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Do mito ao saber filosófico

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Do mito ao saber filosófico, o ambiente grego e o nascimento da filosofia.
 *Prof. Ms. MARIVALDO GOUVEIA, teólogo e psicólogo clínico, Especialista em Filosofia Política (UEL – Universidade Estadual de Londrina), Mestre em Ciências da Religião (UPM – Universidade Presbiteriana MACKENZIE). 
 1.O ambiente grego nos séculos VIII/VII a. C.
Se tomarmos como verdadeira a expressão “a cultura ocidental é grega”, retrocederemos ao século 7º antes da era cristã, ou seja, há aproximadamente dois mil e setecentos anos, para começarmos a compreender como nasce a filosofia. Nesse período tão longínguo a região que conhecemos como a atual Grécia era dominada por uma cosmovisão mitológica, ou seja, cada um dos aspectos da vida cotidiana era governado ou ao menos influenciado por um determinado poder supranatural, encarnado num personagem (deus, mito ou semideus). Podemos conceituar de forma simples o mito como uma representação fantástica (supranatural ou idealizada) da realidade. O deus dos mares Poseidón serve como exemplo. Como Poseidón domina os mares, influencia as tempestades e é capaz de proporcionar uma boa viagem marítima, nada mais natural de que todo navegante ou marinheiro esteja interessado no favor de Poseidón, e assim, esteja disposto a seguir à risca as cerimônias e sacrifícios rituais para agradar essa divindade. O mecanismo é simples: o interessado fornece algo ao mito e o mito ajuda o indivíduo que deseja fazer uma boa viagem. Assim, essa interpretação da realidade circundante através da mediação simbólica do mito, tornava a vida mais confortável, explicava os mistérios, e, portanto, era funcional e exercia um papel importante no cotidiano das pessoas. Apenas um exemplo concreto foi dado, mas, os mitos, ou deuses do panteão grego eram vários: Éolo (controlador dos ventos), Deméter (deusa da agricultura), Afrodite (deusa do amor), Ares (deus da guerra) e literalmente, dezenas de outros, que habitavam o Monte Olimpo tendo Zeus como líder maior. Há muita literatura de qualidade sobre a famosa Mitologia Grega e Joseph Campbell é um autor que deve ser consultado, pelos interessados em aprofundamento na temática.
De acordo com Battista Mondin (Curso de Filosofia, Edições Paulinas, 1983), todos os povos antigos tinham suas mitologias “mas entre todas as mitologias, a grega é a que mais se destaca pela riqueza, ordem e humanidade. Não é de se admirar, por isso, que a filosofia se tenha desenvolvido justamente da mitologia grega”. 
1.1 – Tales de Mileto e a busca pelo “arché”. 
A tradição história dá a Tales de Mileto, nascido em 624 a.C. o título de pai da filosofia grega e da filosofia ocidental. Matemático e astrônomo, além de rico comerciante que lhe permitia, por exemplo, fazer viagens ao Egito, Tales foi o primeiro pensador que lançou de forma sistemática a pergunta crucial do nascimento da filosofia: “Qual a causa mais primitiva e inaugural de todo o universo, qual o princípio supremo de todas as coisas”? Voltando à Mondin: “certamente a religião oferecia a Tales uma explicação sobre a origem das coisas, mas não se tratava de um dado racional no qual ele pudesse crer firmemente, mas de um dado mítico”. Tales quer buscar uma solução pelo caminho racional e desafiando a tradição mítica. Por isso, propõe que se busque o arché, ou seja, o princípio de todas as coisas. Henrique Murachco, na sua obra Língua Grega: Visão Semântica, Lógica, Orgânica e Funcional no volume 2, parte prática, (Editora Vozes, 2º edição, 2003), traduz (grego) usando no português as palavras o começo, o comando. De fato, é uma tarefa para um Hércules, ou seja, tentar descobrir racionalmente como tudo se iniciou no universo, como foi o início ou princípio de tudo que existe. Tales acreditava que o fator originador de tudo era a água. Enquanto isso, outros filósofos da natureza propuseram outras soluções, como por exemplo, o fogo, o ar, ou a partícula (átomo em português é em grego e significa “o indivisível”, o que não se divide). Essa última proposta de pensar no arché como o átomo, ou o elemento indivisível é de Demócrito.
Não se achou uma resposta definitiva e a reflexão filosófica grega deixou de refletir prioritariamente sobre a cosmologia (estudo da origem do universo) passando a se ocupar com a busca de respostas para questões mais práticas, principalmente ligadas a vida em sociedade, a vida na em portugês pólis, ou seja, cidade. 
Para efeitos didáticos, costuma-se dividir a filosofia grega antiga em três fases ou momentos históricos distintos:
Pré-socráticos: século VI a. C., são os chamados filósofos da natureza, preocupados em desvendar as origens do universo, em buscar o arché. São exemplos desse período, além de Tales, Anaximandro, Pitágoras e Demócrito.
Socráticos: reflexão filosófica dos séculos V e IV a.C., é o período de um dos maiores filósofos gregos, Sócrates, seu discípulo Platão, e Aristóteles. Ênfase na sociedade e nas questões sociais e éticas. 
Pós-socráticos: reflexão filosófica dos séculos III e II a.C. É um período de escolas filosóficas voltadas para o indivíduo, para a provisão de uma espécie de “filosofia do bem viver”, e que propunham aos indivíduos uma busca interior ou introspecção. Citamos as duas principais escolas: Epicurismo e Estoicismo. 
1.2 – O Epicurismo e o Estoicismo. 
Epicurismo: Fundado por Epicuro de Samos (falecido por volta de 260 a.C.), o Epicurismo propõe que a felicidade ou o bem supremo do homem consiste no prazer (hedoné, de onde, em português, temos, por exemplo, a palavra hedonismo). “Nós dizemos que o prazer é o princípio e o fim da vida feliz, porque reconhecemos que, entre todos os bens, o prazer é o primeiro e o mais conatural a nós” – Epicuro. 
Na ótica de Epicuro, esse prazer não é o prazer das paixões, sensual, mas, prazer como ausência de dor e eliminação de qualquer preocupação (ataraxia). Diz Epicuro: “...quando dizemos que o prazer é o bem supremo, não queremos referir-nos aos prazeres do homem corrompido, que pensa só em comer, em beber e nas mulheres”. Portanto, é preciso ser virtuoso e não corrompido. E ser virtuoso, implica em aproveitar todos os deleites com moderação e em determinada medida que não venha a perturbar a alma. Toda essa preocupação não livrou o Epicurismo de sofrer desvios, como por exemplo, o hedonismo puro e simples, que buscava o prazer pelo prazer, o prazer sensível em si mesmo e sem maiores implicações, com a vida se arrastando para aquilo que Horácio acabou por denominar aurea mediocritas (mediocridade dourada).
 
Estoicismo: Trata-se do mais original movimento filosófico do período helenístico, e que teve a mais longa duração, começando no século IV a.C., continuando até 300 anos depois do início da era cristã. Zenão, que viveu entre 336 e 274 antes de Cristo, foi o fundador da escola, chamada de estóica, já que ele ensinava sob os pórticos (stoá), de Atenas. Simples: os que se reuniam para filosofar debaixo das colunas, passaram a ser conhecidos como os estóicos. Vale lembrar ainda Epicteto (50-138 d.C.), Sêneca, maior representante do estoicismo no mundo latino, que viveu entre o ano 4 antes de Cristo e 65 d.C. e Marco Aurélio, (121-180 d.C.), autor das célebres Recordações. 
Trata-se de uma doutrina essencialmente moral. A felicidade consiste em viver segundo a razão, ou melhor, segundo a natureza racional do homem e isso é ser virtuoso. A virtude seria uma disposição interna pela qual a alma está em harmonia consigo mesma e assim pode anular as paixões assumindo uma postura de liberdade de espírito em relação às circunstâncias externas. O termo técnico apatheia no grego dá essa conotação de anulação das paixões e superação das preocupações desnecessárias, já que nem todos os acontecimentos dependem de nossa vontade. Mondin comenta: “Para conseguir essa liberdade de espírito (proposta pelo Estoicismo), o homem deve ser indiferente às contingências da vida quotidiana e a tudo o que não está em seu poder”. Comodecorrência dessa postura, o ser humano fica imune a muitos sofrimentos e apreende a lidar com eles, superando-os. Em português, acabou por se consagrar a expressão “tal pessoa superou estoicamente os sofrimentos pelos quais passou e venceu”.

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