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Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade de conservação da natureza

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Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 22, p. 37-50, jul./dez. 2010. Editora UFPR 37
PEREIRA, B. E.; DIEGUES, A. C. Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade...
Conhecimento de populações tradicionais como 
possibilidade de conservação da natureza: 
uma reflexão sobre a perspectiva da etnoconservação
Indigenous Knowledge as a Possibility of 
Nature Conservation: a Reflection on the 
Perspective of Ethno Conservation
Bárbara Elisa PEREIRA* 
Antonio Carlos DIEGUES**
RESUMO
O quadro ambiental mundial tem sido motivo de preocupação de diversos segmentos da sociedade. Diante 
deste cenário, novas concepções vêm sendo adotadas com o intuito de alcançar uma proteção efetiva da 
natureza, as quais geram amplas discussões em diferentes esferas políticas, presentes do nível local ao 
global. Estas questões passaram a abranger as populações tradicionais e seus respectivos conhecimentos 
por meio de uma nova perspectiva chamada de etnoconservação, a qual procura associar a conservação 
da natureza com os conhecimentos tradicionais e manejo dos recursos naturais que proporcionam. A 
etnoconservação é uma das especialidades da etnociência, que desenvolve trabalhos que abrangem desde 
elementos da linguística até aspectos culturais e biológicos, visando compreender a classificação e sig-
nificação dos recursos e fenômenos naturais. Entretanto, o fato de a etnoconservação estar densamente 
associada com as populações e conhecimentos tradicionais remete à necessidade de aprofundar-se nestes 
aspectos, a fim de entender os subsídios desta nova abordagem para a conservação dos recursos naturais.
Palavras-chave: população tradicional; conhecimento tradicional; etnoconservação.
ABSTRACT
The global environmental situation has been a concern of several segments of society. Within this scenario, 
new conceptions have been adopted in order to reach an effective environmental protection, resulting in 
wide discussions in different political spheres, from local to global levels. These issues include indigenous 
people and their respective knowledge, discussed through a new approach called ethno conservation, 
which aims at associating environmental conservation with indigenous knowledge and management of 
* Pedagoga. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo e pesquisadora do Núcleo de Apoio à Pesquisa sobre 
Populações em Áreas Úmidas Brasileiras (NUPAUB). Email: ba.e@usp.br
** Doutor em Ciências Sociais. Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo e Diretor Científico do Núcleo de 
Apoio à Pesquisa sobre Populações em Áreas Úmidas Brasileiras (NUPAUB). Email: adiegues@usp.br
Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 22, p. 37-50, jul./dez. 2010. Editora UFPR38
PEREIRA, B. E.; DIEGUES, A. C. Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade...
natural resources. Ethno conservation is an area of expertise from ethno science, based in elements of 
language, culture and biology, in order to understand the meaning and classification of natural resources. 
As ethno conservation is strongly related with indigenous people and their knowledge there is a need 
to take these aspects into consideration, in order to understand the contribution of this new approach to 
environmental conservation.
Key-words: indigenous people; indigenous knowledge; ethno conservation.
Introdução
Como o mundo é governado das cidades onde os homens 
se acham desligados de qualquer forma de vida que não a 
humana, o sentimento de pertencer a um ecossistema não 
é revivido. Isso resulta em um tratamento implacável e 
imprevidente de coisas, das quais, em última análise, de-
pendemos, tais como a água e as árvores (BERTHRAND 
DE JUVENEL, in: RIBEIRO, 1987, p. 11).
Devido à demanda global a favor da proteção da 
natureza, juntamente com o crescimento de correntes 
ambientalistas detentoras de perspectivas diferentes da 
preservacionista1, as populações tradicionais passaram a 
ser consideradas importantes como atores responsáveis 
pela proteção do ambiente natural no qual estão inseridas. 
Neste sentido, a Conferência das Nações Unidas para o 
Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92) enfatizou a 
necessidade de se proteger essas populações, assim como 
os conhecimentos dos quais são detentoras.
Porém, a abordagem de assuntos relacionados com 
conhecimentos tradicionais implica em uma série de discus-
sões desenvolvidas em diversas esferas científicas e políti-
cas, geradoras de embates no âmbito local e internacional, 
visto que estes conhecimentos são alvos de diversos interes-
ses. Tais embates envolvem desde a definição de população 
e conhecimento tradicional até as questões relacionadas 
com o direito de propriedade, repercutindo na necessidade 
de uma reflexão sobre quem são os responsáveis pela pro-
dução, transmissão e continuidade desses conhecimentos2.
Neste cenário conflituoso, adicionam-se as discussões 
que pontuam a possibilidade do manejo dos recursos natu-
rais associado aos conhecimentos tradicionais proporcionar 
a conservação da natureza in situ. Estas discussões inserem 
novos direcionamentos para o conservacionismo, princi-
palmente nos países em desenvolvimento, configurando 
um novo enfoque, chamado de etnoconservação, a qual 
pode ser considerada como uma das soluções capazes de 
interromper, ou ao menos diminuir, a intensa destruição da 
natureza ocasionada pelo modelo econômico capitalista de 
desenvolvimento adotado por diversos países.
A discussão acerca da etnoconservação remete ao 
ano de 1952 e foi iniciada por um estudo desenvolvido 
por Balick e Cox sobre o uso de plantas por populações 
indígenas, a partir do qual diversas pesquisas passaram 
a procurar vínculos entre a conservação e o manejo dos 
recursos naturais por populações tradicionais. Na busca 
pelos aspectos conceituais da etnoconservação, este tra-
balho procurou inicialmente caracterizar as “populações 
tradicionais”, para então compreender a difusão dos seus 
conhecimentos, presentes nos estudos que envolvem a et-
nociência, da qual a etnoconservação é originada. A partir 
deste ponto, a etnociência passa a ser o foco do trabalho, 
por meio de um breve levantamento da evolução dos estu-
dos, assim como de alguns aspectos metodológicos. Este 
levantamento permite, finalmente, que a discussão sobre a 
etnoconservação seja desenvolvida, por meio dos aspectos 
históricos e conceituais que permeiam estes estudos, pos-
sibilitando a compreensão desta nova perspectiva para a 
conservação da natureza.
1 É importante pontuar que a perspectiva preservacionista se difere da conservacionista. Para a primeira, a natureza remete à noção de wilderness (vida natural, 
selvagem), havendo a dissociação entre homem e natureza, de modo que a mesma deve ser protegida para que permaneça intacta, pois a interferência humana é 
considerada sempre negativa. O conservacionismo também aponta para a necessidade da proteção dos recursos naturais, mas ultrapassa a perspectiva preservacio-
nista ao associar as populações humanas à natureza, pois afirma que manejos sustentáveis possibilitam a interferência humana nos ecossistemas, sem a geração de 
impactos drásticos (DIEGUES, 2008, p. 25).
2 Buscou-se aqui o desenvolvimento de uma revisão acerca de aspectos conceituais referentes à etnoconservação. Ainda que as discussões sobre o tema no contexto 
político gerem reflexões e críticas importantes e necessárias, optou-se por não incluí-las neste trabalho, pois se considera que diversos aspectos desta discussão 
provocam a elaboração de trabalhos direcionados para estas questões. É possível verificar a dimensão política que permeia os assuntos relacionados às populações 
e conhecimentos tradicionais em alguns trabalhos recentes.
Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 22, p. 37-50, jul./dez. 2010. Editora UFPR 39
PEREIRA, B. E.;DIEGUES, A. C. Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade...
Populações tradicionais: conteúdos e processos
O termo “população tradicional” está no cerne de 
diversas discussões e sua implicação ultrapassa a procura 
pela teorização, envolvendo uma série de problemáticas 
relacionadas às políticas ambientais, territoriais e tecnoló-
gicas, uma vez que os diversos organismos multilaterais que 
trabalham em torno deste assunto apresentam dificuldades 
e discordâncias na tentativa de indicar uma definição aceita 
universalmente, o que facilitaria a proteção dos conheci-
mentos tradicionais difundidos pela tradição oral destas 
populações3.
No Brasil, o decreto n.º 6.040, de 7 de fevereiro de 
2007, refere-se ao termo populações tradicionais como 
povos ou comunidades tradicionais4, os quais são definidos 
pelo Artigo 3 como:
I – Povos e Comunidades Tradicionais: grupos cultu-
ralmente diferenciados e que se reconhecem como tais, 
que possuem formas próprias de organização social, 
que ocupam e usam territórios e recursos naturais como 
condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, 
ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, ino-
vações e práticas gerados e transmitidos pela tradição 
(BRASIL, 2007)5.
Apesar da existência da definição legal para “po-
pulações tradicionais”, é preciso considerar que, segundo 
Almeida e Cunha (1999, p. 3), este termo é permeado por 
aspectos semânticos e está sujeito a modificações. Partindo 
deste pressuposto, procurar-se-á assinalar algumas de suas 
características, a fim de possibilitar uma melhor compre-
ensão das questões inseridas no cenário que envolve as 
populações tradicionais e respectivos conhecimentos (COL-
CHESTER, 2000, p. 230; MACAULY; MAXWELL, 2006, 
p. 1), entre as quais são evidenciadas a transmissão oral, a 
existência de uma ampla ligação com o território habitado, 
os sistemas de produção voltados para a subsistência e o 
caráter econômico pré-capitalista (ARRUDA, 2000, p. 274; 
CUNHA, 1989, p. 3; IBAMA, 2008).
Dentre estas, a utilização dos recursos naturais ocupa 
um lugar de destaque, uma vez que tem relação direta com 
a ocupação dos territórios, assim como a fixação nos mes-
mos esteve diretamente acoplada aos ecossistemas locais, 
devido ao desenvolvimento das atividades culturais e de 
subsistência dessas populações:
Na concepção mítica das sociedades primitivas e 
tradicionais existe uma simbiose entre o homem e a 
natureza, tanto no campo das atividades do fazer, das 
técnicas e da produção, quanto no campo simbólico. 
Essa unidade é muito mais evidente nas sociedades 
indígenas brasileiras, por exemplo, onde o tempo para 
pescar, caçar e plantar é marcado por mitos ancestrais, 
pelo aparecimento de constelações estelares no céu, 
por proibições e interdições. Mas ela também aparece 
em culturas como a caiçara do litoral sul e ribeirinhos 
amazonenses, de forma menos clara talvez, mas nem 
por isso menos importante (DIEGUES, 2008, p. 63).
Nesta perspectiva, o manejo desses recursos está dire-
tamente ligado com mitos, regras, valores e conhecimentos, 
que definem a maneira e período como tais recursos serão 
utilizados, podendo ser considerados “elementos culturais 
regulatórios”, pois determinam as atitudes das pessoas pe-
rante o meio ambiente (CULTIMAR, 2008). Nesse sentido, 
Lévi-Strauss analisa alguns sistemas de classificação dos 
recursos naturais por populações indígenas e sua relação 
com seus conhecimentos e manifestações sociais:
3 Uma das dificuldades da utilização do termo “populações tradicionais” se encontra na diversidade étnica mundial (a qual contempla muitos povos e populações que 
não se autoidentificam dentro da generalização que se refere aos mesmos como indígenas ou tradicionais), e nas traduções do termo em inglês indigenous people, 
que apresenta múltiplos significados de acordo com o idioma e o contexto no qual é traduzido (DIEGUES, 2008, p. 82).
4 Utilizar-se-á neste trabalho “população tradicional” devido à sua maior abrangência em relação a outros termos mais específicos, como sociedades, culturas ou 
comunidades tradicionais. Diegues (2008, p. 77) aponta a importância em definir cada um destes termos para que se evite o uso equivocado dos mesmos. Porém, 
visto que essa definição depende das diversas vertentes antropológicas, faz-se necessário um estudo com maior aprofundamento sobre o assunto.
5 Este decreto contribui muito para as discussões ao não atribuir a mesma definição para populações tradicionais e povos indígenas, visto que tanto a legislação que 
discorre sobre estes grupos quanto as várias pesquisas científicas deixam claro que estes dois grupos apresentam diferenças. No caso brasileiro, Almeida e Cunha 
(1999, p. 4) pontuam as questões territoriais como um dos principais divergentes entre estes grupos, visto que os povos indígenas têm a propriedade das terras 
habitadas reconhecida por meio da historicidade de sua ocupação; já as populações tradicionais (exceto quilombolas) ainda estão em processo de busca por este 
reconhecimento. É importante ressaltar também que os povos indígenas possuem línguas específicas que diferem do idioma oficial do país, enquanto alguns grupos 
de populações tradicionais difundem dialetos próprios, mas que não são adotados como oficiais pelos mesmos.
Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 22, p. 37-50, jul./dez. 2010. Editora UFPR40
PEREIRA, B. E.; DIEGUES, A. C. Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade...
De fato, descobre-se mais, a cada dia, que, para inter-
pretar corretamente os mitos e os ritos e, ainda, para 
interpretá-los sob o ponto de vista estrutural (que seria 
errado confundir com uma simples análise formal), a 
identificação precisa das plantas e dos animais que se 
mencionam ou que são utilizados, diretamente sob a 
forma de fragmentos ou de despojos, é indispensável 
(LÉVI-STRAUSS, 1989, p. 68).
Concomitantemente, Marques (2001, p. 162) demons-
tra que são a partir destes elementos que a população age 
com o meio natural e desenvolve seus sistemas tradicionais 
de manejo. Existe uma relação de respeito, gratidão, medo 
e cumplicidade com a natureza, o que se apresenta como 
causa direta da preservação ambiental das localidades nas 
quais as populações tradicionais habitam. Cunha (1992, p. 
77) assinala a existência da indissociabilidade entre o ho-
mem e a natureza, já que o meio ambiente significa “o meio 
essencial de sua sobrevivência social – fonte de sua vida e 
de sua identidade cultural – e, por conseguinte, significa a 
possibilidade de continuarem vivendo na história”.
O fato de o modo de produção não se enquadrar 
completamente aos padrões da sociedade urbano-industrial 
e ser caracterizado em parte como de subsistência remete ao 
sistema de manejo de recursos naturais que estas populações 
utilizam. Ainda segundo Diegues (2008, p. 84), este manejo 
é diferenciado, uma vez que, fundamentalmente, não visa 
ao lucro, mas está interligado com a reprodução social e 
cultural, adicionado de percepções acerca da natureza e 
seus ciclos.
Por meio de uma perspectiva marxista, é possível 
associar a dependência parcial das populações tradicionais 
do mercado com a definição do modo de vida das mesmas 
como pré-capitalista:
Dentro de uma perspectiva marxista, as culturas tradi-
cionais estão associadas a modos de produção pré-capi-
talistas, próprios de sociedades em que o trabalho ainda 
não se tornou mercadoria, onde há grande dependência 
dos recursos naturais e dos ciclos da natureza, em que a 
dependência do mercado existe, mas não é total. Essas 
culturas distinguem-se daquelas próprias ao modo de 
produção capitalista, em que não só a força de trabalho, 
como a própria natureza, se transformam em objeto de 
compra e venda (mercadoria) (DIEGUES, 2008, p. 84).
O caráter pré-capitalista das populações tradicionais 
está igualmente relacionadocom as questões territoriais, o 
que pode ser exemplificado pelo caso brasileiro da fixação 
destas populações, as quais, de acordo com Diegues (2008, 
p. 19), são descendentes dos grupos que durante o período 
da colonização do território se estabeleceram em regiões 
isoladas de centros econômicos e de desenvolvimento. Estes 
grupos constituíram um modelo de cultura diferenciado, 
baseado na relação intensa com o território habitado, na qual 
a exploração equilibrada dos recursos naturais possibilitou 
a sobrevivência dessas populações “através da observação e 
experimentação de um extenso e minucioso conhecimento 
dos processos naturais, até hoje, as únicas práticas de mane-
jo adaptadas às florestas tropicais” (ARRUDA, 1999, p. 83).
Partindo desses pressupostos, Castro (2000, p. 169) 
apresenta a relação entre os diversos elementos que com-
põem a cultura das populações tradicionais com o território 
habitado pelas mesmas. Colchester (2000, p. 239) corrobora 
com a autora ao pontuar que a forte ligação desses grupos 
com os seus territórios pode ser expressa pelo “sistema 
simbólico e pelo conhecimento detalhado dos recursos 
naturais”, os quais são decorrentes da ocupação perpetuada 
pelas gerações anteriores.
Transversal às demais características intrínsecas às 
populações tradicionais expostas anteriormente, encontra-
-se a transmissão oral como mecanismo de difusão, a 
qual estabelece uma relação contínua com os conteúdos 
disseminados: “Oralidade é simultaneamente conteúdo e 
processo. Ela impõe maior atenção aos movimentos de 
audição, percepção e memória, coerência de pensamento 
e criatividade como desenvolvimento do enredo narrado”6 
(REVEL, 2005, p. 6, tradução da autora). Sendo assim, é 
possível afirmar que a transmissão oral dos conhecimen-
tos dessas populações remete diretamente ao modo como 
se perpetuam as demais características, uma vez que, de 
acordo com Lenclude (1994, p. 31), é a partir da oralidade 
que os conhecimentos, valores, linguagens, representa-
ções, visões de mundo e práticas são transmitidos entre os 
sujeitos, permitindo a continuidade do tempo passado no 
tempo presente.
6 “Orality is simultaneously context and process. It sets into motion attentive hearing, perception and memory, coherence of thought and creativity as the plot 
unfolds in the sung uttered”.
Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 22, p. 37-50, jul./dez. 2010. Editora UFPR 41
PEREIRA, B. E.; DIEGUES, A. C. Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade...
Para Becquelin (1992, p. 34), a transmissão oral en-
volve outros processos durante seu desenvolvimento, tais 
como a interpretação e a construção de ações constantes, o 
que garante a transformação do conteúdo propagado. Além 
disso, Mello (2008, p. 44) enfatiza as questões existentes 
entre a transmissão oral e o contexto no qual ocorre, visto 
que se observa a influência deste sobre aquele, o que está as-
sociado com a composição dos conteúdos e suas alterações, 
as quais, no entanto, não interferem na sua legitimidade, 
pois a identidade fundamental do mesmo é preservada:
Enquanto está sujeito à constantes variações, estas 
histórias parecem ser sustentadas por vários padrões 
subjacentes de narração (o que J. Goody [1977, 1987] 
tem chamado de “enredos” da tradição oral) que adqui-
rem uma certa estabilidade através do tempo, e assim 
preservam a identidade geral de uma tradição […].
Muitos antropólogos têm descrito as performances 
rituais nas quais certo equilíbrio é estabelecido entre 
o que é sujeito a variações e alguns pontos cruciais (o 
que seria denominado como o foco das performances ri-
tuais), onde a improvisação desempenha um papel menos 
importante7 (SEVERI, 2002, p. 23, tradução da autora).
Goody e Watt (2006, p. 17) conectam a transformação 
do conteúdo transmitido com os aspectos mnemônicos, de 
modo que esta ocorre por meio do esquecimento de alguns 
aspectos e adição de outros, havendo a contribuição das 
experiências individuais para a formação da tradição oral de 
uma sociedade e da linguagem como a principal ferramenta 
utilizada nesse processo. Os autores denominam este pro-
cesso de memória e esquecimento como “organização ho-
meostática da tradição cultural em sociedades não letradas”. 
Para Menget e Molinié (1992, p. 12) são estes os aspectos 
que permitem a recriação de certos pontos do conteúdo e 
caracterizam a historicidade própria que a tradição possui.
A tradição, de acordo com Vansina (1985), é composta 
pelo produto resultante da memória e do esquecimento, 
mas também pelo processo que produz este conteúdo, 
e por isso, antes analisar o conteúdo de uma tradição, é 
necessário ponderar as formas pelas quais tais conteúdos 
foram transmitidos.
A expressão “tradição oral” é aplicada tanto ao processo 
quanto aos produtos. Os produtos são mensagens orais 
baseadas em mensagens orais prévias, pelo menos uma 
geração mais velha. O processo é a transmissão dessas 
mensagens por boca a boca até o desaparecimento da 
mensagem8 (VANSINA, 1985, p. 3, tradução da autora).
Lenclud (1994, p. 28), por outro lado, apresenta 
algumas reflexões na tentativa de encontrar uma definição 
para tradição, nas quais o autor aborda diversas maneiras da 
utilização desta palavra. Estas reflexões, porém, conduzem 
ao fato de que a definição de tradição ainda é uma discussão 
não finalizada nas diversas áreas do conhecimento, o que 
conduz aos múltiplos conflitos existentes ao redor deste 
assunto e coloca limitações nas tentativas de definir o co-
nhecimento gerado pela tradição destas populações. Porém, 
apesar das limitações existentes, faz-se necessário articular 
tais conhecimentos com as características das populações 
tradicionais, descritas acima, uma vez que ambos coexistem 
e são dependentes entre si.
Conhecimentos tradicionais e a etnociência
A associação das características das populações tra-
dicionais, principalmente no que se refere à utilização dos 
recursos naturais e ao processo oral de transmissão, são 
partes constituintes do conhecimento destas populações, 
que, segundo Arruda e Diegues (2001, p. 31), é composto 
pelo “conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo 
natural e sobrenatural, transmitido oralmente, de geração em 
geração”. Schmidt (2001, p. 73) acrescenta que a construção 
dos conhecimentos tem vasta relação com o ambiente físico 
e social habitado por estas populações e Allut (2001, p. 113) 
exemplifica esta relação ao expor alguns elementos prove-
nientes dos conhecimentos que pescadores detêm sobre o 
meio marítimo, com o intuito de demonstrar que o conheci-
7 “While being subjected to constant variations, these stories appear to be sustained by a number of underlying patterns of narration (what J. Goody [1977, 1987] 
has called the ‘plots’ of oral tradition) that acquire a certain stability through time, and thus preserve the general identity of a tradition […]. Many anthropologists 
have describes ritual performances where a certain equilibrium is established between what is subjected to variation and a certain number of crucial points (that we 
could call the foci of ritual performances), where improvisation plays a much less important role”.
8 “The expression ‘oral tradition’ applies both to a process and to its products. The products are oral messages based on previous oral messages, at least a generation 
old. The process is the transmission of synch messages by word of mouth over time until disappearance of the message”.
Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 22, p. 37-50, jul./dez. 2010. Editora UFPR42
PEREIRA, B. E.; DIEGUES, A. C. Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade...
mento tradicional depende da junção entre os “saberes dos 
antigos” com o cotidiano dos mesmos, exigindo uma série 
de percepções e práticas necessárias para o sucesso da pesca 
e mesmo para a sobrevivência do pescador.Desse modo, o conhecimento, além de estar ligado a um 
savoir-faire, como um ter jeito, relaciona-se com uma 
rede conceitual de conhecimentos espaciais e ambientais 
tão ou mais essenciais que na cultura manual e técnica. 
Tudo isso surge de um processo que pressupõe um su-
jeito cognitivo em constante interação entre o trabalho 
mental e manual, e entre este e seu entorno (ALLUT, 
2001, p. 113).
Para Cunha (1999, p. 156), a interdependência entre 
os “saberes dos antigos” e o cotidiano das populações 
conduz à compreensão dos conhecimentos tradicionais 
como “produtos históricos”, constituídos pela continuida-
de e transformação dos seus conteúdos. A inserção destes 
elementos na composição dos conhecimentos tradicionais 
coloca a transmissão oral como um dos pontos imprescindí-
veis para o processo de produção dos mesmos e demonstra 
a intensa conexão que existe entre as características das 
populações tradicionais e seus respectivos conhecimentos 
com o mecanismo de difusão utilizado. Este aspecto per-
mite considerar que os conhecimentos tradicionais não se 
limitam ao conteúdo, bem como o processo de transmissão 
não pode ser entendido como um transporte de informa-
ções, pois ambos são dependentes do contexto no qual 
se propagam (BECQUELIN, 1992, p. 34; ELLEN, 1997, 
s/p.; MELLO, 2008, p. 44; TOLEDO, 2001, p. 458). Neste 
sentido, Cunha (1999, p. 156) adiciona aos conhecimentos 
tradicionais “[...] uma combinação de pressupostos, formas 
de aprendizado, de pesquisas e de experimentação”.
De acordo com Lévi-Strauss (1989), estes conheci-
mentos compõem a “Ciência do Concreto”, a qual se dis-
tingue da ciência ocidental moderna, ainda que se encontre 
no mesmo padrão conceitual e metodológico. Enquanto esta 
última possui um objeto para investigação definido, que tem 
como finalidade a satisfação das necessidades humanas, a 
ciência do concreto busca o conhecer pelo conhecer e, tal 
como a ciência ocidental, fundamenta-se em constatações 
empíricas:
Como na linguagem profissional, a proliferação concep-
tual corresponde a uma atenção mais firme, em relação 
às propriedades do real, a um interesse mais desperto 
para as distinções que aí podem ser introduzidas. Este 
apetite de conhecimento objetivo constitui um dos 
aspectos mais negligenciados do pensamento daqueles 
que nós chamamos de “primitivos”. Se é raramente 
dirigido para realidades do mesmo nível que aquelas 
às quais se liga a ciência moderna, implica diligências 
intelectuais e métodos de observação semelhantes. Nos 
dois casos, o universo é objeto de pensamento, ao menos 
tanto quanto meio de satisfazer necessidades (LÉVI-
-STRAUSS 1989, p. 21).
Por outro lado, admite-se que uma das diferenças pri-
mordiais entre o conhecimento produzido pelas sociedades 
orais e pelas sociedades letradas se refere principalmente 
ao modo de transmissão empregado, uma vez que enquanto 
a primeira baseia-se na oralidade, a segunda utiliza a es-
crita como ferramenta para a transmissão e continuidade 
dos conhecimentos (LENCLUDE, 1994, p. 39). Inseridos 
nesta reflexão, faz-se necessário que os conhecimentos 
tradicionais sejam interpretados a partir do contexto no qual 
foram produzidos, para que não sejam padronizados e frag-
mentados como aqueles originados pela ciência moderna 
(ELLEN, 1997, s/p.; TOLEDO, 2000, p. 2).
Ainda abordando as questões relacionadas ao caráter 
científico dos conhecimentos tradicionais, Lévi-Strauss 
apresentou as taxonomias de folk como a descrição de di-
versos sistemas de significação e classificação de recursos 
naturais, desenvolvidos por comunidades indígenas. O 
autor enfoca a lógica incutida nestes sistemas, visto que os 
conhecimentos acerca do meio natural não têm a utilidade 
singular de identificação, mas contemplam inúmeros signi-
ficados, entrelaçados com aspectos culturais (1989, p. 76).
Arruda e Diegues (2001, p. 36) indicam Lévi-Strauss 
como um dos precursores da etnociência, devido ao seu 
estudo analítico dos sistemas indígenas de classificação de 
recursos naturais, o qual proporcionou a percepção acerca 
da lógica e complexidade existentes nestes sistemas clas-
sificatórios, de modo que direcionou a algumas reflexões 
que possibilitaram estudos mais aprofundados sobre estes 
conhecimentos9.
9 Apesar de a sua visibilidade ter sido ampliada a partir de Lévi-Strauss, o início dos estudos dos conhecimentos tradicionais como pressupostos da ciência moderna 
ocorreu por volta do ano de 1954, com a tese de Harold Conklin, intitulada The Relations of Hanunoo Culture to the Plant World, que procurou analisar o conhe-
cimento tradicional desta população indígena das Filipinas por meio da semântica (NAKASHIMA; ROUÉ, 2002, p. 3).
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PEREIRA, B. E.; DIEGUES, A. C. Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade...
De acordo com Moran (1990, p. 70) e Schmidt (2001, 
p. 75), estes estudos promoveram um novo padrão de aná-
lise científica, baseado no levantamento do conhecimento 
humano sobre o ambiente natural, chamado de etnociência10, 
para a qual, segundo Roué:
[...] fundamental é explicar, com uma visão externa, as 
categorias semânticas, os conhecimentos e a visão do 
mundo indígena, no âmbito de uma dada sociedade e, 
por conseguinte, de uma certa organização social, a única 
que permite compreender, com uma visão interna, como 
natureza e cultura se articulam (ROUÉ, 2000, p. 70).
A etnociência exige a articulação entre o natural e o 
social, utilizando como metodologia a investigação das no-
menclaturas designadas pelas populações tradicionais para 
os elementos e fenômenos naturais, assim como os valores 
culturais que transportam. Posey (1987, p. 15) indica que a 
partir desta percepção se desenvolve a hierarquização destes 
elementos e fenômenos, na tentativa da organização de um 
sistema taxonômico contemplado por categorias cognitivas, 
relacionadas à percepção da natureza por meio da cosmo-
logia (influência mítica sobre a visão da natureza, recursos 
e fenômenos naturais), dos conhecimentos (dinâmicas, 
relações e utilidades dos recursos naturais transmitidos por 
meio da tradição) e das práticas (a práxis entre o conhe-
cimento e sua utilização como garantia da sobrevivência). 
O autor enfatiza que a etnociência envolve um volumoso 
intercâmbio entre culturas distintas e que a análise dos dados 
coletados carece de uma perspicácia capaz de envolver as 
limitações que os conhecimentos tradicionais carregam.
A interação das populações tradicionais com o exten-
so ambiente natural pelo qual se reproduzem culturalmente 
reflete na necessidade de estudos que priorizem determi-
nadas especialidades, o que, consequentemente, ramifica a 
etnociência de acordo com o objeto de pesquisa, originando 
diversos campos – como a etnobotânica, etnofarmacologia, 
etnoecologia, entre outras11. 
Os estudos que a etnociência desenvolve proporcio-
nam o levantamento de conhecimentos sobre a natureza, 
acumulados no decorrer de longas gerações e raramente 
registrados por meios escritos, mas que mesmo assim mui-
tas vezes ultrapassam os conhecimentos alcançados pelas 
sofisticadas metodologias da ciência ocidental. Diante do 
panorama ambiental decorrente das ações da sociedade 
humana que segue o modelo econômico capitalista e da 
ausência de alternativas eficazes para a proteção da natu-
reza, a valorização dos conhecimentos tradicionais surge 
como uma alternativa capaz de auxiliar na conservação 
de áreas naturais remanescentes. Porém, para que isto 
aconteça, faz-se necessário que estes conhecimentos sejam 
compreendidos e analisados como uma probabilidade para 
a conservação da natureza, o que determina uma nova 
especificidade para a área da etnociência, designada por 
etnoconservação, difundida recentemente e por isso ainda 
em processo de definição econsolidação de alguns dos 
seus aspectos.
Conhecimentos tradicionais e conservação da 
natureza: etnoconservação
Ao articular as características das populações tra-
dicionais e a produção dos seus conhecimentos, tornam-
-se perceptíveis a relação de dependência entre ambos e 
a dependência dos mesmos com os recursos naturais. A 
partir de 1990, as questões ambientais contemporâneas 
influenciaram o desenvolvimento da análise dessa relação 
por meio de uma perspectiva mais abrangente, gerando a 
possibilidade da associação entre a conservação de alguns 
recursos naturais com os conhecimentos e práticas dessas 
populações (BERKES, 1999, p. 17).
A constatação dessa possibilidade surge de uma 
análise do sistema econômico capitalista, difundido na 
maioria dos países do mundo e que, além de gerar diversas 
desigualdades sociais, resulta em fatores como a pobreza 
para grande parte da população e passou a ser considerado 
como um dos responsáveis pela crise ecológica sem pre-
cedentes que vem sendo fortalecida desde o final do século 
XIX (MARTÍNEZ-ALIER, 2007, p. 9). A crise ecológica 
está relacionada com a escassez e a finidade de grande parte 
dos recursos naturais e consequente ameaça à sobrevivência 
da espécie humana que, apesar de aparente evidência e 
10 Roué (2000, p. 71) discorre sobre a diferença entre a etnociência e a etnologia: “Em etnobiologia ou etnociências, eles reconhecem efetivamente ‘etnos’, o povo, 
e ‘biologia’ ou ‘ciências’. Mas os pesquisadores fazem mais ou menos biologia ou ciências em meio a um povo. Já os etnólogos interessam-se pelo que Lévi-Strauss 
denominou de ‘o pensamento selvagem’ ou a ‘ciência do concreto’, isto é, para exemplificar, a ciência de um povo”.
11 A Suma Etnológica Brasileira (1987), dividida em sete volumes, traz alguns trabalhos desenvolvidos pela etnociência, de diferentes especialidades e autores.
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PEREIRA, B. E.; DIEGUES, A. C. Conhecimento de populações tradicionais como possibilidade...
diversas confirmações científicas, tem sua existência negada 
por parte de muitas autoridades:
A natureza se converteu em um problema ético; tão 
degradada está por ações humanas que nossa relação 
com ela transformou-se em questão decisiva, que 
afeta as condições de vida social e a possibilidade de 
sobrevivência futura da espécie e clama por uma nova 
ética de responsabilidade, informada por um saber que 
ilumine as consequências deliberadas da ação humana 
(DUPAS, 2008, p. 23).
Martínez-Alier (2007, p. 41) afirma que a expansão 
econômica e a conservação do meio ambiente se enfrentam 
constantemente e propõe que analisar a crise ambiental 
a partir da perspectiva econômica conduz à tentativa de 
compreender a relação entre a sociedade capitalista e os 
recursos naturais. Leff (2001) corrobora com Martínez-
-Alier ao considerar que:
A problemática ecológica questiona os custos socio-
ambientais derivados de uma racionalidade produtiva 
fundada no cálculo econômico, na eficácia dos sistemas 
de controle e previsão, na uniformização dos comporta-
mentos sociais e na eficiência de seus meios tecnológicos 
(LEFF, 2001, p. 133).
Neste sentido, Dupas (2008, p. 45) coloca algumas 
ponderações acerca do modelo econômico vigente e seus 
impactos sobre a natureza, juntamente com as amplas 
consequências destes sobre os seres humanos. De acordo 
com o autor, o conceito de “progresso”, sustentado pela 
lógica de produção e tecnologia, está intimamente ligado 
com esses impactos e suas consequências, sendo que visa 
ao lucro privado e não prioriza os interesses e necessidades 
da população em geral e nem a correta manutenção dos 
recursos naturais. Como o meio ambiente não pode mais 
sustentar este modelo predatório, faz-se necessária a busca 
por soluções mais concretas, capazes de direcionar o sistema 
para práticas sustentáveis:
A crise ambiental gerou novas orientações para o pro-
cesso de desenvolvimento e novas demandas para os 
movimentos sociais (ecologismo/ambientalismo). Seus 
objetivos mostram a necessidade de incorporar uma 
“dimensão ambiental” no campo do planejamento eco-
nômico, científico, tecnológico e educativo, induzindo 
novos valores no comportamento dos agentes sociais 
[...] (LEFF, 2001, p. 100).
Inseridas nesta procura por soluções que conciliem 
a sociedade humana e os recursos naturais estão as verten-
tes dos movimentos ambientalistas, que se diferem pelas 
perspectivas particulares sobre as relações existentes entre 
os seres humanos e a natureza, sendo designadas como 
ecologia profunda, ecoeficiência e ecologia social (DUPAS, 
2008, p. 24).
Na ecologia profunda estão aqueles que defendem a 
natureza intocada e a sacralidade da mesma, na tentativa 
de preservar o que resta de ambientes naturais livres da 
interferência humana, preocupados com o crescimento de-
mográfico e desfavoráveis ao crescimento econômico, fun-
damentados cientificamente pela biologia conservacionista 
(DIEGUES, 2008, p. 32; MARTÍNEZ-ALIER, 2007, p. 23). 
A outra corrente ambientalista, a ecoeficiência (tam-
bém denominada por Martínez-Alier como “evangelho da 
ecoeficiência”), caracteriza-se por tentar estabelecer uma 
relação compatível entre os recursos naturais e o sistema 
econômico capitalista, enfatizando o manejo sustentável 
desses recursos através de teorias desenvolvidas pela eco-
logia industrial e pela economia ecológica. Inseridos nesta 
vertente, os economistas ecológicos vêm se firmando desde 
a década de 1980, buscando associar o sistema econômico 
predominante com o meio ambiente, ou seja, a relação entre 
produção de bens de consumo e a demanda de recursos 
naturais para tal, por meio de análises e soluções capazes 
de beneficiar os dois lados, ainda que isso não aconteça na 
mesma proporção (DUPAS, 2008, p. 56), uma vez que a 
proteção do meio ambiente ainda é considerada como um 
custo a ser agregado no processo produtivo.
E por último, difundida mais recentemente, a ecologia 
social – ou “ecologismo dos pobres” – está diretamente 
conectada com o conceito de justiça ambiental e as relações 
existentes entre as populações dos países em desenvolvi-
mento com o manejo e a preservação dos recursos naturais. 
Esta corrente ambientalista foi originada em consequência 
dos conflitos ambientais (em níveis local, regional, nacio-
nal e global) gerados pelo crescimento econômico e pela 
desigualdade social (MARTÍNEZ-ALIER, 2007, p. 38).
Apesar de essas correntes apresentarem pontos di-
vergentes em suas concepções de natureza e mecanismos 
para a proteção da mesma, é possível afirmar que existe 
certa concordância em relação ao objetivo principal de 
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suas ações, ou seja, todas pretendem proteger a natureza 
de ações humanas destrutivas. No entanto, Arruda (1999, p. 
85) afirma que os mecanismos de proteção da natureza que 
as duas primeiras correntes difundiram não se mostraram 
eficientes no cumprimento dos seus objetivos, de modo 
que a ecologia social trouxe novas reflexões na tentativa 
de preencher as lacunas que estabeleceram uma dicotomia 
entre homem e natureza.
Influenciada por alguns dos pressupostos da ecologia 
social e posicionando-se contrária à ecologia profunda, a 
etnoconservação da natureza direciona seu foco para as 
questões relacionadas às áreas naturais protegidas e às 
populações tradicionais, de modo que possibilita a inserção 
de uma nova perspectiva, sensível à percepção de que o 
manejo sustentado dos recursos naturais desenvolvidos por 
essas populações contribui para a conservação dos mesmos 
(ARRUDA; DIEGUES, 2001, p. 30; DIEGUES, 2000, p. 
40). Acrescenta-se também a intensa ligação que a etnocon-servação apresenta com os conhecimentos da etnobiologia e 
etnobotânica, pois a relação sustentável que as populações 
tradicionais mantêm com o meio no qual estão inseridas 
depende do amplo conhecimento que possuem acerca dos 
diversos elementos naturais com os quais constantemente 
interagem (ELLEN, 1997, s/p.)12.
Entretanto, como os estudos da pesquisa científica 
moderna se baseiam em análises fragmentadas, a etnocon-
servação encontra diversas barreiras para sua difusão no 
meio acadêmico e nos vários segmentos que este influencia.
Romper com os padrões clássicos dessa ciência reducio-
nista não é tarefa fácil, pois nossas próprias instituições 
de pesquisa e ensino são, em geral, unidisciplinares, 
discriminadoras dos saberes tradicionais, marcadas por 
“correias de transmissão” que nos ligam aos grandes 
centros, dentro e fora do país, onde são gerados modelos 
científicos reducionistas que, transformados em práticas 
(ou ideologias), levam a uma conservação hegemônica, 
autoritária e pouco eficaz (DIEGUES, 2008, p. 184).
A busca por esta ruptura foi iniciada pela etnociência 
e, no caso específico da etnoconservação, proporcionada 
por percepções geradas a partir da etnobotânica em um 
estudo de Balick e Cox, Plants, People and Culture, desen-
volvido em 1952, sobre os usos de plantas por populações 
indígenas e tradicionais: “Uma nova e muito importante 
ramificação da etnobotânica pode ser denominada como 
‘etnoconservação biológica’ – a incorporação do modelo 
de conservação indígena no manejo de áreas naturais”13 
(BALICK; COX, 1996, p. 199, tradução da autora). Estas 
constatações permitiram a constituição da etnoconservação 
a partir da associação da conservação da natureza in situ 
com os conhecimentos tradicionais e o manejo dos recursos 
naturais que estes proporcionam, posicionando-se como 
uma alternativa para a conservação de áreas naturais:
[...] baseada, entre outros pontos, na importância das 
comunidades tradicionais indígenas e não indígenas na 
conservação das matas e outros ecossistemas presentes 
nos territórios em que habitam. A valorização do co-
nhecimento e das práticas de manejo dessas populações 
deveria constituir uma das pilastras de um novo conser-
vacionismo nos países do Sul. Para tanto, deve ser criada 
uma nova aliança entre os cientistas e os construtores e 
portadores do conhecimento local, partindo de que os 
dois conhecimentos – o científico e o local – são igual-
mente importantes (DIEGUES, 2000, p. 42).
Berkes e Folke (1998, p. 3) afirmam que, ao levantar 
informações dos aspectos culturais e biológicos, compo-
nentes do entorno das populações tradicionais, os estudos 
desenvolvidos pela etnoconservação procuram analisar 
como determinado grupo social utiliza o conhecimento 
tradicional dos recursos naturais locais para o desenvolvi-
mento das práticas de manejo sobre os mesmos e quais os 
mecanismos sociais presentes em todo o processo.
É importante ressaltar que a existência do manejo 
sustentável dos recursos naturais, proporcionada por meio 
dos conhecimentos tradicionais destas populações, não está 
vinculada a uma visão romântica da realidade (TOLEDO, 
2001, p. 461). A idealização de que a relação das populações 
tradicionais com a natureza é harmoniosa e equitativa está 
vinculada ao mito do “bom selvagem” (DIEGUES, 2008, 
12 A etnoconservação, assim como outras ramificações da etnociência, foi difundida principalmente por antropólogos e biólogos, que procuraram articular os 
conhecimentos gerados por estas duas áreas da ciência a fim de compreender as relações existentes entre homem e natureza com maior consistência teórica. Entre 
estes pesquisadores, podem-se citar, entre outros, Willian Balée (antropólogo), Michael Balick (biólogo), Darrel Posey (antropólogo e biólogo), Antonio Carlos 
Diegues (antropólogo).
13 “A new and very important branch of ethnobotany might be termed ‘ethno conservation biology’ – the incorporation of indigenous conservation models into 
wildlands management”.
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p. 99; HOROWITZ, 1998, p. 372), também denominado 
por Almeida e Cunha (1999, p. 1) como “mito do ecologi-
camente bom selvagem”.
Contudo, apesar da relação entre população tradi-
cional e natureza não se radicar nesta visão romântica do 
“bom selvagem”, ela também não pode ser colocada no 
outro extremo, como um agente determinante na destruição 
de áreas naturais, pois a contextualização entre população 
tradicional e natureza remete à necessidade de uma reflexão 
acerca da coexistência de ambas e os efeitos gerados, o que 
recentemente tem se transformado em objeto de estudos de 
várias pesquisas. Toledo (2001) expõe alguns dados que 
procuram articular a presença de populações tradicionais 
em áreas naturais protegidas, acrescendo informações sobre 
a existência de espécies endêmicas nas regiões apontadas 
e o elevado nível da diversidade biológica14. Por meio 
desses dados, o autor consegue indicar a coexistência 
desses elementos como benéfica para a natureza, visto 
que o manejo dos recursos naturais desenvolvidos pelas 
populações tradicionais e proporcionado pela acumulação 
dos conhecimentos transmitidos ao longo do tempo entre 
as gerações contribui para o fortalecimento e aumento da 
biodiversidade. Colchester (1995, p. 27) também afirma 
que “existem poderosas razões para acreditar que muitos 
sistemas indígenas de emprego dos recursos são relativa-
mente benignos”15.
Deve-se considerar ainda que, embora tais práticas 
proporcionem a conservação dos recursos naturais, o con-
servacionismo, fortemente difundido na sociedade urbana, 
não está presente nas concepções intrínsecas às populações 
tradicionais (GADGIL et al., 1993, p. 154), sendo que uma 
interpretação generalizada das relações entre populações 
tradicionais e natureza pode ocasionar percepções equivo-
cadas acerca da maneira como tal relação procede e insere 
a ideologia conservacionista na percepção “êmica”16 das 
populações:
Pode-se ter práticas culturais conservacionistas sem 
uma ideologia conservacionista. Neste caso, temos 
populações que, sem ter uma ideologia explicitamente 
conservacionista e que, não obstante, seguem regras 
culturais para o uso dos seus recursos naturais de maneira 
sustentável (ALMEIDA; CUNHA, 1999, p. 1).
O que existe, porém, é a noção de que homem e 
natureza não são independentes, visto que o vínculo entre 
eles constitui uma relação simbiótica, na qual ambos de-
sempenham funções para a manutenção do meio, sendo as 
ações humanas desenvolvidas neste contexto permeadas por 
diversos valores e regras, próprios da cultura pela qual são 
difundidos (DIEGUES, 2008, p. 63; ELLEN, 1997, s/p.).
Inseridos nesta perspectiva, os estudos da etnocon-
servação se direcionam para a classificação dos elementos 
naturais segundo os mitos, valores e visões de mundo das 
populações tradicionais. Ao cogitar este sistema de classi-
ficação por meio da abordagem cognoscitiva, procura-se 
a compreensão do modo como estes elementos culturais 
influenciam ou até mesmo determinam o manejo dos re-
cursos naturais, ao mesmo tempo em que proporcionam a 
conservação dos mesmos:
O livro Global Biodiversity Assessment reconhece que, 
“onde populações indígenas mantêm dependência com 
o meio ambiente local para a provisão dos recursos por 
longos períodos, eles têm frequentemente desenvol-
vido um interesse na conservação da biodiversidade” 
(HEYWOOD, 1995, p. 1017). Baseando-se em Gadgil 
et. al. (1993), o volume inclui exemplos de práticas tra-
dicionais que conservam a biodiversidade: manutenção 
de áreas sagradas e outros refúgios ecológicos; proteção 
de determinadas espécies através de tabus e outros me-
canismos; protegendo estágios críticosde vida; e usando 
a sabedoria local para conduzir o emprego do meio 
ambiente17 (BERKES, 1999, p. 32, tradução da autora).
14 De acordo com o Artigo 2.º da Convenção sobre a Diversidade Biológica, diversidade biológica “significa a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, 
compreendendo, dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo 
ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de ecossistema” (MMA, 2000, p. 9).
15 “Existen poderosas razones para creer que muchos sistemas indígenas de empleo de los recursos son relativamente benignos”.
16 Segundo Ribeiro (1987, p. 11), “êmico” refere-se às percepções e expressões próprias das populações tradicionais perante seus conhecimentos. O pesquisador, 
ao observar essas percepções e expressões, desenvolve uma análise “ética” das mesmas a partir de suas próprias percepções.
17 “The book Global Biodiversity Assessment recognizes that ‘where indigenous people have depended on local environments for the provision of resources over 
long periods of time, they have often developed a stake in conserving biodiversity’ (HEYWOOD, 1995, p. 1017). Borrowing from Gadgil et. al. (1993), the volume 
includes examples of traditional practices that conserve biodiversity: maintaining sacred areas and other ecological refuge; protecting selected species through taboos 
and others social mechanisms; protecting critical life history stages; and using the guidance of local experts as environmental stewards”.
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A função normativa que determinados elementos 
culturais apresentam no manejo dos recursos naturais tem 
relação com o sucesso da adaptação das populações tradicio-
nais em seus territórios, pois se percebe que a constituição 
física e biológica dessas áreas é determinada pelo modo de 
vida propagado. Toledo (2001, p. 455) afirma que, devido à 
sua inserção em áreas naturais, as populações tradicionais 
procuram adaptar o meio às suas necessidades, ao mesmo 
tempo em que se adaptam às condições oferecidas.
O sucesso da adaptação humana em meio ambiente 
florestal depende das suas habilidades para manter as 
relações terra-população a um nível que permitirá ex-
trações sustentáveis, que depende da sua capacidade de 
organizar e aplicar o conhecimento sobre a estrutura e 
composição da floresta18 (ELLEN, 1997, s/p., tradução 
da autora).
As ações que modificam o ambiente natural habitado 
procuram favorecer a disseminação de algumas espécies da 
fauna, em detrimento de outras, de acordo com a utilidade 
que apresentam na dieta alimentar, por exemplo. Ou ainda 
pode-se citar o sistema itinerante de agricultura, que utiliza 
a queima e a diversidade de cultivos, originando mosaicos 
florestais, os quais podem ser considerados colaboradores 
ativos para o aumento do nível da diversidade biológica 
local. Cabe ressaltar que ações como estas são permeadas 
pelos conhecimentos tradicionais acumulados sobre o meio, 
que permitem que a resiliência19 necessária para a continui-
dade do equilíbrio local não seja interrompida.
Sob múltiplas estratégias de uso, produtores indígenas 
manipulam as paisagens naturais de maneira que duas 
características principais são mantidas e favorecidas: 
habitat e heterogeneidade, variação biológica e genética. 
[…] Este mosaico representa o campo no qual os produ-
tores indígenas, bem como suas múltiplas estratégias de 
uso, atuam no jogo da subsistência através da manipula-
ção de componentes e processos ecológicos (incluindo 
sucessão florestal, ciclos de vida e movimento de ma-
teriais)20 (TOLEDO, 2001, p. 460, tradução da autora).
Diante da constatação do intenso manejo que as 
populações tradicionais desempenham nos lugares em que 
estão presentes, recusa-se a possibilidade da existência 
de áreas naturais intactas, pois se percebe que tais áreas 
são produtos de ações desenvolvidas por estas populações 
durante longos períodos (COLCHESTER, 1995, p. 13), o 
que remete a estudos que seguem a mesma linha daquele 
desenvolvido por Toledo (2001), já citado anteriormente 
neste trabalho. 
Simultaneamente, coloca-se a ideia de que o manejo 
dos recursos naturais, típico do modo de vida das popu-
lações tradicionais, é permeado pela necessidade do uso 
racional desses recursos (ALMEIDA; CUNHA, 1999, p. 
1), mas transcende a existência desta noção pelo simples 
existir, pois alcança a práxis, sendo uma das poucas práticas 
humanas atuais que consegue se caracterizar como sustentá-
vel21. É possível considerar ainda que a necessidade do uso 
racional dos recursos naturais configura-se também como 
um requisito para a perpetuação das populações tradicionais 
nos ambientes nos quais estão inseridas, ao mesmo tempo 
em que a diversidade biológica das áreas nas quais estas 
populações estão presentes depende da continuidade do 
manejo tradicional dos recursos.
Considerações finais
A etnoconservação da natureza, mais que uma área do 
conhecimento cientifico, é uma possibilidade em potencial 
para a proteção dos recursos naturais, principalmente para 
os países em desenvolvimento. 
Enquanto ciência, os estudos no campo da etnocon-
servação são capazes de levantar dados importantes que, 
além de propiciar conhecimentos científicos relevantes, 
18 “The successful adaptation of humans to rainforest environments depends on their ability to maintain population-land ratios at a level which will permit sustainable 
extraction, which in turn depends on their capacity to organize and apply knowledge of rainforest structure and composition”.
19 Berkes e Folke definem resiliência como “capacity or the ability of a system to absorb perturbations; the magnitude of disturbance that can be absorbed before a 
system changes its structure by changing the variables and processes that control behavior” (1998, p. 6).
20 “Under the multiuse strategy, indigenous producers manipulate the natural landscape in such a way that two main characteristics are maintained and favored: habitat 
patchiness and heterogeneity, and biological as well as generic variation. […] This mosaic represents the field upon which indigenous producers, as multiuse strategists, 
play the game of subsistence through the manipulation of ecological components and processes (including forest succession, life cycles and movement of materials)”.
21 Neste trabalho, sustentável refere-se ao conceito de sustentabilidade utilizado por Sachs (2005, p. 286), o qual está baseado em Costanza e Patten (1995): “the 
basic idea of sustainability is quite straightforward: a sustainable system is one which survives or persists”.
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auxiliam na proteção de áreas naturais. Os conhecimentos 
difundidos pelas populações tradicionais se referem ao 
meio no qual foram produzidos, no geral, ecossistemas 
tropicais com elevado grau de biodiversidade. Apesar das 
muitas pesquisas realizadas, estes ecossistemas ainda pos-
suem muitos detalhes desconhecidos pela ciência ocidental 
moderna, mas que são contemplados pelo cotidiano das 
populações humanas que sobrevivem por meio da interação 
que desenvolveram com estes locais. Neste sentido, estes 
conhecimentos trazem importantes contribuições para a 
compreensão do funcionamento destes sistemas comple-
xos e, por conseguinte, para melhorias na administração e 
proteção dessas áreas. É importante ressaltar as populações 
tradicionais como importantes agentes para a proteção de 
áreas naturais e a necessidade que existe em protegê-los, 
visto que apresentam um dos modos de vidahumana capaz 
de coexistir dentro de certo equilíbrio com a natureza.
A articulação entre meio natural e social, propor-
cionada pela etnociência, com enfoque na relação entre 
conhecimentos tradicionais e conservação dos recursos 
naturais, por meio de subsídios da etnoconservação, con-
duz a uma reflexão sobre a ideia de natureza como uma 
construção cultural de algumas sociedades humanas que, ao 
desenvolverem esta noção como algo externo, longínquo, 
digno de observação e contemplação, não consideram que 
também são uma das partes desta “natureza” e que apresen-
tam intensa dependência de todo o ciclo que é perpetuado 
constantemente.
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Recebido em dezembro de 2009.
Aceito em junho de 2010.
Publicado em dezembro de 2010.

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