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EEnnccoonnttrrooss ddee PPooddeerr Veja como é possível experimentar o Poder Transformador do Senhor Jesus! Marcelo A. L. Cardoso AD Santos Editora Ltda., 1996, Curitiba, PR Digitalizado por Roberto Roltman Revisado e formatado por SusanaCap HTTP://SEMEADORESDAPALAVRA.QUEROUMFORUM.COM S um ár i o PREFÁCIO 1. INTRODUÇÃO 2. CLEÓPAS E O OUTRO, NO CAMINHO DE EMAÚS 3. MARIA, IRMÃ DE MARTA E LÁZARO 4. JOANA, DE CUZA 5. A MULHER ADÚLTERA 6. MARIA MADALENA 7. SIMÃO, O CIRENEU 8. NICODEMOS 9. A MULHER-DA-CIDADE E SIMÃO, O FARISEU 10. ZAQUEU, O PUBLICANO 11. DE SAULO A PAULO 12. O MEU ENCONTRO 13. EU TAMBÉM ENCONTREI JESUS * * * PREFÁCIO A maior recompensa desse livro será a de saber que você escreveu o seu último capítulo. Se você o fizer, todo sacrifício valeu ! O último capítulo é o do 12º encontro, e está reservado para ser escrito por você, se você se encontrar com Jesus nas páginas que seguem. Ele está aqui!... Bem pertinho de você!... E esperando que você O encontre!... Procure-O!... Encontre-O!... Registre esse encontro!... E, depois... divida essa grande alegria com o povo de Deus ! * * * 1. INTRODUÇÃO A língua humana é muito pobre para definir as realidades espirituais. Uma delas é a CONVERSÃO. METANÓIA é a palavra grega que procura explicar essa realidade. Lê-se "metanóia". Seu significado mais correto é o de "mudança interior; mudança de rumo; mudança de opinião; arrependimento; meia volta". Mas no testemunho daqueles que se convertem, esta "metanóia" destaca-se muito mais como conseqüência, do que como se fora algo possível de se conseguir por meio de algum aprendizado. Sente-se que a conversão é muito mais fruto do que encontro da alma com a revelação pessoal de Deus. A conseqüência desse encontro é que é uma mudança radical de vida... uma mudança interior... uma mudança de rumo... conversão. CONVERSÃO é, pois, a conseqüência de um encontro pessoal com Deus. Não há conversão sem mudança. Não é possível ter um encontro pessoal com Deus, e não mudar! E é essa mudança que intriga muito os chamados cristãos nominais e as igrejas. Eles se sentem como se estivessem sendo acusados de não serem cristãos verdadeiros, principalmente aqueles que sempre viveram na igreja, e se sentem normalmente piedosos. Isso acontece porque, em razão das dificuldades lingüísticas apontadas, surgem conceitos como o de Pursey, que diz que "conversão é a volta da alma a Deus, depois que ela se afastou dEle". É uma definição muito bonita, mas a palavra VOLTA, tem levado muitas pessoas sinceras a entenderem por VOLTA, como que uma espécie de PROCESSO DE VOLTAR... algo que se pode aprender, antes de experimentar... como que uma PREPARAÇÃO para a conversão. E é aí que o ENCONTRO fica postergado. Realmente, como em relação a qualquer encontro, pode, ou não, haver uma preparação para ele. Pode ser um encontro desejado, ou um encontro inesperado. Às vezes, DEUS vem ao nosso encontro de uma forma súbita; como que "arrombando" as portas do nosso "eu" e entrando em contato direto com a nossa ALMA. É a crise da conversão. Foi como ocorreu com Paulo, no caminho de Damasco. Ele caiu do cavalo! Outras vezes, é um encontro desejado, como foi o dos apóstolos, dentre os quais o de Natanael, chamado por Felipe: "Vem, e vê" (Jo 1.46). Ele foi, viu, encontrou JESUS, e largou tudo para segui-Lo. Só existem essas duas formas de conversão! Não pode ser como alguém que marca um encontro com outra pessoa, num lugar qualquer, e começa a se preparar para o encontro: toma banho, perfuma-se, coloca uma roupa apropriada, penteia-se, etc...., mas não sai de casa!... Nunca haverá o encontro! A outra pessoa pode até vir à sua casa, e ficar pertinho dela. Mas se a casa permanecer fechada, e a pessoa não sair dela, não poderá haver o encontro. Outra idéia singular para ilustrar um encontro com Deus é o da água-de-coco... do coco verde, dos nossos coqueirais. Essa imagem faz-me lembrar de Jo 7.38 - "Quem crer em mim... do seu interior fluirão rios de água viva". O encontro da conversão é um encontro de fé. E a fé é muito mais do que conhecimento intelectual. Você pode preparar o coco verde com todo carinho: limpá-lo, lavá-lo, escová-lo, dar-lhe brilho... mas se ele não for QUEBRADO, jamais você beberá da sua água. Assim também acontece com o homem. A nossa casca material é muito dura. Ela é formada por diversos elementos: intelecto, orgulho, vaidade, condicionamentos familiares, sociais, psíquicos, religiosos, etc. ... Todos eles estão como no coco, aprisionando a nossa ALMA. E a conversão é o encontro da ALMA com DEUS. A casca tem que ser quebrada. Só então, a água fluirá!. Cristão nominal é aquele que, apesar da sinceridade dos seus sentimentos, passa a vida inteira apenas dando brilho no coco... Arrumando, preparando, e embelezando a casca. Por isso, temos visto, neste século XX, tantas pseudo-conversões, ou conversões sem frutos. Igrejas cheias de "membros", mas vazias de discípulos de CRISTO. É preciso que nos convertamos DARIAMENTE. E arrependimento e oração também são fundamentais. Foi nesse ponto que Marx errou. Fé não é um salto no escuro, mas é um salto DO escuro... DA cegueira espiritual da nossa casca material, para a maravilhosa Luz de CRISTO. Só depois é que vem o aprendizado. Primeiro, o encontro tem que ser experimentado. O aprendizado sem DEUS é mera intelectualidade. Mas aprendizado com JESUS é edificação espiritual. "Pedi, e dar-se-vos-á, buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á porque aquele que pede, recebe; e o que busca, encontra; e ao que bate, se abre" (Mt 7.7,8). Abra-se você também a este encontro decisivo! HOJE PODE SER O DIA QUE IRÁ TRANSFORMAR A SUA VIDA. AMÉM! * * * 2. CLEÓPAS E O OUTRO, NO CAMINHO DE EMAÚS (Lc 24,13-35) Era a manhã do terceiro dia após a crucificação. O Mestre havia sido covardemente traído e assassinado do modo mais humilhante: morte de cruz... entre dois ladrões. Fora "contado entre os transgressores" (Is 53.12)... "Transpassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades" (Is 53.5). O grupo estava arrasado, e os discípulos perplexos. O risco de serem presos e de também morrerem, agora era muito maior. Por mais que Jesus houvesse explicado a eles sua missão, eles não haviam entendido ainda. A grande esperança deles, como a de todos os judeus-cristãos daquela época, era a de que Jesus pudesse ser o grande libertador temporal do povo judeu, livrando-os do jugo do Império Romano. Lembro-me da última ceia. Os discípulos discutindo entre si, sobre qual deles seria maior no reino temporal que esperavam que Jesus instaurasse em breve (Cf. Lc 22.24). De outra feita, Tiago e João, filhos de Zebedeu, chegaram a pedir a Jesus para que, na Sua glória, deixasse que se assentassem um à Sua direita e outro à Sua esquerda (Mc 10.35-37). Pobres discípulos; AINDA EM PROCESSO DE CONVERSÃO! É observando esses detalhes, que entendemos melhor as palavras de Jesus a Pedro, em Lc 22.32 - "Tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos"... - "O que Eu faço não o sabes agora; compreendê-lo- ás depois", dissera Jesus quando lavou os pés dos seus discípulos (Jo 13.7). Eles não podiam entender ainda, como nós também, hoje, ainda não podemos entender muitas coisas. Os discípulos estavam arrasados. Ânimo abatido. Esperanças destroçadas. O grupo em dispersão. Disse-lhes Pedro: "Vou pescar..." (Jo 21.3). Queria isolar-se. Ir cismar na solidão do mar. É o mesmo que muitos de nós fazemos hoje quando, de ânimo abatido, queremos nos afastar de tudo, para ver se também afastamos de nós os motivos que geraram as nossas mágoas - "Vou pescar...". Cleópas já estava longe de Jerusalém. Voltava para a sua aldeiade origem, pela estrada de Emaús, trocando lamentos e apreensões com o outro discípulo, que os Evangelhos não registram o nome. E não registram propositadamente, porque esse outro discípulo poderia ser eu, ou você, depois de um desapontamento com Jesus, e voltando para o nosso lugar de origem... Tinham andado bastante. Já estavam longe de Jerusalém. Emaús ficava a sessenta estádios da Cidade Santa: cerca de 7 milhas romanas e meia, ou seja 11 quilômetros e 100 metros. E iam conversando... trocando lamentos e desapontamentos... quando surge alguém: é outro caminhante que se aproxima e vai com eles... conversando também. Era Jesus ressuscitado e eles nem o perceberam. Isso é comum nos grandes estados de depressão. Ficamos tão tristes, que nem reparamos nas alegrias à nossa volta. Jesus, num monte, talvez o Hermon, já se havia transfigurado EM GLÓRIA, diante de Pedro, Tiago e João (Mt 17.1). Transfigura-se agora, EM CORPO CELESTIAL, para Cleópas e o outro discípulo. É um corpo que aparece do vazio e, de repente, desaparece do nosso campo visual, num abrir e fechar de olhos. Em forma e consistência é semelhante ao nosso corpo. Mas as feições devem ser diferentes. Os discípulos não O reconheceram pela Sua aparência, nem pela Sua voz... De outra vez, nesse mesmo corpo, Jesus atravessou as paredes do Cenáculo e se pôs no meio dos discípulos em pânico, e lhes disse: "Paz seja convosco!" (Jo 20.19). Passados oito dias, apareceu-lhes assim, novamente, e mandou que Tomé tocasse as Suas chagas (Jo 20.26). A consistência do corpo era a mesma !... E lá estava Jesus transfigurado EM CORPO CELESTIAL, ressuscitado, andando e conversando com os dois na Estrada de Emaús... E eles nem se davam conta de que andavam com Jesus... Talvez esteja acontecendo agora a mesma coisa, comigo e com você... Nós dois, na estrada de Emaús da nossa vida... Quantas vezes deverá ocorrer isso conosco ? Jesus estar do nosso lado e nós não O percebermos!... Quem sabe em alguém que passa?... Numa palavra amiga... no sorriso de um filho... num olhar sincero... no nascer do Sol... no cair da tarde... Jesus está sempre ao nosso lado, mas nem sempre O percebemos. Que pena! Quanta alegria perdida! - "Que é isso que vos preocupa e de que ides tratando à medida que caminhais?", Perguntou-Lhes Jesus (v. 17). - "Qual é a sua preocupação?", pergunta-lhe Ele agora. "Por que é que você está triste?"... - "Ignoras as ocorrências deste últimos dias?" (v. 18), perguntou-Lhe Cleópas. - "Você não sabe?, pergunta você... "Você é Deus e não sabe?..." "Onde está Você?" Eis a diferença entre os discípulos de Emaús e nós. Eles viam Jesus e não sabiam que era Ele. Nós muitas vezes não O vimos porque não nos apercebemos da Sua presença nos outros... Queremos vê-Lo só em nós!... Mas, pela Sua graça, em algumas poucas vezes, como agora, não O vemos, mas sentimos que Ele está aqui... de alguma forma Ele está aqui... do nosso lado... dizendo que ama você... que está com você... apesar de você não poder vê-Lo e nem entender agora, como os discípulos de Emaús também não entendiam. Jesus procurava esclarecer a Cleópas "e, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras" (v. 27). Assim como agora nos relembra que a ressurreição só vem depois do Calvário!... Primeiro é o sofrimento, depois a alegria... Primeiro a dor, depois a glória... Primeiro a noite, depois o dia... Pararam na aldeia de Emaús. Já declinava o dia. Jesus aceitou o convite e entrou na casa para ficar com eles. Sentaram-se à mesa e então, "tomando Ele o pão, abençoou-o, e, tendo-o partido, lhes deu; então se lhes abriram os olhos, e O reconheceram; mas Ele desapareceu da presença deles" (vv. 30,31) Foi no partir do pão que eles O reconheceram. E ainda é no partir do pão - na Comunhão - com os nossos irmãos e com o nosso próximo, que nós O reconhecemos. E muitas vezes, como aconteceu em Emaús, quando O reconhecemos também é tarde... Já está declinando o dia... E quando O reconhecemos tarde Ele desaparece... para que nós acordemos do sono das tristeza e das depressões, e passemos a procurá-Lo, colocando a Verdade, a Esperança, e a Alegria no foco principal da nossa Vontade. Ao desaparecer, Jesus levou consigo o medo dos discípulos de Emaús e eles, de súbito, se esqueceram até que já era noite, que as estradas eram perigosas, e, "na mesma hora, levantando-se, voltaram para Jerusalém..." (v. 33). É isso que Ele também quer que aconteça na sua vida, meu amado, ou minha amada! Mesmo que você esteja achando que já é tarde... reconheça-O agora... no partir dos nossos corações... LEVANTE-SE... erga a cabeça... saia da aldeia em que você está... da Emaús do seu passado... e vamos para Jerusalém. Jerusalém é onde estão os outros discípulos... Vamos ao encontro deles para contar as nossas experiências passadas... para dividir as alegrias do que o Mestre fez e faz em nossas vidas, porque ele continua a aparecer e a fazer milagres. Continua a mudar os rumos das nossas vidas: íamos para Emaús e, agora, voltamos sorrindo para Jerusalém... para o céu... para a igreja... para a família... para a congregação dos discípulos... Vamos? * * * 3. MARIA, IRMÃ DE MARTA E LÁZARO (Jo 12.1-8; Mt 26.6-13; Mc 14.3-9) Esse encontro deu-se em Betânia, na casa de Simão, o leproso, "seis dias antes da Páscoa". Lá estavam Lázaro, a quem o Senhor ressuscitara (Jo 11.1), e suas irmãs com ele: Marta e Maria. Judas Iscariotes também estava lá, entre os discípulos. Era um jantar de agradecimento e de apresentação. De agradecimento a Jesus pela ressurreição de Lázaro, e de apresentação de Simão, com vistas à cura da sua lepra. Maria não cabia em si de contentamento. Ela que antes "quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-Lhe os ensinamentos" (Lc 10.39), procurando-O, aparece agora encontrando-O e, não mais numa atitude passiva de ouvir, mas em atitude ativa de UNGIR - quebrando um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro e derramando o bálsamo sobre a cabeça de Jesus (Cf. Mc 14.3), além de ungir os seus pés com o perfume, e enxugá-los com os seus próprios cabelos (Cf. Jo 12.3), "enchendo-se toda a casa com o perfume do bálsamo". Em Maria vimos, antes, a atenção da busca e, agora, a alegria do encontro, na doação do que tinha de melhor. Diz o texto de João que "Marta servia" (Jo 12.3). Continuava servindo como da primeira vez, porque essa é uma das características de quem já encontrou Jesus na Sua realidade messiânica. Servi-Lo, como Senhor, Salvador e Rei. Marta já O tinha encontrado desde a primeira vez. Lucas diz que ela "hospedou-O na sua casa" (Lc 10.38), transliteração de hospedá-Lo no seu coração. E, com Jesus no coração, depois de encontrá- Lo como o Deus que salva, cura, liberta, e ressuscita os mortos, não há quem resista à alegria de servi-Lo. Em João, igualam-se Marta e Maria: ambas servem a Jesus! Judas Iscariotes achou um absurdo: "por que não se vendeu esse perfume por trezentos denários, e não se deu aos pobres?" (Jo 12.5). Todo interesseiro á falso caridoso. Acha sempre um absurdo o nosso modo de servir a Deus. Judas acenava com a bolsa dos pobres para ter donde tirara furtivamente. Só enxergava cifras. Só projetava coisas materiais. Jamais poderia entender que a alegria da gratidão não tem preço. A gratidão de quem estava morto e ressurgiu não pode ser medida por dinheiro... não há preço que pague! Lázaro estava morto e ressurgiu. A alegria de Maria não tinha preço... O filho Pródigo "estava morto e reviveu" (Lc 15.32). A alegria de seu Pai não tinha preço.. Quantos irmãos e irmãs, filhos e pais, estavam mortos ontem: em vícios e pecados, e reviveram por um milagre de Deus... por umencontro com Jesus... A alegria da verdadeira família não tem preço! Mas, às vezes, pensamos que todas as pessoas que se sentam à nossa mesa são amigos, ou familiares... mas alguns são Judas... e não entendem a alegria dos que NASCERAM DE NOVO! É Jesus quem conforta Maria. É Jesus quem nos conforta: "Deixai-a; porque a molestais? Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres sempre tendes convosco e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem, mas a mim nem sempre me tendes. Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir- me para a sepultura" (Mc 14.6-8) Jesus, ao mesmo tempo que anunciava a Sua morte próxima, nos advertia sobre os de espírito pobre que, ao contrário dos pobres de espírito, postam-se sempre críticos, invejosos, despeitados e interesseiros, ao lado dos que adoram a Deus. "...a mim nem sempre me tendes..." - Adoremos ao Senhor, de todo o coração, em Espírito e em Verdade, enquanto O temos conosco, porque "a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém" adorarão ao Pai (Jo 4.21). Graças a Deus, até aqui, ainda temos tido liberdade para adorar. Mas quantos países não a têm? Em quantos lugares os cristãos são perseguidos e discriminados? Enquanto os Judas estão só do nosso lado, sentados às mesmas mesas... tenhamos a coragem de Maria, dando vazão ao entusiasmo do seu encontro glorioso com Jesus, prostrando-nos aos Seus pés, enxugando-os com os nossos cabelos, e ungindo-O com os valores mais preciosos da nossa vida. - "Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez...", disse Jesus (Mc 14.9). E de você? O que será que se conta a respeito do seu relacionamento com Deus? Você ainda tem vergonha de adorá-lo em público? Ou é daqueles que ainda se escondem em evasivas como a de que ninguém tem nada a ver com o seu modo de adorar? * * * 4. JOANA, DE CUZA (Lc 8.3; 23.55 e 24.10) Dentre os beneficiários dos milagres operados por Jesus para fariseus e líderes romanos, a Bíblia registra a gratidão de Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes Antipas. À semelhança do "estrangeiro" que fazia parte do grupo dos dez leprosos curados por Jesus, "de caminho para Jerusalém" (Lc 17.11-19), ela também foi uma que voltou para agradecer. Encontramo-la no grupo de mulheres que assistiam Jesus com as suas posses (Lc 8.3) e, depois, dentre as que acompanharam Maria Madalena ao sepulcro de Jesus (Lc 23.55 a 24.10). Ela havia sido curada por Jesus, "de espíritos malignos ou de alguma enfermidade" (Cf. Lc 8.2). Nada sabemos sobre a conduta de Jairo, ou da sua filha, após ressuscitada por Jesus (Lc 8.40-42 e 8.49-56). Sabemos que ele era chefe da sinagoga, mas a Bíblia não registra sua conversão, nem a sua gratidão. Diz apenas que os pais "ficaram maravilhados" (v. 56). Este silêncio talvez se deva ao cumprimento literal da advertência que lhes fizera Jesus, para que "a ninguém contassem o que havia acontecido" (v. 56)... Talvez! Quanto ao Centurião de Cafarnaum e ao seu servo, também pouco ficamos sabendo, além do registro da sua fé e das palavras de Jesus em Mt 8.11 - "...muitos virão do Oriente e do Ocidente e tomarão lugares à mesa, com Abraão, Isaque e Jacó, no reino dos céus". Mas Joana, de Cuza, voltou! Foi curada e mostrou sua gratidão a Jesus, até o Seu túmulo! Durante o seu ministério terreno assistiu-O "com as suas posses" (Lc 8.3) e, no sepulcro, vemo-la levando bálsamos e perfumes para ungir o corpo (Lc 24.1-10). Quantas pessoas, curadas ou libertadas por Jesus, continuam escravas das suas riquezas, ao invés de libertarem-se qual Joana, colocando os seus bens a serviço da casa de Cristo? Quantos, após a cura, ao invés de seguir o Mestre "de cidade em cidade e de aldeia em aldeia", junto com os apóstolos e as Joanas, permanecem ilhados nas suas aldeias... distantes do Corpo de Cristo, a igreja, que anda, na procura das ovelhas que ainda estão fora do aprisco!... E quantos ainda estão longe da companhia daqueles que se edificam mais e mais nessa caminhada com o Mestre?!... As companheiras de Joana eram outras mulheres que também "haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades": Maria Madalena, Suzana, e muitas outras. É na igreja que se devem reunir todos os grupos específicos, curados das mesmas doenças, ou libertados das mesmas possessões. O seu caminho é com os apóstolos, seguindo a Jesus "de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia". O nosso testemunho é o registro vivo do Quinto Evangelho: o Evangelho do que Deus continua a fazer HOJE na vida de todos os que O buscam em Espírito e em Verdade, porque "Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo, e o será eternamente" (Hb 13.8). Assim como curou e libertou Maria Madalena; Joana, de Cuza; Suzana, e muitas outras, pode curar e libertar VOCÊ, HOJE e AGORA! O encontro com Jesus e a conversão das nossas vidas não são privilégios dos pobres e iletrados. Muitos fariseus, homens cultos e profundamente religiosos, se converteram quando encontraram Jesus, DE FATO! Lembro-me de Nicodemus, de José de Arimatéia, e do apóstolo Paulo. Eles se somam ao grupo de Joanas, e Suzanas, que passam a servir e a seguir a Jesus. É a peregrinação da igreja a caminho do céu. Muitos têm- se juntado a esse grupo, mas, outros, preferem ficar onde estão: à margem do caminho. Estes não vão participar da vitória. Vão apenas assisti-la. E você, de que lado quer ficar? * * * 5. A MULHER ADÚLTERA (Jo 8.1-11) Não foi um encontro casual. Acabara a Festa dos Tabernáculos. Quase prenderam Jesus. "Mas ninguém Lhe pôs a mão, porque ainda não era chegada a sua hora" (Jo 7.30 e 44) Os ânimos estavam tensos desde que Jesus, à beira do Mar de Tiberíades, pronunciara o discurso do "Pão da Vida" (Jo 6) para a multidão que O seguia - "...pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo...Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede" (vv. 33 e 35). "Vossos pais comeram o maná do deserto, e morreram" (v. 49) e, batendo em Seu peito... - "Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que Eu darei pela vida do mundo é a minha carne" (vv. 50,51). "Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue, permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e igualmente Eu vivo pelo Pai; também quem de mim se alimenta. por Mim viverá" e, batendo novamente em Seu peito,... "Este é o pão que desceu do céu, em nada semelhante àquele que os vossos pais comeram, e contudo morreram: Quem comer este pão... (gesticula, batendo em Seu peito, de novo)... viverá eternamente" (vv. 53-58). Jesus acabara de multiplicar os pães para alimentar a multidão faminta que O seguia, "porque tinham visto os sinais que Ele fazia na cura dos enfermos" (Jo 6.2) e porque comiam o pão que Ele multiplicava, e se fartavam (Jo 6.26). Era a mesma multidão interesseira que, hoje, enche os lugares onde se anunciam milagres. Jesus queria mostrar-lhes que esses milagres não os levam à vida eterna. Esses pães só matam a fome transitoriamente, mas não concedem vida eterna. Não há nenhum poder miraculoso nos pães materiais! Não adianta comer pão "bento", mesmo que consagrado "em nome de Jesus"! Jesus queria mostrar que o verdadeiro pão era o Seu Evangelho e a Sua vida. Era preciso absorvê-la... assimilá-la... digeri-la... compartilhar dela... crer na Sua mensagem... Esse é que é o pão verdadeiro que conduz à vidaeterna! Assim como os seus pais comeram maná no deserto, e morreram; eles também poderiam comer de todos os pães multiplicados por Jesus e usufruir dos benefícios dos Seus milagres, mas morreriam também, se não acreditassem verdadeiramente nEle, e se não assimilassem o Seu Evangelho. Esse foi o discurso mais polêmico de Jesus. Para os judeus, era uma blasfêmia! Aquele Rabi, chamado Jesus, estava se colocando como se fora o próprio Messias anunciado pelos Profetas... e isso era um "absurdo"! Eles não viam nenhum sinal de messianidade naquele rude carpinteiro de Nazaré, da Galiléia. "O Messias viria de uma linhagem real... e de Belém, segundo as Escrituras"... Eles não conseguiam entender! Para eles uma blasfêmia! E os escribas e fariseus, sacerdotes e doutores da Lei, enchiam-se de raiva e rasgavam suas vestes... arrancavam as suas barbas... pelo ódio de só pensar no nome de Jesus!... Era por isso que "procuravam MATÁ-LO" (Jo 7.1). Por causa desse mesmo sermão, muitos dos seus discípulos se escandalizaram e "O abandonaram", não andando mais com Ele (Jo 6.66)... (Aqui, a Providência Divina foi tão sutil, que marcou o versículo dos que abandonaram Jesus, com o mesmo número da Besta, 666, o número que marcará todos os que abandonarem Jesus (Ap 13.16-18). Aqueles discípulos eram como muitos de hoje. Pensavam que o seu líder estava ficando maluco; desvairado, dizendo coisas absurdas; quem sabe, fosse esclerose precoce? Não prestariam mais a sua "preciosa" ajuda nesse ministério! Quem sabe, assim, com o afastamento deles, Ele caísse em si ? É sempre a mesma ilusão dos falsos discípulos! Nanicos na fé e tão cheios de vaidade! E Jesus... em voz compassada... cheio de Amor e, qual um triste lamento... comenta com o grupo: "O espírito é o que vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que Eu vos tenho dito, são espírito e são vida. Contudo há descrentes entre vós" (Jo 6.63,64). Os seus irmãos carnais, filhos de José e de Maria, também não querem riscos; e chegam a aconselhá-Lo a ir para a fogueira da Judéia, onde ardia o ódio contra Ele, e onde queriam matá-Lo (Jo 7.1-3). Mas é o versículo 5 que nos explica o porque dessa atitude: "nem mesmo os seus irmãos criam nele". E não é de admirar! Mesmo hoje vemos "irmãos" assim: fazem de tudo para não se identificar com os outros que, no seu conceito, mancham a aparente pureza e doce harmonia da família. A meditação neste versículo talvez nos abra horizontes para melhor entender Mc 3.31-35... - ..."Quem é minha mãe e meus irmãos?... qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe". Mas, no Seu imenso Amor, Jesus não quer comprometer nem os seus irmãos, nem os seus discípulos... Abandonado por uns, e mal aconselhado por outros, prefere ficar só! "Antes só do que mal acompanhado!" - Vai sozinho... e sobe a Jerusalém, à Festa dos Tabernáculos. Vai ao centro da fogueira. Vai ao templo... e começa a ensinar. Surpreende os judeus: "Como sabe estas letras, sem ter estudado?" (Jo 7.15). E então, Jesus reforça a Sua pregação sobre o Pão da Vida: "O Meu ensino não é meu, e sim, daquele que me enviou" (Jo 7.16)... Cutuca o leão com vara curta... "Vocês não cumprem nem a Lei que Moisés vos deu! Não está escrito lá - Não matarás? - Por que procurais matar-Me?" (Jo 7.19). Ressoa no ar, mais uma vez, o que Jesus dissera a seus irmãos em Jo 7.7 - "Não pode o mundo odiar-vos, mas a mim me odeia, porque eu dou testemunho a seu respeito de que as suas obras são más". E volta Jesus a cutucar os fariseus... Vocês julgam pelas aparências, e, não, pela reta justiça (Jo 7.24). Vocês não praticam a circuncisão no dia de sábado, para cumpria a Lei? E como é que me condenam por Eu ter curado um homem num sábado? O ódio cresce! - "Tens demônio!", dizem eles (Jo 7.20) E tentam disfarçar: "Quem é que procura matar-te?" (v. 20). Mas Jesus, que conhecia o pensamento deles, respondia a altura: "Vós não somente me conheceis, mas também sabeis donde eu sou; e não vim porque eu de mim mesmo o quisesse, mas aquele que me enviou é verdadeiro, aquele a quem vós não conheceis" (Jo 7.28). "Então procuravam PRENDÊ-LO" (Jo 7.30)... "mas ninguém Lhe pôs a mão, porque ainda não era chegada a hora" (Jo 3.30). Foi por causa dessa coragem de Jesus que "muitos creram nele" (v. 31), e foi por eles que Jesus se arriscou! Diante disso, os fariseus se enfureceram ainda mais e, juntamente com os principais dos sacerdotes, mandaram guardas para O prenderem (v. 32). E Jesus continuava a pregar. Quanto mais falava sobre o Reino de Deus, mais atônitos e confusos ficavam os fariseus. Agora, no Templo de Jerusalém; no último dia da Festa dos Tabernáculos, Jesus está dizendo que é a FONTE DE ÁGUA VIVA (Jo 7.37). Na beira do Mar de Tiberíades anunciara-se como O PÃO DA VIDA. Agora é a FONTE DE ÁGUA VIVA. PÃO E ÁGUA. Os dois principais alimentos, e ao mesmo tempo, os mais simples, e que preservam a vida. PÃO e ÁGUA, alimentos comuns na mesa de ricos e pobres... alimentos de sábios, e de ignorantes... de pretos, e de brancos... Todos devem alimentar-se do PÃO e beber da ÁGUA do Evangelho de Cristo. Todos devem alimentar-se dEle. Basta ter fome e sede de vida eterna. E essas palavras de Jesus, paradoxalmente, vão modificando aa atitudes dos seus opositores: Primeiro, "procuravam MATÁ-LO" (Jo 7.1). Agora, "queriam PRENDÊ-LO" (Jo 7.44)... "mas ninguém lhe pôs a mão, porque ainda não era chegada a Sua hora!" (Jo 7.30) Era o carisma de Jesus... O carisma divino bloqueando os seus algozes!... E os guardas voltam de mãos vazias... sem Jesus! (Jo 7.45). Os fariseus de enfurecem ainda mais! E é então que a interferência oportuna de Nicodemos, já nascido de novo, os dispersa, indo cada um para sua casa ( vv. 50,51): "Como prender alguém sem primeiro ouví-lo e saber o que ele fez?" Acabara a Festa. Jesus quase fora preso. Fora sozinho. Poupara o risco a seus irmãos e a seus discípulos. Nicodemos interveio oportunamente, e dispersou os fariseus (v.53). Os fariseus foram para casa - TRAMAR! Jesus foi para o Monte das Oliveiras – ORAR! (vv. 7.53 e 8.1). Eis a diferença da noite de Jesus para a noite dos fariseus! O que teriam feito estes, nas sombras daquela noite? Era preciso achar um pretexto!... E procuravam... espiando... bisbilhotando... confabulando... É como fazem hoje muitos, que procuram pecado nos outros... Na realidade, procuram é um PRETEXTO para justificar as suas posições! São os mesmos fariseus, no século XX !. E, de súbito, no escuro da noite dos cegos de espírito, um deles disse: achei!... Um adultério! Ótimo pretexto! (Quem procura sempre acha!). Acharam um ótimo pretexto: - um adultério! A Lei de Moisés mandava que aqueles achados em adultério fossem apedrejados até a morte. Levariam uma adúltera a Jesus, que "estava se colocando como se fosse Deus!" Se ele dissesse que deviam obedecer a Lei e apedrejá-la, estaria indo de encontro à mesma Lei, que também dizia: "Não matarás" (Êx 20.13)... e poderiam, então, desmascará-lo e prendê-Lo, por estar contra a Lei! Se ele dissesse que não deviam apedrejá-la, estaria blasfemando contra a Lei e, assim, também teriam um bom motivo para prendê-Lo. Naquela noite, escribas e fariseus providenciaram uma mulher adúltera, e a trouxeram à presença de Jesus, arrastada do modo mais humilhante, e empurrada pelo meio do povo. Os fariseus gritam para Jesus a sua estória, e pedem o Seu parecer: "O que dizes, Mestre?"... Todos traziam grandes pedras nas mãos... Jesus ouve... não diz nada e, inclinando-se... começa a escrever na terra... Penso que começou mais ou menos assim: - "LADRÃO"... (e um fariseu ao ler essa palavra, lembrou-se que certa vez espoliara uma viúva... Baixou a cabeça e recuou um pouco...). - "ASSASSINO"... (Outro lembrou-se de um homicídioque praticara numa estrada deserta... e afastou-se também...). - "PERJURO"... (Um que se lembrou do falso testemunho que prestara contra um inocente... se afasta também...). E Jesus continua escrevendo: ORGULHO... VAIDADE... FALSIDADE... PRESUNÇÃO.. ÓDIO... IDOLATRIA... MALDADE... ADULTÉRIO... Os fariseus olham alguns dos seus pecados escritos no chão... ficam meio sem jeito... vão se retirando, os mais velhos... Mas alguns jovens e afoitos, permanecem e insistem na pergunta: "Que dizes, Mestre?" - "Ela foi pega em adultério, e a Lei...". Jesus se levanta; olha-os nos olhos, e diz-lhes: - Aquele que dentre vós estiver sem pecado (ou sem um desses pecados), seja o primeiro que lhe atire a pedra" (Jo 8.7) Jesus inclina-se de novo, e escreve mais... O que estaria escrevendo agora ? Ouço barulho de pedras caindo, ou sendo jogadas no chão! PUM... PUM... PUM... São fariseus e escribas atirando as suas pedras! Não na mulher, como pretendiam. Ela permanecia ali, de pé, imóvel... E as pedras caiam no chão! Jesus se abaixa, para que a mulher cresça. E ela crescia diante dos escribas e fariseus. O pecado estava sendo condenado, mas uma pecadora arrependida já até as lágrimas, estava sendo exaltada e, nela, a exaltação da condição humana. Não era ela mais o alvo das pedradas. Agora eles jogavam as sua pedras apenas NOS SEUS PECADOS, ESCRITOS NO CHÃO! Era o desejo de apedrejá-los... de tirá-los dali... Os fariseus viam os seus pecados no chão... Jesus os via nos seus corações! E as pedras caíam: PUM... PUM... PUM... Jesus continuava escrevendo! Eles olhavam... e foram se retirando; um a um... Parece que estou vendo essas segundas anotações de Jesus, no chão: - "Onde está o homem que vocês arranjaram para pecar com ela?... A Lei de Moisés manda que OS DOIS SEJAM APEDREJADOS! (Lv 20.10 e Dt 22.22-24). Porque só a ela trouxeram?" E eles, lívidos de espanto, iam se retirando... um a um... até ficarem "só Jesus e a mulher no meio onde estava" (v. 9). "Erguendo-se Jesus a não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?" (v. 10). "Respondeu-Lhe ela: Ninguém, Senhor. Então lhe disse Jesus: Nem eu tão pouco te condeno; vai, e não peques mais". Jesus iguala acusadores e acusada: todos se vão! Jesus condena o pecado, mas ama a todo pecador que se arrepende. E as Suas palavras continuam a ecoar para os dois grupos... e para cada um de nós também... "Vai, e não peques mais"... "Nem eu tão pouco te condeno; vai, e não peques mais"... meu amigo e minha amiga, meu irmão e minha irmã... Vamos, e não pequemos mais... Olhemos apenas para o nosso pecado escrito no chão das nossas vidas, e não mais para os pecados do outro. Atiremos as nossas pedras só nos nossos próprios pecados... e tenhamos piedade do nosso próximo ! Vamos, irmãos... e não pequemos mais!... * * * 6. MARIA MADALENA (Jo 20.11-18) João, o discípulo amado, entrou no túmulo de Jesus logo após a Sua ressurreição... "viu" o túmulo vazio, e "CREU", mesmo sem compreender a necessidade de tudo aquilo por que Jesus passara e o milagre da Sua ressurreição dentre os mortos. Não compreendia ainda, mas "VIU" o túmulo vazio, e "CREU" (Cf. Jo 20.8,9). Para crer não é preciso ver, ou compreender! Crê-se com a coração. Compreende-se coma razão. João, mesmo sem ver Jesus, creu na Sua ressurreição... porque O SENTIU, pelo milagre da fé! "Bem-aventurados os que não viram e creram" diria Jesus pouco mais tarde (Jo 20.29). João não usou a razão para crer. Foi ao túmulo... VAZIO; e voltou cheio de fé... com Jesus no coração! Maria Madalena não quis entrar no sepulcro. Permaneceu chorando junto à pedra que lhe fora revolvida. Apenas abaixou e olhou para dentro (Cf. Jo 20.11). João entrou e não viu nada além de um túmulo vazio. Maria Madalena não quis entrar; apenas olhou... e "viu dois anjos; vestidos de branco; sentados onde o corpo de Jesus fora posto, um à cabeceira e outro aos pés" (v. 12). João não viu com os sentidos humanos, mas creu com os olhos da fé... Maria não conseguiu ir além do que os seus olhos enxergavam e, assim, parou nas simples conjecturas da nossa condição humana: "...levaram o meu Senhor..." e não sei onde o puseram...". João, sem ver, creu... Maria Madalena, mesmo vendo (dois anjos)... não conseguiu acreditar de imediato: "...levaram o meu Senhor..." e "não sei onde o puseram...". Maria Madalena conhecia Jesus muito bem. Jesus expulsara sete demônios do seu corpo (Lc 8.2). Com os seus bens, prestava assistência a Jesus, sempre que necessário (Cf. Lc 8.3). Ela estava ao pé da cruz e assistiu a crucificação do Mestre (Mt 27.56; Mc 15.40; Jo 19.25). Observou o sepultamento de Jesus (Mt 27.61; Mc 15.47). Ela o conhecia muito bem! Era uma das pessoas que poderiam nos esclarecer o que nos ensina Isaias, 53.2 - "Ele não tinha aparência nem formosura... nenhuma beleza havia que nos agradasse". Mas quando Maria Madalena, junto a entrada do tumulo, voltou-se para trás e olhou para o Mestre ressurreto, de pé diante dela, "nao reconheceu que era Jesus" (v. 14)! Pensou que fosse o jardineiro (v. 15)! Por que? E não foi só com ela que aconteceu isso!... Na estrada de Emaús, os dois discípulos também não o reconheceram... a não ser quando partiu e repartiu o pão (Lc 24.13-35). No mar, "açoitados pelas ondas", os discípulos pensaram que Ele era "um fantasma" andando por sobre o mar, e Pedro só acreditou que era Jesus quando, ao olhar para Ele, conseguiu também andar por sobre as ondas, enquanto desviando os olhos dEle, afundava -"Salva-me, Senhor" (Mt 14.30), foi o que ele disse. E Maria Madalena só o reconheceu pelo seu chamado: "Maria!" (v. 16). Só então é que ela, "voltando-se, Lhe disse, em hebraico, Raboni!, que quer dizer, Mestre" (v. 16). E hoje, amados? Como é que reconhecemos o nosso Mestre, hoje? O Senhor Jesus glorificado? Como reconhecê-Lo? Continua a ser dessas mesmas maneiras!... Pelo modo como Ele nos chama, como fez com Maria... o nosso chamado para o Corpo de Cristo... para a conversão... para a igreja... continua a ser uma das formas mais poderosas para reconhecê-Lo. Outra, é no partir e repartir do pão com o nosso irmão, ou com o nosso próximo, da mesma forma como foi com os dois discípulos de Emaús. Quando conseguimos andar acima das ondas, no meio dos temporais dessa vida, olhando com fé, como fez Pedro, também o reconhecemos. Se não olharmos com fé, afundamos. Também podemos reconhecê-Lo, com dor e com lágrimas, carregar a cruz de um sofrimento, como aconteceu com Simão, o cireneu (Lc 23.26). Lá, era uma cruz de madeira; hoje, pode ser de uma doença incurável... da perda de um ente querido... da aflição do desemprego... Jesus continua a aparecer nas nossa vidas como sempre apareceu. E todos esses encontros são de uma beleza transcendental. São de um contraste marcante com ls 53.21! Será por isso que não o reconheceram de pronto? Será por causa do Jesus histórico, que muitos não reconhecem o Jesus divino? O fato é que todos nós sempre estamos qual Maria: à beira de um túmulo vazio... e o túmulo vazio, de nos mesmos... e é por isso que urge ouvir depressa o chamado de Jesus: - "Maria, não me detenhas... vai ter com os meus irmãos" (Jo 2o.16,17). * * * 7. SIMÃO, O CIRENEU (Lc 23.26; Mt 27.32; Mc 15.21) "E obrigaram a Simão Cireneu que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-lhe a cruz." Mc 15.21). Simão era um judeu que, pelos embates da vida, tinha ido parar numa aldeia distante: Cirene, colônia grega na costa setentrional da África, chamada depois Barka, ou Cirenaica, em Trípole. Desde o ano de 75 a.C. era uma província romana. À época da crucificação, o que estaria fazendo o cireneuem Jerusalém? Diz-nos o texto que ele vinha do campo. E daí, deduz-se que havia fixado residência em Jerusalém: ele,sua esposa e seus dois filhos - Alexandre e Rufo (ver Rm 16.13). Esse versículo nos mostra também que ele voltou... porque é desejo de Deus que todos nós voltemos: voltar para casa... voltar para os país... voltar para a terra... voltar para Deus... O cireneu voltou! E encontrou Jesus nessa volta! Mas o encontrou sendo escarnecido e maltratado pela soldadesca que o conduzia. Quantas vezes acontece isso conosco? Quando voltamos aos lugares donde saímos, sermos constrangidos a ajudar Jesus, maltratado e escarnecido pelos que continuam a crucificá-Lo?! E, quantas vezes, embora constrangidos pelas circunstâncias e pelos circunstantes, não temos a coragem de Simão, o cireneu? E nos furtamos de ajudar Jesus, escondendo-nos em artifícios de linguagem, ou no mutismo da nossa covardia... Simão, o cireneu, também é uma prefiguração da volta do povo de Deus para a terra prometida: da volta para Jerusalém... da volta para o céu... da volta para casa... da volta para a igreja... Existe sempre uma cruz a carregar, quando voltamos. Mas não a carregamos sozinhos. Jesus está conosco. Somos só os cireneus... Rm 16.13 mostra-nos Rufo, "eleito no Senhor", e sua mãe, agora já entre os cristãos de Roma, ajudando o apóstolo Paulo. Valeu o sacrifício de Simão! Paulo refere-se a Rufo como "eleito no Senhor", e à esposa de Simão como sendo qual uma "mãe" para ele. É o exemplo do pai conduzindo a família. Simão ajudou Jesus... Rufo converteu-se e, juntamente com a mãe, ajudou a Paulo. Um dia, quando chegarmos ao céu, saberemos o que aconteceu com Alexandre, o outro filho de Simão. A Bíblia não registra. O encontro de Simão com Jesus foi um encontro forçado. Foi um encontro de dor e de lágrimas. Mas muito tempo depois, como nos mostrou Rm 16.13, vimos que valeu a pena. Todo encontro com Jesus vale a pena! Hoje continuam a haver muitos cireneus, forçados a um encontro com Jesus entre dores e lágrimas... São todos os que são constrangidos a carregar a cruz do câncer e de todas as doenças graves... a cruz da perda dos seus entes queridos... a cruz do abandono e do desprezo dos homens... E do modo como carregamos essa cruz, pode depender o futuro dos nossos filhos e de todos os que nos observam. Talvez signifique a conversão de todos os "Rufos" que estão à nossa volta. - "...puseram-lhe a cruz sobre os ombros, para que a levasse após Jesus" (Lc 23.26). A cruz que carregamos, Jesus já carregou antes: "Ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si" (Is 53.4). O maior peso Ele já levou. O cireneu vai após Jesus. Carregamos a cruz, seguindo os passos de Jesus. Ele vai na frente! É o nosso modelo... a nossa direção... o nosso ponto de referência... O segredo é olhar para Jesus, e não para a cruz que carregamos! Assim, em nossos ombros ficará a grande alegria de estarmos vendo Jesus à nossa frente. Este é o segredo, cireneu amigo... meu cireneu do século XX; tão amado por Deus, que Ele lhe permitiu ver Jesus, mesmo nessa caminhada de dor. * * * 8. NICODEMOS (Jo 3.1-15) Foi um encontro furtivo... às escondidas... na calada da noite. Nicodemos era um fariseu, "um dos principais dos judeus" (Jo 3.1). Não poderia se expor, falando publicamente com Jesus; principalmente depois do que Ele fizera na véspera: expulsara do templo, a golpes de azorrague, todos "os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e também os cambistas" que ali se assentavam (Jo 2.13-16). Eram os mesmos exploradores da fé que, ainda hoje, aumentam nas proximidades das festas religiosas. Uns, conscientemente, e outros, tentados pelos argumentos sutis do Diabo, que sopra pelas suas bocas: "O que é que tem demais isso?" É a tentação da oportunidade do lucro, que pode cegar até mesmo os da família da fé. - "Não façais da casa de meu Pai casa de negócios" (Jo 2.16) - foi e continua a ser uma grande advertência de Jesus. Quem é que nos dá vida e saúde, para escrever e produzir? Quem é que nos ensina? Que, é que nos sustenta e tem cuidado de nos? Não é suficiente a Sua Graça? (2Co 12.9). Então, por que fazer negócio da casa de Deus? Temos ou não temos fé? - "Resisti ao diabo, e ele fugirá de vós", disse Jesus (Cf. Tg 4.7). Os cambistas e os negociantes da casa de Deus certamente foram reclamar com o Sinédrio. Exigir providências! Afinal de contas, eram grandes as gratificações, comissões e ofertas que faziam para o templo!... Os homens continuam a ser os mesmos. Pouca coisa mudou... Os do Sinédrio trincaram os dentes contra Jesus... "Que petulância!... Quem Ele pensa que é?...". Nicodemos era um deles, mas já havia sido atingido pela Verdade... e queria conhecer melhor Jesus e o Seu Evangelho. Mas como fazer? Tinha de ser às escondidas... Jesus avançara muito! Dissera até que se destruíssem o templo, que levara 46 anos para ser edificado, em três dias Ele o levantaria (Jo 2.19-22). Era demais... Deveria ser um lunático, diziam... Mas não haviam percebido que, ao dizer isso, Jesus colocara a ponta do Seu dedo indicador em Seu próprio peito, junto do coração... Ele se referia ao templo do Seu próprio corpo! Sabia que o zelo pela casa do Pai o consumiria (Jo 2.17), e anunciava já a Sua ressurreição. Mas os judeus não entendiam. O ódio cega! A curiosidade de Nicodemos já se transformara, agora, num desejo ardente. Como faria para falar com aquele "Rabi"? Ele não tinha casa! Onde encontrá-Lo a sós? Jesus era um pregador itinerante. Não tinha nada. Tudo lhe fora emprestado: a manjedoura onde nasceu... o barco, donde pregava para as multidões... o jumentinho sobre o qual entrou em Jerusalém, na última Páscoa... Tudo Lhe fora emprestado! Até a sepultura lhe seria emprestada por José de Arimatéia! (Mc 15.42-46). De Seu mesmo, só me recordo de três coisas: a Sua Cruz, o Seu Poder, e o Seu Amor... Onde Nicodemos encontraria Jesus a sós? Durante vários dias ele deve ter planejado esse encontro: seguido Jesus às escondidas e, talvez, usando algum disfarce, para que os outros do Sinédrio não viessem a saber. Esse encontro foi de noite, em algum lugar próximo de Jerusalém. Nicodemos deve ter se aproximado sorrateiramente e... baixinho... chamado Jesus: "Rabi... Rabi... Psiu... (com o dedo na boca, pedindo silêncio...). Sou eu, Nicodemos. Preciso falar contigo". "Sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele" (Jo 3.2). No escuro em que Nicodemos estava ainda, não era possível ver em Jesus nada além de um Mestre vindo da parte de Deus. A noite era escura, e a fé ainda estava na penumbra. Via apenas sombras, mas ainda não identificava Deus na pessoa de Jesus. E Jesus Lhe diz, ao pé-do-ouvido: -"Nicodemos... se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus" (Jo 3.3). Hoje ainda existem muitos "Nicodemos" que também estão assim: com Jesus, mas ainda na penumbra! Ainda não nasceram para a nova realidade da divindade de Cristo. Ainda não deixaram Jesus entrar nos seus corações. Ainda o tem só na cabeça! É para esses, que se estende até aqui o diálogo de Jesus com Nicodemos: "É preciso nascer de novo". E no dia em que acontecer isso, assim como aconteceu com Nicodemos, você também sairá do escuro, e passará a brilhar, refletindo a gloriosa Luz de Jesus, do mesmo modo como Nicodemos a reflete até hoje, nas maravilhosas páginas do Evangelho. "É preciso nascer de novo, para ver o reino de Deus!" - "Mas... como pode um homem nascer, sendo velho? Pode por ventura, voltar ao ventre materno e nascer uma segunda vez? ", perguntou Nicodemos (Jo 3.4). - "Como poderá acontecer isso comigo?" - talvez esteja perguntando você! Será que é preciso abrir mão de todaa minha cultura e abdicar de toda a minha inteligência para poder ter fé e acreditar nisso?... "O que é nascido da carne, é carne; e o que é nascido do espírito, é espírito ", disse Jesus. "Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo" (Jo 3.6,7). "Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus" (v.5). Cultura e inteligência são da carne. Fé é do Espírito. Se você já tem sede dessa "Água" é porque o Espírito já habita em você. É preciso agora, que você se esvazie, para que Ele ocupe todos os espaços da sua vida. E como uma garrafa com um pouco de agua e um pouco de ar. Para que fique totalmente cheia de ar, e preciso esvaziá-la da água. Assim também, na nossa vida: esvaziados do nosso egoísmo, vaidade, presunção e pseudo-intelectualidade... o Espírito de Deus pode ocupar todo o nosso espaço... Para isso, o seu alimento deve ser a Água desse Evangelho. Beba dessa Água. Coma dessa Comida. Se fizer assim, "nascerá de novo,... A Luz de Cristo nascerá em você e, qual Nicodemos, você será uma nova criatura. Sua cultura e sua inteligência entrarão com você no Reino de Deus. - "Não te admires de eu te dizer: Importa-vos nascer de novo. O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito. Então perguntou Nicodemos: Como pode suceder isso? Acudiu Jesus: Tu és mestre em Israel e não compreendes estas coisas?" (vv.7-10). Você e tão inteligente e ainda não entendeu isso? - "Ora, ninguém subiu ao céu, senão aquele que de lá desceu, a saber, o Filho do Homem (que está no céu). E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do Homem SEJA LEVANTADO". (vv. 13,14). Essa expressão "ser levantado", para os judeus, era sinônimo de morte de cruz - ser levantado na cruz! Nicodemos conhecia bem essa expressão, e Jesus estava se referindo a passagem de Nm 21.9 e, assim, pela primeira vez, anunciando a Sua morte. Era preciso morrer, para ser glorificado. O Calvário vem antes da Ressurreição. É preciso morrer o velho homem, para nascer o novo homem. Por que teria Jesus feito essa confidência a Nicodemos? Ele não era apóstolo... não andava com os discípulos... ainda não seguia Jesus... pelo contrário! Estava do lado das altas intelectualidades do Sinédrio... estava em posição oposta a de Jesus. Por que Jesus leria feito essa confidência a ele?... Era preciso morrer, para nascer de novo... Isso deve ter ficado na cabeça de Nicodemos... E isso também deve estar agora, na sua cabeça... Por que Jesus estará dizendo isso a você, agora?... - É Jesus mesmo quem nos responde, no verso 15: "...para que todo o que nEle crê tenha a vida eterna". * * * 9. A MULHER-DA-CIDADE E SIMÃO, O FARISEU (Lc 7.36) Jesus não faz acepção de pessoas: entra em casa de publicanos (Zaqueu - Lc . 19.1) e de fariseus (Simão - Lc 7.36). Mas por que Simão, o fariseu, teria convidado Jesus para jantar com ele? o texto deixa-nos perceber uma intenção de curiosa bisbilhotice, que poderia resultar, quem sabe (?), em algum fato novo, importante para o Sinédrio? Os fariseus já estavam por demais preocupados com aquele "Rabi", que polarizava tanto as atenções do povo... - "Jesus, entrando na casa, tomou lugar à mesa" (v. 36). Não houve recepção com o ósculo, que era habitual, e nem Lhe ofereceram água para lavar os pés, ou óleo para desempoeirar os cabelos. Simão tinha pressa para chegar logo aos seus assuntos. - "E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que Ele estava na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento e, estando por detrás, aos seus pés, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; beijava-lhe os pés e os ungia com o ungüento " (vv. 37,38). A expressão "mulher da cidade" era um termo a designar "prostituta, enfatizado pelo adjetivo pecadora... E a facilidade com que a mulher-da- cidade entra na casa de Simão permite pressupor que já se conhecessem bem. Certamente que, em situação normal, a prostituta não teria permissão para entrar na casa do fariseu. Costuma ser sempre assim. Os fariseus e que entram nas casas das prostitutas, as escondidas..., mas proíbem-nas de aproximarem-se deles quando em público, ou perto dos seus amigos e familiares. O pecado delas é de conhecimento do povo, mas o deles é velado... escondido por trás de uma falsa aparência de piedade. Diante de Jesus, porém, fariseus e prostitutas estão em igualdade de condições. Ele sabe de todos os pecados deles. Sabe que por trás das aparências, os dois são pecadores, e e isso que quebra as barreiras da aparência e encoraja a prostituta para entrar na casa de Simão. Quando Jesus entra na casa, igualam-se as posições. O fariseu precisa sentir que é igual à prostituta. Ambos são pó. Todos nós somos pó. Nossa carne é pó, e voltará ao pó. Mas a presença de Jesus convida a reflexão do que é eterno, e que Ele quer salvar; a alma e o Espírito, tanto do fariseu, quanto da prostituta. Se Jesus entrar na casa deles... nos seus corações... eles podem ser salvos - os seus pecados perdoados... Mas é preciso que o convite não seja apenas uma formalidade; uma armadilha; ou uma ocasião para "analisar melhor Jesus". Tem de ser um convite para que Jesus entre, para ficar... para morar para sempre nos corações... Tem de ser um convite de arrependimento e de Amor... de confissão e de reconhecimento! Eis a diferença entre o fariseu e a prostituta: a alma de Simão também era farisaica... Não recebeu Jesus com o ósculo, como era de costume. Não Lhe deu água para lavar os pés e aliviar a dor das longas caminhadas. Não Lhe ofereceu óleo para os cabelos empoeirados. Ele estava apressado para inquirir... para observar... para bisbilhotar... e para tentar descobrir algo que pudesse comprometer Jesus. Não era uma acolhida sincera! Arrependida, a pecadora lavou os pés de Jesus com as suas lágrimas... enxugou-os com os seus próprios cabelos e, durante todo o tempo, santificou-se, beijando seguidamente os pés de Jesus, com ósculos santos (v. 38)... e ungindo-os com ungüento que levara, talvez, num dos presentes que Lhe dera Simão - quem sabe? - era um vaso de alabastro (v. 37)... talvez, toda a sua riqueza... depositada aos pés de Jesus! Então, o fariseu parece achar o que procurava: - "Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que Lhe tocou, porque é pecadora " (v. 39). Este pensamento de Simão é a prova de que ele a conhecia bem! E, lá no íntimo, a sua astúcia sorria, alegrando-se com a ilusão de que Jesus não devia saber de nada e, assim, não seria esse "profeta" que se dizia... Jesus, então, conhecendo-lhe o pensamento, conta-lhe a parábola do credor e seus dois devedores (Lc 7.41,42) e, através dela, mostra a Simão que Deus perdoa a quem tem muitos e a quem tem poucos pecados. Quanto mais pecados perdoados, mais amor e gratidão a Deus. "Onde abundou o pecado, superabundou a Graça". (Rm 5.20). Mas, para o perdão, é necessário procurá-Lo com sinceridade, como fizera aquela mulher, reconhecendo-o como o seu Credor e se arrependendo, abrindo assim as portas do coração para receber a Graça de Deus. Outra diferença importante: a mulher reconhecia a messianidade de Jesus, e o fariseu desconfiava! Não reconhecendo, não o procurava como o seu Credor, e nem se arrependia, fechando assim, as portas do céu para o derramamento da Graça e do perdão de Deus. Quando Jesus perdoa a mulher, escandaliza os outros fariseus que estavam a mesa: - "Quem é esse que até perdoa pecados?" (w. 48,49). Eles também não acreditavam. Faltava-lhes fé. A mulher, com fé, buscava perdão... Eles, com a razão, procuravam argumentos... A fé se dá ao nível do coração, e os argumentos, se procuram ao nível da razão. Jesus nos mostra que não éao nível do intelecto que encontramos Deus. Se fora assim, o que seria dos menos inteligentes? Com a razão, o máximo que se pode achar e o Jesus histórico. Mas o Jesus divino entra pelo coração, porque "Deus é Amor" (1 Jo 4.16). - " Vai-te em paz', a tua fé te salvou ", disse Jesus a prostituta (v. 5o). Jesus perdoa, e a fé salva! Quanto a Simão, Jesus apenas entrou na sua casa. Quanto a prostituta, Jesus entrou no seu coração e na sua vida... Entrou para ficar... e ela foi salva. É mais fácil a salvação dos grandes pecadores! A mulher saiu da casa salva! Mas Jesus, no Seu imenso Amor, permaneceu ainda lá... junto do fariseu... deixando-Se examinar mais e mais... A paciência de Jesus e paciência divina! Ele continua esperando. Quem sabe, o fariseu caía em si? Quem sabe acorde para a realidade de que a sua inteligência e a sua razão Lhe foram dadas por Deus, não para que resista a Deus, mas para que, após um glorioso encontro de Amor, ao nível do coração, use a razão, depois de ter o coração aberto para as gloriosas realidades do Reino de Deus? Não foi o que aconteceu com Nicodemos? Não foi o que também aconteceu com José de Arimatéia? Eles também não eram fariseus? - Jesus também os perdoa! Eles sabem disso. Eles entenderam a parábola. Mas ao sair da casa, depois de partilhar da companhia de Jesus, duas coisas podem acontecer aos fariseus: voltar para o Sinédrio, ouvindo o silêncio de Jesus... ou caminhar para o céu, ouvindo o mesmo que Ele disse para a mulher arrependida - "Vai-te em paz; a tua fé te salvou"... O que você deseja ouvir de Deus ao sairmos desta página? * * * 10. ZAQUEU, O PUBLICANO (Lc 19.1-1o) A maior festa dos judeus era a Páscoa, comemorada todos os anos, no dia 14 de Nisã, o quarto mês do calendário judaico. Todos peregrinavam para Jerusalém, e Jesus estava a caminho, com os seus discípulos: da Galiléia para a Judéia, passando por Samaria (Lc 17.11). Os judeus não passavam por Samaria, porque os dois povos não se davam. No caminho para Jerusalém, os galileus davam longa volta, atravessando pelo vale do Jordão. Mas Jesus passava por Samaria! Estava (e está) muito acima das rivalidades pessoais, religiosas, ou políticas entre os homens. Veio para salvar a todos: judeus, samaritanos, ou gentios. A todos curava. Jamais perguntou a religião de alguém! Seu propósito, ao passar por Samaria, era o de salvar samaritanos. Curou a muitos e... dos muitos que curou, alguns se salvaram. Um destes foi o samaritano leproso. Foram dez os que se aproximaram de Jesus suplicando misericórdia e cura. Jesus os curou e mandou que fossem se apresentar aos sacerdotes, como prescrevia a Lei de Moises acerca dos leprosos depois de curados (Lv 14.1-32). Os dez foram mostrar-se aos sacerdotes. Nove foram só curados, e as Escrituras não falam mais deles. Ficamos sem saber o que fizeram na alegria da cura. Mas, certamente, fizeram o que os homens continuam a fazer: continuam samaritanos! Jesus apenas passou por sua vidas, mas eles não saíram das suas aldeias. Querem a cura, mas não aceitam Jesus no altar das suas vidas, onde já tem outros deuses. Adoram noutros lugares. Não vão a Jerusalém com Jesus. Jesus apenas passou pelas suas vidas... Mas o décimo samaritano, ao ver-se curado, '"voltou dando glória a Deus em alta voz e prostrou-se com o rosto em terra aos pés de Jesus, agradecendo-Lhe" (w. 15,16). Voltou... e juntou-se ao grupo peregrino de Jesus. Saiu da sua aldeia e foi com Jesus a caminho de Jerusalém. A sua vida mudou. A sua religião mudou. Estava leproso, e ficou limpo! Estava perdido, e foi salvo! "...a tua fé te salvou" (v. 19), disse-lhe Jesus. Este, além de curado, foi salvo! Aleluia! E foi mais um a juntar-se o grupo de Jesus, a caminho da Cidade Santa. Jesus parava aqui e ali. Conversava com uns... curava outros... Respondia a quem Lhe perguntava... A multidão se juntava a beira das estradas, e muitos, se juntavam ao grupo que ia com Ele. São sempre lindas as palavras de Jesus: "Não vêm o reino de Deus com visível aparência... porque o reino de Deus está dentro de vós " (Lc 17.2o,21). o Filho do Homem voltara para reinar "mas importa que primeiro ele padeça muitas coisas e seja rejeitado por esta geração. Assim como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do Homem: comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, ate o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos. o mesmo aconteceu nos dias de Ló; comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre, e destruiu a todos. Assim será no dia em que o Filho do Homem se manifestar". (Lc 17.25-30). A multidão se maravilhava com esses ensinos de Jesus... e muitos o seguiam, juntando-se ao Seu grupo. Uns se convertiam; outros, eram apenas curiosos. Alguns queriam cura... Outros, queriam achar algum defeito... Uns eram fariseus; outros, escribas... Uns, judeus; outros, samaritanos... Onde estava Jesus, havia gente de todo tipo a Sua volta. E Ele segue, andando e ensinando a respeito da Parousia, da Sua volta gloriosa para reinar neste mundo. - "Digo-vos que, naquela noite, dois estarão numa cama; um será tomado, e deixado outro... dois estarão no campo; um será tomado e o outro deixado" (Lc 17.34-36). - "Onde será isso, Senhor? Lhe perguntaram" (v. 37). - "Onde estiver o Corpo aí se ajuntarão também os abutres". (v. 37). E essa frase de Jesus, atravessando os séculos, continua a ecoar, com a mesma vibração, em nossos dias e nas nossas igrejas... "Onde estiver o Corpo, aí se ajuntarão também os abutres"... Mais um sinal dos tempos! Assim como a volta de Jesus haviam santos e perdidos; convertidos piedosos e fariseus religiosos; lobos e ovelhas... Hoje também... e, quanto mais próximo o dia do Filho do Homem, mais será assim: "Onde estiver o Corpo, aí se ajuntarão também os abutres". Há lobos que se convertem, mas também há os que devoram as ovelhas... Há desesperados, que choram as suas misérias, mas também há abutres, que se alimentam delas... Isso e a igreja dos últimos tempos! Um vasto hospital... com muita gente, mas com poucos santos! E o Corpo de Cristo, com os abutres voando à sua volta. A multidão caminha com Jesus. Jerusalém e o seu destino. Sobem pelas estradas. Atravessam aldeias. Cruzam cidades. Alguns correm na frente anunciando que Jesus está a caminho. E Ele caminha... pregando... Conta-lhes a Parábola do Juiz Iníquo... (Lc 18.1-8)... a Parábola do Fariseu e do Publicano (Lc 18.9-14)... Abençoa as crianças que correm a Sua volta (Lc 18.15-17)... Adverte o jovem rico sobre o perigo das riquezas (Lc 18.18- 3o)... Prediz, outra vez, a Sua morte e Ressurreição (Lc 18.31-34)... Aproxima-se de Jericó e, aí, cura outro cego (Lc 18.35-43)... Este, a beira do caminho, "ouvindo o tropel da multidão que passava, perguntou o que era aquilo" (v. 36). "Anunciaram-lhe que passava Jesus, o Nazareno, e então, ele clamou: Jesus, FILHO DE DAVI. tem compaixão de mim!" (vv. 32-39). Alguns judeus mandavam que ele se calasse, pois já estavam próximos de Jerusalém... Haviam espias do Sinédrio em Jericó, e ele, gritando "Filho de Davi" era o mesmo que estar anunciando que Jesus era o Messias esperado por Israel! Isso era um perigo! o Sinédrio queria matar Jesus (Jo 7.1)!... Mas, quanto mais lhe mandavam calar, mais ele gritava: "Filho de Davi... Filho de Davi... Tem misericórdia de mim!"... Já Lhe tinham contado as maravilhas que Jesus vinha fazendo: os leprosos ficavam limpos... os paralíticos andavam... os cegos passavam a enxergar... as prostitutas viravam santas... os mortos ressuscitavam... Ele só podia ser o Messias mesmo! E aquela multidão devia ser formada em grande parte pelos ex- cegos, ex-paralíticos, ex-mortos, ex-prostitutas, ex-leprosos... Ele também queria ser umdos "ex" seguindo Jesus!... "Filho de Davi, Filho de Davi, Tem Misericórdia de mim!"... - "Que queres que Eu te faça?", disse-lhe Jesus. - "Que eu torne a ver", disse ele. "Então Jesus lhe disse: recupera a tua vista; a tua fé te salvou'1 (vv. 41,42). E, imediatamente, tomou a ver e, glorificando a Deus, juntou-se ao ex-leproso samaritano e a todos os "ex" que seguiam Jesus; seguindo-o também, a caminho de Jerusalém... E a igreja a caminho do céu... Jesus dirige a caminhada de todos os ex- perdidos que o seguem, dando glórias a Deus. Os fariseus ficam à margem da estrada... As vezes, misturam-se com o povo mas, cada vez que olham para esse Corpo que caminha, lembram-se das palavras do Cristo: "...Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus " (Mt 21.31). * E lá estava o publicano de Jericó: Zaqueu, o cobrador de impostos. Odiado pelos judeus porque cobrava impostos para o Império Romano; e menosprezado por todos, porque era corrente que extorquia dracmas e denários dos seus compatriotas, para viver nababescamente, gastando-os em ricas festas, regadas com os melhores vinhos e ao som das melhores orquestras, tocando para as melhores dançarinas. Zaqueu era um homem rico. Tinha tudo que o dinheiro pode comprar. Podia ver os espetáculos mais sofisticados da sua época... os mais caros... os mais luxuosos... Ouvindo o burburinho da multidão que chegava, anunciando a passagem de Jesus, também queria vê-Lo... mas não podia... por ser de pequena estatura" (Lc 19.3)! Para ver Jesus, não adianta dinheiro, nem posição social!. Ele era baixinho... e tinha muita gente na frente... muitos obstáculos... Hoje, continua a ser assim: há pessoas que querem ver Jesus, mas há muita gente que fica na frente, criando obstáculos; fazendo com que se sintam pequenas, como Zaqueu. O que fazer? Zaqueu era um publicano... era um pecador... como todos nós o somos! A diferença entre os seus pecados e os dos fariseus era que os seus eram públicos, todos viam... enquanto que os fariseus escondiam os seus numa aparência de falsa piedade. Zaqueu foi tocado pela Verdade. Queria ver Jesus. Sinal de que Jesus já o tinha visto! Mas, dinheiro, posição social e intelectualidade não Lhe permitiam ver Jesus. Hoje continua a ser assim! Mas ele já tinha uma das condições fundamentais para poder ver Jesus: o querer ver! Ele queria ver Jesus! SÓ lhe faltava a segunda condição: o esforço para ver! - "Desde os dias de João Batista, até agora, o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele'9ç 11.12). Ele se esforçou. fez o que lhe cabia. "Correndo adiante subiu a um sicômoro a fim de vê-Lo, por que por ali havia de passar" (v. 4). Baixinho e, certamente, gordo... odiado por todos em Jericó... quem Lhe teria ajudado a subir naquela arvore? Quem sabe, o ex-leproso, ou o ex-cego de Jericó que, a essa altura já estariam à frente do grupo, anunciando a aproximação de Jesus?! Ainda hoje é assim.L. Quase sempre, são os ex-perdidos que mais ajudam os perdidos que querem ver Jesus. Talvez tenham deixado Zaqueu subir nos seus ombros ou, quem sabe, segurado os seus pés com as próprias mãos, na alegria desinteressada e sacrificial de todos os que já tiveram o seu encontro com Cristo. Zaqueu subiu, e ficou ali, de olhos fitos no caminho... Jesus já sabia do seu arrependimento e, assim, nos dá uma linda lição, ao permitir que o pecador arrependido fique num plano mais alto do que todos os escribas e fariseus que, talvez, devessem, estar sentados por trás da multidão... confabulando... Jesus exalta o pecador arrependido... mas não se deixa ver pelo falso piedoso! - "Desce daí, Zaqueu... ", disse Jesus ao passar por ali. "Desce daí, Zaqueu... Eu já te vi e tu já me vistes também... Quisestes ver... te esforçastes por ver... e vistes... agora me convém ficar hoje em tua casa" (v. 5). E "ele desceu a toda pressa e o recebeu com alegria" (v. 6). É preciso pressa!... Porque Jesus está passando... Desce depressa da posição antiga: Quem sabe, dos píncaros da intelectualidade em que você se colocou... ou do pedestal de orgulho onde você ficou... Quem sabe, da torre da descrença e do materialismo?... Quem sabe, da Batel das confusões religiosas? Desce depressa, meu amado (a)... e sobe na Árvore da humildade, do arrependimento, e da vontade de ver Jesus, porque e por aí que Ele vai passar, e e aí que você vai vê-Lo... E daí que você vai ouvi-Lo dizer, como disse a Zaqueu: "Desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa" (v. 5). Receba-o com alegria e, talvez, com lágrimas, como deve ter feito Zaqueu... Não dê ouvidos aos fariseus que murmurarem maliciosamente, tentando macular o brilho desse encontro. Lá, eles não viram os melhores momentos desse encontro, porque os melhores momentos aconteceram dentro da casa de Zaqueu, e eles estavam do lado de fora. E como hoje também: os melhores momentos acontecem dentro do nosso coração. Os fariseus ficam do lado de fora. Encontra-se com Jesus a esse nível! Ao nível do coração, e não, ao nível da cabeça... do intelecto... ou da razão! Arrependa-se hoje... Confesse... Chore... Ria... E depois saía... e junte- se ao grupo que segue Jesus... a caminho do céu... a caminho de Jerusalém Celestial... a caminho da Vida... * * * 11. DE SAULO A PAULO (At 9.1-20) Muito se tem falado sobre Saulo e sua conversão. De grande perseguidor dos cristãos, a apóstolo dos gentios. De perseguidor, a perseguido... De comandante, a comandado... De zeloso fariseu, a apóstolo de Cristo... Era Saulo, e tornou-se Paulo. Saulo, de Tarso, é como era chamado, em referência a sua cidade natal, na Cilícia (At 21.39). Era filho de uma família judaica, da Tribo de Benjamim (Rm 11.1; Fp3.5). Fariseu de nascimento; filho de fariseus (At 23.6), era "irrepreensível na justiça da Lei" (Fp 3.6). Seu pai era cidadão de Tarso (At 21.39) e cidadão romano (At 22.28), cidadania esta que Paulo invocava quando lhe era preciso, como em At 22.24-30. Instruído aos pés de Gamaliel (At 22.3), culto e de formação rabínica, não podia entender que Jesus fosse o mesmo Messias anunciado na Lei; considerando isso a maior de todas as blasfêmias contra Deus; vindo daí o seu ódio e a implacável perseguição que impunha aos cristãos. No apedrejamento e morte de Estevão, diz-nos o texto que "As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem, chamado Saulo " (At 7.58). Lá estava ele, ainda jovem, perseguindo e comandando a execução dos cristãos. Em At 8.3, vemos que Saulo "assolava as igrejas, entrando pelas casas e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere". Podia fazer isso, por sua dupla cidadania. Pelo poder religioso do jovem fariseu, e pelo poder policial do cidadão romano. E é respirando ainda esse ódio, que o vemos pedindo ao sumo sacerdote que lhe desse carta de autorização para as sinagogas de Damasco para que, indo àquela cidade, se acaso "achasse alguns que eram do CAMINHO, assim homem como mulheres, os levasse para Jerusalém". (At. 9:1-2). Foi aí, na estrada de Damasco, que se deu o encontro mais importante da sua vida. o encontro que mudou o seu nome, a sua vida, e o seu destino. Lá se vai Saulo, o perseguidor, com sua comitiva... "Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco, subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor e, caindo por terra. ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? " (At 9.3,4). Foi como um relâmpago que caí por perto... Um brilho intenso e súbito, acompanhado de estrepitoso estrondo, que sacode tudo e nos atira ao chão. Seguem-se trevas... E nós, perplexos... permanecemos mudos e quietos por alguns instantes... Saulo "caiu ao chão". E hoje também... Muitos outros Saulos continuam a cair por terra. Essa "luz do céu"continua a brilhar de formas diferentes: na dor da perda de um ente querido... nas doenças incuráveis... nos abandonos da vida... nas falências e desgraças desse mundo... nas perdas e nas separações... Caí-se por terra e, com perplexidade, ouve-se a mesma voz que falou com Saulo no caminho de Damasco: - "Saulo, Saulo, por que me persegues? " - "Quem és tu, Senhor? " (v. 5). - "Eu sou Jesus, a quem tu persegues". (v. 5). É a voz de Deus, que muitas vezes só escutamos quando caímos por terra. Mas mesmo caídos, perplexos e abalados pelo terremoto que nos jogou no chão, ainda podemos ouvir a voz de Deus, que quer nos levantar: - "...levanta-te, e entra na cidade, onde te direi o que te convém fazer" (v. 6). Antes, orgulhosos e presunçosos, dávamos as ordens. Mas agora, Deus nos mostra que convém que sejamos conduzidos com humildade. Nós guiávamos. Agora, e hora de sermos guiados e conduzidos pela mão. Diz-nos o texto que Saulo, "abrindo os olhos, nada podia ver" (v. 8). Esta e a situação imediata dos que caem pela Graça de Deus. Ainda não estão enxergando bem as coisas. Precisam ser conduzidos pela mão de outrem (v. 8). E lá vai Saulo, assim... "Esteve três dias sem ver, durante os quais nada comeu nem bebeu" (v. 9). Resolveu jejuar. Arrependeu-se. Lembrou- se da Lei e dos Profetas: "Voltei o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, pano de saco e cinza". (Dn93). Mas Deus já providenciara também alguém para conduzi-lo e para ajudá-lo nesses primeiros passos da sua nova vida como Paulo. (Às vezes, como aconteceu com Paulo, a gente resiste tanto ao Amor de Deus... A gente custa tanto a tirar de campo a nossa vaidade, o nosso orgulho, e a nossa presunção, que é preciso Deus nos derrubar, para que acordemos... E preciso cegar os nosso olhos físicos, para que possamos enxergar com os olhos do coração...). Deus escolhe Ananias para ajudar Paulo. Mostra-lhe, numa visão, que Paulo tinha sido levado para a casa de Judas, numa rua chamada Direita, na Cidade de Damasco... onde estava orando... (w. 1o,11). Embora Ananias resistisse, a princípio, porque conhecia bem a fama de Saulo... obedece a Deus, e vai... porque era um cristão! Encontra Paulo; impõe sobre ele as mãos; ora, e Paulo começa a enxergar: "lhe caíram dos olhos como que umas escamas... e, a seguir,... levantou-se e foi batizado". (vv. 12 e 18). Arrependimento - Jejum - Oração - e Batismo. O Senhor derrubou... e o Senhor curou. Caiu Saulo e levantou Paulo. Caiu, para morrer Saulo; e levantou-se, para nascer Paulo, pelo Batismo cristão. Essa é a necessidade mais urgente após a conversão. Paulo estava há três dias sem comer e sem beber... em oração. Devia estar com fome, mas a primeira coisa que fez ao levantar-se, não foi buscar um prato de comida: foi batizar-se... Porque, convertido, a sua fome espiritual era muito maior. E ele não perdeu tempo. Foi batizado por Ananias, ali mesmo, na casa de Judas, na cidade de Damasco: "Levantou-se e foi batizado" (At 9.18). Saulo tinha caído, cego... Paulo se levantou... começando a enxergar... E foi assim que foi batizado! E você, meu irmão? Está de pé, ou caído? Já se levantou, ou está se levantando? Já ouviu o chamado de Deus ou o está ouvindo agora? o que e que você está esperando? Se você hoje é Paulo, nós queremos ser Ananias! E por isso que estamos aqui. * * * 12. O MEU ENCONTRO Segundo o Dicionário de Aurélio Buarque de Holanda, parapsicologia é a ciência que estuda experimentalmente os fenômenos ditos ocultos (comunicação com o espírito dos mortos, dissociação da personalidade, comunicação telepática, etc.). Apaixonei-me por ela quando ainda jovem, e estudei e pratiquei os seus fenômenos por mais de 20 anos. Sou médico ginecologista há 30 anos, e trabalho com prevenção do câncer ginecológico. Considerava-me inteligente, e pesquisava muito dentro da minha especialidade. Apaixonei-me pela parapsicologia e procurava de alguma forma encontrar Deus em minhas investigações acuradas. Achava que possuía muitos poderes sobrenaturais: de percepção extra-sensorial, levitação, materialização. Freqüentei vários centros espíritas e concedia ectoplasma para materialização dos espíritos. Encarava tudo isso como experiências científicas. Analisava os processos como parte de minha carreira. Trabalhava arduamente, realizava, em média, mais de 40 cirurgias por mês. Faturava mais que nunca. Para mim, a vida corria bem. Certo domingo, em 1977, acordei cedo para barbear-me. Planejara ir almoçar com minha esposa e filhos em São Pedro da Aldeia, região dos lagos, no Rio de Janeiro. Ão fazer a barba, notei um caroço no pescoço. Com a experiência que já tinha na área de cancerologia, diagnostiquei um câncer de imediato; crescia muito rápido e sua forma não deixava sombra de dúvida. Aquele foi o pior almoço de minha vida. Não posso jamais esquecer aquele dia. Voltei de lá, procurei um colega, o melhor na especialidade em câncer de cabeça e pescoço, Dr. Jacob Kligherman. Fiz todos os exames e fui operado. No término da cirurgia, meu colega disse-me: "Marcelo, realmente você e um cara de sorte. Não houve nada. E só tirar os pontos daqui a uma semana". Dois dias depois, feita a biópsia, constatou-se o câncer, o mundo desmoronou na minha cabeça. De repente, percebi que meus poderes nada podiam fazer. Os meus estudos de parapsicologia eram impotentes diante desta realidade. Chamei um tabelião a minha casa, passei todos os bens para o nome dos meus filhos e me preparei para a morte. Nascido e criado na Ilha de Paquetá, tornei-me muito conhecido. Possuía algumas excentricidades como por exemplo, não cobrava consulta de moradores de Paquetá; por isso ganhei a simpatia de muitos. Gostava muito de carnaval, cheguei a ganhar o tricampeonato de carnaval pela Riotur. Era muito popular como médico e conhecido cidadão daquela Ilha. A operação levou-me à licença. As visitas tornaram-se freqüentes. Certo dia, veio visitar-me minha colega; Dra. Oneida Goulart. Ela trabalhou muito tempo comigo no INPS. Costumava sempre colocar sobre minha mesa um folhetinho com dizeres da Bíblia. Todos os dias, lia o folheto, amassava e jogava fora. Considerava-a chata e obcecada. Os folhetinhos só pararam de aparecer sobre minha mesa quando ela se aposentou. Naquele dia, ela visitou-me juntamente com um casal que me era desconhecido. Eles não me pediram nenhum favor. Demonstraram muito amor, falaram-me do amor de Deus, com uma linguagem popular, descuidada, própria das pessoas simples que falam sem nenhuma preocupação gramatical. Havia um desnível cultural muito grande que já começava a irritar-me. Naquela época eu estava pesquisando a teoria da relatividade de Einstein, tentando, de alguma forma encontrar o mecanismo do Universo, quando a Dra. Oneida chegou acompanhada pelos dois desconhecidos, os quais me pareceram tão chatos quanto ela. Em certo momento, o rapaz falou-me: "Dr. Marcelo, eu creio que a Bíblia é a Palavra de Deus. o senhor crê nisso?" -Prosseguiu: "Creio também que aqui, neste livro, existe um versículo, uma palavrinha, para cada um de nós. Já encontrei a minha e sinto no meu coração que encontrei uma para o senhor. Posso dizer?" - perguntou ele. Naquela altura, só desejava a partida deles. Imediatamente respondi que sim para que eles terminassem com tudo aquilo. Ele abriu a Bíblia e pronunciou: "Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vô-lo conceda" (Jo 15.16). Estas palavras não entraram pela cabeça ou pelo raciocínio, mas chegaram ao coração. As lágrimas banharam-me a face; chorei como uma criança quando encontra o seu pai que havia perdido. Que momento
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