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Responsabilidade da pessoa jurídica

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Responsabilidade da pessoa jurídica 
 
I – Introdução 
A responsabilização penal das pessoas jurídicas constitui tema relativamente novo no âmbito jurídico, sobre o qual                               
ainda se faz necessária reflexão em diversos pontos, bem como assentamento doutrinário e jurisprudencial. 
Nesta pesquisa adentraremos ao tema de forma a determinar a sua aplicabilidade e importância ao mundo atual,                                 
bem como tentar elucidar as questões que permanecem obscuras, principalmente sobre a aplicabilidade das sanções                             
penais às pessoas jurídicas, fato que é bastante controvertido ainda em todo o universo Jurídico mundial. 
Fato notório é o aumento significativo dos escândalos envolvendo grande empresas internacionais e nacionais, que                             
as vezes geram danos irreparáveis à toda a Sociedade, seja pelo grande desfalque resultante nos erários dos                                 
Estados, seja pela quebra com a consequente demissão de milhares de funcionários, seja pela profundo abalo de                                 
confiança que é gerado em relação aos clientes da marca envolvida. Tais danos devem ser punidos com sanções                                   
penais? Como deve ser tal punição? Os responsáveis também devem responder? 
São questões como essas que precisam ser elucidadas a fim de que se possa verificar a possibilidade de aplicação                                     
das regras de responsabilização penal existentes. 
II – Evolução Histórica do Tema 
A separação entre pessoas físicas e pessoas jurídicas que existem nas ordenações de todos os países não existiram                                   
desde sempre na Sociedade. 
Pode­se dizer que um arremedo da conceituação atual de pessoa Jurídica existia no Direito Romano, onde apesar de                                   
não existir a figura da pessoa jurídica moderna, existiam as denominadas corporações ou​universitas​, que possuíam                               
direitos diferentes dos direitos conferidos aos seus membros – denominados ​singuli. 
Sua existência pode ser verificada nos ensinamentos de Ulpiano. Segundo este, naquela época, podia ser exercida a                                 
acusação contra o município, que tinha o status de corporação mais importante. A título de exemplo tem­se o fato de                                       
que quando o funcionário do município fizesse cobranças indevidas, enganando contribuintes e com isso                           
locupletando­se, era possível ​a actio de dolus malus ​(tipo de acusação) contra o município. Uma vez comprovada a                                   
responsabilidade do agente público, então denominados os moradores lesados da cidade seriam indenizados. 
Mas o primeiro registro de uma responsabilidade em âmbito penal das pessoas jurídicas surge efetivamente na Idade                                 
Média com os glosadores. 
Para eles a figura das corporações eram comuns no cotidiano e possuíam regras bem delimitadas sobre sua                                 
existência. Entendia­se a corporação como ​a soma e a unidade de membros titulares de direitos​[1]​. 
Dessa forma, se a totalidade dos seus membros iniciasse uma ação penal relevante, através de uma decisão uma, a                                     
corporação poderia responder penalmente pelo ato. 
Esta situação apenas se altera à partir dos estudos dos canonistas, ainda na idade média. Estes, utilizando­se da                                   
religião para explicar o direito, atribuía à Deus a sua propriedade e não aos seus membros. Dessa conceituação,                                   
ocorre a separação entre a pessoa física e a ficção da pessoa jurídica, qualificada como “um ser sem alma”, e, dessa                                         
forma, impossível seria a sua condenação em âmbito penal. 
Com o surgimento do Iluminismo houve mudanças significativas no entendimento do Direito, principalmente no que                             
tange a separação deste com a religião. Mas os novos ares de liberdade e autodeterminação terminaram por apagar                                   
de vez qualquer chance de estudos mais aprofundados sobre as consequências penais às pessoas jurídicas, uma                               
vez que o homem enquanto ser individual passou ao centro das atenções. 
As acepções de pessoa jurídica só seriam abordadas enfaticamente à partir das publicações dos estudos de                               
Savigny. 
III – Teoria da Realidade x Teoria da Ficção 
O debate atual da responsabilidade penal das pessoas jurídicas se funda na discussão doutrinária sobre a teoria que                                   
melhor regula a natureza das pessoas Jurídicas: Teoria da Ficção de Savigny ou a Teoria da Realidade, encabeçada                                   
por Otto Gierke. 
A teoria da ficção, de autoria de Savigny, afirma que: ​“as pessoas jurídicas têm existência fictícia, irreal ou de pura                                       
abstração – devido a um privilégio da autoridade soberana – sendo, portanto, incapazes de delinquir (carecem de                                 
vontade e de ação).​[2]​” 
Se não há soberania para os atos de determinada pessoa jurídica, como há de se puni­la, uma vez que incapaz é de                                           
realizar a conduta descrita na norma? Como determinar se agiu como dolo ou culpa? Para a melhor doutrina desta                                     
vertente não há como se fazer estas determinações. 
Encontramos no direito pátrio como profundo defensor desta teoria o Professor Damásio de Jesus. ​In verbis: 
“[...] a personalidade natural não é uma criação do direito, sendo que este a recebe das mãos da natureza, já                                       
formada, e limita­se a reconhecê­la. A personalidade jurídica, ao contrário, somente existe por determinação de lei                               
e dentro dos limites por esta fixada. Faltam­lhe os requisitos psíquicos da imputabilidade. Não tem consciência e                                 
vontade própria. É uma ficção legal.”​[3] 
A partir dos estudos da natureza da pessoa jurídica realizados por Savigny, o mundo jurídico passou a negar a                                     
possibilidade de existência de um delito corporativo e, ao impor a concepção romanista, excluiu por todo um século o                                     
problema. 
Somente à partir do surgimento da escola realista é que a teoria da ficção passou a ser melhor criticada. 
Defendia Otto Gierke que a pessoa jurídica não era um ser meramente ficcional, mas sim um ser real, titular de                                       
direitos e possuidor de obrigações. Sua realidade permite portanto que o “tráfego” entre todas as searas do direito.                                   
Inclusive no âmbito penal. Otto Gierke defendia que: ​“Do mesmo modo que uma pessoa física, atua como o                                   
indivíduo, ainda que mediante procedimentos diferentes e pode, por conseguinte, atuar mal, delinqüir e ser                             
punida.”​[4] 
Este posicionamento encontra muitos defensores no que tange a melhor doutrina pátria. Senão vejamos a crítica à                                 
teoria da ficção feita por Washington de Barros Monteiro: 
“Ela não cuidou de explicar de maneira alguma a existência do Estado como pessoa jurídica. Quem foi o criador                                     
do Estado? Uma vez que ele não se identifica com as pessoas físicas, deverá ser havido igualmente como ficção?                                     
Nesse caso, o próprio direito será também outra ficção, porque emanado do Estado. Ficção será, portanto, tudo                                 
quanto se encontra na esfera jurídicainclusive a própria teoria da pessoa jurídica.”​[5] 
No mesmo sentido: 
“A pessoa jurídica nada mais é do que um ente inicialmente moldado à semelhança das pessoas naturais, e que                                     
progressivamente foi se apartando da formulação das pessoas naturais para compor uma realidade técnica,                           
dotada de uma certa vida jurídica própria, no intuito de contribuir, do ponto de vista das relações jurídicas, para o                                       
trânsito de bens, coisas e interesses.”​[6] 
A partir do acolhimento desta vertente, entendemos que a pessoa jurídica é um ente real, com vontade própria e                                     
distinta das dos seus membros, tendo, por consequência, capacidade para delinquir. Sendo, por isso, plenamente                             
capaz de responder penalmente por seus atos. 
IV – Aplicação das Punições às Pessoas Jurídicas e Cometimento dos Atos 
Elucidada a questão sobre a possibilidade da punição das pessoas jurídicas em âmbito penal, resta esclarecer como                                 
se dá a aplicação das punições. 
Apesar de ser um ente real, juridicamente reconhecido, com plenitude de Direitos e obrigações, obviamente a pessoa                                 
jurídica não possui um corpo físico, não podendo, desta forma, ser alvo de penas restritivas de liberdade. 
Mas, conforme pode se depreender a partir da leitura do ​código penal​, as penas restritivas de liberdade são apenas                                     
um dos modos de punição previstos. 
Dessa forma, existem outros meios previstos pela legislação penal pátria para punir a empresa que comete um ilícito:                                   
multa, interdições, reparação do dano, penas alternativas, etc. 
Não obstante a punição aplicada, deve­se verificar como se deu o cometimento do ilícito, identificando­se sempre os                                 
seus causadores. 
Pela ausência de corpo físico próprio, a pessoa jurídica não pode causar o ilícito​de per se,​devendo sempre ocorrer                                       
a atuação paralela de conduta ilícita de pessoas físicas que exercem cargo de poder na pessoa jurídica. 
Somente será possível, portanto, o cometimento do ilícito, caso exista um esforço conjunto de demais pessoas                               
físicas que, participem diretamente e de forma contínua do cotidiano da empresa, e estejam consubstanciadas para a                                 
prática do delito. O delito, obviamente, deve possuir alguma relação com o objeto social da empresa, uma vez que                                     
para que ocorra a sua imputação, faz­se ​mister ​a existência de um benefício. 
Deve­se a pessoa física valer da estrutura da Pessoa Jurídica para o cometimento. Nas palavras de Sérgio Salomão                                   
Sheicara: 
“É o poder, que se oculta por detrás da pessoa jurídica, e a concentração de forças econômicas do agrupamento                                     
que nos permitem dizer que tais infrações tenham uma robustez e força orgânica impensáveis em uma pessoa                                 
física.”​[7] 
VI – Posicionamento atual da Jurisprudência Pátria 
Em 19 de Agosto de 2008, foi julgado pelo STF o Habeas Corpus 92.921­4/BA impetrado em favor de Curtume                                     
Campelo S/A e seus diretores em face de decisão proferida pela 5º Turma do Superior Tribunal de Justiça. 
O Ministro Relator Ricardo Lewandosky, foi favorável à concessão de ordem de Habeas Corpus em favor da                                 
Pessoa Jurídica afirmando que “o nosso sistema penal ainda não está plenamente aparelhado para reconhecer a                               
responsabilidade penal da pessoa jurídica”. 
Entretanto, o voto do Ministro Relator restou vencido, tendo em vista que os Ministros Marco Aurélio de Mello,                                   
Carmen Lúcia, Menezes Direito e Carlos Ayres Brito decidiram por excluir a Pessoa Jurídica do Habeas Corpus. 
Para o Ministro Marco Aurélio de Melo, a simples imputação em processo­crime não importa necessariamente no                               
direito de obter ordem de Habeas Corpus, portanto, não cabe impetrar HC em favor de Pessoa Jurídica, ainda que                                     
seus dirigentes sejam reflexamente ofendidos. 
Deste modo, é possível verificar que no ano de 2008 o Supremo Tribunal Federal entendia por não conceder                                   
ordem de Habeas Corpus a Pessoa Jurídica, afirmando que este remédio constitucional é incompatível com as                               
Pessoas Jurídicas, pois estas não podem sofrer cerceamento à liberdade de locomoção. 
Em 2011, a Primeira Turma do STF, no Agravo Regimento no Recurso Extraordinário 628.582/RS, o Ministro                               
Relator Dias Toffoli, analisando se havia ou não ofensa ao artigo ​225​, ​§ 3 da ​Constituição Federal​, o qual dispõe                                       
que “as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou                               
jurídicas, as sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.”,                           
registrou em seu voto que a responsabilidade da pessoa jurídica independe da pessoa natural. O referido acórdão                                 
admitiu que a dupla imputação não encontrava guarida no ordenamento jurídico. 
No ano de 2013, o STF foi novamente confrontado com a questão da dupla imputação. 
O Recurso Extraordinário 548.181/PR tratava de um derramamento de grande quantidade de óleo no Estado do                               
Paraná. Foram denunciados a própria empresa, o seu presidente e um de seus diretores. 
O presidente conseguiu o trancamento da Ação Penal, por meio de Habeas Corpus impetrado no Supremo                               
Tribunal Federal, onde consolidou o entendimento de que o simples fato de a pessoa física ocupar o cargo de                                     
direção da Pessoa Jurídica não permite sua responsabilização penal, havendo que se demonstrar o nexo de                               
causalidade entre a conduta e o fato criminoso. 
O diretor acabou por se beneficiar da decisão prolatada em favor do presidente e consequentemente teve                               
trancada a Ação Penal proposta contra si, o que faz com que a única ré fosse a Pessoa Jurídica. 
A Ministra Relatora Rosa Weber no Recurso Extraordinário votou pela possibilidade de continuidade do Processo                             
Penal em desfavor da Pessoa Jurídica, mesmo diante da absolvição de todas as pessoas físicas envolvidas na                                 
prática criminosa. Registrando que a tese de dupla imputação, afronta o artigo supra citado, visto que tal                                 
dispositivo em momento algum vincula a responsabilidade penal da pessoa jurídica a da pessoa física. 
Embora o Supremo Tribunal Federal tenha o entendimento de que é inconstitucional a dupla imputação, por                               
afrontar o artigo ​225​, ​§ 3º da ​Constituição Federal​, o posicionamento majoritário do Superior Tribunal de Justiça é                                   
de que a responsabilidade da pessoa jurídica só poderia ser efetivada se houvesse a responsabilização da pessoa                                 
física, pois tão somente esta última é dotada de vontade e animus para que se praticasse um ato ilícito. Pode­se                                       
ver tal entendimento no Recurso Especial 564.969, Relator Ministro Gilson Dipp e Recurso Especial 889.529,                             
Relator Ministro Félix Fisher. 
VII – Conclusão 
Conclui­se que apesar da pessoa jurídicaser um ente real, juridicamente reconhecido, com direitos e deveres, não                                 
há como ser alvo de penas restritivas de liberdade. 
Pode­se perceber que tanto a doutrina quanto parte da jurisprudência concordam com dupla imputação,                           
justamente pela pessoa jurídica não possuir vontade e escolha. 
Portanto, conclui­se que a pessoa jurídica não poderá ser responsabilizada penalmente sem que as pessoas                             
naturais que a dirigem sejam penalizadas também, tendo em vista que a pessoa jurídica não possui vontades ou                                   
escolhas, quem as fazem são as pessoas naturais.

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