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Direito Penal: Conceito, Natureza, Princípio e Fins do Estado Democrático de Direito Conceitos de bem jurídico penal. Caracteres do direito penal sob a ótica do direito penal mínimo. Princípios da subsidiariedade, fragmentariedade e insignificância ( Lesividade). Conceito de direito penal As sociedades humanas se encontram ligadas ao Direito, fazendo-o nascer das suas necessidades fundamentais e, em seguida, deixando-se disciplinar por ele, dele recebendo a estabilidade e a própria possibilidade de sobrevivência. No Direito se encontram as condições julgadas necessárias à coexistência social, definidas pelas suas normas, que criam, por fim, a ordem jurídica, dentro da qual, no Estado organizado, sociedade e indivíduo compõe o seu destino. O fato que se apresenta como contrário à norma de Direito, porque ofende ou põe em perigo o objeto da sua proteção, forma o ilícito jurídico, cuja espécie mais grave é o ilícito penal, que viola as mais fundamentais entre as leis da convivência. É este ilícito que se concretiza nos chamados fatos puníveis – crimes e contravenções. Compreende-se, então, que o Estado se arme contra esses fatos com a mais severa das sanções, que é a pena, e procure por meio dessa e de outras medidas, combatê-los, prevenindo-os ou reprimindo-os, por necessidade de defesa social. O conjunto das normas jurídicas que regulam a atuação estatal nesse combate contra o crime, através de medidas aplicáveis aos criminosos, é o Direito Penal. Nele se definem os fatos puníveis e se cominam as respectivas sanções – os dois grupos dos seus componentes essenciais, tipos penais e sanções. O meio de ação específico do Direito Penal, predominantemente sempre nos Códigos, é a pena, em que a doutrina tradicional viu a satisfação de uma exigência de justiça, impondo ao agente do fato punível em mal em correspondência com o mal por ele praticado – “MALUM PASSIONIS OB MALUM ACTIONIS”. Mas na evolução do Direito a pena vem atenuando cada vez mais esse caráter de retribuição e castigo. As idéias modernas sobre a natureza do crime e as suas causas e a exigência prática de uma luta eficaz contra a criminalidade foram desenvolvendo, ao lado da velha reação punitiva, uma série de medidas que se dirigem, não a punir o criminoso, mas a promover a sua recuperação social ou a segrega-lo do meio nos casos de desajustamento irredutível. São as chamadas medidas de segurança. Assim, o Direito Penal se apresenta como o conjunto das normas jurídicas, pelas quais se exerce a função do Estado de prevenir e reprimir os crimes, por meio de sanções cominadas aos seus autores. Ou, em sentido mais estrito, como o conjunto das normas jurídicas que cominam sanções em razão de determinados fatos chamados crimes, por ela tipicamente definidos. Impondo às várias figuras de crimes a grave sanção da pena, o Direito Penal fortalece na consciência comum o juízo de valor sobre os bens jurídicos assim tutelados e as normas de cultura em que se apóia essa tutela. Essa é a função educativa, sócio- cultural do Direito punitivo, com que este ramo do Direito dá segurança e força àquelas normas em que se baseia a sociedade e exerce uma ação preventiva do crime. O Direito Penal é um sistema jurídico de dupla face, que protege a sociedade contra a agressão do indivíduo e protege o indivíduo contra possíveis excessos de poder da sociedade na prevenção e repressão dos fatos puníveis. Fontes do direito penal Fonte, em sentido figurado, significa origem, princípio, causa. Quando se fala em fontes do Direito Penal, está se estabelecendo de onde provém, de onde origina a lei penal. As fontes podem ser materiais (ou substâncias, ou de produção), por meio das quais se informa a gênese, a substância, a matéria de que é feito o Direito Penal, como é produzido, elaborado, e formais (ou de conhecimento, ou de cognição), referem-se ao modo pelo qual se exterioriza o direito, pelo qual se dá ele a conhecer. I - Fontes Materiais A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado. Determina a CF (Art. 22, I), que compete privativamente a União legislar sobre direito penal. A Carta Magna de 1988, porém, inovou ao prever a possibilidade de lei complementar autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas ao Art. 22. Assim, ao menos em tese, existe a possibilidade do Estado-membro legislar sobre a matéria particular, restrita, de Direito Penal, se autorizado por lei complementar. O Estado não pode, todavia, legislar arbitrariamente, pois encontra seu fundamento na moral vigente, na vida social, no progresso e nos imperativos da civilização. II - Fontes Formais As fontes formais, que exteriorizam o direito, que lhe dão forma e o revelam, dividem-se em fontes diretas (ou imediatas) e indiretas (ou mediatas ou subsidiárias). A única fonte direta do Direito Penal, diante do princípio da reserva legal, é a lei. Apontam-se como fontes indiretas ou subsidiárias do Direito Penal os costumes e os princípios gerais do direito, referidos expressamente na LICC Lei de Introdução ao Código Civil (Art. 4º). COSTUME é uma regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade. Evidentemente, não se pode falar em criação ou revogação de crimes pelo costume, dado o princípio da legalidade. Não se pode negar, entretanto, sua influência na interpretação e na elaboração da lei penal. PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO são premissas éticas extraídas da legislação, do ordenamento jurídico. Está o Direito Penal sujeito às influências desses princípios, estabelecidos com a consciência ética do povo em determinada civilização, que podem suprir lacunas e omissões da lei penal. ANALOGIA é uma forma de auto-integração da lei. Na lacuna desta, aplica-se ao fato não regulado expressamente pela norma jurídica um dispositivo que disciplina hipótese semelhante. Diante do princípio da legalidade do crime e pena, pelo qual não se pode impor sanção penal a fato não previsto em lei, é inadmissível o emprego da analogia para criar ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais. Nada impede, entretanto, a aplicação da analogia às normas não incriminadoras quando se vise, na lacuna evidente da lei, favorecer a situação do réu por um princípio de equidade. Há no caso, a chamada analogia “in bonam partem” ( em favor da parte), que não contraria o princípio da reserva legal, podendo ser utilizada diante do disposto no já mencionado Art. 4º da LICC. Missão do direito penal Para cumprir seu dever de contenção dos comportamentos inaceitáveis, bem como para impor limites ao poder de punir do Estado, pode-se dizer que existam caminhos diversos. Porém, basicamente podemos destacar dentre tais caminhos, duas vertentes inspiratórias: a que aponte para um caminho de um Direito Penal mais potente, com maiores proibições, que recomendam a necessidade de um Estado mais policialesco; ou, aquela que indica mais adequado proteger um núcleo reduzido de bens jurídicos, indicando ser adequado acionar o Direito Penal quando uma lesão ou grave risco de lesão a um bem jurídico seja verificada. I - Garantismo Penal A visão do Direito Penal mínimo conduz à ideia de que venha apenas a proteger bens jurídicos penalmente relevantes. A escola penal alemã de Frankfurt foi a precursora de tal pensamento, inspirada nos pensamentos de WINFRIED HASSEMER, que defendia não haver espaço para a tutela dos bens coletivos, que primordialmente deveria se ocupar da garantia aos bens individuais. Hoje, o maior defensor do garantismo penal é LUIGI FERRAJOILI, que mantém em grande medida as características positivistas de KELSEN e, mais modernamente,de BOBBIO, para valorizar a diferença entre ser e dever-ser, a fim de propor a valorização das garantias constitucionais e o modelo do juiz atuante por meio de um positivismo crítico. II - Garantia dos valores ético - sociais WELZEL, não entendia o Direito Penal não como defensor de bens jurídicos, seja porque adotar-se critérios materiais de definição sobre o que seria o sujeito representa ponto de vista ultrapassado e, porque a complexidade das conexões da sociedade moderna não permitiria a estreita configuração jurídica do indivíduo como sujeito pessoal de direitos. Passou a enxergar o Direito Penal como garantidor dos valores ético-sociais, ou seja, a missão de expandir a proteção prestada pelo Direito Penal, agora como garantidor do ordenamento jurídico. III - Direito penal do inimigo Mais recentemente discutido, principalmente depois dos ataques terroristas de 2001 aos Estados Unidos, é o posicionamento de GÜNTHER JAKOBS, apresentado em seminário Internacional de Direito Penal na década de 1970, abandonado desde lá, que culmina na concepção que ele denominou de Direito Penal do Inimigo, visando a alcançar o dever de prevenção geral positiva da pena, ou seja, que a condenação sirva como exemplo positivo ou negativo, de ameça de castigo geral ou de confirmação de vigência da norma. Afirma que o Direito Penal conhece dois pólos: o trato com o cidadão e o trato com o inimigo, que deve ser o quanto antes interceptado em sua periculosidade, para que ofereça menos riscos sociais. Tal pensamento rompe inteiramente com o Direito Penal do FATO, exaltando uma nova tendência, a do Direito Penal do AUTOR, amplamente criticada e temerária, na medida emq ue se outorga ao Estado poderes de interferência indesejados e de difícil controle. Princípios do direito penal Durante o transcorrer do curso, vários outros princípios serão exibidos, comentados e estudados. Nesta etapa inicial, apenas alguns princípios serão apresentados, sem a pretenção de esgotar toda a gama principiológica que se vincula à ciência Penal. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – (introduzido no sistema penal por CLAUS ROXIN): significa que o Direito Penal não deve se preocupar com bagatelas. Logo, os danos de pouca monta devem ser considerados fatos atípicos (como por exemplo, o furto de pacotes de bolacha) PRINCÍPIO DA ALTERIDADE – proíbe a incriminação de atitude meramente subjetiva, que não ofenda nenhum bem jurídico. Só pode ser castigado aquele comportamento que lesione direitos de outras pessoas e que não seja simplesmente pecaminoso ou imoral (logo, justifica-se a opção do Direito Penal brasileiro, à exemplo do que ocorre em outros ordenamentos jurídicos ocidentais, não punir o suicídio). PRINCÍPIO DA CONFIANÇA – baseia-se na confiança de que o comportamento das outras pessoas se dará de acordo com o que normalmente acontece. Exemplo disto é o caso do motorista que, trafegando pelo preferencial, passa por um cruzamento, na confiança de que o veículo da via secundária aguardará sua passagem. No caso de um acidente, não terá agido com culpa. PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE – o Direito Penal só deve se preocupar com ofensas realmente graves aos bens jurídicos por ele tutelados. PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE – “LEX PRIMARIAE DERROGAT SUBSIDIARIAE” – a lei primária derroga a subsidiária, absorvida pela de maior importância. Aplicação da Lei Penal. Princípio da Legalidade: Reserva Legal, Taxatividade e Irretroatividade CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL A – EXCLUSIVIDADE – somente a norma penal define crimes e comina penas (PRINCÍPIO DA LEGALIDADE); B – IMPERATIVIDADE – a norma penal é imposta a todos, independentemente de sua vontade. Assim, praticada uma infração penal, o Estado, obrigatoriamente, deverá buscar a aplicação da pena; C – GENERALIDADE – a norma penal vale para todos (“erga omnes”); e, D – IMPESSOALIDADE – a norma penal é abstrata, sendo elaborada para punir acontecimentos futuros e não para punir pessoa determinada. INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL Tem por finalidade buscar o exato significado da norma penal. I - QUANTO A ORIGEM – ou seja, quanto ao sujeito que interpreta a lei: AUTÊNTICA – é dada pela própria lei, a qual, em um dos seus dispositivos, esclarece determinado assunto; DOUTRINÁRIA – feita pelos estudiosos, professores e autores de obras de direito, através de seus livros, artigos, conferências, palestras etc; e, JURISPRUDENCIAL – é aquela feita pelos juízes, que com as suas decisões comuns formam uma tendência. II - QUANTO AO MODO: GRAMATICAL – que leva em conta o sentido liberal das palavras contidas na lei; TELEOLÓGICA – que busca descobrir o seu significado através de uma análise acerca dos fins a que ela se destina; HISTÓRICA – que avalia os debates que envolveram sua aprovação e os motivos que levaram à apresentação do projeto de lei; e, SISTEMÁTICA – que busca o significado da norma através de sua integração com os demais dispositivos de uma mesma lei e com o sistema jurídico com um todo. III - QUANTO AO RESULTADO DECLARATIVA – na qual se conclui que a letra da lei corresponde exatamente àquilo que o legislador quis dizer; RESTRITIVA – quando se conclui que o texto legal abrangeu mais do que queria o legislador (por isso a interpretação irá restringir seu alcance); e, EXTENSIVA – quando se conclui que o texto da lei ficou aquém da intenção do legislador (por isso a interpretação irá ampliar sua aplicação). INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA E ANALOGIA A interpretação analógica é possível quando, dentro do próprio texto legal, após uma seqüência casuística, o legislador se vale de uma fórmula genérica, que deve ser interpretada de acordo com os casos anteriores: EXS.: 1 – o crime de estelionato (Art. 171 CP), de acordo com a descrição legal, pode ser cometido mediante artifício, ardil ou QUALQUER OUTRA FRAUDE; 2 – o Art. 28, II, estabelece que não exclui o crime a embriaguez por álcool ou por SUBSTÂNCIAS DE EFEITOS ANÁLOGOS. A analogia somente é aplicável em casos de lacuna da lei, ou seja, quando não há qualquer norma regulando o tema. Fazer uso da analogia significa aplicar a norma penal a um fato não abrangido por ela nem por qualquer outra lei, em razão de tratar-se de fato semelhante àquele que a norma regulamenta. A analogia, portanto, é forma de integração da lei penal e não forma de interpretação. Diz-se que, em matéria penal, ela deve ser aplicada em favor do réu (analogia “IN BONAM PARTEM”), e ainda assim, se ficar constatado que houve mera omissão involuntária (esquecimento do legislador). A vedação da analogia “IN MALAM PARTEM” como regra, visa a evitar que seja desrespeitado o princípio da legalidade. PRINCÍPIO DO “IN DUBIO PRO REO” Se persistir dúvida, depois de haverem sido utilizadas todas as formas interpretativas, a questão deverá ser resolvida da maneira mais favorável ao réu, para absolvê-lo ou para puni-lo de maneira mais branda. SUJEITOS DO CRIME I - SUJEITO ATIVO - sujeito ativo ou agente é a pessoa que comete o crime. Em regra, só o ser humano, maior de 18 anos, pode ser sujeito ativo de uma infração. Excepcionalmente, em razão de expressa previsão legal contida em nosso ordenamento jurídico, as pessoas jurídicas poderão cometer crimes, uma vez que a CF estabeleceu que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar o dano (Lei 9605/98 – Art. 222, § 3º CF). A doutrina tem criticado veementemente esta tendência estabelecida. II - SUJEITO PASSIVO - é a pessoa ou entidadeque sofre os efeitos do delito (vítima do crime). OBJETOS DO CRIME I - OBJETIVIDADE JURÍDICA (ou objeto jurídico) - é o bem ou interesse que a lei visa a proteger quando incrimina determinada conduta. Assim, no crime de furto, o objeto jurídico é o patrimônio, no homicídio, é a vida etc. II - OBJETO MATERIAL - é a coisa sobre a qual recai a conduta delituosa, isso deve ser entendido como sendo a “RES FURTIVA”, no crime de furto, ou, o corpo da vítima no homicídio. CONFLITO APARENTE DE NORMAS Configura-se o conflito aparente de normas sempre que existir uma pluralidade de leis regulando um mesmo fato criminoso, sendo que, na realidade, apenas uma delas é efetivamente aplicável ao caso concreto. Para saber qual das normas deve ser efetivamente aplicada ao fato concreto, dentre as aparentemente cabíveis, torna-se necessário recorrer aos princípios que solucionam a questão. São eles: I - PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE – de acordo com o princípio da especialidade se, no caso concreto, houver duas normas aparentemente aplicáveis e uma delas puder ser considerada como especial em relação a outra, deve o julgador aplicar esta norma especial, de acordo com o brocardo “LEX SPECIALIS DERROGAT GENERALI”. Considera-se norma especial aquela que possui todos os elementos da lei geral e mais alguns, denominados “especializantes”. EX. homicídio (Art. 121 CP), onde qualquer pessoa pode matar outra; e, infanticídio (Art. 123 CP), no qual somente a mãe, sob influência do estado puerperal, mata o filho nascente ou recém-nascido. II - PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE – em havendo duas normas aplicáveis ao caso concreto, se uma delas puder ser considerada subsidiária em relação a outra, aplica-se a norma principal, denominada primária, em detrimento da norma subsidiária. Aplica-se o brocardo “LEX PRIMARIA DERROGAT SUBSIDIARIAE”. EX. estupro (Art. 213 CP) e constrangimento ilegal (Art. 146 CP). Não há estupro sem constrangimento, que acaba embutido na prática contra a dignidade sexual da vítima. Por isso, o constrangimento não é punido, restando a punição somente pelo estupro. III - PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO – a relação de consunção ocorre quando um fato definido como crime atua como fase de preparação, de execução, ou ainda, como exaurimento de outro crime mais grave, ficando, portanto, absorvido por este. HIPÓTESES DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO CRIME PROGRESSIVO – ocorre o crime progressivo quando o agente, desejando desde o início a produção de um resultado mais grave, mediante diversos atos, realiza sucessivas e crescentes violações ao bem jurídico. Nessa hipótese, o agente responderá apenas pelo resultado final e mais grave obtido, ficando absorvidos os atos anteriores. EX. para matar alguém, faz-se necessário lesioná-la primeiro. PROGRESSÃO CRIMINOSA 1. EM SENTIDO ESTRITO – ocorre quando o agente, desejando inicialmente um resultado, após atingi-lo, pratica novo fato, produzindo um resultado mais grave. Aqui o agente responderá apenas pelo crime final. EX. pretende-se a lesão, no curso do delito, altera-se o dolo e pratica homicídio (Art. 121 CP). 2. “ANTE FACTUM” (fato anterior) IMPUNÍVEL – é um fato menos grave praticado pelo agente de um mais grave, como meio necessário à realização deste. O crime-meio fica absorvido pelo crime-fim. EX. furto (Art. 155 CP) e estelionato (Art. 171 CP). 3. “POST FACTUM” (fato posterior) IMPUNÍVEL – é o fato menos grave praticado contra o mesmo bem jurídico da mesma vítima após a consumação de um primeiro crime e, embora constitua aquele um novo delito, não é punível, por ser menos grave. EX. furto (Art. 155 CP) e dano (Art. 163 CP). 4. CRIME COMPLEXO – é aquele que resulta da união de dois ou mais crimes autônomos, que passam a funcionar como elementos ou circunstâncias do crime complexo. O agente não responde pelos crimes autônomos, mas tão- somente pelo crime complexo. EX. latrocínio (Art. 157, § 3º, 2ª parte), extorsão mediante seqüestro (Art. 159 CP). IV – PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE – na realidade há diversas críticas quanto à inclusão desse princípio entre os que solucionam conflito aparente de normas. Nesses casos, não há propriamente um conflito aparente de normas, mas sim um conflito dentro da mesma norma. Ele só é aplicado aos chamados tipos alternativos mistos, nos quais a norma incriminadora descreve várias formas de execução de um mesmo delito, no qual a prática de mais de uma dessas condutas em relação a mesma vítima, caracteriza crime único. EX. o crime de participação em suicídio (Art. 122 CP), pune quem induz, instiga ou auxilia alguém a cometer suicídio. Desta forma, se o agente, no caso concreto, induz e auxilia a vítima a se matar, comete um só crime. PRINCÍPIOS GERAIS PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (Art. 1º CP) - esse princípio, consagrado no Art. 1º do CP, encontra-se atualmente descrito também no Art. 5º, XXXIX, da CF. Segundo ele, “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. A doutrina subdivide o princípio da legalidade: PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE – uma pessoa só pode ser punida se, à época do fato por ela praticado, já estava em vigor a lei que descrevia o delito; e, PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL – apenas a lei em sentido formal pode descrever condutas criminosas. É vedado ao legislador utilizar-se de decretos, medidas provisórias ou outras formas legislativas para incriminar condutas. PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE – Este princípio se encontra ligado à técnica redacional legislativa. Não basta existir uma lei que defina uma conduta como crime. A norma incriminadora legal deve ser clara, compreensível, permitindo ao cidadão a real consciência acerca da conduta punível pelo Estado. O princípio da taxatividade, ou da determinação, não está expresso em nenhuma norma legal. Trata-se de uma construção doutrinária, fundamentada no princípio da legalidade e nas bases do Estado Democrático de Direito. NORMAS PENAIS EM BRANCO São chamadas normas penais em branco aquelas que exigem complementação por outras normas, de igual nível (leis), ou de nível diverso (decretos, regulamentos etc.). Ex. No artigo 33 da Lei 11343/2006, que tipifica o tráfico ilícito de entorpecentes, o Termo “DROGAS” depende de complementação, dada por uma portaria expedida pelo Ministério da Saúde, para esclarecer a sua amplitude. O mesmo se verifica no artigo 269 do Código Penal, que estabelece o compromisso atribuído aos médicos de denunciar a autoridade pública, acerca da constatação de doença cja notificação seja complusória (nem qual autiridade, nem quais doenças estão especificadas no dispositivo, cabendo, portanto, complementação a ser dada por outra norma). O uso por si só, de normas penais em branco, aparentemente, como técnica legislativa, não viola o princípio da legalidade, porém deve-se, ao formulá-las, ter sempre em vista tal princípio (seus corolários), servindo de balize e dando a dimensão exata do alcance dessas leis e em completa conformidade com este. Cabe ao princípio da legalidade, dar ao cidadão instrumentos para, em face de abusos e arbítrios do Estado, que normalmente tenta flexibilizá-lo frente às supostas necessidades, sejam momentâneas ou não, da sociedade. As garantias que tal princípio encerra são por demais valiosas para que o Estado venha a funcionar em prol dos seus cidadãos. Normas penais em branco não ferem o princípio da legalidade e os que dele derivam. Aplicação da Lei Penal II.Tempo do Crime. Aplicação da Lei Penal mais Benéfica e Exceções. Lugar do Crime. Territorialidade e Extraterritorialidade A LEI PENAL NO TEMPO EXTINÇÃO DA NORMA pelodecurso do tempo em que devesse vigorar (no caso das disposições transitórias); pela obtenção do escopo a que se houvesse proposto; e, pela eliminação do pressuposto que a houvesse gerado. Normalmente, porém, a norma penal se extingue pela “ABOLITIO CRIMINIS”, que poderá ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). Revogada a lei penal, de forma expressa ou tácita (quando a lei se mostra em todo ou em parte incompatível com a velha), o crime resta excluído da tipologia contida na Parte Especial. Com a revogação, cessam de imediato os efeitos penais (não civis) da condenação. Art. 2º. C.P. - LEI ULTERIOR MAIS BENÉFICA A lei posterior, se de algum modo beneficiar o réu, retroagirá, transitada ou não em julgado a sentença penal condenatória (Art. 2º do C.P.). Na sistemática anterior do C.P. de 1940, antes da reforma de 1984, introduzida pelas Lei 7209 e 7210, a ”lex mitior” só teria aplicação se o fato não houvesse transitado em julgado. As formas mais benéficas que se pode perceber são as seguintes: o limite máximo da pena vem a ser reduzido, ou então o mínimo, quando o máximo permaneça inalterado; o fato é retirado do rol dos crimes para ser incluído nas contravenções; quando a nova lei passa a admitir a forma tentada, anteriormente rejeitada; se reconhecida determinada causa de licitude para o fato; passa-se a subordinar a persecução do fato à representação do ofendido; ou, são restabelecidas atenuantes genéricas. Mesmo a lei, em período de “vacatio”, não deixa de ser lei posterior, devendo ser aplicada desde logo. Também “lex intermedia”, entrada em vigor após a comissão do fato e ab-rogada no momento do julgamento, terá aplicação desde que mais favorável ao réu. PRINCÍPIOS NORTEADORES: A sucessão das leis penais se regula por dois princípios genéricos: o da irretroatividade da lei incriminadora; e, o da retroatividade da lei benéfica. Art. 3º., C.P. - LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA EXCEPCIONAL - quando promulgada para satisfazer e enquanto persistir situação anormal (terremoto, inundação, epidemia, guerra etc). Remediada a situação excepcional, deixa de vigorar a norma, que tem sua duração condicionada ao protraimento da situação normal. TEMPORÁRIA – é a norma cuja vigência é previamente fixada pelo legislador. Findo o período para o qual foi promulgada, deixa de existir, sem necessidade de uma nova lei ab-rogatória. Ambas são promulgadas para regulamentar situações contingentes e transeuntes. A lei excepcional ou temporária, de eficácia transitória, dispõem de ULTRATIVIDADE. Vale dizer, continuam a regulamentar fatos ocorridos durante sua vigência. Constituem, porém, exceção à regra estabelecida no Art. 2º., já que a lei mais benéfica não altera a aplicação da lei excepcional ou temporária,dado o mencionado efeito da ultratividade. Art. 4º. C.P. - TEMPO DO CRIME O C.P. adotou a teoria da ATIVIDADE, segundo a qual “considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado” (Art. 4º C.P.). A importância da definição da definição do tempo do crime tem a ver, por exemplo, com a definição da norma penal a ser aplicada, no reconhecimento ou não da menoridade do réu etc. assim, suponha-se que uma pessoa com idade de 17 anos, 11 meses e 29 dias efetue disparo contra alguém, que morre apenas uma semana depois. Ora, o homicídio só se consumou com a morte (quando o agente já possui 18 anos), mas o agente não poderá ser punido criminalmente, pois, nos termos do Art. 4º, considera-se praticado o delito no momento da ação (quando o agente ainda era menor de idade). no crime de homicídio, doloso a pena é aumentada de 1/3, se a vítima for menor de 14 anos. Suponha-se, assim, que o agente efetue um disparo contra uma pessoa de 13 anos, 11 meses e 29 dias, que vem a falecer depois de já haver completado os 14 anos mencionados pela lei. Será aplicável o aumento da pena. A LEI PENAL NO ESPAÇO ART. 5º C.P. - TERRITORIALIDADE Há várias teorias utilizadas para fixar o âmbito de aplicação da norma penal a fatos cometidos no Brasil: a. Princípio da TERRITORIALIDADE – a lei penal só tem aplicação no território do Estado que a editou. Pouco importando a nacionalidade do sujeito ativo ou passivo. b. Princípio da TERITORIALIDADE ABSOLUTA – só a lei nacional é aplicável a fatos cometidos em seu território. c. Princípio da TERRITORIALIDADE TEMPERADA – a lei nacional se aplica aos fatos praticados em seu território, mas, excepcionalmente, permite-se a aplicação da lei estrangeira, quando assim estabelecer algum tratado ou convenção internacional. Foi este o princípio adotado pelo Art. 5º do C.P.. Entende-se por território nacional, todo o espaço em que o Estado exerce sua soberania: solo, rios, lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da costa (12 milhas) e espaço aéreo. ART. 6º C.P. - LUGAR DO CRIME Teoria da UBIQUIDADE – o lugar do crime é tanto o da conduta quanto o do resultado (adotada pelo Código Penal); e, Teoria do RESULTADO – adota como regra para fixação da competência a que estabelece ser competente o foro (a comarca) na qual o crime se consumou (Art. 70 CPP). ART. 7º C.P. - EXTRATERRITORIALIDADE CONCEITO – é a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos criminosos ocorridos no exterior. PRINCÍPIOS NORTEADORES: a. Princípio da NACIONALIDADE ATIVA – aplica-se a lei nacional do autor do crime, qualquer que tenha sido o local da infração. b. Princípio da NACIONALIDADE PASSIVA – aplica-se a lei nacional do autor do crime quando o fato delituoso for praticado contra bem jurídico de seu próprio Estado ou contra pessoa de sua nacionalidade. c. Princípio da DEFESA REAL – prevalece a lei referente à nacionalidade do bem jurídico lesado, qualquer que tenha sido o local da infração ou a nacionalidade do autor do delito. d. Princípio da JUSTIÇA UNIVERSAL – todo o Estado tem o direito de punir qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do sujeito ativo e passivo, e o local da infração, desde que o agente esteja dentro de seu território (que tenha voltado a seu país, por exemplo). e. Princípio da REPRESENTAÇÃO – a lei nacional é aplicável aos crimes no estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas, desde que não julgados no local do crime. A extraterritorialidade pode ser incondicionada (quando a lei brasileira é aplicada a fatos ocorridos no exterior, sem que sejam exigidas condições) ou condicionada (quando a aplicação da lei pátria a fatos ocorridos fora de nosso território depende da existência de certos requisitos). ART. 8º C.P. - PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO Caso a pena imposta no Brasil a uma determinada prática delitiva seja mais severa do que aquela aplicada em algum outro país estrangeiro, no qual, em razão da condenação pelo mesmo fato, o agente tenha cumprido a reprimenda, a deslocar-se de lá para cá depois de extinta a punibilidade naquele Estado, deverá cumprir no nosso país, o tempo de pena que restar, considerada a pena total, dela descontado o tempo de pena que cumpriu no exterior. Se as penas forem iguai, ou se a pena aplicada no país estrangeiro superar a nossa em quantidade, nada mais deverá ser cumprido aqui no Brasil. ART. 9º C.P. - EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA A homologação a que se refere o legislador penal compete ao Superior Tribunal Justiça (S.T.J.) e só será possível quando a aplicação da lei brasileira produzir os mesmos efeitos da lei estrangeira. Os Arts. 787 a 790 do CPP regulamentam o tema. ART. 10 C.P. – CONTAGEM DE PRAZO A forma de contagem de prazos penais está regulada pelo Art. 10 do CP, que determina que o dia do começoinclui-se no cômputo do prazo. Assim, se uma pena começa a ser cumprida às 23:30 h., os 30 minutos restantes serão contados como sendo o 1º dia. O prazo penal distingue-se do processual, pois, neste, exclui-se o 1º dia da contagem, conforme estabelece o Art. 798, § 1º, do CPP. Assim, se o réu é intimado da sentença no dia 1º. de abril, o prazo para recorrer começa a fluir apenas no dia 2 (se for dia útil). Caso não seja, será automaticamente deslocado para o primeiro dia útil subsequente. Diversamente, os prazos penais são improrrogáveis. Assim, se o prazo termina em um sábado, domingo ou feriado, estará ele encerrado naquele dia. Ao contrário, os prazos processuais prorrogam-se até o 1º dia útil subseqüente. ART. 11 C.P. – FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA Se uma pessoa for condenada a 20 dias de detenção e o juiz reduzir a pena de 2/3 (em razão da tentativa, por exemplo), o resultado final seria um dízimo (6,66). Dessa forma, nos termos do dispositivo acima mencionado, o juiz aplicará pena de 6 dias de detenção. Suponha-se, por outro lado, que o juiz fixe a pena em 10 dias-multa e, que tenha de reduzi-la em 2/3, em face da tentativa. A pena final deverá ser de 3 dias-multa. Após o trânsito em julgado da sentença condenatória, os autos irão para o contador para a devida atualização do valor. Caso o montante final não seja um número inteiro, deverão ser desprezados os centavos. Ex.: R$-55,14 (o condenado deverá pagar R$-55,00). ART.12 C.P. – LEGISLAÇÃO ESPECIAL Este dispositivo consagra a aplicação subsidiária das normas gerais do direito penal à legislação especial, desde que lá não se trate o tema de forma diferente. Ex.: o Art. 14, II, do CP, que trata do instituto TENTATIVA, aplica-se aos crimes previstos na parte especial do Código Penal e àqueles prevsitos na legislação estravagante, mas é vedado especificamente nas contravenções penais, porque o Art. 4º da Lei 3688/1941 declara, em um ato imperativo do legislador, que não é punível a tentativa de contravenção. Teoria Geral do Delito Os diversos conceitos analíticos de delito no direito penal. Visão panorâmica do delito com breve menção a cada um dos seus elementos: Fato típico, ilicitude ou antijuridicidade e culpabilidade. Conceitos de Crime conceito de crime não está contido na lei, ficando para a atividade doutrinária o compromisso de defini-lo. Tem-se procurado definir o ilícito penal sob três aspectos: I - Conceitos Formais: - “Crime é o fato humano contrário à lei” (Carmignani). - “Crime é qualquer ação legalmente punível” (Maggiore). - “Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena” (Fragoso). Tais definições alcançam apenas o aspecto do fenômeno criminal, que é a contradição à norma de direito, não penetram o conteúdo, a essência, a matéria. II - Conceitos Materiais: - “Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido pela lei penal” (Noronha). - “Crime é ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com valores ou interesses do corpo social, de modo a exigir seja proibida sob ameaça de pena, ou que se considere afastável somente através da sanção penal” (Fragoso) - “Crime é a conduta considerada pelo legislador como contrária a uma norma de cultura reconhecida pelo Estado e lesiva de bens juridicamente protegidos, procedente de um homem imputável que manifesta com sua agressão perigosidade social” (Jimenez de Asua). As definições materiais do crime buscam conhecer a razão que levou o legislador a prever punição de certos fatos e não de outros. A despeito dos esforços de certos doutrinadores, ainda não se construiu um conceito material inatacável. III - Conceitos Analísticos: - “Fato humano descrito no tipo penal e cometido com culpa, ao qual é aplicável a pena” (Bataglini) - “Ação humana, antijurídica, típica, culpável e punível” (Basileu Garcia) - “Um fato pode ser típico, antijurídico, culpado e ameaçado de pena, isto é criminoso, e, no entanto, anormalmente deixar de acarretar a efetiva imposição de pena” (Nelson Hungria) Essa exclusão ocorre nos casos de não-aplicação da pena por causas pessoais de isenção (Art. 181, n.ºs I e II, Art. 348, § 2º etc), ou pela extinção da punibilidade (Art. 107). Nesses casos, o crime persiste, inexistindo apenas a punibilidade. Por isso, passou-se a conceituar o crime como sendo o “Fato Típico, Antijurídico E Culpável”. Características Do Crime Para a existência do crime é necessária uma conduta humana positiva (ação em sentido estrito) ou negativa (omissão). É necessário ainda, que essa conduta seja típica, que esteja descrita na lei como infração penal. Só haverá crime se o fato for antijurídico, contrário ao direito por não estar protegido por causa que exclua a sua antijuridicidade. Culpabilidade é a reprovabilidade da conduta típica e antijurídica. Fato Típico: Ação e Elementos da Ação Positiva (Comissiva) e Elementos da Ação Negativa (Omissiva) Elementos do fato típico - Conduta Para que se possa afirmar que o fato concreto tem tipicidade, é necessário que ele se contenha perfeitamente na descrição legal, ou seja, que haja perfeita adequação do fato concreto ao tipo penal. Deve-se, por isso, verificar do que se compõe o fato típico. São elementos do fato típico: conduta (ação ou omissão); o resultado; a relação de causalidade; e, a tipicidade. Caso o fato concreto não apresente um desses elementos, não é fato típico e, portanto, não é crime. Excetua-se, no caso, a tentativa, em que não ocorre o resultado. Teorias sobre conduta Não há crime se ação. É sobre o conceito de ação (que se pode denominar conduta, já que a palavra ação tem sentido amplo, que abrange a ação em sentido estrito, que é o fazer, e a omissão, que é o não fazer o devido) que repousa a divergência mais expressiva entre os penalistas. Conforme o sentido que se dê a palavra ação, modifica- se o conceito estrutural do crime. TEORIA CAUSALISTA (naturalista, tradicional, clássica, causal-naturalista) – a conduta é um comportamento humano voluntário no mundo exterior, que consiste em fazer ou não fazer. É um processo mecânico, muscular e voluntário (porque não é um ato reflexo), em que prescinde do fim a que essa vontade se dirige. TEORIA FINALISTA – a conduta é uma atividade final humana e não um comportamento simplesmente causal. Como ela é um fazer (ou não fazer) voluntário, implica necessariamente uma finalidade. TEORIA SOCIAL (da ação socialmente adequada, da adequação social ou normativa) – a ação é a conduta socialmente relevante, dominada ou dominável pela vontade humana. Esta teoria surgiu para ser uma ponte entre as teorias clássica e finalista. Conduta A conduta é, em regra, consubstanciada em uma ação em sentido estrito ou comissão, que é um movimento corpóreo, um fazer, um comportamento ativo (atirar, subtrair, ofender etc). Poderá, entretanto, constituir-se numa omissão, que, segundo a teoria normativa, é a inatividade, a abstenção de movimento, é o “não fazer alguma coisa que é devida”. O fundamento de todo crime omissivo constitui-se em uma ação esperada e na não-realização de um comportamento exigido do sujeito. Mesmo sem consenso, a dogmática, sempre em busca de efeitos práticos, teve de posicionar-se sobre o tema, e nosso Código Penal, a exemplo de tantas outras legislações, acabou de inscrever alguns dispositivos, na Parte Geral, acerca da chamada omissão penalmente relevante. Em geral, a lei penal não se ocupará do não fazer humano, mas haverá momentos em que a omissão será relevante ao Direito Penal. Por outras vezes, sem haver necessidadede recorrer à Parte Geral do Código, serão encontradas descrições típicas – na Parte Especial do Código ou em outras leis de conteúdo penal, cuja linguagem descreve expressamente um não fazer, equiparado a uma ação. Apesar de prevalecer esta definição, a ação omissiva deve ser separada em duas linhas: CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS – o agente falta, com a sua não atividade, a um comando da lei penal. Ex. omissão de socorro; e, CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS ( ou comissivos por omissão) – com a sua inatividade, dá lugar a que se produza um fato típico. Ex. a mulher que deixa de alimentar o próprio filho e lhe causa a morte. ART.18, I – CRIME DOLOSO TEORIAS APLICÁVEIS a. Teoria da vontade - dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. b. Teoria da representação – dolo é a vontade de realizar a conduta, prevendo a possibilidade de produção do resultado. c. Teoria do assentimento – dolo é a vontade de realizar a conduta, assumindo o risco da produção do resultado. O artigo 18, I do Código Penal, diz que há crime doloso quando o agente quer o resultado (dolo direto) ou quando assume o risco de produzi-lo (dolo eventual). Na hipótese de dolo direto, o legislador adotou a teoria da vontade e, no caso de dolo eventual, consagrou-se a teoria do assentimento. ESPÉCIES DE DOLO: a. dolo NATURAL – é a espécie de dolo adotada pela Teoria finalista da Ação. Segundo essa teoria, o dolo pressupõe: 1. consciência da conduta, do resultado e do nexo causal entre ambos; e, 2. vontade de realizar a conduta e provocar o resultado (intenção de concretizar os elementos que compõem a descrição típica do delito). Para essa teoria, o dolo passa a constituir parte integrante da conduta (ação), deixando de lado a consciência da ilicitude; b. dolo NORMATIVO – é o dolo segundo a teoria clássica. O dolo contém a consciência da ilicitude e é elemento integrante da culpabilidade, considerando indispensável a IMPUTABILIDADE; c. dolo DIRETO ou DETERMINADO – quando o agente visa, como sugere o título, a certo e determinado resultado; d. dolo INDIRETO ou INDETERMINADO – o sujeito não se dirige a certo e determinado resultado. Possui duas formas: DOLO ALTERNATIVO, no qual a intenção do agente se dirige a um ou outro resultado, como, por exemplo, quando efetua golpes na vítima com intenção de feri-la ou mata- la; e o DOLO EVENTUAL, quando o agente assume o risco de produzir o resultado. Não deve ser confundido com a CULPA CONSCIENTE, que oportunamente será estudada; e. dolo de DANO – intenção de causar efetiva lesão ao bem jurídico tutelado; f. dolo de PERIGO – intenção de expor a risco o bem jurídico tutelado. Exs.: crime de periclitação da vida e da saúde (Art. 132), crime de rixa (Art. 137); g. dolo GENÉRICO – vontade de realizar a conduta descrita no tipo, sem um fim especial; h. dolo ESPECÍFICO – vontade de realizar a conduta, visando um fim especial. Ocorre quando o tipo exige determinada finalidade. Ex.: extorsão mediante sequestro (Art. 159), cujo tipo penal é sequestrar pessoa com o fim de obter vantagem como condição ou preço do resgate; i. dolo GERAL – ocorre na hipótese em que o agente, supondo já ter alcançado o resultado por ele visado, pratica nova ação que efetivamente provoca. Ex.: alguém efetua disparos contra a vítima e, supondo que esta já esteja morta, atira-a no mar bravio, provocando sua morte por afogamento. Nesse caso, ao tentar ocultar o cadáver, o agente acabou matando a vítima e, em razão do dolo geral, responde por homicídio doloso consumado (e não por tentativa de homicídio em concurso com ocultação de cadáver). ART. 18, II - CRIME CULPOSO CONCEITO – no crime culposo, o agente não quer nem assume o risco de produzir o resultado, mas a ele dá causa, nos termos do Art. 18, II, do Código Penal, por imprudência, negligência ou imperícia. Para a teoria do crime, todavia, o conceito de crime culposo envolve outros elementos além da inobservância da inobservância de um cuidado necessário, manifestado na conduta que produz de um resultado objetivamente previsível, decorrente da imprudência, negligência ou imperícia. São elementos do crime culposo: 1. CONDUTA – o que importa em um crime culposo não é a finalidade da conduta do agente, mas o resultado que ela provoca e o desvalor da ação ou omissão que a ele deu causa. Por assim ser, naturalmente se percebe dificuldade por parte dos autores simpatizantes da Teoria Finalista ao referirem-se à conduta culposa. Conduta culposa, portanto, é aquela na qual o agente não observa um dever de cuidado, imposto a todos no convívio social e, por esse motivo, causa um resultado típico (morte, lesões etc). 2. DEVER DE CUIDADO OBJETIVO – para saber se houve ou não a inobservância do dever de cuidado objetivo, é imperioso confrontar a conduta do agente com a conduta que teria, nas mesmas condições, um homem prudente e de discernimento. Se o agente não agiu como agiria o homem prudente, cometeu o crime culposo, ou seja, se não cumpriu com o dever de cuidado, sua conduta será típica. A inobservância do cuidado objetivo necessário pode manifestar-se de várias formas: a. IMPRUDÊNCIA – é uma conduta positiva, uma ação. Ocorre, por exemplo, quando o agente toma uma atitude com falta de cuidado, com afoiteza, sem as cautelas necessárias. Exs.: brincar com o revólver municiado; b. NEGLIGÊNCIA – é uma conduta negativa, uma omissão (quando o caso impunha uma ação preventiva). Na negligência, há uma inércia psíquica, uma indiferença do agente, que, podendo tomar as cautelas exigíveis, não o faz. A negligência á a ausência de uma precaução que dá causa ao resultado. Ex.: não realizar as manutenções necessárias ao veículo, causando, por isso acidente de trânsito; ou, c. IMPERÍCIA – incapacidade ou falta de conhecimentos técnicos no exercício de arte ou ofício. A imperícia pressupõe sempre a qualidade ou habilitação legal para a arte ou ofício. Ex.: do médico que provoca a morte de paciente por não observar as técnicas cirúrgicas. 3. RESULTADO – a mera inobservância do dever de cuidado não basta para caracterizar o crime culposo. É necessária a ocorrência do resultado descrito na lei (e não desejado pelo agente). Assim, se alguém desrespeita um semáforo desfavorável, mas não atinge qualquer pessoa, não há crime, sem prejuízo, é lógico, que sobrevenha ao infrator a punição administrativa. 4. PREVISIBILIDADE – é a possibilidade de conhecimento do perigo que sua conduta gera para os bens jurídicos alheios e também a possibilidade de prever o resultado, conforme as condições pessoais do agente. Assim, para a punição do autor de um crime culposo é necessário que se demonstre a existência da previsibilidade objetiva ou subjetiva. PREVISIBILIDADE OBJETIVA – é perspicácia comum, normal dos homens, de prever o resultado. Não ingerir substância tóxica ou alcóolica antes de dirigir veículo, para evitar consequências indesejadas, como lesões ou mortes; e, PREVESIBILIDADE SUBJETIVA – capacidade de o agente, no caso concreto, prever o resultado, em razão de condições a ele inerentes, que variam de acordo com vários fatores, como educação, inteligência, capacidade, sagacidade etc. Ex.: as habilidades adquiridas pelos estudos de um cirurgião. Espécies de culpa a. CULPA CONSCIENTE – o agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra. Há previsão do resultado, mas ele supõe que poderá evita-lo com sua habilidade. O agente imagina sinceramente que poderá evitar o resultado. Difere do dolo eventual, porque neste o agente prevê o resultado, mas não se importa que ele ocorra. Para o agente que atua com dolo eventual, é indiferente que o resultado ocorra ou não. b. CULPA INCONSCIENTE – o agente não prevê, que, entretanto, eraobjetiva e subjetivamente previsível. c. CULPA PRÓPRIA – é aquela em que o sujeito não quer e não assume o risco de produzir o resultado. d. CULPA IMPRÓPRIA – também chamada de culpa por extensão, por assimilação, por equiparação. É aquela em que o agente supõe estar agindo acobertado por uma excludente de ilicitude (descriminante putativa) e, em razão disso, provoca intencionalmente um resultado ilícito. Graus de culpa A lei não faz expressa distinção a respeito do tema, que só tem relevância na aplicação da pena, pois, de acordo com o Art. 59 do CP, o juiz deve fixar a pena-base de acordo com as circunstâncias do crime, ao apurar a maior ou menor possibilidade de se prever o resultado culposo. Compensação de culpas Não existe compensação de culpas. Assim, se duas pessoas agem com imprudência, uma dando causa a lesões na outra, ambas respondem pelo crime, ou seja, uma conduta culposa não anula a outra. Além disso, se o agente e a vítima agem de forma culposa, a culpa da vítima não se compensa com a culpa do agente, que responde pelo crime. Fica afastada a incidência do crime culposo apenas quando a culpa é EXCLUSIVA DA VÍTIMA. Concorrência de culpas Há concorrência de culpas quando duas ou mais pessoas agem de forma culposa dando causa ao resultado, hipótese em que todas respondem pelo crime culposo. Ex.: A dirige na contramão e B com excesso de velocidade, dando causa a uma colisão, da qual decorre a morte de C. Nesse caso, A e B respondem pelo crime. Excepcionalidade do crime culposo A existência de um crime culposo depende de expressa previsão legal (Art. 18, parágrafo único). Coautoria e participação em crime culposo COAUTORIA – existe quando duas ou mais pessoas, conjuntamente, praticam a conduta descrita no tipo. PARTICIPAÇÃO – o agente não comete qualquer das condutas típicas (verbos descritos na lei), as se alguma outra forma concorre para o crime. Pode haver co-autoria em crimes culposos, pois nestes, tanto é possível a cooperação material quanto à cooperação psicológica, no caso da pluralidade de agentes, cada um destes, embora não querendo o evento final, tem consciência de cooperar na ação. Não existe diferença entre autores e partícipes nos crimes culposos, ou seja, toda classe de causação do resultado típico culposo é sinônimo de autoria. Por isso, quem instiga alguém a dirigir em excesso de velocidade não é partícipe, mas sim autor de uma imprudência. Crime preterdoloso É apenas uma das espécies dos chamados crimes qualificados pelo resultado. Estes últimos ocorrem quando o legislador. Após descrever uma figura típica fundamental, acrescenta-lhe um resultado, que tem por finalidade aumentar a pena. Os crimes qualificados pelo resultado podem ser observados nas seguintes formas: a. conduta dolosa e resultado agravador doloso. Ex.: durante um roubo, o ladravaz mata intencionalmente a vítima. Há roubo qualificado pela morte, também chamado latrocínio (Art. 157, § 3º); b. conduta culposa e resultado agravador doloso. Ex.: crime de lesões corporais culposas, cuja pena é aumentada de 1/3, se o agente, dolosamente, deixa de prestar socorro imediato à vítima (Art. 129, § 7º); c. conduta dolosa e resultado agravador culposo. Ex.: crime de lesão corporal seguida de morte, no qual o legislador descreve que a pena será maior quando o agente, ao agredir a vítima, provoca sua morte e, as circunstâncias indicam que o agente não quis e não assumiu o risco de produzi-la. APENAS NESSA HIPÓTESE OCORRE CRIME PRETERDOLOSO: DOLO NO ANTECEDENTE E CULPA NO CONSEQÜENTE; d. conduta culposa e resultado agravador culposo. Crime de incêndio culposo, qualificado pela morte culposa (Art. 25, § 2º, c/c Art. 258, 2ª parte). Os crimes preterdolosos não admitem a tentativa, pois, neles, o agente não quer o resultado, conforme estudado anteriormente. Fato Típico: Resultado. Consumação e Tentativa: Etapas do Crime; Delitos Instantâneos, Permanentes Resultado. Consumação e tentativa: etapas do crime; delitos instantâneos, permanentes, instantâneos de efeitos permanentes. Desistência voluntária, arrependimento eficaz e posterior. Crime impossível. RESULTADO – CRIMES CONSUMADOS E TENTADOS RESULTADO Não basta a conduta para que o crime exista, pois é exigido, o segundo elemento do fato típico, que é o resultado.Segundo o conceito clássico, é a modificação do mundo exterior provocado pelo comportamento humano voluntário. É a morte da vítima (no homicídio, a destruição, inutilização ou deterioração da coisa (no dano) etc). ART. 14, I – CRIME CONSUMADO CONCEITO – diz-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os elementos do tipo incriminador. Ex. no homicídio, o tipo penal é matar alguém e, assim, o crime se consuma no momento em que a vítima morre. “ITER CRIMINIS” São as fases que o agente percorre até chegar à consumação do delito: 1ª fase – COGITAÇÃO – o agente apenas está pensando em cometer o crime. 2ª fase – PREPARAÇÃO – esta fase compreende a prática de todos os atos necessários ao início da execução. Ex.: alugar uma casa, onde será mantida em cativeiro a vítima, no crime de extorsão mediante sequestro. 3ª fase – EXECUÇÃO – começa aqui a agressão ao bem jurídico. Inicia-se a efetiva lesão ao bem tutelado pela lei. O agente começa a realizar a conduta descrita no tipo (o verbo descrito na lei). Ex.: o agente arrebata a vítima, com a intensão de pedir o resgate. Há grande importância em se descobrir o momento em que é iniciada a execução. Pois é a partir daí que o fato passa a ser punível. Iniciada a execução: a. o agente pode não conseguir consuma-la por circunstâncias alheias a sua vontade, hipótese em que o crime estará sendo tentado; b. o agente pode desistir voluntariamente de prosseguir no ato de execução, hipótese em que só responderá pelos atos já praticados (desistência voluntária); e, c. o agente pode chegar à consumação. 4ª fase – CONSUMAÇÃO – quando todos os elementos (objetivos, subjetivos e normativos) do tipo são realizados. Ex. O agente pede o resgate, visando a obtenção da vantagem patrimonial ilícita. Apenas para completar, é pertinente destacar que o recebimento do resgate no crime de extorsão mediante sequestro, tomado como referência, promove o exaurimento do crime, não sendo necessário o recebimento da vantagem para consumação do crime. Embora não se tenha ainda visto com detalhes a classificação dos crimes, tema que se abordará na última etapa do estudo da Parte Geral I deste curso, é relevante conhecer o momento de consumação de três espécies de crimes, que se verificam em condições e ocasiões que não se confundem. Tratam-se dos crimes instantâneos, permanentes e instantâneos de efeitos permanentes, assim considerados: Crime Instantâneo: A consumação desse tipo ocorre em um único momento. A conduta tem uma duração instantânea. Não importa o que ocorre depois com o objeto do crime, apenas a conduta, o ato; uma vez consumado, caracteriza-se como crime instantâneo. Ex.: furto, omissão de socorro (art. 135, CP), peculato (art. 312, CP), usura (art. 4º, “a”, da Lei 1.521/51), reingresso de estrangeiro expulso (art. 338, CP). Crime instantâneo de efeito permanente: Ex.: estelionato contra a previdência social (art. 171, CP): falsifica um documento (conduta instantânea), mas permanece recebendo os valores da previdência ao longo do tempo (efeito permanente). - Não confundir com: Crime Permanente: É o crime cuja conduta única se protrai no tempo de acordo com a vontade do agente. Enquanto não cessar, o crime se renova no tempo. Tanto o momento inicial, intermediário ou final do crime é considerado a mesma conduta, razãopela qual, é possível efetuar a prisão em flagrante, ainda que o agente não seja pilhado no momento da execução ou da consumação. Ex.: seqüestro e cárcere privado (art. 148, CP), redução à condição análoga de escravo (art. 149, CP). A diferenciação desses dois últimos tipos é importante para efeitos de prescrição, de competência. Ex.: no Supremo o crime de estelionato contra a previdência social é considerado instantâneo de efeito permanente, então, para efeitos de prescrição, é aplicado o art. 111, inciso I, do CP, e não o inciso III: Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: I - do dia em que o crime se consumou; II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido. ART. 14, II – TENTATIVA CONCEITO – considera-se tentado o crime quando o agente inicia a execução, mas não consegue consumá-lo por circunstâncias alheias à sua vontade. Trata-se de norma de extensão cuja finalidade é propiciar a punição do autor da tentativa através de uma adequação típica mediata. Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a mesma pena do crime consumado, reduzida de 1/3 a 2/3. O critério que o juiz deve utilizar em relação ao “quantum” da diminuição da pena é a maior ou menor proximidade da consumação. De maneira excepcional, há crimes em que o legislador equipara o crime tentado ao consumado, punindo-o com a mesma pena. É o que ocorre, por exemplo, no crime do art. 352 do Código Penal. N’outros, o legislador não pune a tentativa, como nos casos de crime impossível (art. 17 do Código Penal, que será objeto de estudo nos próximos parágrafos). CLASSIFICAÇÃO DA TENTATIVA I. Quanto ao percurso do “iter criminis”: a. Tentativa IMPERFEITA (ou inacabada) – quando o agente não pratica todos os atos executórios; b. Tentativa PERFEITA (crime falho) – quando o agente pratica todos os atos executórios e, mesmo assim, não consegue consumar o crime; II. Quanto ao resultado produzido na vítima: a. Tentativa BRANCA – quando o golpe desferido não atinge o corpo da vítima; b. Tentativa CRUENTA – quando a vítima é atingida. III. Quanto à possibilidade de alcançar a consumação: a. Tentativa IDÔNEA – é aquela em que o sujeito pode alcançar a consumação, mas não consegue faze-lo por circunstâncias alheias à sua vontade. É a tentativa propriamente dita (o “conatus”); b. Tentativa INIDÔNEA – sinônimo de crime impossível (art. 17), ocorre quando o agente inicia a execução, mas a consumação do delito era impossível por absoluta ineficácia do meio empregado ou por absoluta impropriedade do objeto material. CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA a. CRIMES CULPOSOS – no crime tentado o agente quer o resultado, mas não consegue atingi-lo. Nos crimes culposos o criminoso não quer o resultado. Por esse motivo os institutos são incompatíveis; b. CRIMES PRETERDOLOSOS – porque o agente também não quer dar causa ao resultado agravador, sendo incompatível imaginar a possibilidade da tentativa de algo que não se deseja (como tentar aquilo que não se quer?); c. CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS – se o sujeito se omite, o crime está consumado, se age, o fato é atípico, inexistindo espaço para a tentativa; d. CONTRAVENÇÕES PENAIS – por expressa determinação legal (art. 4º da Lei de Contravenções), ato soberano e imperativo do legislador; e. CRIMES DE ATENTADO - por opção do legislador, o tipo penal pune igualmente a forma consumada e a tentada, não se podendo, portanto, se cogitar de tentativa de tentativa; f. CRIMES HABITUAIS – se houver reiteração de condutas, o crime está consumado, e se não houver, o fato será atípico, inexistindo espaço para a tentativa; g. CRIMES UNISSUBSISTENTES – consumam-se com um único ato. Uma vez praticado o ato, o crime estara consumado. Não sendo praticado o ato, inexiste crime. Ex.: injúria verbal (art. 140); h. Crimes nos quais o tipo penal só prevê aplicação de pena quando ocorre o resultado, como por exemplo, nos casos de rixa. ART. 15, 1ª PARTE – DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA. O artigo 15 do Código Penal cogita das hipóteses em que o agente desiste voluntariamente de prosseguir no “iter criminis”, impedindo que o fato se consume. Somente é possível na tentativa imperfeita. Não havendo percorrido, ainda, toda a trajetória do delito, iniciados os atos de execução, o agente detem-se, voluntariamente. Ex.: o agente ministra veneno na bebida da vítima, arrependendo-se depois e impede a ingestão da bebida contaminada. ART. 15, 2ª PARTE – ARREPENDIMENTO EFICAZ. Ocorre somente na tentativa imperfeita, o agente esgota todos os meios, ao seu alcance, para a prática do crime. O agente pratica todos os atos de execução. Arrepende- se, porém, e evita, COM SUCESSO, a consumação. Ex.: agente que ministra veneno na bebida da vítima e a induz a ingeri-la. Após a ingestão da bebida envenenada pela vítima, o agente se arrepende, socorrendo-a ao hospital, salvando-lhe a vida. A lei subordina o reconhecimento e a aplicação do instituto em benefício da vítima à eficácia da providência. Se, por qualquer motivo, embora arrependido, o agente não conseguiu evitar a consumação do delito, será punido pelo crime consumado. A responsabilidade, entretanto, perdura mesmo que outra causa concorra para o resultado final. Ex.: se a vítima, envenenada, se negar a tomar o antídoto e morrer, estará consumado o delito, pelo qual responderá o agente. Do mesmo modo, se a vítima tomar o antídoto e, mesmo assim, morrer, o agente responderá pelo crime. ART. 16 – ARREPENDIMENTO POSTERIOR. É figura nova no nosso ordenamento jurídico, e vem tratado no artigo 16 do Código Penal. Nele, o agente já consumou o delito, restando-lhe, agora, a reparação do dano ou a restituição da coisa, tudo isso, se possível. Ocorre o arrependimento eficaz quando o agente já esgotou os atos de execução, mas ainda não atingiu a consumação, em razão de um ato em sentido reversivo, praticado voluntariamente. O arrependimento posterior dá-se quando, já consumado o crime, o agente, por vontade própria, repara o dano ou restitui a coisa. A lei restringe a aplicação do instituto aos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, não cabendo, por exemplo, ao crime de homicídio, de lesão corporal, de estupro etc. ART. 17 – CRIME IMPOSSÍVEL. O ordenamento jurídico penal brasileiro não pune a tentativa, quando há ineficácia ABSOLUTO de meio ou impropriedade ABSOLUTA do objeto. Exemplo de INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO verifica-se quando alguém, querendo envenenar seu inimigo, ministra açúcar misturado à bebida, pensando tratar- se de veneno. De IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO OBJETO, ocorre, por exemplo, se a mulher, de maneira equivocada, julgando-se grávida, ingere medicamento que possua propriedades abortivas, para provocar a eliminação da vida endouterina, que na verda ainda não se formou. No crime impossível existe a exclusão da própria tipicidade. O nosso Código Penal adotou a Teoria Objetiva Temperada com relação à punibilidade do crime impossível. Uma vez que, ausentes os elementos objetivos da tentativa, não corre risco o bem jurídico, justificando assim a não imposição de pena. Por esta teoria, só há crime impossível se a ineficácia do meio e a impropriedade do objeto forem ABSOLUTAS. Por isso, se forem relativas haverá crime tentado, como, por exemplo, se o agente tentar matar alguém com revólver e projéteis verdadeiros que, entretanto, não detonam por estarem velhos. Aqui a ineficácia do meio é RELATIVA,acidental e existe tentativa de homicídio, passível de punição. Na teoria do direito penal mundial existem outras teorias relacionadas ao crime impossível que, apesar de parecerem mais justas, NÃO foram adotadas pela nossa lei. São elas a teoria SINTOMÁTICA, pela qual o agente deve ser responsabilizado por ter demonstrado periculosidade, e a teoria SUBJETIVA, na qual o agente deve ser punido por ter demonstrado vontade de cometer o crime. Fato Típico: A Relação de Causalidade. A Causalidade Factual dos Delitos Comissivos e a Causalidade Relação de causalidade Para haver fato típico é ainda necessário que exista relação de causalidade entre a conduta e o resultado. O conceito de causa não é jurídico, mas da natureza; é a conexão, a ligação que existe numa sucessão de acontecimentos que pode ser entendida pelo homem. Causar, como ensinam os léxicos, é motivar, originar, produzir fenômeno natural que independe de definição. Não se elimina a relação de causalidade pela existência de uma concausa (preexistente, concomitante ou superveniente). A concausa é outra causa, que, ligada à primeira, concorre para o resultado. Todavia, a causa superveniente, aquela que se verifica depois de alcançado o resultado, não pode a ele ser vinculada. A simples dúvida a respeito da existência do nexo de causalidade impede a responsabilização do agente pelo resultado. Teoria da “Conditio sine qua non” O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 13, prevê que "considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido". Nesses termos, o Direito Brasileiro define aquilo que será considerado causa para fins de imputação de responsabilidade ao agente. Em virtude do exposto em tal artigo, a maioria da doutrina brasileira entende que o ordenamento jurídico brasileiro agasalhou a Teoria da Conditio Sine Qua Non, também chamada de teoria da equivalência das causas. Essa teoria estabelece que todas as condutas que de qualquer forma contribuírem para a ocorrência de um determinado resultado são causas dele. De fato, a opção do legislador brasileiro em muito se assemelha ao conteúdo exposto por essa teoria. Estabelecido o que é causa para o Direito Brasileiro, nos termos da lei, a Teoria da Equivalência das Causas também construiu uma forma de identificar essas causas. A essa forma deu-se o nome de juízo hipotético de eliminação, e funciona da seguinte maneira. Vamos supor que um cidadão, XAVIER, praticou uma determinada conduta, sendo que também foi produzido no mundo material um resultado. Para se saber se a conduta de XAVIER é a causa do resultado, deve-se, mentalmente, eliminar a conduta perpetrada por XAVIER. Imaginar que aquele comportamento não existiu. Se a partir da eliminação de sua conduta o resultado continuasse a existir, então o comportamento de XAVIER não teria sido causa do resultado. Por outro lado, se o resultado deixasse de existir da forma como ocorreu, após eliminação hipotética da conduta de XAVIER, então ter-se-ia que esse comportamento era sim causa do resultado. Limitações à Teoria da “conditio sine qua non” O juízo hipotético de eliminação é um raciocínio simples que auxilia e muito a entender se um comportamento é ou não causa de um evento. Porém, esse raciocínio necessita de uma complementação. Caso contrário, seriam produzidos alguns absurdos, permitindo-nos afirmar que o vendedor da loja de armas, que vendeu o revólver ao pistoleiro, também teria dado causa ao evento, pois se a arma não tivesse sido vendida não teriam sido efetuados os dispartos. E mais: o dono da fábrica que produz as armas seria também responsabilizado, pois sua conduta, ainda que remotamente, foi causa da morte da vítima dos disparos. Assim, o juízo hipotético, entendido de forma absoluta, levaria a uma relação de causalidade infinita. Para evitar esses absurdos, existem duas limitações à Teoria da Conditio Sine Qua Non: - Dolo e culpa - A primeira limitação à Teoria em questão é o elemento subjetivo do tipo penal: o dolo ou a culpa. O dolo é a consciência e vontade do agente de produzir um determinado resultado. A culpa, por sua vez, se configura quando o agente age sem observar o dever de cuidado objetivo necessário. O agente é imprudente, negligente ou imperito e, apesar de não desejar o resultado diretamente, acaba o causando em razão de um descuido. Tanto o dolo quanto a culpa, para se configurarem, exigem que o resultado típico seja previsível. Se voltarmos ao nosso exemplo, tem-se que o vendedor da loja de armas não tinha como prever que aquele pistoleiro viria a matar a sogra de Venceslau. Por isso, estaria excluída a imputação, sendo que sua conduta não pode ser considerada causa do resultado. - Concausalidade - A concausalidade é o estudo daquelas situações em que existem várias condutas sendo analisadas e envolvendo a ocorrência de um determinado resultado típico. O que se busca nessas situações é saber quais as condutas serão efetivamente consideradas como causa do resultado, e a que título será responsabilizado o agente. Divide-se a concausalidade em absolutamente independentes ou relativamente independentes. Causas Absolutamente Independentes As causas absolutamente independentes são aquelas que por si só produzem o resultado típico. Essas causas podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes em relação às demais causas. a. Causas absolutamente independentes preexistentes: CORNÉLIO chega em sua casa e encontra sua esposa o traindo junto a RICARDO. Revoltado, saca a arma e atira para matar contra o amásio de sua esposa, que vem a falecer já no hospital. Contudo, o laudo dos peritos constata que a morte de RICARDO ocorreu em virtude de envenenamento, e não em decorrência dos desparos. A polícia então descobre que a esposa de RICARDO, AMÉLIA, descobriu que vinha sendo traída e envenenou o suco de seu marido no café da manhã, tendo sido esse veneno a causa da morte. Em virtude disso, pode-se concluir que o envenenamento, verdadeira razão da morte, é uma causa absolutamente independente preexistente em relação ao tiro. Por isso, CORNÉLIO responderá apenas por tentativa de homicídio. b. Causas Absolutamente Independentes Concomitantes: O exemplo usualmente fornecido pela doutrina é o do cidadão que, ao mesmo tempo em que recebe uma facada no coração, é acometido de um aneurisma cerebral, tendo a morte decorrido exclusivamente do aneurisma. Nesse caso, o aneurisma é causa absolutamente independente concomitante à facada, pelo que o autor das punhaladas responderá apenas por tentativa de homicídido, se atacou com o dolo de matar. Repare que a aneurisma iria acometer a vítima naquele momento, ainda que estivesse ela na praia, no ônibus ou recebendo aquela facada. c. Causas Absolutamente Independentes Supervenientes: Voltando ao primeiro exemplo, envolvendo o marido traído, CORNÉLIO. Suponhamos que ele tenha conseguido matar RICARDO, o amante de sua mulher, por meio dos disparos de sua arma. Nesse caso, o envenenamento não seria mais a causa da morte de RICARDO. Por isso, os tiros passariam a ser uma causa absolutamente independente superveniente em relação ao envenenamento. AMÉLIA, a esposa de RICARDO responderia apenas por tentativa de homicídio. Causas Relativamente Independentes As causas relativamente independentes se configuram quando há uma soma de esforços entre duas causas que conduz a um determinado resultado. Nesses casos, se retirada hipoteticamente uma das causas, o resultado não ocorreria. Em virtude disso, diz-se que o agente dá causa ao resultado, e responde, em regra, pelo crime consumado. Também podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes,a. Causas Relativamente Independentes Preexistentes: PÂMELA, sabendo que ONOFRE é hemofílico, lhe desfere uma facada na perna. Esse ferimento, que não teria o condão de provocar a morte em uma pessoa normal, mas acaba por causar a morte de ONOFRE em virtude da perda de sangue. Nesse caso, as duas causas se somam para produzir o resultado morte, sendo que PÂMELA responderá por homicídio consumado se tinha o dolo de matar. b. Causas Relativamente Independentes Concomitantes: CLODOALDO decide matar a sua avó, uma senhora de 100 anos que sofria com problemas de coração. Ao abordar a senhora com uma faca nas mãos, essa última é acometida de um infarto fulminante e morre. Considerando que CLODOALDO sabia da condição de sua avó, tem-se que o mesmo deu causa à sua morte, respondendo por crime consumado. Caso não conhece das condições da vítima, não. c. Causas Relativamente Independentes Supervenientes: c.1) Processo Causal Natural: VASCO recebe um tiro de MENGO. Chegando ao hospital, a vítima é atendida e colocada na UTI. Porém, acaba falecendo em virtude de uma infecção hospitalar. Ora, o ambiente hospitalar está repleto de agentes químicos e biológicos que ficam constantemente em suspensão no ar. Logo, existe um risco próprio, inerente à própria atividade hospitalar, que envolve a possibilidade de ser desenvolvida uma infecção hospitalar. Pode-se considerar, portanto, que a infecção hospitalar é uma conseqüência natural do processo causal de uma pessoa que recebe um tiro e é encaminhada para tratamento. Por isso, apesar de a causa infecção hospitalar concorrer para o resultado morte, essa concausalidade é apenas relativa. Em virtude disso, MENGO responderá por homicídio consumado. c.2) Novo Processo Causal - artigo 13, §2° do Código Penal: VASCO recebe um tiro de MENGO. Assim como no exemplo anterior, VASCO chega ao hospital e é colocado na UTI. Entretanto, algumas obras que vinham sendo realizadas em lugar próximo ao prédio do hospital acabam por afetar a sua estrutura. Em decorrência disso, o teto do hospital acaba por desabar sobre a cabeça de VASCO, que vem a falecer. Ora, o desabamento do teto do hospital não constitui um desdobramento causal natural do processo em que uma pessoa recebe um tiro e é encaminhada para atendimento. Por isso, pode-se afirmar que o desabamento do teto, por si só, causou o resultado. Abriu- se um novo processo causal, que por si só levou ao resultado morte. Em virtude disso, o artigo 13, 2° do CP determina que, tendo a causa relativamente independente produzido o resultado por si só o agente responderá apenas pelos atos praticados. Logo, MENGO responderá apenas por tentativa. A relevância penal da omissão Apesar de, em geral, os crimes serem comissivos, existem os crimes omissivos, casos em que o deixar de agir humano gera responsabilidade penal. Assim como os crimes comissivos requerem o nexo de causalidade entre a ação e o resultado para se caracterizarem, os crimes omissivos exigem o chamado “nexo de não impedimento”, ou seja, inicialmente, para que uma omissão tenha relevância penal, é preciso que aquele que se omitiu, caso não o tivesse feito, pudesse ter evitado o resultado. Além do “nexo de não impedimento”, há outros requisitos necessários para a caracterização da responsabilidade penal por omissão. Estes requisitos são inferidos do texto do art. 13, §2º, do Código Penal, que afirma que “a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”. Deste dispositivo legal se depreendem, então, os três requisitos para a relevância da omissão: O poder de agir (entendido enquanto possibilidade física de atuar por parte do omitente), a evitabilidade do resultado e o dever de agir. Fato Típico IV: Tipicidade / Definição Construção Legislativa do Tipo Penal / Tipos Abertos e Fechados Elementos Descritivos e Normativos Jurídicos e Culturais. Tipicidade É a correspondência exata, a adequação perfeita entre o fato natural, concreto, e a descrição contida na lei. Como o tipo penal é composto não só de elementos objetivos, mas também de elementos normativos e subjetivos, é indispensável para a existência da tipicidade que não só o fato, objetivamente considerado, mas também a sua antijuridicidade e os elementos subjetivos se subsumam a ele. Há tipicidade no homicídio (Art. 121) se o agente pratica a conduta de “matar alguém” (elementos objetivos), mas só há violação de segredo profissional (Art. 154), se a revelação ocorrer “sem justa causa” (elemento normativo), e somente haverá rapto (Arts. 219 a 222), se o arrebatamento da mulher for praticado “para fim libidinoso” (elemento subjetivo). Só existe fato típico quando o fato natural estiver também preenchido pelo tipo subjetivo. A doutrina penal clássica sempre concebeu a tipicidade como categoria do crime (a primeira, aliás), porém, dando-lhe enfoque preponderantemente formal. A tipicidade penal, antes do advento da moderna teoria da imputação objetiva (1970, Roxin), possuía duas dimensões: objetiva (ou formal) e subjetiva. Vejamos: a. Para a doutrina causalista clássica o fato típico requeria: 1. conduta voluntária (neutra: sem dolo ou culpa); 2. resultado naturalístico (nos crimes materiais); 3. nexo de causalidade (entre a conduta e o resultado); 4. relação de tipicidade (adequação do fato à letra da lei). O tipo penal, como se vê, de acordo com a corrente causalista, conta com apenas uma dimensão: a objetiva (ou formal). Dolo ou culpa, nesse tempo, pertenciam à culpabilidade (eram as formas da culpabilidade). b. Para a doutrina finalista de Welzel o fato típico requeria: 1. conduta dolosa ou culposa (dolo e culpa passam a fazer parte da conduta); 2. resultado naturalístico (nos crimes materiais); 3. nexo de causalidade (entre a conduta e o resultado); 4. adequação do fato à letra da lei (relação de tipicidade). O tipo penal, a partir do finalismo, passa a contar com duas dimensões: a objetiva (ou formal) e a subjetiva (esta última integrada pelo dolo ou pela culpa). A maior crítica que se pode formular contra essas duas concepções do fato típico consiste no seu (exagerado) formalismo. O juízo de tipicidade penal contentava-se com a mera subsunção do fato à letra da lei. Confundia-se tipicidade legal com tipicidade penal. Tanto o causalismo como o finalismo não conseguiu superar o positivismo jurídico formalista (de Binding e de Rocco). Ignoraram (quase que) por completo o bem jurídico protegido, assim como sua dimensão ofensiva. A questão da imputação do resultado à conduta foi cuidada pelo finalismo de forma muito vaga. Confundiam violação da norma primária imperativa com violação da norma primária valorativa. Aliás, abandonaram quase que inteiramente esse último aspecto da norma penal. Nem cuidaram da necessária ofensa ao bem jurídico nem tampouco da imputação objetiva desse resultado ao seu agente. Centralizaram suas atenções na causação. Pouca relevância deram para a imputação (ou atribuição) do fato ao seu agente (como obra dele). Moderna teoria da imputação objetiva (Roxin) e tipicidade penal: a tipicidade penal, a partir da moderna teoria da imputação objetiva de Roxin (1970), foi enriquecida por uma nova exigência consistente na atribuição do fato ao seu agente (como obra dele). Dois, basicamente, são os pressupostos (ou requisitos) da imputação objetiva: 1) criação ou incremento de um risco proibido relevante (que exige um juízo de desaprovação da conduta); 2) que o resultado seja objetivamente imputável ao risco criado (e que esteja no âmbito de proteção da norma). O tipo penal, nos crimes dolosos, depois do advento da moderna teoria da imputação objetiva, passou a contar com três dimensões: 1ª) objetiva
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