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Marcos Soares da Mota e Silva Pós-graduado em Direito Tributário pelo Ins- tituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET) e em Direito Processual Tributário pela Universi- dade de Brasília (UnB). Graduado em Engenha- ria Mecânica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em Direito pela Universida- de do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Profes- sor de Direito Tributário e Direito Constitucional no Centro de Estudos Alexandre Vasconcellos (CEAV), Universidade Estácio de Sá, Faculdade da Academia Brasileira de Educação e Cultu- ra (Fabec) e em preparatórios para concursos públicos. Atua como auditor fiscal da Receita Federal. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Direitos e deveres individuais e coletivos III Dos direitos e deveres individuais e coletivos Extradição Art. 5.º [...] LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião; [...] Extradição é o ato por meio do qual um Estado entrega alguém, acusado de um crime ou já condenado pelo seu cometimento, a outro Estado, que o solicita, para os fins de julgamento ou punição. Há duas espécies de extradição: Ativa – é requerida pelo Brasil a outros Estados; � Passiva – é requerida ao Brasil por outros Estados. � A CF não fala a respeito da extradição ativa, aquela requerida pelo Brasil a outros Estados. Há, entretanto, algumas limitações à extradição passiva, conforme descrito nos incisos acima transcritos. São três os conceitos básicos: o brasileiro nato nunca será extraditado; � quanto ao brasileiro naturalizado, a regra também é a impossibilidade � de sua extradição; entretanto, ele poderá ser extraditado em duas hi- póteses excepcionais: crime comum, praticado antes da naturalização, ou comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; 77 Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 78 Direitos e deveres individuais e coletivos III 7979 quanto ao estrangeiro, a regra é a possibilidade de extradição, porém � não é admitida a extradição por crime político ou de opinião. Cabe registrar alguns entendimentos do Supremo Tribunal Federal: não há uma prévia definição na Constituição ou nas leis do que seja � crime político ou de opinião; caberá ao STF, no caso concreto, analisar a matéria; o pedido de extradição só poderá ser atendido pelo Brasil se houver � um tratado internacional entre o Brasil e o país requerente, ou inexis- tindo tal tratado, se houver, por parte do país requerente, promessa de reciprocidade de tratamento ao Brasil; só haverá extradição se houver a chamada “dupla tipicidade”, ou seja, � se a conduta atribuída ao extraditando for punível no Brasil e no Esta- do requerente; aplica-se à extradição o princípio da “especialidade”, ou seja, o extradi- � tado somente poderá ser processado e julgado pelo país requerente pelo crime objeto do pedido de extradição; o STF, entretanto, tem acei- tado o “pedido de extensão”, que seria a permissão, solicitada pelo país requerente, de processar a pessoa já extraditada por crime praticado antes da extradição e diferente daquele que motivou o pedido de ex- tradição, desde que o Brasil expressamente autorize. Princípio do devido processo legal Art. 5.º [...] LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; [...] O princípio do devido processo legal (due process of law) deve ser con- jugado com o princípio da inafastabilidade de jurisdição (CF, art. 5.º, XXXV), com o princípio do juiz natural (CF, art. 5.o, XXXVII e LIII), com o direito ao con- traditório e à ampla defesa (CF, art. 5.°, LV), com a vedação de provas ilícitas no processo (CF, art. 5.º, LVI), com a publicidade do processo (CF, art. 5.º, LX) e com a necessidade de motivação das decisões. O STF afirmou que os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade estão inseridos nesse inciso, que traz a garantia do devido processo legal. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 79 Direitos e deveres individuais e coletivos III 79 Princípios do contraditório e da ampla defesa Art. 5.º [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; [...] Por ampla defesa, deve-se entender o direito de trazer ao processo, ad- ministrativo ou judicial, todos os elementos de prova obtidos de forma lícita, bem como o direito de omitir-se ou calar-se. Por contraditório, deve-se entender o direito de tomar conhecimento e contraditar tudo o que é trazido aos autos pela parte contrária. Inadmissibilidade de provas ilícitas Art. 5.º [...] LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; [...] Considerações importantes: a vedação prevista na CF alcança o processo judicial e o processo � administrativo; a presença de prova ilícita nos autos não invalida o processo; � a prova ilícita contamina todas as provas dela decorrentes (teoria dos � frutos da árvore envenenada); irregularidades em peças integrantes do inquérito policial não conta- � minam o processo judicial; é lícita a prova obtida por meio de escuta telefônica que incrimina ou- � tra pessoa e não o investigado em relação a quem havia autorização para a referida escuta. Presunção de inocência Art. 5.º [...] LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; [...] Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 80 Direitos e deveres individuais e coletivos III 8181 O dispositivo anterior objetiva garantir a liberdade do indivíduo, que é presumidamente inocente, devendo o Estado provar a sua culpabilidade. A regra é que o Estado somente poderá impor a pena após o trânsito em julga- do da sentença penal condenatória. Entretanto, cabe destacar o seguinte: o princípio da presunção de inocência não afasta a legitimidade das � diversas espécies de prisões provisórias. O STF firmou orientação de que “a prisão provisória não viola o princípio constitucional da presun- ção da inocência” (HC 72663/SP)1; o princípio da presunção de inocência não impede que se considere � como maus antecedentes do acusado a existência de inquéritos poli- ciais ou processos criminais sem condenação definitiva; o princípio da presunção de inocência está circunscrito à esfera penal, � não se aplicando, em sua inteireza, à esfera administrativa; é proibido lançar o nome do réu no rol dos culpados, enquanto não � estiver definitivamente condenado. Identificação criminal Art. 5.º [...] LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei; [...] Este inciso impediu a recepção do inciso VIII do artigo 6.º do Código de Pro- cesso Penal, que determinava a identificação datiloscópica dos indiciados. A identificação criminal é um ato complexo, resultado de um conjunto de atos, como o preenchimento de um boletim de vida pregressa, a identificação fo- tográfica de frente e de perfil e a identificação datiloscópica para fins criminais. Ação penal privada subsidiária da pública Art. 5.º [...] LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal; [...] 1 HC 72.663/SP. Rel. Min. Sydney Sanches, 1.a T., j. 13/02/1996. Este materialé parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 81 Direitos e deveres individuais e coletivos III 81 A ação penal pública é atribuição privativa do Ministério Público (CF, art. 129, I), que tem autonomia, diante de um caso concreto, para decidir ou não pela sua instauração. Entretanto, como o Ministério Público pode permanecer inerte, a Consti- tuição abre uma exceção a esta regra, e garante ao ofendido a legitimidade para a propositura da ação penal, que será então chamada ação penal priva- da subsidiária da pública. O Ministério Público, no momento em que dispõe de provas sobre a ma- terialidade e a autoria de um delito, deve ajuizar a ação penal pública no prazo prescrito em lei. Se não o fizer, nem requisitar diligências à autoridade policial ou requerer o arquivamento do inquérito policial, poderá o ofendi- do ou, se incapaz, seu representante legal, ajuizar a ação penal em lugar do Ministério Público. Portanto, a ação penal subsidiária não pode ser ajuizada pelo simples fato de o Ministério Público deixar de ajuizar a ação penal pública no prazo legal, pois o membro do Ministério Público pode ter entendido que não dispunha ainda de elementos suficientes para dar início ao processo penal, requisitan- do à autoridade policial a realização de diligências ou perícias. Pode, ainda, entender que o fato não constitui um crime, ou que existe uma hipótese de exclusão da sua ilicitude, optando então por requerer ao juiz seu arquivamento. Pode, por fim, oferecer a transação penal, nas infra- ções penais de menor potencial ofensivo. Por outro lado, se o ofendido (ou seu representante legal) quedar-se inerte, ou seja, não praticar ato necessário ao regular prosseguimento da ação penal subsidiária, o Ministério Público poderá retomar as rédeas da ação penal. Assim, teoricamente, uma ação penal pública pode passar a con- dição de ação penal privada subsidiária da pública e voltar a ser uma ação penal pública novamente. Princípio da publicidade dos atos processuais Art. 5.º [...] LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; [...] Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 82 Direitos e deveres individuais e coletivos III 8383 O princípio da publicidade dos atos processuais também encontra respal- do no artigo 93, inciso IX, da CF; e, nos dois dispositivos, admite-se de forma excepcional a possibilidade do segredo de justiça, limitando-se a presença, em determinados atos, às próprias partes e seus advogados, ou somente a estes. Há casos em que a própria lei ordinária processual determina o segredo de justiça, como o artigo 155 do Código de Processo Civil, in verbis: Art. 155. Os atos processuais são públicos. Correm, todavia, em segredo de justiça os processos: I - em que o exigir o interesse público: II - que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de menores. Parágrafo único. O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e a seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e partilha resultantes do desquite. A Emenda Constitucional 45/2004 alterou o final da redação do artigo 93, inciso IX, para ponderar interesses entre o sigilo do processo (derivado do direito de preservação da intimidade) e o possível prejuízo do interesse público à informação. O objetivo do legislador constitucional foi o de preser- var a transparência do processo, afastando a impossibilidade de divulgação de informações que sejam de interesse geral da sociedade, nos seguintes termos: Art. 93. [...] IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; [...] Prisão Art. 5.º [...] LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei; [...] Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 83 Direitos e deveres individuais e coletivos III 83 Com exceção dos casos de transgressão militar e crime propriamente mi- litar, somente é possível que alguém seja preso por ordem escrita e funda- mentada de autoridade judiciária competente, ou nos casos de prisão em flagrante. Em face desta norma constitucional considera-se que as prisões decorrentes de determinação de autoridade policial (conforme previsão na Lei de Contravenções Penais) ou de autoridade administrativa (como a prisão para extradição decretada pelo ministro de Justiça), previstas na legislação anterior à Constituição, não foram por ela recepcionadas. Art. 5.º [...] LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada; [...] Em função da realidade vivida por muitos dos constituintes no tempo do regime militar, quando muitas pessoas eram presas e transferidas de um local para outro sem que o juiz ou a família do preso fosse informada, decidiu o legislador constituinte determinar a regra do inciso LXII como forma de evitar que se repetissem fatos de triste lembrança. Princípio da não autoincriminação Art. 5.º [...] LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; [...] Este dispositivo contempla o direito ao silêncio, também chamado de pri- vilégio contra a autoincriminação. O preso pode optar por dar a sua versão sobre o fato de que é acusado, pode dar apenas algumas informações a ele relacionadas, como pode sim- plesmente ficar em silêncio e negar-se a responder a qualquer pergunta da autoridade policial (durante o inquérito policial), judiciária (durante a instru- ção processual penal) ou mesmo legislativa (ao depor perante uma Comis- são Parlamentar de Inquérito). Poderá até mesmo mentir. Qualquer que seja sua postura, dela não poderá resultar-lhe nenhum prejuízo em termos de comprovação de culpa ou de cominação de penalidades. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 84 Direitos e deveres individuais e coletivos III 8585 Ademais, o preso tem o direito constitucional de ser informado sobre os mo- tivos de sua prisão e a identidade dos agentes responsáveis por ela, até para que possa responsabilizá-los, em caso de ilegalidade e abuso de poder. Além disso, deve ser cientificado do local para onde será levado, podendo comunicar-se com seus parentes e, se o desejar, com um advogado. O privilégio contra a autoincriminação é um direito subjetivo assegurado a qualquer pessoa, que, na condição de testemunha, de indiciado ou de réu, deva prestar depoimento perante qualquer autoridade pública. E não se limita a “ficar calado”, podendo se manifestar pelo direito de não se submeter a exames de corpo de delito; de não soprar o bafômetro; de não apresentar documentos a au- toridade fiscal que sejam comprobatórios de prática de crimes contra a ordem tri- butária (ou quaisquer outros); e de não apresentar qualquer elemento tais como roupas, armas ou utensílios domésticos à autoridade policial que os solicitar. Liberdade provisóriaArt. 5.º [...] LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança; [...] A fiança é uma garantia prestada à autoridade policial ou judiciária pelo preso, acusado ou indiciado, a fim de que possa responder ao processo penal em liberdade, obrigando-se a comparecer a todos os atos processuais em que sua presença seja exigida. Há crimes inafiançáveis, que não admitem a liberação do preso por meio de fiança. Há, por outro lado, crimes afiançáveis, que permitem que o afian- çado responda ao processo em liberdade. Por fim, há crimes de menor gravi- dade, em que o preso em flagrante delito, uma vez autuado pela autoridade policial, é imediatamente posto em liberdade provisória, independentemente do pagamento de qualquer fiança. Prisão civil Art. 5.º [...] LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel; [...] Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 85 Direitos e deveres individuais e coletivos III 85 A prisão civil é inconfundível com a prisão penal. Enquanto a prisão penal tem caráter essencialmente punitivo, caracterizando-se como uma retribui- ção ao delito praticado, a prisão civil tem natureza eminentemente coercitiva, não objetivando a punição do indivíduo, mas obrigá-lo ao adimplemento das prestações a que está obrigado. O inciso LXVII prevê duas hipóteses em que é possível a utilização da prisão civil, devendo-se considerar que este rol não pode ser ampliado pela legislação ordinária. A primeira hipótese ocorre no caso de descumprimento de obrigação alimentícia. Não é suficiente o mero descumprimento da obrigação; é indispensável que ele seja voluntário, isto é, que o indivíduo possa efetuar o pagamento e, por sua livre e espontânea vontade, negue-se a fazê-lo. Segundo o STF, a prisão civil do devedor de pensão alimentícia não é ca- bível para a cobrança de prestações atrasadas por período superior a noven- ta dias. Entende o Supremo que a inércia do credor da dívida (que deixou transcorrer o referido prazo, para só então exigi-la) altera a própria natureza da dívida, deixando as prestações de ter caráter alimentício, e passando a ser tratadas como uma dívida civil comum, que não autoriza a prisão. A segunda hipótese em que a CF admite a prisão civil é no caso do de- positário infiel, aquele que, por ato bilateral ou por determinação judicial, assume a obrigação de atuar como depositário, guardando determinado bem para posteriormente devolvê-lo a quem de direito, e se nega à fazê-lo quando o deve. Apesar de boa parte da doutrina, desde a ratificação pelo Brasil da Con- venção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) – que só permite a prisão civil por dívida na hipótese do inadimplemento de obrigação alimentícia – ser contrária à possibilidade da prisão civil do depo- sitário infiel, a recente jurisprudência do Supremo Tribunal Federal vinha ad- mitindo tal prisão e até mesmo um alargamento do conceito de depositário infiel, tendo mesmo admitido a prisão civil em casos como inadimplência em contratos de alienação fiduciária quando evidenciada a fraude contra o credor na execução. Dessa forma, o STF vinha reconhecendo a legitimidade constitucional da prisão civil do depositário infiel nos casos de alienação fiduciária em garantia (DL 911/69, art. 4.º). Com base nesse entendimento, as decisões vinham se Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 86 Direitos e deveres individuais e coletivos III 8787 repetindo no sentido de reconhecer a perfeita identidade entre a condição jurídica do devedor fiduciante e a do depositário. Sobre o cabimento da prisão no caso do contrato de depósito propria- mente dito não restava qualquer dúvida: decorria da literalidade do texto constitucional. O STF também entendia como cabível a prisão civil no caso do penhor mercantil e do penhor agrícola. Ocorre que em 03/12/2008, por maioria de votos, quando do julgamento dos recursos extraordinários 349.703 e 466.343, o STF passou a entender que os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos celebrados pelo Brasil têm status supralegal, situando-se abaixo da CF, mas acima da legislação interna. Em função disso, o Pacto de San José da Costa Rica, tornou inaplicável a legislação infraconstitucional sobre a prisão do depositário infiel, seja ela anterior ou posterior ao ato de retificação de tais normas internacionais, e, com isso, afastou a possibilidade de prisão do depositário infiel, prevista no inciso LXVII do artigo 5.º da CF. Na verdade, o texto constitucional não foi revogado pelo tratado inter- nacional, simplesmente, ele se torna inaplicável em razão da ausência de normas infraconstitucionais regulamentadoras, paralisadas pela norma in- ternacional. Logo, a prisão civil do depositário infiel não foi revogada pela ratificação do Pacto, mas deixou de ter aplicabilidade diante do efeito para- lisante do tratado em relação à legislação infraconstitucional que disciplina a matéria. Por fim, cabe registrar que na sessão Plenária do dia 16/12/2009 (DOU de 23/12/2009, p. 1) o STF editou a seguinte Súmula Vinculante 25, cujo teor é o seguinte: N. 25. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. Portanto, não há mais qualquer dúvida, não cabe prisão civil contra o deposi- tário infiel. A única prisão civil admitida em nosso ordenamento é a do responsá- vel pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia. A CF sujeita os empregados domésticos a um regime especial, negando- -lhes alguns dos direitos previstos para os demais trabalhadores urbanos ou rurais, conforme o caput do artigo 7.º. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 87 Direitos e deveres individuais e coletivos III 87 A assistência judiciária integral e gratuita Art. 5.º [...] LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos; [...] A assistência jurídica integral e gratuita engloba tanto o auxílio extrapro- cessual, por exemplo, por meio de consultas sobre a legislação, como a assis- tência processual, no curso de um processo, seja o necessitado autor ou réu. Além disso, não se restringe à esfera penal, alcançando os demais ramos do Direito, como o trabalhista e o previdenciário. Por fim, abrange não só o tra- balho do advogado, mas também o do perito (por exemplo, exame de DNA para fins de investigação de paternidade). Embora a CF não dê a todos o direito à assistência jurídica integral e gra- tuita, ela exige apenas “insuficiência de recursos” como requisito para o gozo do direito à assistência, o que significa que a ela fazem jus não somente os “reconhecidamente pobres”, como consta no inciso LXXVI, do artigo 5.º, da CF, ou seja, os realmente miseráveis, mas todos aqueles que não puderem separar uma parte de seus recursos financeiros para custear as despesas do processo, sem colocar em risco a sua subsistência ou a de seus familiares. Erro judiciário Art. 5.º [...] LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença; [...] No caso de erro judiciário cometido na esfera penal, haverá responsabili- dade civil do Estado, de forma que aquele que for condenado injustamente ou que ficar preso além do tempo fixado na sentença terá direito a ajuizar uma ação de indenização em face do Estado. Gratuidade dos serviços do foro extrajudicial Art. 5.º [...] Este material é parte integrante do acervodo IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 88 Direitos e deveres individuais e coletivos III 8989 LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei: a) o registro civil de nascimento; b) a certidão de óbito; [...] De acordo com o disposto no artigo 236 da Constituição, os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, delegado pelo Poder Público. Em função disso é admitida a cobrança de emolumentos pela prestação de determinados serviços. Entretanto, no que diz respeito ao registro civil de nascimento e à certidão de óbito daqueles que são reconhecidamente pobres, impõe a Constituição a sua gratuidade, na forma da lei. Razoável duração do processo Art. 5.º [...] LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. [...] A Emenda Constitucional 45/2004 acrescentou este novo inciso e mais dois parágrafos ao artigo 5.º. A desconsideração do princípio da duração razoável do processo cons- titui uma verdadeira negativa de acesso à jurisdição, implicando ofensa ao inciso XXXV do artigo 5.o da CF. Cabe registrar que a mera previsão desse direito fundamental tem redu- zida aplicabilidade, já que o dispositivo não estabelece os critérios de razoa- bilidade ou os meios de assegurar-se a celeridade processual, nem estipula sanções para os responsáveis pela exagerada duração do processo. Para que seja alcançado o objetivo deste dispositivo faz-se necessário o fortalecimento da estrutura judiciária e administrativa e a alteração da le- gislação processual, com a extinção de recursos e medidas protelatórias e a estipulação de sanções mais gravosas que as atualmente previstas àqueles que concorrem para a morosidade processual. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 89 Direitos e deveres individuais e coletivos III 89 A Emenda Constitucional 45/2004, entretanto, acrescentou ao texto cons- titucional diversas inovações que têm como objetivo, principal ou secundário, ampliar a eficiência da prestação jurisdicional, entre as quais podemos citar: a imediata distribuição dos processos, em todas as instâncias jurisdi- � cionais (CF, art. 93, IX); a possibilidade de delegação aos servidores do Judiciário da compe- � tência para a produção de atos de mero expediente, sem caráter deci- sório, e de atos de administração (CF, art. 93, XIV); a proibição de férias coletivas no Poder Judiciário (CF, art. 93, XII); � a súmula vinculante do STF (CF, art. 103-A); � a obrigatoriedade de comprovação da repercussão geral da questão � constitucional como pressuposto de admissibilidade do recurso extra- ordinário (CF, art. 102, §3.º). Instrumentos constitucionais de tutela dos direitos e das liberdades (garantias) Habeas corpus Protege a liberdade de locomoção (CF, art. 5.º, LXVIII). Pode ser pre- ventivo ou repressivo. É regulamentado pelo Código de Processo Penal (Decreto-Lei 3.689, de 3 de outubro de 1941), a partir do artigo 647. Trata-se de ação de natureza penal de procedimento especial. Por seu intermédio busca-se um provimento judicial que faça cessar a violência ou a coação à li- berdade de locomoção do indivíduo atingido pela ilegalidade ou pelo abuso de poder. Pode ser impetrado pela própria pessoa, por menor ou estrangei- ro. A propositura da ação é gratuita. Art. 5.º [...] LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; [...] Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 90 Direitos e deveres individuais e coletivos III 9191 Mandado de segurança Instrumento judicial, de natureza civil e de rito especial e sumaríssimo. Uso subsidiário. (CF, art. 5.º, LXIX). Serve para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Art. 5.º [...] LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; [...] Mandado de segurança coletivo Objetiva proteger direito líquido e certo de uma coletividade, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público. Art. 5.º [...] LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; [...] Mandado de injunção Instrumento que, ao lado da ação direta de inconstitucionalidade por omissão, destina-se a combater a ausência de efetividade de determinadas normas constitucionais por falta de regulamentação. Trata-se de uma ação constitucional de natureza civil e de rito especial, destinada a combater a inércia do Poder Público no cumprimento de seu dever constitucional de legislar, quando esta omissão impede o pleno exercício dos direitos e liber- Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 91 Direitos e deveres individuais e coletivos III 91 dades contemplados na Constituição, e as prerrogativas inerentes à naciona- lidade, à soberania e à cidadania. Art. 5.º [...] LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; [...] Habeas data Ação constitucional de natureza civil e de rito sumário colocada à dispo- sição de pessoas físicas e jurídicas para o conhecimento de informações a seu respeito, que estejam armazenadas em registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público, e para a retificação dessas mesmas informações quando o interessado não preferir se valer de um processo judicial sigiloso e processo administrativo sigiloso. É regulamenta- do pela Lei 9.507, de 12 de novembro de 1997. Art. 5.º [...] LXXII - conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; [...] Ação popular Ação de natureza civil por meio da qual qualquer cidadão pode pleitear a invalidação de atos praticados pelo poder público ou entidades de que participe, lesivos ao patrimônio público, ao meio ambiente, à moralidade ad- ministrativa ou ao patrimônio histórico e cultural, bem como a condenação por perdas e danos dos responsáveis pela lesão. É regulamentado pela Lei 4.717, de 29 de junho de 1965. Art. 5.º [...] LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; [...] Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informaçõeswww.iesde.com.br 92 Direitos e deveres individuais e coletivos III 9393 Atividades de aplicação Julgue os itens a seguir como certo ou errado. 1. (Cespe) Se um brasileiro nato viajar a outro país estrangeiro, lá cometer algum crime, envolvendo tráfico ilícito de entorpecentes, e voltar ao seu país de origem, caso aquele país requeira a extradição desse indivíduo, o Brasil poderá extraditá-lo. 2. (Cespe) Associação com seis meses de constituição pode impetrar man- dado de segurança coletivo. 3. (Cespe) Dispõe a CF que nenhum brasileiro pode ser extraditado, nem concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião. 4. (Cespe) As ações de habeas corpus e habeas data são gratuitas. 5. (Cespe) Será cabível, em qualquer circunstância, manejo de mandado de segurança para proteger direito líquido e certo quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público. 6. (Cespe) Somente o brasileiro nato possui legitimação constitucional para propositura de ação popular, desde que esteja em dia com seus deveres políticos. 7. (Cespe) O mandado de segurança é o meio correto para determinar à ad- ministração a retificação de dados relativos ao impetrante nos arquivos da repartição pública. 8. (Cespe) O estrangeiro sem domicílio no Brasil não tem legitimidade para impetrar habeas corpus, já que os direitos e as garantias fundamentais são dirigidos aos brasileiros e aos estrangeiros aqui residentes. 9. (Cespe) O STF considera lícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 93 Direitos e deveres individuais e coletivos III 93 Dicas de estudo Livros: Direito Constitucional Esquematizado, de Pedro Lenza, editora Saraiva e Di- reito Constitucional, de Marcelo Novelino, editora Método. Referências LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2009. PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. 4. ed. São Paulo: Método, 2009. SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 2003. Gabarito 1. Errado. O brasileiro nato nunca poderá ser extraditado (CF, art. 5.o, LI). 2. Errado. A associação deve estar legalmente constituída e em funciona- mento há pelo menos um ano. Exigência não necessária para partidos políticos, entidades de classe e organizações sindicais (CF, art. 5.°, LXX). 3. Errado. Isso vale para o brasileiro nato, pois o brasileiro naturalizado po- derá ser extraditado, em caso de crime comum, praticado antes da natu- ralização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpe- centes e drogas afins, na forma da lei (CF, art. 5.o, LI). 4. Certo (CF, art. 5.o, LXXVII). 5. Errado. Será concedido mandado de segurança para proteger direito lí- quido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público (CF, art. 5.o, LXIX). 6. Errado. O requisito exigido é que seja cidadão, ou seja, aquele que está Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br 94 Direitos e deveres individuais e coletivos III em gozo dos seus direitos políticos, seja brasileiro nato, naturalizado ou até mesmo o português equiparado (CF, art. 5.º, LXXIII). 7. Errado. O remédio constitucional que deve ser utilizado é o habeas data, logo, não poderá ser utilizado o mandado de segurança, que é de uso subsidiário (CF, art. 5.o, LXIX e LXXII). 8. Errado. Segundo a jurisprudência do STF, até mesmo o estrangeiro em trânsito tem legitimidade para impetrar remédios constitucionais como habeas corpus, habeas data e mandado de segurança. 9. Errado. A Súmula vinculante 25 dispõe que é ilícita a prisão civil de depo- sitário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
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