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Teorias Literárias do Séc. XX

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Teorias Literárias 
do Séc. XX
Notas extraídas de:
A Crítica literária no século XX (Jean-Yves Tadié). Rio de Janeiro: Bertrand, 1992.
Teoria da Literatura: uma introdução (Terry Eagleton). 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
O Rumor da língua (Roland Barthes). São Paulo: Brasiliense, 1988.
Formalismo
Surge na Rússia, antes da Rev. Bolchevista, de 1917; desenvolve-se nos anos 20 e é silenciado pelo stalinismo
Preocupa-se com as palavras, não os sentimentos
Aplicação da linguística ao estudo da literatura
Conquistou denominação depreciativa por não se preocupar com o conteúdo e o autor
Define uma ‘literaturidade’, uma linguagem padrão e exterior ao texto literário
Acredita que a essência do literário é o ‘tornar estranho’, de maneira autoconsciente (o que pode se aplicar a uma poesia, mas não a uma obra naturalista)
Literatura como discurso não pragmático, referindo-se a um estado geral das coisas
Formalismo
Literatura / Literariedade: violência organizada contra a fala comum (Roman Jakobson); afastamento do cotidiano, atenção sobre a linguagem, existência material. (função poética da língua)
Estranhamento (Vitor Erlich): alteração no signo convencional para que ele se torne polissêmico, com maior carga informacional, desvio da norma, ruptura com o significado, expansão do significante.
Segundo a crítica de Eagleton, qualquer escrita pode ser lida pragmaticamente ou poeticamente; o termo ‘literatura’ é mais funcional do que ontológico, fala do que fazemos e não do estado fixo das coisas.
Formalismo (desdobramentos)
Crítica Prática (F. R. Leavis, anos 30): não teme a desmontagem do texto, supõe que o leitor possa julgar a ‘grandeza’ e ‘centralidade’ do texto, isolado de seu contexto cultural e histórico;
Leitura Analítica (Leavis): antídoto ao palavrório esteticista, concentração nas palavras da página, não ao contexto externo
close reading (leitura cerrada, analítica, microscópica, exata)
Leavis foi um dos poucos, na Nova Crítica Americana, a escapar do formalismo, entendendo que a unidade formal e a abertura ante a vida são facetas de um mesmo processo
O crítico que assim procede aproxima-se do texto com objetividade e precisão, como um anatomista que estuda as células ao microscópio, embora sem esquecer o aspecto humano da obra. A ênfase está no objeto analisado, a obra, e não no sujeito que a analisa ou no estudo das suas fontes. Esta orientação para a leitura cerrada tornava-se desvantajosa, pois obrigava a uma análise indutiva, renovável a cada leitura, impedindo desta forma a criação de uma teoria e o estabelecimento de um modelo. Daí a quantidade de atributos apresentados como especificidade do texto poético. E mais: a ambiguidade, a tensão, o paradoxo, etc., passaram a representar as chaves da leitura cerrada.
Nova Crítica Americana
Entre as décadas de 1930 e 1950;
Humildade desinteressada, intelectualidade sem raízes;
A poesia é um modo essencialmente contemplativo, uma espécie de nova religião, abrigo nostálgico contra o capitalismo industrial (Leavis);
Baseada nos princípios da psicologia científica (I. A. Richards);
Nesse sentido, o poema é um objeto em si, um meio transparente que visualiza os processos psicológicos e a condição mental do autor;
Relações entre imagem e experiência
Estruturalismo
Northrop Frye: reduz os fenômenos individuais a meros exemplos das leis; o significado de cada imagem só existe em relação à outras imagens (significado relacional de oposição); concentração total na forma; método analítico e não avaliativo
Estr. Literário: Surge nos anos 60, com base na linguística estrutural (Saussure, 1916); estudo sincrônico (determinado tempo) e não diacrônico (desenvolvimento histórico)
Roman Jakobson ligou o formalismo ao estr. moderno;
A semiótica/semiologia usa a linguística estrutural como método de investigação (Escola de Praga, 1926), é mais disciplinada e menos impressionista
Yuri Lotman (1963): reconhecido como primeiro estruturalista
Estruturalismo
Narratologia: influenciada pelo estruturalismo
Lévi-Strauss: reduz a obra aos seus mitos e estruturas universais constantes
Gérard Genette e as categorias de análise narrativa
Para o estruturalismo o leitor ideal não precisava existir, era apenas uma ficção heurística, um sujeito transcendental, absolvido dos determinantes sociais limitadores.
Estruturalismo (desdobramentos)
O abandono do estruturalismo foi a passagem da linguagem para o discurso (Benveniste)
Linguagem: fala ou escrita sem sujeito
Discurso: linguagem como manifestação do sujeito para outro
Teoria do Ato da Fala (John Austin, 1962): antiestruturalista; linguagem como prática material; discurso como ação social; efeito sobre o leitor
Pós-Estruturalismo:
A significação nunca é idêntica a si mesma, nunca é fixa e rígida;
Os signos só são eles mesmos por não serem outros;
Escrever rouba o ser, é uma transcrição pálida e mecânica da fala.
Em uma primeira aproximação, podemos dizer que uma estrutura é um sistema de transformações. Na medida em que é um sistema e não uma simples coleção de elementos e de suas propriedades, essas transformações envolvem leis: a estrutura é preservada ou enriquecida pelo próprio jogo de suas leis de transformação que nunca levam a resultados externos ao sistema nem empregam elementos que lhe sejam externos. Três ideias de estrutura: totalidade, transformação e auto regulação (Piaget)
Para Foucault, as investigações estruturalistas, muito diversas sob outros aspectos, convergiam em um único ponto: sua oposição filosófica à “afirmação teórica do primado do sujeito”, que tinha sido dominante na França desde a época de Descartes e que tinha servido de postulado fundamental para uma ampla gama de abordagens filosóficas, dos anos 30 aos 50, incluindo o existencialismo fenomenológico, “uma espécie de marxismo às voltas como conceito de alienação”. 
Pós-Estruturalismo 
ƒ A “desconstrução” (Derrida), ou seja, uma crítica de pressupostos dos conceitos filosóficos. A noção de desconstrução surge pela primeira vez na introdução à tradução de 1962 da “Origem da Geometria” de E. Husserl. A desconstrução não significa destruição, mas sim desmontagem, decomposição dos elementos da escrita. A desconstrução serve nomeadamente para descobrir partes do texto que estão dissimuladas e que interditam certas condutas. Esta metodologia de análise centra-se apenas nos textos. 
ƒ A “indecidibilidade” mostra a fluidez das fronteiras entre os diferentes elementos do texto, a impossibilidade de determinar aquilo que é forma ou fundo, onde está dentro e o fora, a linha de demarcação entre o bem e o mal, etc. 
ƒ A “diferença” parte da análise semântica do infinito latino differre que contém dois sentidos: o primeiro remete para o futuro (tempo), o segundo para a distinção de algo criado pelo confronto, choque. 
Pós-Estruturalismo
O pós-estruturalismo pode ser caracterizado como um modo de pensamento, um estilo de filosofar e uma forma de escrita, embora o termo não deva ser utilizado para dar qualquer ideia de homogeneidade, singularidade ou unidade. O termo “pós-estruturalismo” é, ele próprio, questionável. Mark Poster observa que o termo "pós-estruturalismo" tem sua origem nos Estados Unidos e que a expressão “teoria pós-estruturalista” nomeia uma prática tipicamente estadunidense, uma prática baseada na assimilação do trabalho de uma gama bastante diversificada de teóricos. De forma mais geral, podemos dizer que o termo é um rótulo utilizado na comunidade acadêmica de língua inglesa para descrever uma resposta distintivamente filosófica ao estruturalismo que caracterizava os trabalhos de Claude Lévi-Strauss (antropologia), Louis Althusser (marxismo), Jacques Lacan (psicanálise) e Roland Barthes (literatura). 
Manfred Frank (1988), um filósofo alemão contemporâneo, prefere o termo “neoestruturalismo”, enfatizando, assim, uma continuidade com o “estruturalismo”, tal como o faz John Sturrock (1986) que, centrando-se em Jacques Derrida, “o” pós-estruturalista (o crítico mais agudo e de
maior peso que o estruturalismo teve) – interpreta o “pós” da expressão “pós-estruturalismo” como nomeando algo que “vem depois e que tenta ampliar o estruturalismo, colocando-o na direção certa”. Segundo Sturrock, “o pós-estruturalismo é uma crítica ao estruturalismo, feita a partir ele seu interior: isto é, ele volta alguns dos argumentos do estruturalismo contra o próprio estruturalismo e aponta certas inconsistências fundamentais em seu método, inconsistências que os estruturalistas ignoraram". 
Richard Harland (1987), em contraste, cunha o termo “superestruturalismo” como uma espécie de expressão “guarda-chuva”, tendo como base um quadro de pressupostos subjacentes, comuns a “estruturalistas, pós-estruturalistas, semióticos (europeus), marxistas althusserianos, lacanianos, foucaultianos, etc.”
O pós-estruturalismo levou as teses estruturalistas a posições extremas e até auto refutantes. Se, para compreendermos um ‘texto’, temos de excluir rigorosamente todos os elementos extratextuais, isto significa não apenas o abandono da procura de qualquer realidade exterior ao texto, mas também deixar de encarar o texto como a expressão do ‘pensamento’ de um autor extratextual. Para o pós-estruturalismo é o ‘leitor’ que desempenha o principal na produção do significado; mas dado que cada leitor interpreta qualquer texto de maneira diferente, nunca emerge qualquer significado definitivo, e assim cada texto destrói a sua própria pretensão de significar seja o que for. Houve várias formas ou facções no pós-estruturalismo francês. Cada escola brilhou brevemente com um brilho magnético, atraindo uma multidão volúvel de devotos antes de se extinguir quando uma versão rival começa a brilhar mais sedutoramente. Todos estes grupos reivindicaram descender de expoentes distintos da teoria linguística como Saussure e Jakobson, e nesse sentido os seus membros podem classificar-se como ‘filósofos linguísticos’. 
Teoria da Recepção
Teoria da Recepção: manifestação da hermenêutica, surgida na Alemanha; o leitor concretiza a obra literária, que em si mesma não passa de uma cadeia de manchas na página
História da Teoria Literária Moderna:
Autor (romantismo, séc. XIX)
Texto (formalismo, nova crítica americana)
Leitor (fenomenologia, hermenêutica recepção)
Hermenêutica: ciência/arte da interpretação; migra da teologia, no séc. XIX, para o texto como um todo
Existencialismo = Fenomenologia hermenêutica
“Os autores dão sentido às suas obras, ao passo que os leitores lhes atribuem significações” (Eagleton)
Teoria da Recepção
Teoria da Recepção = Poética da Leitura (resiste ao isolamento formalista do texto; densidade mais social de Bakhtin)
A Obra Aberta (Umberto Eco): multiplicidade de interpretações que não altera a singularidade da obra (cooperação interpretativa: “Não há sentido que não seja comparatista”) – disponibilidade do texto
“Que é a Leitura?” (Sartre)
Fusão de Horizontes (Gadamer)
Horizonte de Expectativas (Jauss)
Leitor Plural (Barthes): o olhar do leitor é singular, modulando a memória e o esquecimento na formação de leituras sempre novas e diversas (A Soma do Texto)
Teoria da Recepção
Wolfgang Iser: se modificamos o texto com nossas estratégias de leitura, ele nos modifica; é como se aquilo que lêssemos, fôssemos nós mesmos; ter a mente aberta e flexível, preparada para questionar crenças; um leitor com fortes compromissos ideológicos é inadequado, deve ter postura liberal.
Reorganização horizontal de um repertório prévio, no ato da leitura.
O Prazer do Texto (Roland Barthes) anos 70: postura hedonista (erótica) em que o leitor se entrega a tantalizante variação das palavras; “a bênção da leitura é como um orgasmo”
Teoria da Recepção
“Toda interpretação é situacional, modelada e limitada pelos critérios historicamente relativos de uma determinada cultura; não há possibilidade de se conhecer o texto literário ‘como ele é’.” (Eagleton)
Escrever a Leitura (ensaio de Barthes, em O Rumor da Língua): reflete o ato de interromper a leitura para pensar, algo irrespeitoso, mas apaixonado.
Leitura como Performance (Paul Zumthor)
A leitura como ato de posse (Georges Poulet)
Leitor como comparatista (T. S. Eliot)
“A mosca pousa em todo lugar; a abelha escolhe onde pousar. Devemos ser como abelhas.” (Lourival)
Teoria da Recepção
“Insistência do Sentido” (Julia Kristeva): a integração de um elemento num novo contexto não passa por uma assimilação total, mas gera uma espécie de segundo texto (ou primeiro, se pensarmos no conceito de gênese)
Método Paragramático (Julia Kristeva): o texto é a soma de gramas escriturais (diálogo no interior do texto) com os gramas leiturais (diálogo com outros textos)
Jean Ricardou: Intertextualidade Geral (externa, com outros autores/obras) X Intertextualidade Restrita (interna, da obra consigo ou com outras do mesmo autor)
Lucien Dällenbach: Intertextualidade Autárquica, Autotextualidade/Mise en Abyme

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