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C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 1 1 DAS PESSOAS: NATURAIS E JURÍDICAS (arts. 1o ao 78 do Código Civil) Itens específicos previstos do edital que serão abordados nesta aula: 2) Pessoa natural: conceito, capacidade e incapacidade, começo e fim, direitos da personalidade. 3) Pessoa jurídica: conceito, classificação, começo e fim de sua existência legal, desconsideração. Meus amigos e alunos: Após a análise da Lei de Introdução do Código Civil (que, apesar de ser considerada como “aula demonstrativa”, é muito importante, pois também consta do edital e por isso pode cair na prova), vamos analisar nesta aula o tema “Pessoas”, que é o primeiro ponto referente ao Código Civil (Parte Geral). Comecemos... Podemos conceituar Pessoa como sendo todo ente físico ou jurídico, suscetível de direitos e obrigações. É sinônimo de sujeito de direitos. No Brasil temos duas espécies de Pessoas: Naturais e Jurídicas. Ambas possuem aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL É o conjunto de caracteres próprios da pessoa, reconhecida pela ordem jurídica a alguém, sendo a aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações. É atributo da dignidade do homem. Prevê o art. 1o do Código Civil que: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Assim, o conceito de Pessoa inclui homens, mulheres e crianças; qualquer ser humano sem distinção de idade, saúde mental, sexo, cor, raça, credo, nacionalidade, etc. Por outro lado o conceito exclui os animais (que gozam de proteção legal, mas não são sujeitos de direito), os seres inanimados, etc. Concluindo = Pessoa Natural ou Pessoa Física é o próprio ser humano. INÍCIO DA PERSONALIDADE Há muita polêmica doutrinária envolvendo o início da personalidade civil. São três as principais teorias sobre o tema: a) Teoria Concepcionista – a personalidade tem início com a concepção; ou seja, com a própria gravidez. b) Teoria Natalista – a personalidade se inicia a partir do nascimento da criança com vida. c) Teoria da Viabilidade – que pressupõe a possibilidade de sobrevivência da criança. Países que adotam esta teoria entendem que se uma criança nasceu com uma doença que a levará a morte em poucos dias, não haverá a aquisição da personalidade. C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 2 2 No Brasil a doutrina se manifesta de forma divergente, pois, se por um lado a lei estabelece que a personalidade civil tem início com o nascimento com vida, o mesmo dispositivo a seguir assegura ao nascituro direitos desde sua concepção. Em uma prova objetiva o aluno deve se limitar ao texto expresso da lei. Porém, em um prova dissertativa, deve citar as três teorias, expondo que no Brasil há ferrenhos defensores da Concepção e da Natalidade, devendo abordar os aspectos mais relevantes de cada uma. A tendência atual é se proteger, cada vez mais, o nascituro e seus direitos desde a concepção. Analisando o texto legal, podemos afirmar que a personalidade da pessoa natural ou física inicia-se com o nascimento com vida, ainda que por poucos momentos. Esta é a primeira parte do art. 2o do CC. Se a criança nascer com vida, ainda que por um instante, já adquire a personalidade. Ocorre o nascimento quando a criança é separada do ventre materno (parto natural ou por intervenção cirúrgica), mesmo que ainda não tenha sido cortado o cordão umbilical. Além disso, é necessário que tenha respirado. Há nascimento e há parto quando a criança, deixando o útero materno, respira. Portanto... se o recém-nascido respirou... nasceu com vida. E é nesse momento que a personalidade civil terá início em sua plenitude, com todos os efeitos subsequentes, conforme veremos. NASCITURO O termo nascituro significa “aquele que há de nascer”. É o ente que já foi gerado ou concebido, mas ainda não nasceu, embora tenha vida intrauterina e natureza humana. Tecnicamente (teoria natalista), ele não tem personalidade, pois ainda não é pessoa sob o ponto de vista jurídico. Mas apesar de não ter personalidade jurídica, a lei põe a salvo os direitos do nascituro desde a concepção. Trata-se da segunda parte do art. 2o, CC. Na realidade o nascituro tem uma expectativa de direito. Ex: o nascituro tem o direito de nascer e de viver (o aborto, como regra é considerado como crime - arts. 124 a 127 do Código Penal). O nascituro também tem direito à filiação, adequada assistência pré- natal, honra, imagem, direito de ser contemplado por doação, por testamento, etc. Além disso, o art. 8o do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8.069/90 – ECA) determina que a gestante tem condições de obter judicialmente os alimentos para garantia do bom desenvolvimento do feto, consulta médica, remédios, etc. O principal direito do nascituro é o de ter direito à sucessão. Aquele que já foi concebido no momento da abertura da sucessão (morte do de cujus) legitima-se a suceder de forma legítima (conferir arts. 1.784 e 1.798, CC). Também se legitimam a suceder por testamento “os filhos ainda não concebidos de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão” (art. 1.799, I, CC). Por tal motivo, tendo já tantos “direitos”, é que está crescendo a teoria concepcionista, considerando o nascituro como sendo uma Pessoa Natural. C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 3 3 Justifica-se esta posição porque somente uma pessoa pode ser titular de direitos... e o art. 2o, CC afirma que o nascituro tem direitos... logo, tendo direitos, ele já pode ser considerado como tendo personalidade. A situação fica ainda mais definida segundo os seguidores desta teoria com o art. 542, CC que estabelece: “A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal”. Mas o que se pode afirmar, sem medo de errar, é que o nascituro é titular de um direito eventual. Ex: homem falece deixando a esposa grávida. Não se pode concluir o processo de inventário e partilha enquanto a criança não nascer. O nascituro, nesta hipótese, tem direito ao resguardo à herança. Os direitos assegurados ao nascituro estão em estado potencial, sob condição suspensiva: só terão eficácia se nascer com vida. A representação do nascituro se dá por intermédio de seus pais. Nascendo com vida, a sua existência, no tocante aos seus interesses, retroage ao momento de sua concepção. As expectativas de direito, agora se transformam em direitos subjetivos. Mas há outro problema, de ordem filosófica, religiosa e jurídica envolvendo o nascituro. Isto devido ao avanço da medicina, com as técnicas de fertilização in vitro. Indaga-se: qual o momento em que podemos usar o termo nascituro de uma forma técnica? Uma corrente afirma que a vida tem início legal no momento da penetração do espermatozoide no óvulo, mesmo que fora do corpo da mulher. Para outra corrente a vida somente teria início com a concepção no ventre materno (embora ainda não se possa considerar como sendo uma pessoa). Isto porque é com a nidação (fixação do óvulo fecundado no útero) que se garante eventual gestação e o nascimento. Portanto somente será considerado como nascituro, o óvulo fecundado que for implantado no útero materno. Assim, o embrião humanocongelado não poderia ser tido como nascituro, embora tenha proteção jurídica como pessoa virtual, com uma carga genética própria. Com o objetivo de regulamentar o art. 225, §1o, inciso II da CF/88, foi editada inicialmente a Lei n° 8.974/95, proibindo e considerando como crime a manipulação genética de células humanas, a intervenção em material genético humano e a produção, guarda e manipulação de embriões humanos destinados a servir como material biológico disponível. No entanto foi aprovada a Lei n° 11.105/05, dividindo opiniões: trouxe esperança para alguns e indignação para outros. Pela nova lei é permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias, obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro, desde que: a) sejam inviáveis, ou estejam congelados há três anos ou mais; b) haja consentimento dos seus genitores. Importância de se nascer com vida Como vimos, o nascituro tem apenas expectativa de vida e é importante que nasça vivo, nem que seja por um segundo. Se nascer vivo, adquire personalidade. Será um sujeito de direitos e obrigações. No entanto, C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 4 4 caso nasça morto, nenhum direito terá adquirido e/ou transmitido. Observem. Demonstração Ordem de vocação hereditária 1. Descendente (em concorrência com o cônjuge sobrevivente) – filho, neto, bisneto, etc. 2. Ascendente (em concorrência com o cônjuge sobrevivente) – pai, avô, bisavô, etc. 3. Cônjuge sobrevivente. 4. Colaterais até o 4° grau – irmão, sobrinho, tio, primo, etc. Levando em consideração o quadro demonstrativo acima, suponhamos que X comprou um apartamento e a seguir se casou com Y pelo regime de separação parcial de bens. Faleceu um ano depois, deixando viúva grávida, pais vivos e apenas aquele apartamento para ser partilhado. Para saber quem será o proprietário do imóvel devemos aguardar o nascimento de Z. Não se pode fazer a partilha antes de seu nascimento. Vejamos as situações que podem ocorrer a partir daí. Situações: 1) Se Z (filho de X - descendente) nascer morto, o apartamento irá para A e B, que são os pais (ascendentes) de X (observe o quadro da ordem de vocação hereditária). Neste caso Y (que é o cônjuge sobrevivente) também terá direitos sucessórios, pois atualmente é considerado herdeiro necessário e concorre com os ascendentes do falecido. 2) Se Z (descendente) nascer vivo, herdará o imóvel, em concorrência com sua a mãe Y, pois como vimos atualmente o cônjuge é considerado herdeiro necessário e também concorre na herança com os descendentes do falecido. Observem que neste caso os pais de X nada herdarão. 3) Se Z nascer vivo e logo depois morrer, os bens irão todos para sua mãe. Isto porque inicialmente Z herdará parte dos bens de seu pai; no instante em que nasceu vivo, ele foi um ‘sujeito de direito’. Morrendo a seguir, transmite tudo o que recebeu a seus herdeiros. Como não tinha descendentes e nem cônjuge (até porque era recém-nascido) e seu pai já havia falecido, seu único herdeiro será o ascendente remanescente, ou seja, sua mãe. Neste caso A e B nada herdarão. É necessário dizer ainda, que todo nascimento deve ser registrado, mesmo que a criança tenha nascido morta ou morrido durante o parto. Se for natimorta, o assento será feito no “Livro C Auxiliar". Neste livro irá A B X Y Z C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 55 constar apenas: “o natimorto de Dona Fulana...”. Ou seja, pela nossa lei não se dá nome ao natimorto. No entanto, parte da doutrina entende que o “natimorto tem humanidade” e por isso teria direito a um nome (tese aprovada na Jornada de Direito Civil promovida pelo Superior Tribunal de Justiça: “A proteção que o Código confere ao nascituro alcança o natimorto, no que concerne aos direito da personalidade, tais como o nome, imagem e sepultura”). Por outro lado, é inquestionável que se a criança nasceu viva e logo depois morreu (chegou a respirar), serão feitos dois registros: o do nascimento (constando o nome da criança, pois naqueles poucos segundos a criança teve personalidade) e logo depois o de óbito. Observações: 01) Segundo a doutrina, nascituro é uma expressão mais ampla do que feto, pois este seria o nascituro somente depois que adquiriu a forma humana. 02) É importante salientar que a expressão natimorto não é considerada juridicamente técnica. O vocábulo é composto pelas palavras latinas natus (nascido) e mortus (morto), não tendo previsão no Código Civil. Possui um duplo sentido. Os Dicionários Jurídicos conceituam o natimorto como sendo "aquele que nasceu sem vida OU aquele que veio à luz, com sinais de vida, mas, logo morreu". Portanto, qualquer uma dessas situações está correta para conceituar natimorto. DIREITOS DE PERSONALIDADE (arts. 11 a 21, CC) Adquirindo a personalidade (aptidão para adquirir direitos e contrair obrigações), o ser humano adquire o direito de defender o que lhe é próprio, como sua integridade física ou corporal (como vida, corpo, seus órgãos, voz, imagem, liberdade, identidade, alimentos, etc.), intelectual (como a liberdade de pensamento, autoria científica, artística e intelectual, etc.), moral (como a honra, segredo pessoal ou profissional, privacidade, imagem, opção religiosa, sexual, etc.). Os direitos de personalidade são subjetivos e seu titular pode exigir de todos que tais direitos lhe sejam respeitados. Por isso dizemos que eles são erga omnes (extensíveis a todos). O art. 227 da Constituição Federal dispõe sobre os deveres da Família, da Sociedade e do Estado em relação à criança e ao adolescente, disposições completadas com a Lei n° 8.069/90 – ECA. Observem que a relação dos direitos de personalidade não é taxativa, mas apenas exemplificativa. Lembrem-se: a dignidade é um direito fundamental, previsto em nossa Constituição, que também prevê que são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente dessa violação (confiram também o art. 5°, inciso X da CF/88). Estabelece o art. 11, CC que com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 6 6 podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Apesar do Código fazer referência a apenas três características, a doutrina lhes dá maior extensão, afirmando que eles são: • inatos – os direitos de personalidade já nascem com o seu titular. • absolutos – não podem ser relativizados e são opostos contra todos (erga omnes). • intransmissíveis – pertencem de forma indissolúvel ao próprio titular. Neste tópico, cabe uma observação: embora os estes direitos sejam intransmissíveis em sua essência, os efeitos patrimoniais dos direitos de personalidade podem ser transmitidos. Ex: a autoria de uma obra literária é intransmissível; porém podem ser negociados os direitos autorais sobre esta obra. • indisponíveis – não podem ser cedidos, a título oneroso ou gratuito a terceiros. • irrenunciáveis – nem mesmo o seu titular pode abrirmão destes direitos. • imprescritíveis – valem durante toda vida, não correndo os prazos prescricionais; podem ser reclamados judicialmente a qualquer tempo. • impenhoráveis – se eles não podem ser objeto de cessão ou venda, também não pode recair penhora sobre os mesmos. • inexpropriáveis – ninguém pode removê-los de uma pessoa. Vamos acompanhar os próximos dispositivos a respeito: O art. 12, CC prevê a possibilidade de exigir que cesse lesão a direito da personalidade, por meio de ação própria, sem prejuízo da reparação de eventuais danos materiais e morais suportados pela pessoa. A lei prevê também a possibilidade de defesa do direito do morto, por meio de ação promovida por seus sucessores, ou seja, pelo cônjuge sobrevivente, parentes em linha reta (descendentes ou ascendentes) e os colaterais até quarto grau (irmãos, tios, sobrinhos ou primos). O corpo, como projeção física da individualidade humana, é inalienável. O art. 13 e seu parágrafo único do CC prevê o direito de disposição de partes, separadas do próprio corpo em vida para fins de transplante, ao prescrever que, “salvo por exigência médica, é defeso (proibido) o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial” (conferir com o art. 199, §4° da CF). Em hipótese alguma será admitida a disposição onerosa de órgãos, partes ou tecido do corpo humano. É possível, também, com objetivo científico ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte, podendo essa disposição ser revogada a qualquer momento (art. 14, CC). Resumindo. A disposição sobre o próprio corpo: a) é proibida quando importar diminuição permanente da integridade física (salvo por exigência C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 7 7 médica), ou contrariar os bons costumes; b) é válida com o objetivo científico ou altruístico, para depois da morte, ou, em vida, para fins de transplante. O Código Civil adotou o princípio do consenso afirmativo (termo usado pela doutrina e que caiu em alguns concursos), segundo o qual o titular do direito pode manifestar sua vontade em ser doador de órgãos, mas a qualquer tempo pode revogar esta intenção. OBS: A Lei 9.434/97 (regulamentada pelo Decreto 2.268/97 e posteriormente alterada pela Lei 10.211/01) trata do assunto, estabelecendo as regras para transplantes. Permite-se a doação voluntária nas seguintes hipóteses: a) órgãos duplos (rins) e b) partes recuperáveis de órgão (fígado) ou de tecido (pele, medula óssea), sem que sobrevenham mutilações ou deformações. O art. 15, CC obsta que uma pessoa seja constrangida a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. Trata-se do Princípio da Autonomia do Paciente. Portanto, não há a chamada supremacia do interesse médico-científico, que se invocava em nome da coletividade, em face ao interesse individual. Uma pessoa, embora enferma, tem o direito oponível contra todos de sentir-se constrangida a enfrentar tratamento médico ou a intervenção cirúrgica com risco de vida. O direito não pertence ao médico, à ciência, ou à família, mas, exclusivamente, ao paciente que após ser informado do seu estado de saúde e das alternativas terapêuticas, decidirá se se submete ou não ao tratamento ou à intervenção cirúrgica. Mesmo que saiba ou tenha consciência de que isso abreviará a sua expectativa da vida. Somente em situações extremas, quando a pessoa não consegue expressar a sua vontade, o direito se desloca para a família do enfermo. Notem agora que os artigos de 16 a 19 do Código Civil, tutelam o direito ao nome (falaremos sobre ele logo adiante, em um item especial) e contra o atentado de terceiros, expondo-o ao desprezo público, ao ridículo, acarretando dano moral ou patrimonial. O art. 20, CC tutela, de forma autônoma, o direito à imagem e os direitos a ele conexos (art. 5o, XXVIII, letra “a”, CF/88). A imagem-retrato é a representação física da pessoa, implicando o reconhecimento de seu titula por meio de fotografia, escultura, desenho, pintura, interpretação dramática, cinematográfica, televisiva, sites, etc. A imagem-atributo refere-se ao conjunto de caracteres e qualidades cultivadas pela pessoa, como a habilidade, competência, lealdade, etc. O direito à imagem se refere ao direito de ninguém ver seu rosto estampado em público ou comercializado sem seu consenso e o de não ter sua personalidade alterada, material ou intelectualmente, causando dano à sua reputação. Como normalmente ocorre, há certas limitações ao direito de imagem, com dispensa da anuência para sua divulgação. Vejamos algumas situações: a) pessoas famosas (ex: artistas, políticos, etc.), pois elas têm sua imagem divulgada em razão de sua atividade; mas mesmo assim, não pode haver abusos, pois a sua vida íntima deve ser preservada; b) necessidade de divulgação da C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 8 8 imagem por questões de segurança pública (ex: publicação da fotografia de um perigoso marginal procurado pela polícia); c) quando se obtém uma imagem, mas a pessoa é tão somente parte do cenário, pois o que se pretende divulgar é o acontecimento em si (ex: um congresso, uma exposição de objetos de arte, a inauguração de uma obra pública, um hotel ou um restaurante, reportagens sobre tumultos, enchentes, shows, etc.). Há diversas decisões de que não cabe direito de imagem em fotografia de acontecimento carnavalesco, pois a pessoa que dele participa, de certa forma, “renuncia a sua privacidade”. O titular de um direito de personalidade, quando este for violado, poderá pleitear reparação de danos morais e patrimoniais. E se ele já for falecido o direito será exercido pelo cônjuge, ascendente ou descendente (trata-se do art. 20, parágrafo único, CC). Ficou famoso um caso em que uma empresa elaborou um “álbum de figurinhas” estampando a fotografia de jogadores de futebol. Como no caso havia o intuito de lucro da empresa e não houve o consentimento dos atletas, concluiu-se que foi uma prática ilícita, sujeita à indenização. A Súmula 221 do STJ estabelece que é cabível a reparação do dano decorrente de publicação da imprensa, tanto do autor do escrito, quanto do proprietário do veículo de divulgação. O Código Civil também tutela, em seu art. 21 o direito à intimidade (art. 5o, X, CF/88), prescrevendo que a vida privada da pessoa natural é inviolável (ex: inviolabilidade de domicílio, de correspondência, bancário, conversas telefônicas, etc.). Devemos reforçar que o Código Civil não exauriu a matéria referente aos direitos de personalidade. A enumeração exposta é meramente exemplificativa, deixando ao Juiz margem para que estenda a proteção a situações não previstas expressamente. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL A) NOME É o sinal exterior pelo qual se designa e se reconhece uma pessoa. É pelo nome que ela fica conhecida no seio da família e da comunidade em que vive. Prevê o art. 16, CC que toda pessoa tem o direito ao nome, nele compreendido o prenome e o sobrenome. Trata-se de direito inalienável (não pode ser vendido), imprescritível (não correm prazos prescricionais) e personalíssimo, essencial para o exercício de direitos e cumprimento das obrigações. Háuma proteção especial da lei em relação ao nome, mediante as ações judiciais. A lei protege a honra da pessoa, proibindo que o seu nome seja usado ou empregado em situações agressivas à intimidade de quem se vê exposto à veiculação pública que provoque depreciação ética, moral ou jurídica, mesmo que a intenção na publicação ou representação não revele intuito difamatório (art. 17, CC). O nome é um direito da personalidade, que também é conferido às pessoas jurídicas, pois estas também têm direito ao nome. São elementos constitutivos do nome: C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 9 9 • Prenome ⎯ é o nome individual, próprio da pessoa, que pode ser simples (ex: João, José, Rodrigo, Laura, Aparecida, etc.) ou composto (ex: José Carlos, Antônio Pedro, Ana Maria, etc.). • Patronímico ⎯ ou nome de família, ou apelido de família, ou simplesmente sobrenome ⎯ identifica a procedência da pessoa, o tronco familiar do qual provém, indicando sua filiação ou estirpe, podendo também ser simples ou composto. • Agnome ⎯ é o sinal distintivo entre pessoas da mesma família com nomes iguais, que se acrescenta ao nome completo (ex: Júnior, Filho, Neto, etc.). O pseudônimo (em latim: nome falso) consiste no nome atrás do qual se abriga um autor de obra cultural ou artística, para o exercício desta atividade específica (ex: cantor, ator, autor de um livro, etc.). A lei prevê, de forma expressa, como um direito inerente à personalidade (art. 19, CC), gozando da mesma proteção que se dá ao nome, quando usado para finalidades lícitas. Em regra o nome é imutável. No entanto o princípio da inalterabilidade do nome sofre diversas exceções em casos justificados. A lei e a jurisprudência admitem a retificação ou a alteração de qualquer dos seus elementos. No entanto na prática há um maior rigor quanto à modificação do prenome e um menor rigor em relação ao sobrenome. A propósito, vejam a alteração que a Lei 9.708/98 fez na Lei de Registros Públicos (LRP – Lei nº 6.015/73), em especial no art. 58: “O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por apelidos públicos notórios”. O parágrafo único deste mesmo dispositivo estabelece outra possibilidade: “A substituição do prenome será ainda admitida em razão de fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime, por determinação, em sentença, de Juiz competente, ouvido o Ministério Público”. Outro exemplo é o previsto no art. 56 da própria LRP que permite que o interessado, no primeiro ano, após completar a maioridade civil, altere seu nome, desde que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada pela imprensa. No entanto o art. 57 determina que qualquer alteração posterior de nome, somente será feita por exceção e motivadamente, após audiência do Ministério Público, e por sentença do Juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração na imprensa. Outros exemplos: • quando expuser seu portador ao ridículo ou situações vexatórias. • quando houver evidente erro gráfico (ex: Ner son, Osvardo, etc.). • quando causar embaraços comerciais e/ou morais ⎯ trata-se da homonímia (ou homônimo). • com uso prolongado e constante de um nome diverso do que figura no registro ⎯ admite-se a alteração do nome adicionando-se o apelido ou alcunha (ex: Edson Pelé Arantes do Nascimento, Luiz Inácio Lula da etc.). C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 1 100 • com o casamento – atualmente o art. 1.565, §1º, CC permite que qualquer dos nubentes acrescente ao seu, o sobrenome do outro. • com a união estável ⎯ a lei permite que os conviventes adotem o patronímico de seus parceiros, desde que haja concordância recíproca. • adoção, reconhecimento de filho, separação judicial, divórcio, serviço de proteção de vítimas e testemunhas, tradução de nomes estrangeiros, etc. B) ESTADO O estado é definido como sendo o modo particular de existir, ou seja, a soma de qualificações de uma pessoa na sociedade. Apresenta, basicamente sob 03 (três) aspectos: • Individual (ou físico) ⎯ são as características pessoais: idade, sexo, saúde mental e física, altura, peso, etc. • Familiar ⎯ indica a situação que a pessoa ocupa na família: a) quanto ao matrimônio (solteiro, casado, viúvo, separado ou divorciado); b) quanto ao parentesco consanguíneo (pai, mãe, filho, avô, irmão, primo, tio, etc.); c) quanto à afinidade (sogro, sogra, genro, nora, cunhado, etc.). • Político ⎯ identifica a pessoa a partir do local em que nasceu ou de sua condição política dentro de um País: nacional (nato ou naturalizado), estrangeiro, apátrida. Obs.: a expressão heimatlos (origem alemã) significa apátrida. O estado é regulado por normas de ordem pública. É irrenunciável, pois não se pode renunciar aquilo que é uma característica pessoal. É uno e indivisível, pois ninguém pode ser simultaneamente casado e solteiro; maior e menor, etc. Por ser um reflexo da personalidade, é inalienável, não podendo ser objeto de comércio. Trata-se de um direito indisponível e imprescritível. As ações tendentes a afirmar, obter ou negar determinado estado, também chamadas de ações de estado (ex: investigação de paternidade, divórcio, etc.). Estas ações são personalíssimas. C) DOMICÍLIO O conceito de domicílio surge da necessidade legal que se tem de fixar as pessoas em determinado ponto, onde possam ser encontradas para responder por suas obrigações. Distinção: • Residência ⎯ é o lugar em que o indivíduo se estabelece habitualmente, com a intenção de permanecer, mesmo que dele se ausente temporariamente; trata-se de uma situação de fato. • Domicílio ⎯ é a sede da pessoa, tanto física como jurídica, onde se presume a sua presença para efeitos de direito e onde exerce ou pratica, habitualmente, seus atos e negócios jurídicos. É o lugar onde a pessoa estabelece sua residência com ânimo definitivo de permanecer; trata- se de um conceito jurídico. Possui dois elementos: C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 1 111 a) Objetivo – é o estabelecimento físico da pessoa; a fixação da residência. b) Subjetivo – é a intenção, o ânimo de ali permanecer em definitivo (a doutrina chama isso de animus manendi). Regra Básica: O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a residência com ânimo definitivo (art. 70, CC). É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o lugar onde esta é exercida (art. 72, CC). Outras regras: A) Uma pessoa pode residir em mais de um local, tomando apenas um como sendo o centro principal de seus negócios; este local então será o seu domicílio. Mas se a pessoa tiver várias residências, onde alternadamente viva, sem que se possa considerar uma delas como sendo o seu centro principal, o domicílio pode ser qualquer delas → o Brasil adotou o sistema da pluralidade domiciliar (art. 71, CC). B) Pode ocorrer que uma pessoa não tenha uma residência habitual; ela não tem um ponto central de negócios. O exemplo clássico é o dos circenses que a cada momento estão em uma localidade diferente. O domicílio desta pessoa então será o lugaronde ela for encontrada (art. 73, CC). Trata-se do chamado foro aparente ou ocasional. Espécies de Domicílio 1) Domicílio Voluntário ⎯ escolhido livremente pela própria vontade do indivíduo e por ele pode ser modificado (geral) ou estabelecido conforme interesses das partes em um contrato (especial). 2) Domicílio Legal ou Necessário ⎯ é a lei que determina o domicílio, em razão da condição ou situação de certas pessoas. Deixa de existir a liberdade de escolha do domicílio. Observem o art. 76, CC. Assim: • Incapazes (qualquer tipo de incapacidade ) ⎯ os incapazes têm por domicílio o de seus representantes legais (pais, tutores ou curadores). • Servidor Público ⎯ seu domicílio é o lugar onde exerce permanentemente sua função. • Militar em serviço ativo ⎯ o domicílio do militar do Exército é o lugar onde está servindo; o da Marinha ou da Aeronáutica é a sede do comando a que se encontra imediatamente subordinado. Aplica-se este dispositivo, por analogia, também aos Policiais Militares estaduais. O militar reformado (aposentado) não tem mais este domicílio. • Preso ⎯ é o lugar onde a pessoa cumpre a sentença (não se aplica ao preso provisório; é necessário que haja uma decisão condenatória). • Marítimos (são os oficiais e tripulantes da marinha mercante) ⎯ Marinha Mercante é a que se ocupa do transporte de passageiros e mercadorias. O domicílio legal é no lugar onde estiver matriculado o navio. C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 1 122 • Agente Diplomático do Brasil que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade, sem indicar seu domicílio no país, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no seu último domicílio. 3) Especial ⎯ O domicílio voluntário especial merece um destaque à parte. Segundo a doutrina ele pode ser subdividido: a) domicílio contratual (art. 78, CC) – local especificado no contrato para o cumprimento das obrigações dele resultantes; b) domicílio (ou foro) de eleição ou cláusula de eleição de foro (previsto no art. 111 do Código de Processo Civil) – escolhido pelas partes para a propositura de ações relativas às obrigações. Quando se tratar de ação que verse sobre imóveis a competência é a da situação da coisa. Há uma forte corrente jurisprudencial negando o foro de eleição nos contratos de adesão, “quando constitui um obstáculo à parte aderente, dificultando-lhe o comparecimento em juízo”. Trata-se de uma orientação do STJ, que entende ser cláusula abusiva, pois ela prejudica o consumidor, uma vez que o obriga a responder ação judicial em local diverso de seu domicílio (“é nula a cláusula que não fixar o domicílio do consumidor”). Lembrando que contrato de adesão (ou por adesão) é aquele que já está pronto, elaborado de forma unilateral. Ou você assina (adere) o contrato da forma como que ele foi redigido ou o mesmo não sai. Não é possível ficar discutindo cláusulas contratuais. Por tal motivo a tendência é não ser possível colocar o foro ou domicílio de eleição no contrato (até porque ele não foi eleito; foi imposto por uma das partes). FIM DA PERSONALIDADE DA PESSOA NATURAL A existência da pessoa natural termina com a morte (art. 6o, CC). Verificada a morte de uma pessoa, desaparecem, como regra, os direitos e as obrigações de natureza personalíssima (ex: dissolução do vínculo matrimonial, relação de parentesco, etc.). Já os direitos não personalíssimos (em especial os de natureza patrimonial) são transmitidos aos seus sucessores. Num sentido genérico podemos dizer que há três espécies de morte: a) real; b) civil; c) presumida. A doutrina acrescenta também a hipótese da Lei 9.140/95 que reconheceu como mortos, para todos os efeitos legais, os “desaparecidos políticos”. Morte Real ⎯ A personalidade civil termina com a morte física, deixando o indivíduo de ser sujeito de direitos e obrigações. No momento do falecimento a pessoa deixa de ser um sujeito de direitos e obrigações. A morte real se dá com o óbito comprovado da pessoa natural. A regra geral é que inicialmente se exige um atestado de óbito (para isso é necessário o corpo), que irá comprovar a certeza do evento morte, devendo o mesmo ser lavrado por profissional registrado no Conselho Regional de Medicina. Com este documento é lavrada a certidão de óbito, por ato do oficial do registro civil de pessoa natural, sendo esta a condição para o sepultamento. Na falta do corpo, recorre-se aos meios indiretos de comprovação morte real (também C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 1 133 chamada de justificação judicial de morte real). Isto está disciplinado no art. 88 da Lei n° 6.015/73 (Lei de Registros Públicos): "Poderão os juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágios, incêndio, terremoto ou outra qualquer catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar o cadáver para exame". Se um avião explode matando todos os passageiros, há o óbito comprovado de todos; entretanto, pode ser que não tenhamos os corpos de todos os passageiros. Mesmo assim podemos dizer que houve a morte real, pela justificação judicial: não foram encontrados todos os corpos, mas há certeza da morte de todos. Morte Civil ⎯ A morte civil era a perda da personalidade em vida. Era uma pena aplicada a pessoas condenadas criminalmente, em situações especiais. Atualmente, pode-se dizer ela não existe mais. No entanto, há resquícios de morte civil. Ex: exclusão de herança por indignidade do filho, “como se ele morto fosse” (vejam esta expressão no art. 1.816, CC). Morte Presumida ⎯ ocorre quando a pessoa for declarada ausente. Ausência é o desaparecimento de uma pessoa do seu domicílio. A pessoa que deixa de dar notícias de seu paradeiro por um longo período de tempo, sem deixar um representante (procurador) para administrar seus bens (art. 22, CC). Os efeitos da morte presumida são patrimoniais (protege-se o patrimônio do ausente) e alguns pessoais (ex: o estado de viuvez do cônjuge do ausente). A ausência só pode ser reconhecida por meio de um processo judicial composto de três fases: a) curadoria de ausentes; b) sucessão provisória; c) sucessão definitiva. Vejamos. Primeira Fase – Declaração de Ausência. Ausente uma pessoa, qualquer interessado na sua sucessão (e até mesmo o Ministério Público) poderá requerer ao Juiz a declaração de ausência e a nomeação de um curador. Trata-se da curadoria de ausentes. Os bens são arrecadados e entregues ao curador apenas para os mesmos sejam administrados (não há efeitos pessoais). Durante um ano (no caso do ausente não deixar representante ou procurador) devem-se expedir editais convocando o ausente para retomar a posse de seus haveres. Com a sua volta opera-se a cessação da curatela, o mesmo ocorrendo se houver notícia de seu óbito comprovado. No entanto, se o ausente deixou um representante para cuidar de seus interesses, aquele prazo (de um ano) eleva-se para três anos. É o que diz o art. 26, CC. Segunda Fase – Sucessão Provisória. Se o ausente não comparecer no prazo (um ou três anos, dependendo da hipótese), poderá ser requerida e aberta a sucessão provisória e o início do processo de inventário e partilha dos bens. No processo de ausência a sentença do Juiz é dada logo no início do processo, para que se inicie a sucessão provisória. Mas esta sentença determinando a abertura da sucessão aindanão produz efeitos de imediato. O art. 28, CC prevê uma cautela a mais. Ou seja, concede um prazo de mais 180 dias para que o ausente reapareça e tome conhecimento da sentença que determinou a abertura da sucessão provisória de seus bens. C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 1 144 Assim, a sentença somente irá produzir efeitos após 180 dias de sua publicação na imprensa. Trata-se, digamos, de uma “última chance” que se dá ao ausente. Após este prazo, a ausência passa a ser presumida. Nesta fase cessa a curatela dos bens do ausente. É feita a partilha dos bens deixados e agora são os herdeiros, de forma provisória e condicional (e não mais o curador) que irão administrar os bens, prestando caução (ou seja, dando garantias de que os bens serão restituídos no caso do ausente aparecer). Nesta fase os herdeiros ainda não têm a propriedade; exercem apenas a posse dos bens do ausente. Apenas se antecipa a sucessão, sem delinear definitivamente o destino dos bens desaparecido. Por isso os sucessores ainda não podem vender os bens. Os imóveis somente podem ser vendidos com autorização judicial. A sucessão provisória é encerrada se o ausente retornar ou se comprovar a sua morte real. Convém acrescentar que o descendente, o ascendente e o cônjuge (herdeiros necessários) que forem sucessores provisórios do ausente e estiverem na posse dos bens terão direito a todos os frutos e rendimentos desses bens. Ex: Uma pessoa foi considerada “ausente”; era proprietário de duas casas e uma fazenda. Seu filho entrou na posse dos bens: mora em uma das casas, alugou a outra e tornou a fazenda extremamente produtiva. Se seu pai retornar posteriormente, o filho não será obrigado a restituir os aluguéis que recebeu com a casa e nem o que lucrou explorando a fazenda. Já os demais sucessores (ex: irmãos, tios, sobrinhos, etc.) terão direito somente à metade destes frutos ou rendimentos. Terceira Fase – Sucessão Definitiva. Após 10 (dez) anos do trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória, sem que o ausente apareça, será declarada a morte presumida. Nesta ocasião converte-se a sucessão provisória em definitiva. Os sucessores deixam de ser provisórios, adquirindo a propriedade plena (ou o domínio) e a disposição dos bens recebidos. Porém esta propriedade é considerada resolúvel. Isto é, se o ausente retornar em até 10 (dez) anos seguintes à abertura da sucessão definitiva terá direito aos bens, mas no estado em que se encontrarem. Ou então terá direito ao preço que os herdeiros houverem recebido com sua venda. Se regressar após esse prazo (portanto após 21 anos de processo), não terá direito a mais nada. É interessante acrescentar que o art. 38, CC possibilita se requerer a sucessão definitiva provando-se que o ausente conta com 80 anos de idade e que de cinco datam as últimas notícias dele. É nesta fase (na sucessão definitiva – ou seja, até 10 anos após o trânsito em julgado da sentença de abertura da sucessão provisória) que também se dissolve a sociedade conjugal, considerando-se rompido o vínculo matrimonial. É o que prevê o art. 1.571, §1° do CC. Neste caso o cônjuge será considerado viúvo (torna-se irreversível a dissolução da sociedade conjugal), podendo se casar novamente. No entanto este cônjuge não precisa esperar tanto tempo para se casar novamente. Ele pode ingressar com um pedido de “divórcio direto”, com base na separação de fato por mais de 02 (dois) anos, nos termos do art. 1.580, §2° do CC, C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 1 155 requerendo a citação do ausente por edital. Divorciado, está livre para convolar novas núpcias. Resumindo: a) Ausência (ou curadoria do ausente) – 01 ou 03 anos, dependendo da hipótese (art. 26, CC), arrecadando-se os bens que serão administrados por um curador; b) Sucessão Provisória – é feita a partilha de forma provisória, aguardando-se 10 anos; c) Sucessão Definitiva – na abertura já se concede a propriedade plena e se declara a morte (presumida) do ausente. Seu cônjuge é reputado viúvo. Aguarda-se mais dez anos; d) Fim. É importante acrescentar que atualmente, em determinadas hipóteses, pode haver a morte presumida sem declaração de ausência. É o que prevê o art. 7o do CC. Isto para melhor viabilizar o registro do óbito, resolver problemas jurídicos e regular a sucessão causa mortis. Vejamos as duas situações excepcionais: a) For extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida. b) Pessoa desapareceu em campanha ou feito prisioneiro e não foi encontrado até dois anos após o término da guerra. A declaração de ausência nestes casos somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. Com a declaração de ausência nas hipóteses previstas, abre-se a sucessão definitiva. O patrimônio do “morto presumido” se transforma em herança, sendo que os herdeiros já podem ter a posse dos bens. COMORIÊNCIA Comoriência é o instituto pelo qual se considera que duas ou mais pessoas morreram simultaneamente, sempre que não se puder averiguar qual delas pré-morreu, ou seja, quem morreu em primeiro lugar. Art. 8º, CC: “Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos”. Ex: um avião caiu e todos os passageiros faleceram no acidente; nesse caso vamos presumir que todos eles morreram no mesmo momento. Comoriência também é chamada de morte simultânea. Trata-se de uma presunção relativa (juris tantum), ou seja, que admite prova em contrário. Aplica-se o instituto da morte simultânea sempre que houver uma relação de sucessão hereditária entre os mortos. Se não houver esta relação também não haverá qualquer interesse jurídico na questão. A consequência prática é que se os comorientes forem herdeiros uns dos outros, não haverá transferência de direitos entre eles; um não sucederá o outro. Suponha-se o caso de mortes simultâneas de cônjuges, sem descendentes e sem ascendentes, mas com irmãos. Pelo instituto da comoriência, a herança de ambos é dividida à razão de 50% para os C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 1 166 herdeiros de cada cônjuge, se o regime de bens do casamento for o da comunhão universal. Questão Polêmica E se duas pessoas falecerem em locais diferentes, mas nas mesmas circunstâncias de tempo? Há autores que defendem a posição de que somente haverá comoriência se as mortes se derem no mesmo acontecimento, lugar e tempo. Outros (Maria Helena Diniz) afirmam: "Embora o problema da comoriência tenha começado a ser regulado a propósito de caso de morte conjunta no mesmo acontecimento, ele se coloca, como se pode ver da redação do art. 8o do Código Civil, com igual relevância em matéria de efeitos dependentes de sobrevivência, nos casos de pessoas falecidas em lugares e acontecimentos distintos, mas em datas e horas simultâneas ou muito próximas. A expressão “na mesma ocasião” não requer que o evento morte se tenha dado na mesma localidade; basta que haja inviabilidade na apuração exata da ordem cronológica dos óbitos”. EFEITOSDO FIM DA PERSONALIDADE São efeitos do fim da personalidade: dissolução do vínculo conjugal e do regime matrimonial; extinção do poder familiar; extinção dos contratos personalíssimos, etc. Outro efeito de suma importância é a extinção da obrigação de prestar alimentos com o falecimento do credor. Observem que o credor é a pessoa que estava recebendo a pensão alimentícia; morrendo não faz mais jus ao benefício e este não se transmite a seus herdeiros. No entanto, no caso de morte do devedor (que é a pessoa que paga a pensão alimentícia), os herdeiros deste assumirão a obrigação até as forças da herança. Trata-se de uma inovação do atual Código. Este assunto é tratado com maior profundidade na aula referente ao Direito das Sucessões, quando este ponto for exigido pelo edital. A morte não aniquila com toda a vontade do de cujus, que pode sobreviver por meio de um testamento. Ao cadáver é devido respeito; os militares e os servidores públicos de uma forma geral podem ser promovidos post mortem; permanece o direito à imagem, à honra, aos direitos autorais, etc. CAPACIDADE Embora baste nascer com vida para se adquirir a personalidade, nem sempre se terá capacidade. Costuma-se dizer que a personalidade é a potencialidade resultante de um fato natural (nascer com vida); já na capacidade temos os limites desta potencialidade. A capacidade pode assim ser classificada: • Capacidade de direito ou de aquisição de direito ou de gozo ⎯ própria de todo ser humano, inerente à personalidade e que só se perde com a morte. É a capacidade para adquirir direitos e contrair obrigações. "Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil" (art. 1º do Código Civil). C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 1 177 • Capacidade de fato ou de exercício da capacidade de direito ⎯ isto é, de exercitar por si mesmo os atos da vida civil. Toda pessoa natural tem capacidade de direito. Esta é inerente à personalidade. Quem tem personalidade (está vivo) tem capacidade de direito. Mas essa pessoa pode não ter a capacidade de fato, pois pode lhe faltar a plenitude da consciência e da vontade, limitando o exercício (e não o gozo) dos direitos. No Brasil não existe a incapacidade de direito. A capacidade de direito não pode ser negada ao indivíduo, mas pode sofrer restrições quanto ao seu exercício. Ex: o “louco”, por ser pessoa (ele está vivo, possui personalidade), tem capacidade de direito, podendo receber uma doação; porém não tem capacidade de fato, não podendo vender o bem que ganhou. Quem possui as duas espécies de capacidade (de direito e de fato) tem a chamada capacidade plena. Quem só possui a de direito tem a chamada capacidade limitada. A incapacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil (em outras palavras: é uma restrição ao poder de agir). Visa proteger os que são portadores de alguma deficiência jurídica apreciável, graduando a forma de proteção: pode ser absoluta ou relativa. A falta de capacidade pode ser suprida pelos institutos da: • Representação → para os absolutamente incapazes, ou seja, para pessoas completamente privadas de agir na vida civil. • Assistência → para os relativamente incapazes, ou seja, para pessoas que já podem atuar na vida civil, desde que autorizadas. CAPACIDADE DE FATO Na realidade a capacidade é a regra. E a incapacidade é a exceção. A lei (ordem pública) é que irá apontar quais as hipóteses em que a pessoa pode ser privada da capacidade. A) ABSOLUTAMENTE INCAPAZES Ocorre quando houver proibição total do exercício do direito do incapaz, acarretando, em caso de violação, a nulidade absoluta do ato jurídico (art. 166, I, CC). Os absolutamente incapazes possuem direitos, porém não podem exercê-los pessoalmente. Há uma restrição legal ao poder de agir por si. Por isso devem ser representados. São absolutamente incapazes (art. 3º, CC): 1) Os menores de 16 (dezesseis) anos (critério etário) ⎯ devem ser representados por seus pais ou, na falta deles, por tutores. São chamados também de menores impúberes. O legislador entende que, devido a essa tenra idade, a pessoa ainda não atingiu o discernimento pleno para distinguir o que pode ou não fazer. 2) Os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil ⎯ são C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 1 188 as pessoas que, por motivo de ordem patológica ou acidental, congênita ou adquirida, não estão em condições de reger sua própria pessoa ou administrar seus bens. Abrange pessoas que têm desequilíbrio mental (ex: demência, paranoia, psicopatas, etc.). Para que seja declarada a incapacidade absoluta neste caso, é necessário um processo de interdição. Trata-se de uma medida de proteção, em que o Poder Judiciário declara se determinada pessoa tem ou não a plena capacidade para gerir seus próprios negócios. Pode ser total ou parcial, dependendo da hipótese concreta. Trata- se de um procedimento especial de jurisdição voluntária (não há uma disputa entre as partes, porém a intervenção do Juiz é necessária, exercendo-se a jurisdição no sentido de simples administração). A jurisdição voluntária se contrapõe à jurisdição contenciosa (que é caracterizada pela disputa entre duas ou mais partes, que pleiteiam providências opostas ao Juiz). Em regra, só depois de decretada a interdição é que se recusa a capacidade de exercício, sendo nulo qualquer ato praticado pela pessoa interditada, ainda que a outra pessoa não saiba da interdição. Isto porque há uma presunção da publicidade da sentença de interdição e conhecimento geral. Se o ato praticado pelo enfermo mental foi antes de sua interdição, em regra não se anula o negócio. No entanto, jurisprudência e a doutrina admitem a produção retroativa dos efeitos da interdição em hipóteses especiais. Nosso direito não admite os chamados “intervalos lúcidos”. Ou seja, se a pessoa praticou o ato após a sua interdição, este ato é considerado nulo, não se aceitando a demonstração de que naquele momento, embora interditada, a pessoa estava lúcida. A senilidade ou senectude (velhice), por si só, não é causa de restrição da capacidade de fato. 3) Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade ⎯ trata-se de uma expressão genérica e muito abrangente. Pode incluir o surdo-mudo, desde que ele não possa manifestar sua vontade de forma alguma. Se puder exprimir sua vontade, pode ser considerado relativamente capaz ou até plenamente capaz, dependendo do grau de sua expressão, embora estejam impedidos de praticar atos que dependam de audição (ex: testemunha em testamento). O dispositivo inclui, também, as pessoas que perderam a memória, embora de forma transitória, e outros casos análogos. Reforçando: o Código Civil não estende a incapacidade: a) ao cego, que somente terá restrição aos atos que dependem da visão, como testemunha ocular de um fato, testemunha em testamentos, etc.; além disso, o cego somente poderá fazer testamento da forma pública; b) ao analfabeto; e c) à pessoa com idade avançada. B) RELATIVAMENTE INCAPAZES C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..bbrr 1 199 Trata-se de uma situação intermediária entre a incapacidade total e a capacidade plena. A incapacidade relativa diz respeito àqueles que podem praticar por si os atos da vida civil, desde que assistidos por seus representantes legais. O efeito da violação desta norma é gerar a anulabilidade (ou nulidade relativa) do ato jurídico (art. 171, I, CC), dependendo da iniciativa do lesado. Certos atos a pessoa já pode praticar sem assistência e são considerados válidos. Há outras hipóteses em que o ato pode ser ratificado ou convalidado pelo representante legal, posteriormente. A grande diferença entre os absolutamente incapazes e os relativamente incapazes é que no primeiro caso a pessoa não pode praticar o ato, por isso ela será representada; já na segunda hipótese a pessoa pratica pessoalmente o ato, sua vontade é levada em conta, mas não pode praticar este ato sozinha, sendo necessária a assistência. Se houver um conflito de interesses entre o incapaz e o assistente, o Juiz lhe nomeará um curador especial. São relativamente incapazes (art. 4º, CC): 1) Maiores de 16 anos e menores de 18 anos ⎯ afirma a doutrina que a sua pouca experiência e insuficiente desenvolvimento intelectual não lhes possibilitam a plena participação na vida civil. São também chamados de menores púberes. Eles somente poderão praticar certos atos mediante assistência de seus representantes, sob pena de anulação. No entanto há atos que o relativamente incapaz pode praticar mesmo sem assistência. Ex: casar (necessitando neste caso apenas de uma autorização de seus pais); fazer testamento (art. 1.860, parágrafo único do CC); servir como testemunha (art. 228, I, CC) inclusive em atos jurídicos e em testamento; ser eleitor, etc. O menor, entre 16 e 18 anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, espontaneamente se declarou maior (art. 180, CC). Explicando: Em um contrato, um rapaz com 17 anos se passou por maior de 18 anos e assumiu determinada obrigação. Depois, para não cumprir esta obrigação, alegou ser menor e revelou sua idade verdadeira. Pela lei o menor não poderá fugir desta obrigação, pois conscientemente declarou-se maior (não se pode, para eximir de uma obrigação, alegar sua própria torpeza). 2) Ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido ⎯ alargaram-se os casos de incapacidade relativa decorrente de causa permanente ou transitória. Deve haver também um processo de interdição, onde o Juiz irá estabelecer os limites da curatela (maior ou menor dependendo do grau de comprometimento mental do interditado). A dependência por álcool ou drogas faz com que a pessoa seja considerada relativamente incapaz. No entanto se o grau de dependência atingir níveis excepcionais, essa pessoa poderá ser considerada absolutamente incapaz. 3) Excepcionais, sem desenvolvimento mental completo ⎯ trata- se de uma expressão de caráter genérico, abrangendo as pessoas portadoras C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 2 200 de alguma anomalia psíquica que apresentam sinais de desenvolvimento mental incompleto. Neste caso também é necessário um processo regular de interdição. O exemplo clássico da doutrina são os portadores da “Síndrome de Down”. 4) Pródigos ⎯ são os que dilapidam os seus bens ou seu patrimônio, fazendo gastos excessivos e anormais, podendo chegar à miséria. Trata-se de um desvio de personalidade e não de uma alienação mental propriamente dita. O exemplo clássico é o da pessoa viciada em jogos de azar, que de forma compulsiva, dissipa seu patrimônio. Neste caso a pessoa deve ser interditada para a sua própria proteção, e, em seguida, nomeia-se um curador para cuidar de seus interesses. O pródigo interditado não pode (sem assistência): emprestar, transigir, dar quitação, alienar (ou seja, vender, doar, etc.), hipotecar, agir em juízo, etc. Como ele fica privado somente dos atos que possam comprometer seu patrimônio, ele pode: exercer atos de mera administração, exercer profissão, etc. O pródigo poderá até se casar. No entanto se houver necessidade de pacto antenupcial haverá assistência de um curador, pois o ato nupcial pode envolver disposição de bens. Observação – Índios ⎯ O atual Código Civil afirma que a capacidade dos índios será regulada por meio de lei especial (art. 4o, parágrafo único, CC). A Lei 6.001/73 (Estatuto do Índio) coloca o índio e sua comunidade, enquanto não integrado à comunhão nacional, sob o regime tutelar. O órgão que deve assisti-los é a FUNAI. TUTELA E CURATELA A tutela é um instituto de caráter assistencial que tem por finalidade substituir o poder familiar. Protege o menor (impúbere ou púbere) não emancipado e seus bens, se seus pais falecerem ou forem suspensos ou destituídos do poder familiar, dando-lhes representação ou assistência no plano jurídico. Pode ser oriunda de provimento voluntário, de forma testamentária, ou em decorrência da lei. Observem que o tutor pode representar o incapaz (se este for menor de 16 anos) ou assisti-lo (se ele for maior de 16, porém menor de 18 anos). O tutor pode realizar quase todos os atos em nome do menor (não poderá emancipá-lo, pois isso depende de sentença judicial). Observem que poder familiar e tutela são institutos que se excluem. Somente se o menor não tiver pais é que será nomeado o tutor. Já a curatela é um encargo público (também chamado de munus) previsto em lei e que é dado para pessoas maiores, mas que não estão em condições de realizar os atos da vida civil pessoalmente, geralmente em razão de alguma enfermidade, deficiência mental ou prodigalidade. O curador além de administrar os bens do incapaz, deve, também, reger e defender a pessoa. Decorre de nomeação pelo Juiz em decisão prolatada em processo de interdição. C) CAPACIDADE PLENA C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 2 211 A incapacidade termina, via de regra, ao desaparecerem as causas que a determinaram. Assim, nos casos de loucura, da toxicomania, etc., cessando a enfermidade que a determinou, cessa também a incapacidade. Já em relação à menoridade, a incapacidade cessa quando o menor completar 18 anos (art. 5°, caput, CC). Dessa forma, torna-se apto a exercer pessoalmente todos os atos da vida civil sem necessidade de ser assistido por seus pais. Cuidado!! Não confundir a capacidade civil com a imputabilidade (ou responsabilidade) penal, que também se dá aos 18 anos completos. E nem com a capacidade eleitoral que se inicia, facultativamente, aos 16 anos. EMANCIPAÇÃO Emancipação (cessação da incapacidade ou antecipação dos efeitos da maioridade) é a aquisição da capacidade plena antes dos 18 anos, habilitando o indivíduo para todos os atos da vida civil. A emancipação é irrevogável e definitiva. Adquire-se a emancipação (art. 5o, parágrafo único, Código Civil): 1) Pela concessão dos pais ou apenas de um deles na falta do outro (emancipação parental ou voluntária) ⎯ os pais reconhecem que seu filho já tem maturidade suficiente para reger sua pessoa e seus bens. Deve ser concedida por ambos os pais, por instrumento público (escritura) e posteriormente registrada no Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais, não sendo necessária a homologação do Juiz. O menor deve ter, no mínimo, 16 anos completos.2) Por Sentença do Juiz ⎯ em duas hipóteses: a) quando um dos pais não concordar com a emancipação, contrariando a intenção do outro (conflito de vontades entre os pais); b) quando o menor estiver sob tutela. O tutor não pode emancipar o menor. Evita-se, assim, a emancipação destinada apenas para livrar o tutor do encargo. Desta forma a emancipação deve ser feita pelo Juiz, se o menor tiver 16 anos, ouvido o tutor, com a participação do Ministério Público, depois de verificada a conveniência para o bem do menor. 3) Pelo casamento ⎯ a idade nupcial (ou idade núbil) do homem e da mulher é de 16 anos. O art. 1.517, CC exige a autorização de ambos os pais, enquanto não atingida a maioridade. Caso os pais não consintam com o casamento, ou em havendo divergência entre eles, a autorização poderá ser suprida pelo Juiz. Após a celebração do casamento, os cônjuges, mesmo que menores, são considerados emancipados. O divórcio, a viuvez e mesmo a anulação do casamento não implicam no retorno à incapacidade. No entanto o casamento nulo pode fazer com que se retorne à situação de incapaz. Mas há uma exceção: se o casamento for contraído de boa-fé. Nesta hipótese o ato produzirá efeitos de um casamento válido e a pessoa será considerada emancipada. Somente em casos excepcionais admite-se o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (16 anos). Ex: gravidez. Digamos que uma jovem C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 2 222 de 15 anos engravidou de seu namorado que tem 23 anos e uma situação financeira confortável. Eles querem se casar. Mas a jovem ainda não tem a idade núbil. Neste caso exige-se uma sentença judicial de suprimento de idade. 4) Pelo exercício de emprego público (efetivo) ⎯ excluem-se os diaristas, contratados e os nomeados para cargos em comissão. Há entendimento que deve ser funcionário da administração direta (excluindo- se, assim, os funcionários de autarquias). Há pouca aplicação prática deste dispositivo, pois os editais de concursos públicos exigem que o candidato tenha, no mínimo, 18 anos completos. 5) Pela colação de grau em curso de ensino superior ⎯ também há pouca aplicação prática devido às particularidades de nosso sistema de ensino. 6) Pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que em função deles, o menor tenha economia própria ⎯ é necessário que este menor tenha no mínimo 16 anos completos, pois já revelaria suficiente amadurecimento. Na prática há uma certa dificuldade para se provar o que seja "economia própria" Ex: pessoas que com 16 anos que já é um artista expondo obras em galerias mediante remuneração; jogador de futebol profissional, etc. PESSOAS JURÍDICAS (arts. 40 a 69, CC) As Pessoas Jurídicas são entes resultantes da criação da lei. Existem como grupos constituídos para a realização de determinados fins, sendo dotadas de direitos e obrigações. Observem que a doutrina usa outras expressões sinônimas: pessoas morais, coletivas, abstratas, fictícias ou “entes de existência ideal”. As Pessoas Jurídicas também têm direito à personalidade (identificação, liberdade para contratar, boa reputação, etc.), aos direitos reais (pode ser proprietária, usufrutuária, etc.), aos direitos industriais (art. 5o, inciso XXIX da CF/88), aos direitos obrigacionais (podendo comprar, vender, alugar ou contratar de uma forma geral) e até mesmo aos direitos sucessórios (podem adquirir bens causa mortis, ou seja, por testamento). É interessante acrescentar que os dispositivos relativos aos direitos da personalidade da pessoa natural (arts. 11 a 21, CC) também podem ser aplicados em relação à pessoa jurídica, no que couber, por força do art. 52, CC. E é por isso que uma pessoa jurídica tem direito ao nome, à marca, à imagem, à propriedade, ao segredo, etc. Segundo a doutrina ela tem honra objetiva, pois tem patrimônio, reputação, bom nome, etc. Assim, no campo do Direito Civil, a pessoa jurídica pode ser vítima e sofrer danos morais, C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 2 233 tendo, inclusive, direito de acionar o Poder Judiciário para exigir reparação desses danos. Trata-se da Súmula 227 do Superior Tribunal de Justiça. Existem diversas teorias que tentam identificar a natureza da personalidade da Pessoa Jurídica. A corrente majoritária tem adotado a Teoria da Realidade Técnica, onde a pessoa jurídica existe de fato e não como uma mera abstração. É reconhecida pelo Estado, com personalidade própria, distinta da de seus membros. São pressupostos de existência da Pessoa Jurídica: a) Vontade humana criadora. Trata-se da affectio societatis, ou seja, intenção específica dos sócios em constituir uma sociedade. b) Obediência aos requisitos impostos pela lei para sua formação. As pessoas jurídicas somente existem porque a lei assim o permite. Portanto, ela necessita se submeter aos requisitos impostos pela própria lei. c) Licitude de sua finalidade, ou seja, deve ter objeto lícito abrangendo em seu conceito: a moralidade dos atos e os objetivos perseguidos. CONCEITO De uma forma técnica podemos conceituar a Pessoa Jurídica como sendo a união de pessoas naturais ou de patrimônios, com o objetivo de atingir determinadas finalidades e reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e obrigações. Atribui-se à Pessoa Jurídica uma personalidade distinta da personalidade dos membros que a compõe. REPRESENTAÇÃO Por não poder atuar por si própria, a pessoa jurídica, como ente da criação da lei, deve ser representada por uma pessoa física (ou natural) ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Pelo art. 47, CC, todos os atos negociais exercidos pelo representante, dentro dos limites de seus poderes estabelecidos no estatuto social, obrigam a pessoa jurídica, que deverá cumpri-los. Mas se o representante extrapolar estes poderes, responderá pessoalmente por este excesso. Em regra essa pessoa é a indicada no ato constitutivo da Pessoa Jurídica. Na sua omissão, a representação será exercida por seus diretores. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva, as decisões serão tomadas pela maioria dos votos, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso (art. 48, CC). Esta representação se extrai inicialmente (embora de forma indireta) dos arts. 46, inciso V e 47 do Código Civil. Mas também está prevista expressamente no art. 12, incisos I e II (para as Pessoas Jurídicas de Direito Público) e inciso VI (para as Pessoas Jurídicas de Direito Privado) do Código de Processo Civil (C.P.C.). C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 2 244 Lembrando sempre que o Ato Constitutivo varia de acordo com o tipo de Pessoa Jurídica: estatuto (na associação); contrato social (na sociedade); escritura pública ou testamento (na fundação). CLASSIFICAÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS: A) Quanto à Nacionalidade ⎯ Elas podem ser consideradas como Nacionais ou Estrangeiras. Sociedade Nacional é a organizada conforme a lei brasileira e tem no País a sede de sua administração. A Sociedade Estrangeira não poderá funcionar no País sem autorização do Poder Executivo e ficarásujeita aos Tribunais brasileiros quanto aos atos aqui praticados. B) Quanto à Estrutura Interna 1) Universitas Personarum – nelas, o que é importante é o conjunto de pessoas, que apenas coletivamente goza de certos direitos e os exerce por meio de uma vontade única. O objetivo é o bem-estar de seus membros. Ex: as Sociedades (de uma forma geral) e as Associações. 2) Universitas Bonorum – nelas, o que é importante é o patrimônio personalizado destinado a um determinado fim e que lhe dá unidade. O objetivo é o bem-estar da sociedade. Ex: as Fundações. O objeto e o patrimônio das Fundações são seus elementos essenciais. C) Quanto às Funções e Capacidade ⎯ Dividem-se em: 1) Pessoas Jurídicas de Direito Público ⎯ Pode ser classificada em Externo ou Interno. Esta, por sua vez, pode ser subdividida em Administração Direta ou Indireta. 2) Pessoas Jurídicas de Direito Privado ⎯ Fundações Particulares, Organizações Religiosas (Lei n° 10.825/03), Partidos Políticos (Lei n° 10.825/03), Associações e Sociedade, sendo que estas podem ser: simples (antigas sociedades civis) ou empresárias (antigas sociedades comerciais ou mercantis). I.PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO O Estado é a pessoa jurídica de direito público por excelência. Todo Estado independente é formado por três elementos essenciais: a) povo; b) território; e c) governo soberano. Costuma-se dizer que o Estado é o povo, em dado território, politicamente organizado segundo sua livre e soberana vontade. I.1) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO EXTERNO Segundo o art. 42, CC, são pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros (outros países soberanos, como o Uruguai, Canadá, Dinamarca, etc.) e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público; ou seja, os Organismos Internacionais, C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 2 255 como a ONU (Organização das Nações Unidas), OEA (Organização dos Estados Americanos). I.2) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO INTERNO São aquelas cuja atuação se restringe aos interesses e limites territoriais do Estado. É a nossa nação, politicamente organizada, nos moldes previstos na Constituição Federal de 1988. A) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO INTERNO DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA OU CENTRALIZADA (art. 41, I, II e III, CC) ⎯ São elas: União, Estados-membros, Distrito Federal, Territórios e os Municípios legalmente constituídos. Costuma-se dizer que o Brasil é detentor de soberania, ou seja, não deve obediência jurídica a nenhum outro Estado. É juridicamente ilimitada no plano interno e somente contra limites na soberania de outro País. Já as demais entidades dentro do Brasil são detentoras de autonomias. A autonomia dos entes da federação brasileira está devidamente delimitada pelo Direito. Esta autonomia, na verdade, é o exercício do poder do Estado com a observância dos parâmetros jurídicos estabelecidos em uma norma de hierarquia superior (em outras palavras: a própria Constituição Federal). A União designa a nação brasileira, nas suas relações com os Estados- membros que a compõe e com os cidadãos que se encontram em seu território. Os Estados federados (Estados-membros) possuem autonomia administrativa, competência e autoridade legislativa, executiva e judiciária sobre os negócios locais. Os Municípios legalmente constituídos também se encaixam nesta classificação, pois foram assegurados pela Constituição Federal; eles têm interesses e economia próprios. Também há previsão expressa em relação ao Distrito Federal. Mas em relação a ele a natureza jurídica é controvertida. Alguns dizem que ele é um município anômalo; outros que é uma autarquia territorial; outros que é uma circunscrição territorial assemelhada aos territórios. Finalmente outros afirmam que é “mais do que um município e menos que um Estado”. Possui previsão expressa no art. 32, CF/88. Vejamos: a) o Distrito Federal rege-se por uma Lei Orgânica (típica de Municípios) e não por uma Constituição Estadual (típica dos Estados-membros); b) o Poder Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa (mistura de Câmara de Vereadores – Poder Legislativo Municipal e Assembleia Legislativa – Poder Legislativo Estadual) composto por Deputados Distritais eleitos, acumulando as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios; c) o Chefe do Poder Executivo é um Governador (típico dos Estados) Distrital e não um Prefeito (típico dos Municípios); d) é proibida a sua divisão em municípios. Há uma grande crítica em relação ao texto do art. 18, §1o, CF/88, pois ele afirma que Brasília é a Capital Federal, quando se devia ter mantido a nossa tradição e correção técnica afirmando que “o Distrito Federal é a capital da União”. Na realidade Brasília é apenas uma cidade (e que bela cidade!!) do Distrito C CUURRSSO O OON N--LLIINNE E – – D DIIRREEIITTO O CCIIVVIIL L PPAARRA A IICCMMSS--DDFF P PRROOFFEESSSSOOR R::LLAAUURRO O EESSCCOOBBAARR w wwww w..p poon ntto oddo ossc coon nccu urrssoos s..c coom m..b brr 2 266 Federal, que serve de centro político à União. As aglomerações urbanas situadas fora do Plano Piloto são chamadas de regiões administrativas (ou cidades-satélites). Chamo atenção para os Territórios. Como sabemos, já não existem mais os Territórios no Brasil. Mas apesar de não mais existirem há previsão expressa na Constituição Federal, possibilitando a criação de eventual novo Território, por meio de Lei Complementar (arts. 18, §2º e 48, inciso VI, CF/88). Para o Direito Civil ele será considerado como sendo uma Pessoa Jurídica de Direito Público Interno, pois há previsão expressa no art. 41, inciso II do Código Civil neste sentido. Alguns autores classificam os territórios como “autarquias territoriais” dando a entender que seriam pessoa jurídicas de direito público interno de administração indireta. O Brasil, pelos termos da Constituição Federal de 1988, é uma República Federativa, com sistema Presidencialista. Além disso (segundo a doutrina), possui como Regime de Governo o Estado Democrático e de Direito. B) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO INTERNO DE ADMINISTRAÇÃO INDIRETA OU DESCENTRALIZADA (art. 41, IV e V, CC) ⎯ São órgãos descentralizados, criados por lei, com personalidade jurídica própria para o exercício de atividade de interesse público. São eles: a) Autarquias. b) Associações Públicas (Lei nº 11.107/05). c) Demais entidades de caráter público criadas por lei. Vejamos cada um destes itens: A) AUTARQUIAS São pessoas jurídicas de direito público, que desempenham atividade administrativa típica, com capacidade de auto-administração. Embora ligadas ao Estado, elas desfrutam de certa autonomia, possuindo patrimônio e orçamento próprio, mas sob o controle do Executivo que o aprova por Decreto e depois o remete ao controle do Legislativo. Elas são criadas por lei específica, possuindo atribuições estatais específicas, destinadas à realização de obras e serviços públicos, de cunho social, geralmente ligadas a área da saúde, educação, etc. (exclui-se, portanto as de natureza econômica ou industrial). A autarquia nasce com a vigência da lei que a instituiu; não há necessidade de registro. Seus atos são considerados como administrativos. Como possui personalidade jurídica própria, ela se desliga do ente criador. Portanto, se alguém quiser discutir judicialmente uma revisão em sua aposentadoria, deve ingressar com ação judicial não contra a União (entidade criadora), mas contra o próprio INSS como entidade autônoma e com patrimônio próprio. Ex: INSS (Instituto
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