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1 INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA – TEXTO 2 Hock, R. R. (1995) Forty studies that changed Psychology: Explorations into history of psychological research. New Jersey: Prentice Hall, Englewood Cliffs. VOCÊ ESTÁ FICANDO DEFENSIVO NOVAMENTE! Freud, Anna (1946). O ego e os mecanismos de defesa. Nova Iorque: International University Press. Em um livro sobre a história da pesquisa que vem mudando a Psicologia, há uma figura proeminente, que seria extremamente difícil omitir: Sigmund Freud (1856-1939). É muito pouco provável que a Psicologia existisse hoje, do modo que existe, a despeito de suas formas variadas e complexas, sem as contribuições de Freud. Ele foi amplamente responsável por elevar nossas interpretações do comportamento humano (especialmente do comportamento anormal) do nível de superstições sobre possessões demoníacas e espíritos diabólicos, para as idéias racionais de razão e ciência. Assim, este livro seria incompleto sem um exame de sua obra. Agora, você pode estar se perguntando, se Sigmund Freud é tão importante, por que este capítulo trata de um livro escrito por sua filha, Anna Freud? Bem, há uma boa razão para a escolha do material para este capítulo, que será explicada a seguir. Embora Sigmund Freud faça parte integrante da história da Psicologia e seja, portanto, uma parte necessária deste livro, a tarefa de incluir sua pesquisa aqui, juntamente com a de todos os outros pesquisadores, era muito difícil. A razão para esta dificuldade é que Freud não chegou às suas descobertas por meio de uma metodologia científica claramente definida. Não foi possível escolher um único artigo, ou uma série de experimentos que representassem seu trabalho, como foi feito com outros pesquisadores neste livro. As teorias de Freud foram desenvolvidas a partir de observações cuidadosas de seus pacientes, ao longo de décadas de análises clínicas. Em consequência disso, seus textos foram abundantes, para dizer o mínimo. A tradução inglesa de suas obras completas, The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud (Londres: Hogarth Press, 1953 a 1974), totaliza 24 volumes! Obviamente, só seria possível discutir uma parte muito pequena de seu trabalho neste curto capítulo. 2 Ao escolher o que incluir aqui, considerei os aspectos das teorias de Freud que resistiram relativamente incólumes ao teste do tempo. Ao longo do século passado, as idéias de Freud tem sido alvo de uma grande quantidade de críticas e, especialmente nos últimos 40 anos, seu trabalho tem sido seriamente questionado a partir de uma perspectiva científica. Os críticos têm argumentado que muitas de suas teorias não podem ser testadas cientificamente, ou que, quando testadas, se mostram geralmente pouco confiáveis. Por isso, embora poucos duvidem da importância histórica de Freud, muitas de suas teorias sobre a estrutura da personalidade, sobre o desenvolvimento da personalidade através dos estágios psicosexuais, e sobre as fontes dos problemas psicológicos das pessoas, têm sido rejeitadas pela maioria dos psicólogos da atualidade. No entanto, alguns aspectos de seu trabalho têm recebido “revisões” mais positivas ao longo dos anos e atualmente usufruem de uma aceitação relativamente ampla. Um destes aspectos é o seu conceito de “mecanismos de defesa”. Trata-se de instrumentos de que o seu ego se utiliza para protegê-lo de sua própria ansiedade auto-criada. Este elemento do trabalho de Freud foi selecionado para representá-lo neste livro. A referência utilizada no início deste capítulo é de Anna, e não de Sigmund Freud, porque sua descoberta desses mecanismos de defesa ocorreu gradualmente, ao longo de mais de 30 anos, à medida que crescia sua experiência em lidar com problemas psicológicos. Uma discussão coesa desse tópico não aparece em qualquer um dos muitos volumes de Sigmund Freud. De fato, ele passou esta tarefa à sua filha, que foi uma importante psicanalista, especializada em crianças. Freud reconheceu este fato em 1936, antes da publicação, em alemão, do livro de Anna, O ego e os mecanismos de defesa: “Há uma grande quantidade de métodos (ou mecanismos, como os chamamos) usados pelo ego no desempenho de suas funções defensivas. Minha filha, a analista de crianças, está escrevendo um livro sobre eles.” (S. Freud, 1936). Uma vez que foi Anna Freud quem sintetizou as teorias de seu pai sobre os mecanismos de defesa, em um único trabalho, seu livro foi escolhido para nossa discussão sobre o trabalho de Sigmund Freud. PROPOSIÇÕES TEÓRICAS Para examinar a noção de mecanismos de defesa de Freud é necessário explicar resumidamente sua teoria sobre a estrutura da personalidade. Freud propôs que a personalidade é constituída por três componentes: o id, o ego e o superego. O id consiste de necessidades biológicas básicas, como a fome, a sede, e os impulsos sexuais. Sempre que estas necessidades deixam de ser atendidas, o id gera uma forte motivação para que a pessoa encontre uma maneira de satisfazê-las, e que o faça imediatamente! O id opera com base no que Freud denominou de “princípio do prazer” e exige 3 gratificação instantânea de todos os desejos, a despeito da razão, da lógica, de segurança ou da moralidade. Freud acreditava que existem necessidades instintivas (especialmente sexuais) obscuras, anti-sociais e perigosas, presentes no id de toda pessoa, que buscam constantemente por uma oportunidade de expressão. Geralmente você não está muito “consciente” disso, porque o id opera no nível inconsciente. No entanto, se você tivesse apenas o id e não tivesse os outros componentes de sua personalidade, seu comportamento seria amoral, chocantemente desviante, e poderia mesmo ser fatal, para você e para os outros. A razão pela qual você não se comporta dessas maneiras perigosas e desviantes é que o seu ego e o superego se desenvolvem para colocar limites e controle sobre os impulsos de seu id. De acordo com Freud, o ego opera com base no “princípio da realidade”, o que significa que ele está atento ao mundo real e às consequências do comportamento. O ego é consciente e sua tarefa é satisfazer às necessidades do seu id, mas empregando meios que sejam racionais, socialmente aceitáveis, e razoavelmente seguros. Por outro lado, o ego também tem limites, impostos pelo superego. Seu superego requer, em essência, que as soluções encontradas pelo ego, para as necessidades do id, sejam morais e éticas, de acordo com seu próprio conjunto internalizado de regras sobre o que é bom e o que é mau (ou sobre o certo e o errado). Estas regras foram instiladas em você por seus pais e se você as viola com seu comportamento, seu superego pune você com um instrumento muito poderoso de que dispõe: a culpa. Você reconhece isto? É o que se chama, geralmente, de consciência. Freud acreditava que o superego opera tanto no nível consciente como no nível inconsciente. Assim, o conceito de Freud era o de uma personalidade dinâmica, em que o ego está constantemente tentando balancear as necessidades e urgências do id, com as exigências morais do superego, na determinação de seu comportamento. Eis um exemplo de como isto pode funcionar. Imagine um adolescente de 16 anos andando de patins por uma rua de uma pequena cidade. São 10:00 horas da noite, e ele está indo para casa. De repente, ele se dá conta de que está com fome. Ele passa por uma lanchonete e vê sanduíches na vitrine, mas a lanchonete está fechada. Seu id pode lhe dizer: “Ei, veja! comida! Quebre o vidro e pegue um sanduíche” (Lembre-se, o id busca satisfação imediata, sem considerar as consequências). O garoto provavelmente não se conscientizaria da sugestão do id, porque ela ocorreria em um nível abaixo da consciência. O ego, no entanto, a “ouviria” e, uma vez que seu papel é o de proteger o garoto de perigos, provavelmente responderia:“Não, isto seria perigoso. Vamos dar a volta, entrar pelos fundos da lanchonete e então ver se dá para pegar alguma comida.” Nesse ponto, o superego, indignado, diria: “Você não pode fazer isto! É imoral, e se você fizer, eu vou te punir!” Então, o ego reconsidera e faz uma nova sugestão que é aceitável tanto para o id como para o superego! “Olha, tem aquela lanchonete que fica aberta a noite toda, a quatro 4 quadras daqui. Vamos até lá comprar um sanduíche.” Esta solução, supondo que o garoto seja psicologicamente saudável, atende à sua consciência e se reflete em seu comportamento. De acordo com Freud, a razão pela qual a maioria das pessoas não se comporta de maneira anti-social ou desviante, reside nesse sistema de checagem e de balanceamento entre os três componentes da personalidade. Mas o que aconteceria se o sistema funcionasse mal - se o balanceamento fosse perdido? Uma maneira pela qual isso poderia acontecer, seria se as demandas do id se tornassem muito fortes para serem controladas adequadmente pelo ego. O que aconteceria se necessidades inaceitáveis do id avançassem na consciência (no que Freud denominou de “pré-consciência”) e começassem a dominar o ego? Freud afirmava que se isto acontece, você experiencia uma condição muito desconfortável, chamada ansiedade. Especificamente, ele a denonominava de ansiedade “flutuante”, porque embora você se sinta ansioso e com medo, você não tem idéia de porque se sente dessa maneira, uma vez que as causas ainda não estão completamente conscientes. Quando este estado de ansiedade ocorre, ele é desconfortável nós ficamos motivados a mudá-lo. Para lidar com ele, o ego se munirá de suas “grandes armas”, chamadas mecanismos de defesa. O propósito dos mecanismos de defesa é impedir que os impulsos proibidos do id entrem na consciência. Se forem bem sucedidos, o desconforto da ansiedade associada com o impulso é aliviado. Você deve estar se perguntando como é que os mecanismos de defesa derrubam a ansiedade. Eles o fazem por meio de auto-engano e da distorção da realidade, de modo que as necessidades do id não tenham que ser reconhecidas. MÉTODO Como mencionado antes, Freud descobriu gradualmente os mecanismos de defesa, ao longo de muitos anos de interações clínicas com seus pacientes. Eles foram compilados e explicados de maneira mais completa no livro de Anna Freud. Deve-se notar que muitos aperfeiçoamentos e refinamentos foram feitos na interpretação dos mecanismos de defesa, desde a morte de Freud e a publicação do livro de Anna. A seção seguinte resume uma seleção de alguns daqueles mecanismos identificados por Sigmund Freud e elaborados por sua filha. RESULTADOS E DISCUSSÃO Anna Freud identificou 10 mecanismos de defesa que haviam sido descritos por seu pai (veja p.44 do livro dela). Cinco dos mecanismos originais que são mais comumente usados e 5 reconhecidos atualmente serão discutidos aqui: repressão, regressão, projeção, formação reativa e sublimação. Tenha em mente que a função primordial dos mecanismos de defesa é alterar a realidade para proteger a pessoa contra a ansiedade. Repressão A repressão é o mecanismo de defesa mais básico e mais comumente empregado. Nos textos mais antigos, Freud empregava os termos repressão e defesa como sinônimos e interpretava a repressão como sendo virtualmente o único mecanismo de defesa. Mais tarde, no entanto, ele reconheceu que a repressão era apenas um dos muitos processos psicológicos disponíveis para proteger a pessoa da ansiedade (p.43). A repressão faz isto forçando os impulsos perturbadores para fora da consciência. Se isto é realizado com sucesso, a ansiedade associada com os impulsos é evitada. Este processo é geralmente referido como “esquecimento motivado”. Na perspectiva de Freud, a repressão geralmente é empregada para defender contra a ansiedade que seria produzida por desejos sexuais inaceitáveis. Por exemplo, uma mulher que tenha sentimentos sexuais em relação a seu pai provavelmente experienciaria uma ansiedade intensa se estes impulsos se tornassem conscientes. Para evitar essa ansiedade, ela pode reprimir seus desejos inaceitáveis, forçando-os completamente para fora de sua consciência (passariam a ser, então, a desejos inconscientes). Isto não significaria o desaparecimento dos impulsos, mas uma vez que estejam reprimidos, eles não podem produzir ansiedade. Você deve estar se perguntando como é que impulsos chegam a ser descobertos, se eles permanecem inconscientes. De acordo com Freud, esses impulsos encobertos podem ser revelados por meio de atos falhos, dos sonhos, ou por meio de várias técnicas empregadas pela psicanálise, tais como a associação livre. Além disso, os desejos reprimidos podem criar problemas psicológicos que são expressos sob a forma de neuroses. Por exemplo, considere novamente a mulher que reprimiu desejos sexuais pelo pai. Ela pode expressar esses impulsos envolvendo-se em sucessivos relacionamentos mal sucedidos com homens, em uma tentativa inconsciente de resolver seus conflitos sobre seu pai. Regressão A regressão é uma defesa empregada pelo ego para se guardar contra a ansiedade, que faz com que a pessoa retorne a um comportamento de um estágio anterior de seu desenvolvimento, que era menos exigente e mais seguro. Geralmente, quando nasce uma segunda criança na família, a crinça mais velha regridirá, retomando padrões anteriores de 6 fala, querendo mamadeira e fazendo xixi na cama. Adultos também podem usar a regressão. Considere um homem que esteja experienciando a “crise da meia idade” e que esteja com medo de envelhecer e morrer. Para evitar a ansiedade associada a esses medos inconscientes, ele pode regredir a um estágio adolescente, tornando-se irresponsável, dirigindo em alta velocidade, tentando sair com mulheres mais jovens e até mesmo comendo comidas associadas com seu tempo de adolescente. Um outro exemplo de regressão é o de adultos casados que voltam para a casa da mãe, sempre que há um problema no casamento. Projeção Imagine por um momento que seu ego esteja sendo atacado por seu id. Você não sabe bem por que, mas está sentindo muita ansiedade. Se seu ego usar a projeção como mecanismo de defesa para eliminar a ansiedade, você começará a ver suas necessidades inconscientes no comportamento de outras pessoas. Isto é, você projetará seus impulsos em outros. Isto externaliza os sentimentos provocadores da ansiedade e a reduz. Você não estará consciente de que está fazendo isto, e as pessoas em quem você projeta provavelmente não serão culpadas daquilo que você as acusa. Um exemplo discutido por Anna Freud é o de um marido que está experimentando impulsos de infidelidade em relação à sua esposa (p.120). Ele pode nem sequer estar consciente desses desejos, mas eles estão se insinuando a partir do id e criando ansiedade. Para acabar com a ansiedade, ele projeta seus desejos em sua esposa, torna-se extremamente ciumento e a acusa de estar tendo casos, mesmo que não haja qualquer evidência para o que ele está afirmando. Um outro exemplo é o da mulher que está com medo de envelhecer e começa a apontar o quanto suas amigas e conhecidas parecem envelhecidas. Os indivíduos nesses exemplos não estão representando, nem mentindo; eles acreditam verdadeiramente em suas projeções. Caso contrário, a defesa contra a ansiedade falharia. Formação reativa A defesa identificada por Freud como formação reativa é exemplificada por um trecho de Hamlet de Shakeaspere, quando a mãe de Hamlet, depois de ter observado uma cena em uma peça, comenta com ele: “a mulher protesta demais, eu penso”. Quando uma pessoa está 7 experienciando impulsos inconscientes “diabólicos”, inaceitáveis, a ansiedade em relação a eles pode ser evitada engajando-se em comportamentosque são exatamente o oposto das urgências reais do id. Anna Freud mostrou que esses comportamentos geralmente são exagerados ou mesmo obsessivos (p.9). Ao adotar atitudes e comportamentos que demonstrem claramente uma rejeição completa dos verdadeiros desejos do id, a ansiedade é bloqueada. As formações reativas tendem a aparecer rapidamente e geralmente se tornam uma parte permanente da personalidade de um indivíduo, a menos que o conflito id-ego seja resolvido de alguma forma. Como um exemplo disso, reconsidere o caso do marido que, inconscientemente, deseja outras mulheres. Se, em vez de projeção, ele empregar formação reativa para prevenir sua ansiedade, ele pode se tornar obsessivamente devotado à sua mulher e cobrí-la de presentes e de declarações de amor. Um outro exemplo é fornecido pelo noticiário recente de crimes violentos referidos como “a surra gay”. Em uma interpretação freudiana, homens que têm tendências homossexuais inconscientes podem se engajar nesse comportamento de oposição extremado de atacar e bater em homens homossexuais para evitar seus verdadeiros desejos e a ansiedade associada a eles. Sublimação Tanto Sigmund como Anna Freud consideravam que a maioria dos mecanismos de defesa, incluindo os quatro descritos, indicam problemas no ajustamento psicológico (neuroses). Inversamente, a sublimação era considerada não apenas normal, mas também desejável (p.44). Quando as pessoas invocam a sublimação, elas estão encontrando maneiras socialmente aceitáveis de descarregar a energia que resulta de desejos inconscientes proibidos. Freud argumentava que, uma vez que o id de todo mundo contém esses desejos, a sublimação é uma parte necessária de uma vida produtiva e saudável. Além disso, ele acreditava que os desejos mais intensos podem ser sublimados de diversas maneiras. Alguém que tenha intensos impulsos agressivos pode sublimá-los engajando-se em esportes que envolvam contato físico ou tornando-se um cirurgião. A paixão de uma adolescente por cavalgar pode ser interpretada como uma sublimação de desejos sexuais inaceitáveis. Um homem que tenha uma fixação erótica pelo corpo humano pode sublimar seus sentimentos tornando-se um pintor ou um escultor de nus. É interessante que Freud acreditasse que tudo o que chamamos de civilização tenha se tornado possível pelo mecanismo de sublimação. Na sua maneira de ver, os homens têm sido capazes de sublimar suas necessidades e impulsos biológicos primitivos, o que tem lhes permitido construir sociedades civilizadas. Algumas vezes, Freud sugeriu, nossas verdadeiras forças inconscientes superam nosso ego “coletivo” e esses comportamentos primitivos 8 irrompem em expressões não civilizadas, como a guerra. De maneira geral, no entanto, é somente por meio da sublimação que a civilização pode de fato existir (S. Freud, 1930). IMPLICAÇÕES E APLICAÇÕES RECENTES DAS TEORIAS DE FREUD SOBRE OS MECANISMOS DE DEFESA Embora Anna Freud tenha deixado claro em seu livro que o emprego dos mecanismos de defesa (exceto a sublimação) seja geralmente associado com comportamento neurótico, deve- se salientar que este nem sempre é o caso. Praticamente todo mundo emprega vários mecanismos de defesa, ocasionalmente, em suas vidas, especialmente para ajudá-los a lidar com períodos de muito estresse. Eles nos ajudam a reduzir a ansiedade e a manter uma auto- imagem positiva. Contudo, os mecanismos de defesa envolvem auto-enganos e distorções da realidade que podem produzir consequências negativas, se forem muito usados. Por exemplo, uma pessoa que emprega a regressão toda vez que os problemas da vida se tornam difícieis, pode nunca desenvolver as estratégias necessárias para lidar com os problemas e resolvê-los. Consequentemente, a vida da pessoa não se torna tão efetiva quanto poderia ser. Além disso, Freud e muitos outros psicólogos têm considerado que, quando a ansiedade sobre conflitos específicos é reprimida, ela algumas vezes se manifesta de outras maneiras, tais como fobias, ataques de ansiedade, ou desordens obsessivo-compulsivas. A influência permanente da síntese e análise de Anna Freud sobre o conceito de mecanismos de defesa desenvolvido por seu pai pode ser facilmente percebida em qualquer trabalho acadêmico recente ou em qualquer texto de bom nível que discuta em detalhes a teoria psicanalítica (por exemplo, Philipchalk & McConnel, 1994; Wood & Wood, 1993). Embora a maioria das citações nesses textos se refira o Sigmund, quando a discussão focaliza os mecanismos de defesa, o livro de Anna Freud de 1946 e suas diversas revisões servem como o trabalho de autoridade sobre o tópico. CONCLUSÃO As teorias freudianas têm sido sempre extremamente controvertidas. Os mecanismos de defesa existem realmente? Eles de fato atuam inconscientemente, de modo a bloquear a ansiedade criada por impulsos proibidos do id, que tentam invadir a consciência? A crítica mais frequentemente citada aos trabalhos de Freud é, provavelmente, a de que na melhor das hipóteses, é muito difícil testá-lo cientificamente e, na pior, é impossível. Muitos estudos têm tentado demonstrar claramente a existência de vários conceitos freudianos. Os resultados têm sido mistos. Algumas de suas idéias têm encontrado apoio científico, enquanto outras não 9 foram confirmadas e algumas outras simplesmente não podem ser estudadas (ver Fisher e Greenberg, 1977, para uma discussão completa desta questão). Contudo, a idéia de que as pessoas empregam mecanismos de defesa tem recebido amplo apoio, mesmo que nem todo mundo concorde sobre as bases psicológicas dos mesmos. É provável que a interpretação mais significativa seja a de que, por meio de uma conscientização e compreensão dos mecanismos de defesa, seja possível obter importantes pistas sobre as causas das ações das pessoas. Tal compreensão pode mostrar que o comportamento de uma pessoa pode ser motivado por forças outras que não apenas aquelas imediatamente observáveis. Você poderá descobrir que se mantiver uma lista “mental” dos mecanismos de defesa, logo você poderá começar a notá-los nos outros e em você mesmo. Mas se você pensar que alguém está empregando um mecanismo de defesa, lembre-se de que a pessoa estará fazendo isto para evitar a ansiedade. Então, provavelmente não seria uma boa idéia chamar a atenção dela para isto. O conhecimento dos mecanismos de defesa pode ser um instrumento poderoso em suas interações com os outros, mas ele deve ser usado de maneira cuidadosa e com responsabilidade. Fisher, S., & Greenberg, R. (1977). The scientific credibility of Freud’s theories and therapy. New York: Basic Books. Freud, S. (1936). A disturbance of memory on the Acropolis. London: Hogarth Press. (originalmente publicado na Alemanha, 1936) Freud, S. (1961). Civilisation and its discontents. London: Hogarth Press. (originalmente publicado na Alemanha, 1930) Philipchalk, R., & McConnell, J. (1994). Understanding human behavior. Fort Worth, Texas: Harcourt Brace. Wood, E., & Wood, S. (1993). The world of Psychology. Boston: Allyn and Bacon.
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