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Aula-Teoria da dominação

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ORIGENS - Poder do Estado - de organização política. Poder é força.
Trata-se de um poder soberano, que tem as seguintes características: 1) não subordinação; poder uno; 3) indivisível; 4) indissolúvel; 5) permanente; 6) irrevogável e 7) indelegável.
Só a União, ou seja, o Estado Brasileiro goza de soberania, enquanto que os Estados-membros, como São Paulo e Paraná, gozam de outras características: a) subordinação; b) limitação; c) temporariedade e d) divisibilidade. 
Onde e como o Estado recebe Poder?
Poder é uma possibilidade de impor uma vontade numa realidade social, mesmo enfrentando resistência.
Dentro de um território, o Estado impõe sua vontade.
Foi à fixação do homem no solo que ensejou a consolidação do Estado. 
Se as comunidades primitivas apresentam dois elementos característicos, quais sejam, as pessoas e o poder, será a base física que vai delinear, definitivamente, o Estado. Este elemento territorial configura-se, com efeito, em três elementos formados: povo(elemento humano, que tem nacionalidade) e poder político soberano (poder de Revolução, Poder Constituinte), como elementos essenciais, e a base física, como elemento contingente�, embora alguns autores falem de sentimento nacional.
CAUSAS FORMAIS = Poder político
Poder é a capacidade de impor obediência. A palavra tem origem no latim arcaico “potis esse”, contraída em posse e, daí potere. Poder, então, é possibilidade, é potência, potencialidade para realização de algo. O Juiz, por exemplo, tem o poder de julgar, a competência sobre determinado conflito.
Mas, o poder também é a realização de algo, é potência. O juiz tem competência. Mas, o poder é, ao mesmo tempo, a força a serviço de uma idéia. Georges Burdeau, em sua obra Método de la ciência política, diz:
“O poder é uma força a serviço de uma idéia. Trata-se de uma força nascida na vontade social preponderante, destinada a dirigir a comunidade a uma ordem social que considera benéfica, bem como impor aos seus integrantes o comportamento necessário para tanto.
Nesta definição se destacam dois elementos: força e idéia se interpenetram estreitamente. Parece-nos, portanto, que ela apresenta uma idéia exata da realidade.
Poder é a capacidade de se fazer obedecer, ou seja, o poder público nada mais é do que a capacidade de se fazer obedecer exercida pelo Estado.
A força é inerente ao poder. A possibilidade de sua aplicação efetiva chama-se coercibilidade. A coerção é o emprego efetivo da força inerente ao poder.
Vis materialis ou corporalis – emprego da força (coação).
Vis compulsiva – a simples expectativa do emprego da força.
Poder é potência, enquanto que o governo é ação. Quem exerce ativamente ativa o poder, governa. Governar quer dizer conduzir, dirigir, administrar. Por isso, é comum denominarmos os chefes do Poder Executivo de “governantes”, em especial aqueles do Estadual, os governadores.
Os governantes são encarnação do poder. 
Embora essencialmente sustentado pela força, o poder público somente se legitima quando seu exercício é consentido por aqueles que lhe obedecem. O poder repousa na consciência coletiva existente no grupo social.
Autoridade – latim auctoris, deriva do verbo augere, que significa aumentar. Vale dizer. Algo que se acrescenta, contigencialmente, ao poder. Autoridade é a possibilidade de suscitar a obediência espontânea e consciente, sem recurso à força, à coerção.
ORIGENS DO PODER POLÍTICO
Para estudarmos as origens do poder político e do Estado, uma importante lição vem de Max Webber, em “Economia e Sociedade”, que aborda o motivo das pessoas obedecerem ao poder político. Inicialmente, o autor do clássico “A ética protestante e o espírito do capitalismo” define o que seja poder e depois fala sobre a teoria da dominação.
Breve histórico de Max Webber.Nascido na cidade de Erfurt, numa família de burgueses liberais, Webber desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e sociologia. Iniciou sua carreira de professor em Berlim e, em 1895, foi catedrático na Universidade de Heidelberg. Manteve contato com os principais intelectuais da época: Simmel Sombart, Tönnies e Georg Lukács.
Na parte que mais nos interessa como operadores do direito, tomou parte da comissão redatora da Constituição da República de Weimar, que teve a presença marcante de Hans Kelsen, na qual trabalhou pela implementação dos direitos sociais, trabalhistas e previdenciários, todos prestacionais, que marcam a segunda geração preconizada por Bobbio e que enfrenta o modelo liberal�. 
As suas obras são: “Artigos reunidos de teoria da ciência”; “Economia e sociedade” (postuma) e “A ética protestante e o espírito do capitalismo”.
Ao contrário da corrente positivista liderada por Kelsen, Max Weber dava real importância à história no estudo sociológico. 
Para os positivistas como Kelsen, a história é um processo universal de evolução da humanidade, cujos estágios o cientista pode perceber pelo método comparativo. A história particular de cada sociedade desaparece diluída na lei geral que os pensadores positivistas tentam construir. Fazendo desaparecer, portanto, as particularidades históricas.
No positivismo de Kelsen, surge a polêmica e hoje ultrapassada escola jurídica que tem como base o direito positivo, ou seja, àquele posto na lei. Opõe-se ao jusnaturalismo, ou direito natural�, e ainda possibilita a instalação do nazismo na Alemanha. 
Kelsen se refere simplesmente à figura do Estado como dominação. Para este autor
“Considera-se a dominação legítima apenas se ocorrer em concordância com uma ordem jurídica cuja validade é pressuposta pelos indivíduos atuantes; e essa ordem é a ordem jurídica da comunidade cujo órgão é o “governante do Estado”. A dominação que tem, sociologicamente, o caráter de “Estado” apresenta-se como criação e execução de uma ordem jurídica, ou seja, uma dominação interpretada como tal pelos governantes e governados.
Max Webber, por sua vez, não concorda com o positivismo e vai no sentido contrário: “o poder define-se como toda a probabilidade de impor vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade. Nestes termos, o conceito de poder é sociologicamente amorfo, pois todas as qualidades imagináveis de uma pessoa e todas as espécies de constelações possíveis podem colocar alguém em condições de impor sua vontade, numa dada situação”.
Por isso, o conceito sociológico de dominação deve ser mais preciso� e só pode significar probabilidade de encontrar obediência a uma ordem. 
O poder da organização estatal diferencia-se de qualquer outro pela espécie de coação que aplica, bem como pela específica relação de dominação com o território: as decisões adotadas pelos órgãos estatais capacitados possuem obrigatoriedade geral para todos os habitantes do território, mesmo aqueles que não sejam juridicamente considerados membros da organização estatal�. 
O Estado distinguindo-se, também, de todos os outros grupos territoriais por seu caráter de unidade soberana de ação e decisão.
O Estado sobrepõe-se a todas as demais unidades de poder existentes em seu território pelo fato de os órgãos capacitados poderem reclamar, com êxito, a aplicação por eles exclusivamente reservada do poder físico coativo, e, ainda, porque estão em condições de executar suas decisões, inclusive através do poder coercitivo estatal atualizado de maneira unitária (Heller, 1968: p. 281 e ss). 
Ao poder do Estado, outorgado pelos indivíduos que compõem a sociedade, aderem qualidades fundamentais: 
a imperatividade e a natureza integrativa do poder estatal:
a capacidade de auto-organização;
a unidade e indivisibilidade do poder
soberania
princípios de legalidade e legitimidade�. 
Weber distingue no conceito de política duas acepções, uma geral e outra restrita. No sentido mais amplo, política é entendida por ele como “qualquer tipo dê liderança independente em ação”.No sentidorestrito, política seria liderança dê um tipo dê associação específica; em outras palavras, tratar-se-ia da liderança do Estado. Este, por sua vez, é defendido por Weber como“uma comunidade humana que pretende o monopólio do uso legítimo da força física dentro de determinado território". 
Definidos esses conceitos básicos, Weber é conduzido a desdobrar a natureza dos elementos essenciais quê constituem o Estado e assim chega ao conceito dê autoridade e também dê legitimidade. Para que um Estado exista, diz Weber, é necessário que um conjunto dê pessoas (toda a sua população) obedeça à autoridade alegada pêlos detentores do poder no referido Estado. Por outro lado, para que os dominados obedeçam é necessário que os detentores do poder possuam uma autoridade reconhecida como legítima. 
A autoridade pode ser distinguida segundo três tipos básicos: a racional-legal, a tradicional e a carismática. Esses três tipos de autoridade correspondem a três tipos de legitimidade: a racional, a puramente afetiva e a utilitarista. O tipo racional-legal tem como fundamento a dominação em virtude da crença na validade do estatuto legal e da competência funcional, baseada, por sua vez, em regras racionalmente criadas. A autoridade desse tipo mantém-se, assim, segundo uma ordem impessoal e universalista, e os limites de seus poderes são determinados pelas esferas de competência, defendidas pela própria ordem. Quando a autoridade racional-legal envolve um corpo administrativo organizado, toma a forma dê estrutura burocrática analisada por Weber.
Os tipos puros de dominação legítima:
Caráter tradicional – baseada na crença cotidiana, na santidade das tradições vigentes para sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições, representam a autoridade. É a dominação tradicional.
 O tipo mais puro desta manifestação de poder é a autoridade patriarcal, em que o governante é o senhor, o governado é o súdito (sob o dito da lei) e o funcionário, o servidor. É peculiar das monarquias, independente da legalidade formal. 
É típico do mandarim chinês ou imperador japonês. As pessoas obedecem porque estão acostumadas. Existe um culto às virtudes.
Existe o patrionalismo, com uma confusão generalizada entre os bens públicos e o do particular e existe ainda o clientelismo, que é a troca de apoio por bens dos mais diversos, de comida a dinheiro.
A autoridade tradicional é imposta por procedimentos considerados legítimos porquê sempre teria existido, e é aceita em nome de uma tradição reconhecida como válida. 
O exercício da autoridade nos Estados desse tipo é definido por um sistema dê status, cujos poderes são determinados, em primeiro lugar, por prescrições concretas da ordem tradicional ê, em segundo lugar, pela autoridade dê outras pessoas que estão acima dê um status particular no sistema hierárquico estabelecido.
 Os poderes são também determinados pela existência dê uma esfera arbitrária de graça, aberta a critérios variados, como os de razão de Estado, justiça substantiva, considerações dê utilidade e outros. Ponto importante é a inexistência de separação nítida entre a esfera da autoridade e a competência privada do indivíduo, fora de sua autoridade. Seu status é total, na medida em que seus vários papéis estão muito mais integrados do que no caso de um ofício no Estado racional-legal. 
Em relação ao tipo de autoridade tradicional, Weber apresenta uma subclassificação em termos do desenvolvimento e do papel do corpo administrativo: gerontocracia e patriarcalismo, que para este estudo não são importantes. Ambos são tipos em que nem um indivíduo, nem um grupo, segundo o caso, ocupam posição de autoridade independentemente do controle de um corpo administrativo, cujo status e cujas funções são tradicionalmente fixados. 
O exemplo de casamento por arranjamento ou “miai” é uma manifestação típica desse poder.
Veja o caso da Índia. A discriminação com base em castas foi abolida pela Constituição da Índia promulgada depois da independência, em 1947. Mas a instituição continua sólida e é um dos principais fatores de baixa mobilidade social do país. Vinculado ao hinduísmo, religião praticada por 85 por cento dos indianos, o sistema de catas tem uma história de 3.000 anos e resiste às tentativas oficiais de extingui-lo. Em sua origem, ele tinha quatro categorias, de acordo com a função exercida por cada um na sociedade.
No topo da pirâmide estavam os brâmanes, que eram sacerdotes ou intelectuais, criados a partir a boca do deus Brahma, segundo a mitologia hindu.
Dos braços saíram os guerreiros e governantes, chamados xátrias. Comerciantes e agricultores, os vaixás foram criados a partir das coxas de Brahma.
Por fim, dos pés nasceram os sudras, responsáveis pelo trabalho manual.
Mais tarde surgiu uma quinta categoria, os “intocáveis”, que passaram a desempenhar tarefas impuras. Esse grupo e os integrantes de uma série de tribos indianas tambem são chamados de “sem castas” e foram cerca de 24 por cento da população, eqüivalente a um número entre 240 a 300 milhões de pessoas�. Essa é uma prova cabal da força do poder tradicional, que existe nos dias atuais�.
Caráter carismático – É exercido pelos líderes populares, geralmente heróis e demagogos (fala o que o povo quer ouvir), os quais interpretam os sentimentos e aspirações do povo em detrimento do direito vigente, respaldando-se na lealdade pessoas de seus seguidores. Dilata a legitimação até onde alcance a missão do líder, na medida de seus atributos pessoais. Conserva seus tipos mais puros o caráter autoritário e imperativo.
Não se poder negar o carisma do imperador Júlio César, chamado várias vezes para salvar Roma, Napoleão Bonaparte (tomou a guarda de um soldado que estava dormindo), Juan Domingo Perón (Perón, Perón que grande sois, my general, tanto querer), Hitler, Mussolini, Joseph Stalin, Fidel Castro(e seus longos discursos), Che Guevara, Gandi, Getúlio Vargas.
É centrado no culto à pessoa e se dissolve com a morte do líder.
Os líderes carismáticos são chefes religiosos ou não que fruem do respeito social e muitas vezes de força, como o caso dos aiatolás contemporâneos.
A dominação carismática é um tipo de apelo que se opõe às bases de legitimidade da ordem estabelecida e institucionalizada. 
O líder carismático, em certo sentido, é sempre revolucionário, na medida em que se coloca em oposição consciente a algum aspecto estabelecido da sociedade em que atua. Para que se estabeleça uma autoridade desse tipo, é necessário que o apelo do líder seja considerado como legítimo por seus seguidores, os quais estabelecem com ele uma lealdade de tipo pessoal. 
Fenômeno excepcional, a dominação carismática não pode estabilizar-se sem sofrer profundas mudanças estruturais, tornando-se, de acordo com os padrões de sucessão que adotar e com a evolução do corpo administrativo, ou racional-legal ou tradicional, em algumas de suas configurações básicas. 
De todos os conceitos de Weber, o de carisma é talvez o mais questionável; já enquanto vocábulo encerra o preconceito que fornece uma consagração quase religiosa a todo tipo de dominação bem-sucedida, presumidamente pessoal. O conceito, ele próprio, não está em discussão aqui; deverá ser investigado apenas enquanto servir para esclarecer a dialética entre racionalidade e irracionalidade na sociedade moderna. A dominação carismática aparece como estágio em um processo de desenvolvimento duplo: por um lado o carisma tende a reverter em uma dominação de interesses consolidados e a organização burocrática desta; por outro lado a organização burocrática se subordina a si própria a um ápice de carisma.
No capítulo "Transformação do Carisma", Max Weber descreve como a dominação carismática pura tende a se converter em uma "propriedade permanente"; nesse processo ela é submetida "às condições do cotidiano e às forças que as dominam, sobretudo: aos interesses econômicos"23. 
O que começa como carisma do indivíduo e de seu séquito pessoal se completana dominação de um aparelho burocrático de funções e direitos adquiridos, em que os dominados em termos do carisma se convertem em "súditos" regulares, cumpridores de suas obrigações e pagadores de impostos.
Caráter racional – Na qual se obedece à ordem impessoal, fundada no estatuto e na regulamentação da autoridade É exercida pelas autoridades investidas pela lei (dominação legal), havendo coincidência, apenas neste caso, entre legitimidade e legalidade. Cria a noção de competência. A obediência presta-se às regras, e reconhece-se competente para designar a quem e em que extensão se há de obedecer. 
Quem obedece, faz um cálculo racional e utilitário e vê vantagem em cumprir.
� Acquaviva, Marcus Cláudio. Teoria Geral do Estado, p.17.
� – Estado Mínimo – Estado Liberal que não intervém. O modelo liberal que surge com as idéias de Locke é um estado mínimo, pouco influencia ou pouco intervem em setores considerados particulares(inicialmente, saúde, idosos, e depois, telefonia, estradas, ferrovias). Estado não intervencionista. A bandeira do liberalismo empunhada pela burguesia com dinheiro se harmonizava com as idéias de direitos individuais e divisão de poderes associadas a uma economia de mercado livre, que pretendia afastar o Estado da economia, como deixa patente a expressão francesa “laissez-faire, laissez-passer, lê monde va de lui-mêmme” ( deixa fazer, deixar passar, que o mundo anda por si mesmo).
� De Plácido e Silva, p. 620. “.... Na terminologia jurídica é, especialmente e aplicado para indicar a lei que é promulgada, em oposição ao Direito ou lei natural”. 
� Dominação é a probabilidade de encontrar obediência a uma ordem de certo conteúdo entre determinadas pessoas indicáveis.
� Em decorrência dessa propriedade, o Estado considera-se grupo territorial de dominação, distinto dos grupos de caráter pessoal.
� Soares, Mário Lúcio Quintão. Teoria do Estado, p. 51.
� O Ministério da Justiça Social montou um programa de compensação de 1.100 dólares se alguém quebrar o padrão r casar fora de sua casta. A finalidade é demonstrar a aprovação oficial do governo.,
� Consultar o site www.matrimonialsindia.com/ - Ocupantes de altos cargos e pós-graduados em Oxford e Harvard mantém a tradição e optam por uma união arranjada quando decidem se casar. Entre as informações no perfil dos candidatos, estão salário, casta, idioma e religião. (Grifo meu).
O jornal “Hindustan Times” traz classificado com separação por casta.
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