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Aula 10 - teoria da desconsideração da personalidade juridica

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DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA 
DIRETA E INVERSA.
Discute-se, no REsp, se a regra contida no art. 50 do CC/2002 autoriza a chamada desconsideração da personalidade jurídica inversa. Destacou a Min. Relatora, em princípio, que, a par de divergências doutrinárias, este Superior Tribunal sedimentou o entendimento de ser possível a desconstituição da personalidade jurídica dentro do processo de execução ou falimentar, independentemente de ação própria. Por outro lado, expõe que, da análise do art. 50 do CC/2002, depreende-se que o ordenamento jurídico pátrio adotou a chamada teoria maior da desconsideração, segundo a qual se exige, além da prova de insolvência, a demonstração ou de desvio de finalidade (teoria subjetiva da desconsideração) ou de confusão patrimonial (teoria objetiva da desconsideração). Também explica que a interpretação literal do referido artigo, de que esse preceito de lei somente serviria para atingir bens dos sócios em razão de dívidas da sociedade e não o inverso, não deve prevalecer. Anota, após essas considerações, que a desconsideração inversa da personalidade jurídica caracteriza-se pelo afastamento da autonomia patrimonial da sociedade, para, contrariamente do que ocorre na desconsideração da personalidade propriamente dita, atingir, então, o ente coletivo e seu patrimônio social, de modo a responsabilizar a pessoa jurídica por obrigações de seus sócios ou administradores. Assim, observa que o citado dispositivo, sob a ótica de uma interpretação teleológica, legitima a inferência de ser possível a teoria da desconsideração da personalidade jurídica em sua modalidade inversa, que encontra justificativa nos princípios éticos e jurídicos intrínsecos à própria disregard doctrine , que vedam o abuso de direito e a fraude contra credores. Dessa forma, a finalidade maior da disregard doctrine contida no preceito legal em comento é combater a utilização indevida do ente societário por seus sócios. Ressalta que, diante da desconsideração da personalidade jurídica inversa, com os efeitos sobre o patrimônio do ente societário, os sócios ou administradores possuem legitimidade para defesa de seus direitos mediante a interposição dos recursos tidos por cabíveis, sem ofensa ao contraditório, à ampla defesa e ao devido processo legal. No entanto, a Min. Relatora assinala que o juiz só poderá decidir por essa medida excepcional quando forem atendidos todos os pressupostos relacionados à fraude ou abuso de direito estabelecidos no art. 50 do CC/2002. No caso dos autos, tanto o juiz como o tribunal a quo entenderam haver confusão patrimonial e abuso de direito por parte do recorrente. Nesse contexto, a Turma negou provimento ao recurso. Precedentes citados: REsp 279.273-SP, DJ 29/3/2004; REsp 970.635-SP, DJe 1°/12/2009, e REsp 693.235-MT, DJe 30/11/2009.  REsp 948.117-MS, Rel.  Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/6/2010. 
Fichamento em comentários:	
 			A teoria da desconsideração da personalidade jurídica maior, que é a mais elaborada, importa dizer que, somente será deferida a medida extrema da desconsideração na hipótese de comprovação do abuso da personalidade jurídica somado ao desvio da finalidade ou a confusão patrimonial. Repare que o primeiro pressuposto é fixo, ao passo que o segundo é alternativo. A teoria maior é empregada do Poder Judiciário Estadual ou do Distrito Federal, bem como na Justiça Federal. Já a teoria menor, quer dizer a menos elaborada, onde o juízo desconsiderará a personalidade da pessoa jurídica ao constatar o simples não pagamento da dívida, razão pela qual não há pressupostos. A teoria menor é empregada na Justiça do trabalho, nas reclamações trabalhistas, em fase de execução de sentença, e isso ainda se dá por estapafúrdio ato ordinatório do diretor de secretaria, ao invés de decisão interlocutória. Quanto à utilização da via direta, constata-se que se desconsidera a personalidade jurídica da sociedade, para atingir os bens particulares dos sócios, mas nitidamente a dívida é da sociedade. De outro vértice, tem-se a desconsideração inversa, tendo em vista que, desconsidera-se a personalidade jurídica da sociedade, mas dessa vez para atingir os bens desta, malgrado a dívida seja do(s) sócio(s). Outra indagação que se pode chegar é a seguinte: é correto ao desconsiderar a personalidade jurídica, quer seja pela via direta ou inversa, e incluir os sócios no pólo passivo da execução ? A resposta é não, consoante os entendimentos do Professor Fábio Ulhoa, uma vez que, incluído os sócios na relação processual na fase de execução, certamente suscitarão a falta do devido processo legal, ampla defesa e do contraditório, já que não participaram da fase de conhecimento do processado. Alegarão mais, que não integram o título executivo judicial, a sentença, que foi proferida apenas contra a sociedade, sendo certo que não poderão sofrer execução de sentença. Logo, de acordo com o Prof. Ulhôa, o correto é, ao fazer os pedidos de desconsideração e de penhora dos bens particulares dos sócios, não requerer a inclusão dos mesmos no pólo passivo da execução, e aguardar a defesa deles, que somente poderá vir por intermédio de embargos de terceiros, consoante o art. 1046 do C.P.C., tendo em mira que aquele que sofre esbulho ou turbação de seus bens com o ato tal como da penhora, milita em seu favor aludidos embargos. Via conseqüência, se a desconsideração for plausível, indubitavelmente os embargos de terceiros serão julgados improcedentes, com a condenação dos sócios nos ônus sucumbeciais. Ainda assim, esse não é o entendimento que tem prevalecido no S.T.J., segundo o qual se deve incluir os sócios no pólo passivo da execução, com base nos princípios da celeridade e economia processual. Outro detalhe que não se pode perder de vista é que a “disregard doctrine” prevista no art. 50 do C.C. não autoriza o juízo agir “ex officio”, apenas se provocado pela parte interessada ou pelo membro do “Parquet”. E mais, cumpre anotar que o dispositivo ainda faz em sua parte final a distinção entre “administradores ou sócios”, razão pela qual poderão sofrer a constrição da penhora não apenas os sócios gerentes e administradores, mas também aqueles que meramente integram o quadro social, ressaltando-se que pouco importa ser sócio majoritário ou minoritário para tal desiderato. É evidente que responderão apenas aqueles sócios que abusaram da personalidade jurídica, não revelando correto atingir patrimônio particular de sócio que não abusou do direito em desvio de finalidade ou confusão patrimonial.

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