, etc.) que nós, homens modernos somos totalmente incapazes de imaginar.” (Pág. 73) Segundo a perspectiva de Max Weber, a religião desempenhou um papel decisivo na organização da vida social e na construção das hierarquias durante longos períodos da história ocidental. Como evidencia o autor, em uma época em que o “além” representava o núcleo do sentido existencial, os clérigos ocupavam um lugar de poder incontestável. A influência que exerciam sobre os fiéis não se limitava ao campo espiritual, mas alcançava as esferas mais concretas da vida social, moldando o comportamento individual e coletivo por meio da disciplina moral e da autoridade eclesiástica. Nesse contexto, o pertencimento à comunhão cristã não era apenas um ritual espiritual, mas também um critério de inclusão social. A autoridade religiosa operava como um mecanismo de legitimação da posição dos indivíduos dentro da ordem vigente. Weber evidencia, assim, que os valores religiosos funcionavam como elementos reguladores da conduta social, e que essa força simbólica, mesmo invisível, sustentava a lógica de funcionamento das instituições e dos vínculos sociais. Diferente das sociedades contemporâneas, nas quais os mecanismos de controle se expressam de forma burocrática e jurídica, as sociedades anteriores estavam fortemente marcadas por uma moral religiosa que ordenava o mundo social e justificava a obediência. 2 – '’É verdade que a utilidade de uma vocação e pois sua aprovação aos olhos de Deus é medida primeiramente em termos morais e depois em termos de importância dos bens por ela gerados para a comunidade. A seguir porém, e em termos práticos acima de tudo, pelo critério mais importante da lucratividade do empreendimento. De fato, se Deus, cujas mãos os puritanos viam em todas as ocorrências da vida, aponta para um de Seus eleitos, uma oportunidade de lucro, este deve segui-la com um propósito: de modo que um cristão de fé deve atender a tal chamado tirando proveito da oportunidade. “Se Deus te mostra um caminho pelo qual possas, legalmente, obter mais que por outro (sem dano para tua alma ou de outrem), e se o recusarem e escolheres o de menor ganho, estarás em conflito com uma das finalidades de tua vocação e estarás recusando ser servo de Deus, e aceitando Suas dádivas e usando as para Ele quando Ele assim quis: podes trabalhar para ser rico para Deus é não para a carne e para o pecado.” (Págs. 76 & 77) Weber identifica no puritanismo, especialmente em sua vertente calvinista, um elemento crucial para o nascimento do espírito capitalista moderno. A ideia de que o sucesso econômico seria um sinal da graça divina conferia um valor moral à lucratividade, transformando o trabalho em uma vocação sagrada. Dentro dessa lógica, seguir o caminho mais rentável – desde que legal e moralmente aceitável – não era apenas permitido, mas considerado um dever religioso. Recusar tal caminho significava rejeitar a missão que Deus teria traçado para o indivíduo. Essa forma de pensar reformulou profundamente a relação dos indivíduos com o trabalho, a riqueza e a disciplina pessoal. A ação econômica passou a ser orientada por uma racionalidade prática, mas legitimada por um conteúdo ético-religioso. O trabalho sistemático, metódico e racional passou a ser visto como uma expressão da fé e do compromisso com Deus, o que implicava também a internalização de uma disciplina moral rígida. Assim, a ética protestante não apenas forneceu um ethos compatível com o desenvolvimento do capitalismo, mas construiu um novo ideal de indivíduo moderno, guiado pelo dever, pela eficiência e pela racionalidade econômica. 3 - ‘’De fato, toda a história do monasticismo é, em certo sentido, a história de contínua luta com o problema da influência secularizante da riqueza. E o mesmo é verdade, em grande escala, quanto ao ascetismo secular do puritanismo. O grande ressurgimento do Metodismo, que antecedeu a expansão da indústria inglesa pelo fim do século XVIII, bem pode ser comparado com uma de tais reformas monásticas.” (Pág. 83) A análise de Weber sobre o ascetismo, tanto monástico quanto secular, revela uma contradição fundamental entre o ideal de negação do mundo e as consequências práticas da disciplina ascética. Ao promover uma vida centrada na contenção dos desejos, na organização racional do tempo e na valorização do trabalho constante, o ascetismo acabava favorecendo justamente a acumulação material que buscava evitar. Tanto nos mosteiros medievais quanto no puritanismo moderno, a ênfase na autodisciplina e na recusa do prazer gerava uma prosperidade que ameaçava corromper os próprios fundamentos espirituais das doutrinas. Weber mostra que, ao mesmo tempo em que impulsionava o desenvolvimento de uma mentalidade capitalista, a ética protestante criava mecanismos internos de controle para evitar que essa prosperidade se transformasse em hedonismo ou ostentação. Contudo, ao longo do tempo, esse conteúdo religioso foi sendo esvaziado, e o comportamento racional e produtivo passou a existir sem a necessidade de justificação espiritual, tornando-se autônomo. O capitalismo moderno, portanto, preserva a forma racional da ação ascética, mas abandona seu conteúdo ético-religioso, culminando no que Weber chama de “jaula de ferro”, onde a racionalidade instrumental domina a vida social e esvazia seu sentido último. Pergunta: Como a concepção weberiana de “vocação profissional” influenciou as noções modernas de sucesso pessoal, meritocracia e autorrealização, mesmo em contextos onde a religião não é mais um elemento central da vida social? image1.png