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A Chegada dos cristãos novos e marranos ao Brasil

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A Chegada dos cristãos-novos e marranos ao Brasil 
Marcelo M. Guimarães em 25/07/2012 
 
Na própria expedição de Pedro Álvares Cabral já aparecem alguns judeus, dentre eles, Gaspar Lemos, 
(seu nome antes da conversão era Elias Lipner),Capitão-mor, que gozava de grande prestígio com o 
Rei D. Manuel. Podemos imaginar que tamanha alegria regressou Gaspar Lemos a Portugal, levando 
consigo esta boa nova: – descobria-se um paraíso, uma terra cheia de rios e montanhas, fauna e flora 
jamais vistos. Teria pensado consigo: não seria ela uma “terra escolhida” para meus irmãos hebreus? 
Esta imaginação começou a tornar-se realidade quando o judeu Fernando de Noronha, primeiro 
arrendatário do Brasil, demanda trazer um grande número de mão de obra para explorar seiscentas 
milhas da costa, construindo e guarnecendo fortalezas na obrigação de pagar uma taxa de 
arrendamento à coroa portuguesa a partir do terceiro ano. Assim, milhares e milhares de judeus 
fugindo da chamada “Santa Inquisição” e das perseguições do “Santo Ofício” de Roma, começaram a 
colonizar este país. 
Afinal, os judeus ibéricos, como qualquer outro judeu da diáspora, procuravam um lugar tranqüilo e 
seguro para ali se estabelecer, trabalhar, e criar sua família dignamente. 
É interessante notar os sobrenomes dos capitães da Armada de Pedro Álvares Cabral: 
Pedro ÁLVARES Cabral 
Pedro de ATAÍDE 
Nuno Leitão da CUNHA 
Sancho de TOVAR 
Simão de MIRANDA 
Nicolau COELHO 
Bartolomeu DIAS 
Luiz PIRES 
Aires GOMES DA SILVA 
Simão de PINHA 
Diogo DIAS 
Gaspar LEMOS 
Vasco de ATAÍDE 
Uma observação importante é que dos treze sobrenomes citados acima, onze foram adotados pelos 
cristãos-novos. Seria isto uma coincidência? Ou uma clara evidência de fuga daqueles que 
aproveitaram a situação para deixarem Portugal, fugindo das regras inquisitórias? 
FERNANDO DE NORONHA 
Em maio de de 1501, um ano depois do descobrimento, o Rei de Portugal mandou um expedição 
composta de três embarcações para a terra recém-descoberta, com o propósito de determinar e avaliar 
a qualidade e a extensão do novo território. O comandante desta expedição foi o florentino Américo 
Vespucci, que desembarcou no Cais de São Roque. 
A Bahia foi descoberta em 1º de novembro de 1501; o Rio de Janeiro em 1º de janeiro de 1502. Relatou 
Américo Vespucci que o Brasil não possuía metais, pedras preciosas, excetuando-se o “o pau-brasil” 
e papagaios. Esta informação para D. Manuel deu um duro golpe de desesperança, pois o mesmo 
estava atrás de especiarias, ouro e prata para o reino. Assim, ele resolveu arrendar o Brasil a homens 
de negócios, que arriscariam o seu próprio dinheiro na colonização e exploração da nova terra. 
Ninguém sabe ao certo se Américo Vespucci, amigos dos judeus portugueses ou não, transmitiu ao 
Rei D. Manuel informações corretas sobre a descoberta da nova terra. Mas, uma coisa pode-se 
comprovar, havia nesta época muitos judeus ricos e “amigos” do Rei de Portugal. 
A primeira concessão foi obtida por um consórcio, ou associação, de cristãos-novos, encabeçado por 
Fernando de Loronha, citado nos documentos italianos como Firnando dalla Rogna, mais tarde, 
Noronha, adotou nome de seus padrinhos de batismo. 
Durante o primeiro ano, os bens exportado do Brasil eram isentos de taxas; mas no segundo e no 
terceiro ano, o comércio pagaria à Coroa Portuguesa , respectivamente, 1/6 e ¼ do valor dos bens. 
Para D. Manuel foi um ótimo negócio. Fernando de Noronha realizou várias expedições para o Brasil, 
e como gozava de prestígio na Corte Portuguesa, dava-se preferências aos judeus cristãos-novos, 
principalmente, para aqueles que tinham dinheiro e participavam do consórcio ou mesmo, aqueles 
mais pobres que viriam para dar sua mão-de-obra. Seja como for, era uma excelente saída para escapar 
de Portugal e se livrar de perseguições inquisitórias. 
O informe de Lunardo revela que o grupo de Noronha foi o pioneiro da indústria de exportação de 
madeira brasileira, do que auferiu um lucro líquido anual cerca de cinquenta mil ducados. A madeira 
foi a primeira grande indústria do Brasil. 
A INTRODUÇÃO DA INDÚSTRIA DA CANA DE AÇÚCAR 
Não há dúvida de que o grupo de Noronha introduziu no Brasil a cana de açúcar proveniente da Ilha 
da madeira e São Tomé. Em 1516, a Coroa Portuguesa julgou necessária a construção de engenhos de 
açúcar; a colonização do Brasil se transformava em indústria lucrativa. No mesmo ano D. Manuel 
mandou estabelecer no Brasil o primeiro engenho. Muitos judeus se tornaram senhores de engenho 
em Pernambuco. 
Um documento datado de 1779, a mais antiga fonte de referência relativa ao transplante da cana-de-
açúcar pelos judeus para as terras do Brasil. Dom Antônio de Capmany de Montpalau, membro da 
Academia Real de História e Letras de Sevilha, escrevia a respeito do açúcar:…” Este último produto, 
originário da Ásia, só era usado como remédio até a época da sua introdução e cultivo na América, 
para onde o levaram, da ilha de madeira, por alguns judeus proscritos de Portugal.” 
De 1503 a 1530 milhares de “cristãos-novos” vieram para o Brasil auxiliar na colonização. Mas, a 
alegria do descobrimento não durou muito, pois em 1531, Portugal obteve de Roma a indicação de um 
Inquisidor Oficial para o Reino, e em 1540, Lisboa promulgou seu primeiro Auto-de-fé. Daí em diante 
o Brasil passou a ser terra de exílio, para onde eram transportados todos os réus de crimes comuns, 
bem como judaizantes, ou seja, aqueles que se diziam aparentemente cristãos-novos, porém, 
continuavam em secreto a professar a fé judaica. (cripto-judeus). De uma simples terra de exílio a 
situação evoluiu e o Brasil passou a ser visto como colônia. Em 1591 um oficial da Inquisição era 
designado para a Bahia, então capital do Brasil. Não demorou muito, já em 1624, a Santa Inquisição 
de Lisboa processava pela primeira vez contra 25 judeus brasileiros (os nomes abaixo foram extraídos 
dos arquivos da Inquisição da Torre do Tombo, em Lisboa). 
Os nomes dos judaizantes e os números dos seus respectivos dossiês foram extraídos do Livro: “Os 
Judeus no Brasil Colonial” de Arnold Wiznitzer – página 35 – Pioneira Editora da Universidade de 
São Paulo, gostaria apenas de citar alguns nomes destes judeus brasileiros que foram processados, 
julgados e condenados: 
LISTA DOS PRIMEIROS 25 JUDEUS BRASILEIROS PROCESSADOS PELA CORTE 
PORTUGUESA 
(As minutas dos processos da Santa Inquisição em Lisboa contra vinte e cinco judaizantes brasileiros 
processados antes de 1624, foram muito bem conservadas (e são bem legíveis) nos arquivos da 
Inquisição – Torre de Tombo – Lisboa); 
NOMES DOSSIÊS 
· Alcoforada, Ana (1166) 
· Antunes, Heitor (4309) 
· Antunes, Beatriz (1276) 
· Costa, Ana da (11116) 
· Costa, Brites da (11116) 
· Dias, Manoel Espinosa (3508) 
· Duarte, Paula (3299) 
· Gonçalves, Diogo Laso (1273) 
· Favella, Catarina (2304) 
· Fernandes, Beatriz (4580) 
· Fontes, Diogo (3299) 
· Franco, Lopez Matheus (3504) 
· Lopez, Diogo (4503) 
· Lopez, Guiomar (1273) 
· Maia, Salvador da (3216) 
· Mendes, Henrique (4305) 
· Miranda, Antônio Felix de (5002) 
· Nunes, João (12464) 
· Rois, Ana (12142) 
· Souza, João Pereira de (16902) 
· Souza, Beatriz de (4273) 
· Teixeira, Bento (5206) 
· Teixeira, Diogo (57204) 
· Ulhoa, André Lopes (5391) 
Todos esses judeus brasileiros, cujos sobrenomes estão citados acima, foram julgados e condenados 
pela Inquisição de Lisboa, sendo que alguns foram deportados para Portugal e queimados, como por 
exemplo o judeu Antônio Felix de Miranda, que foi o primeiro judeu a ser deportado do Brasil Colônia. 
Outros foram condenados a cárcere e hábito perpétuo. 
(É importante ressaltar que não podemos afirmar quetodo brasileiro, cujo sobrenome constante desta 
lista acima seja necessariamente descendente direto de judeus portugueses). 
Quando os judeus aqui chegavam, desembarcavam na maioria das vezes na Bahia, por ser naquela 
época o principal porto. Acompanhando a história dessas famílias, nota-se que grande parte delas se 
dirigia em direção ao norte como Pernambuco e outros estados do nordeste. No início do domínio 
holandês no nordeste no século XVII, muitos judeus portugueses que haviam ido para Holanda vieram 
para o nordeste brasileiro. E com o término do domínio holandês muitos destes judeus vieram para o 
sul, principalmente, para Minas Gerais, atraídos pelo ciclo do ouro e das pedras preciosas. Outra boa 
parte foi para América do Norte, estabelecendo lá cidades como a Nova-Amsterdam, mais tarde 
conhecida como Nova York. Outra pequena parte voltou para Holanda. Esses estados foram bastante 
influenciados por uma série de costumes judaicos, que numa outra oportunidade gostaríamos de 
abordar. Mas, falando um pouquinho do jeito mineiro, aquele indivíduo moreno-claro, cabelos negros, 
de baixa estatura, testa curta, cara alongada e nariz pontiagudo, destacando a habilidade no comércio, 
ganancioso por um bom negócio, além do estereótipo sorrateiro, desconfiado, trabalhando calado e na 
sua crença, tendo o apelido de “pão duro”, são exemplos de algumas características até hoje povo 
hebreu. 
Agora, o que pouca gente sabe é que a Inquisição tanto em Portugal como no Brasil durou mais de 3 
séculos, ou seja, o maior período se comparado com outros países. O término desta perseguição 
ocorreu oficialmente no dia 31 de março de 1821. Mas, sabemos que até nos dias de hoje encontram-
se resquícios desta rejeição. 
Autor: Marcelo M. Guimarães 
Engenheiro Industrial, pós-graduado em Engenharia Econômica com MBA em Finanças. Escritor, 
Teólogo e Conferencista. Fundador da ABRADJIN (Associação Brasileira dos Descendentes de 
Judeus da Inquisição), e do primeiro Museu da História da Inquisição no Brasil. 
http://anussim.org.br/a-chegada-dos-cristaos-novos-e-marranos-ao-brasil/

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