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CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 1 RODRIGO BEZERRA Conteúdos abordados no curso: 1. Compreensão da(s) ideia(s) de um texto; 2. Estrutura textual – construção da ideia e tipologia textual; 3. Estrutura textual – recursos argumentativos; 4. Estrutura textual – compreensão de excertos de um texto; 5. Coesão e coerência textuais – mecanismos; Conteúdos abordados no curso: 6. Relações de causa e consequência (efeito); 7. Relações de antonímia e sinonímia entre partes ou vocábulos de um texto; 8. Paráfrases textuais; 9. Análise dos implícitos textuais – inferências, depreensões, pressupostos e subentendidos; Conteúdos abordados no curso: 10. Ordenação textual – sequência lógica de um texto; 11. Análise de excertos e emprego de nexos prepositivos e conjuntivos; 12. Questões mistas – interpretação, estruturação e gramática; Noções de paragrafação Parágrafo O parágrafo é uma unidade de composição, constituída por um ou mais períodos, em que se desenvolve ou se explana determinada idéia central, a que geralmente se agregam outras, secundárias, mas intimamente relacionadas pelo sentido. É, literalmente, um bloco de idéias, delimitado por dois brancos, sendo uma idéia principal e as demais secundárias, todas unidas semanticamente. Noções de paragrafação A aprovação das medidas que permitem uma fiscalização mais acurada dos sonegadores de impostos está suscitando dúvidas. É claro que a última coisa que se deseja neste país é a implantação da ditadura das burocracias e a intromissão de tecnocratas na vida dos cidadãos. Por outro lado, não se pode perpetuar a grave injustiça, mediante a qual um exército de aproveitadores vive às custas dos poucos que honram com suas obrigações perante a nação. Por se acreditar na democracia, não se deve fazer concessão à corrupção. (Folha de S. Paulo TRF 2ª REGIÃO (ANALISTA JUDICIÁRIO) Os princípios éticos são normas de comportamento social, e não simples ideais de vida, ou premissas doutrinárias. Como normas de comportamento humano, os princípios éticos distinguem-se nitidamente não só das regras do raciocínio matemático, mas também das leis naturais ou biológicas. Ao contrário do que sustentaram grandes pensadores, como Hobbes, Leibniz e Espinosa, a vida ética não pode ser interpretada segundo o método geométrico (ordine geometrico demonstrata). As normas éticas tampouco... As normas éticas tampouco podem ser reduzidas a enunciados científicos, fundados na observação e na experimentação, como se se tratasse de leis zoológicas. Durante boa parte do século XIX, alguns pensadores, impressionados pelo extraordinário progresso alcançado no campo das ciências exatas, com a produção de certeza e previsibilidade no conhecimento dos dados da natureza, sucumbiram à tentação de explicar a vida humana segundo parâmetros deterministas. Compreensão da(s) ideia(s) de um texto A tirania da experiência Acompanhei as dificuldades de um jovem que, ao terminar sua formação, saiu à procura de um emprego. Ele esbarrou em recusas que só os jovens recebem. Os entrevistadores apreciavam seu diploma, gostavam de sua apresentação e perguntavam: “Você tem experiência?”. Meu jovem amigo sentia-se num círculo vicioso: era rechaçado por falta de uma experiência que nunca poderia adquirir, pois não conseguia emprego justamente porque lhe faltava experiência. Parece um pretexto para condenar os jovens a um salário simbólico. Eternos estagiários, eles seriam obrigados a trocar seu trabalho pelo “privilégio” de aprender o ofício. Mas não é só isso: nossa cultura, em princípio, CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 2 venera a experiência. Salvo em momentos nostálgicos, duvidamos das sabedorias sagradas ou ancestrais. Preferimos confiar e acreditar nas coisas em que podemos colocar o dedo e o nariz. A autoridade, em suma, abandonou a tradição e veio para a experiência. Se sou um adolescente, como afirmo minha liberdade? Sou obrigado a me aventurar em terrenos completamente novos. Para me esquivar da autoridade dos pais e dos adultos, tento fazer algo que não esteja no campo de experiências dos que me precederam. A novidade, a originalidade tornam-se verdadeiros valores, porque prometem libertar- me da experiência dos outros. Se fizer algo que ninguém nunca fez, quem poderia ditar minha conduta, dizendo- se sábio e experiente? Recomendação aos pais de adolescentes: se, discutindo com seus filhos, você achar bom evocar a sabedoria que vem de sua experiência, seja humilde e modesto. Quanto mais você justificar sua autoridade pela experiência, tanto mais seu rebento estará a fim de aventurar-se por terrenos pouco ou nada mapeados. (Contardo Calligaris, Folha de S. Paulo, 07/03/2002) 01. (FCC) De acordo com o texto, para escapar à tirania da experiência um adolescente de hoje sente-se impelido a: (A) reconhecer a sabedoria antiga e sólida dos nossos ancestrais. (B) aventurar-se em situações inteiramente novas e originais. (C) ratificar os valores culturais que nortearam a geração precedente. (D) corresponder à expectativa dos entrevistadores das empresas. (E) repisar os caminhos em que seus pais se sentiram livres. 02. (FCC) Considere as seguintes afirmações: I. As empresas se valem da pouca ou nenhuma experiência de um jovem para se aproveitarem de seu trabalho na precária condição de estagiário. II. A responsabilidade pelo círculo vicioso a que o texto se refere deveria ser assumida pelos adolescentes, que não dão valor a nenhum tipo de experiência. III. As dificuldades enfrentadas por um jovem que esteja buscando trabalho demonstram que está em baixa o prestígio da experiência. Em relação ao texto, está correto o que se afirma em: (A) I, somente. (B) II, somente. (C) I e II, somente. (D) II e III, somente. (E) I, II e III. Ética de princípios As duas éticas: a que brota da contemplação das estrelas perfeitas, imutáveis e mortas, a que os filósofos dão o nome de ética de princípios, e a que brota da contemplação dos jardins imperfeitos e mutáveis, mas vivos – a que os filósofos dão o nome de ética contextual. Os jardineiros não olham para as estrelas. Eles nada sabem sobre as estrelas que alguns dizem já ter visto por revelação dos deuses. Como os homens comuns não vêem essas estrelas, eles têm de acreditar na palavra dos que dizem já as ter visto longe, muito longe... Os jardineiros só acreditam no que seus olhos vêem. Pensam a partir da experiência: pegam a terra com as mãos e a cheiram. Vou aplicar a metáfora a uma situação concreta. A mulher está com câncer em estado avançado. É certo que ela morrerá. Ela suspeita disso e tem medo. O médico vai visitá- CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 3 la. Olhando, do fundo do seu medo, no fundo dos olhos do médico, ela pergunta: “Doutor, será que eu escapo desta?” Está configurada uma situação ética. Que é que o médico vai dizer? Se o médico for adepto da ética estelar de princípios, a resposta será simples: “Não, a senhora não escapará desta. A senhora vai morrer.” Respondeu segundo um princípio invariável para todas as situações. A lealdade a um princípio o livra de um pensamento perturbador: o que a verdade irá fazer com o corpo e a alma daquela mulher? O princípio, sendo absoluto, não leva em consideração o potencial destruidor da verdade. Mas, se for um jardineiro, ele não se lembrará de nenhum princípio. Ele só pensará nos olhos suplicantes daquela mulher. Pensará que a sua palavraterá que produzir a bondade. E ele se perguntará: “Que palavra eu posso dizer que, não sendo um engano (a senhora breve estará curada...), cuidará da mulher como se a palavra fosse um colo que acolhe uma criança?” E ele dirá: “Você me faz essa pergunta porque você está com medo de morrer. Também tenho medo de morrer...”Aí , então, os dois conversarão longamente – como se estivessem de mãos dadas – sobre a morte que os dois haverão de enfrentar. Como sugeriu o apóstolo Paulo, a verdade está subordinada à bondade. Pela ética de princípios, o uso da camisinha, a pesquisa das células-tronco, o aborto de fetos sem cérebro, o divórcio, a eutanásia são questões resolvidas que não requerem decisões: os princípios universais os proíbem. Mas a ética contextual nos obriga a fazer perguntas sobre o bem ou mal que uma ação irá criar. O uso da camisinha contribui para diminuir a incidência da Aids? As pesquisas com células- tronco contribuem para trazer a cura para uma infinidade de doenças? O aborto de um feto sem cérebro contribuirá para diminuir a dor de uma mulher? O divórcio contribuirá para que homens e mulheres possam recomeçar suas vidas afetivas? A eutanásia pode ser o único caminho para libertar uma pessoa da dor que não a deixará? Duas éticas. A única pergunta a se fazer é: “Qual delas está mais a serviço do amor?” (Rubem Alves, Folha de S. Paulo, 04/03/2008) 03.(FCC – MPE/RS – Assessor) Ao tratar das duas éticas, o autor: (A) considera-as complementares entre si e as julga com plena isenção. (B) aponta fatores de uma sutil divergência entre elas e os classifica. (C) julga-as convergentes e demonstra esse fato por meio de uma metáfora. (D) opõe-nas a partir dos distintos compromissos de cada uma. (E) aponta drásticas divergências entre elas e propõe um modo de conciliá-las. Coisas vagas Uma carta de P. V., queixando-se de que ainda não respondi à sua interpelação. Também, amigo P. V., as suas perguntas versam assuntos tão vagos, tão difíceis de responder: poesia e outras coisas afins... A culpa é um tanto minha, que quase unicamente de tais coisas trato nestas páginas, as quais – da mesma forma que mestre João Ribeiro deu a um livro seu o subtítulo de “crônica de vário assunto” – bem poderiam denominar-se “crônicas de vago assunto”. Ah, nem queira saber como eu invejo um amigo médico que tenho e que recebe cartas assim: “Como posso ter certeza de que vou ter um bebê? Quais são os primeiros sinais de gravidez?” CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 4 Isso sim, que é pergunta precisa, sobre assunto urgente, e que traz logo uma resposta exata, definitiva, única. Mas poesia é coisa que não se explica: sente-se ou não se sente... P. S. – Se não quiser sentar-se, pior para você, amigo P. V. Mas, para que não se diga que só me interessam coisas vagas, eis aqui uma notícia que acabo de ler num dos últimos números d´ O Cruzeiro, na seção “O impossível acontece”: “Robert Tucker, de Boston, processado por dar álcool a beber a seu filho, de três anos de idade, em vez de leite, foi absolvido porque as leis do Estado de Massachusetts proíbem ministrar álcool a menores, mas somente entre os sete e os dezessete anos.” Está vendo? Quando a lei é só a lei, inteiramente ao pé da letra, o espírito da justiça fica uma coisa tão vaga... (Adaptado de Mário Quintana, Na volta da esquina) 04.(FCC – MPE/RS – Assessor) Considere as seguintes afirmações: I. A imprecisão no manejo das palavras é uma característica própria da linguagem literária. II. Há questões tão objetivas que podem ser respondidas de modo a não gerar qualquer hesitação ou controvérsia. III. A aplicação das leis só é justa e rigorosa quando se prende ao sentido literal do texto em que se formulam. Em sua crônica, Mário Quintana sustenta o que está afirmado APENAS em: (A) I. (B) II. (C) III. (D) I e II. (E) II e III. Livros e política A premiação do turco Orhan Pamuk com o Nobel de Literatura deste ano é uma veemente declaração do comitê que concede o prêmio em favor da liberdade de expressão. A Turquia nutre o objetivo de ser aceita na União Européia. A fim de aproximar seu padrão institucional do europeu, os turcos, entre outras ações, já aboliram a pena de morte, acabaram com os privilégios dos homens na escola e encaminharam uma ampla reforma do Judiciário. As diplomacias européias pressionam a Turquia, ainda, para que reconheça formalmente o genocídio de mais de um milhão de armênios, sob o nacionalismo turco, entre 1915 e 1923. É nesse ponto, de trato espinhoso na política turca, que o Nobel concedido a Pamuk toca diretamente. O escritor é um dos intelectuais que ousaram questionar o status quo na Turquia, que, contra as evidências históricas, nega que tenha havido uma campanha de “limpeza étnica” contra a minoria armênia. De acordo com as leis do país, insultar as instituições ou a identidade turca é crime punível com cadeia − e Pamuk foi processado por isso. A escolha do comitê faz sentido. Pena que a láurea tenha sido anunciada no mesmo dia em que a Assembléia da França aprovou projeto que torna crime negar o genocídio armênio. Os fins dos deputados franceses são justos, mas os meios acabam por criminalizar a palavra e a opinião − justamente o que se quer combater, com razão, na Turquia. (Folha de S. Paulo, editorial, 15/10/06) 05.(FCC – TCE/PB) A relação indicada no título Livros e política esclarece-se, ao longo do texto, como uma: (A) oposição já histórica entre os objetivos da literatura e os da política. CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 5 (B) tentativa de estabelecimento, na Turquia, de uma política editorial eficaz. (C) associação do prestígio de um escritor à discussão de um fato político a ele vinculado. (D) dissociação entre a função estética da literatura e o momento histórico-cultural. (E) inclusão da política literária de um país no concerto das nações européias. Texto Está surgindo no mundo uma nova tendência de consumo. De acordo com uma pesquisa mundial divulgada no final de 2009, consumidores reconhecem as boas causas e estão cada vez mais dispostos a apoiar as marcas e empresas que as praticam, percebendo o poder que possuem de determinar as tendências do mercado. Uma das mudanças de valores mais significativas é que encontrar felicidade em consumir parece fazer parte do passado. Apenas 16% dos consumidores ouvidos disseram tirar satisfação em fazer compras. Em 2008, eram 25%. Entre os consumidores brasileiros, a diferença é ainda maior: 29% disseram encontrar satisfação em ir às compras em 2008, enquanto em 2009 foram apenas 14%. Esse cenário faz emergir um paradoxo para as empresas e para o mercado em geral: como atender as demandas de inclusão social e transformar a base do consumo no mundo? É necessária uma revolução nos processos industriais e isso inclui os aspectos relacionados ao consumo, que precisa urgentemente ser reinventado. E é aqui que surge a frustração. As empresas não estão preparadas para enfrentar as mudanças que estão em curso no mundo hoje. Os grandes líderes de mercado parecem ainda ter dificuldade para entender o que está acontecendo de fato. O discurso e a prática dessas empresas ainda estão baseados em modelos ultrapassados, que veem os custos ainda da maneira tradicional, deixando as externalidades para a sociedade. E mais, não são apenas os grandes líderesdo setor privado que demonstram essa dificuldade. Uma manchete recente em um grande jornal diário mostra que pesquisadores e jornalistas também não entenderam as oportunidades que estão surgindo a partir das transformações que estamos vivendo. Eis o título da matéria: “Só estagnação econômica pode reduzir aquecimento global, diz estudo”. O relatório da Fundação Nova Economia explica que, segundo a NASA, a agência espacial norte-americana, a concentração máxima de gás carbônico na atmosfera para manter o aquecimento global dentro dos 2 ºC deveria ser de 350 ppm (partículas por milhão). E, para atingir essa meta até 2050, a humanidade teria de reduzir a intensidade das emissões de gás carbônico relacionadas às atividades econômicas em 95%. Então, o estudo classifica essa drástica redução na intensidade das emissões de gás carbônico relacionadas às atividades econômicas de “sem precedente e, provavelmente, impossível”, reforçando a defesa da estagnação econômica. Porém, esse é um grande equívoco. Uma análise desse tipo está claramente baseada em uma visão ultrapassada de desenvolvimento. As demandas provenientes das mudanças climáticas nos obrigam a repensar e recriar nossos modelos, com inovação e visão de futuro. É isso que estão fazendo (ou deveriam estar fazendo) os líderes mundiais. É possível e imprescindível criar uma nova economia, com base em novos modelos, que incluam de fato os aspectos sociais e ambientais. Ricardo Young. Mudanças no consumo. In: CartaCapital, 26/2/2010. Internet: <www.cartacapital.com.br> (com adaptações). CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 6 (CESPE/AGU) De acordo com as ideias apresentadas no texto, julgue os itens que se seguem. 1 A valorização, pelo consumidor, do trabalho de empresas que demonstram responsabilidade social e ambiental está ligada à conscientização desse consumidor acerca de seu poder de influenciar o mercado. 2 No Brasil, as pessoas tendem a consumir menos do que em outros países, fato que se verificou especialmente a partir do ano de 2008. 3 Se compreendessem, de fato, a necessidade de mudança nos parâmetros de produção e de consumo, provavelmente os pesquisadores e os jornalistas levariam para os diversos setores da sociedade a responsabilidade pela redução do aquecimento global. 4 Segundo o autor, a visão que se tem de economia é ultrapassada porque o sistema econômico vai de encontro ao que se almeja no mundo de hoje nos aspectos social e ambiental. 5 O texto põe em xeque a atuação das empresas diante do cenário mundial, visto que as mudanças climáticas continuam acontecendo. 6 O conceito de consumo precisa ser revisto porque é ele que determina os padrões de consumo e que, portanto, dita as regras na hora de as empresas decidirem o que produzir e como. 7 Apenas empresas com boas práticas de produção, isto é, que levam em conta fatores sociais e ambientais, são valorizadas pelos consumidores. TEXTO DISSERTATIVO Expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa. É um tipo de texto argumentativo Predominam substantivos abstratos denominados de temas. Predominam verbos no presente do indicativo – nocionais. TEXTO DISSERTATIVO Predomínio da linguagem objetiva. Prevalece a denotação. Defesa de um argumento: introduz, desenvolve e conclui. TEXTO NARRATIVO Expõe um fato, relaciona mudanças de situação, aponta antes, durante e depois dos acontecimentos. É um tipo de texto seqüencial. Predominam substantivos concretos denominados de figuras. Predominam verbos no pretérito, especialmente o pretérito perfeito. TEXTO NARRATIVO Presença de narrador, enredo, cenário, tempo. O diálogo direto e o indireto são frequentes. Apresentação de um conflito. Há transformações de estado. TEXTO DESCRITIVO Expõe características dos seres ou das coisas, apresenta uma visão. É um tipo de texto figurativo. Predominam adjetivos. É um texto atributivo. Predominam verbos de ligação. Predomínio de atributos. TEXTO DESCRITIVO Tem como resultado a imagem física ou psicológica. Frequente emprego de metáforas, comparações e outras figuras. Estrutura textual – construção da ideia e tipologia textual A doença da pressa A “doença da pressa” parece acometer cada vez mais indivíduos no mundo atual. Não se sabe exatamente se as exigências da atualidade estão gerando esse padrão comportamental, ou se as CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 7 pessoas que sofrem da pressa e afobação já nascem com essa tendência. Também existem estudiosos que acreditam que o modo de criação das crianças pode contribuir para o desenvolvimento dessa característica. Mas o que é a “doença da pressa”? Trata-se de um conjunto de ações e emoções que inclui ambição, agressividade, competitividade, impaciência, tensão muscular, estado de alerta, fala rápida e enfática e um ritmo de atividade acelerado. Essas características se constituem em um estilo de vida que inclui muitas demandas, segundo o qual a pessoa está sempre pressionada pelo tempo, que se torna curto para a realização de tantas tarefas. Muitas das pessoas acometidas pela “doença da pressa” passam toda a sua vida queixando-se de tanto trabalhar, de como precisam correr para dar conta de todas as suas atividades, reclamam da competitividade no trabalho, das exigências de produtividade, de prazos irreais, enfim, de como sua vida é difícil. No entanto, observa-se que, na maioria das vezes, são elas próprias que transformam suas vidas nesse corre-corre sem fim. Essas pessoas, portanto, costumam ser vítimas de si mesmas e de um estilo de vida estressante auto-produzido. Normalmente, pessoas com a “doença da pressa” se sentem valorizadas por serem capazes de manter um ritmo cada vez mais rápido e uma intensidade cada vez maior nas atividades em que se engajam. Envolvem-se em lutar para alcançar metas, sendo super- conscienciosas e dedicadas ao trabalho. Costumam se esforçar para sempre se superarem nas tarefas, até mesmo no lazer, ocupando todo o seu dia com alguma tarefa e experimentando sentimentos de culpa quando estão paradas. Apesar de o mundo moderno estar exigindo do ser humano cada vez mais conhecimento, aprimoramento e dinamismo, nem todas as pessoas apresentam a “doença da pressa”. Algumas pessoas conseguem manter um ritmo mais lento, serem mais contemplativas e planejarem suas ações, vivendo a vida de modo bastante diferente dos superapressados. No entanto, se a pessoa não acompanhar o ritmo exigido pela sociedade contemporânea, pode ter sérias dificuldades de adaptação, observando-se a necessidade de um misto de comportamentos mais apressados e mais lentos que devem ser acionados dependendo da situação. Esse manejo é fundamental para uma boa qualidade de vida. (Texto adaptado de NOVAES, L. In: Com ciência. Revista Eletrônica de Jornalismo Científico – SBPC http://www.comciencia.br/comciencia) 01.(FGV – SAD/PE) A respeito da tipologia textual, é correto afirmar que o texto II: (A) constitui uma dissertação argumentativa acerca dos malefícios da “doença da pressa” em relação à qualidade de vida. (B) apresenta uma descrição da “doença da pressa”, porque se ocupa fundamentalmente de sua caracterização. (C) constitui uma narração, uma vez que se ocupa do relato de portadores da “doença da pressa”, comum nos dias atuais. (D) constitui uma dissertação argumentativa acerca das causas e consequênciasdo estresse na sociedade moderna. (E) apresenta uma descrição da “doença da pressa”, porque defende um ponto-de-vista acerca das causas da referida patologia. Rio Grande do Norte: a esquina do continente CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 8 Os portugueses tentaram iniciar a colonização em 1535, mas os índios potiguares resistiram e os franceses invadiram. A ocupação portuguesa só se efetivou no final do século, com a fundação do Forte dos Reis Magos e da Vila de Natal. O clima pouco favorável ao cultivo da cana levou a atividade econômica para a pecuária. O Estado tornou-se centro de criação de gado para abastecer os Estados vizinhos e começou a ganhar importância a extração do sal – hoje, o Rio Grande do Norte responde por 95% de todo o sal extraído no país. O petróleo é outra fonte de recursos: é o maior produtor nacional de petróleo em terra e o segundo no mar. Os 410 quilômetros de praias garantem um lugar especial para o turismo na economia estadual. O litoral oriental compõe o Polo Costa das Dunas − com belas praias, falésias, dunas e o maior cajueiro do mundo –, do qual faz parte a capital, Natal. O Polo Costa Branca, no oeste do Estado, é caracterizado pelo contraste: de um lado, a caatinga; do outro, o mar, com dunas, falésias e quilômetros de praias praticamente desertas. A região é grande produtora de sal, petróleo e frutas; abriga sítios arqueológicos e até um vulcão extinto, o Pico do Cabugi, em Angicos. Mossoró é a segunda cidade mais importante. Além da rica história, é conhecida por suas águas termais, pelo artesanato reunido no mercado São João e pelas salinas. Caicó, Currais Novos e Açari compõem o chamado Polo do Seridó, dominado pela caatinga e com sítios arqueológicos importantes, serras majestosas e cavernas misteriosas. Em Caicó há vários açudes e formações rochosas naturais que desafiam a imaginação do homem. O turismo de aventura encontra seu espaço no Polo Serrano, cujo clima ameno e geografia formada por montanhas e grutas atraem os adeptos do ecoturismo. Outro polo atraente é Agreste/Trairi, com sua sucessão de serras, rochas e lajedos nos 13 municípios que compõem a região. Em Santa Cruz, a subida ao Monte Carmelo desvenda toda a beleza do sertão potiguar – em breve, o local vai abrigar um complexo voltado principalmente para o turismo religioso. A vaquejada e o Arraiá do Lampião são as grandes atrações de Tangará, que oferece ainda um belíssimo panorama no Açude do Trairi. (Nordeste. 30/10/2010, Encarte no jornal O Estado de S. Paulo). 02.(FCC – TRE/RN) O texto se estrutura notadamente (A) sob forma narrativa, de início, e descritiva, a seguir, visando a despertar interesse turístico para as atrações que o Estado oferece. (B) de forma instrucional, como orientação a eventuais viajantes que se disponham a conhecer a região, apresentando-lhes uma ordem preferencial de visitação. (C) com o objetivo de esclarecer alguns aspectos cronológicos do processo histórico de formação do Estado e de suas bases econômicas, desde a época da colonização. (D) como uma crônica baseada em aspectos históricos, em que se apresentam tópicos que salientam as formações geográficas do Estado. (E) de maneira dissertativa, em que se discutem as várias divisões regionais do Estado com a finalidade de comprovar qual delas se apresenta como a mais bela. Humes observou certa vez que a civilização humana como um todo subsiste porque “uma geração não abandona de vez o palco e outra triunfa, como acontece com as larvas e as borboletas”. Em algumas guinadas da CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 9 história, porém, em alguns picos críticos, pode caber a uma geração um destino parecido com o das larvas e borboletas. Pois o declínio do velho e o nascimento do novo não são necessariamente ininterruptos; entre as gerações, entre os que, por uma razão ou outra, ainda pertencem ao velho e os que pressentem a catástrofe nos próprios ossos ou já cresceram com ela [...] está rompida a continuidade e surge um “espaço vazio”, espécie de terra de ninguém histórica, que só pode ser descrita em termos de “não mais e ainda não”. Na Europa, essa absoluta quebra de continuidade ocorreu durante e após a Primeira Guerra Mundial. É essa ruptura que dá um fundo de verdade a todo o falatório dos intelectuais, geralmente na boca dos “reacionários”, sobre o declínio necessário da civilização ocidental ou a famosa geração perdida, tornando-se, portanto, muito mais atraente do que a banalidade do pensamento “liberal”, que nos apresenta a alternativa de avançar ou recuar, a qual parece tão desprovida de sentido justamente porque ainda pressupõe uma linha de continuidade sem interrupções. (ARENDT, Hannah. “Não mais e ainda não”. In Compreender: formação, exílio e totalitarismo. Ensaios (1930-1954). São Paulo: Companhia das Letras; Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2008, p. 187) 03.(FCC – Oficial de Chancelaria) Na organização do texto, a autora: (A) toma como tema certo pensamento de Humes, que detalha para convencer o leitor sobre esta compreensão que ela tem do que seja a civilização: “A natureza não dá saltos”. (B) vale-se de Humes como argumento de autoridade, considerando irretorquível o pensamento citado. (C) tira proveito da constatação de Humes, de caráter universal, para ratificá-la no plano mais particular que ela aborda no seu discurso. (D) cita Humes porque a comparação que ele faz entre os homens e os animais se aplica, ipsis litteris, à concepção que ela tem acerca do que ocorre com gerações em momentos críticos. (E) refere comentário do filósofo Humes e o desconstrói, pois o desfaz para reconstruí-lo em outras bases. Informalidade reconfigurada As atividades informais têm sido tradicionalmente identificadas no Brasil como as práticas de trabalho mais relacionadasà luta pela sobrevivência. Na maior parte das vezes, trata-se de um conjunto expressivo da população que se encontra excluída das regras formais de proteção social e trabalhista. Salvo períodos conjunturais determinados de desaceleração econômica, quando o segmento informal funcionava como uma espécie de colchão amortecedor da temporária situação de desemprego aberto, percebia-se que a informalidade era uma das poucas possibilidades de os segmentos vulneráveis se inserirem no mercado de trabalho. Por não impor praticamente nenhuma barreira à entrada, o trabalho informal representaria uma atividade laboral que também poderia compreender a transição para o emprego assalariado formal. O trabalho informal submete-se à baixa remuneração e à vulnerabilidade de quem não conta com a aposentadoria na velhice, a pensão para o acidente de trabalho, o seguro para o desemprego, o piso oficial para a menor remuneração, a representação sindical, entre outras regras de proteção. Pelo menos durante o ciclo da industrialização nacional (1930-80), a informalidade foi sendo drasticamente reduzida. A força do assalariamento com carteira assinada, decorrente de taxas de crescimento econômico CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 10 com média anual de 7%, foi a principal responsável pela queda do trabalho informal. Apesar disso, o Brasil ingressou na década de 1980 com cerca de 1/3 do total dos ocupados ainda submetidos às atividades informais. Com o abandono da condição de rápido e sustentado crescimento econômico, o mercado de trabalho sofreuuma importante inflexão. O desemprego aberto vem crescendo, e com ele a ocupação informal. Em vinte anos, o Brasil gerou um contingente adicional de 13,1 milhões de postos de trabalho não assalariados (40% do total de novos postos de trabalho). No mesmo período de tempo, a informalidade cresceu mais no meio urbano, uma vez que o setor rural continuou a expulsar mão de obra. (Adaptado de Marcio Pochmann, revista Forum) 04.(FCC – SEFAZ/SP – APOF 2010) Em seu conjunto, o texto constitui uma: (A) análise mercadológica pela qual se revelam as causas de exclusão do trabalhador do mercado informal de trabalho. (B) minuciosa exposição das causas que levaram ao crescimento do trabalho informal no Brasil, nas últimas duas décadas. (C) constatação objetiva da retração da informalidade no mercado de trabalho, a partir da década de 1980. (D) verificação da crescente instabilidade do setor industrial e seus efeitos no campo do trabalho assalariado. (E) exposição de fatos e dados estatísticos que identificam tendências do mercado de trabalho no Brasil. 05-(ESAF – TRF) Assinale a opção em desacordo com as idéias do texto. Não mais se conta com um eixo filosófico ou religioso sobre o qual girem as ciências, as técnicas e até mesmo a organização social. Como adverte Edgar Morin, a ciência também produz a ignorância, uma vez que as especializações caminham para fora dos grandes contextos reais, das realidades complexas. Paradoxalmente, cada avanço unidirecional dos conhecimentos científicos produz mais desorientação e perplexidade na esfera das ações a implementar, para as quais se pressupõem acerto e segurança. Vivemos em uma nebulosa, que não é a via-láctea deslocando-se no espaço cósmico e explicável pela astronomia, mas em uma nebulosa provocada pela falta de contornos definidos para o saber, para a razão e, na prática, para as decisões fundamentais. Afinal, o que significa tudo isso para a felicidade das pessoas e o destino último da sociedade? (José de Ávila Aguiar Coimbra, Fronteiras da Ética, São Paulo: Senac, 2002, p. 27) a) O eixo filosófico ou religioso sobre o qual giravam as ciências, as técnicas e até mesmo a organização social não está mais disponível. b) Como as especializações se desviam dos grandes contextos reais e das realidades complexas, a ciência também produz ignorância. c) Se o avanço dos conhecimentos é unidirecional, produz-se desorientação e perplexidade nas ações para as quais acerto e segurança são pressupostos. CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 11 d) A falta de contornos definidos para o saber é provocada pela razão e pelas decisões fundamentais da prática. e) A nuvem de matéria interestelar em que vivemos, que se desloca no espaço cósmico, é explicável pela astronomia. Livros e política A premiação do turco Orhan Pamuk com o Nobel de Literatura deste ano é uma veemente declaração do comitê que concede o prêmio em favor da liberdade de expressão. A Turquia nutre o objetivo de ser aceita na União Européia. A fim de aproximar seu padrão institucional do europeu, os turcos, entre outras ações, já aboliram a pena de morte, acabaram com os privilégios dos homens na escola e encaminharam uma ampla reforma do Judiciário. O escritor é um dos intelectuais que ousaram questionar o status quo na Turquia, que, contra as evidências históricas, nega que tenha havido uma campanha de “limpeza étnica” contra a minoria armênia. De acordo com as leis do país, insultar as instituições ou a identidade turca é crime punível com cadeia − e Pamuk foi processado por isso. A escolha do comitê faz sentido. Pena que a láurea tenha sido anunciada no mesmo dia em que a Assembléia da França aprovou projeto que torna crime negar o genocídio armênio. Os fins dos deputados franceses são justos, mas os meios acabam por criminalizar a palavra e a opinião − justamente o que se quer combater, com razão, na Turquia. (Folha de S. Paulo, editorial, 15/10/06) 06.(FCC – TCE/PB) A relação indicada no título Livros e política esclarece-se, ao longo do texto, como uma: (A) oposição já histórica entre os objetivos da literatura e os da política. (B) tentativa de estabelecimento, na Turquia, de uma política editorial eficaz. (C) associação do prestígio de um escritor à discussão de um fato político a ele vinculado. (D) dissociação entre a função estética da literatura e o momento histórico-cultural. (E) inclusão da política literária de um país no concerto das nações européias. Texto Os mitólogos costumam chamar de imagens de mundo certas estruturas simbólicas pelas quais, em todas as épocas, as diferentes sociedades humanas fundamentaram, tanto coletiva quanto individualmente, a experiência do existir. Ao longo da história, essas constelações de idéias foram geradas quer pelas tradições étnicas, locais, de cada povo, quer pelos grandes sistemas religiosos. No Ocidente, contudo, desde os últimos três séculos uma outra prática de pensamento veio se acrescentar a estes modos tradicionais na função de elaborar as bases de nossas experiências concretas de vida: a ciência. Com efeito, a partir da revolução científica do Renascimento as ciências naturais passaram a contribuir de modo cada vez mais decisivo para a formulação das categorias que a cultura ocidental empregará para compreender a realidade e agir sobre ela. Mas os saberes científicos têm uma característica inescapável: os enunciados que produzem são necessariamente provisórios, estão sempre sujeitos à superação e à renovação. Outros exercícios do espírito humano, como a cogitação filosófica, a inspiração poética ou a exaltação mística poderão talvez aspirar a pronunciar verdades últimas; as ciências só CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 12 podem pretender formular verdades transitórias, sempre inacabadas. Ernesto Sábato assinala com precisão que todas as vezes que se pretendeu elevar um enunciado científico à condição de dogma, de verdade final e cabal, um pouco mais à frente a própria continuidade da aplicação do método científico invariavelmente acabou por demonstrar que tal dogma não passava senão... de um equívoco. Não há exemplo melhor deste tipo de superstição que o estatuto da noção de raça no nazismo. (Luiz Alberto Oliveira. “Valores deslizantes: esboço de um ensaio sobre técnica e poder”, In O avesso da liberdade. Adauto Novaes (Org). São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 191) 07.(FCC – MPU – Analista Judiciário) É correto afirmar: (A) Infere-se do texto que os distintos discursos – religioso, filosófico, artístico, científico –, quando formalizam, cada um a seu modo, os dogmas da humanidade, na verdade estão conscientemente burlando o espírito que orienta cada específica prática. (B) O texto demonstra que superstições surgem nos mais diversos campos do conhecimento, e são elas que, através do tempo, configuram o estatuto do humano. (C) O texto esclarece que é uma pretensão imprópria aspirar a conquistas que, duradouras, podem acabar por se constituir em meros passos de um trajeto insuperável. (D) Seria coerente com as idéias expressas no texto o seguinte comentário, suscitado pelo exemplo dado: "O nazismo, por mais assustador que seja o fato, não foi isento de racionalidade". (E) No texto exprime-se o entendimento de que é comum a várias práticas de pensamento, excluindo-se o mítico, defender que o espíritohumano é capaz de atingir o saber pleno. Os vadios eram um grupo infrator caracterizado, antes de mais nada, por sua forma de vida. Era o fato de não fazerem nada, ou de nada fazerem de forma sistemática, que os tornava suspeitos ante a parte bem organizada da sociedade. Por não terem laços – a família, domicílio certo, vínculo empregatício –, constituíam um grupo fluido e indistinto, difícil de controlar e até mesmo de enquadrar. Passados os primeiros tempos dos descobertos auríferos, quando, como disse o jesuíta Antonil, os arraiais foram “móveis como os filhos de Israel no deserto”, a itinerância passou a ser cada vez mais tolerada. Em 1766 surge contra os vadios das Minas a primeira investida oficial de que se tem notícia: uma carta régia dirigida em 22 de julho ao governador Luís Diogo Lobo da Silva, e incisiva na condenação da itinerância de vadios e da forma peculiar de vida que escolhiam. Tais homens, dizia o documento, vivem separados do convívio da sociedade civil, enfiados nos sertões, em domicílios volantes, ou seja, sem residência fixa. Isto não podia ser tolerado, e deveriam passar a viver em povoações que tivessem mais de cinqüenta casas e o aparelho administrativo de praxe nas vilas coloniais: juiz ordinário, vereadores etc. Uma vez estabelecidos, ser-lhes-iam distribuídas terras adjacentes ao povoado para que as cultivassem, e os que assim não procedessem seriam presos e tratados como salteadores de caminhos e inimigos comuns. (Laura de Mello e Souza. “Tensões sociais em Minas na segunda metade do século XVIII”, In Tempo e história, org. Adauto CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 13 Novaes. São Paulo: Companhia das Letras/Secretaria Municipal da Cultura, 1992. p. 358-359) 08.(FCC – MPU – Analista Judiciário) No texto, o autor: (A) põe em foco um determinado estrato social, particularizando uma tentativa de disciplinamento oficial. (B) desenvolve considerações minuciosas a respeito do tema central de seu discurso: a carta de Luís Diogo Lobo da Silva. (C) narra um específico episódio ocorrido em Minas, tomado como exemplo do que se pode esperar da ação de grupo de infratores. (D) lança hipóteses sobre as causas de um determinado comportamento social, depois de caracterizá-lo a partir da teoria de pesquisadores, religiosos ou não. (E) toma os dados de pesquisa histórica como apoio para expressar e justificar o seu próprio juízo de valor acerca de infratores. No século XIX, enfatizou-se, nos mais diversos domínios, a busca de explicações sobre as origens — dos homens, das sociedades, das nações. Foi dentro desse quadro que se procurou conhecer e dar sentido explicativo ao Brasil, enfatizando-se ora aspectos selvagens e naturais, ora aspectos civilizados — civilização versus barbárie. À natureza se conferiu papel importante nas representações que foram sendo elaboradas ao longo de sua história — natureza em grande parte tropical, que, ao mesmo tempo em que seduz, desconcerta. Ora, se o mundo civilizado é visto como distante e pensado como contraponto ao mundo natural, o Brasil, consideradas a sua natureza e a sua população em meio a essa natureza, encontrava-se perigosamente afastado da civilização. O ponto de partida desse enfoque tomou como contraposição dominante os polos estabelecidos a partir de cidade e campo — luz e treva, civilização e barbárie, oposição que faz parte, também, de um contexto mais amplo, com a identificação da cidade com técnica e artificialidade —, a cidade como expressão do maior domínio da natureza pelo homem, espaço diferenciado, destinado ao exercício da civilidade; o campo como símbolo da rusticidade, do não inteiramente civilizado, espaço intermediário entre a civilização e o mundo natural propriamente dito. Ora, se o campo se encontra mais perto do natural, pode ser associado à paz, à inocência, à virtude, a cidade, então, por sua vez, seria a expressão de “barbárie” — e isso deriva do entrelaçamento de significados que podem ser atribuídos aos qualificativos, ou seja, aos polos, a depender do sentido que se lhes atribui ou ao sentimento a eles associado, ou, ainda, ao que está, momentaneamente, sendo entrevisto. As formas de representação realizam outras mediações, constituem outras projeções e, carregadas de dubiedade e ambivalência, podem alcançar o homem (cidade versus campo; intelecto versus coração; razão versus sensibilidade), o povo, a Nação. No século XIX, o Brasil foi representado como um verdadeiro caleidoscópio. 09.(CESPE – TRT/21ª) Mesmo relatando aspectos subjetivos, o que é feito a partir de um enfoque classificatório ou tipológico, embasado em aspectos históricos e literários, o texto se apresenta essencialmente objetivo. Estrutura textual – recursos argumentativos Leia o texto para responder à questão 01 CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 14 A revolução da informação, o fim da guerra fria – com a decorrente hegemonia de uma superpotência única – e a internacionalização da economia impuseram um novo equilíbrio de forças nas relações humanas e sociais que parece jogar por terra as antigas aspirações de solidariedade e justiça distributiva entre os homens, tão presentes nos sonhos, utopias e projetos políticos nos últimos dois séculos. Ao contrário: o novo modelo – cuja arrogância chegou ao extremo de considerar-se o ponto final, senão culminante, da história – promove uma brutal concentração de renda em âmbito mundial, multiplicando a desigualdade e banalizando de maneira assustadora a perversão social. (Ari Roitman, O desafio ético, com adaptações) 01- (ESAF – AFTN)- Nos itens abaixo, trechos do texto foram reescritos. Assinale a opção em que as idéias, ou a argumentação, do texto não foram respeitadas. a) Parece que destruir antigas aspirações de solidariedade e justiça distributiva é fruto da arrogância a que chegou o ponto final da história nos últimos dois séculos: os homens presentes na nova utopia têm diferentes projetos políticos. b) Um novo equilíbrio de forças nas relações humanas e sociais surgiu a partir de três fatores: a revolução da informação, o fim da guerra fria e a internacionalização da economia. c) Como conseqüência do fim da guerra fria houve hegemonia de uma superpotência única e um novo equilíbrio de forças – também ligado a outros fatores – nas relações humanas e sociais. d) Nos últimos dois séculos, estiveram presentes nos sonhos, utopias e projetos políticos antigas aspirações de solidariedade e justiça que parecem estar em risco com o surgimento de um novo equilíbrio de forças nas relações humanas e sociais. e) Uma brutal concentração de renda em âmbito mundial vem com um novo equilíbrio de forças nas relações humanas e sociais; têm-se, conseqüentemente, uma banalização da perversão social com a multiplicação da desigualdade. Texto para a próxima questão É urgentemente necessário criar critérios objetivos para a seleção de projetos, obrigando a autoridade pública a comprovar o atendimento a critérios mínimos de interesse público, de viabilidade econômico-. financeira, de equilíbrio social e ambiental e de agregação de valor. Diante da realidade federativa do Brasil, é de se esperar também que o governo federal tenha uma visão ampla e generosa do papel central que deve exercer, no incentivo às boas práticas de planejamento e implantação de projetos. Essas inquietações surgem porque ações prepósteras do governo podem gerar errosgraves na condução de programas de Parcerias Público-Privadas (PPP). Reverter erros em PPP – que se verificam na experiência internacional – pode custar muito caro ao país e a frustração decorrente pode inviabilizar mudança cultural tão necessária. (Rubens Teixeira Alves & Leonardo Grilo. PPP – uma lei só não faz verão. Correio Braziliense, 25 de julho de 2005, com adaptações) 02-(ESAF – AFRFB) A argumentação textual está organizada em torno da seguinte relação de condicionalidade: CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 15 a) Não haverá realidade federativa se o governo federal não tiver uma visão ampla e generosa do seu papel central de incentivador das boas práticas de planejamento e implantação de projetos. b) Se ações proteladoras do governo gerarem inquietações que ocasionem erros graves na condução de programas de PPPs, poderá ser inviabilizada a mudança cultural por eles pretendida. c) Será urgentemente necessário criar critérios objetivos para a seleção de projetos, se for verificada na experiência internacional que reverter erros nas PPPs pode custar caro. d) Erros graves na condução de PPPs podem custar caro ao país, se não forem criados critérios objetivos para a seleção de projetos e a autoridade pública não comprovar o atendimento a critérios mínimos. e) Se custar muito caro ao país a frustração decorrente de más práticas de planejamento e implantação de projetos, poderá ser inviabilizada a mudança cultural tão necessária para a implantação das PPPs. 03. (ESAF) Assinale a opção que não representa ilustração confirmatória da tese do texto. Brasileiros e latino-americanos fazemos constantemente a experiência do caráter postiço, inautêntico, imitado da vida cultural que levamos. Essa experiência tem sido um dado formador de nossa reflexão crítica desde os tempos da Independência. Ela pode ser e foi interpretada de muitas maneiras, por românticos, naturalistas, modernistas, esquerda, direita, cosmopolitas, nacionalistas etc., o que faz supor que corresponda a um problema durável e de fundo. Antes de arriscar uma explicação a mais, digamos portanto que o mencionado mal-estar é um fato. As suas manifestações cotidianas vão do inofensivo ao horripilante. (SCHWARZ, Roberto, Cultura e política, p. 108) a) Papai Noel enfrentando a canícula em roupa de esquimó configura uma inadequação cultural. b) Da ótica de um tradicionalista, a guitarra elétrica no país do samba é um despropósito. c) Entre os representantes do regime de 64, era comum dizer que o povo brasileiro é despreparado e que democracia aqui não passava de uma impropriedade. d) Os brasileiros souberam associar o clima tropical a um inusitado estilo de vida, em que se conjugam pouca roupa, muita sensualidade e alegria. e) No século XIX comentava-se o abismo entre a fachada liberal do Império, calçada no parlamentarismo inglês, e o regime de trabalho efetivo, que era escravo. Os teóricos, ao dizerem que os indivíduos são cronicamente insatisfeitos porque são consumistas, não estão constatando um fato, mas emitindo um julgamento moral, isto é, a satisfação psicológica obtida com a compra de objetos é interpretada como insatisfação, porque seria um tipo de realização emocional espúrio. Em outras palavras, supõe-se que existe uma forma mais nobre de satisfação emocional que se perderia no contato com o mundo dos artefatos, ou então, como nos autores de orientação marxista, que a insatisfação é inevitável quando o sujeito é expropriado do que ele próprio produz e coagido a comprar os objetos produzidos pelos proprietários do capital. CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 16 Em suma, pode existir satisfação com os objetos de uso, mas, não, com os de troca, ou seja, com a mercadoria. (Texto adaptado de Jurandir Freire Costa. "O vestígio e a aura: corpo e consumismo na moral do espetáculo", p.203) 04. (ESAF) Assinale a afirmativa que está de acordo com o que argumenta o autor do texto. a) Na análise do ser humano e de sua conduta pessoal e social, deve haver mais rigor, para que não prevaleçam as crenças e os fatos sejam examinados com objetividade. b) Aqueles que criticam as leis de mercado, como os marxistas, por exemplo, elaboram análises equivocadas a respeito dos estados psicológicos do ser humano. c) É verdadeiro o pressuposto de que é espúria a satisfação emocional resultante da compra de objetos, mas a relação de causa e efeito entre esses dois fatos é falsa. d) A mercadoria, vilã da satisfação plena do indivíduo, é referida por grande parte dos teóricos como a forma mais nobre de satisfação emocional. e) Os teóricos não estariam emitindo julgamento de valor se, ao contrário do que afirmam sobre a insatisfação crônica dos indivíduos, declarassem que, apesar de insatisfeitos, os indivíduos continuam consumistas. Os vadios eram um grupo infrator caracterizado, antes de mais nada, por sua forma de vida. Era o fato de não fazerem nada, ou de nada fazerem de forma sistemática, que os tornava suspeitos ante a parte bem organizada da sociedade. Por não terem laços – a família, domicílio certo, vínculo empregatício –, constituíam um grupo fluido e indistinto, difícil de controlar e até mesmo de enquadrar. Passados os primeiros tempos dos descobertos auríferos, quando, como disse o jesuíta Antonil, os arraiais foram “móveis como os filhos de Israel no deserto”, a itinerância passou a ser cada vez mais tolerada. Em 1766 surge contra os vadios das Minas a primeira investida oficial de que se tem notícia: uma carta régia dirigida em 22 de julho ao governador Luís Diogo Lobo da Silva, e incisiva na condenação da itinerância de vadios e da forma peculiar de vida que escolhiam. Tais homens, dizia o documento, vivem separados do convívio da sociedade civil, enfiados nos sertões, em domicílios volantes, ou seja, sem residência fixa. Isto não podia ser tolerado, e deveriam passar a viver em povoações que tivessem mais de cinqüenta casas e o aparelho administrativo de praxe nas vilas coloniais: juiz ordinário, vereadores etc. Uma vez estabelecidos, ser-lhes-iam distribuídas terras adjacentes ao povoado para que as cultivassem, e os que assim não procedessem seriam presos e tratados como salteadores de caminhos e inimigos comuns. (Laura de Mello e Souza. “Tensões sociais em Minas na segunda metade do século XVIII”, In Tempo e história, org. Adauto Novaes. São Paulo: Companhia das Letras/Secretaria Municipal da Cultura, 1992. p. 358-359) 05.(FCC – MPU – Analista Judiciário) Considere as afirmações que seguem sobre a organização do texto. I. No processo de argumentação, o autor valeu-se de testemunho autorizado. II. A fala do jesuíta constitui argumento para a consolidação da idéia de que a itinerância passou a ser cada vez mais tolerada. CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 17 III. A data de 1766 foi citada como comprovação explícita de que o rei era realmente signatário da carta. Está correto o que se afirma SOMENTE em: (A) I. (B) II. (C) III. (D) I e II. (E) II e III. Estrutura textual – compreensão de excertos de um texto Informalidade reconfigurada As atividades informais têm sido tradicionalmente identificadas no Brasil como as práticas de trabalho mais relacionadasà luta pela sobrevivência. Na maior parte das vezes, trata-sede um conjunto expressivo da população que se encontra excluída das regras formais de proteção social e trabalhista. Salvo períodos conjunturais determinados de desaceleração econômica, quando o segmento informal funcionava como uma espécie de colchão amortecedor da temporária situação de desemprego aberto, percebia-se que a informalidade era uma das poucas possibilidades de os segmentos vulneráveis se inserirem no mercado de trabalho. Por não impor praticamente nenhuma barreira à entrada, o trabalho informal representaria uma atividade laboral que também poderia compreender a transição para o emprego assalariado formal. O trabalho informal submete-se à baixa remuneração e à vulnerabilidade de quem não conta com a aposentadoria na velhice, a pensão para o acidente de trabalho, o seguro para o desemprego, o piso oficial para a menor remuneração, a representação sindical, entre outras regras de proteção. Pelo menos durante o ciclo da industrialização nacional (1930-80), a informalidade foi sendo drasticamente reduzida. A força do assalariamento com carteira assinada, decorrente de taxas de crescimento econômico com média anual de 7%, foi a principal responsável pela queda do trabalho informal. Apesar disso, o Brasil ingressou na década de 1980 com cerca de 1/3 do total dos ocupados ainda submetidos às atividades informais. Com o abandono da condição de rápido e sustentado crescimento econômico, o mercado de trabalho sofreu uma importante inflexão. O desemprego aberto vem crescendo, e com ele a ocupação informal. Em vinte anos, o Brasil gerou um contingente adicional de 13,1 milhões de postos de trabalho não assalariados (40% do total de novos postos de trabalho). No mesmo período de tempo, a informalidade cresceu mais no meio urbano, uma vez que o setor rural continuou a expulsar mão de obra. (Adaptado de Marcio Pochmann, revista Forum) 01.(FCC – SEFAZ/SP – APOF 2010) Atente para as seguintes afirmações: I. No 1o parágrafo, considera-se que a informalidade é uma atividade laboral que compensa a falta de proteção social e trabalhista, garantida no trabalho formal. II. No 2o parágrafo, admite-se que a industrialização nacional permitiu o acesso de mais trabalhadores às garantias e aos direitos do trabalho assalariado. III. No 3o parágrafo, adverte-se que a ocupação informal crescerá ainda mais, caso se altere a tendência de expulsão da mão de obra do setor rural. Em relação ao texto, está correto o que se afirma em: (A) II, apenas. (B) I e II, apenas. CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 18 (C) I, II e III. (D) I e III, apenas. (E) II e III, apenas. 02.(FCC – SEFAZ/SP – APOF 2010) Considerando-se o contexto, traduz-se adequadamente o sentido de um segmento em: (A) gerou um contingente adicional (3o parágrafo) = ensejou um aumento circunstancial. (B) excluída das regras formais (1o parágrafo) = à revelia de parâmetros mais estáveis. (C) Salvo períodos conjunturais (1o parágrafo) = afora momentos circunstanciais. (D) foi sendo drasticamente reduzida (2o parágrafo) = foi sofrendo quedas incipientes. (E) sofreu uma importante inflexão (3o parágrafo) = absorveu significativa influência. A aproximação das duas Américas Ufano-me de falar nesta instituição, digna da cidade que, pelo seu crescimento gigantesco, vem assombrando o mundo como a mais avançada de todas as estações experimentais de americanização. Em Chicago, melhor do que em qualquer outro ponto, pode-se acompanhar o processo sumário que usais para conseguir, de plantas alienígenas, ao fim de curto estágio de aclimação, frutos genuinamente americanos. Aqui estamos em frente de uma das cancelas do mundo, por onde vêm entrando novas concepções sociais, novas formas de vida e que é uma das fontes da civilização moderna. O tributo à ciência do qual nasceu esta universidade foi o mais benfazejo emprego de uma fortuna dedicada à humanidade. Aumentar a velocidade com que cresce a ciência é de longe o maior serviço que se poderia prestar à raça humana. A própria religião não teria o poder de trazer à terra o reino de Deus sem o auxílio da ciência, na época de progresso que se anuncia e de que não podemos ainda fazer ideia. Aumentando o número de homens capazes de manejar os delicados instrumentos da ciência, de compreender-lhes as várias linguagens e de aproveitar-lhes os mais altos sentidos, as universidades trabalham mais depressa que qualquer outro fator para esse dia de adiantados conhecimentos que, no futuro, hão de transformar por completo a condição humana. (Conferência pronunciada por Joaquim Nabuco a 28 de agosto de 1908 na Universidade de Chicago. Essencial Joaquim Nabuco. Organização e introdução de Evaldo Cabral de Mello. São Paulo: Penguin Classics, Companhia das Letras, 2010, p. 548) 03.(FCC – TRF 1ª Região) O autor, ao empregar o segmento: (A) às estações experimentais de americanização, revela entender que o norte- americano, à época, ainda não tinha desenvolvido o sentimento de nacionalidade. (B) melhor do que em qualquer outro ponto, nega a possibilidade de que haja mais de uma estação americana em que se produzam frutos genuinamente nacionais. (C) pode-se acompanhar o processo sumário, insinua crítica ao processo citado, por não respeitar o necessário protocolo. (D) para conseguir, de plantas alienígenas, ao fim de curto estágio de aclimação, frutos genuinamente americanos, exemplifica o que concebe por americanização. (E) estamos em frente de uma das cancelas do mundo, advoga para Chicago a legítima autoridade para acatar ou condenar uma conquista científica americana. CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 19 Leia o seguinte texto para responder à próxima questão. O cérebro humano é um órgão que absorve quase 25% da glicose que consumimos e 20% do oxigênio que respiramos. Carregar neurônios ou sinapses que interligam os neurônios em demasia é uma 05 desvantagem evolutiva, e não uma vantagem, como se costuma afirmar. Todos nós nascemos com muito mais sinapses do que precisamos. Aqueles que nascem em ambientes seguros e tranqüilos vão perdendo 10essas sinapses, fenômeno chamado de regressão sináptica. Portanto, toda criança nasce com inteligência, mas aquelas que não a usam vão perdendo-a com o tempo. Estimular o cérebro da criança desde cedo 15 é uma das tarefas mais importantes de toda mãe e de todo pai modernos. (Stephen Kanitz, A favor dos videogames, Veja, 12 de outubro, 2005, com adaptações) 04.(ESAF) De acordo com o texto, constitui uma “desvantagem evolutiva” (l.5): a) levar o cérebro a consumir mais glicose do que oxigênio. b) sobrecarregar de sinapses e neurônios cérebros que não se conectam. c) perder sinapses que não são desenvolvidas quando a criança cresce em ambientes seguros e tranqüilos. d) não nascer com inteligência necessária para evitar o fenômeno da regressão sináptica. e) ter uma educação que se diz moderna, mas que retira dos pais a tarefa de educar os filhos. A tirania da experiência Acompanhei as dificuldades de um jovem que, ao terminar sua formação, saiu à procura de um emprego. Ele esbarrou em recusas que só os jovens recebem. Os entrevistadores apreciavam seu diploma, gostavam de sua apresentação e perguntavam: “Você tem experiência?”. Meu jovem amigo sentia-se num círculo vicioso: era rechaçado por falta de uma experiência que nunca poderiaadquirir, pois não conseguia emprego justamente porque lhe faltava experiência. Parece um pretexto para condenar os jovens a um salário simbólico. Eternos estagiários, eles seriam obrigados a trocar seu trabalho pelo “privilégio” de aprender o ofício. Mas não é só isso: nossa cultura, em princípio, venera a experiência. Salvo em momentos nostálgicos, duvidamos das sabedorias sagradas ou ancestrais. Preferimos confiar e acreditar nas coisas em que podemos colocar o dedo e o nariz. A autoridade, em suma, abandonou a tradição e veio para a experiência. Se sou um adolescente, como afirmo minha liberdade? Sou obrigado a me aventurar em terrenos completamente novos. Para me esquivar da autoridade dos pais e dos adultos, tento fazer algo que não esteja no campo de experiências dos que me precederam. A novidade, a originalidade tornam-se CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 20 verdadeiros valores, porque prometem libertar- me da experiência dos outros. Se fizer algo que ninguém nunca fez, quem poderia ditar minha conduta, dizendo-se sábio e experiente? Recomendação aos pais de adolescentes: se, discutindo com seus filhos, você achar bom evocar a sabedoria que vem de sua experiência, seja humilde e modesto. Quanto mais você justificar sua autoridade pela experiência, tanto mais seu rebento estará a fim de aventurar-se por terrenos pouco ou nada mapeados. (Contardo Calligaris, Folha de S. Paulo, 07/03/2002) 05. (FCC) Considerando-se o contexto, traduz-se corretamente o sentido de uma expressão do texto em: (A) rechaçado por falta de uma experiência = absorvido pela inexperiência. (B) eternos estagiários = aprendizes eventuais. (C) salvo em momentos nostálgicos = à exceção dos instantes de nostalgia. (D) evocar a sabedoria = protelar o conhecimento. (E) seu rebento estará a fim de aventurar- se = seu ímpeto o levará a ousadias. Ética de princípios As duas éticas: a que brota da contemplação das estrelas perfeitas, imutáveis e mortas, a que os filósofos dão o nome de ética de princípios, e a que brota da contemplação dos jardins imperfeitos e mutáveis, mas vivos – a que os filósofos dão o nome de ética contextual. Os jardineiros não olham para as estrelas. Eles nada sabem sobre as estrelas que alguns dizem já ter visto por revelação dos deuses. Como os homens comuns não vêem essas estrelas, eles têm de acreditar na palavra dos que dizem já as ter visto longe, muito longe... Os jardineiros só acreditam no que seus olhos vêem. Pensam a partir da experiência: pegam a terra com as mãos e a cheiram. Vou aplicar a metáfora a uma situação concreta. A mulher está com câncer em estado avançado. É certo que ela morrerá. Ela suspeita disso e tem medo. O médico vai visitá- la. Olhando, do fundo do seu medo, no fundo dos olhos do médico, ela pergunta: “Doutor, será que eu escapo desta?” Está configurada uma situação ética. Que é que o médico vai dizer? Se o médico for adepto da ética estelar de princípios, a resposta será simples: “Não, a senhora não escapará desta. A senhora vai morrer.” Respondeu segundo um princípio invariável para todas as situações. A lealdade a um princípio o livra de um pensamento perturbador: o que a verdade irá fazer com o corpo e a alma daquela mulher? O princípio, sendo absoluto, não leva em consideração o potencial destruidor da verdade. Mas, se for um jardineiro, ele não se lembrará de nenhum princípio. Ele só pensará nos olhos suplicantes daquela mulher. Pensará que a sua palavra terá que produzir a bondade. E ele se perguntará: “Que palavra eu posso dizer que, não sendo um engano (a senhora breve estará curada...), cuidará da mulher como se a palavra fosse um colo que acolhe uma criança?” E ele dirá: “Você me faz essa pergunta porque você está com medo de morrer. Também tenho medo de morrer...”Aí , então, os dois conversarão longamente – como se estivessem de mãos dadas – sobre a morte que os dois haverão de enfrentar. Como sugeriu o apóstolo Paulo, a verdade está subordinada à bondade. CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 21 Pela ética de princípios, o uso da camisinha, a pesquisa das células-tronco, o aborto de fetos sem cérebro, o divórcio, a eutanásia são questões resolvidas que não requerem decisões: os princípios universais os proíbem. Mas a ética contextual nos obriga a fazer perguntas sobre o bem ou mal que uma ação irá criar. O uso da camisinha contribui para diminuir a incidência da Aids? As pesquisas com células-tronco contribuem para trazer a cura para uma infinidade de doenças? O aborto de um feto sem cérebro contribuirá para diminuir a dor de uma mulher? O divórcio contribuirá para que homens e mulheres possam recomeçar suas vidas afetivas? A eutanásia pode ser o único caminho para libertar uma pessoa da dor que não a deixará? Duas éticas. A única pergunta a se fazer é: “Qual delas está mais a serviço do amor?” (Rubem Alves, Folha de S. Paulo, 04/03/2008) 06.(FCC – MPE/RS – Assessor) Considere as seguintes afirmações: I. Na figuração da frase os jardineiros não olham para as estrelas, a palavra sublinhada é uma metáfora dos princípios absolutos. II. A diferença básica entre a ética de princípios e a ética contextual está no fato de que a primeira não tem aplicabilidade possível. III. A frase a verdade está subordinada à bondade foi citada como contraposição a um princípio da ética estelar. Em relação ao texto, está correto o que se afirma em: (A) I, II e III. (B) I e II, apenas. (C) I e III, apenas. (D) II e III, apenas. (E) III, apenas. Coisas vagas Uma carta de P. V., queixando-se de que ainda não respondi à sua interpelação. Também, amigo P. V., as suas perguntas versam assuntos tão vagos, tão difíceis de responder: poesia e outras coisas afins... A culpa é um tanto minha, que quase unicamente de tais coisas trato nestas páginas, as quais – da mesma forma que mestre João Ribeiro deu a um livro seu o subtítulo de “crônica de vário assunto” – bem poderiam denominar-se “crônicas de vago assunto”. Ah, nem queira saber como eu invejo um amigo médico que tenho e que recebe cartas assim: “Como posso ter certeza de que vou ter um bebê? Quais são os primeiros sinais de gravidez?” Isso sim, que é pergunta precisa, sobre assunto urgente, e que traz logo uma resposta exata, definitiva, única. Mas poesia é coisa que não se explica: sente-se ou não se sente... P. S. – Se não quiser sentar-se, pior para você, amigo P. V. Mas, para que não se diga que só me interessam coisas vagas, eis aqui uma notícia que acabo de ler num dos últimos números d´ O Cruzeiro, na seção “O impossível acontece”: “Robert Tucker, de Boston, processado por dar álcool a beber a seu filho, de três anos de idade, em vez de leite, foi absolvido porque as leis do Estado de Massachusetts proíbem ministrar álcool a menores, mas somente entre os sete e os dezessete anos.” Está vendo? Quando a lei é só a lei, inteiramente ao pé da letra, o espírito da justiça fica uma coisa tão vaga... CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 22 (Adaptado de Mário Quintana, Na volta da esquina) 07.(FCC – MPE/RS – Assessor) A notícia transcrita da revista O Cruzeiro ilustra o fato de que, por vezes, num texto legal, (A) há imprevisões que impedem uma justa condenação. (B) a excessiva maleabilidade da lei torna injusta a aplicaçãode uma pena. (C) o alcance da lei pode ser excessivamente abrangente. (D) imputa-se o dolo até mesmo a quem age irrefletidamente. (E) relevam-se as contravenções que ocorrem amiúde. Livros e política A premiação do turco Orhan Pamuk com o Nobel de Literatura deste ano é uma veemente declaração do comitê que concede o prêmio em favor da liberdade de expressão. A Turquia nutre o objetivo de ser aceita na União Européia. A fim de aproximar seu padrão institucional do europeu, os turcos, entre outras ações, já aboliram a pena de morte, acabaram com os privilégios dos homens na escola e encaminharam uma ampla reforma do Judiciário. As diplomacias européias pressionam a Turquia, ainda, para que reconheça formalmente o genocídio de mais de um milhão de armênios, sob o nacionalismo turco, entre 1915 e 1923. É nesse ponto, de trato espinhoso na política turca, que o Nobel concedido a Pamuk toca diretamente. O escritor é um dos intelectuais que ousaram questionar o status quo na Turquia, que, contra as evidências históricas, nega que tenha havido uma campanha de “limpeza étnica” contra a minoria armênia. De acordo com as leis do país, insultar as instituições ou a identidade turca é crime punível com cadeia − e Pamuk foi processado por isso. A escolha do comitê faz sentido. Pena que a láurea tenha sido anunciada no mesmo dia em que a Assembléia da França aprovou projeto que torna crime negar o genocídio armênio. Os fins dos deputados franceses são justos, mas os meios acabam por criminalizar a palavra e a opinião − justamente o que se quer combater, com razão, na Turquia. (Folha de S. Paulo, editorial, 15/10/06) 08.(FCC – TCE/PB) Considere as seguintes afirmações: I. Apesar de haver demonstrado o interesse de se integrar à União Européia, a Turquia não tem tomado providências jurídicas com vistas a esse ingresso. II. Os deputados franceses reconheceram que, assim como a Turquia, também a França deveria ser responsabilizada por antigos atos de genocídio. III. Ao contrário dos pronunciamentos oficiais da Turquia, o escritor Pamuk admite ter ocorrido a “limpeza étnica” que vitimou os armênios. Em relação ao texto, está correto SOMENTE o que se afirma em: (A) I. (B) I e II. (C) II. (D) II e III. (E)III. Texto CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 23 Os mitólogos costumam chamar de imagens de mundo certas estruturas simbólicas pelas quais, em todas as épocas, as diferentes sociedades humanas fundamentaram, tanto coletiva quanto individualmente, a experiência do existir. Ao longo da história, essas constelações de idéias foram geradas quer pelas tradições étnicas, locais, de cada povo, quer pelos grandes sistemas religiosos. No Ocidente, contudo, desde os últimos três séculos uma outra prática de pensamento veio se acrescentar a estes modos tradicionais na função de elaborar as bases de nossas experiências concretas de vida: a ciência. Com efeito, a partir da revolução científica do Renascimento as ciências naturais passaram a contribuir de modo cada vez mais decisivo para a formulação das categorias que a cultura ocidental empregará para compreender a realidade e agir sobre ela. Mas os saberes científicos têm uma característica inescapável: os enunciados que produzem são necessariamente provisórios, estão sempre sujeitos à superação e à renovação. Outros exercícios do espírito humano, como a cogitação filosófica, a inspiração poética ou a exaltação mística poderão talvez aspirar a pronunciar verdades últimas; as ciências só podem pretender formular verdades transitórias, sempre inacabadas. Ernesto Sábato assinala com precisão que todas as vezes que se pretendeu elevar um enunciado científico à condição de dogma, de verdade final e cabal, um pouco mais à frente a própria continuidade da aplicação do método científico invariavelmente acabou por demonstrar que tal dogma não passava senão... de um equívoco. Não há exemplo melhor deste tipo de superstição que o estatuto da noção de raça no nazismo. (Luiz Alberto Oliveira. “Valores deslizantes: esboço de um ensaio sobre técnica e poder”, In O avesso da liberdade. Adauto Novaes (Org). São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 191) 09.(FCC – MPU – Analista Judiciário) No primeiro parágrafo, o autor: (A) fornece uma descrição objetiva do modo como, ao longo da história, germinam e se desenvolvem as imagens do mundo, expressão emprestada aos mitólogos. (B) ratifica a idéia, construída ao longo da trajetória humana, de que o pensamento científico é a via mais eficaz para o conhecimento da realidade. (C) atribui a idiossincrasias culturais as distintas representações daquilo que legitimaria as práticas humanas. (D) defende que as sociedades humanas, apoiadas na religião ou em mitos variados, constroem imagens para autenticar a experiência individual perante a coletiva. (E) expressa sua compreensão de que, fora do âmbito racional, não há base sólida que fundamente a vida dos seres humanos. Coesão e coerência textuais – mecanismos 01. (ESAF) Considere as frases a seguir. I. Eles estavam preocupados com o problema que causaram. II. Eles apresentaram suas explicações. III. As explicações não eram convincentes. Reunidas em um só período, elas estarão em correta relação lógica e sintática na frase: a) Apresentaram suas explicações porque estavam preocupados com o problema causado por eles, pois não eram convincentes. CURSO DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO Rodrigo Bezerra 24 b) As explicações não eram convincentes, mas eles as apresentaram, contudo estavam preocupados com o problema que haviam causado. c) Preocupados com o problema que haviam causado, eles apresentaram suas explicações, ainda que não convincentes. d) Quando apresentaram suas explicações, elas não eram convincentes, portanto estavam preocupados com os problemas que causaram. e) Quanto mais eles apresentavam suas explicações, mais elas não eram convincentes, à medida que eles estavam preocupados com o problema que causaram. O mate gelado corria sem pressa, e os vizinhos, convidados e imprensa se misturavam para ouvir histórias,receber a bênção e acompanhar os brevíssimos discursos. Antes de começar a festa, os vizinhos já tinham tomado conta da Casa, na alegria deste sinal de vida nova... Esse exemplo de união pela cidadania deveria mover muitas vezes o poder público, o empresariado, os artistas e a comunidade para semear Casas da Leitura pelo Acre como seringueiras e castanheiras. 2. (FGV – Ministério da Cultura) O pronome Esse (L.40) tem, no texto I, valor: (A) díctico. (B) catafórico. (C) anafórico. (D) metafórico. (E) resumitivo. 3. Com base na frase “No seu entender, é lícito tudo que o beneficia” (L.54-55), analise os itens a seguir: I. O pronome “seu” tem valor anafórico. II. O sujeito do verbo “beneficia” é “tudo”. III. O sujeito do verbo “é” é oracional. Analise: (A) se somente o item I estiver correto. (B) se todos os itens estiverem corretos. (C) se somente os itens II e III estiverem corretos. (D) se somente os itens I e II estiverem corretos. (E) se somente os itens I e III estiverem corretos. Esse raciocínio baseia-se, contudo, numa falsa comparação. Primeiramente, porque a alocação de novos recursos nada tem a ver, em princípio, com o impacto tecnológico. O avanço deste não acarreta necessariamente impacto positivo daquela. 4. (FGV) No trecho “O avanço
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