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Interpretação das leis penais

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DIREITO PENAL I - PROF. LUÍS ROBERTO
PAPER
4. Interpretação das leis penais
4.1 Noções fundamentais
4.1.1 Fontes do Direito Penal
- fonte: de onde brota, nasce, provém o Direito Penal
Fontes do Direito Penal: materiais (origem da produção) e formais (formas de exteriorização, de revelação, de tornar conhecido o Direito Penal)
Fontes formais: direta (lei) e indiretas (costume, jurisprudência, doutrina, princípios gerais de Direito)
Lei penal: única fonte direta do Direito Penal. No Direito brasileiro, de origem romanística, vigora o princípio da lei escrita. A lei penal, elaborada pelo Congresso Nacional, tem primazia sobre qualquer outra fonte do Direito, por força do princípio da reserva legal (nullun crimen nula poena sine lege). (CF, art. 5º, XXIX; CP, art. 1º, caput).
Costume: regra de conduta praticada de modo geral, constante e uniforme, com a consciência de obrigatoriedade. Não cria o Direito Penal, não revoga a lei penal, mas tem influência na interpretação e aplicação da lei penal. 
Jurisprudência: decisões reiteradas dos tribunais, aplicadas em casos concretos, que interpretam e aplicam o Direito Penal na solução dos conflitos. Em geral, servem apenas como orientação para os julgadores, não tendo caráter obrigatório e vinculante. Também não criam o Direito Penal. Salienta-se, todavia, o recente artigo 103-A da Constituição, que instituiu a denominada “Súmula Vinculante”. O Supremo Tribunal Federal poderá, mediante decisão de 2 terços de seus membros, após reiteradas decisões sobre o mesmo tema, aprovar súmula que deverá ser obedecida pelos demais órgãos do Poder Judiciário. 
Doutrina: resultado da atividade científica dos juristas
Princípios gerais de Direito: premissas éticas, universais, estabelecidas pela consciência do povo e vigentes em determinados momentos históricos-sociais.
4.1.2 Interpretação e aplicação da lei penal
Interpretar a lei significa compreendê-la, esclarecê-la, captar seu sentido e alcance. Ou seja, é procedimento pelo qual se descobre o conteúdo de uma norma (qual seu significado) e a que casos ela se aplica (para saber se é aplicável ao caso concreto). 
Aplicar a lei significa fazê-la atuar no caso concreto, adaptando-a a determinada situação ocorrida no mundo real, para solucionar a questão posta em exame. 
Primeiro se interpreta uma lei para depois aplicá-la. Ou seja, a interpretação precede à aplicação. 
4.2 O princípio do in dubio pro reo em matéria de interpretação
Sempre que houver uma situação de prova dúbia, duvidosa, nebulosa, deve-se resolvê-la em favor do réu. No conflito entre o ius puniendi do Estado e o ius libertatis do acusado, o juiz deve inclinar-se em favor do acusado. A liberdade é um direito assegurado constitucionalmente. Só pode ser violado se houver certeza probatória no processo que autorize a aplicação de pena. Quando houver insuficiência de provas para a condenação, o juiz deve prolatar sentença penal absolutória, pois no processo penal de um Estado democrático de direito, tutelador da liberdade, é preferível a absolvição de um culpado, do que a condenação de um inocente. A propósito, dispõe o artigo 386, VI, do Código de Processo Penal, que o juiz absolverá o réu, se “não existir prova suficiente para a condenação”.
Segundo o artigo 156 do Código de Processo Penal, “a prova da alegação incumbirá a quem a fizer". Ou seja, a regra concernente ao onus probandi, ao encargo de provar, é regida pelo princípio actori incumbit probatio ou onus probandi incumbit ei qui asserite, isto é, a obrigação de provar é do autor da tese levantada. Pergunta-se: e no caso da legítima defesa, por exemplo, como fica? Cabe ao réu, inevitavelmente, prová-la para livrar-se da acusação, ou a dúvida bastaria para absolvê-lo? 
4.3 Interpretação declarativa, restritiva e extensiva
Em relação ao resultado obtido com a interpretação, ela é classificada em: a) interpretação declarativa; b) interpretação restritiva; c) interpretação extensiva.
Interpretação declarativa: ocorre quando o texto examinado não é ampliado nem reduzido, encontrando-se o significado oculto do termo ou expressão utilizada pela lei. Ex.: art. 338 (“reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso”). Ex.: art. 288 (“associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes”).
Interpretação restritiva: o alcance da lei é reduzido, para que se consiga traduzir seu real significado. Ou seja, quando elaborou a lei, o legislador disse mais do que pretendia, cabendo ao intérprete corrigir a fórmula legal para evitar contradições, incongruências e violação a princípios. Ex.: artigo 181, I e II (isenção de pena por escusa absolutória). Ex. art. 28, I e II (“não excluem a imputabilidade a emoção, a paixão ou a embriaguez voluntária ou culposa”): deve ser interpretado restritivamente, no sentido de serem considerados esses estados quando não patológicos, isto é, quando não ocasionarem doença mental, pois, de outra forma, haveria contradição como artigo 26, caput. Nesses casos (em que a emoção, a paixão ou a embriaguez causam doença mental), deve-se aplicar o artigo 26, caput.
Interpretação extensiva: realizada quando necessário corrigir uma expressão legal por demais estreita. Por outras palavras, deve ser ampliado o alcance das palavras da lei para que a letra corresponda à vontade do texto. Ou seja, o sentido deve abranger mais que a expressão literal. Ex. art. 130: incrimina não só a situação de perigo, como também a situação de dano efetivo. Quer dizer, é crime não só a exposição a perigo, como também o contágio. Ex.: o crime de bigamia abrange a poligamia. 
( Em matéria de interpretação, se a vontade da lei não for nítida, se não chegar o juiz a saber se a lei quis isso ou aquilo, ou se nem ao menos consegue determinar o que ela pretendeu, deverá seguir a interpretação mais favorável ao réu, em face do princípio do in dubio pro reo. Em razão deste princípio, se não for possível descobrir a voluntas legis, deve guiar-se o intérprete pela máxima: favorablia sunt amplianda, odiosa sunt restringenda. Ou seja, a lei penal deve ser interpretada restritivamente quando prejudicial ao réu, e extensivamente no caso contrário. Obs.: isso deve ser feito somente quando resulta inútil qualquer processo de interpretação do texto legal.
4.4 Interpretação progressiva
É a que se faz adaptando a lei às necessidades e concepções do presente. Ex.: art. 26, caput (“doença mental”). Ex. art. 155 (“coisa alheia móvel”).
4.5 Interpretação analógica
É a permitida quando, depois de uma cláusula casuística, específica, vem uma cláusula genérica. Ex. homicídio qualificado (art. 121, par. 2º).
Cuida-se de hipótese de interpretação extensiva, em que a própria lei manda que se estenda seu conteúdo a casos semelhantes aos mencionados na fórmula casuística. 
Exercício de interpretação
O estupro, antes da edição da Lei 12015, de 7 de agosto de 2009, era descrito como:
“art. 213. Constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça. Pena: reclusão, de 6 a 10 anos”. 
E o atendado violento ao pudor consistia em:
“art. 214. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso da conjunção carnal. Pena: reclusão de 6 a dez anos”.
Com a redação dada pela Lei 12015/2009, o artigo 214 foi revogado e o artigo 213 ficou com a seguinte redação:
“Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. 
Pergunta-se:
o homem pode agora ser estuprado, nos termos da lei penal?
se alguém estupra e depois pratica ato libidinoso com a vítima pratica um ou dois crimes? (Vide a recentíssima discussão travada no HC 144870, do Superior Tribunal de Justiça).
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