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Wolpe - Prática da Terapia Comportamental

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PRATICA DA
TT7P A PT A
COMPORTAMENTAL
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Steiner, Gary
Bussab, Wilton e — Tábuas de Estatística e Matemática
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Fitzgerald, Hiram, e — Psicologia do Desenvolvimento
Strommen, Ellen
Gaiarsa, José Ângelo — Estátua e a Bailarina (A)
Gervásio, Sabá — É Natural
— Sempre foi Assim
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Leboyer, Frédérick — Nascer Sorrindo
McGregor, Douglas — Motivação e Liderança
Pappenheim, Fritz — Alienação do Homem Moderno
Reich, Wilhelm — A Função do Orgasmo
Roazen, Paul — Freud: Pensamento Político e Social
— Irmão Animal — A História de Freud e Tausk
Wolpe, Joseph - Prática da Terapia Comportamental
joseph wolpe
Professor de Psiquiatria da Escola de Medicina da 
Universidade de Temple e do Instituto Psiquiátrico da 
Pensilvânia
PRATICA DA
T T hT? à d t a
COMPORTAMENTAL
1? edição: 1976 
2 a EDIÇÃO
editora brasiliense 
1978
para ALLAN e DAVID
T ítu lo do original em inglês:
The Practice of Behavior Therapy (Second Edition) 
Copyright ( c ) 19 73 by Pergamon Press Limited, England
Tradução:
WILLIAM GRAHAM CLARK Jr.
Revisão Técnica: 
MARINA TSCHIPTSCHIN
Revisão Ortográfica:
WALDIR RODRIGUES CARRASCO 
JOSÉ GENARO URSO
Capa:
MOEMA CAVALCANTI
PRE FÁCI O DA P R I M E I R A E D I Ç Ã O ........................................................ 9
P REF ÁCI O D A S E G U N D A E D I Ç Ã O ........................................................ 13
Capítulo 1 - In tro d u ção ............................ ................................................... 15
Perspectiva Histórica, 15. O Desenvolvimento da Terapia Comporta- 
mental, 18. Por que a Terapia Comportamental?, 23.
Capítulo 2 — Fundamentos e Finalidades............................................... 29
Estímulos e Respostas, 29. Princípios Básicos da Aprendizagem, 31.
A Finalidade da Terapia Comportamental, 35.
Capítulo 3 — Investigando o Caso: Relações Estímulo-Resposta . . . 38
/ As Relações Estímulo-Resposta da Apresentação de Queixas, 38. 
Histórico, de Fundo, 43. Alguns Exemplos de Entrevistas Iniciais, 45
Capítulo 4 — Orientação e Correção de Concepções Errôneas. . . . . 70
/
Capítulo 5 — Treino A firm a tiv o ........................................................ 97
Medidas Preliminares, 100. Instigando o Comportamento Afirm ativo,
101. Relacionamento (Lifemanship), 107. Ensaio Comportamental,
107.
Capítulo 6 — Dessensibilização S iste m á tica ............................................ 1 1 2
Introdução, 112. A Base Formal da Dessensibilização Sistemática,
113. Exposição Geral do Paradigma da Dessensibilização, 116. A 
Técnica da Dessensibilização Sistemática, 121. Resultados da Dessen 
sibilização Sistemática, 158.
Capítulo 7 — As Variações da Dessensibilização Sistemática.............. 163
Variações Técnicas do Procedimento-Padrão da Dessensibilização, 164. 
Respostas Alternativas de Contra-Ansiedade para a Utilização com 
Estímulos Imaginários, 169. Dessensibilização com o Uso de Estí 
mulos Exteroceptivos à Ansiedade, 181.
Capítulo 8 — 0 Tratamento de Respostas Sexuais In ib id a s .............. 188
O Tratamento da Impotência, 189. O Tratamento da Frigidez, 198.
Capítulo 9 - 0 Uso de Drogas na Terapia Comportamental.............. 206
Usos Sintomáticos, 206. Usos Coadjuvantes de Drogas, 209. O Uso 
de Drogas para o Descondicionamento Específico, 215.
Capítulo 10 — Procedimentos Envolvendo uma Forte Eliciação de
A n sie d ad e ................................................................................................. 220
"Inundação" Emocional, 221. Abreação, 230.
Capítulo 1 1 - Métodos Operantes de Condicionam ento.................... 234
Reforço Positivo, 235. Reforço Negativo, 243. Extinção, 244.
Capítulo 12 — Terapia de Aversão ........................................................... 246
Descrição das Técnicas, 250.
Capítulo 13 — Algumas Síndromes Especiais.......................................... 261
Agorafobia, 261. Medo de Sintomas, 263. Gagueira, 264. Depressão 
Reativa, 266. Desvios Sexuais, 269. Neuroses de Caráter, 273. 
Neuroses Obsessivas, 274. Obesidade, 276.
Capítulo 14 — Alguns Casos Com plexos................................................... 278
Medo de Sintomas, 279. Fobia por Automóveis, 283. Homossexua 
lidade, 292. Pedofilia Homossexual, 296. Compulsão de se Lavar, 300.
Capítulo 15 - A Avaliação da Terapia Com portam ental................... 303
Estudos Clínicos, 304. Os Critérios da Mudança Terapêutica, 310. 
Respostas a Algumas Objeções, 311.
Apêndices 1. Tabela de Personalidade de W illoughby.......................... 3 15
2. Questionário Revisado de Willoughby para a Auto-
-A dm inistração ....................................................................... 3 17
3. Inventário de Temores . . ' ................................................ 3 19
4. Escala S-S e Chave para Avaliação de Bernreuter . . . 323
A terapia comportamental, ou terapia de condicionamento, consiste 
no uso de princípios experimentalmente estabelecidos de aprendizagem, 
com o propósito de modificar um comportamento impróprio. Os hábitos 
impróprios são enfraquecidos e eliminados; os hábitos adequados são 
introduzidos e fortalecidos. O termo terapia comportamental, agora 
popular, introduzido por Skinner e Lindsley (1954), deve a sua ampla 
promulgação e aceitação a Eysenck (1959, 1960, 1965).
Antes do advento da terapia comportamental, a medicina psico-
lógica era uma miscelânia de sistemas especulativos e métodos intuitivos 
A terapia comportamental é uma ciência aplicada, de todas as maneiras 
paralela a outras tecnologias modernas, e principalmente àquelas que 
constituem a moderna terapêutica médica. As possibilidades terapêuticas 
iiiiicliam da descoberta de relações legítimas de processos do organismo. 
Uma vez que a aprendizagem é o processo mais relevante para a medicina 
psicológica, o estabelecimento de relações legítimas para o processo de 
nprondizagem é o principal caminho para a força terapêutica neste campo,
Contudo, o terapeuta comportamental não necessita confinar-se 
ii mrttodos derivados de princípios. Para o bem de seus pacientes, emprega, 
quando necessário, métodos que foram empiricamente constatados cdmo 
fificiontes. O cólquico foi um remédio bem autenticado e amplamente 
usado para ataques de gota bem antes da colquicina ter sido isolada, 
ou do metabolismo da gota ter sido compreendido (Stetten, 1968). Da
10 P R Á T IC A DA T E R A P IA C O M P O R T A M E N T A L
mesma forma, na terapia comportamental atual, usamos uma mistura de 
dióxido de carbono e oxigênio para aliviar a ansiedade difusa, sem conhe-
cermos o mecanismo de sua ação. O critério é a existência de fortes evi-
dências de uma relação entre a administração do agente e a mudança 
clín ica. A menos que vá de encontro a este critério, nenhuma técnica 
é clinicamente aceita. Mas, ao passo que em outros campos da medicina 
a eficácia empírica é bastante fácil de ser estabelecida como, por exemplo, 
quando um medicamento efetivamente cura uma infecção cutânea crônica 
em poucos dias — na psicoterapia o problema é mais complexo. É neces-
sário um grande cuidado para assegurar a especificação inequívoca da 
técnica. Por exemplo, se interpretação for alegada como sendo uma 
técnica eficaz, a natureza e as condições das interpretações devem ser 
especificadas de modo exato. Uma dificuldade muito especial em avaliar
o quanto uma técnica psicoterápica contribui para a mudança, reside 
no fato de que qualquerforma de psicoterapia produz um benefício subs-
tancial em cerca de cinqüenta por cento dos casos, aparentemente devido 
às reações emocionais inibidoras de ansiedade que os terapeutas evocam 
nos pacientes. Portanto, uma determinada teoria deve ser, pelo menos 
à primeira vista, eficaz além desse nível, para que possa ser ao menos 
provisoriamente recomendada em bases empíricas. A ausência de 
observação quanto a esta regra poderá levar à aceitação crédula de 
qualquer coisa que seja sugerida, e de volta ao caos pré-científico de 
prescrições, do qual os princípios tecnológicos modernos nos libertaram.
Dois temas têm sido recentemente proeminentes entre as críticas 
proclamadas pelos oponentes da terapia comportamental. Um consiste 
em que ela é "mecânica e não-humanista". Os dois adjetivos são geral-
mente combinados como se pertencessem um ao outro, como o rosto 
e a barba. Até o ponto em que a terapia comportamental depende de 
mecanismos, ela é de fato mecânica. Mas ninguém pode com razão chamá- 
-la de não-humanista. Não há nenhuma base para a idéia de que outros 
tenham mais compaixão do que o psicoterapeuta comportamental. 
A medicina interna não foi desumanizada quando a penicilina substituiu 
a sangria como tratamento para as infecções; e não mais o é a psicote-
rapia quando o condicionamento substitui a associação irrestrita. A preo-
cupação do terapeuta com seus pacientes, e sua simpatia quanto a seus 
sofrimentos não são dim inuídas pelo fato de ter sob o seu comando 
métodos baseados no conhecimento de mecanismos.
A outra crítica é que há uma estreiteza de visão envolvida na ten-
tativa de aplicar um “simples" modelo às complexidades da personalidade 
humana (vide, por exemplo, Breger e McGaugh, 1965). Existem diversas
P R E F Á C IO 11
respostas. Primeiramente, o modelo estímulo-resposta não é simples. 
Segundo, os métodos que este modelo gerou são evidentemente mais 
eficazes na modificação da personalidade neurótica que as estruturas 
mais complicadas que essas mesmas críticas favorecem. Como podem ser 
"melhores” essas outras estruturas sem a validação dos testes experi-
mentais, que nenhuma delas possui?
Este volume, A Prática da Terapia Comportamental, derivou de 
minha contribuição pessoal a um livro anterior, Behavior Therapy 
Techniques, por J. Wolpe e A. A. Lazarus, Pergamon Press (1966). Neste 
novo livro, inclu í algum material adicional anteriormente não disponível. 
A principal fonte de novas técnicas continuam sendo os paradigmas 
experimentais descritos em minha monografia original, Psychotherapy 
by Reciproca! Inhibition (Stanford University Press, 1958). A ênfase 
recai muito sobre o tratamento das neuroses. Há relatos acrescentados 
sobre as variações da dessensibilização sistemática, o tratamento da 
frigidez, a terapia de aversão, técnicas de "inundação”, o uso de drogas, 
e um capítulo sobre o condicionamento operante. Os diversos casos 
ilustrativos incluem quatro de caráter complexo dados na íntegra.
Sou grato àquelas que ajudaram na parte literária da produção 
do livro — Sra. Barbara Srinivasan, Sra. Aviva Wanderer, e minha 
esposa; e também ao meu velho amigo e colega, Dr. L. J. Reyna, o qual, 
como tantas vezes no passado, tem sido uma fonte de informações e 
de idéias.
Prefácio 
da 2 ª edicão
✓
Nos três anos passados desde a publicação da primeira edição deste 
livro, a terapia comportamental continuou avançando impressionante-
mente em todas as frentes. A atividade de pesquisa multiplicou-se, de 
modo que dois novos jornais surgiram para contê-la — o Journal of 
Behavior Therapy and Experimental Psychiatry e o Behavior Therapy) 
e tem havido um aumento considerável nos oferecimentos educacionais 
de departamentos psiquiátricos de universidades e divisões de psicologia 
clín ica. Todavia, a quantidade de treino sistemático prático disponível 
está muito aquém da demanda e os livros continuam a ter um papel 
pedagógico incomumente grande.
O empenho nas pesquisas tem sido intenso. Ao preparar um retros-
pecto da terapia comportamental, Krasner (19 7 1) encontrou 4.000 títulos 
para trabalhar. As descobertas desta pesquisa, de modo geral, continuaram 
;i confirmar a eficácia das práticas da terapia comportamental, demons-
trando cada vez mais, tanto direta como indiretamente, a relevância
0 força de seus princípios básicos, originalmente relatados no Science and 
Human Behavior de B. F. Skinner, e no meu Psychotherapy by Reciprocai 
Inhibition. Têm havido importantes análises dos componentes dos proce-
dimentos terapêuticos (como Paul, 1966; Lang, Melamed e Hart, 1970) 
(! dos mecanismos pelos quais se supõe que a mudança ocorre (como
1 ader e Mathews, 1969; Van Egeren, Feather e Hein, 19 7 1).
14 P R Á T IC A DA T E R A P IA C O M PO R T A M EN T A L
Esta edição é bastante diferente da primeira. As partes do texto 
que permaneceram foram intensamente revisadas. Algumas seções dos 
primeiros capítulos foram reajustadas para melhorar sua ordem lógica, 
e outras foram remodeladas e aumentadas para maior clareza. Novos 
materiais de casos foram acrescentados a capítulos clínicos. Muitas 
técnicas novas são descritas, e algumas antigas foram substituídas.
As mudanças que merecem uma menção especial são: uma completa 
exposição do treino afirmativo, um relato modernizado da dessensibili-
zação sistemática, a adição de diversas variantes da dessensibilização, uma 
descrição de recente pesquisa em inundação e novas indicações para ela, 
um tratamento prolongado de métodos operantes de condicionamento, 
uma descrição grandemente esclarecida da terapia de aversão, e um novo 
capítulo dando consideração a síndromes especiais como a homossexua-
lidade, neuroses de caráter, e depressão reativa.
Agradeço ao Dr. David A. Soskis pelos seus comentários incisivos 
que levaram a muitas mudanças benéficas desta edição, à Sra. Barbara 
Srinivasan, por sua habilidade ao lidar com o "quebra-cabeças" das peças 
novas e antigas, e à minha secretária, Sra. Betty Jean Srnith, por sua 
datilografia sempre correta e bonita.
J. W O LPE, Doutor em Medicina
capítulo 1
Introdução
Um hábito é uma forma compatível de resposta à condições esti-
muladoras definidas. Normalmente um hábito declina — é extinto — 
quando as suas conseqüências se tornam impróprias, isto é, quando deixa 
de servir às necessidades do organismo ou de evitar ferimentos, dor ou 
fadiga. Alguns hábitos impróprios, por diversos motivos, deixam de se 
extingüir; e são estes que se tornam problemas terapêuticos. A terapia 
comportamental consiste em aplicar princípios experimentalmente esta-
belecidos para superar estes hábitos impróprios persistentes, considerando 
todo o alcance das ciências comportamentais, se necessário for, para se 
obter princípios relevantes.
PERSPECTIVA HISTÓRICA
Embora o terapeuta comportamental moderno aplique delibera-
damente os princípios de aprendizagem em suas operações terapêuticas, 
as prescrições terapêuticas envolvendo o comportamento são provavel-
mente tão antigas quanto a civilização — se considerarmos a civilização 
como tendo sido iniciada quando o homem pela primeira vez fez coisas 
para promover o bem-estar de outros homens. Desde o tempo em que 
isso se tornou um aspecto da vida humana, devem ter existido ocasiões
16 P R Á T IC A DA T E R A P IA C O M P O R T A M E N T A L
em que um homem se queixou de seus males a outro, que o aconselhou 
e persuadiu quanto a um determinado procedimento. Isto poderia ser 
considerado como uma terapia comportamental na medida em que o 
próprio comportamento fosse concebido como o agente terapêutico.
Os documentos antigos contêm inúmeros relatos de conselhos 
terapêuticos que constituem a terapia comportamental neste sentido, 
mesmo que fossem ineficazes. Mas, dificilm ente podemos duvidar que, 
não raramente, algo da terapia de fato funcionou, mesmoque nem sempre 
da maneira que o conselheiro acreditava. Muitas vezes, certamente, houve 
efeitos de "sugestão” ou efeitos de "placebo", em virtude de respostas às 
quais as palavras ou coisas foram previamente condicionadas; e às vezes, 
as mudanças instigadas no comportamento teriam levado ao recondicio- 
namento, com conseqüências benéficas para os estados emocionalmente 
perturbados.
Apesar da depreciação que sofre geralmente, Mesmer (1779) merece 
a nossa saudação como certamente o primeiro terapeuta a basear os seus 
esforços e mudança de comportamentos num princípio comportamental 
geral. Embora esse princípio não tenha resistido aos testes científicos, 
ele gerou procedimentos que foram freqüentemente bem sucedidos. 
Seus elementos essenciais foram posteriormente elucidados pelas pesquisas 
de Puysegur, Bernheim e outros investigadores recentes, e foram a fonte 
de origem de técnicas posteriores de sugestão e hipnose (e outras formas 
de controle verbal do comportamento) que continuaram a tomar parte 
na terapia comportamental — e que provavelmente sempre continuarão.
As formas clássicas de sugestão são concebidas para substituir o 
comportamento indesejável pelo desejável, por prescrição verbal direta. 
Como agora parece, quando isto funciona é porque a nova resposta 
compete com a antiga e, se predominar, ela inibe a última. Quando, ime-
diatamente ou após a repetição, isto é seguido da diminuição (ou elim i-
nação) da velha resposta, nós temos um exemplo de inibição condicionada 
baseada na inibição recíproca. Se as práticas padronizadas de hipnoterapia 
não foram impressivas em seus resultados a longo prazo, é provavelmente 
porque não trouxeram as respostas sugeridas em oposição efetiva com 
àquelas que deviam ser eliminadas.
Um exemplo antigo de um uso menos direto de respostas compe-
titivas que se aproxima admiravelmente de algumas práticas modernas, 
foi recentemente desenterrado por Stewart (19 61) de um velho livro de 
Leuret (1846). O paciente fora um comerciante de vinhos de trinta anos 
de idade com um histórico de dez anos de pensamentos obsessivos que se 
tornaram tão insistentes que deixara de ser capaz de prosseguir com seus
IN TR O D U Ç Ã O 17
negócios. Tendo enviado o paciente ao hospital, Leuret ordenou-lhe que 
lusse e aprendesse canções que pudesse apresentar no próximo dia. A ração 
de comida do paciente dependeria do quanto ele aprendera. Este regime 
prosseguiu por cerca de seis meses durante os quais os recitais do paciente 
progrediram continuamente. Entrementes, seus pensamentos obsessivos 
interferiam cada vez menos e ao final de seis semanas ele disse a Leuret 
que não tivera os pensamentos por diversos dias e que se sentia muito 
melhor. Leuret arranjou-lhe um trabalho como enfermeiro, e um ano 
mais tarde notou'que ele ainda estava bem e que era um ótimo enfermeiro. 
Outros exemplos de operações clínicas deste precursor da terapia 
comportamental moderna foram recentemente publicados (Gourevitch, 
1968; Wolpe e Theriault, 19 7 1).
O terapeuta do século X IX teve algumas linhas de orientação 
ompírica para suas técnicas, mas cada incursão terapêutica fora uma 
«xperiência cujo resultado não poderia ser previsto. As obras de Sigmund
I teud introduziram um novo sistema de métodos terapêuticos baseados 
em princípios teóricos detalhados e coerentes. Por estranho que pareça 
para alguns no presente contexto, este sistema foi verdadeiramente o 
lipo mais compreensivo de’ terapia comportamental que jamais esteve 
anteriormente disponível; pois, não importa o que se diga da teoria, 
foi através do comportamento, e apenas dele, que Freud partiu para 
tiazer a mudança terapêutica. Novamente, foi através do comportamento 
que as suas técnicas foram destinadas a atingir as suas metas terapêuticas. 
Na verdade, elas não obtiveram o aumento esperado em resultados 
lavoráveis e previsíveis, mas a estrutura teórica admiravelmente engenhosa 
e colorida sobre a qual Freud as baseou, e sua estranha persuasão na 
«xposição de seus pontos de vista trouxeram um excitamento ao campo, 
que tornou o tópico muito mais atraente do que jamais parecera antes.
Não obstante, durante a primeira metade do século vinte, em termos 
de avanço científico, nenhum outro campo de conhecimento permaneceu 
nuiis estagnado do que a terapia comportamental. Nenhuma hipótese 
tinha sido apresentada para ser testada; nenhuma relação legítima foi 
Rstabelecida; e não existiam quaisquer regras seguras na busca da mudança 
Imapêutica. A explicação para isto é que a terapia moderna é uma 
ciência aplicada; e a terapia comportamental não poderia entrar no 
mundo da ciência antes que tivesse embasamento suficiente nos estudos 
brtíicos de laboratório experimental.
18 P R Á T IC A DA T E R A P IA CO M PO R T A M EN T A L
O DESENVOLVIMENTO DA TERAPIA COMPORTAMENTAL 
CIENTÍFICA
Eventualmente, à medida que os estudos do comportamento normal, 
principalmente no laboratório, revelavam mais e mais sobre os fatores 
determinantes da aquisição, eliciação, manutenção, e declínio de hábitos, 
alguns desses conhecimentos prestaram-se à construção de hipóteses 
para explicar características especiais de certos tipos de comportamentos 
anormais. Algumas dessas hipóteses resistiram posteriormente a testes 
de observação, e adquiriram portanto caráter científico.
A terapia comportamental teve a sua origem conceituai em 1920, 
na famosa experiência de Watson e Rayner com o Pequeno Albert. 
Quando a criança tinha sido condicionada para temer um rato branco 
e, por generalização, outros objetos peludos, eles sugeriram que o condi-
cionamento poderia ser superado de quatro maneiras possíveis: pela 
extinção experimental, por atividades “construtivas em tórno do objeto 
temido, pelo "recondicionamento” dando doces à criança na presença 
do objeto temido, ou provocando uma competição com o temor, esti-
mulando-se as zonas erógenas na presença do objeto temido. As últimas 
três dessas sugestões estão todas num modelo de contracondiciona- 
mento, mas nenhuma delas foi tentada, porque Albert deixou o 
hospital.
Alguns anos depois, uma das sugestões de Watson e Rayner foi 
adotada por Mary Cover Jones (1924), associada a fobias de crianças. 
Ela descreveu o método que empregou da seguinte maneira:
Durante um período de desejo por comida, a criança é colocada 
numa cadeira alta e recebe algo para comer. O objeto temido é 
trazido, iniciando-se assim uma reação negativa. Ele é afastado 
gradualmente até que esteja a uma distância suficiente para não 
interferir na alimentação da criança. A força relativa do impulso 
do temor e o impulso da fome poderá ser medida pela distância 
necessária para remover o objeto. Enquanto a criança está comendo, 
o objeto é lentamente aproximado da mesa, colocado sobre ela 
e finalmente, à medida que a tolerância aumenta, ele é trazido
o bastante próximo para ser tocado. Uma vez que não poderíamos 
interferir na escala regular de refeições, escolhemos a hora do lanche 
do meio da manhã para a experiência. Isto, de modo geral, assegurou 
um certo grau de interesse pela comida e o sucesso correspondente 
em nosso tratamento.
INTRODUÇÃO 19
Os detalhes da utilização deste método são ilustrados (Jones, 1924b) 
pulo caso de um menino, Peter — "um de nossos casos problemáticos 
mais sérios" que se recuperou depois de um tratamento diário durante 
um período de dois meses. Jones esteve claramente ciente do papel da 
fome para superar o hábito do temor, observando que a eficácia do 
mótodo aumentava quando a fome era maior, e que "a apresentação 
mputida do objeto temido, sem qualquer tentativa auxiliar de eliminar 
n lemor, seria provavelmente mais capaz de produzir um efeito de 
snmação que uma adaptação."
T a is observações, indicando as relações legítimas entre os fenômenos 
em questão, dão a seu trabalho um lugar honroso na história do desen-volvimento de técnicas deste tipo. Mais ou menos na mesma época, 
Hurnham (1924), partindo de uma orientação diversa, também propunha 
ii uso de um comportamento neutralizante como agente de mudança de 
hábito. A consciência de fatores relevantes não foi compartilhada anos 
tlipois por Herzberg (19 4 1) e Terhune (1948) que também fizeram uso 
(Ir t i iK ífa s gradativas na terapia de pacientes neuróticos.
Nesse meio tempo, o mais estudado processo de eliminação de 
hábitos foi — e continua sendo — a extinção experimental: o decréscimo 
ui mi lu,il de força e freqüência das respostas que se seguem à sua eliciação 
não reforçada. Dunlap (1932) investigou as possibilidades terapêuticas 
i Ih sH' processo e desenvolveu a técnica chamada "prática negativa", em 
que os hábitos motores indesejáveis são superados garantindo-se sua 
elii iflçfío repetida. Quase ao mesmo tempo, Guthrie (1935) observou 
a aplicabilidade terapêutica geral do método de contracondicionamento 
t|UB Jones demonstrou, afirmando que a regra mais simples para romper 
t?om um hábito é "descobrir os sinais que iniciam a ação e aplicar uma 
mitra resposta a esses sinais" (Guthrie, 19 35 , p. 138). Ele salientou a 
uBt BNsidflde de controlar a situação de maneira tal que o "sinal" da res- 
j h is iéi oii(|inal esteja presente enquanto "outro comportamento prevalece".
() pagso seguinte ocorreu quando o princípio de Guthrie foi aplicado 
a neumsos experimentais inicialmente produzidas nos laboratórios de 
^gylnv no começo do século X X , e muitas vêzes posteriormente.
I m virtude do comportamento de animais neuróticos ser marcada- 
mente diferente do normal e, além disso, excessivamente persistente, 
fedoi os antigos experimentalistas compartilhavam da opinião de que 
aiyuni tipo de lesão ou fisiopatologia era a base dessas neuroses. Os pesqui- 
lldores russos acreditavam que essa opinião fosse apoiada verificando-se 
(jU9 em certos exemplos as neuroses eram superadas administrando-se 
an§ animais drogas calmantes ou estimulantes. Contudo, em 1943,
20 PRÁ TICA DA TER A P IA COM PORTAMENTAL
bases para discordar deste ponto-de-vista surgiram. Masserman, no decurso 
de uma série fascinante de experiências em gatos tornados neuróticos 
tomando choques elétricos numa pequena gaiola, observou que as neuroses 
poderiam ser superadas se os animais pudessem ser induzidos a alimen-
tarem-se naquela gaiola. O fato de que a simples evocação do padrão de 
comportamento de comer poderia 'curar' as neuroses forneceu evidências 
contra a teoria de lesão, e o fato de que para obter a mudança de compor-
tamento esta teria de ser feita dentro da gaiola experimental (em contraste 
com a gaiola em que viviam) sugeriu que se tratava de aprendizagem 
em ação. Devemos dizer que essas não foram as conclusões de Masserman 
que, profundamente imerso no pensamento "psicodinâmico'', interpretou 
o fato em termos de ''abrir caminho através do conflito motivacional''.
— um ponto de vista cuja inadequação foi apontada diversos anos mais 
tarde (Wolpe, 1956).
O outro requisito foi o de testes de planejamento para a hipótese 
da aprendizagem. Para começar, foi necessário definir a aprendizagem 
com certa exatidão. Foi adotada a seguinte definição:
Podemos dizer que a aprendizagem ocorreu se uma resposta tiver 
sido eliciada numa contigüidade temporal com um estímulo senso-
rial dado, e é posteriormente verificado que o estímulo pode eliciar 
a resposta embora não pudesse tê-lo feito anteriormente. Se o 
estímulo pudesse ter eliciado a resposta anteriormente mas, subse-
qüentemente, o eliciasse mais fortemente, então, também, pode-se 
dizer que ocorreu a aprendizagem (Wolpe, 1952a).
Foram feitos então diversos prognósticos a serem necessariamente 
cumpridos se o comportamento neurótico fosse realmente aprendido. 
Se estes não fossem cumpridos, a hipótese da aprendizagem deveria ser 
abandonada. Eles foram:
(1) 0 comportamento manifestado numa neurose experimental 
deve ser essencialmente idêntico àquele eliciado pela situação estimu-
ladora que precipita a neurose.
(2) O comportamento neurótico deve estar em seu ponto mais 
intenso quando o animal é exposto a estímulos muito semelhantes àqueles 
em cuja presença a neurose foi precipitada e a intensidade deve decrescer 
em função direta da semelhança decrescente (conforme o princípio da 
generalização do estímulo primário).
(3) A desaprendizagem de um hábito neurótico deve ocorrer em 
circunstâncias como aquelas que produzem a desaprendizagem em outros 
contextos, isto é, a extinção e/ou contracondicionamento.
INTRODUÇÃO 21
Cada um desses prognósticos foi submetido a testes experimentais1 
mu 1947 (Wolpe, 19 5 2 , 1958) em neuroses de gatos produzidas por 
ohoques de alta voltagem e baixa amperagem numa gaiola experimental 
semelhante àquela usada por Masserman, e cada prognóstico foi confir-
mado. Em todos os animais os aspectos das respostas foram duplicados 
nas respostas das neuroses; a intensidade da resposta neurótica decrescia 
â medida que o ambiente a que o animal neurótico foi exposto era menos 
semelhante àquele da gaiola experimental e, enquanto as reações não 
podiam ser superadas pelo processo de extinção (parcialmente, parece, 
iInvido à pequena quantidade de inibição reativa eliciada pelas respostas 
autônomas — Wolpe, 1958), foi possível eliminá-las através da inibição 
recíproca de respostas de ansiedade fracas, pela alimentação. Os animais 
sei iam primeiramente alimentados num lugar onde apenas uma ligeira 
ansiedade surgisse — por estímulos remotos num contínuo de genera-
lização — e quando a ansiedade desaparecia avançava-se no contínuo.
Tendo o acima exposto fornecido alguma certeza de que as neuroses 
experimentais eram aprendidas, a próxima proposição a ser testada foi 
a de que as neuroses humanas eram paralelas em relação aos três aspectos 
em questão: a aquisição pela aprendizagem, a generalização de estímulos 
primários, e a eliminação pela desaprendizagem.
A respeito do primeiro, foi feito um estudo sobre os antecedentes 
históricos dos 'sintomas' nos casos clínicos de neuroses. Numa grande 
prnporçffo foi obtido um histórico claro da época do aparecimento de 
respostas específicas. Nesses casos, o paciente se recordou de uma deter-
minada ocasião de grande aflição, ou do surgimento repetido de ansiedade 
numa situação periódica envolvendo, por exemplo, um pai ameaçador 
mi um professor hostil. Foi invariavelmente constatado que as reações 
neuiótlcas cujas origens poderiam ser datadas de tais experiências, passa- 
lani ,1 sor eliciáveis por estímulos semelhantes àqueles que foram a vanguar-
da nas situações precipitantes [embora outros estímulos posteriormente 
§# tornassem eficazes em muitos casos, através do condicionamento de 
iegunda ordem (vide Wolpe, 1958)].
Tornou-se também evidente que as reações neuróticas humanas 
niiHtlicem ao princípio da generalização do estímulo primário (Wolpe,
1961a). Como nas neuroses de animais, a sua intensidade é deter-
minada pelo grau de semelhança do estímulo eliciador a um estímulo 
itn itfll que é muitas vezes correspondente ao estímulo condicionado 
utiginal. Num caso em particular, poderão existir diversas classes, não 
leia. ionmlas fisicamente, de estímulos eliciadores de ansiedade, tendo
• mia um dos quais, verificando-se no exame, um zénite e um gradiente
22 PR Á TICA DA TER A P IA COMPORTAMENTAL
de generalização. Os elementos graduados de um gradiente constituem 
uma hierarquia. No homem há geralmente hierarquias baseadas nas seme-
lhanças de efeitos interiores (generalização secundária) — "Generalização 
mediada" de Osgood. Por exemplo, situações fisicamente dessemelhantes 
poderão ter um tema de rejeição em comum, e até o ponto em que o 
paciente é perturbado pela rejeição, as situações poderão ser colocadas 
numa ordem hierárquica determinada pela força relativa das respostasque elas eliciam. Tomando um exemplo em particular, em outra área 
(Wolpe, 19 61), uma paciente com claustrofobia teve também reações 
claustrofóbicas em situações em que tinha uma simples "sensação" de 
estar envolvida, por exemplo, um "zipper" apertado, ou o desejo de 
remover o esmalte da unha sem ter acesso a algum removedor (Ver 
Capítulo V II).
No que concerne à terceira questão — o papel da aprendizagem 
na recuperação de neuroses humanas — pode-se dizer o seguinte: como 
as neuroses de animais, as neuroses humanas não são facilmente extin- 
guíveis pela eliciação repetida das reações neuróticas. A primeira evidência 
de que elas podem ser superadas pelo contracondicionamento gradativo 
foi o tratamento por Mary Cover Jones de fobias em crianças já citado 
(pag. 18) cuja técnica foi quase idêntica àquela usada para superar as 
neuroses de animais. Em anos recentes, as neuroses humanas de adultos 
têm sido tratadas por métodos que empregam outras respostas, além 
da alimentação, pàra a inibição recíproca e o contracondicionamento 
da ansiedade (Wolpe, 1958; Eysenck, 1960); e esses são os principais 
temas deste livro.
Os fatores invocados para responder as perguntas sobre as neuroses 
humanas têm sido essencialmente 'clínicos', mas até o ponto em que as 
observações têm sido consistentes, e têm sido confirmadas por observa-
dores independentes, podemos dizer que a hipótese de aprendizagem 
de neuroses esclareceu as suas primeiras barreiras, e que pode ser quali-
ficada como uma hipótese científica.
Mas as observações experimentais adequadamente controladas 
são necessárias. Embora haja muito a fazer, alguns dados já estão dispo-
níveis, e todos eles estão de acordo com as descobertas clínicas. As expe-
riências de produção de neuroses humanas são, naturalmente, consideradas 
com hesitação, senão com temor e, portanto, não é de surpreender que 
apenas três possam ser citadas. Uma foi a, anteriormente mencionada 
experiência de Watson Rayner (1920). A segunda foi a inundação de 
neuroses experimentais, por Krasnogorski (1925), em crianças, expondo-as 
a estímulos ambivalentes em relação ao condicionamento de reações
INTRODUÇÃO 2 3
alimentares — um procedimento muito semelhante a uma técnica comum 
para produzir neuroses experimentais nos laboratórios de Pavlov (Pavlov, 
1927). Finalmente, Campbell, Sanderson e Laverty (1964) demonstraram 
(embora não num contexto de produção de neuroses) que as respostas 
de ansiedade marcantes podem ser condicionadas por uma única pressão 
severa devida à paralisação respiratória e ademais que a eliciação posterior 
da resposta condicionada na ausência da tensão é associada com a força 
aumentada, ao invés do enfraquecimento que é geralmente encontrado 
om tais circunstâncias. A observação deles está de acordo com uma expe-’ 
riência clínica comum com as neuroses (Wolpe, 1958, pag. 99). i
É muito mais apropriado executar experimentos terapêuticos, e 
um rendimento crescente de estudos de processos está agora em evidência. 
Por exemplo, Lang e Lazovik (1963), Lang (1964), e Lang, Lazovik e 
Reynolds (1965) em estudos controlados sobre a dessensibilização de 
fobias de cobras, verificaram que a mudança terapêutica é aparentemente 
divida ao procedimento do condicionamento, e não pode ser atribuída 
à sugestão, "rapport" ('transferência'), ou relaxamento muscular; e 
Hitchman (1965) e Davison (1965) demonstraram ambos que o procedi- 
mnnto da dessensibilização é significativamente mais eficaz que a apresen- 
lação de cenas, ou o relaxamento apenas. No campo da terapia, que 
emprega o concionamento operante, os estudos de processos já são nume- 
mios. Um número considerável deles foi reunido por Krasner e Ullman 
(1965), Franks (1965), Eysenck (1964), e Ulrich, Stachnik e Mabry 
(1006, 1970).
PORQUE TERAPIA COMPORTAMENTAL?
O aspecto mais distinto da terapia comportamental é o comando
* 1*ir ola dá ao terapeuta tanto no planejamento da estratégia geral da 
terapia quanto no controle de seus detalhes à medida que prossegue. 
•Hiando um tipo de manobra falha em obter a mudança, outro é tentado, 
*Ib acordo com indicações apropriadas, cada variação sendo uma aplicação 
He um princípio experimentalmente estabelecido. Quando há sinais de 
|hb a manobra está inibindo as respostas de ansiedade a estímulos dados, 
es§n niiinobra é usada sistematicamente para derrubar o potencial eliciador 
cie anilodade desses estímulos. A especificidade do efeito é muitas vezes 
eMiemiimente clara, como demonstrado, por exemplo, num estudo 
 le um c í is o experimental envolvendo uma fobia de automóveis multi- 
fa< rim l,i (reproduzida no Capítulo 14). Também foi demonstrado (Wolpe,
2 4 PRÁ TICA DA TER A P IA COM PORTAMENTAL
1963) que nos casos de fobias clássicas tratadas pela terapia de dessensi-
bilização, há uma conexão matemática entre o número de apresentações 
de cenas e o grau de recuperação obtido (vide Capítulo 6).
O poder de intervir racional e previsivelmente faz um grande con-
traste com a incerteza da posição convencional do terapeuta. Uma vez 
que o último dirige seus procedimentos num "processo interior" que 
ele considera como responsável pelo comportamento impróprio, ao invés 
de trabalhar no próprio comportamento, ele só pode permanecer ao lado, 
passivamente, e esperar que efeitos comportamentais favoráveis resultem 
de seus esforços.
Portanto, na literatura convencional sobre a psicoterapia, muito 
foi atribuído ao relacionamento paciente-terapeuta. Uma crença ampla-
mente predominante é a de que a qualidade do relacionamento terapêu-
tico é mais básico ao resultado terapêutico que os métodos e técnicas 
específicas do terapeuta, e isto é provavelmente verdadeiro nas terapias 
convencionais. Como Frank (19 61) demonstrou, um relacionamento, 
no qual o terapeuta é capaz de mobilizar a expectativa de ajuda e o desejo 
de alívio do paciente é por si mesmo, um poderoso instrumento tera-
pêutico. É provavelmente porque as terapias convencionais dependem 
praticamente todas do relacionamento, que todas elas atingem os mesmos 
resultados (Eysenck, 1952). Os procedimentos da terapia comportamental 
têm efeitos adicionais àqueles efeitos relacionais que são comuns a todas 
as formas de psicoterapia.
A prática da terapia comportamental pode ser, portanto, encarada 
como um meio de "duplo efeito" para aliviar a aflição neurótica (ver 
Capítulo 15).
Os estudos estatísticos dos efeitos da terapia comportamental 
por terapeutas competentes demonstraram que quase 90 por cento de 
recuperação ou progressos marcantes poderão ser esperados entre pacientes 
que foram expostos em medida razoável aos métodos comportamentais. 
Esses estudos são resumidos no Capítulo 15 , onde são também compa-
rados com estatísticas de outras terapias. As comparações são claramente 
favoráveis à terapia comportamental, mas vulneráveis à crítica quanto 
à falta de controle. Os resultados de alguns estudos bem controlados dos 
efeitos, entretanto, rendem também decisivamente para o lado da terapia 
comportamental. Um ponto que deve ser enfatizadó é o de que a terapia 
comportamental é eficaz em todas as neuroses e não apenas em fobias 
esporádicas.
No conjunto, há motivos para a confiança na prática da terapia 
comportamental. Ela é baseada na biologia e seus princípios e práticas
INTRODUÇÃO 2 5
§üo determinados pelas regras da ciência. Seus resultados clínicos são 
encorajadores. E ela ainda está em seu início. Os métodos utilizados 
hojo em dia parecerão muito toscos daqui a uma ou duas décadas. 
ISidomos antecipar a realização da expectativa de Reyna (1964) de que 
a-, aplicações mais rigorosas das leis de aprendizagem tornarão as terapias 
tlp condicionamento inclusive mais eficazes e ampliarão sua utilização 
a um raio maior de problemas comportamentais."
A razão de ser da psicoterapia é a suposição de que ela pode superar* Mitos tipos de sofrimentos humanos. Os sintomas neuróticos e as inabili- 
ilaili", relacionadas são a origem mais comum do sofrimento pelo qual 
us p.icientes procuram o auxílio psiquiátrico. A aflição que o paciente 
hemrttico traz ao terapeuta, para a resolução é tão real e pungente quanto 
sei la se fosse devida a um mal orgânico. O critério mais importante do 
lucpsfb terapêutico é o alívio duradouro de sua perturbação. É de pouco 
euntolo dizer a um paciente cujas ansiedades neuróticas permanecem 
nifi diminuídas após o tratamento, que ele está curado porque sua perso- 
naliil.ide amadureceu.
Uma conseqüência da percepção de que o comportamento neurótico
i apiundido, é que ela coloca a responsabilidade da recuperação do 
nai ifiute inequivocamente nas mãos do terapeuta, em contraste com o 
de vista que emana da mística psicanalítica, de que o paciente é 
fi8|ionsável pelos fracassos de seu tratamento (a presunção sendo de que 
B isiapeuta não falharia senão pela resistência hostil do paciente!). O fato 
ê que, se o paciente deixar de progredir apesar de sua cooperação diligente 
fins |Mogramas de tratamento nele aplicados, devem existir razões técnicas 
B § f i isto. Talvez tenha havido uma análise imperfeita do caso, ou as 
Èéenirãs tenham sido aplicadas inadequadamente, ou nenhuma das técnicas 
dfS|inníveis possa oferecer uma solução a seu caso em particular.
(iuando um terapeuta comportamental se encontra sem uma estra-
tégia eficaz, deve admiti-lo francamente ao paciente, embora possa muitas 
I f f i i continuar '.'sustentando" que espera que o tempo e novos conheci- 
r*teni. i =, possam trazer uma solução. Tem havido diversos casos com os 
f|Uflji jonho mantido contato após ter queimado meu cartuchos, e aos 
i p i i l fiosteriormente apliquei novos métodos, à medida que surgiam, geral-
mente com bons resultados mais cedo ou mais tarde.
Algumas conseqüências importantes fluem da aceitação da respon- 
f S t i i l if J id e pelo terapeuta comportamental , quando o tratamento falha. 
i !u livr.i o paciente da agonia de ser culpado por "resistir” à recuperação, 
flãs «livlersas maneiras que o psicanalista popularizou. Outra conseqüência
I fjUs é) terapeuta comportamental não utiliza insistentemente uma deter-
26 PR Á TICA DA TER A P IA COM PORTAM ENTAL
minada técnica porque ele "sabe" que é certa e que "deve" ser bem 
sucedida, se o paciente assirn o permitir. Só quando há evidência de 
mudanças, o terapeuta comportamental se sente justificado a utilizar 
a mesma técnica.
Alguns problemas morais são trazidos por pacientes. Uma boa parte 
deles questiona quanto à moralidade do comportamento afirmativo, 
quando este é necessário. Eles poderão ser tranqüilizados de diversas 
maneiras. Uma aproximação útil tem sido a de indicar que existem três 
aproximações diretas possíveis para a condução das relações interpessoais. 
A primeira é considerar a si mesmo apenas, e não ter consideração para 
com os demais, se necessário, para se conseguir o que deseja. A personali-
dade psicopática é a expressão extrema dessa atitude básica e muitas 
vezes, é claro, colide com a sociedade. Ele se comporta de maneira anti- 
-social porque, aparentemente, não foi condicionado para sentir culpa 
ou ansiedade em situações em que a maioria das pessoas sente. O resul-
tado é que ele muitas vezes se lança sobre a sociedade. A segunda aproxi-
mação possível nas relações interpessoais é a de sempre colocar as outras 
pessoas antes de si. Tal altruísmo é o extremo oposto da personalidade 
psicopática. As pessoas que seguem esta política ficam freqüentemente- 
emocionalmente perturbadas, seus .sentimentos oscilando entre a culpa de 
deixar de cumprir seus padrões de abnegação, e a falta de realização que 
resulta da auto-abnegação. Não menos que aquele do psicopata, embora 
de forma diferente, o seu comportamento tem resultados infelizes. O dizer 
talmúdico, "Se eu não me valer, quem me valerá?" reconhece a verdade 
biológica de que o bem-estar do organismo inicia com sua própria integri-
dade. A terceira aproximação é o meio termo, dramaticamente transmi-
tido nesta citação mais ampla do Talmude: "Se eu não me valer, quem 
me valerá? Mas se eu valer a mim apenas, então o que sou eu?" O indi-
víduo se coloca em primeiro plano, mas leva os demais em consideração. 
Ele age de acordo com as exigências da vida social, enquanto aquiesce 
ao princípio biológico de que os ajustamentos do organismo individual 
servem principalmente às necessidades e ao indivíduo, e não àquelas 
dos demais. Ele cumpre as suas obrigações para com o grupo, mas reivin-
dica e está preparado para defender aquilo que crê serem seus direitos 
razoáveis.
Com base nesta filosofia prática, decidir qual comportamento é 
adequado a circunstâncias especiais é geralmente uma questão simples. 
Apesar de que a maior parte do comportamento resultante seria aceitável 
para pessoas de diversas formações e crenças religiosas, há ocasiões em 
que surgiriam discordâncias. Por exemplo, se uma infelicidade crônica
INTRODUÇÃO 27
resultar de um casamento insatisfatório e todos os esforços para retificar 
a situação tiverem falhado, é razoável e humano aconselhar o paciente 
ao divórcio, uma vez que o valor de um matrimônio deve ser medido 
somente em termos de felicidade humana. O casamento não é uma enti-
dade sagrada a ser preservada apenas pelo seu próprio bem. Da mesma 
forma, é justificável atacar com elementos racionais as crenças religiosas 
do paciente, se estas forem uma origem de sofrimentos. Por exemplo, 
ao descobrir que um paciente (Caso 12 , Capítulo IV) era muito afligido 
por um ponto-de-vista severo de sua igreja relativamente a uma parte de 
seu comportamento, os fundamentos do julgamento da igreja foram 
questionados, e foi dado ao paciente uma cópia do esplêndido livro de 
Wilwood Reade, The Martyrdom of Man (18 72). Embora ter sido de 
in ício perturbado por.suas críticas à religião, ele posteriormente teve 
um sentimento de alívio. Sua perspectiva mais racional não foi apenas 
uma boa coisa em si, mas também facilitou procedimentos psicoterapêu- 
ticos que eventualmente encontraram sucesso abçoluto.
Adotando esta linha de ação positiva, é vital que o terapeuta não 
confunda os diferentes aspectos. Ele deve ser capaz de distingüir as 
decisões técnicas das morais, e superar os dogmas de seu próprio código 
moral das necessidades morais do paciente. London (1964) resume as 
questões como se segue, no decurso de uma discussão de amplo 
alcance:
No mesmo nível de abstração, é provavelmente correto declarar 
que cada aspecto da psicoterapia pressupõe alguma doutrina moral 
implícita; mas não é necessário procurar este nível de forma a dizer 
porque é importante aos terapeutas reconhecerem as concomitâncias 
morais dos problemas do paciente e a posição moral subentendida 
em algumas de suas soluções. Alguns problemas são inevitavelmente 
morais, tanto do ponto-de-vista do cliente como do terapeuta, 
e alguns podem ser encarados como estratégicas ou técnicos, e 
tratados sem referência a sistemas particulares de valores. Num 
caso, o terapeuta deve cumprir uma ação moral para poder operar, 
ao passo que em outro ele poderá se limitar à ajuda imparcial ou à 
função contratual a que ele é geralmente identificado. Mas se ele 
não souber a diferença, então os seus próprios compromissos morais 
poderão influenciar de forma que tente, quer queira quer não, 
moldar os homens pela sua própria imagem, ou as suas ações técnicas 
poderão conter posições morais que ele próprio poderá abo 
minar. 2
28 PR Á TICA DA TER A P IA COM PORTAMENTAL
As nossas discussões sobre os aspectos morais da psicoterapia não 
podem ser concluídas sem uma referência de uma objeção à terapia com- 
portamental freqüentemente trazida à baila em conferências e seminários. 
A queixa é a de que o terapeuta comportamentalassume uma espécie 
de onipotência, exigindo do seu paciente a completa aquiescência aos seus 
métodos que, se sentidos, despojam o paciente de sua dignidade humana. 
A verdade é que o grau de aquiescência necessário é igual ao de qualquer 
outro ramo da medicina. Os pacientes com pneumonia estão sempre 
dispostos a fazer aquilo que o médico prescreve, porque ele é um perito. 
É o mesmo caso quando a psicoterapia é o tratamento necessário.
NOTAS
(1) Generosas facilidades de laboratório e assistência técnica foram fornecidas pelo 
Dr. James M. Watt, Professor de Farmacologia da Escola de Medicina da 
Universidade de Witwatersrand. Felizmente, naquela época o Dr. Leo J. Reyna 
fora nomeado para o Departamento de Psicologia da Universidade. Ele foi 
extremamente útil resolvendo os problemas conceituais e práticos envolvidos 
nos experimentos.
(2) London, P. (1964) The Modes and Morals o f Psychotherapy. New York: 
Holt, Rinehart and Winston.
Fundamentos 
e Finalidades
capítulo 2
ESTÍMULOS E RESPOSTAS
O complexo comportamento humano, cujas desordens e improprie- 
dades concernem ao psiquiatra, é uma questão de seqüências de estímulo- 
-resposta mediadas pelo sistema nervoso. Uma resposta é um evento 
comportamental. Um estímulo é um antecedente de um ^ resposta. Um 
estímulo sensorial é uma fonte de energia extrínseca que produz a ativação 
de um nervo aferente. Cada membro de uma seqüência de respostas é um 
estímulo em relação às respostas que o seguem. Um movimento é, por-
tanto, uma resposta em relação aos impulsos nervosos que levaram a ele 
e ao estímulo sensorial que poderá ter sido o estímulo deles. (Para mais 
detalhes, vide Wolpe, 1958, pags. 3-6).
Para clareza de expressão, é freqüentemente útil descrever as seqüên-
cias comportamentais em termos de cadeias de neurônios avulsas, e de 
estímulos e respostas distintos. Mas, até o mais simples reflexo envolve 
a ativação de milhares de neurônios. Cada estímulo sensorial leva a uma 
multiplicidade de conseqüências neurônicas que culminam em várias 
combinações de respostas motoras, autônomas e perceptivas, e cada 
resposta tem por sua vez caráteres estimuladores que produzem outras 
respostas — os estímulos produzidos pelas respostas de Hull (1943). 
A figura 1 tem fim de fornecer uma impressão geral da rede relações de 
estímulo-resposta simultâneas e sucessivas, que ocorrem incessantemente
30 PR Á TICA DA TER A P IA COMPORTAM ENTAL
Estímulos Respostas Respostas produzidos 
pelas respostas Respostas
X X
EXTE ROCEPTI VOS 
(estímulos visuais,, 
sonoros, olfativos 
e táteis
ENDÖGENO
VISCERAL 
(e.g. estímulos 
produzidos pelas 
respostas 
autônomas).
IMAGI-
NAL
MOTORAS -
AUTÔNOMAS-
PROPRIACEPTI VOS
VISCERAL
— e outros possíveis 
elementos da emoção
IMAGINAL-
IMAGI-
NAL
Fig. 1. Diagrama das relações sucessivas e simultâneas entre estímulos e respostas. 
(Cortesia de Graphic Communications, Eastern Pennsylvania Psychiatric Institute, 
Philadelphia.)
durante a vida ativa do organismo. No ser humano, um estímulo extero- 
ceptivo, seja um simples jacto de luz ou a visão de uma mulher bonita, 
produz um complexo de respostas perceptivas, autônomas e motoras. 
A resposta motora não apenas produz estímulos proprioceptivos como 
poderá, através da mudança da posição da pessoa no espaço, levar à apre-
sentação de um aspecto diferente do objeto de onde o estímulo visual 
veio originalmente. A resposta autônoma também tem efeitos que 
produzem novos estímulos interoceptivos. Da mesma forma, a imagem 
do objeto estimulador leva a outras imagens e respostas autônomas e 
motoras, todas’de acordo com o que foi ligado pela aprendizagem prévia. 
Todas as respostas que acontecem simultaneamente interagem entre si 
e são mutuamente modificadas.
Apesar de sua complexidade, há uma grande repetição do compor-
tamento de um organismo a uma determinada situação estimuladora 
dentro de um certo alcance de condições fisiológicas. A constância em pí-
rica de um relacionamento de estí mu lo-resposta é o que nós chamamos 
de um hábito. Os hábitos são de diversos tipos, abrangendo desde aqueles 
consistentes de simples movimentos em resposta .a um estímulo, àqueles 
que resultam da aprendizagem de estruturas (por exemplo, uma estrutura 
para ouvir ou olhar, ou uma estrutura para imitar). Bandura (1969) for-
FUNDAMENTOS E FIN A LID A D ES 3 1
neceu uma excelente exposição das complexidades envolvidas no desenvol-
vimento de muitos hábitos sociais. Nós procuramos mudar esses hábitos 
quando verificamos que eles não promovem o bem-estar do organismo.
P R IN C ÍP IO S B Á SIC O S D A A P R E N D IZ A G E M
Uma vez que a terapia comportamental consiste em aplicações de 
princípios de aprendizagem experimentalmente estabelecidos, com o 
propósito de superar os hábitos impróprios, procuraremos examinar os 
princípios essenciais utilizados: contracondicionamento, reforço e
extinção.
1. Contracondicionamento
Contracondicionamento é o princípio mais amplamente usado no 
tratamento de neuroses humanas. Suas potencialidades tornaram-se evi-
dentes por seu sucesso no tratamento de neuroses experimentais em 
animais.
Uma neurose experimental pode ser produzida eliciando-se1 ansie-
dade em grande intensidade num animal, num ambiente restrito. Quando 
eliciada repetidamente, a ansiedade passa a ser fortemente condicionada 
aos estímulos desse ambiente. A restrição de espaço permite que o condi-
cionamento seja confinado a um número relativamente pequeno de estí-
mulos, ao invés destes serem difusos. Para eliciar a ansiedade elevada 
necessária, pode-se usar uma forte estimulação desagradável, ou então, 
uma estimulação ambivalente — a excitação de poderosas tendências 
de ação opostas, cõmo comer e não comer (Pavlov, 1927). Nas experiên-
cias citadas no Capítulo 1 (Wolpe, 19 52, 1958) utilizou-se uma gaiola de 
100 cm de comprimento por 50 cm de largura e 50 cm de altura. Para 
se produzir neuroses experimentais em gatos, permitia-se a um animal 
em particular que se acostumasse à gaiola e, então, um choque elétrico 
altamente perturbador, embora fisicamente inofensivo, de dois segundos 
de duração, era transmitido aos seus pés, através de uma grade no soalho 
da gaiola. O animal arrastou-se com dificuldade pela gaiola, bramiu, 
e apresentou respostas autônomas como dilatação das pupilas, erecção 
dos pelos, e respiração acelerada. Porém, quando o choque foi repetido 
/.diversas vezes, o complexo de respostas persistiu, numa força crescente, 
entre os choques. Os estímulos do ambiente tinham adquirido o poder 
de eliciar as respostas do choque. Daí em diante, o mesmo comportamento
3 2 PRÁ TICA DA TER A P IA COM PORTAMENTAL
agitado aparecia sempre que o animal era colocado na gaiola experimental. 
Isto não demonstrou nenhuma tendência à extinção, fosse o gato posto 
na gaiola dia após dia, ou fosse ele afastado dela durante semanas ou 
meses. Ao mesmo tempo, houve inibições notáveis da função adaptativa. 
Se o gato ficasse sem comer durante 48 horas e fosse colocado na gaiola 
experimental, em cujo soalho eram atirados pedaços de carne fresca, 
ele não comeria essa carne, mesmo que permanecesse ali durante muitas 
horas. Houve também uma generalização de estímulo. O animal ficava 
bastante ansioso no chão do laboratório experimental e menos nas outras 
salas, conforme sua semelhança com o laboratório.
Podemos notar, de passagem, algumas semelhanças entre as neuroses 
experimentais e as humanas. As últimas, também, são persistentes e 
exibem generalização; ao passo que uma severa inibição de comer é apenas 
ocasiónalmente encontrada, as interferências com outras funções adapta- 
tivas são bastante comuns. Uma pessoa será incapaz de trabalhar se uma 
agorafobia a mantiver em casa, ou se uma claustrofobia tornar seu escri-
tório intolerável. Os temores às pessoaspoderão prejudicar sua vida social; 
e as ansiedades relacionadas com os estímulos sexuais poderão causar 
inadaptações sexuais: impotência ou frigidez.
Em virtude da ansiedade ter inibido a alimentação tão decisivamente 
nos gatos neuróticos, pareceu razoável pensar que se a comida fosse 
oferecida em circunstâncias em que a ansiedade fosse muito mais fraca, 
a alimentação poderia ocorrer e a ansiedade seria inibida. Foi possível 
experimentar esta idéia nas diversas salas mencionadas acima, às quais 
a ansiedade se tinha generalizado. Ofereceu-se comida ao animal nessas 
salas, em ordem decrescente de semelhança com o laboratório experi-
mental. Poder-se-ia sempre encontrar uma sala onde o animal comeria 
apesar de demonstrar alguma ansiedade. Ao ali comer um certo número 
de pedaços de carne, sua ansiedade naquela sala desapareceria completa-
mente, e então aceitaria comida numa sala mais semelhante ao laboratório 
experimental. Procedendo sistematicamente de sala para sala, tornou-se 
possível conseguif que o animal comesse na gaiola experimental e, even-
tualmente, superar inteiramente as respostas de ansiedade que ali tinham 
sido anteriormente tão fortemente eliciadas.
Esses experimentos levaram à formulação do princípio da inibição 
recíproca: Se uma resposta inibidora de ansiedade puder ser produzida 
na presença de estímulos eliciadores de ansiedade, ela enfraquecerá o 
vínculo entre esses estímulos e a ansiedade.
Nas neuroses humanas, um considerável número de respostas inibi- 
doras de ansiedade tem sido usado com sucesso para superar os hábitos
FUNDAMENTOS E FIN A LID A D ES 3 3
neuróticos de respostas de ansiedade. Por exemplo, as respostas afirmativas 
(Capítulo 5) são usadas para superar as ansiedades neuróticas que inibem 
a ação efetiva em direção àquelas pessoas com as quais o paciente deve 
interagir. A essência do papel do terapeuta é a de encorajar a expressão 
exterior, sob todas as circunstâncias razoáveis, de tendências de sentimento 
e ação, anteriormente inibidas pela ansiedade. Cada ato de asserção até 
certo ponto inibe reciprocanente a ansiedade concorrente e enfraquece 
ligeiramente o hábito de resposta de ansiedade. As respostas do relaxa-
mento podem trazer igualnente decréscimos sistemáticos de padrões 
de respostas de ansiedade a muitas classes de estímulos (Capítulo 7).
Há um número de maneiras de produzir a inibição da ansiedade, 
em que não é óbvio que a atividade em questão seja reciprocamente 
inibidora de ansiedade. Num desses processos, usa-se o reforço consistente 
de respostas motoras para conseguir uma inibição recíproca de resposta 
de ansiedade secundária. Outra possibilidade é a de empregar um estímulo 
elétrico brando como inibidor de ansiedade — aparentemente em função 
de uma inibição externa (Pavlov, 19 27). Então, é possível condicionar 
ym estímulo neutro à atividade de contra-ansiedade, apresentando-se 
repetidamentç esse estímulo no momento da cessação de um forte estí-
mulo elétrico; e, subseqüen:emente, o efeito de contra-ansiedade desse 
estímulo pode ser usado para inibir a ansiedade de diversas origens.
Finalmente, parece possível que a ansiedade possa ser às vezes 
inibida com uma espécie de reação "protetora” à sua eliciação forte e 
sustentada: inibição transmarginal (Pavlov, 19 27 ; Teplov, 1959). Este 
processo poderá ser muito bem a base dos efeitos da "inundação”.
O princípio de inibição recíproca também aparece para superar 
outras respostas além da ansiedade. Ele tem uma importância vital na 
reaprendizagem verbal e conceptual (cognitiva). A inibição recíproca 
de uma resposta verbal previamente aprendida por uma nova eliciada 
é a base da inibição "retroativa” : o enfraquecimento da resposta original 
(Osgood, 1946). A inibição recíproca é também a base da inibição condi-
cionada de hábitos obsessivos e compulsivos, pela terapia de aversão 
(Capítulo 11) . Um doloroso choque farádico, ou outro estímulo forte, 
inibe o comportamento indesejável, com o resultado de que uma medida 
de inibição condicionada do último é estabelecida. Novamente, no pro-
cesso de substituir um hábito motor estabelecido por um novo, a obtenção 
de uma nova resposta motora envolve uma inibição da antiga. Por exem-
plo, quando o comportamento afirmativo está sendo instigado, ao mesmo 
tempo que a expressão de sentimentos "positivos’" inibe reciprocamente 
í\ ansiedade, a nova ação motora inibe a tendência da resposta motora
34 PRÁTICA DA TER A P IA COMPORTAM ENTAL
preexistente. Para tomarmos um exemplo mais simples, se uma pessoa está 
aprendendo a dar uma jogada de "back" em tênis, girando sobre o pé 
direito, ela certamente inibe sua tendência de agir com o pé esquerdo.
2. Recondicionamento Positivo
O condicionamento de novos hábitos motores, ou da maneira de 
pensar, pode acompanhar a superação de respostas autônomas impróprias, 
como no exemplo dado há pouco. Mas, freqüentemente, os novos hábitos 
de ação ou de pensamento são necessários em contextos que não envolvem 
a ansiedade. Um exemplo disto é o tratamento de condicionamento 
da enurese noturna. Providenciando que o paciente seja despertado por 
um alarme, tão logo a primeira gota de urina seja excretada durante 
o sono, a reação do despertar é condicionada à iminência de urinar, e isto 
subseqüentemente leva ao desenvolvimento de uma inibição da tendência 
de urinar em resposta ao estímulo da bexiga durante o sono (Gwynne 
Jones, 1960, Lovibond, 1963). Um outro exemplo é o condicionamento 
de hábitos de estudo efetivos em indivíduos que têm hábitos improdutivos 
e gastam à toa o seu tempo quando deveriam estar trabalhando.
O condicionamento bem sucedido de novos hábitos sempre envolve 
o uso de 'recompensas' de uma forma ou de outra. Às vezes é suficiente 
o seu fornecimento numa base acI hoc, mas em anos recentes tem havido 
um crescente uso formal dos princípios de condicionamento operantes 
de Skinner (1953) para remover e substituir os hábitos indesejáveis. 
De forma a estabelecer um novo padrão de comportamento numa deter-
minada situação, a reação desejada deve ser emitida e freqüentemente 
recompensada, ao passo que o comportamento indesejável não é conse-
qüentemente recompensado e é inclusive punido. Por exemplo, a anorexia 
nervosa tem sido tratada com sucesso concedendo-se recompensas sociais 
como o uso de um rádio ou a concessão de companhia durante a refeição e 
retirando-se estas recompensas quando o paciente deixa de comer 
(Bachrach, Erwin e Mohr, 1965). Vários tipos de comportamentos em 
esquizofrênicos têm sido tratados pelo mesmo princípio (Lindsley, 1956, 
Williams, 1959, A yllon, 1963, Davison, 1964) e mudanças maiores e 
duradouras têm sido inclusive produzidas em pacientes hospitalizados 
há anos.
3. Extinção Experimental
Este é o enfraquecimento progressivo de um hábito através de 
não-reforços repetidos a respostas manifestas. Assim, o comportamento
FUNDAMENTOS E FIN A LID A D ES 3 5
que depende de reforço de comida torna-se progressivamente mais fraco 
se suas ocorrências não forem seguidas por comida. O mesmo geralmente 
acontece ao comportamento de esquiva, se não for reforçado por um 
choque ocasional. O desempenho, de uma resposta motora tem conseqüen- 
cias que enfraquecem seu hábito, a menos que seus efeitos sejam neutra-
lizados pelo efeitos do reforço. O mecanismo exato da extinção experi-
mental ainda não foi inequivocamente estabelecido, mas é provável que 
ele dependa, pelo menos parcialmente, do mecanismo de inibição reativa 
associada à fadiga, proposto por Hull (1943). Propus, em outra parte, 
um possível mecanismo neurofisiológico para o processo de extinção 
concebido deste modo (Wolpe, 1958, pag. 27).
As técnicas terapêuticas baseadas no mecanismo da extinção, intro-
duzidas há um quarto de século por Dunlap (1932) sob a denominação 
de "prática negativa", têm sido novamente empregadasem anos recentes 
em tratamentos de hábitos motores tais como os tiques (por exemplo, 
Yates, 1958). Em correlação com um número muito grande de tentativas 
não reforçadas, as emissões espontâneas de movimentos indesejáveis são 
progressivamente diminuídas.
A FINALIDADE DA TERAPIA COMPORTAMENTAL
O campo da terapia comportamental são os hábitos humanos impró-
prios. O terapeuta procura substituir esses hábitos por outros adaptati- 
vos. O comportamento é adaptativo quando suas conseqüências satisfazem 
as necessidades do indivíduo, trazem-lhe alívio da dor, desconforto, 
perigo, ou impedem o gasto indevido de energia (Wolpe, 1958, pag. 32). 
Os atos individuais impróprios são a ordem normal do dia de todos. 
É apenas quando determinados atos impróprios são habituais, que surge 
a necessidade para o tratamento. Quando um hábito impróprio está 
enraizado num estado orgânico de coisas, tal como uma lesão cerebral, 
o tratamento requer lidar com esse estado orgânico. Quando um hábito 
é baseado na aprendizagem, o processo de aprendizagem deve fornecer 
a chave para a mudança. Os hábitos impróprios baseados na aprendizagem 
são da alçada da terapia comportamental. Eles se dividem em cinco cate-
gorias.
1. Neuroses
Hábitos impróprios persistentes adquiridos em situações geradoras
sandra Araújo da Silva
sandra Araújo da Silva
36 PRÁ TICA DA TE R A P IA COM PORTAM ENTAL
de ansiedade e nas quais as respostas de ansiedade são quase que invaria-
velmente um aspecto central (Wolpe, 1958).
2. Qutros hábitos impróprios aprendidos
Estes são hábitos impróprios sem os fatores de ansiedade que carac-
terizam as neuroses. Exemplos: alguns maus humores, o ato de morder 
as unhas, e a enurese noturna.
3. Comportamentos impróprios aprendidos em esquizofrênicos
Embora a esquizofrenia, como agora está claro, seja basicamente 
uma doença biológica (Wolpe, 1970), muitos hábitos que os pacientes 
apresentam são devidos à aprendizagem.
4. Personalidade psicopática
Este diagnóstico é aplicado a pessoas que possuem habitualmente 
um comportamento anti-social do qual não sentem qualquer culpa ou 
outra ansiedade, de forma que as censuras e punições da sociedade têm 
pouca influência restringente. Enquanto, possivelmente, um fator bioló-
gico predispõe ao desenvolvimento do comportamento psicopático, os 
hábitos em particular são presumivelmente aprendidos e devem ser sujeitos 
a desaprendizagem. Contudo, muito pouco trabalho terapêutico foi 
feito até hoje.
5. Vício em drogas
Uma pessoa poderá tomar habitualmente uma droga para aliviar a 
dor, ansiedade, ou outra tensão. Se o hábito de tomar drogas continuar 
após a cessação da tensão, temos o vício em drogas. O vício é caracteri-
zado por "desejos" que compelem a pessoa a procurar a droga. Sob um 
desejo há um estado biológico cuja natureza não é conhecida, e que torna 
o hábitó em drogas diferente de outras categorias de hábitos impróprios. 
Por não sabermos melhor, a modificação comportamental geralmente tem 
sido até agora dirigida no sentido de dim inuir a atração do paciente pela 
droga (terapia de aversão). Isto só pode ser considerado como um substi-
tutivo.
Como Taylor (1959) epitomou a questão: "Se conhecêssemos 
o mecanismo dos hábitos em drogas, poderíamos ser capazes de recuperar
FUNDAMENTOS E FIN A LID A D ES 37
o alcoólatra ao ponto dele ser capaz de tomar um aperitivo como qualquer 
outra pessoa."
É quanto às neuroses que as técnicas da terapia comportamental 
têm sido mais amplamente aplicadas. Uma vez que a ansiedade é geral-
mente um componente central de hábitos neuróticos, o descondiciona- 
mento da ansiedade forma seu núcleo de tratamento. A centralidade da 
ansiedade é muitas vezes evidente. Muitos pacientes se apresentam com 
ansiedade contínua, ou em resposta a determinadas situações. Outros, 
contudo, não fazem nenhuma referência inicial quanto à ansiedade, 
mas se queixam de impotência, frigidez, obsessões e compulsões, desvios 
sexuais, gagueira, cleptomania, voyeurismo, e outras coisas. Mas a investi-
gação cuidadosa essencial à boa terapia comportamental demonstra em 
quase todos os casos que a ansiedade está por trás dessas queixas; que 
a impotência ou frigidez resulta de temores condicionados de aspectos 
da situação sexual; que uma obsessão é baseada num temor a germes ou 
qualquer outro agente "pernicioso" (vide Caso 30); que a gagueira e o 
fato de corar são a conseqüência de respostas de ansiedade eliciadas 
em situações sociais e assim por diante. A necessidade terapêutica é o 
descondicionamento da ansiedade, não menos do que se a ansiedade fosse 
notória desde o início.
NOTAS
(1) A ansiedade é definida como um padrão característico de respostas autônomas 
do organismo de um indivíduo à estimulação nociva. Como resultado do 
condicionamento, muitas sugestões à ansiedade condicionada são estabelecidas.
O primeiro passo, ao investigar um caso para a terapia compor- 
tamental, é, necessariamente, a tomada de um cuidadoso histórico clín ico. 
Isto é claramente semelhante ao histórico que pode ser tomado por qual-
quer clín ico consciencioso, mas_ a orientação comportamental leva em 
conta as diferenças quanto à direção e a maneira de questionar. Os aspec-
tos especiais podem ser mais eficazmente comunicados ao leitor pelas 
transcrições dadas mais adiante neste capítulo nas entrevistas iniciais 
dos Casos 1 e 2, que por qualquer descrição.
AS RELAÇÕES ESTÍMULO-RESPOSTA DA APRESENTAÇÃO DE 
QUEIXAS
Tendo obtido do paciente os detalhes pessoais básicos como o 
nome, endereço, número do telefone, idade e profissão, o terapeuta 
imediatamente procede no sentido de explorar as reações neuróticas 
do paciente. As circunstâncias que envolvem o princípio de cada uma 
dessas reações são meticulosamente exploradas, na esperança de.se obter 
um retrato coerente de seus determinantes originais. No caso de um 
hábito de resposta de ansiedade, tal como temor às alturas ou de ser 
foco de atenção, tentamos estabelecer ambas as circunstâncias nas quais
Investigando 
o caso: relações
t
estímulo-resposta
capítulo 3
R ELA ÇÕ ES ESTIM ULO-RESPOSTA 39
isto foi condicionado, e quais contingências posteriores poderão ter 
modificado sua forma, e levado a sua 'difusão' a outros estímulos pelo 
condicionamento secundário. O histórico do condicionamento de cada 
hábito de ansiedade é investigado fundamentalmente da mesma maneira.
A informação histórica proporciona uma base para passos subse-
qüentes. Isto dá pelo menos ao terapeuta uma perspectiva do caso, mas 
poderá também proporcionar importantes indícios quanto às relações 
de estímulo-resposta atualmente importantes. Essas relações atuais serão, 
naturalmente, o foco da terapia. Portanto, é necessário dar o mais intenso 
escrutínio a elas. Se o paciente ficar ansioso em situações sociais, será 
necessário descobrir exatamente que aspectos dessas situações o pertur-
bam. Ele poderá ter uma reação de ansiedade condicionada de ser obser-
vado, que aumenta com o número de pessoas que o olham; ou a reação 
poderá depender do grau de exigência do desempenho verbal que a 
situação parece sustentar; ou o grupo social poderá impor-lhe um senti-
mento de temor por não ser capaz de escapar. A identificação dos ante-
cedentes estimuladores de respostas, indispensável à terapia comporta- 
mental eficaz, depende principalmente de um interrogatório preciso 
(vide Casos 1, 2 e 3).
A incumbência da análise de estímulo-resposta é sempre mais com-
plicada quando há a apresentação de outra queixa que não a ansiedade 
como por exemplo uma gagueira, uma compulsão, ou uma moléstia 
como a asma. Nos casos de asma e outras supostas condições "psicosso-
máticas” poderá haver a questão preliminar de uma etiologia puramente 
orgânica. Além desse tipo de possibilidade, todas apresentações de queixas 
são geralmente conseqüênciasde respostas neuróticas de ansiedade. Por-
tanto, a primeira questão é se o paciente possui ou não a ansiedade neu-
rótica. Se ele a possuir, precisaremos saber se há alguma correlação entre 
a ansiedade e a gagueira, compulsão, ou ataque asmático. Geralmente, 
a correlação é bastante clara e direta. Por exemplo, poder-se-á verificar 
que uma gagueira aumenta em função da intensidade da ansiedade sentida 
que, por sua vez, depende da identidade, número e atitudes das pessoas 
na presença do paciente. Porém, especialmente em alguns casos psicosso-
máticos, a correlação poderá ser d ifíc il de descobrir. Um exemplo notório 
disto foi um caso de asma que vi há diversos anos atrás, no qual o fato 
de que o ataque acontecia regularmente quatro horas após cada aconte-
cimento exaustivo, tornou-se aparente depois que o paciente manteve 
um diário de hora em hora durante diversas semanas.
A Tabela 1 demonstra algumas das conseqüências da ansiedade 
neurótica. 0 descondicionamento da ansiedade subjacente geralmente
40 P R Á T IC A D A T E R A P IA C O M PO R T A M E N T A L
Tabela 1 — Conseqüências da ansiedade neurótica
Mecanismo de conseqüência Manifestação
a) Autônom o
1. Hiperventilação
2. Inibição protetora 
H h W U A'? / «s^-^Hiprrotizado) quando a ansiedade
' é muito prolongada e intensa
3. Descargas autônomas especialmen 
te canalizadas a um sistema orgâ 
nico
Efeitos somáticos transitórios como:
(a) Tonturas
(b) Desmaios
(c) Parestesias
(d) Dores de cabeça
(e) Taquicardia
Depressão
Sintomas psicossomáticos como:
(a) Neurodermatite
(b) Asma
(c) Rinite vasomotora
(d) Ulceração péptica e sfndromede úlce 
ra péptica
(e) Cólon espástico
(f) Micturação freqüente
(g) Dismenorréia
(h) Hipertensão
(i) Enxaqueca
b) Motores
1. Tensão muscular proeminente, ge 
ral ou local
2. Condicionamento de esquiva mo 
tora (pode ser condicionada simul 
taneamente com a ansiedade, ou 
secundariamente a ela)
3. Comportamento motor complexo 
condicionado por suas*conseqüên- 
cias de redução de ansiedade
Distúrbios motores como:
(a) Tremor
(b) Gagueira
(c) Dor 'fibrosftica' como dores nas 
costas
(d) Disquinesia ocular
Esquiva a estímulos eliciadores de ansie 
dade
3.
Compulsão
"Neurose de caráter" como:
(a) Promiscuidade
(b) Ausência de objetivos
(a) Desvios sexuais, (como homosse 
xualidade, pedofilia)
(b) Exibicionismo
(c) Voyeurismo
(d) Promiscuidade
(Continua. . .)
RELAÇÕ ES ESTIM ULO-RESPOSTA 41
Tabeia 1 — (Continuação)
M ecanism o de efeito secundário Manifestação
4. Ansiedade interferindo com o fun-
cionamento complexo
1. Incapacidade para o trabalho ou capa-
cidade de trabalho diminuída
2. Capacidade diminuída para a inte-
ração social (ansiedade em contextos 
sociais)
3. Função sexual diminuída (impotência 
ou frigidez)
c) Cognitivo
1. Distração cognitiva devida a estí-
mulos produzidos por resposta de 
ansiedade
Amnésia devida ao "não-registro" de 
estímulos extrínsecos
2. Distorção cognitiva Comportamento paranóide e relaciona-
dos
põe um fim a essas conseqüências. À exceção de casos raros de histeria 
clássica com /a belle indifference, existem poucas neuroses que podem 
ser superadas sem a eliminação da ansiedade (vide Capítulo X II) .
Uma vez que, quase universalmente, a ansiedade é um componente 
proeminente de respostas neuróticas e uma vez que a ansiedade é servida 
por um nível primitivo (subcortical) da organização neural, a sua desapren-
Fig. 2. A cobra inofensiva (S j) produz a resposta perceptual (rS i) que poderia con-
duzir as respostas moleculares à ansiedade (ra ), tanto imediatamente como por 
intermédio do conceito de "perigo" condicionado (/‘Sj). (Cortesia de Graphic 
Communications, Eastern Pennsylvania Psychiatric Institute, Filadélfia.)
4 2 PR Á TICA DA TE R A P IA COM PORTAMENTAL
dizagem só pode ser obtida através de processos que envolvam esse nível 
primitivo. A ansiedade neurótica não pode ser superada puramente pela 
ação intelectual — argumentos lógicos, introspecção racional — exceto 
no caso especial em que a ansiedade neurótica dependa de uma concepção 
errônea — uma "equação errônea" conceptual.
Consideremos uma pessoa que tem medo de cobras inofensivas. 
Quando a cobra (S ^ entra em sua linha de visão, produz efeitos neurais 
que produzem uma percepção (imagem) da cobra (rSj) dentro dela 
(Taylor, 1962) e, finalmente, o processo eferente demonstrado como 
re leva a um padrão de ansiedade e respostas de esquiva (Re). Ha~ dois 
caminhos através dos quais este rS j pode conduzir a R e. A percepção da 
cobra poderá eliciar uma imagem secundária de perigo ou morte (rS2) à 
qual as respostas de ansiedade e esquiva já foram condicionadas em quase 
todo mundo. O hábito de resposta de ansiedade seria eliminado quebran-
do-se a conexão entre rS j e rS2. Aqui teríamos a eliminação de uma 
associação entre duas idéias: o rompimento de um hábito "cognitivo". 
Isto é tecnicamente o que fazemos ao "corrigirmos concepções errôneas" 
(Wolpe, 19 58, p. 199).
Para ilustrar o que foi dito,com referência a um caso clínico comum: 
um homem queixa-se de ansiedade cada vez que sente uma dor no lado 
esquerdo de seu tórax. O estímulo real de sua dor poderá ser uma pressão 
no diafragma devido a uma distensão gasosa do estômago ou intestinos. 
Mas a dor conjura imagens eliciadoras de medo que transmitem a mensa-
gem: "Estou tendo um ataque de coração: Eu vou morrer." Uma vez 
que não é tão desarrazoado que se fique angustiado com o pensamento 
de uma morte iminente, a ação terapêutica não será dirigida a esse hábito 
emocional de resposta, e sim ao rompimento da associação errônea e 
imprópria entre a percepção da dor no tórax e o pensamento da 
morte.
A outra possibilidade é a de que a percepção (rS J , imediatamente 
e sem qualquer outro intermediário cognitivo, elicia a resposta de ansie-
dade porque ela foi diretamente condicionada para fazê-lo. Nesse caso, 
nenhuma operação no nível "cognitivo" será de qualquer utilidade para 
superar o temor a cobras inofensivas. Será necessário obter o recondicio- 
namento direto do hábito emocional a essa percepção. Na grande maioria 
dos casos de neurose, essa é a tarefa com a qual nos defrontamos. Mas, 
muitas vezes, ambos os tipos de operações são necessários — o paciente 
tendo tanto uma concepção errônea das implicações do objeto percebido 
quanto uma resposta autônoma irracional de ansiedade relativamente 
a este.
RELA ÇÕ ES ESTIM ULO-RESPOSTA 4 3
Quando o paciente apresentando tais reações tiver sido suficiente-
mente investigado, o terapeuta extrai os fatos básicos de sua vida passada 
e presente. O primeiro tópico recai sobre os primeiros anos de vida em 
fam ília do paciente. É-lhe perguntado qual a sua situação entre as crianças 
da fam ília, e quantos anos os separam um dos outros. Que tipo de pessoa 
o seu pai lhe parecia? Demonstrava ele interesse especial, castigava e, em 
caso positivo, parecia-lhe justo ou não? O pai ainda vive? Caso contrário, 
como ele morreu, e qual foi o efeito de sua morte sobre o paciente? 
As mesmas perguntas são feitas com relação à mãe. Como era o relacio-
namento entre os pais? Existiam outros adultos importantes nos primeiros 
anos da vida doméstica do paciente? Como eram eles e qual era a sua 
influência sobre o paciente? Como era seu relacionamento com os irmãos? 
Quão importante foi seu treinamento religioso, e quanta influência a 
religião conserva sobre si? Existiram quaisquer temores de infância ou 
hábitos nervosos?
O próximo grupo de perguntas relaciona-se à educação do paciente. 
Gostou ele da escola? Caso positivo, de que ele gostou; caso contrário, 
por que motivo? Como foi na vida acadêmica? Participou de esportes, 
e quão bom era neles? Fez amizades e foram algumas íntimas? Existiram 
quaisquer pessoas, sejam professores ou estudantes,

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