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Império Romano

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Roma Antiga: período imperial (27 a.C. – 476 d.C.)
Alto Império (Principado): Reformas e “Pax Romana”
	O Império inaugura-se com a realização de uma espécie de aliança entre o autocrata e as camadas plebéias. Os conflitos que erodiram as bases republicanas são acalmados por uma vasta política de reformas: lotes de terras são concedidos aos legionários desmobilizados; aumenta a distribuição de cereais; organiza-se um programa de construções públicas e de serviços públicos diversos, como bombeiros, polícia, água, serviço postal; uniformiza-se o sistema de tributos. A organização política e institucional clássica da cidade será preservada, sobrepondo-se a ela os poderes do imperador no campo da lei pública (decretos, editos, etc.). No âmbito externo, as campanhas militares começavam a dar mostras de esgotamento: em 14 d.C., as fronteiras do império adquirem uma formatação que seria muito pouco modificada nos anos seguintes - o ciclo de conquistas se encerrava. 
	Por conta desse arrefecimento do expansionismo militar, os dois primeiros séculos do império serão conhecidos como período da “Pax Romana”. Ao longo deste período, uma nova distribuição de poder permitiu alargar o âmbito da cidadania, anteriormente restrita aos italianos, para todos os povos pertencentes ao império. Em 212 d.C, com o “Édito de Caracala”, houve a concessão geral de cidadania romana para quase todos os habitantes livres do império. Paralelamente, gauleses, italianos e espanhóis alcançavam até mesmo o posto de imperador, num claro movimento de extensão do poder em direção às províncias: as classes fundiárias provinciais eram assim inseridas no círculo do poder. O movimento era de unificação política e administrativa, acompanhado de uma relativa prosperidade econômica. Entretanto, a estabilidade se mostraria ilusória, pois com o final do ciclo de conquistas o “poço” romano seco. É bom lembrar que Roma assentara suas bases na grande propriedade fundiária e na exploração maciça do trabalho escravo, ambos sustentados por uma máquina de guerra que agora dava sinais de exaustão.
	A celebrada “Pax Romana” trazia consigo os germes de uma crise estrutural, e a partir de 230 d.C as guerras civis voltariam a assombrar o império, acompanhadas por um aumento da pressão dos povos “bárbaros” nas fronteiras e por uma instabilidade política generalizada. A política imperial foi marcada por uma rede de assassinatos e usurpações constantes, em que os golpes de Estado eram quase normais e a instabilidade um traço predominante. É bom lembrar que o imperador romano não era escolhido ou legitimado por Deus, de modo que jamais seria o tranqüilo proprietário de seu poder. A idéia dominante era de que o imperador deveria servir à glória romana, e quando não mais o fizesse precisava ser substituído. As palavras “Rei” e “Reino” provocavam aversão aos romanos, e o ideal republicano de soberania popular não fora enterrado juntamente com a instituição republicana. Para governar, além de mostrar-se minimamente competente, era preciso operar um delicado consenso que envolvia o Senado, o Comício do povo e o exército. A cada vez que alguma das peças fugia do controle, tinha início uma trama violenta de guerras civis e assassinatos. [2: A prova de que o consenso entre Príncipe, povo, Senado e exército era difícil de realizar-se é o altíssimo índice de assassinatos de imperadores ao longo da história imperial. O intricado jogo de forças muitas vezes terminava mal para o imperador, pois “um César vencido pelos bárbaros não é um príncipe mal sucedido, mas um incompetente que é imperativo substituir”. Dos vinte imperadores que governaram entre 230-280 d.C, 18 tiveram morte violenta. ]
O novo ciclo de reformas, o deslocamento do eixo imperial para o Oriente e a ruralização do Ocidente
	Uma política reformista foi novamente a solução adotada pelos imperadores romanos para procurar por fim ao panorama geral de instabilidade do século III. O império experimentou um breve momento de recuperação no início do século IV com as reformas administrativas e militares realizadas pelo imperador Diocleciano. As províncias foram divididas em unidades menores e houve um incremento significativo do aparato burocrático, com a criação de novas prefeituras e dioceses; paralelamente, procurou-se aumentar os efetivos do exército através de uma rígida política de recrutamento e pela incorporação de efetivos “bárbaros”. 
A política reformista do imperador Diocleciano surtiu o efeito desejado: conter as invasões e garantir a manutenção das fronteiras. Contudo, também se colocaram conseqüências imprevistas: artesãos e artífices fugiam aos bandos da máquina fiscal do Império e do recrutamento forçado que ocorria nas cidades e buscavam segurança e emprego nas grandes propriedades dos magnatas do campo. Um grande movimento de êxodo urbano foi deflagrado no lado ocidental do império e novas relações de trabalho surgiram no campo: sob as formas do “Patrocínio” e do “Colonato”, os grandes proprietários rurais concediam pequenas parcelas de terras aos camponeses para que esses as lavrassem, permitindo-lhes que ficassem com o excesso da produção. No lado ocidental do império romano, a ruralização era um fenômeno evidente, e uma aristocracia de proprietários rurais enraizava-se ao mesmo passo que as cidades se enfraqueciam e esvaziavam. Camponeses, escravos e artesãos refugiavam-se da avareza do Estado burocrático romano sob a “proteção” dos aristocratas rurais. [3: Tais encadeamentos estão, obviamente, na base do modo de produção vindouro: o feudalismo.]
Paralelamente à ruralização do Ocidente e ao conseqüente esvaziamento do “espírito cívico” dos citadinos, o eixo do sistema imperial romano começava a deslocar-se para o Oriente. Em sentido concreto, tendo em vista a transferência da residência do imperador para a cidade de Constantinopla em 330 e a divisão entre Império Romano Oriental e Império Romano Ocidental operada por Teodósio em 395; em sentido ideal, considerando o início do “Dominato”: forma de culto ao imperador como “dominus” e deus, aproximando-o claramente às figuras dos monarcas teocráticos orientais. 
No quadro final do império romano, diversos processos desenrolavam-se: no campo do poder político, o imperador era divinizado; no campo institucional, uma avarenta burocracia de Estado formara-se, mostrando-se extremamente insensível e fixando hierarquicamente as posições sociais de cada cidadão; no campo da economia e das relações de trabalho dava-se uma drástica concentração de propriedades rurais que funcionavam quase em regime de auto-suficiência e desenvolviam-se formas de servidão dependentes do solo; no campo religioso, uma nova Igreja firmara-se e estabelecera-se numa posição de conforto ostentatório: com o Édito de Milão, publicado por Constantino em 311, o cristianismo passou a ser tolerado como uma religião entre outras, com o imperador Teodósio, no final do século IV, ele tornava-se religião de Estado e iniciava-se uma verdadeira caçada aos cultos pagãos remanescentes. As relações entre campo e cidade se alteraram completamente. O ideal da grandeza romana provocava risos nos territórios fronteiriços. Roma já não era mais Roma. Em 476, os “bárbaros” finalmente derrubaram uma civilização que não mais existia. O Império romano ocidental ruiu como um corpo que já não tinha mais alma, apodrecido pelo interior e assaltado pelo exterior.

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