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Direito Penal parte geral 1

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Direito Penal: Conceito, Natureza, Princípio e 
Fins do Estado Democrático de Direito 
Conceitos de bem jurídico penal. Caracteres do direito penal sob a ótica do direito 
penal mínimo. Princípios da subsidiariedade, fragmentariedade e insignificância ( 
Lesividade). 
Conceito de direito penal 
As sociedades humanas se encontram ligadas ao Direito, fazendo-o nascer das 
suas necessidades fundamentais e, em seguida, deixando-se disciplinar por ele, dele 
recebendo a estabilidade e a própria possibilidade de sobrevivência. 
No Direito se encontram as condições julgadas necessárias à coexistência social, 
definidas pelas suas normas, que criam, por fim, a ordem jurídica, dentro da qual, no 
Estado organizado, sociedade e indivíduo compõe o seu destino. 
O fato que se apresenta como contrário à norma de Direito, porque ofende ou põe 
em perigo o objeto da sua proteção, forma o ilícito jurídico, cuja espécie mais grave é o 
ilícito penal, que viola as mais fundamentais entre as leis da convivência. É este ilícito 
que se concretiza nos chamados fatos puníveis – crimes e contravenções. 
Compreende-se, então, que o Estado se arme contra esses fatos com a mais 
severa das sanções, que é a pena, e procure por meio dessa e de outras medidas, 
combatê-los, prevenindo-os ou reprimindo-os, por necessidade de defesa social. 
O conjunto das normas jurídicas que regulam a atuação estatal nesse combate 
contra o crime, através de medidas aplicáveis aos criminosos, é o Direito Penal. Nele se 
definem os fatos puníveis e se cominam as respectivas sanções – os dois grupos dos 
seus componentes essenciais, tipos penais e sanções. 
O meio de ação específico do Direito Penal, predominantemente sempre nos 
Códigos, é a pena, em que a doutrina tradicional viu a satisfação de uma exigência de 
justiça, impondo ao agente do fato punível em mal em correspondência com o mal por 
ele praticado – “MALUM PASSIONIS OB MALUM ACTIONIS”. Mas na evolução do 
Direito a pena vem atenuando cada vez mais esse caráter de retribuição e castigo. As 
idéias modernas sobre a natureza do crime e as suas causas e a exigência prática de 
uma luta eficaz contra a criminalidade foram desenvolvendo, ao lado da velha reação 
punitiva, uma série de medidas que se dirigem, não a punir o criminoso, mas a promover 
a sua recuperação social ou a segrega-lo do meio nos casos de desajustamento 
irredutível. São as chamadas medidas de segurança. 
Assim, o Direito Penal se apresenta como o conjunto das normas jurídicas, pelas 
quais se exerce a função do Estado de prevenir e reprimir os crimes, por meio de sanções 
cominadas aos seus autores. Ou, em sentido mais estrito, como o conjunto das normas 
jurídicas que cominam sanções em razão de determinados fatos chamados crimes, por 
ela tipicamente definidos. 
Impondo às várias figuras de crimes a grave sanção da pena, o Direito Penal 
fortalece na consciência comum o juízo de valor sobre os bens jurídicos assim tutelados 
e as normas de cultura em que se apóia essa tutela. Essa é a função educativa, sócio-
cultural do Direito punitivo, com que este ramo do Direito dá segurança e força àquelas 
normas em que se baseia a sociedade e exerce uma ação preventiva do crime. 
O Direito Penal é um sistema jurídico de dupla face, que protege a sociedade contra 
a agressão do indivíduo e protege o indivíduo contra possíveis excessos de poder da 
sociedade na prevenção e repressão dos fatos puníveis. 
Fontes do direito penal 
Fonte, em sentido figurado, significa origem, princípio, causa. Quando se fala em 
fontes do Direito Penal, está se estabelecendo de onde provém, de onde origina a lei 
penal. 
As fontes podem ser materiais (ou substâncias, ou de produção), por meio das 
quais se informa a gênese, a substância, a matéria de que é feito o Direito Penal, como 
é produzido, elaborado, e formais (ou de conhecimento, ou de cognição), referem-se ao 
modo pelo qual se exterioriza o direito, pelo qual se dá ele a conhecer. 
I - Fontes Materiais 
A única fonte de produção do Direito Penal é o Estado. Determina a CF (Art. 22, I), 
que compete privativamente a União legislar sobre direito penal. A Carta Magna de 1988, 
porém, inovou ao prever a possibilidade de lei complementar autorizar os Estados a 
legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas ao Art. 22. Assim, ao 
menos em tese, existe a possibilidade do Estado-membro legislar sobre a matéria 
particular, restrita, de Direito Penal, se autorizado por lei complementar. 
O Estado não pode, todavia, legislar arbitrariamente, pois encontra seu fundamento 
na moral vigente, na vida social, no progresso e nos imperativos da civilização. 
II - Fontes Formais 
As fontes formais, que exteriorizam o direito, que lhe dão forma e o revelam, 
dividem-se em fontes diretas (ou imediatas) e indiretas (ou mediatas ou subsidiárias). 
A única fonte direta do Direito Penal, diante do princípio da reserva legal, é a lei. 
Apontam-se como fontes indiretas ou subsidiárias do Direito Penal os costumes e 
os princípios gerais do direito, referidos expressamente na LICC Lei de Introdução ao 
Código Civil (Art. 4º). 
COSTUME é uma regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, 
com a consciência de sua obrigatoriedade. Evidentemente, não se pode falar em criação 
ou revogação de crimes pelo costume, dado o princípio da legalidade. Não se pode 
negar, entretanto, sua influência na interpretação e na elaboração da lei penal. 
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO são premissas éticas extraídas da legislação, 
do ordenamento jurídico. Está o Direito Penal sujeito às influências desses princípios, 
estabelecidos com a consciência ética do povo em determinada civilização, que podem 
suprir lacunas e omissões da lei penal. 
ANALOGIA é uma forma de auto-integração da lei. Na lacuna desta, aplica-se ao 
fato não regulado expressamente pela norma jurídica um dispositivo que disciplina 
hipótese semelhante. 
Diante do princípio da legalidade do crime e pena, pelo qual não se pode impor 
sanção penal a fato não previsto em lei, é inadmissível o emprego da analogia para criar 
ilícitos penais ou estabelecer sanções criminais. Nada impede, entretanto, a aplicação 
da analogia às normas não incriminadoras quando se vise, na lacuna evidente da lei, 
favorecer a situação do réu por um princípio de equidade. Há no caso, a chamada 
analogia “in bonam partem” ( em favor da parte), que não contraria o princípio da reserva 
legal, podendo ser utilizada diante do disposto no já mencionado Art. 4º da LICC. 
Missão do direito penal 
Para cumprir seu dever de contenção dos comportamentos inaceitáveis, bem como 
para impor limites ao poder de punir do Estado, pode-se dizer que existam caminhos 
diversos. Porém, basicamente podemos destacar dentre tais caminhos, duas vertentes 
inspiratórias: a que aponte para um caminho de um Direito Penal mais potente, com 
maiores proibições, que recomendam a necessidade de um Estado mais policialesco; 
ou, aquela que indica mais adequado proteger um núcleo reduzido de bens jurídicos, 
indicando ser adequado acionar o Direito Penal quando uma lesão ou grave risco de 
lesão a um bem jurídico seja verificada. 
I - Garantismo Penal 
A visão do Direito Penal mínimo conduz à ideia de que venha apenas a proteger 
bens jurídicos penalmente relevantes. 
A escola penal alemã de Frankfurt foi a precursora de tal pensamento, inspirada 
nos pensamentos de WINFRIED HASSEMER, que defendia não haver espaço para a 
tutela dos bens coletivos, que primordialmente deveria se ocupar da garantia aos bens 
individuais. 
Hoje, o maior defensor do garantismo penal é LUIGI FERRAJOILI, que mantém em 
grande medida as características positivistas de KELSEN e, mais modernamente,de 
BOBBIO, para valorizar a diferença entre ser e dever-ser, a fim de propor a valorização 
das garantias constitucionais e o modelo do juiz atuante por meio de um positivismo 
crítico. 
II - Garantia dos valores ético - sociais 
WELZEL, não entendia o Direito Penal não como defensor de bens jurídicos, seja 
porque adotar-se critérios materiais de definição sobre o que seria o sujeito representa 
ponto de vista ultrapassado e, porque a complexidade das conexões da sociedade 
moderna não permitiria a estreita configuração jurídica do indivíduo como sujeito pessoal 
de direitos. 
Passou a enxergar o Direito Penal como garantidor dos valores ético-sociais, ou 
seja, a missão de expandir a proteção prestada pelo Direito Penal, agora como garantidor 
do ordenamento jurídico. 
III - Direito penal do inimigo 
Mais recentemente discutido, principalmente depois dos ataques terroristas de 
2001 aos Estados Unidos, é o posicionamento de GÜNTHER JAKOBS, apresentado em 
seminário Internacional de Direito Penal na década de 1970, abandonado desde lá, que 
culmina na concepção que ele denominou de Direito Penal do Inimigo, visando a 
alcançar o dever de prevenção geral positiva da pena, ou seja, que a condenação sirva 
como exemplo positivo ou negativo, de ameça de castigo geral ou de confirmação de 
vigência da norma. 
Afirma que o Direito Penal conhece dois pólos: o trato com o cidadão e o trato com 
o inimigo, que deve ser o quanto antes interceptado em sua periculosidade, para que 
ofereça menos riscos sociais. 
Tal pensamento rompe inteiramente com o Direito Penal do FATO, exaltando uma 
nova tendência, a do Direito Penal do AUTOR, amplamente criticada e temerária, na 
medida emq ue se outorga ao Estado poderes de interferência indesejados e de difícil 
controle. 
 
 
Princípios do direito penal 
Durante o transcorrer do curso, vários outros princípios serão exibidos, comentados 
e estudados. 
Nesta etapa inicial, apenas alguns princípios serão apresentados, sem a pretenção 
de esgotar toda a gama principiológica que se vincula à ciência Penal. 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – (introduzido no sistema penal por CLAUS 
ROXIN): significa que o Direito Penal não deve se preocupar com bagatelas. Logo, os 
danos de pouca monta devem ser considerados fatos atípicos (como por exemplo, o furto 
de pacotes de bolacha) 
PRINCÍPIO DA ALTERIDADE – proíbe a incriminação de atitude meramente 
subjetiva, que não ofenda nenhum bem jurídico. Só pode ser castigado aquele 
comportamento que lesione direitos de outras pessoas e que não seja simplesmente 
pecaminoso ou imoral (logo, justifica-se a opção do Direito Penal brasileiro, à exemplo 
do que ocorre em outros ordenamentos jurídicos ocidentais, não punir o suicídio). 
PRINCÍPIO DA CONFIANÇA – baseia-se na confiança de que o comportamento 
das outras pessoas se dará de acordo com o que normalmente acontece. Exemplo disto 
é o caso do motorista que, trafegando pelo preferencial, passa por um cruzamento, na 
confiança de que o veículo da via secundária aguardará sua passagem. No caso de um 
acidente, não terá agido com culpa. 
PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE – o Direito Penal só deve se preocupar 
com ofensas realmente graves aos bens jurídicos por ele tutelados. 
PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE – “LEX PRIMARIAE DERROGAT 
SUBSIDIARIAE” – a lei primária derroga a subsidiária, absorvida pela de maior 
importância. 
 
 
Aplicação da Lei Penal. Princípio da Legalidade: 
Reserva Legal, Taxatividade e Irretroatividade 
CARACTERÍSTICAS DA LEI PENAL 
A – EXCLUSIVIDADE – somente a norma penal define crimes e comina penas 
(PRINCÍPIO DA LEGALIDADE); 
B – IMPERATIVIDADE – a norma penal é imposta a todos, independentemente de 
sua vontade. Assim, praticada uma infração penal, o Estado, obrigatoriamente, deverá 
buscar a aplicação da pena; 
C – GENERALIDADE – a norma penal vale para todos (“erga omnes”); e, 
D – IMPESSOALIDADE – a norma penal é abstrata, sendo elaborada para punir 
acontecimentos futuros e não para punir pessoa determinada. 
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL 
Tem por finalidade buscar o exato significado da norma penal. 
I - QUANTO A ORIGEM – ou seja, quanto ao sujeito que interpreta a lei: 
 AUTÊNTICA – é dada pela própria lei, a qual, em um dos seus dispositivos, 
esclarece determinado assunto; 
 DOUTRINÁRIA – feita pelos estudiosos, professores e autores de obras de 
direito, através de seus livros, artigos, conferências, palestras etc; e, 
 JURISPRUDENCIAL – é aquela feita pelos juízes, que com as suas 
decisões comuns formam uma tendência. 
II - QUANTO AO MODO: 
 GRAMATICAL – que leva em conta o sentido liberal das palavras contidas 
na lei; 
 TELEOLÓGICA – que busca descobrir o seu significado através de uma 
análise acerca dos fins a que ela se destina; 
 HISTÓRICA – que avalia os debates que envolveram sua aprovação e os 
motivos que levaram à apresentação do projeto de lei; e, 
 SISTEMÁTICA – que busca o significado da norma através de sua 
integração com os demais dispositivos de uma mesma lei e com o sistema 
jurídico com um todo. 
III - QUANTO AO RESULTADO 
 DECLARATIVA – na qual se conclui que a letra da lei corresponde 
exatamente àquilo que o legislador quis dizer; 
 RESTRITIVA – quando se conclui que o texto legal abrangeu mais do que 
queria o legislador (por isso a interpretação irá restringir seu alcance); e, 
 EXTENSIVA – quando se conclui que o texto da lei ficou aquém da intenção 
do legislador (por isso a interpretação irá ampliar sua aplicação). 
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA E ANALOGIA 
A interpretação analógica é possível quando, dentro do próprio texto legal, após 
uma seqüência casuística, o legislador se vale de uma fórmula genérica, que deve ser 
interpretada de acordo com os casos anteriores: 
EXS.: 1 – o crime de estelionato (Art. 171 CP), de acordo com a descrição legal, 
pode ser cometido mediante artifício, ardil ou QUALQUER OUTRA FRAUDE; 2 – o Art. 
28, II, estabelece que não exclui o crime a embriaguez por álcool ou por SUBSTÂNCIAS 
DE EFEITOS ANÁLOGOS. 
A analogia somente é aplicável em casos de lacuna da lei, ou seja, quando não há 
qualquer norma regulando o tema. Fazer uso da analogia significa aplicar a norma penal 
a um fato não abrangido por ela nem por qualquer outra lei, em razão de tratar-se de fato 
semelhante àquele que a norma regulamenta. A analogia, portanto, é forma de 
integração da lei penal e não forma de interpretação. 
Diz-se que, em matéria penal, ela deve ser aplicada em favor do réu (analogia “IN 
BONAM PARTEM”), e ainda assim, se ficar constatado que houve mera omissão 
involuntária (esquecimento do legislador). A vedação da analogia “IN MALAM PARTEM” 
como regra, visa a evitar que seja desrespeitado o princípio da legalidade. 
PRINCÍPIO DO “IN DUBIO PRO REO” 
Se persistir dúvida, depois de haverem sido utilizadas todas as formas 
interpretativas, a questão deverá ser resolvida da maneira mais favorável ao réu, para 
absolvê-lo ou para puni-lo de maneira mais branda. 
SUJEITOS DO CRIME 
I - SUJEITO ATIVO - sujeito ativo ou agente é a pessoa que comete o crime. Em 
regra, só o ser humano, maior de 18 anos, pode ser sujeito ativo de uma infração. 
Excepcionalmente, em razão de expressa previsão legal contida em nosso ordenamento 
jurídico, as pessoas jurídicas poderão cometer crimes, uma vez que a CF estabeleceu 
que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os 
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, 
independentemente da obrigação de reparar o dano (Lei 9605/98 – Art. 222, § 3º CF). 
A doutrina tem criticado veementemente esta tendência estabelecida. 
II - SUJEITO PASSIVO - é a pessoa ou entidadeque sofre os efeitos do delito 
(vítima do crime). 
OBJETOS DO CRIME 
I - OBJETIVIDADE JURÍDICA (ou objeto jurídico) - é o bem ou interesse que a lei 
visa a proteger quando incrimina determinada conduta. Assim, no crime de furto, o objeto 
jurídico é o patrimônio, no homicídio, é a vida etc. 
II - OBJETO MATERIAL - é a coisa sobre a qual recai a conduta delituosa, isso 
deve ser entendido como sendo a “RES FURTIVA”, no crime de furto, ou, o corpo da 
vítima no homicídio. 
CONFLITO APARENTE DE NORMAS 
Configura-se o conflito aparente de normas sempre que existir uma pluralidade de 
leis regulando um mesmo fato criminoso, sendo que, na realidade, apenas uma delas é 
efetivamente aplicável ao caso concreto. 
Para saber qual das normas deve ser efetivamente aplicada ao fato concreto, 
dentre as aparentemente cabíveis, torna-se necessário recorrer aos princípios que 
solucionam a questão. 
São eles: 
I - PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE – de acordo com o princípio da especialidade 
se, no caso concreto, houver duas normas aparentemente aplicáveis e uma delas puder 
ser considerada como especial em relação a outra, deve o julgador aplicar esta norma 
especial, de acordo com o brocardo “LEX SPECIALIS DERROGAT GENERALI”. 
Considera-se norma especial aquela que possui todos os elementos da lei geral e 
mais alguns, denominados “especializantes”. EX. homicídio (Art. 121 CP), onde qualquer 
pessoa pode matar outra; e, infanticídio (Art. 123 CP), no qual somente a mãe, sob 
influência do estado puerperal, mata o filho nascente ou recém-nascido. 
II - PRINCÍPIO DA SUBSIDIARIEDADE – em havendo duas normas aplicáveis ao 
caso concreto, se uma delas puder ser considerada subsidiária em relação a outra, 
aplica-se a norma principal, denominada primária, em detrimento da norma subsidiária. 
Aplica-se o brocardo “LEX PRIMARIA DERROGAT SUBSIDIARIAE”. EX. estupro (Art. 
213 CP) e constrangimento ilegal (Art. 146 CP). Não há estupro sem constrangimento, 
que acaba embutido na prática contra a dignidade sexual da vítima. Por isso, o 
constrangimento não é punido, restando a punição somente pelo estupro. 
III - PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO – a relação de consunção ocorre quando um 
fato definido como crime atua como fase de preparação, de execução, ou ainda, como 
exaurimento de outro crime mais grave, ficando, portanto, absorvido por este. 
HIPÓTESES DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO 
 CRIME PROGRESSIVO – ocorre o crime progressivo quando o agente, 
desejando desde o início a produção de um resultado mais grave, mediante 
diversos atos, realiza sucessivas e crescentes violações ao bem jurídico. 
Nessa hipótese, o agente responderá apenas pelo resultado final e mais 
grave obtido, ficando absorvidos os atos anteriores. EX. para matar alguém, 
faz-se necessário lesioná-la primeiro. 
 PROGRESSÃO CRIMINOSA 
1. EM SENTIDO ESTRITO – ocorre quando o agente, desejando inicialmente 
um resultado, após atingi-lo, pratica novo fato, produzindo um resultado mais 
grave. Aqui o agente responderá apenas pelo crime final. EX. pretende-se a 
lesão, no curso do delito, altera-se o dolo e pratica homicídio (Art. 121 CP). 
2. “ANTE FACTUM” (fato anterior) IMPUNÍVEL – é um fato menos grave 
praticado pelo agente de um mais grave, como meio necessário à realização 
deste. O crime-meio fica absorvido pelo crime-fim. EX. furto (Art. 155 CP) e 
estelionato (Art. 171 CP). 
3. “POST FACTUM” (fato posterior) IMPUNÍVEL – é o fato menos grave 
praticado contra o mesmo bem jurídico da mesma vítima após a consumação 
de um primeiro crime e, embora constitua aquele um novo delito, não é 
punível, por ser menos grave. EX. furto (Art. 155 CP) e dano (Art. 163 CP). 
4. CRIME COMPLEXO – é aquele que resulta da união de dois ou mais crimes 
autônomos, que passam a funcionar como elementos ou circunstâncias do 
crime complexo. O agente não responde pelos crimes autônomos, mas tão-
somente pelo crime complexo. EX. latrocínio (Art. 157, § 3º, 2ª parte), 
extorsão mediante seqüestro (Art. 159 CP). 
IV – PRINCÍPIO DA ALTERNATIVIDADE – na realidade há diversas críticas quanto 
à inclusão desse princípio entre os que solucionam conflito aparente de normas. Nesses 
casos, não há propriamente um conflito aparente de normas, mas sim um conflito dentro 
da mesma norma. Ele só é aplicado aos chamados tipos alternativos mistos, nos quais 
a norma incriminadora descreve várias formas de execução de um mesmo delito, no qual 
a prática de mais de uma dessas condutas em relação a mesma vítima, caracteriza crime 
único. EX. o crime de participação em suicídio (Art. 122 CP), pune quem induz, instiga 
ou auxilia alguém a cometer suicídio. Desta forma, se o agente, no caso concreto, induz 
e auxilia a vítima a se matar, comete um só crime. 
 
PRINCÍPIOS GERAIS 
 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE (Art. 1º CP) - esse princípio, consagrado no 
Art. 1º do CP, encontra-se atualmente descrito também no Art. 5º, XXXIX, 
da CF. Segundo ele, “não há crime sem lei anterior que o defina. Não há 
pena sem prévia cominação legal”. 
A doutrina subdivide o princípio da legalidade: 
 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE – uma pessoa só pode ser punida se, à 
época do fato por ela praticado, já estava em vigor a lei que descrevia o 
delito; e, 
 PRINCÍPIO DA RESERVA LEGAL – apenas a lei em sentido formal pode 
descrever condutas criminosas. É vedado ao legislador utilizar-se de 
decretos, medidas provisórias ou outras formas legislativas para incriminar 
condutas. 
 PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE – Este princípio se encontra ligado à 
técnica redacional legislativa. Não basta existir uma lei que defina uma 
conduta como crime. A norma incriminadora legal deve ser clara, 
compreensível, permitindo ao cidadão a real consciência acerca da conduta 
punível pelo Estado. 
O princípio da taxatividade, ou da determinação, não está expresso em nenhuma 
norma legal. Trata-se de uma construção doutrinária, fundamentada no princípio da 
legalidade e nas bases do Estado Democrático de Direito. 
NORMAS PENAIS EM BRANCO 
São chamadas normas penais em branco aquelas que exigem complementação 
por outras normas, de igual nível (leis), ou de nível diverso (decretos, regulamentos etc.). 
Ex. No artigo 33 da Lei 11343/2006, que tipifica o tráfico ilícito de entorpecentes, o Termo 
“DROGAS” depende de complementação, dada por uma portaria expedida pelo 
Ministério da Saúde, para esclarecer a sua amplitude. O mesmo se verifica no artigo 269 
do Código Penal, que estabelece o compromisso atribuído aos médicos de denunciar a 
autoridade pública, acerca da constatação de doença cja notificação seja complusória 
(nem qual autiridade, nem quais doenças estão especificadas no dispositivo, cabendo, 
portanto, complementação a ser dada por outra norma). 
O uso por si só, de normas penais em branco, aparentemente, como técnica 
legislativa, não viola o princípio da legalidade, porém deve-se, ao formulá-las, ter sempre 
em vista tal princípio (seus corolários), servindo de balize e dando a dimensão exata do 
alcance dessas leis e em completa conformidade com este. 
Cabe ao princípio da legalidade, dar ao cidadão instrumentos para, em face de 
abusos e arbítrios do Estado, que normalmente tenta flexibilizá-lo frente às supostas 
necessidades, sejam momentâneas ou não, da sociedade. As garantias que tal princípio 
encerra são por demais valiosas para que o Estado venha a funcionar em prol dos seus 
cidadãos. 
Normas penais em branco não ferem o princípio da legalidade e os que dele 
derivam. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aplicação da Lei Penal II.Tempo do Crime. 
Aplicação da Lei Penal mais Benéfica e 
Exceções. Lugar do Crime. Territorialidade e 
Extraterritorialidade 
 
A LEI PENAL NO TEMPO 
EXTINÇÃO DA NORMA 
 pelodecurso do tempo em que devesse vigorar (no caso das disposições 
transitórias); 
 pela obtenção do escopo a que se houvesse proposto; e, 
 pela eliminação do pressuposto que a houvesse gerado. 
Normalmente, porém, a norma penal se extingue pela “ABOLITIO CRIMINIS”, que 
poderá ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). 
Revogada a lei penal, de forma expressa ou tácita (quando a lei se mostra em todo 
ou em parte incompatível com a velha), o crime resta excluído da tipologia contida na 
Parte Especial. Com a revogação, cessam de imediato os efeitos penais (não civis) da 
condenação. 
Art. 2º. C.P. - LEI ULTERIOR MAIS BENÉFICA 
A lei posterior, se de algum modo beneficiar o réu, retroagirá, transitada ou não em 
julgado a sentença penal condenatória (Art. 2º do C.P.). Na sistemática anterior do C.P. 
de 1940, antes da reforma de 1984, introduzida pelas Lei 7209 e 7210, a ”lex mitior” só 
teria aplicação se o fato não houvesse transitado em julgado. 
As formas mais benéficas que se pode perceber são as seguintes: 
 o limite máximo da pena vem a ser reduzido, ou então o mínimo, quando 
o máximo permaneça inalterado; 
 o fato é retirado do rol dos crimes para ser incluído nas contravenções; 
 quando a nova lei passa a admitir a forma tentada, anteriormente 
rejeitada; 
 se reconhecida determinada causa de licitude para o fato; 
 passa-se a subordinar a persecução do fato à representação do 
ofendido; ou, 
 são restabelecidas atenuantes genéricas. 
Mesmo a lei, em período de “vacatio”, não deixa de ser lei posterior, devendo ser 
aplicada desde logo. Também “lex intermedia”, entrada em vigor após a comissão do 
fato e ab-rogada no momento do julgamento, terá aplicação desde que mais favorável 
ao réu. 
PRINCÍPIOS NORTEADORES: 
A sucessão das leis penais se regula por dois princípios genéricos: 
 o da irretroatividade da lei incriminadora; e, 
 o da retroatividade da lei benéfica. 
Art. 3º., C.P. - LEI EXCEPCIONAL OU TEMPORÁRIA 
EXCEPCIONAL - quando promulgada para satisfazer e enquanto persistir situação 
anormal (terremoto, inundação, epidemia, guerra etc). Remediada a situação 
excepcional, deixa de vigorar a norma, que tem sua duração condicionada ao 
protraimento da situação normal. 
TEMPORÁRIA – é a norma cuja vigência é previamente fixada pelo legislador. 
Findo o período para o qual foi promulgada, deixa de existir, sem necessidade de uma 
nova lei ab-rogatória. 
Ambas são promulgadas para regulamentar situações contingentes e transeuntes. 
A lei excepcional ou temporária, de eficácia transitória, dispõem de ULTRATIVIDADE. 
Vale dizer, continuam a regulamentar fatos ocorridos durante sua vigência. 
Constituem, porém, exceção à regra estabelecida no Art. 2º., já que a lei mais 
benéfica não altera a aplicação da lei excepcional ou temporária,dado o mencionado 
efeito da ultratividade. 
Art. 4º. C.P. - TEMPO DO CRIME 
O C.P. adotou a teoria da ATIVIDADE, segundo a qual “considera-se praticado o 
crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado” 
(Art. 4º C.P.). 
A importância da definição da definição do tempo do crime tem a ver, por exemplo, 
com a definição da norma penal a ser aplicada, no reconhecimento ou não da 
menoridade do réu etc. 
 assim, suponha-se que uma pessoa com idade de 17 anos, 11 meses e 
29 dias efetue disparo contra alguém, que morre apenas uma semana 
depois. Ora, o homicídio só se consumou com a morte (quando o agente 
já possui 18 anos), mas o agente não poderá ser punido criminalmente, 
pois, nos termos do Art. 4º, considera-se praticado o delito no momento 
da ação (quando o agente ainda era menor de idade). 
 no crime de homicídio, doloso a pena é aumentada de 1/3, se a vítima for 
menor de 14 anos. Suponha-se, assim, que o agente efetue um disparo 
contra uma pessoa de 13 anos, 11 meses e 29 dias, que vem a falecer 
depois de já haver completado os 14 anos mencionados pela lei. Será 
aplicável o aumento da pena. 
A LEI PENAL NO ESPAÇO 
ART. 5º C.P. - TERRITORIALIDADE 
Há várias teorias utilizadas para fixar o âmbito de aplicação da norma penal a fatos 
cometidos no Brasil: 
a. Princípio da TERRITORIALIDADE – a lei penal só tem aplicação no 
território do Estado que a editou. Pouco importando a nacionalidade do 
sujeito ativo ou passivo. 
b. Princípio da TERITORIALIDADE ABSOLUTA – só a lei nacional é aplicável 
a fatos cometidos em seu território. 
c. Princípio da TERRITORIALIDADE TEMPERADA – a lei nacional se aplica 
aos fatos praticados em seu território, mas, excepcionalmente, permite-se a 
aplicação da lei estrangeira, quando assim estabelecer algum tratado ou 
convenção internacional. 
Foi este o princípio adotado pelo Art. 5º do C.P.. 
Entende-se por território nacional, todo o espaço em que o Estado exerce sua 
soberania: solo, rios, lagos, mares interiores, baías, faixa do mar exterior ao longo da 
costa (12 milhas) e espaço aéreo. 
ART. 6º C.P. - LUGAR DO CRIME 
 Teoria da UBIQUIDADE – o lugar do crime é tanto o da conduta quanto o 
do resultado (adotada pelo Código Penal); e, 
 Teoria do RESULTADO – adota como regra para fixação da competência 
a que estabelece ser competente o foro (a comarca) na qual o crime se 
consumou (Art. 70 CPP). 
ART. 7º C.P. - EXTRATERRITORIALIDADE 
CONCEITO – é a possibilidade de aplicação da lei penal brasileira a fatos 
criminosos ocorridos no exterior. 
PRINCÍPIOS NORTEADORES: 
a. Princípio da NACIONALIDADE ATIVA – aplica-se a lei nacional do autor do 
crime, qualquer que tenha sido o local da infração. 
b. Princípio da NACIONALIDADE PASSIVA – aplica-se a lei nacional do autor 
do crime quando o fato delituoso for praticado contra bem jurídico de seu 
próprio Estado ou contra pessoa de sua nacionalidade. 
c. Princípio da DEFESA REAL – prevalece a lei referente à nacionalidade do 
bem jurídico lesado, qualquer que tenha sido o local da infração ou a 
nacionalidade do autor do delito. 
d. Princípio da JUSTIÇA UNIVERSAL – todo o Estado tem o direito de punir 
qualquer crime, seja qual for a nacionalidade do sujeito ativo e passivo, e o 
local da infração, desde que o agente esteja dentro de seu território (que 
tenha voltado a seu país, por exemplo). 
e. Princípio da REPRESENTAÇÃO – a lei nacional é aplicável aos crimes no 
estrangeiro em aeronaves e embarcações privadas, desde que não 
julgados no local do crime. 
A extraterritorialidade pode ser incondicionada (quando a lei brasileira é aplicada a 
fatos ocorridos no exterior, sem que sejam exigidas condições) ou condicionada (quando 
a aplicação da lei pátria a fatos ocorridos fora de nosso território depende da existência 
de certos requisitos). 
ART. 8º C.P. - PENA CUMPRIDA NO ESTRANGEIRO 
Caso a pena imposta no Brasil a uma determinada prática delitiva seja mais severa 
do que aquela aplicada em algum outro país estrangeiro, no qual, em razão da 
condenação pelo mesmo fato, o agente tenha cumprido a reprimenda, a deslocar-se de 
lá para cá depois de extinta a punibilidade naquele Estado, deverá cumprir no nosso 
país, o tempo de pena que restar, considerada a pena total, dela descontado o tempo de 
pena que cumpriu no exterior. 
Se as penas forem iguai, ou se a pena aplicada no país estrangeiro superar a nossa 
em quantidade, nada mais deverá ser cumprido aqui no Brasil. 
ART. 9º C.P. - EFICÁCIA DE SENTENÇA ESTRANGEIRA 
A homologação a que se refere o legislador penal compete ao Superior Tribunal 
Justiça (S.T.J.) e só será possível quando a aplicação da lei brasileira produzir os 
mesmos efeitos da lei estrangeira. 
Os Arts. 787 a 790 do CPP regulamentam o tema. 
ART. 10 C.P. – CONTAGEM DE PRAZO 
A forma de contagem de prazos penais está regulada pelo Art. 10 do CP, que 
determina que o dia do começoinclui-se no cômputo do prazo. Assim, se uma pena 
começa a ser cumprida às 23:30 h., os 30 minutos restantes serão contados como sendo 
o 1º dia. 
O prazo penal distingue-se do processual, pois, neste, exclui-se o 1º dia da 
contagem, conforme estabelece o Art. 798, § 1º, do CPP. Assim, se o réu é intimado da 
sentença no dia 1º. de abril, o prazo para recorrer começa a fluir apenas no dia 2 (se for 
dia útil). Caso não seja, será automaticamente deslocado para o primeiro dia útil 
subsequente. 
Diversamente, os prazos penais são improrrogáveis. Assim, se o prazo termina em 
um sábado, domingo ou feriado, estará ele encerrado naquele dia. Ao contrário, os 
prazos processuais prorrogam-se até o 1º dia útil subseqüente. 
ART. 11 C.P. – FRAÇÕES NÃO COMPUTÁVEIS DA PENA 
Se uma pessoa for condenada a 20 dias de detenção e o juiz reduzir a pena de 2/3 
(em razão da tentativa, por exemplo), o resultado final seria um dízimo (6,66). Dessa 
forma, nos termos do dispositivo acima mencionado, o juiz aplicará pena de 6 dias de 
detenção. 
Suponha-se, por outro lado, que o juiz fixe a pena em 10 dias-multa e, que tenha 
de reduzi-la em 2/3, em face da tentativa. A pena final deverá ser de 3 dias-multa. Após 
o trânsito em julgado da sentença condenatória, os autos irão para o contador para a 
devida atualização do valor. Caso o montante final não seja um número inteiro, deverão 
ser desprezados os centavos. Ex.: R$-55,14 (o condenado deverá pagar R$-55,00). 
ART.12 C.P. – LEGISLAÇÃO ESPECIAL 
Este dispositivo consagra a aplicação subsidiária das normas gerais do direito 
penal à legislação especial, desde que lá não se trate o tema de forma diferente. 
Ex.: o Art. 14, II, do CP, que trata do instituto TENTATIVA, aplica-se aos crimes 
previstos na parte especial do Código Penal e àqueles prevsitos na legislação 
estravagante, mas é vedado especificamente nas contravenções penais, porque o Art. 
4º da Lei 3688/1941 declara, em um ato imperativo do legislador, que não é punível a 
tentativa de contravenção. 
 
Teoria Geral do Delito 
Os diversos conceitos analíticos de delito no direito penal. Visão panorâmica do 
delito com breve menção a cada um dos seus elementos: Fato típico, ilicitude ou 
antijuridicidade e culpabilidade. 
Conceitos de Crime 
conceito de crime não está contido na lei, ficando para a atividade doutrinária o 
compromisso de defini-lo. Tem-se procurado definir o ilícito penal sob três aspectos: 
I - Conceitos Formais: 
- “Crime é o fato humano contrário à lei” (Carmignani). 
- “Crime é qualquer ação legalmente punível” (Maggiore). 
- “Crime é toda ação ou omissão proibida pela lei sob ameaça de pena” (Fragoso). 
Tais definições alcançam apenas o aspecto do fenômeno criminal, que é a 
contradição à norma de direito, não penetram o conteúdo, a essência, a matéria. 
II - Conceitos Materiais: 
- “Crime é a conduta humana que lesa ou expõe a perigo um bem jurídico protegido 
pela lei penal” (Noronha). 
- “Crime é ação ou omissão que, a juízo do legislador, contrasta violentamente com 
valores ou interesses do corpo social, de modo a exigir seja proibida sob ameaça de 
pena, ou que se considere afastável somente através da sanção penal” (Fragoso) 
- “Crime é a conduta considerada pelo legislador como contrária a uma norma de 
cultura reconhecida pelo Estado e lesiva de bens juridicamente protegidos, procedente 
de um homem imputável que manifesta com sua agressão perigosidade social” (Jimenez 
de Asua). 
As definições materiais do crime buscam conhecer a razão que levou o legislador 
a prever punição de certos fatos e não de outros. A despeito dos esforços de certos 
doutrinadores, ainda não se construiu um conceito material inatacável. 
III - Conceitos Analísticos: 
- “Fato humano descrito no tipo penal e cometido com culpa, ao qual é aplicável a 
pena” (Bataglini) 
- “Ação humana, antijurídica, típica, culpável e punível” (Basileu Garcia) 
- “Um fato pode ser típico, antijurídico, culpado e ameaçado de pena, isto é 
criminoso, e, no entanto, anormalmente deixar de acarretar a efetiva imposição de pena” 
(Nelson Hungria) 
Essa exclusão ocorre nos casos de não-aplicação da pena por causas pessoais de 
isenção (Art. 181, n.ºs I e II, Art. 348, § 2º etc), ou pela extinção da punibilidade (Art. 
107). Nesses casos, o crime persiste, inexistindo apenas a punibilidade. 
Por isso, passou-se a conceituar o crime como sendo o “Fato Típico, Antijurídico 
E Culpável”. 
Características Do Crime 
Para a existência do crime é necessária uma conduta humana positiva (ação em 
sentido estrito) ou negativa (omissão). É necessário ainda, que essa conduta seja típica, 
que esteja descrita na lei como infração penal. 
Só haverá crime se o fato for antijurídico, contrário ao direito por não estar protegido 
por causa que exclua a sua antijuridicidade. 
Culpabilidade é a reprovabilidade da conduta típica e antijurídica. 
 
Fato Típico: Ação e Elementos da Ação Positiva 
(Comissiva) e Elementos da Ação Negativa 
(Omissiva) 
 
Elementos do fato típico - Conduta 
Para que se possa afirmar que o fato concreto tem tipicidade, é necessário que ele 
se contenha perfeitamente na descrição legal, ou seja, que haja perfeita adequação do 
fato concreto ao tipo penal. Deve-se, por isso, verificar do que se compõe o fato típico. 
São elementos do fato típico: 
 conduta (ação ou omissão); 
 o resultado; 
 a relação de causalidade; e, 
 a tipicidade. 
Caso o fato concreto não apresente um desses elementos, não é fato típico e, 
portanto, não é crime. Excetua-se, no caso, a tentativa, em que não ocorre o resultado. 
Teorias sobre conduta 
Não há crime se ação. É sobre o conceito de ação (que se pode denominar 
conduta, já que a palavra ação tem sentido amplo, que abrange a ação em sentido estrito, 
que é o fazer, e a omissão, que é o não fazer o devido) que repousa a divergência mais 
expressiva entre os penalistas. Conforme o sentido que se dê a palavra ação, modifica-
se o conceito estrutural do crime. 
TEORIA CAUSALISTA (naturalista, tradicional, clássica, causal-naturalista) – a 
conduta é um comportamento humano voluntário no mundo exterior, que consiste em 
fazer ou não fazer. É um processo mecânico, muscular e voluntário (porque não é um 
ato reflexo), em que prescinde do fim a que essa vontade se dirige. 
TEORIA FINALISTA – a conduta é uma atividade final humana e não um 
comportamento simplesmente causal. Como ela é um fazer (ou não fazer) voluntário, 
implica necessariamente uma finalidade. 
TEORIA SOCIAL (da ação socialmente adequada, da adequação social ou 
normativa) – a ação é a conduta socialmente relevante, dominada ou dominável pela 
vontade humana. Esta teoria surgiu para ser uma ponte entre as teorias clássica e 
finalista. 
Conduta 
A conduta é, em regra, consubstanciada em uma ação em sentido estrito ou 
comissão, que é um movimento corpóreo, um fazer, um comportamento ativo (atirar, 
subtrair, ofender etc). Poderá, entretanto, constituir-se numa omissão, que, segundo a 
teoria normativa, é a inatividade, a abstenção de movimento, é o “não fazer alguma coisa 
que é devida”. O fundamento de todo crime omissivo constitui-se em uma ação esperada 
e na não-realização de um comportamento exigido do sujeito. 
Mesmo sem consenso, a dogmática, sempre em busca de efeitos práticos, teve de 
posicionar-se sobre o tema, e nosso Código Penal, a exemplo de tantas outras 
legislações, acabou de inscrever alguns dispositivos, na Parte Geral, acerca da chamada 
omissão penalmente relevante. 
Em geral, a lei penal não se ocupará do não fazer humano, mas haverá momentos 
em que a omissão será relevante ao Direito Penal. 
Por outras vezes, sem haver necessidadede recorrer à Parte Geral do Código, 
serão encontradas descrições típicas – na Parte Especial do Código ou em outras leis 
de conteúdo penal, cuja linguagem descreve expressamente um não fazer, equiparado 
a uma ação. 
Apesar de prevalecer esta definição, a ação omissiva deve ser separada em duas 
linhas: 
 CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS – o agente falta, com a sua não 
atividade, a um comando da lei penal. Ex. omissão de socorro; e, 
 CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS ( ou comissivos por omissão) – com 
a sua inatividade, dá lugar a que se produza um fato típico. Ex. a mulher 
que deixa de alimentar o próprio filho e lhe causa a morte. 
ART.18, I – CRIME DOLOSO 
TEORIAS APLICÁVEIS 
a. Teoria da vontade - dolo é a vontade de realizar a conduta e produzir o 
resultado. 
b. Teoria da representação – dolo é a vontade de realizar a conduta, 
prevendo a possibilidade de produção do resultado. 
c. Teoria do assentimento – dolo é a vontade de realizar a conduta, 
assumindo o risco da produção do resultado. 
O artigo 18, I do Código Penal, diz que há crime doloso quando o agente quer o 
resultado (dolo direto) ou quando assume o risco de produzi-lo (dolo eventual). 
Na hipótese de dolo direto, o legislador adotou a teoria da vontade e, no caso de 
dolo eventual, consagrou-se a teoria do assentimento. 
ESPÉCIES DE DOLO: 
a. dolo NATURAL – é a espécie de dolo adotada pela Teoria finalista da 
Ação. Segundo essa teoria, o dolo pressupõe: 
1. consciência da conduta, do resultado e do nexo causal entre 
ambos; e, 
2. vontade de realizar a conduta e provocar o resultado (intenção de 
concretizar os elementos que compõem a descrição típica do 
delito). 
Para essa teoria, o dolo passa a constituir parte integrante da 
conduta (ação), deixando de lado a consciência da ilicitude; 
b. dolo NORMATIVO – é o dolo segundo a teoria clássica. O dolo contém a 
consciência da ilicitude e é elemento integrante da culpabilidade, 
considerando indispensável a IMPUTABILIDADE; 
c. dolo DIRETO ou DETERMINADO – quando o agente visa, como sugere o 
título, a certo e determinado resultado; 
d. dolo INDIRETO ou INDETERMINADO – o sujeito não se dirige a certo e 
determinado resultado. Possui duas formas: DOLO ALTERNATIVO, no 
qual a intenção do agente se dirige a um ou outro resultado, como, por 
exemplo, quando efetua golpes na vítima com intenção de feri-la ou mata-
la; e o DOLO EVENTUAL, quando o agente assume o risco de produzir o 
resultado. Não deve ser confundido com a CULPA CONSCIENTE, que 
oportunamente será estudada; 
e. dolo de DANO – intenção de causar efetiva lesão ao bem jurídico tutelado; 
f. dolo de PERIGO – intenção de expor a risco o bem jurídico tutelado. Exs.: 
crime de periclitação da vida e da saúde (Art. 132), crime de rixa (Art. 137); 
g. dolo GENÉRICO – vontade de realizar a conduta descrita no tipo, sem um 
fim especial; 
h. dolo ESPECÍFICO – vontade de realizar a conduta, visando um fim 
especial. Ocorre quando o tipo exige determinada finalidade. Ex.: extorsão 
mediante sequestro (Art. 159), cujo tipo penal é sequestrar pessoa com o 
fim de obter vantagem como condição ou preço do resgate; 
i. dolo GERAL – ocorre na hipótese em que o agente, supondo já ter 
alcançado o resultado por ele visado, pratica nova ação que efetivamente 
provoca. Ex.: alguém efetua disparos contra a vítima e, supondo que esta 
já esteja morta, atira-a no mar bravio, provocando sua morte por 
afogamento. 
Nesse caso, ao tentar ocultar o cadáver, o agente acabou matando a vítima e, em 
razão do dolo geral, responde por homicídio doloso consumado (e não por tentativa de 
homicídio em concurso com ocultação de cadáver). 
ART. 18, II - CRIME CULPOSO 
CONCEITO – no crime culposo, o agente não quer nem assume o risco de produzir 
o resultado, mas a ele dá causa, nos termos do Art. 18, II, do Código Penal, por 
imprudência, negligência ou imperícia. 
Para a teoria do crime, todavia, o conceito de crime culposo envolve outros 
elementos além da inobservância da inobservância de um cuidado necessário, 
manifestado na conduta que produz de um resultado objetivamente previsível, 
decorrente da imprudência, negligência ou imperícia. 
São elementos do crime culposo: 
1. CONDUTA – o que importa em um crime culposo não é a finalidade da 
conduta do agente, mas o resultado que ela provoca e o desvalor da ação 
ou omissão que a ele deu causa. 
Por assim ser, naturalmente se percebe dificuldade por parte dos autores 
simpatizantes da Teoria Finalista ao referirem-se à conduta culposa. 
Conduta culposa, portanto, é aquela na qual o agente não observa um dever de 
cuidado, imposto a todos no convívio social e, por esse motivo, causa um resultado típico 
(morte, lesões etc). 
2. DEVER DE CUIDADO OBJETIVO – para saber se houve ou não a 
inobservância do dever de cuidado objetivo, é imperioso confrontar a 
conduta do agente com a conduta que teria, nas mesmas condições, um 
homem prudente e de discernimento. Se o agente não agiu como agiria o 
homem prudente, cometeu o crime culposo, ou seja, se não cumpriu com o 
dever de cuidado, sua conduta será típica. 
 
A inobservância do cuidado objetivo necessário pode manifestar-se de 
várias formas: 
a. IMPRUDÊNCIA – é uma conduta positiva, uma ação. Ocorre, por 
exemplo, quando o agente toma uma atitude com falta de 
cuidado, com afoiteza, sem as cautelas necessárias. Exs.: brincar 
com o revólver municiado; 
b. NEGLIGÊNCIA – é uma conduta negativa, uma omissão (quando 
o caso impunha uma ação preventiva). Na negligência, há uma 
inércia psíquica, uma indiferença do agente, que, podendo tomar 
as cautelas exigíveis, não o faz. A negligência á a ausência de 
uma precaução que dá causa ao resultado. Ex.: não realizar as 
manutenções necessárias ao veículo, causando, por isso acidente 
de trânsito; ou, 
c. IMPERÍCIA – incapacidade ou falta de conhecimentos técnicos no 
exercício de arte ou ofício. A imperícia pressupõe sempre a 
qualidade ou habilitação legal para a arte ou ofício. Ex.: do médico 
que provoca a morte de paciente por não observar as técnicas 
cirúrgicas. 
3. RESULTADO – a mera inobservância do dever de cuidado não basta para 
caracterizar o crime culposo. É necessária a ocorrência do resultado 
descrito na lei (e não desejado pelo agente). Assim, se alguém desrespeita 
um semáforo desfavorável, mas não atinge qualquer pessoa, não há crime, 
sem prejuízo, é lógico, que sobrevenha ao infrator a punição administrativa. 
4. PREVISIBILIDADE – é a possibilidade de conhecimento do perigo que sua 
conduta gera para os bens jurídicos alheios e também a possibilidade de 
prever o resultado, conforme as condições pessoais do agente. Assim, para 
a punição do autor de um crime culposo é necessário que se demonstre a 
existência da previsibilidade objetiva ou subjetiva. 
PREVISIBILIDADE OBJETIVA – é perspicácia comum, normal dos 
homens, de prever o resultado. Não ingerir substância tóxica ou alcóolica 
antes de dirigir veículo, para evitar consequências indesejadas, como 
lesões ou mortes; e, 
PREVESIBILIDADE SUBJETIVA – capacidade de o agente, no caso 
concreto, prever o resultado, em razão de condições a ele inerentes, que 
variam de acordo com vários fatores, como educação, inteligência, 
capacidade, sagacidade etc. Ex.: as habilidades adquiridas pelos estudos 
de um cirurgião. 
Espécies de culpa 
a. CULPA CONSCIENTE – o agente prevê o resultado, mas espera que ele 
não ocorra. Há previsão do resultado, mas ele supõe que poderá evita-lo 
com sua habilidade. O agente imagina sinceramente que poderá evitar o 
resultado. Difere do dolo eventual, porque neste o agente prevê o 
resultado, mas não se importa que ele ocorra. Para o agente que atua com 
dolo eventual, é indiferente que o resultado ocorra ou não. 
b. CULPA INCONSCIENTE – o agente não prevê, que, entretanto, eraobjetiva e subjetivamente previsível. 
c. CULPA PRÓPRIA – é aquela em que o sujeito não quer e não assume o 
risco de produzir o resultado. 
d. CULPA IMPRÓPRIA – também chamada de culpa por extensão, por 
assimilação, por equiparação. É aquela em que o agente supõe estar 
agindo acobertado por uma excludente de ilicitude (descriminante putativa) 
e, em razão disso, provoca intencionalmente um resultado ilícito. 
Graus de culpa 
A lei não faz expressa distinção a respeito do tema, que só tem relevância na 
aplicação da pena, pois, de acordo com o Art. 59 do CP, o juiz deve fixar a pena-base 
de acordo com as circunstâncias do crime, ao apurar a maior ou menor possibilidade de 
se prever o resultado culposo. 
 
 
Compensação de culpas 
Não existe compensação de culpas. Assim, se duas pessoas agem com 
imprudência, uma dando causa a lesões na outra, ambas respondem pelo crime, ou seja, 
uma conduta culposa não anula a outra. 
Além disso, se o agente e a vítima agem de forma culposa, a culpa da vítima não 
se compensa com a culpa do agente, que responde pelo crime. 
Fica afastada a incidência do crime culposo apenas quando a culpa é EXCLUSIVA 
DA VÍTIMA. 
Concorrência de culpas 
Há concorrência de culpas quando duas ou mais pessoas agem de forma culposa 
dando causa ao resultado, hipótese em que todas respondem pelo crime culposo. Ex.: A 
dirige na contramão e B com excesso de velocidade, dando causa a uma colisão, da qual 
decorre a morte de C. Nesse caso, A e B respondem pelo crime. 
Excepcionalidade do crime culposo 
A existência de um crime culposo depende de expressa previsão legal (Art. 18, 
parágrafo único). 
Coautoria e participação em crime culposo 
COAUTORIA – existe quando duas ou mais pessoas, conjuntamente, praticam a 
conduta descrita no tipo. 
PARTICIPAÇÃO – o agente não comete qualquer das condutas típicas (verbos 
descritos na lei), as se alguma outra forma concorre para o crime. 
Pode haver co-autoria em crimes culposos, pois nestes, tanto é possível a 
cooperação material quanto à cooperação psicológica, no caso da pluralidade de 
agentes, cada um destes, embora não querendo o evento final, tem consciência de 
cooperar na ação. 
Não existe diferença entre autores e partícipes nos crimes culposos, ou seja, toda 
classe de causação do resultado típico culposo é sinônimo de autoria. Por isso, quem 
instiga alguém a dirigir em excesso de velocidade não é partícipe, mas sim autor de uma 
imprudência. 
Crime preterdoloso 
É apenas uma das espécies dos chamados crimes qualificados pelo resultado. 
Estes últimos ocorrem quando o legislador. Após descrever uma figura típica 
fundamental, acrescenta-lhe um resultado, que tem por finalidade aumentar a pena. 
Os crimes qualificados pelo resultado podem ser observados nas seguintes formas: 
a. conduta dolosa e resultado agravador doloso. Ex.: durante um roubo, o 
ladravaz mata intencionalmente a vítima. Há roubo qualificado pela morte, 
também chamado latrocínio (Art. 157, § 3º); 
b. conduta culposa e resultado agravador doloso. Ex.: crime de lesões 
corporais culposas, cuja pena é aumentada de 1/3, se o agente, 
dolosamente, deixa de prestar socorro imediato à vítima (Art. 129, § 7º); 
c. conduta dolosa e resultado agravador culposo. Ex.: crime de lesão corporal 
seguida de morte, no qual o legislador descreve que a pena será maior 
quando o agente, ao agredir a vítima, provoca sua morte e, as 
circunstâncias indicam que o agente não quis e não assumiu o risco de 
produzi-la. APENAS NESSA HIPÓTESE OCORRE CRIME 
PRETERDOLOSO: DOLO NO ANTECEDENTE E CULPA NO 
CONSEQÜENTE; 
d. conduta culposa e resultado agravador culposo. Crime de incêndio culposo, 
qualificado pela morte culposa (Art. 25, § 2º, c/c Art. 258, 2ª parte). 
Os crimes preterdolosos não admitem a tentativa, pois, neles, o agente não quer o 
resultado, conforme estudado anteriormente. 
 
Fato Típico: Resultado. Consumação e 
Tentativa: Etapas do Crime; Delitos 
Instantâneos, Permanentes 
Resultado. Consumação e tentativa: etapas do crime; delitos instantâneos, 
permanentes, instantâneos de efeitos permanentes. Desistência voluntária, 
arrependimento eficaz e posterior. Crime impossível. 
RESULTADO – CRIMES CONSUMADOS E TENTADOS 
RESULTADO 
Não basta a conduta para que o crime exista, pois é exigido, o segundo elemento 
do fato típico, que é o resultado.Segundo o conceito clássico, é a modificação do mundo 
exterior provocado pelo comportamento humano voluntário. É a morte da vítima (no 
homicídio, a destruição, inutilização ou deterioração da coisa (no dano) etc). 
ART. 14, I – CRIME CONSUMADO 
CONCEITO – diz-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os 
elementos do tipo incriminador. Ex. no homicídio, o tipo penal é matar alguém e, assim, 
o crime se consuma no momento em que a vítima morre. 
“ITER CRIMINIS” 
São as fases que o agente percorre até chegar à consumação do delito: 
1ª fase – COGITAÇÃO – o agente apenas está pensando em cometer o crime. 
2ª fase – PREPARAÇÃO – esta fase compreende a prática de todos os atos 
necessários ao início da execução. Ex.: alugar uma casa, onde será mantida em cativeiro 
a vítima, no crime de extorsão mediante sequestro. 
3ª fase – EXECUÇÃO – começa aqui a agressão ao bem jurídico. Inicia-se a efetiva 
lesão ao bem tutelado pela lei. O agente começa a realizar a conduta descrita no tipo (o 
verbo descrito na lei). Ex.: o agente arrebata a vítima, com a intensão de pedir o resgate. 
Há grande importância em se descobrir o momento em que é iniciada a execução. 
Pois é a partir daí que o fato passa a ser punível. 
Iniciada a execução: 
a. o agente pode não conseguir consuma-la por circunstâncias alheias a sua 
vontade, hipótese em que o crime estará sendo tentado; 
b. o agente pode desistir voluntariamente de prosseguir no ato de execução, 
hipótese em que só responderá pelos atos já praticados (desistência 
voluntária); e, 
c. o agente pode chegar à consumação. 
4ª fase – CONSUMAÇÃO – quando todos os elementos (objetivos, subjetivos e 
normativos) do tipo são realizados. Ex. O agente pede o resgate, visando a obtenção da 
vantagem patrimonial ilícita. 
Apenas para completar, é pertinente destacar que o recebimento do resgate no 
crime de extorsão mediante sequestro, tomado como referência, promove o exaurimento 
do crime, não sendo necessário o recebimento da vantagem para consumação do crime. 
Embora não se tenha ainda visto com detalhes a classificação dos crimes, tema 
que se abordará na última etapa do estudo da Parte Geral I deste curso, é relevante 
conhecer o momento de consumação de três espécies de crimes, que se verificam em 
condições e ocasiões que não se confundem. 
Tratam-se dos crimes instantâneos, permanentes e instantâneos de efeitos 
permanentes, assim considerados: 
Crime Instantâneo: A consumação desse tipo ocorre em um único momento. A 
conduta tem uma duração instantânea. Não importa o que ocorre depois com o objeto 
do crime, apenas a conduta, o ato; uma vez consumado, caracteriza-se como crime 
instantâneo. 
Ex.: furto, omissão de socorro (art. 135, CP), peculato (art. 312, CP), usura (art. 4º, 
“a”, da Lei 1.521/51), reingresso de estrangeiro expulso (art. 338, CP). 
Crime instantâneo de efeito permanente: Ex.: estelionato contra a previdência 
social (art. 171, CP): falsifica um documento (conduta instantânea), mas permanece 
recebendo os valores da previdência ao longo do tempo (efeito permanente). 
- Não confundir com: 
Crime Permanente: É o crime cuja conduta única se protrai no tempo de acordo 
com a vontade do agente. Enquanto não cessar, o crime se renova no tempo. Tanto o 
momento inicial, intermediário ou final do crime é considerado a mesma conduta, razãopela qual, é possível efetuar a prisão em flagrante, ainda que o agente não seja pilhado 
no momento da execução ou da consumação. 
Ex.: seqüestro e cárcere privado (art. 148, CP), redução à condição análoga de 
escravo (art. 149, CP). 
A diferenciação desses dois últimos tipos é importante para efeitos de prescrição, 
de competência. 
Ex.: no Supremo o crime de estelionato contra a previdência social é considerado 
instantâneo de efeito permanente, então, para efeitos de prescrição, é aplicado o art. 
111, inciso I, do CP, e não o inciso III: 
Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: 
I - do dia em que o crime se consumou; 
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa; 
III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência; 
IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, 
da data em que o fato se tornou conhecido. 
ART. 14, II – TENTATIVA 
CONCEITO – considera-se tentado o crime quando o agente inicia a execução, 
mas não consegue consumá-lo por circunstâncias alheias à sua vontade. 
Trata-se de norma de extensão cuja finalidade é propiciar a punição do autor da 
tentativa através de uma adequação típica mediata. 
Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a mesma pena do crime 
consumado, reduzida de 1/3 a 2/3. O critério que o juiz deve utilizar em relação ao 
“quantum” da diminuição da pena é a maior ou menor proximidade da consumação. 
De maneira excepcional, há crimes em que o legislador equipara o crime tentado 
ao consumado, punindo-o com a mesma pena. É o que ocorre, por exemplo, no crime 
do art. 352 do Código Penal. N’outros, o legislador não pune a tentativa, como nos casos 
de crime impossível (art. 17 do Código Penal, que será objeto de estudo nos próximos 
parágrafos). 
CLASSIFICAÇÃO DA TENTATIVA 
I. Quanto ao percurso do “iter criminis”: 
a. Tentativa IMPERFEITA (ou inacabada) – quando o agente não 
pratica todos os atos executórios; 
b. Tentativa PERFEITA (crime falho) – quando o agente pratica 
todos os atos executórios e, mesmo assim, não consegue 
consumar o crime; 
II. Quanto ao resultado produzido na vítima: 
a. Tentativa BRANCA – quando o golpe desferido não atinge o corpo 
da vítima; 
b. Tentativa CRUENTA – quando a vítima é atingida. 
III. Quanto à possibilidade de alcançar a consumação: 
a. Tentativa IDÔNEA – é aquela em que o sujeito pode alcançar a 
consumação, mas não consegue faze-lo por circunstâncias 
alheias à sua vontade. É a tentativa propriamente dita (o 
“conatus”); 
b. Tentativa INIDÔNEA – sinônimo de crime impossível (art. 17), 
ocorre quando o agente inicia a execução, mas a consumação do 
delito era impossível por absoluta ineficácia do meio empregado 
ou por absoluta impropriedade do objeto material. 
CRIMES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA 
a. CRIMES CULPOSOS – no crime tentado o agente quer o resultado, mas 
não consegue atingi-lo. Nos crimes culposos o criminoso não quer o 
resultado. Por esse motivo os institutos são incompatíveis; 
b. CRIMES PRETERDOLOSOS – porque o agente também não quer dar 
causa ao resultado agravador, sendo incompatível imaginar a possibilidade 
da tentativa de algo que não se deseja (como tentar aquilo que não se 
quer?); 
c. CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS – se o sujeito se omite, o crime está 
consumado, se age, o fato é atípico, inexistindo espaço para a tentativa; 
d. CONTRAVENÇÕES PENAIS – por expressa determinação legal (art. 4º da 
Lei de Contravenções), ato soberano e imperativo do legislador; 
e. CRIMES DE ATENTADO - por opção do legislador, o tipo penal pune 
igualmente a forma consumada e a tentada, não se podendo, portanto, se 
cogitar de tentativa de tentativa; 
f. CRIMES HABITUAIS – se houver reiteração de condutas, o crime está 
consumado, e se não houver, o fato será atípico, inexistindo espaço para a 
tentativa; 
g. CRIMES UNISSUBSISTENTES – consumam-se com um único ato. Uma 
vez praticado o ato, o crime estara consumado. Não sendo praticado o ato, 
inexiste crime. Ex.: injúria verbal (art. 140); 
h. Crimes nos quais o tipo penal só prevê aplicação de pena quando ocorre o 
resultado, como por exemplo, nos casos de rixa. 
ART. 15, 1ª PARTE – DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA. 
O artigo 15 do Código Penal cogita das hipóteses em que o agente desiste 
voluntariamente de prosseguir no “iter criminis”, impedindo que o fato se consume. 
Somente é possível na tentativa imperfeita. Não havendo percorrido, ainda, toda a 
trajetória do delito, iniciados os atos de execução, o agente detem-se, voluntariamente. 
Ex.: o agente ministra veneno na bebida da vítima, arrependendo-se depois e impede a 
ingestão da bebida contaminada. 
ART. 15, 2ª PARTE – ARREPENDIMENTO EFICAZ. 
Ocorre somente na tentativa imperfeita, o agente esgota todos os meios, ao seu 
alcance, para a prática do crime. O agente pratica todos os atos de execução. Arrepende-
se, porém, e evita, COM SUCESSO, a consumação. Ex.: agente que ministra veneno na 
bebida da vítima e a induz a ingeri-la. Após a ingestão da bebida envenenada pela vítima, 
o agente se arrepende, socorrendo-a ao hospital, salvando-lhe a vida. 
A lei subordina o reconhecimento e a aplicação do instituto em benefício da vítima 
à eficácia da providência. Se, por qualquer motivo, embora arrependido, o agente não 
conseguiu evitar a consumação do delito, será punido pelo crime consumado. 
A responsabilidade, entretanto, perdura mesmo que outra causa concorra para o 
resultado final. Ex.: se a vítima, envenenada, se negar a tomar o antídoto e morrer, estará 
consumado o delito, pelo qual responderá o agente. 
Do mesmo modo, se a vítima tomar o antídoto e, mesmo assim, morrer, o agente 
responderá pelo crime. 
ART. 16 – ARREPENDIMENTO POSTERIOR. 
É figura nova no nosso ordenamento jurídico, e vem tratado no artigo 16 do Código 
Penal. Nele, o agente já consumou o delito, restando-lhe, agora, a reparação do dano ou 
a restituição da coisa, tudo isso, se possível. 
Ocorre o arrependimento eficaz quando o agente já esgotou os atos de execução, 
mas ainda não atingiu a consumação, em razão de um ato em sentido reversivo, 
praticado voluntariamente. O arrependimento posterior dá-se quando, já consumado o 
crime, o agente, por vontade própria, repara o dano ou restitui a coisa. 
A lei restringe a aplicação do instituto aos crimes cometidos sem violência ou grave 
ameaça à pessoa, não cabendo, por exemplo, ao crime de homicídio, de lesão corporal, 
de estupro etc. 
ART. 17 – CRIME IMPOSSÍVEL. 
O ordenamento jurídico penal brasileiro não pune a tentativa, quando há ineficácia 
ABSOLUTO de meio ou impropriedade ABSOLUTA do objeto. 
Exemplo de INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO verifica-se quando alguém, 
querendo envenenar seu inimigo, ministra açúcar misturado à bebida, pensando tratar-
se de veneno. 
De IMPROPRIEDADE ABSOLUTA DO OBJETO, ocorre, por exemplo, se a mulher, 
de maneira equivocada, julgando-se grávida, ingere medicamento que possua 
propriedades abortivas, para provocar a eliminação da vida endouterina, que na verda 
ainda não se formou. 
No crime impossível existe a exclusão da própria tipicidade. 
O nosso Código Penal adotou a Teoria Objetiva Temperada com relação à 
punibilidade do crime impossível. Uma vez que, ausentes os elementos objetivos da 
tentativa, não corre risco o bem jurídico, justificando assim a não imposição de pena. 
Por esta teoria, só há crime impossível se a ineficácia do meio e a impropriedade 
do objeto forem ABSOLUTAS. Por isso, se forem relativas haverá crime tentado, como, 
por exemplo, se o agente tentar matar alguém com revólver e projéteis verdadeiros que, 
entretanto, não detonam por estarem velhos. Aqui a ineficácia do meio é RELATIVA,acidental e existe tentativa de homicídio, passível de punição. 
Na teoria do direito penal mundial existem outras teorias relacionadas ao crime 
impossível que, apesar de parecerem mais justas, NÃO foram adotadas pela nossa lei. 
São elas a teoria SINTOMÁTICA, pela qual o agente deve ser responsabilizado por ter 
demonstrado periculosidade, e a teoria SUBJETIVA, na qual o agente deve ser punido 
por ter demonstrado vontade de cometer o crime. 
 
Fato Típico: A Relação de Causalidade. A 
Causalidade Factual dos Delitos Comissivos e a 
Causalidade 
Relação de causalidade 
Para haver fato típico é ainda necessário que exista relação de causalidade entre 
a conduta e o resultado. 
O conceito de causa não é jurídico, mas da natureza; é a conexão, a ligação que 
existe numa sucessão de acontecimentos que pode ser entendida pelo homem. Causar, 
como ensinam os léxicos, é motivar, originar, produzir fenômeno natural que independe 
de definição. 
Não se elimina a relação de causalidade pela existência de uma concausa 
(preexistente, concomitante ou superveniente). A concausa é outra causa, que, ligada à 
primeira, concorre para o resultado. 
Todavia, a causa superveniente, aquela que se verifica depois de alcançado o 
resultado, não pode a ele ser vinculada. 
A simples dúvida a respeito da existência do nexo de causalidade impede a 
responsabilização do agente pelo resultado. 
Teoria da “Conditio sine qua non” 
O Código Penal Brasileiro, em seu artigo 13, prevê que "considera-se causa a ação 
ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido". Nesses termos, o Direito Brasileiro 
define aquilo que será considerado causa para fins de imputação de responsabilidade 
ao agente. 
Em virtude do exposto em tal artigo, a maioria da doutrina brasileira entende que o 
ordenamento jurídico brasileiro agasalhou a Teoria da Conditio Sine Qua Non, também 
chamada de teoria da equivalência das causas. Essa teoria estabelece que todas as 
condutas que de qualquer forma contribuírem para a ocorrência de um determinado 
resultado são causas dele. De fato, a opção do legislador brasileiro em muito se 
assemelha ao conteúdo exposto por essa teoria. 
Estabelecido o que é causa para o Direito Brasileiro, nos termos da lei, a Teoria da 
Equivalência das Causas também construiu uma forma de identificar essas causas. A 
essa forma deu-se o nome de juízo hipotético de eliminação, e funciona da seguinte 
maneira. Vamos supor que um cidadão, XAVIER, praticou uma determinada conduta, 
sendo que também foi produzido no mundo material um resultado. Para se saber se a 
conduta de XAVIER é a causa do resultado, deve-se, mentalmente, eliminar a conduta 
perpetrada por XAVIER. Imaginar que aquele comportamento não existiu. Se a partir da 
eliminação de sua conduta o resultado continuasse a existir, então o comportamento de 
XAVIER não teria sido causa do resultado. Por outro lado, se o resultado deixasse de 
existir da forma como ocorreu, após eliminação hipotética da conduta de XAVIER, então 
ter-se-ia que esse comportamento era sim causa do resultado. 
Limitações à Teoria da “conditio sine qua non” 
O juízo hipotético de eliminação é um raciocínio simples que auxilia e muito a 
entender se um comportamento é ou não causa de um evento. Porém, esse raciocínio 
necessita de uma complementação. Caso contrário, seriam produzidos alguns absurdos, 
permitindo-nos afirmar que o vendedor da loja de armas, que vendeu o revólver ao 
pistoleiro, também teria dado causa ao evento, pois se a arma não tivesse sido vendida 
não teriam sido efetuados os dispartos. E mais: o dono da fábrica que produz as armas 
seria também responsabilizado, pois sua conduta, ainda que remotamente, foi causa da 
morte da vítima dos disparos. 
Assim, o juízo hipotético, entendido de forma absoluta, levaria a uma relação de 
causalidade infinita. Para evitar esses absurdos, existem duas limitações à Teoria da 
Conditio Sine Qua Non: 
- Dolo e culpa - A primeira limitação à Teoria em questão é o elemento subjetivo do 
tipo penal: o dolo ou a culpa. O dolo é a consciência e vontade do agente de produzir um 
determinado resultado. A culpa, por sua vez, se configura quando o agente age sem 
observar o dever de cuidado objetivo necessário. O agente é imprudente, negligente ou 
imperito e, apesar de não desejar o resultado diretamente, acaba o causando em razão 
de um descuido. Tanto o dolo quanto a culpa, para se configurarem, exigem que o 
resultado típico seja previsível. 
Se voltarmos ao nosso exemplo, tem-se que o vendedor da loja de armas não tinha 
como prever que aquele pistoleiro viria a matar a sogra de Venceslau. Por isso, estaria 
excluída a imputação, sendo que sua conduta não pode ser considerada causa do 
resultado. 
- Concausalidade - A concausalidade é o estudo daquelas situações em que 
existem várias condutas sendo analisadas e envolvendo a ocorrência de um determinado 
resultado típico. O que se busca nessas situações é saber quais as condutas serão 
efetivamente consideradas como causa do resultado, e a que título será responsabilizado 
o agente. Divide-se a concausalidade em absolutamente independentes ou 
relativamente independentes. 
Causas Absolutamente Independentes 
As causas absolutamente independentes são aquelas que por si só produzem o 
resultado típico. Essas causas podem ser preexistentes, concomitantes ou 
supervenientes em relação às demais causas. 
a. Causas absolutamente independentes preexistentes: CORNÉLIO chega 
em sua casa e encontra sua esposa o traindo junto a RICARDO. 
Revoltado, saca a arma e atira para matar contra o amásio de sua esposa, 
que vem a falecer já no hospital. Contudo, o laudo dos peritos constata que 
a morte de RICARDO ocorreu em virtude de envenenamento, e não em 
decorrência dos desparos. A polícia então descobre que a esposa de 
RICARDO, AMÉLIA, descobriu que vinha sendo traída e envenenou o suco 
de seu marido no café da manhã, tendo sido esse veneno a causa da 
morte. 
Em virtude disso, pode-se concluir que o envenenamento, verdadeira razão da 
morte, é uma causa absolutamente independente preexistente em relação ao tiro. Por 
isso, CORNÉLIO responderá apenas por tentativa de homicídio. 
b. Causas Absolutamente Independentes Concomitantes: O exemplo 
usualmente fornecido pela doutrina é o do cidadão que, ao mesmo tempo 
em que recebe uma facada no coração, é acometido de um aneurisma 
cerebral, tendo a morte decorrido exclusivamente do aneurisma. Nesse 
caso, o aneurisma é causa absolutamente independente concomitante à 
facada, pelo que o autor das punhaladas responderá apenas por tentativa 
de homicídido, se atacou com o dolo de matar. Repare que a aneurisma iria 
acometer a vítima naquele momento, ainda que estivesse ela na praia, no 
ônibus ou recebendo aquela facada. 
c. Causas Absolutamente Independentes Supervenientes: Voltando ao 
primeiro exemplo, envolvendo o marido traído, CORNÉLIO. Suponhamos 
que ele tenha conseguido matar RICARDO, o amante de sua mulher, por 
meio dos disparos de sua arma. Nesse caso, o envenenamento não seria 
mais a causa da morte de RICARDO. Por isso, os tiros passariam a ser 
uma causa absolutamente independente superveniente em relação ao 
envenenamento. AMÉLIA, a esposa de RICARDO responderia apenas por 
tentativa de homicídio. 
Causas Relativamente Independentes 
As causas relativamente independentes se configuram quando há uma soma de 
esforços entre duas causas que conduz a um determinado resultado. Nesses casos, se 
retirada hipoteticamente uma das causas, o resultado não ocorreria. Em virtude disso, 
diz-se que o agente dá causa ao resultado, e responde, em regra, pelo crime consumado. 
Também podem ser preexistentes, concomitantes ou supervenientes,a. Causas Relativamente Independentes Preexistentes: PÂMELA, sabendo 
que ONOFRE é hemofílico, lhe desfere uma facada na perna. Esse 
ferimento, que não teria o condão de provocar a morte em uma pessoa 
normal, mas acaba por causar a morte de ONOFRE em virtude da perda de 
sangue. Nesse caso, as duas causas se somam para produzir o resultado 
morte, sendo que PÂMELA responderá por homicídio consumado se tinha 
o dolo de matar. 
b. Causas Relativamente Independentes Concomitantes: CLODOALDO 
decide matar a sua avó, uma senhora de 100 anos que sofria com 
problemas de coração. Ao abordar a senhora com uma faca nas mãos, 
essa última é acometida de um infarto fulminante e morre. Considerando 
que CLODOALDO sabia da condição de sua avó, tem-se que o mesmo deu 
causa à sua morte, respondendo por crime consumado. Caso não conhece 
das condições da vítima, não. 
c. Causas Relativamente Independentes Supervenientes: 
c.1) Processo Causal Natural: VASCO recebe um tiro de MENGO. Chegando ao 
hospital, a vítima é atendida e colocada na UTI. Porém, acaba falecendo em virtude de 
uma infecção hospitalar. Ora, o ambiente hospitalar está repleto de agentes químicos e 
biológicos que ficam constantemente em suspensão no ar. Logo, existe um risco próprio, 
inerente à própria atividade hospitalar, que envolve a possibilidade de ser desenvolvida 
uma infecção hospitalar. Pode-se considerar, portanto, que a infecção hospitalar é uma 
conseqüência natural do processo causal de uma pessoa que recebe um tiro e é 
encaminhada para tratamento. Por isso, apesar de a causa infecção hospitalar concorrer 
para o resultado morte, essa concausalidade é apenas relativa. Em virtude disso, 
MENGO responderá por homicídio consumado. 
c.2) Novo Processo Causal - artigo 13, §2° do Código Penal: VASCO recebe um 
tiro de MENGO. Assim como no exemplo anterior, VASCO chega ao hospital e é 
colocado na UTI. Entretanto, algumas obras que vinham sendo realizadas em lugar 
próximo ao prédio do hospital acabam por afetar a sua estrutura. Em decorrência disso, 
o teto do hospital acaba por desabar sobre a cabeça de VASCO, que vem a falecer. Ora, 
o desabamento do teto do hospital não constitui um desdobramento causal natural do 
processo em que uma pessoa recebe um tiro e é encaminhada para atendimento. Por 
isso, pode-se afirmar que o desabamento do teto, por si só, causou o resultado. Abriu-
se um novo processo causal, que por si só levou ao resultado morte. 
Em virtude disso, o artigo 13, 2° do CP determina que, tendo a causa relativamente 
independente produzido o resultado por si só o agente responderá apenas pelos atos 
praticados. Logo, MENGO responderá apenas por tentativa. 
A relevância penal da omissão 
Apesar de, em geral, os crimes serem comissivos, existem os crimes omissivos, 
casos em que o deixar de agir humano gera responsabilidade penal. 
Assim como os crimes comissivos requerem o nexo de causalidade entre a ação e 
o resultado para se caracterizarem, os crimes omissivos exigem o chamado “nexo de 
não impedimento”, ou seja, inicialmente, para que uma omissão tenha relevância penal, 
é preciso que aquele que se omitiu, caso não o tivesse feito, pudesse ter evitado o 
resultado. 
Além do “nexo de não impedimento”, há outros requisitos necessários para a 
caracterização da responsabilidade penal por omissão. Estes requisitos são inferidos do 
texto do art. 13, §2º, do Código Penal, que afirma que “a omissão é penalmente relevante 
quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado”. 
Deste dispositivo legal se depreendem, então, os três requisitos para a relevância 
da omissão: O poder de agir (entendido enquanto possibilidade física de atuar por parte 
do omitente), a evitabilidade do resultado e o dever de agir. 
 
Fato Típico IV: Tipicidade / Definição Construção 
Legislativa do Tipo Penal / Tipos Abertos e 
Fechados 
Elementos Descritivos e Normativos Jurídicos e Culturais. 
Tipicidade 
É a correspondência exata, a adequação perfeita entre o fato natural, concreto, e 
a descrição contida na lei. Como o tipo penal é composto não só de elementos objetivos, 
mas também de elementos normativos e subjetivos, é indispensável para a existência da 
tipicidade que não só o fato, objetivamente considerado, mas também a sua 
antijuridicidade e os elementos subjetivos se subsumam a ele. Há tipicidade no homicídio 
(Art. 121) se o agente pratica a conduta de “matar alguém” (elementos objetivos), mas 
só há violação de segredo profissional (Art. 154), se a revelação ocorrer “sem justa 
causa” (elemento normativo), e somente haverá rapto (Arts. 219 a 222), se o 
arrebatamento da mulher for praticado “para fim libidinoso” (elemento subjetivo). Só 
existe fato típico quando o fato natural estiver também preenchido pelo tipo subjetivo. 
A doutrina penal clássica sempre concebeu a tipicidade como categoria do crime 
(a primeira, aliás), porém, dando-lhe enfoque preponderantemente formal. A tipicidade 
penal, antes do advento da moderna teoria da imputação objetiva (1970, Roxin), possuía 
duas dimensões: objetiva (ou formal) e subjetiva. Vejamos: 
a. Para a doutrina causalista clássica o fato típico requeria: 1. conduta 
voluntária (neutra: sem dolo ou culpa); 2. resultado naturalístico (nos crimes 
materiais); 3. nexo de causalidade (entre a conduta e o resultado); 4. 
relação de tipicidade (adequação do fato à letra da lei). O tipo penal, como 
se vê, de acordo com a corrente causalista, conta com apenas uma 
dimensão: a objetiva (ou formal). Dolo ou culpa, nesse tempo, pertenciam à 
culpabilidade (eram as formas da culpabilidade). 
b. Para a doutrina finalista de Welzel o fato típico requeria: 1. conduta dolosa 
ou culposa (dolo e culpa passam a fazer parte da conduta); 2. resultado 
naturalístico (nos crimes materiais); 3. nexo de causalidade (entre a 
conduta e o resultado); 4. adequação do fato à letra da lei (relação de 
tipicidade). O tipo penal, a partir do finalismo, passa a contar com duas 
dimensões: a objetiva (ou formal) e a subjetiva (esta última integrada pelo 
dolo ou pela culpa). 
A maior crítica que se pode formular contra essas duas concepções do fato típico 
consiste no seu (exagerado) formalismo. O juízo de tipicidade penal contentava-se com 
a mera subsunção do fato à letra da lei. Confundia-se tipicidade legal com tipicidade 
penal. Tanto o causalismo como o finalismo não conseguiu superar o positivismo jurídico 
formalista (de Binding e de Rocco). Ignoraram (quase que) por completo o bem jurídico 
protegido, assim como sua dimensão ofensiva. A questão da imputação do resultado à 
conduta foi cuidada pelo finalismo de forma muito vaga. Confundiam violação da norma 
primária imperativa com violação da norma primária valorativa. Aliás, abandonaram 
quase que inteiramente esse último aspecto da norma penal. Nem cuidaram da 
necessária ofensa ao bem jurídico nem tampouco da imputação objetiva desse resultado 
ao seu agente. Centralizaram suas atenções na causação. Pouca relevância deram para 
a imputação (ou atribuição) do fato ao seu agente (como obra dele). 
Moderna teoria da imputação objetiva (Roxin) e tipicidade penal: a tipicidade penal, 
a partir da moderna teoria da imputação objetiva de Roxin (1970), foi enriquecida por 
uma nova exigência consistente na atribuição do fato ao seu agente (como obra dele). 
Dois, basicamente, são os pressupostos (ou requisitos) da imputação objetiva: 1) criação 
ou incremento de um risco proibido relevante (que exige um juízo de desaprovação da 
conduta); 2) que o resultado seja objetivamente imputável ao risco criado (e que esteja 
no âmbito de proteção da norma). O tipo penal, nos crimes dolosos, depois do advento 
da moderna teoria da imputação objetiva, passou a contar com três dimensões: 1ª) 
objetiva

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