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Estrutura e Organização da Educação Brasileira Autor: Lindolfo Anderson Martelli Tema 03 Educação para a Democracia seç ões Tema 03 Educação para a Democracia Como citar este material: MARTELLI, Lindolfo Anderson. Estrutura e Organização da Educação Brasileira: Educação para a Democracia. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2014. SeçõesSeções Tema 03 Educação para a Democracia 5 Conteúdo Nessa aula você estudará: • As origens históricas da escola pública. • A importância das políticas educacionais voltadas para a democracia. • As responsabilidades da escola diante da missão de formar para o mercado e para a cidadania. • As tensões entre os grupos defensores da escola pública e aqueles defensores da escola privada. • As principais políticas educacionais da história recente do Brasil. • As legislações educacionais contemporâneas. CONTEÚDOSEHABILIDADES Introdução ao Estudo da Disciplina Caro(a) aluno(a). Este Caderno de Atividades foi elaborado com base no livro Educação Escolar: Políticas, Estrutura e Organização, dos autores José Carlos Libâneo, João Ferreira de Oliveira e Mirza Seabra Toschi, editora Cortez, 2012, PLT 748. Roteiro de Estudo: Lindolfo Anderson MartelliEstrutura e Organização da Educação Brasileira 6 CONTEÚDOSEHABILIDADES Habilidades Ao final, você deverá ser capaz de responder as seguintes questões: • Como é organizado e estruturado o sistema de ensino brasileiro? • Quais os princípios da educação brasileira? • Qual a importância da educação voltada para a formação cidadã? • Qual o reflexo da política na educação? CONTEÚDOSEHABILIDADES Educação para a Democracia O último século foi extremamente importante no que diz respeito a expansão, aprimoramento, reconhecimento e aplicação das ideias pedagógicas. Esse período é marcado pela quebra de paradigmas, pela evolução tecnológica, pela emergência do pluralismo e da diversidade e pela construção de uma sociedade voltada para a equidade e garantia de direitos. O grande marco de todo este processo foi a Revolução Francesa em 1789, resultado da derrubada do Ancien Régime, de iniciativa popular e com interesses voltados para conquistas de cidadania. As lutas por uma sociedade mais justa, que rompesse com a visão da aristocracia, na qual somente as classes mais altas e prestigiadas tinham acesso aos bens culturais e consequentemente à educação formal, iniciaram muito tempo antes, ainda com os ideais iluministas, defendidos por muitos filósofos. À medida que o tempo passou, a educação foi deixando de ser um privilégio de poucos, um direito das elites, e passou a introduzir a base da pirâmide social nas práticas educativas, formais ou não. As reivindicações de uma escola leiga, gratuita e universal, que nasceram com as revoluções que transpassaram os séculos XVIII e XIX, foram sentidas com maior efeito no século XX e XXI. A ambição iluminista da emancipação humana, da construção de uma sociedade sustentada LEITURAOBRIGATÓRIA 7 LEITURAOBRIGATÓRIALEITURAOBRIGATÓRIA em direitos e equidade, que valoriza a autonomia dos sujeitos no pensar e no agir, tem sido a base para a construção da sociedade mais justa e democrática que se tem construído no último século. Como resultado de todos os ideais surgidos nos séculos anteriores, a sociedade viu a ampliação do direito das mulheres, das minorias étnicas, a diminuição do analfabetismo, o sufrágio universal, a defesa dos direitos do cidadão, do trabalhador, das crianças e até mesmo dos animais e da natureza. Muitos conflitos ocorreram para que direitos e mudança de concepções ocorressem na sociedade ocidental, sejam eles político- econômicos, ideológicos, como os conflitos entre socialismo e comunismo, sejam culturais, científicos e tecnológicos, como os promovidos pelas ciências, por movimentos sociais de contestação, de feministas, de direitos humanos, os anticoloniais, os contraculturais, entre outros. Segundo Aranha (2006, p. 240), o século XX foi marcado pelo avanço das ciências e das tecnologias, em que o progresso e o conforto se expressaram pelo refinamento da racionalidade técnica. A autora lamenta o fato de que é inerente deste tempo uma racionalidade que despreza os valores vitais, quando deixa prevalecer o interesse econômico e a visão estritamente utilitarista e consumista, embora sejam excepcionais as conquistas desta época. A sociedade pós-moderna viu o neoliberalismo se expandir por meio de uma economia globalizada, em que acordos comerciais e políticos são realizados entre as nações sem que se levem em consideração questões importantes como a distribuição da riqueza mundial, a luta por direitos humanos e serviços básicos como saúde, segurança e educação. Tais acordos geralmente privilegiam interesses de países hegemônicos, daí as críticas dos países periféricos e grupos da sociedade civil que defendem uma política globalizada mais democrática e pluralista. A partir da década de 1980 surgiram muitas instituições que buscam uma solução para os problemas que afetam determinados segmentos da sociedade e que não representam nem o Estado nem a iniciativa privada: são as chamadas Organizações Não Governamentais (ONGs). Para Libâneo, Oliveira e Toschi (2012), quando a educação deixa de ser centralizada nas mãos do Estado e passa a ser assumida pela iniciativa privada ou pela comunidade civil, revela-se um discurso de que a qualidade da educação deve prevalecer em detrimento da obtenção da cidadania. A ênfase sobre as questões da qualidade do ensino revela, contraditoriamente, certo desprezo pelas questões políticas e sociais que condicionam o sucesso do aluno e a obtenção da cidadania [...] A argumentação de que a esfera 8 privada é detentora de maior eficiência enfraqueceu os serviços públicos e levou à privatização desenfreada de serviços educacionais, principalmente na educação superior. (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2012, p. 148). As mudanças ocorridas na pós-modernidade, na política, na economia e na cultura provocaram alterações no mundo do trabalho, na família, nas relações entre as pessoas, nos comportamentos individuais e coletivos, no consumo e também na forma como o conhecimento é transmitido, seja na educação formal, seja na informal. Na emergência de uma sociedade plural, em que o conceito de verdade é fluido, manifesta-se cada vez mais a necessidade de que a educação assuma um caráter político, como instrumento de transmissão da cultura e formação da cidadania. Em outras palavras, os projetos educacionais devem favorecer a formação do cidadão crítico, que conhece seus direitos e deveres, que compreende quais são os mecanismos adotados pelas elites para a reprodução de valores e representações que excluem a maioria. A educação hoje precisa conciliar duas orientações, a formação para o mundo do trabalho e a formação humanista. Para Aranha, um dos principais desafios da escola é equilibrar estas responsabilidades: Ainda hoje a escola procura o prumo entre as duas orientações da educação para o trabalho e a educação humanista, que têm configurado o dualismo escolar, responsável pela perpetuação da desigual repartição dos saberes. Ou, ao contrário, diante de uma sociedade tecnocrática, a escola é mantida como prisioneira do objetivo de preparação para o mercado de trabalho, descuidando- se da formação integral e da consciência crítica. (ARANHA, 2006, p. 245). Seguindo a mesma linha de raciocínio, Libâneo, Oliveira e Toschi (2012) questionam sobre o papel do Estado na sociedade contemporânea em relação a sua responsabilidade diante da educação. Os autores entendem que desde a década de 1980 existe uma tendência em minimizar o papel do Estado diante das suas responsabilidades básicas como provedor de saúde, segurança e educação. Não se podediscutir educação sem se remeter a questões econômicas, políticas e sociais, daí os questionamentos: ausentando-se o Estado de suas responsabilidades com educação pública, como e onde formar, então, o trabalhador? É função da escola formar especificamente para o trabalho ou ela constitui espaço de formação do cidadão partícipe da vida social? Essas questões norteiam as discussões promovidas por Libâneo, Oliveira e Toschi (2012) em torno da educação. Para os autores, é importante retroceder no tempo e buscar explicações para esses questionamentos na história da estrutura e da organização da LEITURAOBRIGATÓRIA 9 LEITURAOBRIGATÓRIA educação brasileira. Como ponto de partida para a discussão sobre o papel do Estado na educação, os autores se remetem ao início do processo de industrialização do Brasil na década de 1930. De maneira geral, os ideais iluministas e as propostas educacionais do século refletiram na Constituição Republicana de 1891. Em seu texto eram endossados a educação escolarizada e o ensino para todos. Embora à elite estivesse reservada a continuidade dos estudos, sobretudo científicos, para o povo ficava restrito o ensino elementar e profissional. A União responsabilizava-se pela educação superior e secundária, e os estados pelo ensino fundamental e profissionalizante. A industrialização acelerada em países ricos ainda no século XIX e em alguns países periféricos como o Brasil no início do século XX promoveram muitas mudanças estruturais na sociedade principalmente no mundo do trabalho: expansão industrial, ampliação do comércio, diversificação das profissões técnicas e dos quadros burocráticos, a organização dos negócios, acelerada urbanização e explosão demográfica. Os Estados precisaram enfrentar esse cenário com uma estrutura burocrática organizada e centralizadora. Na década de 1930 ocorreu o processo de consolidação do capitalismo industrial no Brasil, que exigiu do Estado uma nova postura em relação à educação para atender ao novo cenário que se apresentava. O modelo oligárquico agroexportador é suplantado pelo modelo nacional-desenvolvimentista. Com a crise do café provocada pelo crash de 1929, o Brasil investiu no crescimento do mercado interno resultando em uma maior oportunidade para o setor industrial. Esse foi um período em que o ensino foi grandemente incentivado pelo Estado com intuito de atender à burguesia urbana que exigia acesso à educação. O Ministério da Educação e da Saúde Pública fora criado em 1930, e o ministro Francisco Campos buscou oferecer uma estrutura de ensino mais orgânica aos ensinos secundário, comercial e superior. A chamada Reforma Francisco Campos, iniciada em 1931 demonstrou certo desapreço pela educação elementar, ao centralizar as iniciativas políticas educacionais nos níveis secundário, universitário e comercial. Adepto da Escola Nova, Campos imprimiu uma orientação renovadora nos diversos decretos de 1931 e 1932. Segundo Aranha, a postura conciliadora de Campos atendeu também a interesses que não correspondiam aos anseios escolanovistas, e sobre os decretos comenta: Pode-se dizer que, pela primeira vez, uma ação planejada visava à organização nacional, já que as reformas anteriores tinham sido estaduais. Os decretos 10 que efetivaram a reforma Francisco Campos, além dos que dispunham sobre o regime universitário, trataram da organização da Universidade do Rio de Janeiro, da criação do Conselho Nacional de Educação, do ensino secundário e comercial. (ARANHA, 2006, p. 305). Desde a chegada dos jesuítas no Brasil, a Igreja Católica sempre esteve interessada em promover sozinha o projeto educacional no país. Os ideais republicanos e as políticas educacionais emergentes não agradavam os pensadores católicos, que criticavam a tendência laica instalada pela República. Os liberais democráticos eram simpatizantes da Escola Nova, nascida na Europa e nos Estados Unidos, e estavam determinados a transformar a sociedade por meio da educação. Para os escolanovistas, a ênfase da educação não deveria recair sobre a acumulação do conhecimento, mas na capacidade de aplica-los às situações vividas. Dai a importância da pedagogia de Dewey para a divulgação destes ideais. Como resultado dos ideais liberais na educação, em 1932, um grupo formado por 26 educadores lançou o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo, destacando-se os nomes de Anísio Teixeira e Lourenço Filho, entre outros conceituados educadores da época. Esse Manifesto é muito importante na história da educação brasileira porque representa a tomada de consciência da defasagem existente na educação. A proposta trazida no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova era de uma escola pública única, laica, obrigatória e gratuita. Para esse grupo de educadores, o Brasil não tinha uma “cultura própria” ou até mesmo uma “cultura geral” (FAUSTO, 2006, p339). Os “pioneiros” defendiam uma ampla autonomia técnica, administrativa e econômica do sistema escolar para livrá-lo das pressões e interesses transitórios. Sustentando o princípio da unidade do ensino, distinguiam entre a unidade o centrismo “estéril e odioso”, gerador da uniformidade. Lembravam que as condições geográficas do país e a necessidade de adaptação das escolas às características regionais impunham a realização de um plano educativo que não fosse uniforme em todo o país, embora a partir de um currículo mínimo comum. (FAUSTO, 2006, p. 340). No que se refere à educação, o governo de Getúlio Vargas foi centralizador. As reformas educacionais levadas a cabo pelos ministros Francisco Campos e Gustavo Capanema buscavam promover valores tradicionais relacionados à família, à religião, ao trabalho e sobretudo à pátria. A nação moderna, defendida por Vargas, deveria centralizar no Estado todas as decisões que envolvessem as “massas”. Daí o controle tecnoburocrático de toda a gestão, com forte ênfase nacionalista na busca de implantar uma cultura oficial do LEITURAOBRIGATÓRIA 11 regime. O historiador Bóris Fausto (2006, p. 337) reitera que os ministros do governo Vargas buscaram organizar a educação de cima para baixo, sem envolver uma grande mobilização da sociedade, impregnando valores hierárquicos, conservadores, nascidos da influência católica, mas com o cuidado de evitar o formato de doutrinação fascista O autoritarismo do Estado Novo está explicito na proposta curricular dos cursos elementares e secundários ao reafirmar a importância da educação física, do ensino da moral católica e da educação cívica pelo estudo da História e da Geografia do Brasil. No ensino primário, o objetivo da educação era formar o “sentimento patriótico” e, no secundário, a “consciência patriótica” (HILSDORF, 2003, p. 100). Em 1934 assume o Ministério da Educação e Saúde o ministro Gustavo Capanema, um dos principais articulares políticos e ideológicos das políticas implementadas por Getúlio Vargas. Incumbido de propor um projeto cívico-pedagógico que estivesse alinhado aos interesses do Estado nacional segundo os quais saúde, educação e cultura deveriam caminhar juntas para a execução do ideário nacionalista. A partir da breve Constituição Federal de 1934, a educação foi concebida como um direito de todos, devendo ser ministrada pela família e pelos poderes públicos. Partes dos interesses presentes no Manifesto dos Pioneiros da Educação foram absorvidas pela constituição; além disso, o Governo Federal passou a assumir novas atribuições educacionais, como: traçar diretrizes da educação nacional, controlar, supervisionar e fiscalizar o cumprimento das normas federais. Na gestão do ministro Gustavo Capanema ganharam destaques as chamadas “Leis Orgânicas” editadas entre 1942 e 1946. A chamada de Reforma Capanema reforçava o caráter descentralizador da educação, desobrigando o Estado a manter e expandiro ensino público, ao mesmo tempo em que decretava reformas de ensino industrial, comercial e secundário. Entre as leis aprovadas destacam-se: Lei Orgânica do Ensino Industrial (1942), Lei Orgânica do Ensino Secundário (1942), Lei Orgânica do Ensino Comercial (1943), Lei Orgânica do Ensino Primário (1946), além da criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Romanelli analisa as legislações da gestão do ministro Capanema e conclui: A legislação acabou criando condições para que a demanda social da educação se diversificasse apenas em dois tipos de componentes: os componentes dos estrados médios e altos, que continuaram a fazer opção pelas escolas que “classificam” socialmente, e os componentes dos estratos populares, que passaram a fazer opção pelas escolas que preparavam mais rapidamente para o trabalho. Isso evidentemente, transformava o sistema educacional, de um modo geral, em um sistema de discriminação social. (ROMANELLI apud ARANHA, 2006, p. 309). LEITURAOBRIGATÓRIA 12 Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), teve início a chamada República Populista, que se estendeu desde a deposição de Getúlio em 1945 até o golpe militar em 1964. O país retornou ao estado de direito, com governos eleitos democraticamente. A Constituição de 1946 é resultado do processo de redemocratização do país, após a ditadura de Vargas. Esse foi um período extremamente importante no campo da educação, pois marcou novamente a luta por uma educação laica. Em 1948 o ministro Clemente Mariani apresentou o anteprojeto da Lei de Diretrizes e Bases, baseado em um trabalho realizado por educadores escolanovistas orientados por Lourenço Filho. De um lado estava o discurso católico, que defendia a “liberdade” das famílias em escolher a melhor educação para seus filhos, de outro, estavam os chamados “pioneiros da educação nova” que defendiam a escola pública. Em 1959, sob a liderança de Fernando de Azevedo e outros 189 intelectuais e educadores, fora assinado o “Manifesto dos Educadores Mais uma Vez Convocados”. Diferente do “Manifesto” de 1932, embora com as mesmas diretrizes pedagógicas, admitiam a permanência de duas redes de ensino, a particular e a pública, sendo que as verbas públicas deveriam ser destinadas exclusivamente para a educação popular. Entretanto as discussões se estenderam até a promulgação da Lei n. 4.024 (LDB) publicada em 1961 que definiu que os recursos públicos deveriam atender tanto à rede pública quando às escolas privadas. Fora determinado ainda que cada estado organizasse seu próprio sistema de ensino. A União dispensará a sua cooperação financeira ao ensino sob a forma de: [...] c) financiamento a estabelecimentos mantidos pelos estados, municípios e particulares para compra, construção ou reforma de prédios escolares e respectivas instalações e equipamentos de acordo com as leis especiais em vigor. (BRASIL, 1961, art. 95). Durante os anos de 1964 a 1985 os brasileiros viveram o medo gerado pela supressão do estado de direito promovido pelo golpe de Estado liderado pelos militares. Esse período foi marcado pela nova centralização das decisões no âmbito das políticas educacionais. Uma das primeiras iniciativas autoritárias promovidas pelo regime foi a repressão a todo e qualquer movimento estudantil. Entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE) foram colocadas na ilegalidade, proibindo-se qualquer manifestação política por parte dos estudantes. Aranha (2006, p. 314) menciona que naquele período as escolas de grau médio foram obrigadas a transformar os grêmios estudantis, sob orientação do professor de Educação Moral e Cívica. Já no ensino secundário fora introduzida a disciplina de Organização Social e Política Brasileira, e nos cursos superiores, a de Estudos de Problemas LEITURAOBRIGATÓRIA 13 Brasileiros. O período de 1964 a 1974 não se caracteriza somente pelo autoritarismo, mas também pela realização de reformas institucionais na educação sob a Lei n. 5.540/1968, que se refere à Reforma do Ensino Superior, e sob a Lei n. 5.692/1971, que diz respeito à Reforma do Ensino de 1o e 2o graus. Com a Lei n. 5.692, de 1971, os anos de escolarização obrigatória passaram para 8 (oito), abrangendo a faixa etária de 7 a 14 anos. Passou a existir a obrigatoriedade de uma habilitação profissional para todos que cursassem o chamado 2o grau. O objetivo do ensino de 1º e 2º graus voltou-se para a qualificação profissional e o preparo para exercer a cidadania. Para Jesus (2009), essa lei foi fundamentada em uma concepção tecnicista de educação, em que se enfatizava a quantidade, e não a qualidade, na formação profissional em detrimento da cultura geral. Aranha (2006, p. 316) lembra que durante esse período diversos acordos entre o Ministério da Educação e Cultura foram realizados com a United States Agency for Internacional Development, pelos quais o Brasil receberia assistência técnica e cooperação financeira para a implantação de reformas educacionais. Esse acordo político mostra uma clara preocupação em atrelar o sistema educacional brasileiro ao modelo econômico dependente. De acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2012), no início dos anos 1980 a ditadura militar mostrava sinais de esgotamento, iniciando-se o processo de retomada da democracia. A reorganização e o fortalecimento da sociedade civil, aliados à proposta dos partidos políticos progressistas de pedagogias e políticas educacionais cada vez mais sistematizadas e claras, fizeram com que o Estado Brasileiro reconhecesse a falência da política educacional, especialmente profissionalizante, como evidência à promulgação da lei n. 7.044/1982, que acabou com a profissionalização compulsória em nível de 2º grau. (LIBÂNEO; OLIVEIRA, TOSCHI, 2012, p. 157). A partir de 1982 muitas ações concretas passaram a ocorrer após as eleições daquele ano, em que políticos de esquerda começaram a dar o tom do discurso educacional primando por uma gestão mais democrática na escola, com a participação docente, dos colaboradores, alunos e da comunidade como um todo. Como grandes conquistas decorrentes das propostas políticas na área da educação, destacam-se o fim das taxas escolares, a criação de escolas de tempo integral e a organização sindical de professores (LIBÂNEO; OLIVEIRA, TOSCHI, 2012, p. 159). LEITURAOBRIGATÓRIA 14 Em 1985, terminou o governo militar e começou a Nova República. Com a morte trágica do presidente eleito, Tancredo Neves, assumiu o seu vice José Sarney. Nesse momento, o país completou seu processo de redemocratização, o que significou a reorganização e o fortalecimento da sociedade civil. Fruto da retomada democrática, foi promulgada a Constituição de 1988, conhecida também como Constituição Cidadã, pois estabelece a educação como um direito social. Em linhas gerais, ela forneceu o arcabouço institucional necessário às mudanças na educação brasileira. Em 1990 foi eleito para presidente Fernando Collor de Mello. Em 1992, ele foi obrigado a renunciar ao cargo por protagonizar escândalos de corrupção e promover mudanças sem precedentes na vida econômica dos cidadãos brasileiros (VIEIRA; FARIAS, 2007). Entre os programas desenvolvidos ainda em seu governo, destaca-se o Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania, divulgado em 1990. De acordo com Covac (2010, p. 117), a política educacional adotada com a eleição de Fernando Henrique Cardoso para Presidente da República, concebida em princípios neoliberais, consolidou uma nova fase na prestação dos serviços públicos. O Estado deixou de ser um Estado executor, intervencionista e monopolista, e passou a ser um Estado regulador, que fixa a regras disciplinadoras da ordem econômica para ajustá-la aos ditames da justiça social. O Estado brasileiro passou a atender a quatro finalidades: redução do tamanho do Estado; redefinição do seupapel regulador; recuperação da capacidade financeira e administrativa de implementar; aumento da governabilidade ou da capacidade política do governo de intermediar interesses, garantir legitimidade e governar. Nesse contexto, em termos de estruturação e reorganização da educação brasileira, foi aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996.). Essa lei apresenta os princípios, fins, direitos e deveres para com a educação, a organização e as incumbências das diferentes esferas do poder público; os níveis e as modalidades de ensino – educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) e educação superior, educação especial, educação de jovens e adultos e educação profissional. Como toda lei, a LDB está longe de ser tudo de que se precisa para dar andamento a uma reforma educacional, o que significa que nem tudo o que ela traz foi implantado. Apesar das inovações propostas pela LDB, o Brasil não conseguiu proporcionar o acesso a uma educação de qualidade. LEITURAOBRIGATÓRIA 15 Vieira e Farias (2007) destacam que a legislação de 1996 tem ampla repercussão sobre o sistema escolar. O governo assumiu a definição da política educacional como tarefa de sua competência, descentralizando sua execução para os estados e municípios. Porém, ainda ficam centralizadas no âmbito federal as decisões sobre currículo e avaliação. No que se refere ao Plano Nacional de Educação, o primeiro foi implantado em 1962, cujas coordenadas foram estabelecidas pela LDB de 1961. Esse plano apresentava metas a serem alcançadas em oito anos, porém não se constituiu em lei. De acordo com Libâneo, Oliveira e Toschi (2012), somente em 2001 foi aprovado pelo Congresso Nacional, por meio da Lei n. 10.172, o Plano Nacional de Educação, que se refere a todos os níveis e modalidades de ensino. Foi o primeiro a ser submetido à aprovação do Congresso. Ao resgatar o processo histórico de formulação políticas educacionais, remete-se às discussões no campo político, econômico, social e cultural e às tensões entre propostas liberais e conservadoras. Percebe-se que ideais como a educação para a cidadania e a construção de uma sociedade democrática estão em jogo durante toda a história da república brasileira. Em todos os tempos existem conflitos de interesses envolvendo a qualidade do ensino, o seu financiamento e a sua abrangência. Nesse jogo de poder estão interesses de professores, grupos políticos, setores organizados da sociedade civil, grupos religiosos, entidades de classe e capitalistas. Em certa medida alguns se aproximam ou se distanciam da educação voltada para a cidadania e a construção de uma sociedade democrática, daí a importância de se entender, avaliar e questionar as atuais políticas. LEITURAOBRIGATÓRIA 16 Quer saber mais sobre o assunto? Então: Sites Leia o artigo “As Políticas Educacionais no Brasil nos anos de 1990”, de Adriana Inácio Yanaguita. Disponível em: <http://www.anpae.org.br/simposio2011/cdrom2011/PDFs/ trabalhosCompletos/comunicacoesRelatos/0004.pdf>. Acesso em: 02 jan. 2014. Esse artigo analisa as políticas educacionais dos anos 1990 e apresenta o cenário político- econômico internacional da América Latina. Leia o artigo “O Estado Brasileiro e a Política Educacional dos anos 90” de Vera Maria Vidal Peroni. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/23/textos/0508t.pdf>. Acesso em: 02 jan. 2014. Esse artigo enfatiza como estão se materializando, na política educacional, as redefinições do papel do Estado. Leia na íntegra o Manifesto dos pioneiros da Educação Nova (1932) e dos educadores (1959). Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4707.pdf>. Acesso em: 02 jan. 2014. Esses documentos apresentam as propostas com aspirações democráticas de intelectuais liberais para a educação brasileira. Leia a reportagem “John Dewey, o pensador que pôs a prática em foco”, escrita por Márcio Fáveri para a revista Nova Escola. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/john- dewey-428136.shtml>. Acesso em: 02 jan. 2014. LINKSIMPORTANTES 17 A reportagem fala sobre a vida e a obra do filósofo norte-americano John Dewey, que defendia a democracia e a liberdade de pensamento como instrumentos para a maturação emocional e intelectual das crianças. Vídeos Importantes Assista ao vídeo “Escola Nova”. Disponível em: <http://youtu.be/Lr5xe2LXoqs>. Acesso em: 02 jan. 2014. O vídeo trata da Escola Nova, denominação dada à tendência do aprendizado pela experiência, surgida a partir das ideias de John Dewey. Na década de 1930, no Brasil, essas ideias serviram de base ao Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Assista ao vídeo “Os Pioneiros, Entusiastas da Educação Nova”. Disponível em: <http://youtu.be/CZenetG8tOs>. Acesso em: 02 jan. 2014. O vídeo analisa a importância do “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” de 1932. Escrito durante o governo de Getúlio Vargas, o Manifesto consolidava a visão de um segmento da elite intelectual que, embora com diferentes posições ideológicas, vislumbrava a possibilidade de interferir na organização da sociedade brasileira do ponto de vista da educação. Redigido por Fernando de Azevedo, dentre 26 intelectuais, entre os quais Anísio Teixeira, Afrânio Peixoto, Lourenço Filho, Roquette Pinto, Delgado de Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles. Ao ser lançado, em meio ao processo de reordenação política resultante da Revolução de 1930, o documento se tornou o marco inaugural do projeto de renovação educacional do país. LINKSIMPORTANTES 18 Instruções: Chegou a hora de você exercitar seu aprendizado por meio das resoluções das questões deste Caderno de Atividades. Essas atividades auxiliarão você no preparo para a avaliação desta disciplina. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido e para o modo de resolução de cada questão. Lembre-se: você pode consultar o Livro-Texto e fazer outras pesquisas relacionadas ao tema. Questão 1: O último século foi extremamente importan- te no que diz respeito a expansão, aprimo- ramento, reconhecimento e aplicação das ideias pedagógicas. Explique quais são as contribuições dos ideais democráticos para a educação em todos os níveis. Questão 2: No fim da Primeira República, o país conti- nuava sem um sistema nacional de educa- ção. Assinale a primeira iniciativa governa- mental em relação ao campo da educação na década de 1930: a) Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. b) As reformas do ensino industrial, comercial e secundário. c) A criação da Lei de Diretrizes e Bases n. 4.024/1961. d) A Reforma Francisco Campos. Questão 3: Em 1932, um grupo de 26 educadores lan- çou o Manifesto dos Pioneiros da Educa- ção Nova, redigido por Fernando de Aze- vedo e assinado por outros conceituados educadores da época. Nesse documento, foram propostas e defendidas muitas solu- AGORAÉASUAVEZ 19 ções que, a partir de então, foram sendo aplicadas à educação brasileira. O Mani- festo dos Pioneiros da Educação Nova de- fendia uma escola: a) Pública obrigatória, laica e privada. b) Pública obrigatória, laica e gratuita. c) Particular obrigatória, pública e profissionalizante. d) Obrigatória, pública e flexível. Questão 4: A democracia brasileira ganhava grandes avanços em termos políticos, pois a Cons- tituição se tornou a primeira a ser realizada por representantes da sociedade, diferen- temente das anteriores, em que o governo impunha as Emendas Constitucionais que lhe convinham. O trecho faz referência à: a) Constituição de 1934. b) Constituição de 1937. c) Constituição de 1946. d) Constituição Federal de 1988. Questão 5: Muitos educadores foram não só persegui- dos em funçãode posicionamentos ideo- lógicos, mas calados para sempre; alguns outros se exilaram, outros se recolheram à vida privada e outros foram demitidos. Esse trecho se refere a que período? a) República Velha. b) Nova República. c) Estado Novo. d) Regime Militar. Questão 6: Reforma Capanema foi o nome dado às transformações projetadas no sistema educacional brasileiro em 1942, durante a Era Vargas, liderada pelo então Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema. Relacione o contexto político e econômico desse período com os objetivos da Refor- ma de Capanema, decretada entre 1942 e 1946. Registre suas considerações. Questão 7: Durante o Regime Militar, o Ministério da Educação e Cultura realizou acordos com a United States Agency for Internacional Development, conhecido como acordo MEC/Usaid. Quais eram os objetivos des- ses acordos? Questão 8: O debate qualidade/quantidade na educa- ção brasileira começou muito cedo. Des- creva o que preconizou esses dois termos no século XIX e XX. AGORAÉASUAVEZ 20 Questão 9: Em 1985, terminou o governo militar e co- meçou a Nova República, ainda que por eleição indireta. Em 1988, foi promulgada a nova Constituição, que defende a educa- ção como direito de todos e dever do Esta- do e da família. Caracterize a participação e a organização da sociedade civil neste período. Questão 10: Logo após o golpe militar de 1964 hou- ve um recrudescimento das ações em relação à educação, as quais buscaram centralizar-se todas no chefe de governo. Uma das primeiras iniciativas autoritárias promovidas pelo regime foi a repressão a todo e qualquer movimento estudantil. Que outras ações foram tomadas pelos militares no campo da educação? AGORAÉASUAVEZ Neste tema, você teve acesso à política educacional no período de 1930 – 1990. Foram destacadas as principais leis, reformas e os planos criados, relacionados com seu contexto histórico e social. O resgate da construção e a organização da política educacional brasileira é premissa para que se possa entender como essas políticas foram se desenvolvendo e se alterando até formarem o atual sistema educacional brasileiro. Caro aluno, agora que o conteúdo dessa aula foi concluído, não se esqueça de acessar sua ATPS e verificar a etapa que deverá ser realizada. Bons estudos! FINALIZANDO 21 ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: geral e do Brasil. 3. ed. rev. ampl. São Paulo: Moderna, 2006. BRASIL. Lei n. 4.024. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Casa Civil, 20 de dezembro de 1961. (Revogada pela Lei nº 9.394, de 1996, exceto os artigos 6º a 9º). Dispo- nível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4024.htm>. Acesso em: 02 jan. 2014. COVAC, José Roberto. As políticas educacionais e o seu impacto na gestão das institui- ções de ensino superior. In: COLOMBO, Sonia Simões; CARDIM, Paulo A. Gomes (Org.). Nos bastidores da educação brasileira: a gestão vista por dentro. Porto Alegre: Artmed, 2010. FAUSTO, Bóris. História do Brasil. 12. ed.: São Paulo: EdUSP, 2006. GUTIERREZ, Gustavo Luis. Tecnoburocracia e Classe Social: Algumas Questões Concei- tuais e Mobilidade Interna. Revista de Administração de Empresas, São Paulo. jan./mar. 1992. HILSDORF, Maria Lúcia Spedo. História da Educação Brasileira: Leituras. São Paulo: Cengage Learning, 2003. JESUS, Adriana Regina. Processo educativo no contexto histórico. São Paulo: Pearson Education Brasil, 2009. LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 10. ed. rev. ampl. São Paulo: Cortez, 2012. SANTOS, Clóvis Roberto. Educação Escolar Brasileira. São Paulo: Pioneira, 1999. SHIROMA, Eneida Oto; MORAES, Maria Célia Marcondes; EVANGELISTA, Olinda. Políti- ca Educacional. 4. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2007. VIEIRA, Sofia Lerche; FARIAS, Isabel Maria Sabina de. Política educacional no Brasil. Brasília: Liber Livro, 2007. REFERÊNCIAS 22 YANAGUITA, Adriana Inácio. As Políticas Educacionais no Brasil nos anos de 1990. Dis- ponível em: <http://www.anpae.org.br/simposio2011/cdrom2011/PDFs/trabalhosComple- tos/comunicacoesRelatos/0004.pdf>. Acesso em 02 jan. 2014. REFERÊNCIAS GLOSSÁRIO Crash de 1929: o crash de 1929, também conhecido como a Quebra do Mercado de Ações de 1929, Quebra da Bolsa de Valores de Nova York ou simplesmente Crise de 1929, foi o crash (a quebra) do mercado de ações mais devastador na história dos Estados Unidos. O crash dá início à chamada Grande Depressão, que afetou todos os países ocidentais industrializados. Considerada o pior e o mais longo período de recessão econômica do século XX, causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, bem como na produção industrial, preços de ações. Nesse período milhares de acionistas faliram, inúmeras empresas comerciais e industriais foram fechadas. O Brasil sentiu fortemente o efeito da crise na exportação do café, que perdeu mercado consumidor. Crise do Café: o Brasil na década de 1920 tinha capacidade de produzir mais café do que o mercado podia absorver. Com a crise da Bolsa de Valores de Nova York, o preço do grão de café caiu, o consumo diminuiu e o governo brasileiro assumiu a responsabilidade de compra da produção cafeeira. Um decreto de fevereiro de 1931 estabeleceu que o governo federal compraria todos os estoques existentes no país em 30 de junho de 1931, ao preço mínimo de 60 mil réis. O café era comprado e destruído. Estima-se que durante os 13 anos foram eliminados 78,2 milhões de sacas, o equivalente ao consumo mundial de três anos. (Cf. FAUSTO, 2006, p. 334). Dewey: John Dewey (1959-1952), filósofo e pedagogo norte-americano, escreveu Democracia e Educação. Para Dewey, o conhecimento é uma atividade dirigida que não tem um fim em si mesmo, mas está voltado para a experiência. Para ele a vida-experiência- aprendizagem não se separa, e a função da escola é possibilitar a reconstrução continuada que a criança faz da experiência, daí o nome da sua pedagogia “progressista”. 23 GLOSSÁRIO Equidade: consiste na adaptação da regra existente à situação concreta, observando-se os critérios de justiça e igualdade. Pode-se dizer, então, que a equidade adapta a regra a um caso específico, a fim de deixá-la mais justa. Ela é uma forma de se aplicar o Direito, chegando o mais próximo possível do justo para as duas partes. Escola Nova: a Escola Nova, ou escolanovismo, resultou da tentativa de superar a escola tradicional excessivamente rígida, magistrocêntrica e voltada para a memorização de conteúdos. Desde a Revolução Industrial a burguesia precisava de uma escola mais realista, que se adequasse ao mundo em constante transformação. Os pedagogos Feltre, Basedow e Pestalozzi foram de certo modo precursores da Escola Nova, por preconizarem métodos ativos de educação. A partir do final do século XIX e início do século XX é que se configurou definitivamente o movimento escolanovista. As principais características da Escola Nova são educação integral (intelectual, moral e física); educação ativa; educação prática, com obrigatoriedade de trabalhos manuais; exercício de autonomia; vida no campo; internato; coeducação; ensino individualizado (ARANHA, 2006, passim). Estado Novo: Estado Novo é o nome do regime político brasileiro fundado por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937, que durou até 29 de outubro de 1945, caracterizado por centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e autoritarismo. Hegemônico: conceito formulado por Antonio Gramsci para descrever o tipo de dominação ideológica de uma classe social sobre outra, particularmente da burguesia sobre o proletariado e outras classes de trabalhadores. Pode ser sinônimo de supremacia, que em termos de Estadosignifica influência econômicas, políticas e culturais, e de poder militar, como armas, aviões, munição etc. Em Gramsci quase nunca é possível o domínio bruto de uma classe sobre as demais, a não ser nas ditaduras abertas e terroristas. Para Gramsci, correlacionar poder e classes sociais é um imperativo metodológico, mas o fato é que uma classe dominante, para ser também dirigente, deve articular em torno de si um bloco de alianças e obter pelo menos o consenso passivo das classes e camadas dirigidas. Para tanto, aquela classe não hesita em sacrificar uma parte dos seus interesses materiais imediatos, superando o horizonte corporativo e propiciando, exatamente, a construção de uma hegemonia ético-política. Laica: ensino laico é um tipo de educação elementar que se caracteriza por ser um ensino desvinculado da educação religiosa. 24 Oligárquico: na ciência política, oligarquia é a forma de governo em que o poder político está concentrado num pequeno número de pessoas. Essas pessoas podem distinguir-se pela nobreza, a riqueza, os laços familiares, empresas ou poder militar. Primeira República: a Primeira República Brasileira, normalmente chamada de República, foi o período da história do Brasil que se estendeu da proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, até a Revolução de 1930. Reforma Capanema: foi o nome dado às transformações projetadas no sistema educacional brasileiro em 1942, durante a Era Vargas, liderada pelo então Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, que ficou conhecido pelas grandes reformas que promoveu, entre elas, a do ensino secundário e o grande projeto da reforma universitária. Segunda República: depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), teve início a Segunda República, também chamada de República Populista, que se estende da deposição de Getúlio, em 1945, até o golpe militar de 1964. Tecnoburocrático: o sistema tecnoburocrático está relacionado com a concentração em um grupo sócio-econômico – o grupo dos tecnoburocratas – o poder político e econômico. São sinônimos a tecnocracia, ou tecnocratismo, embora pareçam ter conotação diversa. Diz-se que a tecnocracia é a etapa posterior ao capitalismo. Em termos muito diversos propostos por Karl Marx, relacionam-se à tomada do poder não pelos operários, mas por técnicos, burocratas e militares (PEREIRA, apud GUTIERREZ, 1992, p. 63) GLOSSÁRIO 25 GABARITO Questão 1 Resposta: Deve-se considerar que um dos principais atributos da escola democrática é a formação para a cidadania. Os ideais democráticos prezam pela liberdade individual, pela igualdade perante a lei, sem distinção de sexo, raça e credo, e estão relacionados aos direitos individuais e coletivos, que devem ser respeitados. É prerrogativa da democracia o direito ao voto, à livre opinião e ao exercício de qualquer trabalho ou profissão. Questão 2 Resposta: Alternativa D. Esse foi um período em que o ensino foi grandemente incentivado pelo Estado com intuito de atender à burguesia urbana que exigia acesso à educação. O Ministério da Educação e da Saúde Pública fora criado em 1930, e o ministro Francisco Campos buscou oferecer uma estrutura de ensino mais orgânica aos ensinos secundário, comercial e superior. A política educacional implantada nesse período ficou conhecida como a Reforma Francisco Campos. Questão 3 Resposta: Alternativa B. A proposta trazida no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova era de uma escola pública única, laica, obrigatória e gratuita. Para esse grupo de educadores, o Brasil não tinha uma “cultura própria” ou até mesmo uma “cultura geral” (FAUSTO, 2006, p. 339). Questão 4 Resposta: Alternativa D. Constituição de 1988, conhecida também como Constituição Cidadã, foi elaborada por legisladores eleitos democraticamente e estabeleceu a educação como um direito social. 26 Em linhas gerais, ela forneceu o arcabouço institucional necessário às mudanças na educação brasileira. Questão 5 Resposta: Alternativa D. Durante o Regime Militar, os chamados Atos Institucionais, editados pelos Comandantes- Chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ou pelo Presidente da República, com o respaldo do Conselho de Segurança Nacional, tinham o poder de autorizar ações de repressão a todo e qualquer cidadão ou grupo civil organizado. Os atos institucionais serviram como mecanismos de legitimação e legalização das ações políticas dos militares, estabelecendo para eles próprios diversos poderes extraconstitucionais. Com medo da repressão militar, muitos intelectuais procuraram exilar-se em outros países para fugir das ações repressoras do Regime. Questão 6 Resposta: O objetivo nesse contexto era preparar a mão de obra em uma fase de expansão da indústria. O Senai foi organizado pelos industriais e o Senac, pelos comerciantes. Questão 7 Resposta: Os acordos previam que o Brasil receberia assistência técnica e cooperação financeira para a implantação de reformas educacionais. Esses acordos políticos mostram uma clara preocupação em atrelar o sistema educacional brasileiro ao modelo econômico dependente. Questão 8 Resposta: No século XIX, na transição do Império para a República, a preocupação era com a expansão da quantidade de redes escolares e a alfabetização da população. No século XX, surgiu a preocupação com os aspectos qualitativos da educação, tais como com as questões didáticas e pedagógicas da escola. Questão 9 Resposta: A década de 1980 corresponde a um dos mais ricos períodos da história no que diz respeito a lutas, movimentos e, sobretudo, projetos para o País. GABARITO 27 GABARITO Questão 10 Resposta: Foram muitas as ações promovidas pelos militares no campo da Educação. Dentre elas destacam-se a tentativa de cercear a atuação de grupos estudantis como a União Nacional dos Estudantes (UNE), que foram colocados na ilegalidade, proibindo-se qualquer manifestação política por parte dos estudantes. Os militares obrigaram as escolas de grau médio a transformar os grêmios estudantis, sob orientação do professor de Educação Moral e Cívica. Já no ensino secundário fora introduzida a disciplina de Organização Social e Política Brasileira e, nos cursos superiores, a de Estudos de Problemas Brasileiros. O período de 1964 a 1974 não se caracteriza somente pelo autoritarismo, mas também pela realização de reformas institucionais na educação com a Lei n. 5.540/1968, que se refere à Reforma do Ensino Superior, e com a Lei n. 5.692/1971, que diz respeito à Reforma do Ensino de 1o e 2o graus.
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