Buscar

9- Direitos e deveres individuais e coletivos II resumo.pdf

Prévia do material em texto

Marcos Soares da Mota e Silva
Pós-graduado em Direito Tributário pelo Ins-
tituto Brasileiro de Estudos Tributários (IBET) e 
em Direito Processual Tributário pela Universi-
dade de Brasília (UnB). Graduado em Engenha-
ria Mecânica pela Universidade Federal do Rio 
de Janeiro (UFRJ) e em Direito pela Universida-
de do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Profes-
sor de Direito Tributário e Direito Constitucional 
no Centro de Estudos Alexandre Vasconcellos 
(CEAV), Universidade Estácio de Sá, Faculdade 
da Academia Brasileira de Educação e Cultu-
ra (Fabec) e em preparatórios para concursos 
públicos. Atua como auditor fiscal da Receita 
Federal.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
Direitos e deveres 
individuais e coletivos III 
Dos direitos e deveres individuais e coletivos 
Extradição 
Art. 5.º [...]
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, 
praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de 
entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;
LII - não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;
[...]
Extradição é o ato por meio do qual um Estado entrega alguém, acusado 
de um crime ou já condenado pelo seu cometimento, a outro Estado, que o 
solicita, para os fins de julgamento ou punição.
Há duas espécies de extradição:
Ativa – é requerida pelo Brasil a outros Estados; �
Passiva – é requerida ao Brasil por outros Estados. �
A CF não fala a respeito da extradição ativa, aquela requerida pelo Brasil 
a outros Estados. Há, entretanto, algumas limitações à extradição passiva, 
conforme descrito nos incisos acima transcritos.
São três os conceitos básicos:
o brasileiro nato nunca será extraditado; �
quanto ao brasileiro naturalizado, a regra também é a impossibilidade �
de sua extradição; entretanto, ele poderá ser extraditado em duas hi-
póteses excepcionais: crime comum, praticado antes da naturalização, 
ou comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e 
drogas afins, na forma da lei;
77
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
78
Direitos e deveres individuais e coletivos III
7979
quanto ao estrangeiro, a regra é a possibilidade de extradição, porém �
não é admitida a extradição por crime político ou de opinião.
Cabe registrar alguns entendimentos do Supremo Tribunal Federal:
não há uma prévia definição na Constituição ou nas leis do que seja �
crime político ou de opinião; caberá ao STF, no caso concreto, analisar 
a matéria;
o pedido de extradição só poderá ser atendido pelo Brasil se houver �
um tratado internacional entre o Brasil e o país requerente, ou inexis-
tindo tal tratado, se houver, por parte do país requerente, promessa de 
reciprocidade de tratamento ao Brasil;
só haverá extradição se houver a chamada “dupla tipicidade”, ou seja, �
se a conduta atribuída ao extraditando for punível no Brasil e no Esta-
do requerente;
aplica-se à extradição o princípio da “especialidade”, ou seja, o extradi- �
tado somente poderá ser processado e julgado pelo país requerente 
pelo crime objeto do pedido de extradição; o STF, entretanto, tem acei-
tado o “pedido de extensão”, que seria a permissão, solicitada pelo país 
requerente, de processar a pessoa já extraditada por crime praticado 
antes da extradição e diferente daquele que motivou o pedido de ex-
tradição, desde que o Brasil expressamente autorize.
Princípio do devido processo legal 
Art. 5.º [...]
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
[...]
O princípio do devido processo legal (due process of law) deve ser con-
jugado com o princípio da inafastabilidade de jurisdição (CF, art. 5.º, XXXV), 
com o princípio do juiz natural (CF, art. 5.o, XXXVII e LIII), com o direito ao con-
traditório e à ampla defesa (CF, art. 5.°, LV), com a vedação de provas ilícitas 
no processo (CF, art. 5.º, LVI), com a publicidade do processo (CF, art. 5.º, LX) 
e com a necessidade de motivação das decisões.
O STF afirmou que os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade 
estão inseridos nesse inciso, que traz a garantia do devido processo legal.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
79
Direitos e deveres individuais e coletivos III
79
Princípios do contraditório e da ampla defesa 
Art. 5.º [...]
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são 
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
[...]
Por ampla defesa, deve-se entender o direito de trazer ao processo, ad-
ministrativo ou judicial, todos os elementos de prova obtidos de forma lícita, 
bem como o direito de omitir-se ou calar-se.
Por contraditório, deve-se entender o direito de tomar conhecimento e 
contraditar tudo o que é trazido aos autos pela parte contrária.
Inadmissibilidade de provas ilícitas 
Art. 5.º [...]
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;
[...]
Considerações importantes:
a vedação prevista na CF alcança o processo judicial e o processo �
administrativo;
a presença de prova ilícita nos autos não invalida o processo; �
a prova ilícita contamina todas as provas dela decorrentes (teoria dos �
frutos da árvore envenenada);
irregularidades em peças integrantes do inquérito policial não conta- �
minam o processo judicial;
é lícita a prova obtida por meio de escuta telefônica que incrimina ou- �
tra pessoa e não o investigado em relação a quem havia autorização 
para a referida escuta.
Presunção de inocência 
Art. 5.º [...]
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal 
condenatória;
[...]
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
80
Direitos e deveres individuais e coletivos III
8181
O dispositivo anterior objetiva garantir a liberdade do indivíduo, que é 
presumidamente inocente, devendo o Estado provar a sua culpabilidade. A 
regra é que o Estado somente poderá impor a pena após o trânsito em julga-
do da sentença penal condenatória.
Entretanto, cabe destacar o seguinte:
o princípio da presunção de inocência não afasta a legitimidade das �
diversas espécies de prisões provisórias. O STF firmou orientação de 
que “a prisão provisória não viola o princípio constitucional da presun-
ção da inocência” (HC 72663/SP)1;
o princípio da presunção de inocência não impede que se considere �
como maus antecedentes do acusado a existência de inquéritos poli-
ciais ou processos criminais sem condenação definitiva;
o princípio da presunção de inocência está circunscrito à esfera penal, �
não se aplicando, em sua inteireza, à esfera administrativa;
é proibido lançar o nome do réu no rol dos culpados, enquanto não �
estiver definitivamente condenado.
Identificação criminal 
Art. 5.º [...]
LVIII - o civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas 
hipóteses previstas em lei;
[...]
Este inciso impediu a recepção do inciso VIII do artigo 6.º do Código de Pro-
cesso Penal, que determinava a identificação datiloscópica dos indiciados.
A identificação criminal é um ato complexo, resultado de um conjunto de 
atos, como o preenchimento de um boletim de vida pregressa, a identificação fo-
tográfica de frente e de perfil e a identificação datiloscópica para fins criminais.
Ação penal privada subsidiária da pública 
Art. 5.º [...]
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no 
prazo legal;
[...]
1 HC 72.663/SP. Rel. Min. 
Sydney Sanches, 1.a T., j. 
13/02/1996.
Este materialé parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
81
Direitos e deveres individuais e coletivos III
81
A ação penal pública é atribuição privativa do Ministério Público (CF, art. 
129, I), que tem autonomia, diante de um caso concreto, para decidir ou não 
pela sua instauração.
Entretanto, como o Ministério Público pode permanecer inerte, a Consti-
tuição abre uma exceção a esta regra, e garante ao ofendido a legitimidade 
para a propositura da ação penal, que será então chamada ação penal priva-
da subsidiária da pública.
O Ministério Público, no momento em que dispõe de provas sobre a ma-
terialidade e a autoria de um delito, deve ajuizar a ação penal pública no 
prazo prescrito em lei. Se não o fizer, nem requisitar diligências à autoridade 
policial ou requerer o arquivamento do inquérito policial, poderá o ofendi-
do ou, se incapaz, seu representante legal, ajuizar a ação penal em lugar do 
Ministério Público.
Portanto, a ação penal subsidiária não pode ser ajuizada pelo simples fato 
de o Ministério Público deixar de ajuizar a ação penal pública no prazo legal, 
pois o membro do Ministério Público pode ter entendido que não dispunha 
ainda de elementos suficientes para dar início ao processo penal, requisitan-
do à autoridade policial a realização de diligências ou perícias.
Pode, ainda, entender que o fato não constitui um crime, ou que existe 
uma hipótese de exclusão da sua ilicitude, optando então por requerer ao 
juiz seu arquivamento. Pode, por fim, oferecer a transação penal, nas infra-
ções penais de menor potencial ofensivo.
Por outro lado, se o ofendido (ou seu representante legal) quedar-se 
inerte, ou seja, não praticar ato necessário ao regular prosseguimento da 
ação penal subsidiária, o Ministério Público poderá retomar as rédeas da 
ação penal. Assim, teoricamente, uma ação penal pública pode passar a con-
dição de ação penal privada subsidiária da pública e voltar a ser uma ação 
penal pública novamente.
Princípio da publicidade dos atos processuais 
Art. 5.º [...]
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da 
intimidade ou o interesse social o exigirem;
[...]
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
82
Direitos e deveres individuais e coletivos III
8383
O princípio da publicidade dos atos processuais também encontra respal-
do no artigo 93, inciso IX, da CF; e, nos dois dispositivos, admite-se de forma 
excepcional a possibilidade do segredo de justiça, limitando-se a presença, 
em determinados atos, às próprias partes e seus advogados, ou somente a 
estes. Há casos em que a própria lei ordinária processual determina o segredo 
de justiça, como o artigo 155 do Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 155. Os atos processuais são públicos. Correm, todavia, em segredo de justiça os 
processos:
I - em que o exigir o interesse público:
II - que dizem respeito a casamento, filiação, separação dos cônjuges, conversão desta em 
divórcio, alimentos e guarda de menores.
Parágrafo único. O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos é restrito 
às partes e a seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode 
requerer ao juiz certidão do dispositivo da sentença, bem como de inventário e partilha 
resultantes do desquite.
A Emenda Constitucional 45/2004 alterou o final da redação do artigo 
93, inciso IX, para ponderar interesses entre o sigilo do processo (derivado 
do direito de preservação da intimidade) e o possível prejuízo do interesse 
público à informação. O objetivo do legislador constitucional foi o de preser-
var a transparência do processo, afastando a impossibilidade de divulgação 
de informações que sejam de interesse geral da sociedade, nos seguintes 
termos:
Art. 93. [...]
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas 
todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados 
atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a 
preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse 
público à informação;
[...]
Prisão 
Art. 5.º [...]
LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada 
de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime 
propriamente militar, definidos em lei;
[...]
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
83
Direitos e deveres individuais e coletivos III
83
Com exceção dos casos de transgressão militar e crime propriamente mi-
litar, somente é possível que alguém seja preso por ordem escrita e funda-
mentada de autoridade judiciária competente, ou nos casos de prisão em 
flagrante. Em face desta norma constitucional considera-se que as prisões 
decorrentes de determinação de autoridade policial (conforme previsão na 
Lei de Contravenções Penais) ou de autoridade administrativa (como a prisão 
para extradição decretada pelo ministro de Justiça), previstas na legislação 
anterior à Constituição, não foram por ela recepcionadas.
Art. 5.º [...]
LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados 
imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;
[...]
Em função da realidade vivida por muitos dos constituintes no tempo 
do regime militar, quando muitas pessoas eram presas e transferidas de um 
local para outro sem que o juiz ou a família do preso fosse informada, decidiu 
o legislador constituinte determinar a regra do inciso LXII como forma de 
evitar que se repetissem fatos de triste lembrança.
Princípio da não autoincriminação 
Art. 5.º [...]
LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, 
sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;
[...]
Este dispositivo contempla o direito ao silêncio, também chamado de pri-
vilégio contra a autoincriminação.
O preso pode optar por dar a sua versão sobre o fato de que é acusado, 
pode dar apenas algumas informações a ele relacionadas, como pode sim-
plesmente ficar em silêncio e negar-se a responder a qualquer pergunta da 
autoridade policial (durante o inquérito policial), judiciária (durante a instru-
ção processual penal) ou mesmo legislativa (ao depor perante uma Comis-
são Parlamentar de Inquérito). Poderá até mesmo mentir. Qualquer que seja 
sua postura, dela não poderá resultar-lhe nenhum prejuízo em termos de 
comprovação de culpa ou de cominação de penalidades.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
84
Direitos e deveres individuais e coletivos III
8585
Ademais, o preso tem o direito constitucional de ser informado sobre os mo-
tivos de sua prisão e a identidade dos agentes responsáveis por ela, até para que 
possa responsabilizá-los, em caso de ilegalidade e abuso de poder. Além disso, 
deve ser cientificado do local para onde será levado, podendo comunicar-se com 
seus parentes e, se o desejar, com um advogado.
O privilégio contra a autoincriminação é um direito subjetivo assegurado a 
qualquer pessoa, que, na condição de testemunha, de indiciado ou de réu, deva 
prestar depoimento perante qualquer autoridade pública. E não se limita a “ficar 
calado”, podendo se manifestar pelo direito de não se submeter a exames de 
corpo de delito; de não soprar o bafômetro; de não apresentar documentos a au-
toridade fiscal que sejam comprobatórios de prática de crimes contra a ordem tri-
butária (ou quaisquer outros); e de não apresentar qualquer elemento tais como 
roupas, armas ou utensílios domésticos à autoridade policial que os solicitar.
Liberdade provisóriaArt. 5.º [...]
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade 
provisória, com ou sem fiança;
[...]
A fiança é uma garantia prestada à autoridade policial ou judiciária pelo 
preso, acusado ou indiciado, a fim de que possa responder ao processo penal 
em liberdade, obrigando-se a comparecer a todos os atos processuais em que 
sua presença seja exigida.
Há crimes inafiançáveis, que não admitem a liberação do preso por meio 
de fiança. Há, por outro lado, crimes afiançáveis, que permitem que o afian-
çado responda ao processo em liberdade. Por fim, há crimes de menor gravi-
dade, em que o preso em flagrante delito, uma vez autuado pela autoridade 
policial, é imediatamente posto em liberdade provisória, independentemente 
do pagamento de qualquer fiança.
Prisão civil 
Art. 5.º [...]
LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento 
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
[...]
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
85
Direitos e deveres individuais e coletivos III
85
A prisão civil é inconfundível com a prisão penal. Enquanto a prisão penal 
tem caráter essencialmente punitivo, caracterizando-se como uma retribui-
ção ao delito praticado, a prisão civil tem natureza eminentemente coercitiva, 
não objetivando a punição do indivíduo, mas obrigá-lo ao adimplemento 
das prestações a que está obrigado.
O inciso LXVII prevê duas hipóteses em que é possível a utilização da 
prisão civil, devendo-se considerar que este rol não pode ser ampliado pela 
legislação ordinária. A primeira hipótese ocorre no caso de descumprimento 
de obrigação alimentícia.
Não é suficiente o mero descumprimento da obrigação; é indispensável 
que ele seja voluntário, isto é, que o indivíduo possa efetuar o pagamento e, 
por sua livre e espontânea vontade, negue-se a fazê-lo.
Segundo o STF, a prisão civil do devedor de pensão alimentícia não é ca-
bível para a cobrança de prestações atrasadas por período superior a noven-
ta dias. Entende o Supremo que a inércia do credor da dívida (que deixou 
transcorrer o referido prazo, para só então exigi-la) altera a própria natureza 
da dívida, deixando as prestações de ter caráter alimentício, e passando a ser 
tratadas como uma dívida civil comum, que não autoriza a prisão.
A segunda hipótese em que a CF admite a prisão civil é no caso do de-
positário infiel, aquele que, por ato bilateral ou por determinação judicial, 
assume a obrigação de atuar como depositário, guardando determinado 
bem para posteriormente devolvê-lo a quem de direito, e se nega à fazê-lo 
quando o deve.
Apesar de boa parte da doutrina, desde a ratificação pelo Brasil da Con-
venção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de San Jose da Costa Rica) 
– que só permite a prisão civil por dívida na hipótese do inadimplemento de 
obrigação alimentícia – ser contrária à possibilidade da prisão civil do depo-
sitário infiel, a recente jurisprudência do Supremo Tribunal Federal vinha ad-
mitindo tal prisão e até mesmo um alargamento do conceito de depositário 
infiel, tendo mesmo admitido a prisão civil em casos como inadimplência 
em contratos de alienação fiduciária quando evidenciada a fraude contra o 
credor na execução.
Dessa forma, o STF vinha reconhecendo a legitimidade constitucional da 
prisão civil do depositário infiel nos casos de alienação fiduciária em garantia 
(DL 911/69, art. 4.º). Com base nesse entendimento, as decisões vinham se 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
86
Direitos e deveres individuais e coletivos III
8787
repetindo no sentido de reconhecer a perfeita identidade entre a condição 
jurídica do devedor fiduciante e a do depositário.
Sobre o cabimento da prisão no caso do contrato de depósito propria-
mente dito não restava qualquer dúvida: decorria da literalidade do texto 
constitucional.
O STF também entendia como cabível a prisão civil no caso do penhor 
mercantil e do penhor agrícola.
Ocorre que em 03/12/2008, por maioria de votos, quando do julgamento 
dos recursos extraordinários 349.703 e 466.343, o STF passou a entender que 
os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos celebrados 
pelo Brasil têm status supralegal, situando-se abaixo da CF, mas acima da 
legislação interna.
Em função disso, o Pacto de San José da Costa Rica, tornou inaplicável 
a legislação infraconstitucional sobre a prisão do depositário infiel, seja ela 
anterior ou posterior ao ato de retificação de tais normas internacionais, e, 
com isso, afastou a possibilidade de prisão do depositário infiel, prevista no 
inciso LXVII do artigo 5.º da CF.
Na verdade, o texto constitucional não foi revogado pelo tratado inter-
nacional, simplesmente, ele se torna inaplicável em razão da ausência de 
normas infraconstitucionais regulamentadoras, paralisadas pela norma in-
ternacional. Logo, a prisão civil do depositário infiel não foi revogada pela 
ratificação do Pacto, mas deixou de ter aplicabilidade diante do efeito para-
lisante do tratado em relação à legislação infraconstitucional que disciplina 
a matéria.
Por fim, cabe registrar que na sessão Plenária do dia 16/12/2009 (DOU de 
23/12/2009, p. 1) o STF editou a seguinte Súmula Vinculante 25, cujo teor é 
o seguinte:
N. 25. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do 
depósito. 
 Portanto, não há mais qualquer dúvida, não cabe prisão civil contra o deposi-
tário infiel. A única prisão civil admitida em nosso ordenamento é a do responsá-
vel pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia.
A CF sujeita os empregados domésticos a um regime especial, negando-
-lhes alguns dos direitos previstos para os demais trabalhadores urbanos ou 
rurais, conforme o caput do artigo 7.º.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
87
Direitos e deveres individuais e coletivos III
87
A assistência judiciária integral e gratuita 
Art. 5.º [...]
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem 
insuficiência de recursos;
[...]
A assistência jurídica integral e gratuita engloba tanto o auxílio extrapro-
cessual, por exemplo, por meio de consultas sobre a legislação, como a assis-
tência processual, no curso de um processo, seja o necessitado autor ou réu. 
Além disso, não se restringe à esfera penal, alcançando os demais ramos do 
Direito, como o trabalhista e o previdenciário. Por fim, abrange não só o tra-
balho do advogado, mas também o do perito (por exemplo, exame de DNA 
para fins de investigação de paternidade).
Embora a CF não dê a todos o direito à assistência jurídica integral e gra-
tuita, ela exige apenas “insuficiência de recursos” como requisito para o gozo 
do direito à assistência, o que significa que a ela fazem jus não somente os 
“reconhecidamente pobres”, como consta no inciso LXXVI, do artigo 5.º, da 
CF, ou seja, os realmente miseráveis, mas todos aqueles que não puderem 
separar uma parte de seus recursos financeiros para custear as despesas do 
processo, sem colocar em risco a sua subsistência ou a de seus familiares.
Erro judiciário 
Art. 5.º [...]
LXXV - o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso 
além do tempo fixado na sentença;
[...]
No caso de erro judiciário cometido na esfera penal, haverá responsabili-
dade civil do Estado, de forma que aquele que for condenado injustamente 
ou que ficar preso além do tempo fixado na sentença terá direito a ajuizar 
uma ação de indenização em face do Estado.
Gratuidade dos serviços do foro extrajudicial 
Art. 5.º [...]
Este material é parte integrante do acervodo IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
88
Direitos e deveres individuais e coletivos III
8989
LXXVI - são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:
a) o registro civil de nascimento;
b) a certidão de óbito;
[...]
De acordo com o disposto no artigo 236 da Constituição, os serviços notariais e 
de registro são exercidos em caráter privado, delegado pelo Poder Público.
Em função disso é admitida a cobrança de emolumentos pela prestação 
de determinados serviços.
Entretanto, no que diz respeito ao registro civil de nascimento e à certidão 
de óbito daqueles que são reconhecidamente pobres, impõe a Constituição 
a sua gratuidade, na forma da lei.
Razoável duração do processo 
Art. 5.º [...]
LXXVIII - a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração 
do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.
[...]
A Emenda Constitucional 45/2004 acrescentou este novo inciso e mais 
dois parágrafos ao artigo 5.º.
A desconsideração do princípio da duração razoável do processo cons-
titui uma verdadeira negativa de acesso à jurisdição, implicando ofensa ao 
inciso XXXV do artigo 5.o da CF.
Cabe registrar que a mera previsão desse direito fundamental tem redu-
zida aplicabilidade, já que o dispositivo não estabelece os critérios de razoa-
bilidade ou os meios de assegurar-se a celeridade processual, nem estipula 
sanções para os responsáveis pela exagerada duração do processo.
Para que seja alcançado o objetivo deste dispositivo faz-se necessário o 
fortalecimento da estrutura judiciária e administrativa e a alteração da le-
gislação processual, com a extinção de recursos e medidas protelatórias e a 
estipulação de sanções mais gravosas que as atualmente previstas àqueles 
que concorrem para a morosidade processual.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
89
Direitos e deveres individuais e coletivos III
89
A Emenda Constitucional 45/2004, entretanto, acrescentou ao texto cons-
titucional diversas inovações que têm como objetivo, principal ou secundário, 
ampliar a eficiência da prestação jurisdicional, entre as quais podemos citar:
a imediata distribuição dos processos, em todas as instâncias jurisdi- �
cionais (CF, art. 93, IX);
a possibilidade de delegação aos servidores do Judiciário da compe- �
tência para a produção de atos de mero expediente, sem caráter deci-
sório, e de atos de administração (CF, art. 93, XIV);
a proibição de férias coletivas no Poder Judiciário (CF, art. 93, XII); �
a súmula vinculante do STF (CF, art. 103-A); �
a obrigatoriedade de comprovação da repercussão geral da questão �
constitucional como pressuposto de admissibilidade do recurso extra-
ordinário (CF, art. 102, §3.º).
Instrumentos constitucionais de tutela 
dos direitos e das liberdades (garantias) 
Habeas corpus 
Protege a liberdade de locomoção (CF, art. 5.º, LXVIII). Pode ser pre-
ventivo ou repressivo. É regulamentado pelo Código de Processo Penal 
(Decreto-Lei 3.689, de 3 de outubro de 1941), a partir do artigo 647. Trata-se 
de ação de natureza penal de procedimento especial. Por seu intermédio 
busca-se um provimento judicial que faça cessar a violência ou a coação à li-
berdade de locomoção do indivíduo atingido pela ilegalidade ou pelo abuso 
de poder. Pode ser impetrado pela própria pessoa, por menor ou estrangei-
ro. A propositura da ação é gratuita.
Art. 5.º [...]
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de 
sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de 
poder;
[...]
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
90
Direitos e deveres individuais e coletivos III
9191
Mandado de segurança 
Instrumento judicial, de natureza civil e de rito especial e sumaríssimo. 
Uso subsidiário. (CF, art. 5.º, LXIX). Serve para proteger direito líquido e certo, 
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela 
ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa 
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
Art. 5.º [...]
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não 
amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade 
ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de 
atribuições do Poder Público;
[...]
Mandado de segurança coletivo 
Objetiva proteger direito líquido e certo de uma coletividade, quando o 
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou 
agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
Art. 5.º [...]
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em 
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou 
associados;
[...]
Mandado de injunção 
Instrumento que, ao lado da ação direta de inconstitucionalidade por 
omissão, destina-se a combater a ausência de efetividade de determinadas 
normas constitucionais por falta de regulamentação. Trata-se de uma ação 
constitucional de natureza civil e de rito especial, destinada a combater a 
inércia do Poder Público no cumprimento de seu dever constitucional de 
legislar, quando esta omissão impede o pleno exercício dos direitos e liber-
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
91
Direitos e deveres individuais e coletivos III
91
dades contemplados na Constituição, e as prerrogativas inerentes à naciona-
lidade, à soberania e à cidadania.
Art. 5.º [...]
LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora 
torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas 
inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;
[...]
Habeas data 
Ação constitucional de natureza civil e de rito sumário colocada à dispo-
sição de pessoas físicas e jurídicas para o conhecimento de informações a 
seu respeito, que estejam armazenadas em registro ou banco de dados de 
entidades governamentais ou de caráter público, e para a retificação dessas 
mesmas informações quando o interessado não preferir se valer de um 
processo judicial sigiloso e processo administrativo sigiloso. É regulamenta-
do pela Lei 9.507, de 12 de novembro de 1997.
Art. 5.º [...]
LXXII - conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes 
de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial 
ou administrativo;
[...]
Ação popular 
Ação de natureza civil por meio da qual qualquer cidadão pode pleitear 
a invalidação de atos praticados pelo poder público ou entidades de que 
participe, lesivos ao patrimônio público, ao meio ambiente, à moralidade ad-
ministrativa ou ao patrimônio histórico e cultural, bem como a condenação 
por perdas e danos dos responsáveis pela lesão. É regulamentado pela Lei 
4.717, de 29 de junho de 1965.
Art. 5.º [...]
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular 
ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade 
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, 
salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;
[...]
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informaçõeswww.iesde.com.br
92
Direitos e deveres individuais e coletivos III
9393
Atividades de aplicação
Julgue os itens a seguir como certo ou errado.
1. (Cespe) Se um brasileiro nato viajar a outro país estrangeiro, lá cometer 
algum crime, envolvendo tráfico ilícito de entorpecentes, e voltar ao seu 
país de origem, caso aquele país requeira a extradição desse indivíduo, o 
Brasil poderá extraditá-lo.
2. (Cespe) Associação com seis meses de constituição pode impetrar man-
dado de segurança coletivo.
3. (Cespe) Dispõe a CF que nenhum brasileiro pode ser extraditado, nem 
concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.
4. (Cespe) As ações de habeas corpus e habeas data são gratuitas.
5. (Cespe) Será cabível, em qualquer circunstância, manejo de mandado de 
segurança para proteger direito líquido e certo quando o responsável 
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de 
pessoa jurídica no exercício de atribuições do poder público.
6. (Cespe) Somente o brasileiro nato possui legitimação constitucional para 
propositura de ação popular, desde que esteja em dia com seus deveres 
políticos.
7. (Cespe) O mandado de segurança é o meio correto para determinar à ad-
ministração a retificação de dados relativos ao impetrante nos arquivos 
da repartição pública.
8. (Cespe) O estrangeiro sem domicílio no Brasil não tem legitimidade para 
impetrar habeas corpus, já que os direitos e as garantias fundamentais são 
dirigidos aos brasileiros e aos estrangeiros aqui residentes.
9. (Cespe) O STF considera lícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer 
que seja a modalidade do depósito.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
93
Direitos e deveres individuais e coletivos III
93
Dicas de estudo
Livros: Direito Constitucional Esquematizado, de Pedro Lenza, editora Saraiva e Di-
reito Constitucional, de Marcelo Novelino, editora Método.
Referências
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 
2009.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
PAULO, Vicente; ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional Descomplicado. 
4. ed. São Paulo: Método, 2009.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 22. ed. São 
Paulo: Malheiros, 2003.
Gabarito
1. Errado. O brasileiro nato nunca poderá ser extraditado (CF, art. 5.o, LI).
2. Errado. A associação deve estar legalmente constituída e em funciona-
mento há pelo menos um ano. Exigência não necessária para partidos 
políticos, entidades de classe e organizações sindicais (CF, art. 5.°, LXX).
3. Errado. Isso vale para o brasileiro nato, pois o brasileiro naturalizado po-
derá ser extraditado, em caso de crime comum, praticado antes da natu-
ralização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpe-
centes e drogas afins, na forma da lei (CF, art. 5.o, LI).
4. Certo (CF, art. 5.o, LXXVII).
5. Errado. Será concedido mandado de segurança para proteger direito lí-
quido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando 
o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública 
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público 
(CF, art. 5.o, LXIX).
6. Errado. O requisito exigido é que seja cidadão, ou seja, aquele que está 
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
94
Direitos e deveres individuais e coletivos III
em gozo dos seus direitos políticos, seja brasileiro nato, naturalizado ou 
até mesmo o português equiparado (CF, art. 5.º, LXXIII).
7. Errado. O remédio constitucional que deve ser utilizado é o habeas data, 
logo, não poderá ser utilizado o mandado de segurança, que é de uso 
subsidiário (CF, art. 5.o, LXIX e LXXII).
8. Errado. Segundo a jurisprudência do STF, até mesmo o estrangeiro em 
trânsito tem legitimidade para impetrar remédios constitucionais como 
habeas corpus, habeas data e mandado de segurança.
9. Errado. A Súmula vinculante 25 dispõe que é ilícita a prisão civil de depo-
sitário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., mais informações www.iesde.com.br

Outros materiais

Perguntas Recentes