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-- J NOVA HISTORIA8 o ~ ~ 'Ci Jean Delumeau o ~ A CIVILIZAc;AO >-" o DO RENASCIMENTO Jean Delumeau considera 0 Renascimento enquanto "pro Volume I rnocao do Ocidente numa epoca em que a civilizacao da Europa ultrapassou , de modo decisivo , as civilizacoes que lhe eram paralel as' ' . Encarado numa perspectiva de "desa jO'l fio e resposta" , 0 Renascimento passa pela "cntica do pen o sarnento clerical da ldade Media , pela recuperacao f demografica , pelos progressos tecnicos , pela aventura marf Z tima , por uma estetica nova , par urn cristianismo reelabo l1.J rado e rejuvenescido". 0 regresso a Antiguidade , "0 l aparente regre sso as fontes da beleza, do saber e da reli "'" Ugiao foi apenas urn meio de progredir" . Nesta obra em dois rJJ volume s encontrarnos a origem dos movimentos e das pro ~ fundas aspiracoes do nosso tempo. Bibliotecas Municipais de '1 Almada~ Biblioteca Central II - ......RgM;Uj W" EOOB01001227 ! ii i \ illlil //~ 11 ~'ll il !' !I~ IIII!!/!ll!llii/JIII ! I II II~ Illi1 IIII "'---- Z w ~ o c c I~ iJ 'if , " ISBN 972-33-1000-7 IIII 1111 9 " 789723 310.009 Sa:.=.... ~,... z . . . . ~ = z J - ~ - - = - - , - - , . - . - - - - - - - - - - - . . . . . -4 ~ ro Q) S ~ Q) O ~ ro Q) ~ 0 o~ ~< ~ ~ ~ <1--4 N U 1--400 = < > Z 1--4~ U ~ <0 Q -zr - - .0 :::r . .,.... ;! ~ :Ii (],) S ::i . . i! e n " " 'YoI 01 . . . . ~ :s a :: ~ C I ti5i &a.I L . - . . . .; ,<1 .J" <;» ..:r'J - - - - . -= -:: ..... - - ~ - - ~ - ~ FICHA TECNICA Titulo original: La Civilisation de La Renaissance Traducao: Manuel Ruas Capa: Jose Antunes Ilustracao da capa: as Embaixadores (1533), de Hans Holbein, 0 Moco. National Gallery, Londres Impressao e Acabamento: Rolo & Filhos - Artes Graficas, Lda. Deposito Legal n? 80745/94 ISBN 972-33-1000-7 Copyright: © B. Arthaud, Paris, 1964 © Editorial Estampa, Lda., Lisboa, 1983 para a lingua portuguesa. INDICE Volume I i . J f , Agradecimentos 13 Prefacio , . 15 lntroduciio A PROMO(:AO DO OCIDENTE - 0 termo «Renascimento»: uma etiqueta c6moda ... ... ... 19 - 0 dinamismo da civilizacao ocidental .. . ... .. . '" . .. .. . 20 - 0 melhor e 0 pior .,. ... .., ... ...... . .. '" ... ... ... ... 21 -- Relnterpretacao do Renascimento por uma exploracao em profundidade .. . . . . . .. ... ... ... ... . .. . .. .. . ... . .. ... ... 22 Primeira Parte LINHAS DE FOR~A Cap. I - A explosiio da nebulosa crista ... '" ... 27 - Panorama politico da Europa cerca de 1320 . 27 - Panorama politico da Europa cerca de 1620 .. 31 - Supressao do ideal de uma Cristandade .. . . .. 37 - Nascimento das consciencias nacionais ... . .. 42 Cap. 11- A Asia, a America e a conluntura europela '" 49 - Mundos ex6ticos atraentes e temiveis ... . .. 49 - As causas das viagens de Descobrimentos . 53 - As etapas dos Descobrimentos ... ... . .. 61 - A implantacao iberica na America '" ... ... ... '" 67 - Conjuntura econ6mica e producao de metais preciosos ... . .. 72 - Coniuntura e movimento demografico na Europa nos se culos XIV e XV; a tese «catastroflcas ...... '" '" ... '" 78 - Crftica da tese «catastrofica» 79 - 0 progresso ap6s 1450 ... 81 7 Cap. 111- Renascimento e Antiguidade .. 85 Cap. VII- Um primeiro capitalismo '" 217 - Urn desprezo injustificado da Idade Media 85 - A «commenda» 217 - Idade Media e Antiguidade ... ... ... ... 87 - Companhias com sucursais e companhias com filiais 218 - A renovacao da arte gotica ap6s 0 seculo XIII ... 89 - A firma Medicis 220 - Rostos e paisagens ... ... ... ... ... ... ... ... 92~ I - Homeas de neg6cios do seculo XVI: os Fugger '" 223 - Urn melhor conhecimento dos textos antigos 95 I, - Homens de neg6cios do seculo XVI: os financeiros genoveses 227 - Renascimento e arqueologia ... ... ... ... . .. 99 r, - Emprestimos reais e dlvida publica ... '" ... ... '" ... ... 228 - A Antiguidade como fonte de inspiracao ... 102 - Dos «Merchant adventurers. a «Oost Indische Kompagnie» 231 - Do omamentismo ao purismo ... ... ... ... . .. 106 \ - Estruturas capitalistas . ... ...... ... ... ... ... ... ... ... 232 - Uma certa falta de respeito pela Antiguidade ... ... ... . 112 - Promocao do quantitativo .. . . . . . . . .. . . . . . .. . .. .. . . .. 236 - Uma civilizacao nova ultrapassa a civilizacao dos Antigos .. 114 - A grande transferencia no Ocidente '" 239 -\ - Realizacoes do Renascimento no plano artfstico 117 Cap. VIII - As cidades e 0 campo ... ... ... 247 Cap. IV - 0 Renascimento como Reiorma da Igreia ... 121 - A hist6ria rural e uma hist6ria im6vel? '" 247 - 0 Grande Cisma e a epoca dos concilios 121 '\ - Abandonos e progressos 249 - Os eabusos» na Igreja .,. ... ... ... . .. 124 - Plantas novas. As trocas botanicas e zoologicas entre a Eu - Reforma e «Contra-Reforma» ". .,. ... 126 'I ropa e a America . .. ... .. . . . . .. . . .. . .. .. . .. . . .. .. . .., 252 - Reves da tolerancia . .. .. . . . . . .. .. . .. . . .. ... .. . 131 - Os rendimentos no Ocidente ... ... ... ... '" ... 253 - Os «abusos»: explicacao insuficiente da Reforma 134 - 0 desenvolvimento demografico nas cidades .. 255 - Subida e afirmacao da piedade popular .. . .. . 136 "I - 0 urbanismo: a «commoditas» '" 258 - A nova importancia dos leigos na Igreja ... . .. 138 - 0 urbanismo: a «voluptas» ... ... '" 261 - 0 individualismo religioso . . . .. . .. . .. . .. . .. . 141 I' - Paisagens urbanas do seculo XVI: 0 exemplo romano '" 266 - 0 sentimento de culpa ... ... ... ... ... ... . .. 143 (I - Castelos e jardins '" ... .. . . .. .. . .. . . . . . . . . .. ... 269 - 0 crescimento das capitais ... .. . . .. . .. . .. . .. .. . 272 Ii .. Segunda Parte , Cap. IX - Mobilidade social. Ricos e pobres 277 I . IA VIDA MATERIAL - Mobilidade horizontal 277 - Mobilidade vertical .. . . . . . . . . .. . .. .. . .. . .. . . .. 279ICap. V - 0 progresso tecnico ... ... ... 151 - Alargamento do fosso entre ricos e pobres 282I - 0 mundo dos ricos e 0 mundo dos pobres 285 - Uma civilizacao mais tecnica ... lSI , I - 0 vestuario dos ricos e 0 vestuario dos pobres '" '" 288 - Os «engenheiros do Renascimento» 154 - A mesa dos ricos e a mesa dos pobres ... ... ... ... 290 - Leonardo, tecnico . 159 - Algumas realizacoes espectaculares do Renascimento 161 - Os transportes terrestres . . . ., . . .. 163 -Navios e navegacao ...... '" ...... 166 - Progresso no trabalho dos texteis 172 - Os relogios ... ... ... . . 174 - Minas e metalurgia . .. 176 I - A artilharia ... ... . .. 181 I - As armas portateis ... . .. 185 I - A fortificacao guarnecida de bastiOes 187 - Nascimento e progresso da imprensa 190 I , -A gravura . 193 - 0 trabalho no vidro . .. 194 - Arte e tecnica ... 197 Cap. VI - A tecnica dos negOcios ... 199 - 0 conservantismo das corporacoes 199 - 0 seguro marftimo ... ... '" 202 - A contabilidade e os bancos 204 - A letra de cambio ... 207 Jl - Cambios e especulacao ... 209 11 8 '111 i> • AGRADECIMENTOS r Este livro, obra imperieita, mais imperjeito seria sem os conselhos de amigos a quem desejo aqui agradecer. Em primeiro lugar a Jacques Le Gof], autor do notcfvel volume que antecede este ('). A nossa amizade, que e jd de um quarto de seculo, permitiu-me beneliciar do contributeda sua vasta cultura, do seu conhecimento do Leste europeu e da sua biblioteca. Em Rennes, os meus colegas historiadores Jean Meyer e Andre Mussat, bem como 0 sr. Rousseau, director da Biblioteca Municipal, res ponderam com competencia e gentileza as muitas perguntas que lhes liz. Quero manijestar-lhes a minha gratidiio. Hd ainda 0 [acto, recon [ortante para um autor, de eu ter entrado em contacto com uma pessoa tiio solicita como 0 director literdrio das «£ditions B. Arthaud», Sylvain Contou. As nossas longas converses sobre 0 Renascimento e sobre os problemas que este livro levantava [izeram-me descobrir nele um amigcfvel interlocutor, com quem simpatizei desde 0 primeiro momento. Sorridente e eficaz, Dominique Raoul-Duval reuniu os variados elementos que eu lhe ia entregando - texto, imagens, mapas, indice documental, cronolo gia-, equilibrou-os, completou-os com rara competencia e adaptou-os uns aos outros de modo a [ormar um todo homogeneo. Quanto d lcono grafia, realizada por Josette Champinot e Ana Pacheco, mostra, bem melhor que as minhas palavras, a cultura e 0 senso artistico de quem nos proporcionou as belas imagens deste livro. o Autor {'} A CivilitC/fao do Ocidente Medieval, publicado nesta cole~lio. (N. do E.) 13 PREFACIO r: Esta Civiliza~iio do Renascimento, que [icamos a dever a Jean Delu meau, vem agora inserir-se entre os dois volumes que Jacques Le Goff e Pierre Chaunu jci publicaram nesta colecciio, dedicados, respectivamente, d Idade Media e d Europa Classica. Embora, nos aspectos gerais, esteiam todos em conformidade com a estrutura escolhida para a totalidade da serie «Grandes CivilizafOeS» (''), estrutura que corresponde aos desejos e necessidades do leitor e the permite sentir-se numa paisagem que the e jci familiar, cada um destes livros tem a sua face peculiar. De facto, slio produto da rejlexiio de historiadores com temperamentos bem diferentes. Sempre abarcando os assuntos em toda a sua amplidiio, cada um deles iluminou 0 seu de modo original e pessoal. Isso corresponde perfeitamente ao proprio espirito desta colecciio. Era nosso proposito que a clareza da exposiciio e a riqueza dos injormes niio excluissem nem sequer ocultassem a originalidade das opinioes. As pesquisas recentemente realizadas vieram abrir novas perspectivas que mostram a uma luz por vezes imprevista os problemas ainda niio resolvidos. Niio era iusto que se pudesse deplorar a sua ausencia nestes trabalhos. Devido aos seus anteriores estudos, que tinham incidido sobre a vida economtca e social da Roma do seculo XVI, J. Delumeau estava espe cialmente habilitado a renovar um assunto que jci [oi centro de tantos ensaios e de tantas sinteses. 0 plano que ele adoptou para tratar esse vasto movimento de civilizafiio coberto pelo termo Renascimento e de uma nitidez e de uma clareza verdadeiramente classicas. 0 triptico da Historia, das realidades da vida de todos os dias e da mentalidade e aspirafOes novas permitiu-lhe ordenar harmoniosamente os conhecimentos e as reflexbes que colheu no seu passado de erudito. 0 que na sua expo (1) Coleccao das Editions B. Artaud, a que pertence esta obra. (N. do T.j 15 ~ j' sir;iio impressiona e, sem duvida, a escrupulosa prudencia que transparece ao longo de todos os capitulos e de todas as pdginas. Dar iuizos de conjunto sabre situ~oes muito complexas e que, em tal ou tal aspecto, ainda siio imperjeitamente conhecidas parece-lhe perigoso e, muitas vezes, temerdrio e ele sente necessidade de matizar a apreci~iio para que ela niio va alem dos limites impostos pelo presente estado das iniormacoes dis ponlveis e pela complexidade dos [actos. Logo Ii partida, 0 proprio termo Renascimento, que devemos ao humanismo italiano, parece-lhe insu /iciente e quase inlusto. Renascimento pressupl'Je, pelo menos, um tor por, um sono previa. Ora e ilusorio buscar uma nltida ruptura na trama continua dos tempos. Portanto, 0 valor extensivo do termo sera limitado d ideia, justa e precisa, da promociio do Ocidente e do avanr;o que este rapidamente tomou sobre as civilizar;i5es paralelas. Dd satisf~iio que J. Delumeau tenha acentuado como convinha as ligar;i5es com 0 passado sem ignorar 0 valor da renovaciio. Assim se pode medir melhor a importdncia do progresso material e tecnico do seculo XVI europeu e se aprecia com maior iusteza 0 impeto surpreendente das naveg~Oes e a multlplicidade das grandes descobertas planetarias que alargaram, quase brutolmente, 0 limitado horizonte dos seus con tempordneos, 0 aparecimento da imprensa, que veio, no momenta exacto, dar resposta a um profundo apelo da curiosidade humana, 0 progresso, enlim, da civllizaciio urbana com 0 desenvolvimento de tecnicas destina das a um grande futuro, como a da banca. Esta rejlexiio, salda da boca de um observador espantado, «a arte da guerra e agora tal que e preciso aprende-Ia de novo de dois em dois anos», tem um sabor terrivelmente moderno. De facto, nessa epoca, 0 aperfeir;oamento do armamento obri gava a constantes modificar;oes da tdetica e da estrategia e os rapidos progressos da utiliz~iio do canhiio forr;aram a invenr;iio de novas e efi cazes formas de amuralhamentos e fortific~Oes. Talvez seja, precisamente, esta nor;iio de modernismo que. no fim do estudo, aparer;a com maior evidencia e com mais viva claridade. o Renascimento, ligado por numerosas fibras aos seculos anteriores, mos tra, porem, na figura dos seus homens e das suas obras, trar;os e cores que preludiam de forma espantosa os caracteres do nosso tempo. Sem dUvida que se niio deve procurar alhures a origem dos movimentos e das profundas aspir~oes do nosso tempo. Promor;iio do indivlduo, da pessoa, reabilit~iio da mulher, reforma da edue~iio - que se pretende que seja uma verdadeira form~iio do homem e id niio uma inutil sobrecarga do esplrito, esmagado por um fardo de conhecimentos -, revaloriz~iio do corpo e da educar;iio fisica, reflexiio pessoal e livre sobre 0 homem, a sua natureza e a sua religiiio, Impeto entusidstico, enfim, para as con quistas literarias e tecnicas e gosto apaixonado da g16ria que faz reviver as mais belas tendencias da Grecia e de Roma, pois niio e verdade que tudo isso, que pertence verdadeiramente ao seculo XVI europeu, nos surge ao mesmo tempo como as:runto nossa? 16 , ( j (j { \ , .. ~ , /> o movimento humanista e 0 regresso ao antigo niio devem ter para nos uma ressondncia apenas artistica e literaria. No [undo, e toda uma nova [ilosojia da vida que se elabora e se define. Os Antigos servem, neste aspecto, de modelos e de inspiradores e a ligar;iio com eles e muito projundamente sentida. Mas aquila que [undamenta de novo modo a valorizaciio do corpo humano e pl:Opoe como objectivo supremo da vida um equilibrio harmonioso entre 0 desenvolvimento da alma e 0 desen volvimento do corpo e uma rejlexiio viva e pessoal. A pedagogic de Rabelais, e depots a de Montaigne, prenunciando a de Rousseau, mode lam-se na natureza humana e dejinem com clareza 0 objectivo funda mental de toda a educaciio: niio mutilar 0 hom em, mas desenvolve-lo harmoniosamente na sua totalidade; e a educaciio [isica e os cuidados com o corpo tem de encontrar 0 lugar que merecem. Quanta Ii instruciio propriamente dita, os principios de um Montaigne siio validos hoje como 0 eram ha perto de quatro seculos; e 0 nosso ensino tenta, sem sempre 0 conseguir, conjormar-se a eles. Formar a capacidade de iutzo, evitar, antes do mais, sobrecarregar a memoria com um amdl gama de conhecimentos tantas vezes inuteis - eis as regras que todos aceitamos mas que ainda hoje e bem dijicil levar Ii pratica. E no entanto o ensino s6 desempenhara verdadeiramente 0 seu papel quando a crianr;a puder passar tudo pelo crivo da sua inteligencia sem «arrumar nada na cabecaapenas pela autoridade de quem lho diz». Hti muito quem hoje se sinta pouco Ii vontade na leitura de Mon taigne por causa do cardcter ainda arcaico do frances da epoca, desse frances que 0 ardor apaixonado dos poetas da PIeiade contribuiu para impor ao seu seculo. Mas e preciso ler e reler Montaigne, saborear a apetitosa frescura do seu estilo, 0 rebrilhar das suas palavras e das suas frases. E preciso observd-Io, como ele desejava e como nos convida a faze-Io, na sua «mane ira simples, natural e corrente, sem contenr;iio nem artificio». A sabedoria a que ele aspirava e que soube alcanr;ar e, real mente, aquela que convem Ii condir;iio do homem. Qual niio e 0 prazer que sentimos ao reler esta definir;iio de um ensino que tem de ensincir a pensar: «Quem vai atrds de outrem nada segue e nada encontra: nada procura mesmo. Non sumus sub rege, sibi quisque se vindicet (')>>? No dia em que todos os povos - mas estara proximo esse dia? - se confor marem a semelhante regra poderemos certamente falar tambem de um verdadeiro Renascimento. Raymond Bloch (') Niio dependernos de urn rei; Que cada urn seja senhor de si proprio. (N. do T.) 17 Gabriel Realce Gabriel Realce Gabriel Realce Gabriel Realce INTRODU~AO A PROMO<;AO DO OCIDENTE I i \ ,I; .) A nossa compreensao do perfodo que vai de Filipe, 0 Belo a Henri. que IV ficaria muito facilitada se fossem suprimidos dos livros de His t6ria dois termos solidarios e solidariamente inexactos: «Idade Media» e «Ren~~~!!!lS8JB~:..J:om isso se..a~r!~_!?E,g.2!!!l.~9.'lil,l~_.P!~ ~o.nq~it~~. Ficar-se-ia, especialmegte•. )j.YXe_ q!l,ilieia-de...1eL. baYidQ...!!m corte bru~~Q=:que:::ieio. ...separaI:.,..u.ma..~.e,ee8'· de -~...de Jim petiQdo de treyM. Criada pelos humanistas italianos e retomada por Vasari, a nocao de uma ressurreicao das letras e das artes gracas ao reencontro com a Antiguidade foi, seguramente, fecunda como fecundos sao todos os mani festos lancados em todos os seculos por novas geracoes conquistadoras. Essa no~~p si&!ljfica j\lH,ntwje,..diWlW;§w'a.. v~Dtade dS reu~a£&>. Teve em si a inevitave! injustica das abruptas declaracoes de adolescentes, que rompem ou creem romper com os gostos e as categorias mentais 'dos seus antecessores. Mas 0 termo «Renascimento», mesmo na acepcao estrita dos humanistas, que 0 aplicavam, essencialmente, a literatura e as artes plasticas, parece-nos actualmente insuficiente. Parece rejeitar, como bar baras, as criacoes simultaneamente solidas e misteriosas da arte romanica e aqueloutras, mais esbeltas e dinamicas, da idade g6tica. Nao da conta nem de Dante, nem de Villon, nem da pintura flamenga do seculo XV. E, principalmente, ao ser alargado as dimensOes de uma civilizacao pela historiografia romantica, mostrou-se inadequado. Nao afirmou Burckhardt - que nao tinha em conta a economia -, ha ja urn seculo, que, no essencial, 0 Renascimento nao fora uma ressurreicao da Antiguidade? Ora, se dermos aos factos da economia e a tecnica 0 lugar que lhes cabe, o jufzo de Burckhardt ganha ainda mais verdade. Pois 0 regresso a Anti . gui~n.ada influiu~a....j!1~..daJmm:ens;l-ou-~-:relQiio- mecl. nico, nem no iperrei~6amel1to-da·at't1lhafla,....uem..JlQ.~!!!~!!<c.Yw:n.to.....da . contahilidade por partjdas dgln'adas, nem no da _ktra..de ambie ..eu-das ~~s bancarias, Mas as palavras temmuita vida. Impoem-se-nos contra Gabriel Realce Gabriel Realce a nossa pr6pria vontade. Com que haveriamos de substituir a palavra «Renascimento))? Com que outro vocabulo designariamos essa grande evolucao que levou os nossos antepassados a mais ciencia, mais conhe cimentos, maior dominio do mundo natural, maior amor pela beleza? Na falta de melhor, conservei, portanto, ao longo de todo este trabalho, a palavra consagTada pelo uso. Mas que fique entendido:esta palavra ja nao pode ter 0 sentido original. No ambito de uma Historia total, significa (e nao pode significar outra coisa) a pr~mor;iio do Ocident« numa~~llOca em que a civiliza~ao da Europa ufiropassou, de modo decisivo, as£!Y..iP~qiirrFli'iram-parareras. No teiiipo" cfaspiiiildrasc:ri.lZadas:' atecnica ftUIa"d~'Arabese Chineses igualavam, e suplantavam ate, a tecnica e a cultura dos Ocidentais. Em 1600 ja nao era assim. Propus-me, pois, estudar 0 porque e 0 como da ascensao do Ocidente no momento em que ele elaborou uma civilizacao de tal modo superior que, seguidamente, se imp6s pouco a pouco a todo 0 mundo. * Os diversos espacos atribuidos ao Renascimento slio tantos quantos os historiadores. Na minha optica, os J2!,.oblemas da periodiEl£ao - um dos pesadelos da historiografia ao debrucar-se sobre a epoca mtermedia que separou a idade feudal da era de Descartes - perdiam acuidade. Optei por .uffill hlSi6ria longa, sem tentar estabelecer cortes artificiais. Tudo 0 que se mostrasse como elemento de progresso seria chamado a figurar numa vasta paisagem que se estende do fim do seculo XIll ate a aurora do seculo XVII e que vai da Bretanha "8," Mosc6V:ia':"'-Em-'contr-apartida, visto 'que "t,(j(Jli- a construcao hist6rica tern, necessariamente, rejeicoes e silencios, deixei de lado, as mais das vezes, os factores de estagnacao que indiscutivelmente pesaram Duma civilizaCao, apesar deles, rica de inovacOes. 0 quadro geral estava assim delineado e era evidente que 0 Renascimento aqui proposto nao se revelaria especialmente artistico nem particularmente italiano. 0 acento t6nico !:5;~i~, n<:> d}Jlam~mo de .~Q!Ja a.Europa. A ciencia pict6rica "98 Van Eyell; e as miniaturas do rei Rene, a lnvencao do alto forno e a realizacao da caravela, as antecipacOes pro feticas de Nicolau de Cusa e 0 irenismo de Erasmo pareceram-me signifi car a promocao do Ocidente no mesmo pe que os estudos de perspectiva de Piero della Francesca e de Leonardo. E certo, no en~lQ.JlUe-.a..l!AAi.!l, perosseush~"maiiiStas._:ii.iQs":seus artistas, pelos seus homens de neg6cio~~ios seusu~Q.&Cn~irQL~lcis seus '~.a~~!!i~.s; .!2tD!!fji.~.~ guardll,O. principal..reSllOnsa.vcLpe1D..&flUl4e .l!.y~.europA. o historiador fica confundido perante 0 dinamismo que hi um milenio 0 Ocidente tem vindo a mostrar. Durante 0 perlodo abrangido pelo nosso estudo, nem 0 peso das estruturas e tknicas rurais nem 0 conservantismo das corporacOes nem a esclerose das tradicOes escolasti cas conseguiram equilibrar as forcas de movimento, cuio poder se mani 10 festou sempre com nova energia. Porque essa energia? 0 legado da civi lizacao greco-romana, 0 contributo fecundante do cristianismo, 0 clima temperado, as terras ferteis - eis at outros tantos factores, sem duvida a juntar a muitos outros, que favoreceram os homens que se tinham concentrado no Oeste do continente euro-asiatico. Mas tambem nao fal taram as provacoes: umas naturais, como a Peste Negra; outras provo cadas pelo ioso das competicoes politicas, economicas e religiosas. Entre -:::> 1320 e 1450 abateu-se sobre a Europa uma co91uncao de desgra~Lpri '0i~oes, ep1dem1aS; guei'rl!~,gYm~AfO:-_~.m!al da mOrtaIfaaae;'dlininuiCao da producao de metais preciosos, avanco dos-'TiiICOS;desafios'essesque foraw vencittos com coragem e'·com genio:-A'hist6fia do Renascimento e a hist6ria desses desafios e dessas respostas. A crftica do pensameiill> clerical da Idade Media, a recuperacao demograflca~"osprogreSsos-i~cni cos;ii'l\vell.tura: maritima; \iiiia"e-sfehca nova, urn cristiaiiISiiio'reeIabolido .i"'rejiivenescldo":-'eli"'os'principais elementos da resposta do Ocidente as tao variadas dificuldades que no seu caminho se haviam acumulado. «:Qt:~!i.2...~--(t:~PQS~: pode-se aqui reconhecer a terminologia de A. Toyn bee, e eu penso que ela traduz admiravelmente 0 fen6meno do Renas cimento. Mas nao vou mais alem na esteira desse grande historiador Ingles, Vistas a uma certa distancia, a historia da Humanidadeem geral e, mais especialmente, a da humanidade ocidental parecem menos uma sucessao de crescimentos e de desagregacoes que uma marcha para diante, entrecortada, e certo, de paragens e regressoes; mas paragens e regressoes apenas provis6rias. E verdade que houve porcoes de humanidade local mente falhadas, mas a Humanidade, globalmente considerada, nunca deixou de progredir de seculo em seculo, e isso tambem nos perlodos de conjuntura desfavoravel, Assim, e sem negligenciar 0 estudo da conjun tura na epoca do Renascimento, insisti principalmente nas modificacoes das estruturas materiais e mentais que permitiriam a civilizacao europeia avancar, entre os seculos XIII e XVII, no caminho do seu extraordi nario destino. * Identificar urn caminho nao implica acha-lo sempre belo, como nlio implica que nao haja outro possfvel. Como ao historiador compete com preender e nao julgar, nao procurei saber se 0 perlodo do Renascimento deveria ser preferido a «idade das catedraiss ou privilegiado em relacao ao «grande seculos. Para que essa estranha mas frequente distribuicao de premios? Por isso olio apresentei um Renascimento em que tudo fosse . exitos e beleza. Pelo contrario, a mais elementar obrigacao de lucidez conduz-nos a declarar que os seculos XV e XVI viram, de certo modo, um aumento de obscurantismo - 0 obscurantismo dos alquimistas, dos astrologos, das feiticeiras e dos cacadores de feiticeiras. Continuaram a dar relevo a tipos de homens - por exemplo, os condottieri - e de sen 21 Gabriel Realce Gabriel Realce Gabriel Realce timentos, como 0 desejo de vinganca, que durante muito tempo foram tidos por caracteristicos do SY.lla§.£ipI~.nt()_ quando, na verdade, consti tuiam heranca do periodo anterior. Tempo de 6dios, de lutas terriveis, de processos insensatos, aepoca de Barba-Azul.e Torquemada, dos !!1~~g~~-AQ.~..E9j~Qs_~li",n9i.~~--dQi.~~Ut.9~e~t~; impr~ssiOM.~.Qlb~m o historiador do seculo XX pela dureza da sua vida social. Nao s6 '" ._~_n' .--"'-'- ~ inaugl/l"ou a deportacao dos_Negr~s Pa.I."a. 0 Novo .. Mundo como tambem alargou, na-pr6prIa'Europa~ 0 fosso que separava()s· humildes dos privi Iegiados, Os ricos tomaram-se mais ricos, os pobres passaram a ser mais pobres. Nlio se repisou ja muito a ascensao da burguesia na epoca de Jacques Coeur, dos Medicis ..e..D.Q$¥.u~n~er? A realidade e mais cODlpli~~a, pois os novos-ricos .IlPJessa.ram"sc a pa.ssar-.Lricliia.a::qiie-'j~jID 'se' viu renovada e insuflada. Claro que ela foi cada vez mais d6cll eni-rela~ao ao Principe. Mas"'ii~m por isso deixou de ser ..a.. classe..possuidora. E, ao converter-se a culture - fen6meno cuja-'lmportancia ainda nao foi bas tante salientada -, impcs a civilizacao ocidental uma estetica e uns gos tos aristocraticos que tinham por contrapartida 0 desprezo pelo trabalho manual. Raramente numa fase da Hist6ria 0 melhor ombreou tanto com 0 pior como no tempo de Savonarola e dos Borgia, de Santo Inacio e do Aretino. Por isso 9-..E£!1.ll~.sItto_~'!..~~...a.~... I!0.ssos olhos. .c01l!0 um o£~~_Wl..de._contradj~, um concerto por vezes estridente de aspiracoes divergentes, uma diffcil concomitancia da vontade de poderio e de uma ciencia ainda balbuciante, do desejo de beleza e de um apetite malslio pelo horrivel, uma mistura de simplicidade e de complicacoes, de pureza e de sensualidade, de caridade e de 6dio. Recusei-me, portanto, a mutilar o Renascimento e a nao ver nele, como H. Haydn, senao um espirito anticientifico ou, em sentido oposto, como E. Battisti, senao a caminhada para 0 racional. Nisso residem 0 seu caracter desconcertante, a sua com plexidade e a sua inesgotavel riqueza. Por exemplo, ao dar ao numero, na tradicao dos pitagoricos, urn caracter quase mistico e religioso, 0 Renascimento foi, todavia, condnzido, por esse caminho indirecto, para o quantitativo e para a no~iio cientificamente fecunda segundo a qual a Matematica constitui 0 teeido do Universo. * o Renascimento tinha 0 gosto dos caminhos escusos. E por isso que ainda hoje 0 regresso a Antiguidade obceca certos espiritos que preten dem avaliar a epoca de Leonardo em fun~ao desse aspecto e Ihe repro yam ter-se deixado atrasar por aquele passado ja de h3. muito suplantado. Na verdade, 0 aparente regresso as fontes da heleza, do saber e da reli giao foi apenas urn meio de progredir. Alegremente se «pilhou os templos de Atenas e de Roma» para omamentar os de Fran~, de Espanha e de Inglaterra. A partir do seculo XVI identificou-se em Miguel Angelo 0 22 maior artista 'de todos os tempos. Demoliu-se Arist6teles com base em Platao e Arquimedes. Colombo descobriu as Antilhas gracas aos erros de catculo de Ptolomeu. Lutero e Calvino, julgando restaurar a Igreja primitiva, deram uma face nova ao cristianismo. 0 Renascimento, que se comprazia com os «emblemaes e os criptogramas, dissimilou a sua profunda originalidade e 0 seu desejo de novidade por tras de um hie r6glifo que ainda causa ensanos: a falsa imagem de um resresso aopassado. Atrave, de contradiCOes, e por caminhos complicados, mas sempre sonhando com paraisos mitol6gicos ou com impossivei" utopias, 0 Renas cimento deu um extraordimirio saito para diante. Nunca uma civilizacao dera tao grande lugar a pintura e a musica, nem erguera ao ceu tao altas cupulas, nem elevara ao nivel da alta Iiteratura tantas hnguas nacionais encerradas em tao exiguo espaco. Nunca no passado da Huma nidade tinham surgido tantas Invencces em tao pouco tempo. ~ Renascimento foi, especialmente, progresso tecnico, deu ao homem do OCidente malOr-dOiiiIiiTo·sobre Um-'milttdo"mairbem cOIilieddo:-EnsIDou_.iheaarravessarOS·6~etthos;'afabri~tfetro fundido, aservir-se das armas de fogo, a eontar as horas com Urn motor, a imprimir, a utilizar dia a dia a-Teria'de cambici e"oseguro rnarltimo. --~~~esm~ t~~po~:::"':'progress.o__espiritual paralelo ao progresso mate rial -, iniciou aliberta~ao do individuo ao tira-lo do seu anonimato medievare-oomeCandoa"Qesemoai'a¢ii~r(nfasTimltlrCQe"S" coTecHvas: Burck hardt observoii-delormageiilaI'estil'ClITaeteristie-lf (fa-epoca'-que estuda va. Todos os seus sucessores 0 tem de seguir nesse caminho, mas sublinhando quao doloroso foi esse nascimento do homem modemo, acompanhado por um sentimento de solidao e de pequenez. Os contemporaneos de Lutero e de Du BeIIay descobriram-se pecadores e frageis, sujeitos as ameacas do Diabo e das estrelas. Houve uma melancolia do Renascimento. E tal vez nao tenha sido errado - sob condicao de se nao tomar a f6rmula em mau sentido - 0 definir-se a doutrina da justifica~ao pela fe como urn «romantismo da consolaCao». Mas falar apenas de descoberta do Homem e dizer muito pouco, A historiografia recente demonstrou que 0 Renas cimento foi tambem descoberta da erian~a, da familia, no sentido estrito da palavra, do casamento e da esposa, A civilizacao ocidental fez-se entao menos antifeminista, menos hostil ao amor no lar, mais sensivel a fragili dade e a delicadeza da crianca, o cristianismo viu-se nessa altura perante uma nova mentalidade, uma mentalidade complexa, feita do receio da danacao, da necessidade de devocao pessoal, da aspira~o a uma cultura mais laica e do desejo de integracao da vida e da heleza na religiao. 0 anarquismo religioso dos seculos XIV e XV levou, sim, a uma ruptura, mas tambem a um cristianismo rejuvenescido, mais estruturado, mais aberto as realidades do dia a dia, mais habitflveI pelos leigos, mais permeavel a beleza do corpo e do mundo. 0 Renascimento foi, sem duvida, sensual; e optou, 23 Gabriel Realce Gabriel Realce por vezes, especialmente em Padua, por uma filosofia materialista. Mas o seu paganismo, mais aparente que real, iludiu certos espfritos que bus cavam, principalmente, 0 aned6tico e 0 escandaloso. Deslumbrado com abeleza do corpo, pede restituir-lhe 0 seu legftimo lugar na arte e na L vida. Mas, com isso, nlio aspirava a romper com 0 cristianismo. A maioria dos pintores representou com igual conviccao as cenas bfblicas e os nus mitol6gicos. Ao faze-lo, nlio tinham 0 sentimento de estar em contra dieao consigo pr6prios. A mensagem de Lorenzo Valla foi compreendida: cristianismo nao significava, forcosamente, ascetismo. A laicizacao e a humanizacao da religiao nao constitufram, nos seculos XV e XVI, urna descristianizacao, Esta explicacao convida a outra, de natureza diferente. Ambas, porem, provem do mesmo desejo de explorar em profundidade um perfodo que tern sido fascinante principalmente pelo seu cenario, as suas festas e os seus excesses. Pois nao irfamos aqui ceder A facilidade e apre sentar urn Renascimento em que 0 veneno dos Borgia, as cortesas de Veneza, os casarnentos de Henrique VITI e os bailes da corte dos Valois tivessem posicao de primeiro plano. Em vez disso, 0 que deve chamar as atencoes sao as transformaeoes de incalculavel alcance, escondidas por falsas perspectivas como as que todas as epocas tem. Seguindo John U. Nef, acentuei, portanto, a promocao do quantitativo e a elevacao do espirito de abstraccao e de organizacao, a lenta mas firme consolidacao de uma mentalidade mais experimental e mais cientifica. Fugindo a caminhos muito trilhados, A anedota e ao superficial, desejoso de oferecer uma sintese nova e de empreender uma reinterpre tacao do Renascimento, tive todavia a constante preocupacao de evitar o paradoxo e as formulas, que atordoam mas nao convencem. Procurei, em vez disso, demonstrar, esclarecer, fomecer ao leitor uma documentacao tao vasta quanto possivel. Quando estava a escrever este livro veio-me muito A mem6ria uma frase de Calvino. No fim da vida, ao dar uma olhadela as suas obras, Calvino disse: «esforcei-me por alcancar a simpli cidades. Tambem euprocurei fazer 0 mesmo. Estas poucas paginas de introducao tiveram a finalidade de criar uma ligacao, uma cumplicidade entre 0 leitor e 0 autor. Eu devia a quem viesse a ler-me as explicacbes necessarias, Chegou agora 0 momento de recolher-me e dar Iugar ao assunto que tratei; mas nao sem mostrar 0 plano seguido. A primeira parte constitui uma colocacao dos principals factos nos quatro dominios: politico, econ6mico, cultural e religioso. A segunda e uma penetracao no interior das realidades concretas da vida quotidiana. A terceira, paralela A segunda, mas na ordem espiritual, pro cum identificar uma mentalidade diferente da do passado e captar a vinda a superficie de novos sentimentos. '4 PRIMEIRA PARTE LINHAS DE FOR~A I L ._ CAPITULO I A EXPLOSAO DA NEBULOSA CRISTA A importancia da Europa na epoca do Renascimento nao esta no plano_~..!!!o&rlifi~o.-A- sua .populacao, em-tlSOO;--atfidii imcnitiilgia cern milhoes de habitantes, quando, segundo parece, era este 0 mimero de habitantes cia india no principio do seculo XVI: 30 ou 40 milh6es no Decao e 60 milhoes no Norte. A China, por volta de 1500, teria ja 53 milh6es de almas; e 60 em 1578. Claro que a Africa e a America tambem eram pouco povoaclas em relacao a imensidao dos seus territ6 rios: arrisca-se a calcular em relacao a Africa uns 50 milhoes de habitantes no principio do seculo XVI; quanto a America, hesita-se entre os 40 e os 80 milhoes, Mas em ambos esses continentes havia vastas zonas desertas a separar nucleos de povoamento muito intenso. A plataforma vulcanica mexicsna (cerca de 510000 km") teria 25 milh6es de habitantes quando Cortez • C) e os Espanh6is irromperam nesse mundo ate entao desconhe cido dos Europeus. 0 Imperio inca, no inicio do seculo XVI, reuniria 8 a 10 milhoes de siibditos. Ora a Franca, considerada nos seus actuais limites territoriais, tinha menos de 15 milhoes de habitantes em 1320; e nao e certo que, em 1620, tenha ultrapassado os 18 milhoes, Entre estas duas datas, por causa das pestes, das fornes, das guerras, 0 progresso demogra fico cia Europa foi muito fraco. A Italia passou, talvez, de 10 a 12 milhoes de almas; a Alemanha (nas fronteiras de 1937) de 12 a 15 milh6es; a Espanha de 6 rnilhoes e meio a 8 milh6es e meio; a Inglaterra e a Esc6cia, juntas, de 4 a 5 milh6es e meio. Vale ainda a pena fazer notar que, no principio do seculo XVI, as mais importantes cidades do mundo estavam fora da esfera cia civilizaeao ocidental. Assim, Constantino pla> e Mexico, duas capitals que se ignoravam mutuamente, teriam, a primeira, 250 000 habitantes e a segunda 300000, mais, portanto, que Paris (talvez 200 000 almas) e Napoles> (cerca de 150000). Mas era na Europa, e mais especialmente no Oeste do continente, que estavam 0 dinamismo e as chaves do futuro. {I} As palavras assinaladas no texto com urn asterisco correspondem artigos do «Indice Documental» no fim desta obra. (N. do E.) 17 --- Descobrir-se-a uma primeira prova desse dinamismo ao comparar dois mapas da Europa: 0 de 1320 e 0 de 1620. Entre estas duas datas, quantas transforma~oes! No iniSio .99.-s-ec.YJ.QJgY1..a,,~C:$s!JJa, Jb~!"ica esta repartida em cinco estados: Navarra, Aragao, _Castela, portugal e 0~~I.!!~]f~rr~nada"P.9rtu~al nao pOs -amd-a pe'-e-m:-Africa. S6em 14fs, 1-.--. ao apoderar-se de ~,{f- fara, Castela, rasgada por querelas intestinas ao longo de todo 0 seculo XIV, e derrotada em 1319 por Granada e em 1343 por Algeciras. Em contrapartida, Aragao, mais vigoroso, tenta criar urn imperio mediterranico. _ A Fr~de..Yili~_ VI· de _Valois -:- que sobe ao trono em 1328~~Bru~~!!iiiS..iiaojnduiMetz. nem Gr~nQble. nem _Mar· selha nem Montpellier, sem falar, naturalmente, de Estrasburgo ou de perpIgnari~ryon"es~' na fronteira do ducado da Sab6ia. Bordeus, Baiona e toda a ~.~~m comQ•.o-ponthieu....estio em maos iiiglesas,'embOfa orel deInglaterra ainda aceite prestar homenagem ao seu suserano de Franca. A Bre~1)h.l!._~_JJJJU!!1g~,J;Lm;l.!t9!tueIlte.- iDdepende.nte. Quaritl,i tnglaterra, conseguiu, nlio sem dificuldade, anexar 0 Pais de Gales _ que, porem, s6 no reinado de Henrique VIII· sera total mente absorvido. Esta, no entanto, em mas relacoes com 0 reino da Esc6cia, vizinho e rival. A Irlanda ja e uma especie de co16nia inglesa, mas uma co16nia desprezada, cuja costa oriental e a unica regiao efecti vamente dominada por Eduardo III·, feito rei de Inglaterra em 1327. o Imperio esta entregue, de uma forma cronica e duravel, ~ anar quia e ~ impotencia. Mas a Liga Hanseatica, nascida em meados do se culo XII da penetracao germanica nas costas do Baltico, constitui uma potencia. Em 1370 formara urna federa~lio de setenta e sete cidades, capaz de impor ao rei da Dinamarca, pela paz de Stralsund, a isencao de direitos alfandegarios aos navios hanseaucoe que atravessassem 0 Sund. Em 1375 0 imperador Carlos IV consasrara a grandeza da Hansa· diri gindo-se a Lubeck em visita solene. Mas, na Alemanha do principio do seculo XIV, 0 Brandeburgo ainda nao pertence aos Hohenrollern, que s6 em 1415 0 adquirirlio. Quanto aos Habsburgos, duques da Austria e da Estiria, sofreram derrotas nas lutas contra os Sui~os - a Confedera~lio data de 1291 _ e nlio possuem ainda a Carlntia, nem 0 Tirol nem a Carniola. S6 em 1440, com Frederico III, obteriio a coroa imperial. A noroeste, os Paises Baixos ainda nlio nasceram como unidade politica. A leste, 0 seculo XIV e urna epoca brilhante para 0 reino da Boemia, parte integrante do Imperio ~ qual estao Iigadas a Moravia e a Silesia. A dinastia dos Luxemburgos instala-se em Praga em 1310. S6 se extin guira em 1437. 0 seu apogeu situa-se no reinado de Carlos IV, rei da Boemia de 1347 a 1378, rei da GennAnia desde 1346, coroado imperador em 1355, que foi 0 fundador da Universidade de Fraga. Os imperadores, teoricamente, tern direitos de tutela numa parte da Italia; mas esta, na realidade,escapa-se-lhes. As viagens de Henrique VII. em 1312, e de Luis de Baviera, em 1328, ~ peninsula redundaram em 1& mm Domlnio das Ordens Will TeutOnicas ffi@l ~~~1Jo Bd~a~.:Jo XIV m:m Domlnios Otomanos Ilttttl cerea de 1350 ~ PossessOes dos reis I' ~ de Inglaterra ~ Possessdes dos Habsbur: l1li Possessees venezianas Bremen Cidades hanseatlcas ~!!!! Possesslles genovesas IE KIPTCHAK: _~RElNO ~-T M!!!!~tro~ ~ Caft'a ~ --- REINO REINO DO~ ZElANmAS ~ DOS HAFSIDAS ~~ 1. A EUROPA NO IN/C/O DO SECULO XIV. fracassos. A urn tempo esplendorosa e dividida, a Italia e formada por muitos pequenos estados que fazem, cada urn, 0 seu pr6prio [ogo. A si tuacao, portanto, e muito fluida: vai modificar-se muitas vezes entre 1320· e 1620. Depois das Vesperas Sicilianas de 1282, a Sicilia pertence a Ara gao, que anexa a Sardenha em 1325. Mas s6 a partir de 1442 havera urn Reino das Duas Sicflias, estendido, portanto, ~ Italia do SuI. Mais a norte, os feudais parecem senhores do «Estado eclesiastico», que 0 papado aban donou ao instalar-se, em 1309, em Avinhlio. Em Florenca ", onde Dante, exilado em 1302, nlio podera voltar, as lutas intestinas nlio estorvam os negocios. A cidade do Arno, porem, grande centro bancario e thtil, ainda domina apenas urn pequeno territ6rio e s6 tera acesso ao mar em 1406 depois de veneer Pisa. Em Millio·, os Visconti· comeearam uma carreira que sera brilhante - principalmente no fim do seculo XIV e na primeira metade do seculo XV. Em 1395-1397, Gian Galeazzo recebera do imperador os titulos de duque de Millio e da Lombardia. Bloqueada por terra pelos Apeninos, Genova. e no seculo XIV uma rica cidade 29 maritima, orgulhosa des suas Ieitorias do Mar Negro e do EgeIJ. CaITa. na Crimeia, onde ternnnam as rotas terrestres do Extreme Oriente, per. tence-lhe uesde 1286. Em frente da costa ce Asia Menor, usOO5, Chio! e Sames cacm tambem em seu poder entre 1340 c 1360. Genova passa a dominar a produc;ao e a venda do alumen .. oriental, especialmente 0 de Foglia, a antiga Poceta. A .rumiga de Genova, Yeneza ., inccre,.<iS«-se tarn bern, antes de tude, pelo Mediterraneo Oriental, pels a IV cruzada Iizera do doge «senncr de urn quarto e meio & Romania... Em 1320. a Sere mssima domina a lstria e a costa dalmata, possui 0 coo.dado de Cefal6nia, o Negroponto (a Eubeia), 0 ducado de Naxos c a llha de Creta. 0 seu comercio em Ccnstantinopla e activo. Tera de abandonar 0 Negrcponto em 1470, mas Ja antes drssc tent ocupado Corfu, M6don e ebron. Insta tar-se-e ern Chipre em J489. No centro da Europa, a Hungria e, no seculn XIV. uma grande poteocla, nas maos de uma dinastia angevina desde 1308. Esse vasto conrucrc de terrucnos inclui, a1em da Huugeta actual, a B6snia, a Cree cia, a Eslcvaquia e a Transilvania. 0 rei diipi5e de recursoe regularea e de urn forte exercito. Os Luxcmburgcs sucederac aos Angevinos em 1397. Depots di~, a ameaca turca e as crises Internes jevarao ao irene Matias Corvino (rei de 1458 a ]490), que :JCfa um btj(hante mecenas. A primeira metade do secure XIV ve, alem disso, desenvctver-se uma grande servia, que aproveilou os re~'eses do Im~rio Rizantino, estenden~ do-se do Damlbio ao Adrititieo e alca~ando 0 apogeu na epoca de Estevao IX Du9.an (1331-1355). que tetminou a c:onquisla da Maced6nia, ocupou a Albania, 0 Epiro e a Teisalia, dominou a Bulgaria e sonhou conquistar Constantinopla. A sua morte, porem, foi a ruina desse efemero imperio stnio, que se demloronaria definitivamente eIll Kossovo (1389) sob os golpes dos Otomanos. o Imperio Grego, restaurado em 1261, nao encontrou 0 poderio de outros tempos. COlllinuando a Jutar contra 00 Latinos, Que se mantinham no Peloponeso, os Basileus afastaram-se da Asia Menor. Ora a1 nasceu o perigo. No principio do seculo IV, urna triho (urea, recltac;ada paia 0 litoral pelo.9 Mong6is ., come~u a dar que faJar: eram 0.9 Otoman05·. Cerca de 1350 oeupavam, em frente de c.onstanlinopJa. toila a parte oriental do Mar de Marmara. ES$C territ6rio, eentrado em Brousse, tern born ace~so ao Mar Negro e ao Egeu. Passando a Europa, os Otomanos apoderam-se i1e Andrin6polis em 1362, veneem os Servios em Kossovo em 1389 e esro8gam em Nic6polis, em 1396, rn cruzados ocidentais, indis dplinados e comandados por loao Sem Medo, A Bulgaria e oonquistada; ~ Valal.luia pagat.6 tributo. A ineursao hrulal de TamerJao· na Asia Menor e a derrota que cle innige a Bajazeto I em 1402 em Ankara dar1io ao lmptrio Bizantino urna rootat6ria de cinquenta anos. No (mal da ldade Media, a &cand"in4via tern 1.llJ'l papel apagado apesar da uniio de Kalmar, conc1ufda em 1397 sob a egide da Dinamarca e que jl.lntou os tJ!s reinos. Em eontrapartida. os steuJes XIV e XV JO assistiram A aseensao de Pol6nia e ao eecuo da Ordem Teut6n.ica, que POr breve tempo dominara toea a costa do Baltieo, da PomerAnia ao Narva. Em 1386. 0 duque pagio da Lituinia-um Jageliio~casou com a herdeira do trono palaco e coeverteu-se ao ensuenamo. Assim se viram unidas para qualm secujos uma pequena Pol6nia, repartjda pelos dois Lades do Vistula, entre Cracovia e Torun, e uma vesta Lituania, que tinha o Dniepre como efao e cuja! cjdades principals eram Vilna e Kiev. Em 1410, os cavaleiroa teutoruecs sotreram serja decreta em Grunwald (Tannenberg), Em 1454, Dantzig cotocou-se sob a proteccao da Polonia. Esse porto de mar esrava destinado a urn grande desenvolvlmenro. No inlcic do seculo XIV e ainda demasiado cedo para fatar da RUssia. Novgorod deve a sua prcsperidade a Hansa e 0 principado de Moscovo e vassalo dos Mongols da Herda de ouro '. Apesar da preaenca em Moscovo, a partir dessa epees, de urn patriarea ortccoxo nilo depen, dente de Constantinopla, sera precise esperar ate Ivan )11 (1462.1505), eo unificador das terras russas», para que a Mosc6via se impcnha a Novgorod e se Jiberte da tutela mongol. * - vbemcs as paginas da Histona. Voltando eo mapa da Europa nas vesperas da Guerra dos Trinta Anos, encontramo-Io proflUldamente sim~ plifjcado. autcllle-"A;ii·4oiJnrram_~ em 1-479, 0 reino de Granada desapareceu--em"i491:'-NaVafl'lf"fDtlnreIiaa-'em iS12. Entre 1580 e 1640, a Espariiii--e-Vortugal tl'v1:!Mi:IiI:""tilD.9lD.O soberano:- Com- a foro;a das rique zas dO MbJCoe-(fo-'pe-ril,'"Seiiiion,,--das'16ii.!r/nquas Filipinas, disj'.Ondo momentanearnente do ~m.oerio POrtllil.lh no Extremo Oriente e no Bea si/, ~~I}.I!.a".apesar .das SI.l.3.9 derrotas e~.f.ranca_c:._na £Iand~es e,_d:" destrUlcilo da InvendveJ Armada 0581I), continua em (6'!Oa set a prJmer~_'p<lte:nS.i.~_~~E:~ia1. P6S5Ui na turopa ·od·aiSi:ilJaJXos -ri1eiiiJloiiaTs~ o tranco-Condado, a -Charoles, 0 Milanb, presidios na costa toscana, 0 reino de r~apoles, a Sjcilia e a S3rdenha. A Franca que Henrique IV reergueu e mais rnodesta Que a Espanhamas,~a5to. mats_hO.§.2&~ea. a'remo ocupa: j~' q~lro~JJtOi-dete:m_ torio aclual. 0 DeJfJnado foi recl.lperado"em-n-;r9, Montpellier em 1382, a ?roveii~a e~_1411L Seis'-an~':::'~lit~-o~~i·'jjt~)!l~!!!Eria:.ieliunera!j"" A coroa de Fnm~ e atodas as suas possessoes no eontinenle, com excepCao de oifitls, que-jO em J559 valcou A Fran~. Ana da Bretanba casou com Carlos VIII· em 1491; em .1532, 0 seu genm'Fi;ij:iciclLLlIiJiij-defmitiva_ meniiodUcado ao reine. 'Em'-eonLrajiartIda, a firani;3., sob Carlos VIII, abandmioi.l 0 ArtOis, O"-Praneo-Condado e 0 Rossilhiio, adqtlirido por Luis XI: en, 1argar uma boa pcesa em tn:xa da sombra italiana. Mazarino e Luis XIV virio depois a reparar 0 erro. Mas, em 1559, I)S trl! bispad09 de lingua {ran,esa, Metz, Toul e Verdun, foram ane:rados e, em 1601, Henriql.le IV, para libertar Lyon, adquiriu a B~sse, 0 Bugey e a regUlo de Gex. Ape!lar da crise da guerra dos Cern Anos, do trocuso das expe~ 31 _ Limhet tc6ricoo 60 Imperio E§l ReiDo d& DiN"'ore. [[[]] 1.""'0 do Sdc:il~l a POSIe"s <los HobeuoIlen.l ~-- [2Zl Poss. dos HobsbUlI doe v B Po.....s6es dos HobsbU!1l de Modrid U Posse..oes de Veneu ROSSIA ,",' .. 4>" 2. A EUROPA CERCA DE 1620. dit;5es a Italia e do drama <las guerras religiosas, a Fnm!W8-, no inldo do secure XVII, e um pais unido e rcbustc contra 0 qual nada puderam Carlos V nem Filipe II. Em 1620, a Inglaterra e a nscocta, de hi multo mutmunente hDStiJI, tf:J;D.,-lW' d~Zi.iitC"Wi·os, 0" mesmc sOberano. Estes reinos, tei:J.~bOs adoptado a' lieforma, 'ffearao -tifiidos para '0 -futuro. Ainda do pouco po voedos, mas 0 destine dos BritAnicos estA ja eacedo com nitidez. A partir de 1570 os ileUS aevics mercantes invadem 0 Med.iterrineO; .em~~ marinheiros de Isabel desfazem a orllllhosa e _poderosa tentativa da- - '._~ 1G~..ArlZWdA. Em 1620, euetamCOte, os cPadres peregrinos. desem barcam na Am6rica do Norte:.o lDlp6rio c;:omerva a sua estrutura balora e, OS seus m61tipll» ,~cIOll e priiicpisb, tluJloS quanaiS 65- dia.A do ana. Mas as duas grandes flliiir 12 liJ~ que virram a dominnr a cena da Europa Central ate 1918 estao jll. a Iorjar 0 seu pcderio. A casa eleitoral dos Hohenzollern. nas vt..s~ras da G.~rra dos Trina~ a~-h,j -d~·-.adlf;itilociYa-~·P9s.ses~~ les1~--~-a oeste: de urn Jade, 05 ducados de Cleves e a Marc.a (1614); e do outre a Prussia, exterior aos limites do Imperio (J (18). Quanto aos Habsburgos de Viena. comam na Burooa. nlio tapto por urna coroa -iinpe-riaf,-que-Ules nao da nepbllm real.pad.e£".. mOOD peJe hleep que pac~mente consti tnfr';'; a moir dQ stcylo ,X.I.V. em,..~olta d9~ w.u:ilstQS da k-stria e da Bstfna. Reinam, pais, num conjunto <ie- territories que se estendem do Adnatico as fronteiras da Polonia, do vorarlberg a exrremidade oriental da Eslovaquia. Possuem ainda varies territories mais a oeste, especialmcnte na Alsacia. A Boemia, que no infcio do seculo XVII se fez maioritaria mente protestante, desejaria retomar a antiga independencia. A derrota da Montanha Branca (1620) fe-Ia soudarta, para tres seculos, do destine dos Habsburgos de Viena. A Hansa perdeu ja, no principia do secure XVII, muito do seu pres tigio e do seu poderio. A Guerra des Trinta Anos vai dar-lhe urn golpe mortal. Os navies holandeses tomam, eada vez mais, 0 lugar des hensea ncos. As .ProyJm:ias U nid~_sAo_-,.!!,I!!. ,!lQ.s ..P'!.r:a.d.o.xClS.d!...hist6!",iA..J<w:()~ia do secUlQ XVII. Em 1609, a Espanha, de f61ego perdido co_[[l_~_~~~rra d1----.f'landresll. quea rneu comQ..Jlm cancr£::.-acertou-uma trigua que r~ecia. a titulo provi's6rio: a _iE-d~nJ~!!~_~!l:_~i§~~~CE~~~ calvinista. Em 1648 serA preciSQ-reconhecer a evidencia: 2 milh5es de ~e~manos, apinhados em 25000 km", estarao de posse do maier imperio jamais vistc no mundo. Quanto A Belgica, existe ill. virtualmente na Europa de 1620. Entre 1579 e 1585, Alexandre Famesio reconquistou a Espanha os Parses Baixca meridionais, que passaram a ser um doe baluartes da reforma catolica. Mas, em 1598, Filipe II faz deles urn esrado autonomo, confiado a arquiduques. Quer dependente de Madrid quer, mais tarde, de viena, a futura Belgica, fortalecida pelas tradkees e hitos provenientes da sua prosperidade medieval, constitui it uma unidade A parte. Tambem a Sult;a confirmou a sua originalidade, quase atmgindo, a partir do fim do secuto XV, as fronteiras actuaia Os sew scldadoe nzeram tremer a Europa no tempo de Carlos, 0 Temerario s. A Sufca foi urn des centres da Refonna. A paz ca vestefalla separa-ta-a ofidalmente do Im perio. P_a_~--!!_'!.~_N~JL..!--.1~--.Son!in '!8_di~ll.....&W1iriIl....JlQLYQlta de 15~..L.~~~R..~ em lI1gUDS. aspectos de ponncpOf.......\l"s__f!.I!..I!.teirns que h*. -de conservar ate A c.ampanha _de Bona,NJ1e em 17~ Depcis da paz de Lodi" (r~ci'1ou:seum·-equllJl,rio-jt.;li~o que ja enta~ prefigurava 0 equilfbrio europeu do s6culo XVll ao sleulo XIX. Cinco estados mais jm_ portantcs....Q.ll~~~. ()~!~ 5!=:, d~tl!~.!D: 0 du.cado..d.c M),liQ".a Rell~~(jca de Vene~dL!_()~~!!a (feila gfao-ducado em 1569 em proveito dos M&lids); os do_~os !emporais do papa e 0 reino de N6.po!~. A Espanha domina 11 . ' _~_ ~., __ ":'",,:.~,~._- -"".. ..~- ..... .,. .......xt..w:r'i""""~~-,· --~..,-~' ,- :-"".::,,~, ..-------.:oII;,.~.:.:".:eH;;. .... -;;. ',,;',;,,_•.J. loe j"'tkd' t±·,"'it....."'---'--""'-....."',"",.. tntd;Wt6iftt'A>H _., r· , L , I o primeiro e 0 ultimo destes cinco estadoa, de modo Que a liberdade de accao des Quiros tres. c. com mais forte razac, dee pequenos pond padcs, esHI. muito Iimitada. veneza suporta com humnr este protectorado d05 Habsburgos, mas preccupa-se gravemenle com a ameaca otomana. Durante a guerra de 1469-1479, teve de ceder aos Turcos 0 Negruponto, vanes ilhas do Mar Egeu e hastantes ponlos de apoio na Moreia e no Epiro. Em 1571 _ no pr6prio ano da vit6ria de Lepanto -, veneza sat de Chipre. Entendeu hastante cedo a gravidade do perigo otnmano e pro curou soluCOes de compensacao. A grande expans3.o veneziana na Terra Finne data dQ principia do seculo XV; Vicenza e Verona foram anexa das em 1406, Udine em 1421, Brescia e Bergamo em 1428. Mas 0 que e Veneza _ e, mais, 0 que e Genova, privada das feitorias orientais 34 "' • ".~,._"'. .~ ......__,._~, 'k1l!'\W" ·pt'Wltfher .......... ..... . . ..... '\ iWhW· t . J. A FRANCA EM /328, 1360 1]/J0 E 1429. (S"s""do J. Le Goff, Le Moyen Age.) no tempo da preponderancia espanhola? No mapa, muho pouco. Mas, no plano da civihzacllo, 0 papel da Italia continua a ser muito importante, mesmo ainda em 1620. Na verdade, a Italia dominou - e muito - os tres seculos que van de Dante a Gafileu. Na peninsula, os estados mais importantes nao sao, Ioreosamente, os mais brilhantes. Urbino foi a Ate nas do seculo XV e Ferrara - foi urn cos maiores focos do Renascimenro. Do lado de Iii dn Adrililico_,~(!l 0 muodo olomano, ~p!!'hado por tres cootmentes, de Buda a Bagdade, do Nilo a Crimeia, estendendo mes'tiID a sua d~mmar;:iio a uma parte do Norte de Africa. A cooquista de 9}ns!I:l.!l_~.PJtl.a..--'1453), 0 fim do pequeno imperio grego de Trebi zenda (1461), ~~~~o _~~}.£~2•.i!ID), a ocupacao de Belgrado (152l), a derrota infligida em K'iobacs 0526) aos cavaleims hungaros e ao seu rei Luis, que la ficou morto, a metodfca anexacao das Hhas do Egeu entre 1462 (Lesbos) e 1571 (Chipre) f~e.r~l!!-.4Q.jl.lltA9.uro.D.~e;w~i,,_~~"A.J.I8.\!lito muculrnano ..~9. mesma._1emPO.sucessor de Mao::nt, «servidor das cidades sanras». Na Europa e senhor dos Balcas, a sui do Save e do Danubio, e da maior parte da Hungria. A Transilvama, a Moldavia e a valaquia pagam-Ihe trtbuto. Em 1480, uma rorca turca desembarcara em Otranto. Esquec~-se muitil:LYm~....9!!~JLbrilhim.I&.J~_do .Rer~mento tremeu perante Q. p<;riK<!.J.\lt~Q..e".Qll~_.o apogeu..dos...alOllWW.~aemJl],no secuJ£~~.JQR--S9.l!J;q~o,~Q...M.agnifil:o,"',j~~.~,¥.».Os corsarlos turcos e barbarescos coctiuuaram, mesmo depois de Lepanto, a visitar as costas tirrenas. Lela-se 0 Didrio de Montaigne durante a sua viagem pela Italia em 1581. Falaodo da regiao de Ostia, diz ele: «Os Papas, e em especial este (Gregorio XIII -), fizeram erguer nesta costa maritima grandes lor res, ou atalaias, a cerca de uma milha umas das outras, para prover as arremetidas que os Turcos aqui faziam frequentemente, ate no tempo das vindinras. a fim de tomar gados e homens. Com estes torres, que estao a urn tiro de canhac entre si, vao transmitindo os avlsos com t30 grande rapidez que 0 alarme depressa voa ate Romas. Os Jagel6es -, soberanos da Polonia e da Lituania reunidas entre 1386 e 1572, nem sempre forum Ielizes nos seus esrorcos de reststencia aos Turcos: em 1444, Ladislau III foi derrotado per eles em Varna; no infcio do seculo XVI, foi torccso entregar-lhes a Moldavia e a Bucovina. Mas os reis da Pol6nia reinam, no seculoXVI, sobre urn vasto territ6rio - demasiado vasto -, sem defesas naturals, que vai de Poznan ao baixo Dniepre e das frontciras da Transilvania it actual Estonia. Houve uma idilde de ouro polaca na epoca do Renascimenlo, especialmente sob Segis mundo I, que reinou de 1506 a 1548. Sua esposa era uma Sforza e a COrle real era urn foco de humanismo. Mas, depois da extlncao da dines tia des Jagelces e do reinado de Bstevac Bl1thory (1576·1586), 0 pais, a cujos destinos preside agora urn ramo da famflia Vasa·, encaminha-se para diJjculdades cada vez maio res. A indisciplina da nobreza combina-.'le com os perigos exteriores. A Pol6nia cstA rodeada de inimigos: Turcos, Suecns, Moscoviw. 35 l "" ">,;;z""j:kJ4¥l!Itio<'iiiiiI&wW oIl*'*"'..·dJa/¥' ......,:& "i ' , -t. as CINCO GRANDIES EST,tDOS ITALIANOS EM /41}4.HU (Segu"do " Delumeau ~ J. Hee". La Fi.D du Moyen Age, lcs XVI' et XVII" REINO DA HUNGRU. • ' <Z!J' COlSElG,t, -..,;.- • (deGht .~" >- ,;.- , -- MAR 71RRBNO ....." ~1t:I.) Em 1523, a guecia, seguindo Gustavo vasa, separou-se da Dina marca. A uniao de Kalmar sempre fora fragi}. Muito mais frAgil foi a uniiio (1592-1595) da Po16nia e da Suecia no tempo de segisroUDdo I Vua. Este rei, cat6lico, feria ~ convic¢es de urns Suecia muito ligada A Reforroa. A1em &550, os dois paises eram rivais no Bftltico. Em 1612, 36 -"~"~'I"!'.~·'uo: ) - .;. • .. ," .-""'¥'Iii'f/\-s'-5* - ..:-:",: ! -'6&.'1 " md fj-'WN&fHli£ithfit---d6hF-'&ttt - '_,,'" t dW,w<),i' GustS'lO Adolfo reina hA ja onze anos, aonhando transformar 0 Baltico Dum $"Iago suecc», e ja tirou aos RUS503 a Ingria e a Cerelia Oriental. No inlclo do seculo XVII, Suecos e Polaeos enfrentam, de facio, uma Russia que se vai afirmandc. Ivan III (1462-1505) cason com a sobrinha do ultimo Besileus. Tomou insignias impertais e ree-se cbamar «autocraras e esenhcre Em 1522, as Russos tiraram SmoJensk a Pojoma. Depois disso, sotrem reveses a oeste mas, aprovenenoo-se da desagregaeao des canatos mong6i:s. ocupam Kazan em 1552 e Astraca em 1554. E a epoca de Ivan IV, 0 Terrfvel (1533~lS84). que, 300 subir ao trono, tcmou 0 tftulo de «czar de todas as Russiass. A sua morte Ioi seguida de perturbar;6es, como tambem 0 foi a morte de BOris Godunov em 1605. Mas, oitn anos depois, Miguel 111 (J6JJ-I645) funda a dinastia dos Rcma nov. Enquanto a Polcnia e a Suecia se viio apagando, e precise contar cada vez mais com a Russia . * No prmctpro do seculo XIV, a Europa em ainda uma nebuloSli de rormae indecisas e de futuro incerto. Em 1620, pelo coorreno, as divisorias pounces do continente aparecem, se nao finnes, pelo menos c1arificadas e consolidadas nas sues grandes linhaa, Apesar do moment<1neo desapa, recimeneo da Pol6nia no final do seculo XVIII, da independencia da Gre cia alguns anos depois e de vanes retoques aqui e atem, 0 mapa da Europa nao ha-de ser em 1850 radicalmenle diferente do que era na ocasiao em que rebentou a Guerra cos Triota Anos. Em resume, a epoca do Renas cimento, quer di2cr, esse grande perfodo de mutal;no que comecou no Ji reinado de Fjlipe Vl de Valois e terminou no de Luis XIII, e aquela em que a Europa se define politicamente, descobrindo, pelo exemplo italiano e pelo jogo da resistenda rrancesa as ambil;Oes doe Habsburgos, a regra de ouro do eQuiLlhrio entre potencies. 0 ideal da unidade eurc peia, reafizada sob a autoridade do imperador, foi substitufdo per uma retacso de rorcas. Dante, em De monarchic, escrevia cerca de 1320: «Onde ja nada mnis hi a desejar nao pode subsistir a cobka. Urna vez destrufdos os oblectos que podemos cobiear, desaparecem tambem oa mcvimentos que com eles se relacionam, Ora 0 Monarca (e assim que Dante designa 0 eimperador da terra»j nada tern a deseja-, pais a sua jurisdilj:ii.o .'16 e limitada pelo oeeano, 0 que nao e 0 caso dos outros principes, culos senhorios cordi nam com outros senhorios, como, per exemplo, 0 reino de Castela conflea com 0 rcino de Aragao. 0 Monarca e, pols, entre todos os mortais, aquele que maie sincemmente pede estar submetido A jusliCa-. Mas, no meio do seculo XVI, 0 ingles John Cork, retomando as f6nnulas dos jurist~ de Filipe, 0 Bela, dizia orgu]hosamente: ll"Todas ns nal;oes sabem que 0 muito poderoso rei de Inglaterra e imperador no seu pr6prio reino e nao depende de ninguem». Ser «imperador no .'leu pr6prio reino» queria dizer 37 L __ ..,----- que se repudiava, no fundo, a hierarquia feudal, que noutros tempos dis tinguia suseranos e v.assalos, sendc 0 imperador 0 suscrano des suseranos A Guerra dQS cern ADos ...eio provar que 0 sistema feudal nao se adaP tava jA a rcalidade. No momenla em que Eduardo Ill, em 1337. diri giu 0 desafio a Pilipe VI. seu suserano pela Guiana e pelo poothieu, queria, principalmente, sublrair os seus domlnios continenLais a todo e qualquer race de dependencla. De facto, DO rratado de Bretigny lI360), loao 0 Bom .., prisionciro, teve de ceder ao seu antigo vassalo, em total prop~iedade _ e, portanto, sem homenagem -, quase todo 0 Sudoeste da pranca. Nao rnenos significativo e 0 rrarado de Arras, ccnciufdo em 1435 entre Carlo~ VH" e Pilipe, 0 Born, duque da Borgonha. Este aceitava abandoner a ahanca inglesa e, em rroca, Carlos Vll dava-Ibe variaa le, ecidades reais». em especial no Somme, e diepensava-v- vitaliClamen de toda e qualquer horaenageru ao rei de Franca. como e que, em tais condtcoes, poderia 0 imperador conservar auto ndade efecliva sobre os sooeranos da Europa'! Claro que 0 mito imperial nnha mona forca e continuava a inquielar os espirilm. Francisco I e Carlos de Espanh,l foram concorrentes na ramose eleio;:lo de 1519. }'{a realidade.l-£ar!<1i-Y~_J.!IDl;I~Y!LjL .s~u.,j'l(l4_I!,:.4, nio. UP. _tit \llode ,im~radormaSIiQ~faeu;:'J1e..ser ..secbor..~ctivo de _i.mportaILtes -t.eJrHQriQs. ~.~tlO'i:19res .j, ~ A~rceb«1J~se. a .partir de 1522, de ser dific~~overnar ao mesm leIUPD. 0 centre e o. ~ da Europa e cedeu a seu irrnao' Fernando o.os territarios austriacoii. da casa dos Habsburgos. Em 1556, desmoraIizado por nao ter conseguido sequer conse:rvar a unidade religiosa da Alemanha, partilhou os seus dominios, dei,;ando a Fernando a Europa central e a coroa imperial e a Filipe II a E:ipanha, os Paises Baixos, 0 Franco _Condado, as POSSe&'ioes italianas e a America. Conjunlo ainda demasiado vasto para poder durar muito. 0 futuro pertencia, de facto, as conslruo;:6es territorJilis baseadas num autentico sentimenlo nacionaL Evidcntemenle que nem todas as colectividades nacionais conscgui ram vinl:ar no final da ldade Media e no inicio d~ tempos modernos. HA insuce~',IJs a registar, especialmente naquela parte do territ6rio que a vaga otom cobriu. Ai, as populao;:6e.s clobraram-se sobre si prQprias e espe raram, ana mais ou menos silenciosamente, por mdhores tempos. No que a Botmia diz respeito, este esquema e roais matizado. A Boemia e5CapoU a ocupao;:iiO lurca. A identidade national comeo;:ou a afirmar-se no tempo de earliJS IV, 0 benfeitor de Praga, e ainda mais se afirmou na epoca de Joao Hus:s, que pregava em checo e contribuiu para a eMJulsao (1409) dos Alermles da Universidade da capital. As guerras hU5silas do stXuJo XV tiveram leeS aspeclos: religioso. social e nacional. No principio do se '!- culo XVlJ, 0 reino da Boemia, tendo na sua maior parle adoptado a Re forma, gozava de urn lugar privilegiado no coniunlo de lerrlt6rios gover naJo, pelos Habsburgos na Europa cenlral; e 0 soberano gostava de resi dir em Praga. A brutal politica religiosa de Fernando n. a revolta checa que elaprovocou (1618), 0 esmagamento BOs Checos na Montanha Branca 38 ,. ""'''''''''7'''1,,",1» }lPO ••,.,. "'"' 4=_. Wi;;; i,e §K'''''''' (620) e a repressao que se Jhe seguiu causaram urn eclipse dosennmeme national da Boemia, onde a corte deixou de ser elecuva. E certo que (.I reino conservou, teoricamenle, a independencia; Praga, principalmente. transformou-se, all. epoca da reforma catolica, nJJIlJa cidade uarroca culos rnonumentos conservam emocicnante beleza. Bstabeleceu-se uma especie de colaboracao entre as camadas de elite checa e germanica, de tal modo que e hlstoricamente Jatso falar-se, quanto aos secures XVII e XVlll, de «ocupacao aterna» do pais. Mas a accao de rcao Huss • e a repreSSao que veio depois da derrota da Montanba Branca tinham deixado recorda~5es bastantes para se poder dar depois a rcoovacao nacional do seculo XIX. em boa verdade, na Europa do Renascimento, Iorurn mais os exitos de expansao nacional que os fracassos, quer nos paises ccidentais quer na Russia ou na Suecia. Obk£~.r:!~~;'...JQda.'ci<l...o .. caso da. ltAlia.· Uaquiavel, 00 Prmcipe (1516), damou e!Ilj;ij9 pelo !!oificadoi: que wobjljzassl!,:. esenergias naco, nals·' e-',ii-;lutinasse.0 J2ais. Efectivamcnt~,!l_. t~lia., _~nb.e.l;.eJ!,---j!JlartiLdos fiiiii"iJ6-secuio' XV;-nios6-0-vaiv~m:ma:l~ '.O"Q.ue, emaa gra..ve~.~. insta_ lacao de exercncs eStni.n!!~i~o;"~ di~~ Iocais. Em 1494, Carlos-VIII passou os Alpes e, «novo Ciro», entrou triunfante em Milao, em Parma, em Florenca, em Roma c no SuI. Fez-se coroar «rei de Napoles, da Sicilia e de Jerusalem». Mas, meses depots, os prtncipes de Italia e de ourros parses coligaram-se conlra ele. Cados Vlll teve muita sorte ao conseguir. em Fornua (Julho de 1495), a custa dc violenta batalha, abrir cammho de regr~ a Fran~a. E apesar disso ja em 1499 Luis XII· mandava outra vez. 0 cxercito frances para ltAlia. As for~as francesas ocUparaOi Milao, cujo duque, Ludovico, 0 Mouro·, foi preso e deportado para Loches, onde morreu. Senhor de Genova e da Lombardia, 0 rei de FranIOa e~magou os Venezianos em 1509 em Agnadeilo. E facto quc, cinco anos anres, tjvera de abandonar 0 sonho de Carlos Vlli c deixar 0 reino de Napoles a Fernando de Aragao·. Em 1512, a «Sanla LigaQ, quc Julio II·, ja reconciliado com os Venezianos, tinha erguido, expulsava de Milao os Francescs dpesar da vitoria sem futuro de Gaston de Foix em Ravena. Os reis de Fran~a teimaram nas ambi~ocs sobre Italia. 0 ana de 1515 viu com~ar 0 reinade de Francisco [ com a brilhante vilOria de Marignano. Milao voltou a ser franccsa, mas nlo por muito tempo. Seis anos depois, a cidade fugia 010 Roi Tres Chretien, cujos soldados foram rapidamenle esmagados em Pavia (1525): 8000 Franceses morreram em combale ou ficaram afogados no Tessino; os imperiais perderam apenas 700 homen:s, Com 0 tralado de Madrid (Janeiro de 1526), Francisco I pareceu renunciar A ItAJia. Mas, pouCQs mcscs passados, criava COntra Carlos V a Liga de Cognac e aproximava-se do Papa. 0 saque de Roma provocou nova Olrremetida francesa - a de Laulrec - na Lombardia e em direco;:ao a Napoles: novo fracasso, sancionado pela paz de Cambrai (l529). Em 1535, porem, morreu 0 ultimo duque Sforza·, que sO nomi nalmente governava 0 Milanes, e cste passou para 0 domfnio directo de 39 ... --1 j Carlos V. A modo de protesto, c para ter LIma base dcnde pudesse partir para ruturae tncursees no Sui, Francisco I manccu em 1536 ocepar a Sabola e 0 Pie monte. onde as tropes rrenceses iicaram durante rnais de vinte aeos. Francisco 1 linda em 1542 pcnsava em retornar Mili\o. Sob Henrique II ., os soldados do rei de Franca guerrearam multas vezes em Italia, Em 1551 lutavam contra Julio Ill· na regjao de Parma e de Mirandola. No ano seguinte, Siena revoltou-se contra os do Imperio aos gruos de Francia, Franc/a! E, em 1557, Francisco de Guise, cnamscc peJo Papa Paulo I V • - ameecacc pdDII Espanhcis -r-, apareceu em Roma e renton, sem resulrado, uma «ultima viagem a Napoles». A paz de Cateau-Cambresis pes rim as cavalgadas rrancesas, mas nao acabou com a presenva de tropes esrrangeiras em solo italianc, pois os Bspanhoie, que ali tinbam chegado em 1504, ficaram ainda per mats de dais seculos. Desk modo, a peninsula leve de sofre r, eo secujo XVI, a passagem e a pesada pre.ell>;il de soldados Iranceses, sujcos, atemaes e espanh6is. Assistiu, impctente, ao saquc de Roma em 1527, Ccrnandadas por urn trances, as tropes imperiais - au seia, lausquenetes alemiles, muitoe deles luteranos, Espanhois e ate Itajianos - tiveram enuto 0 sadtco prazer de pilhar, violar e avntar uma ctdade que era consuferada a «Batli/ooja modernas mas que toda a Europa invcjava, A Halia, porem, olio perdeu alento. Nessa epees, apesar de Maquiave), nao aspirava a unidade polftica mas tinha consciencia da sua unidade espintual e sabia que os Alpes eram a sua frcnteira natural. Julio n expr irnia os senumentos dos seus ccmpatrinras ao distlnguir os Italianos des «Barhamn que convmha expulsar. Meio seculo depcis, tambem Paulo IV se esfcrcou per «libertar a Italia des exercuos cstrangeirosa 1::!~s lent.:lthas falharOIl1. :Mas os E1;panJJ6is (laO coeseguiram, e nem sequcr tentaram, assimilar 0 Milafles. (J reino de Napoles e a Sicflia- que coaservararn a lingua, 0 parrimonio cultural c a mdiviuualldade que !hes eram prOprios. Ou nao e com excessiva preesa Que se Iala da eltalia espanhclae dos secures XVI e XVII? A realidade e muitc mais compnceda, prmcipairnerue quando pen samcs que Rome, Veneza e Floren~a c:ontinuaram illdepcndellles, m~mo lendo de contar, no plano das reJa,6es exteriores, com 0 poder espanhul. Foi por isso que a me e v cspirito italianos puderam continuar a expan dir_se Iivremente nesses lees baluartes da civili:zacao ocidenlal. Seria por acaso que tantos arlislas lombardos vinham instalar-se em ROlna na ~egu[lda metllde do s«ulo XV[? a novo esplendor e a crescente irradia .,;ao emanada da Cidade Etema na epoca da rdorma cal61ica e num momenlo em que os papilll, ~pecUtIIDente Siirto V (1585-1590), procum vam rdorcar a liberdade de aCl;aO da Santa se e do Estado edesiastico, testemunham que a Ihilia tinha oonservado 0 essencial do seu genio e l:ont.inuavll fiel ao grande passado que noutros tempos a colocou a cabelj:a do mundo. Dividida, manttnha uma coerenc:ia interna que nl.lfica h<.tuvc:: na heter6clita rc~niao de lerrit6dos que a FiJipe 11· ohedecia. Tarnbem a Alemanha, iragmenJada, cntregue it guerra civil, conservava fronteil'3S • 0 ,."-",",.~."~.",,.......~,.-, ""''''''''''''''''''-P,'~..,RJj41.\ ." ,;,1..0'''''' 1.Q, 4.$2!;ZP;,k"04¥..J£$jj$L_~ '.""" Qitf'nWt Tit1:zrf('mn,( Yt'xf<r,tt Ov 'tTwnrr'.,-*±irftrt.u' relalivamente e~tl':veis que rrcteseram urn capital cultural e urea esp~cie de conscienda colecliva testemunbecos per Lutem COm eoqusncta. Niio sera a falta de uma tal consci!lll.:ia l:oJectiva, tao Iortemente desenvolvida nos Coniederados 5Uk:o!, cue explka em profundidade 0 _ Liorlte do S8lll<> Inpt'n" ~ PtlsseSll6es do Duqlle de Bo~hl ~JID advano de Fllipe+hn. (1419) mm4~~s de Pllipe+&mfl'i!if& (1419.1467) 5!m!IAql4is~ de (&rIo5wwa -o-Temmm (1467-1477) ~TerritOr»s l\1blJle1idos! It& iDrh~lIda da BorRonh; q'" o f$ ,: \' ~~ ~ .. _._,_.__ ;r. ·.~HU~ ........ € ~d , • > ~ • o , ~ ~ '"., o '. 5. 0 PODEIUO IJA. BORGONIfA. NO SECULO XY. n L nacassc da nova LoIaTingia que os duques da Borgonha • quiseTam erguer no rim do secuto XIV e no seculo XV? Bxtraindo as consequencias das sncessivas amplia\Oes do dominio hurguinhao e Iiel 11. linha polilica de Filipe, 0 80m, Carlos, 0 'temerano (l467-1477) qurs, 0.0 ocupar a Atsacia, a Lorena e a Champagne, juntar as sues possess6es do norte as do sul e renner tim bloco imico, do Zuiderzee a Macoll e a Basileia. Luis XI· e os Sllfl;os encarregaram-se de lho vedar. Mas, seja como for, essa cons rrucao territorial uemasiado apressada podia patecer artificial. Os habi tanres des Pafses Baixcs nunca se unham sentido cburguinhoes»:pro vam-no as repetidas revouas de Liege, Bruges c Ganci contra Pilipe, 0 Born, contra Carlos, 0 'remerano, contra Fijipe, 0 Belo e contra carlos V. o Iracasso de tal consrrucnc deixava pressagiar 0 futuro desmembramento do uuperio curopeu do. Espanha. As perturba\Ot:s verificadas a partir de 1560 nos Paises Baixos uveram, sem duvida, mouvos rehgiosos; mas 0 atraso dos Estados Gerais, por obra dos ministros de Piiipe II, e a Itostilidade para com os mihtares espanhcis explicam tamb(:m, em parte, a revolta da Plandres. Se, pelo eontrano, os diversos territories dados pela partrlha de 1556 aos Habsbnrgos de Viena vieram a constituir, durante varies seculos, urn agrupamenlo relalivamenle solido, foi porque no seu centro havia unl forte nueleo Que se esfor\ou por germanizar as regiOes perifericas. Tao revelndor como 0 afundamenlo do. nova Lotaringia do s~culo XV t 0 do. monarquia franco-inglesa, que nao p6de nascer do. Guerra dos Cem Anos, Em 1337, .Eduan.lo III, que tinha no continente a Guinea e 0 Ponthieu, nao conteote com desafiar 0 seu suserano, Filipe VI, conlestou -Jhe a coraa de Fran<;a e rcdamou-a para SI. t: verdade que, no Tralado de Bret.igny, de 1360, Eduardo HI renunciou a essa coroa, mas Joao-o Born deu-Ihe peTto de urn ter~ da Fran\a. Sessenta anus mals tarde. 0 Tratado de Troyes deserdava 0 delfim Cados -0 futuro Carlos VIl e dava em casamento, 0.0 filho de Henrique V, Catarina, filha de car los VI·. t'odia-sc ler (\0 texlo do tratado: ~A~ duas coroas, de Fran<;a e de Inglaterra, ficario juntas para sempre e pertencerao a mesma pessoa, a saber: nosso filho, 0 rei HenriQue, enQuanlo ele viver, e, depois dele, aos se.lI~ herdeiroslI, Mas, em 1453, os ingleses ja 56 tinham Calais. * ~C.~I~£ao .d2~J~~.!£~'i_~2~..s..!a!_e!!.a e~nse9!lenc.jl!dQ_.!lt:KIlYDI. '!tIE~I}.~Q......~m-_T~a.-,.de UlIl.a _~Q~~i~j(e-coJlscle'l9~L().actonaI, ..da._quaL Joana de Arc foi comoventl: e-nobre.intt[]llt1l:... Joana eserevia em 1429 0.0 duque de' Bedford:' «Dai a Doozela, aqui envia'da por Deus, Rei do Ceu, as chaves de todas as boas cidades que: teodes tornado e violado em Fran\a. Eu vim aqd da parte de Deus, Rei do Ceu, para os escor· ra\ar para fora de toda a Fran\a... E nao julgueis que mais alguma vel tereis de DeliS 0 reino de Fran.;a.~ 42 _""~"'""",,"~,_.,..< ~>~!""'Ii\~."._r~.;_ .''"'*'' ,'*Vi84iij:,"".. iWZtffW snM'··C".t"tfe nWe t ; ""e 'k t' '-- ,,~":",'leu' .... -, ';'-+ 'iri'tMiEti!ttiWi'MtiiPh '_ Iogteses e Francese$. estavam, de facto, a descobrir tude aquilo que os separava. 0 dito acerca do. efalsidades dos Ingleses parece ter nasctdo no seculo XIV E foram-Ihes ainda encoorrados outros deteuos. Jean Le Bel, conego de Liege (1290-1369), que de resto era revoravel a Eduardo Ill, nao hesitava em julgar os Jnateses «commumente invejoSQs de todos OS esl,rangeiros, quando estes lhea estiio acima, mesmo oos seus paJses... A inveja alnda nao rot morta ern Ingjaierras Cerra de 1450, rot escrito por urn frances 0 Debat des heraurs d'armes de France et d'Ang/elerre, em que os senlimenlos anti-ingleses, acumutados ao Iongo do. Guerra dos Cern Anos, nnharn redea solta: «A sombra da divisiio da Franca, rendes pilhado e perturbado este reino e fizestes inumercs males». Acusacao esta de que se faz eco 0 Livre de fa description des povs, de Gilles Le BOUVier, escrirc na mesma epoca: eEssa nao;ao (a Inglalerra) tern gentes creels e gentes sanguinarias.. E fazcm guerra a todos os povos do mundo, tanto no mar como em terra». Tambem sao cupidos, mas habeis roercadores. «Tudo aqu:lo que ganham nos paises estranhos onde vao, enviam-no para 0 seu reino. E e per isso que este e rices. No ja cnacc Dibal, cada urn des dois arautos husca os motives do. supenoridade do seu pais. 0 da Franl;a invoca a geografia e 0 clima e deelara ao seu rival Ingles: KO reino de rranp esta muito mals bern situado que 0 vosso, pols esta entre as regl5es quentes e as regi6es frias; as quenles, que estao para la dos monIes, sao dificcis de suportar. pelos geandes e eitcessivos carores; e as frias, em que vos estais, sao muito nocivas ao corpo humano, pois 0 Inverno come.;a Iii tao cedo e dura tanto lempo, que as pes~oas vivem a sofrer de frio e nao pode la crescer qua~e nenhllm fWlo, e 0 que cresce e mal formado e mal amadurecido. Mas em Fran\a, que esla eutrc ambas, e no meio e onde repousa a virtude. e onde 0 aT e doee e agrad:i.ve/; e lodos os frutos Ii crescem abundantem~nte e sao virtuosos e deliciosos, e as pessoas vivem alegremente e com mode ra\30, ~em demasiado calor nem demasiado Frio". Como es(amos longe do seculo II, quando a Inglaterra parecia aos lelrados do Ocidente uma lIAtria comum! Urn monge, Richard de Cluny, morto em .1188, nao Iinba pa.la veas 'ufjeientemente elogiosas para a lnglaterra, em cuia homa escreveu um poema latino: [l1g/a/erra, gleba fecunda, recanto fhlii do mundo... [n/?lalerra, pais dM iogM. povo livre, nascido para a folia, Pais (JJ?raddvel, que digo?, pars que e s6 alegria, Que muLtI deve GOs Gau/eres, mas a quem II GdJia deve l'udo 0 auf' ndn no de calf)'ante e de {lmtJrtivel, Ao Dp!>rzl, cornrosto por urn frances em meados do seculo XV, res ponde, cern anos depois, 0 Debale between the heralds of Engl(Uld ami France de John Coke. 0 aulor insular elogia, naluralmente, pela boca do seu arauto, 0 que h.:i de agradavel, de valoroso e de rico em Inglaterra. 4J T P •.• ", Dona Prudencla, encarregada de ajuizar, nao pede deixar de se prcnun cjar comra a Franca: «A minba sentence e que 0 reino de jnglaterre devera sec conduzido para junio da Hcnra, de preferencla A prance. e tomar Iugar a sua rlirerta; que vos, senhor araurc da Franca, em rcdas as assembleia!i ondc ncnra se deva mosrrar, rcconhecais para sempre 0 vosso dever dando 0 Iugar ao arauro da Inglaterra.» No rim do seculo XVI, 0 orgulbo nacional ingJes viria a lee em Shakespeare urn vale genial. Em Ricardo II (cerca de 1595), Jcao de Gand, antes de morrer, exaua a Inglaterra: cBle augusto irono de refs, esta llha porta-ceptro, esra terra de majestade, estc a5senW de Marte, este segundo Eden, este semiparaiso. esra rortalem construida para se defender da tnvasao e das proezas da guerra, esta feliz raca dc hcrnens, esrc pequenc universe, esta pedra preciosa enga~lada num mar de pruta que a defendc como urna rnuralha, ou como 0 rossc protector de urn easteto, contra a inveja dos parses menos felizes .. ,», lsto e depois da derrota da InvendvcJ Armada! ,0 que temos de coDlpreender que estA por tras das..inj~!:ji!sJ.c!;,tL~ba- ne ro~~e das ~lP~r~~t,Ji_C:_Q~cienw de"'S{to ((os outrns. a 03 Cpoca do Renasdmento, sqrg~_J\~ ma~oriadQS.PQ:Vos.,.l:.UtOp""'S-Sabem jtt que sacnlil'erentes. Os Francescs tern reputacao de jevianos, fervenles, incons' tantes. No seculo XIV, Jean Le Bel asse"'era: «:, •• sempre prometerarn e scmpre cumpriram mal». Duzento, anos depOlS, 0 embaixador veneziano Marcanlonio Barbaro ddine-os assim: (Os Franceses sao naluralmenle brioso.'i e orgulhosos. muito audazes nas ac~Oes de guerra; por isso 0 seu primeiro emhate e muito difieil de aguentar ... Nos seus exercitos hi\. rnuilO entusiasmo e pouca ordem. Se pudessem dominar 0 seu ardor, os Fran ceses seriam invendveis.; mas a sua falta de ordem provem de 'lhes ser imposslvei suponar por muito tcmpo as fadigas e os inc6modos~. No sell Livre de la description des JXJYS, Gilles le Bouvier esforca-se por caraclerizar povos, na¢CS e provincias. Os Sui~os sao dados como {(genIe cruel e rude». Quanto aos Escandinavos e aos Polacos, diz ele que saO ,gente~ terriveis e furiosas, gentes sanguinarias que ferem antes ainda daquel que estao cheios de vinho~. Os Sicilianos sao ,grandrs crisHios es e muito ciurnentos das suas mulheres», os Napolitano! .gente grosseira e rude. maus cat6licos e grandcs pecadorcs». Os Caste/hanos
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