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TRATAMENTO NUTRICIONAL NA PANCREATITE Prof. Dra. JULIANA MAURI Tipo Definição Principais causas Aguda Inflamação súbita do pâncreas, com ativação precoce de enzimas Colelitíase , álcool, hipertrigliceridemia , fármaco Inflamação progressiva e fibrose → destruição do tecido pancreático Álcool, genética, autoimune, pancreatite recorrente Pode gerar alteração no parênquima pancreático, endurecendo o tecido e o tornando fibroso, atrofiando a glândula. Cálculos biliares são depósitos de material sólido na vesícula biliar . Esses cálculos às vezes se movem para dentro do ducto que a vesícula biliar compartilha com o pâncreas (chamado de ducto colédoco) e causam a sua obstrução. * A colecistectomia previne a formação de futuras pedras na vesícula biliar e pode diminuir posteriormente a taxa de recorrência da pancreatite Exame Função Interpretação Amilase sérica Enzima pancreática 3x na aguda, mas normaliza rápido Lipase sérica Enzima mais específica 3x → forte suspeita de pancreatite GGT Avalia vias biliares Pancreatite biliar provável Triglicerídeos >1.000 mg/dL pode causar PA PCR Gravidade Marcadores inflamatórios e risco de falência orgânica Glicemia / HbA1c Função endócrina Avalia risco de diabetes Vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) Deficiências na crônica Suplementar se necessário DIAGNÓSTICO - EXAMES LABORATORIAIS PANCREATITE Tipo de Pancreatite O que acontece no pâncreas Fisiopatologia resumida Impacto clínico Aguda Leve Inflamação localizada, sem necrose, pâncreas edemaciado mas preserva função Ativação precoce de enzimas → edema controlado Recuperação rápida, bom prognóstico Aguda Moderada Inflamação mais intensa, pode haver necrose parcial Enzimas ativadas → inflamação mais ampla + risco de complicações Dor, vômitos, falência orgânica transitória PANCREATITE Tipo de Pancreatite O que acontece no pâncreas Fisiopatologia resumida Impacto clínico Aguda Grave Inflamação extensa com necrose significativa sepse Autodigestão pancreática + inflamação sistêmica grave Alto risco de mortalidade e falência orgânica persistente Crônica Fibrose progressiva, perda das células acinares, insuficiência exócrina e endócrina Inflamação repetida → atrofia pancreática, má digestão e má absorção Esteatorreia, sarcopenia e risco de diabetes DIETA X TIPO PANCREATITE Tipo de Pancreatite Jejum Início da dieta Tipo de dieta inicial Quando usar nutrição enteral (NE) Aguda Leve Não indicado ≤24h se tolerar VO Dieta branda, pobre em gordura, fracionada Não indicado Aguda Moderada Evitar jejum prolongado VO geralmente não tolerada, mas tentar quando possível Se não tolerar VO → NE precoce (≤48h) Sempre que VO não for possível; preferir fórmula polimérica Aguda Grave Não indicado Geralmente VO impossível NE precoce (≤48h) — ideal nasojejunal para reduzir risco de aspiração Fórmulas oligomerica Crônica Não indicado Dieta oral mantida Dieta normal, fracionada, com PERT se má absorção NE apenas se perda de peso grave ou má absorção refratária RESUMINDO - PANCREATITE Pancreatite Aguda leve Não fazer jejum prolongado; dieta BRANDA HIPOLIPIDICA . Pancreatite Aguda moderada e grave NE precoce (≤48h) Pancreatite crônica Avaliar REPOSIÇÃO DE ENZIMAS PANCREÁTICAS e deficiências nutricionais. Recomendações Nutricionais: Macronutrientes e Energia Nutriente Pancreatite Aguda Pancreatite Crônica Justificativa clínica Energia (kcal/dia) 25–30 kcal/kg/dia na fase leve 30–35 kcal/kg/dia em casos graves 30–35 kcal/kg/dia (avaliar perda de peso e estado nutricional) Manter oferta energética adequada para preservar massa magra e evitar catabolismo Proteínas 1,2–1,5 g/kg/dia (até 2,0 g/kg/dia se grave ou desnutrido) 1,0–1,5 g/kg/dia (aumentar se sarcopenia ou má absorção) Reduz risco de sarcopenia e favorece reparo tecidual Carboidratos 50–60% do VET 45–55% do VET Fonte primária de energia; priorizar complexos e reduzir simples Lipídios ≤20% do VET (prefira gorduras insaturadas) TCM se má absorção 30–40% do VET com Reposição de enzimas pancreáticas Restrição de gordura só na fase aguda; na crônica, com PERT, pode-se manter ingestão normal Recomendações Nutricionais: Micronutrientes e Suplementação Enzimática Nutriente Pancreatite Aguda Pancreatite Crônica Justificativa clínica Vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) Não há rotina de suplementação específica; avaliar individualmente Suplementar se deficiência (frequente por má absorção de gorduras) Deficiência comum na crônica por insuficiência exócrina Vitaminas do complexo B B1 (tiamina) em etilistas graves Avaliar B1, B6 e B12 periodicamente Alterações na absorção intestinal e uso crônico de álcool Cálcio e Vitamina D Avaliar conforme exames Reposição frequente necessária Risco aumentado de osteopenia e osteoporose na PC Zinco e Selênio Suplementação individualizada Avaliar níveis séricos e suplementar se baixo Deficiência comum por má absorção crônica PERT (Terapia de Reposição Enzimática) Não é necessária na fase aguda Essencial na crônica com insuficiência exócrina Melhora digestão e absorção de lipídios e proteínas, prevenindo desnutrição Estudo de Caso Dados do Paciente •Nome: R.M.S. (iniciais) •Idade: 52 anos •Sexo: Masculino •Peso: 86 kg •Altura: 1,72 m •IMC: 29,1 kg/m² (sobrepeso) •Circunferência abdominal: 108 cm Queixas principais: • Fadiga e cansaço frequente • Fezes volumosas, gordurosas e de odor forte (esteatorreia) • Distensão abdominal • Dor ocasional no hipocôndrio direito Histórico: • Não consome álcool • Alimentação rica em frituras, ultraprocessados e bebidas açucaradas • Sedentário • Pai diabético e mãe com dislipidemia. Exame Resultado Referência Glicemia de jejum 118 mg/dL 70 – 99 mg/dL Hemoglobina glicada (HbA1c) 6,1% 40 mg/dL Triglicerídeos 286 mg/dL 30 ng/mL COLELITÍASE COLECISTITE PROF. JULIANA MAURI Condição Definição (curta) Objetivos nutricionais principais Colelitíase (pedras na vesícula, com ou sem sintomas) Formação de cálculos (colesterol/pigmento) na vesícula ou colédoco, sem inflamação ativa. Manter peso saudável (perda lenta se sobrepeso: 5–10% em 6– 12 meses) • Fibra adequada para melhorar o perfil lipídico. Colecistite (aguda ou crônica) Inflamação da vesícula por obstrução (geralmente por cálculo). Pode haver dor e febre. Fase aguda: reduzir estímulo da vesícula → dieta hipolipídica após estabilização; hidratação; fracionamento. Fase crônica/recorrente: padrão alimentar pobre em gordura saturada, evitar frituras/ultraprocessados; controlar peso e comorbidades. Colecistectomia (pós- operatório) Remoção da vesícula. A bile passa direto do fígado ao intestino. Adaptação digestiva: iniciar baixa gordura e reintroduzir gradualmente; fracionamento; avaliar intolerâncias individuais; voltar a normolipídica conforme tolerância (4–8 semanas). Recomendações Macronutrientes Condição Energia Proteínas Carboidratos Lipídios (gorduras) Colelitíase (fora de crise) 25–30 kcal/kg/dia 1,0–1,2 g/kg/dia 45–55% VET (priorizar complexos) 25–30% VET • Priorizar insaturadas (azeite, peixes, oleaginosas) • Evitar saturadas e frituras. Colecistite aguda (após estabilização clínica) 25–30 kcal/kg/dia 1,0–1,2 g/kg/dia 50–55% VET ultraprocessados. Pós- colecistectomia 25–30 kcal/kg/dia (indiv.) 1,0–1,2 g/kg/dia 45–55% VET Fase 0–4 sem.: