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1) É possível a averbação no registro civil dos filhos, quando houver alteração de nome dos genitores, para 
que espelhe a verdade real do momento e para que haja uniformidade no sistema jurídico. 
 
EDIÇÃO N. 226: REGISTROS PÚBLICOS, 
CARTORÁRIOS E NOTARIAIS III 
Edição atualizada em: 27/07/2024 
 
 
Imagine a seguinte situação adaptada: 
Paulo Barbosa casou-se com Juliana Lopes Carvalho e esta passou a se chamar Juliana Carvalho Barbosa. 
O casal teve um filho, que foi registrado com o nome de Igor Carvalho Barbosa, constando em sua certidão 
de nascimento que seus pais eram: Paulo Barbosa e Juliana Carvalho Barbosa. 
Depois de alguns anos, o casal decidiu se divorciar e Juliana optou por voltar a utilizar o nome de solteira, 
qual seja, Juliana Lopes Carvalho. 
Ocorre que no registro de nascimento de Igor consta que ele é filho de Juliana Carvalho Barbosa (nome que 
ela usava como casada) e o atual nome dela, após o divórcio, é Juliana Lopes Carvalho. 
É permitido que o registro de nascimento do filho seja alterado nesse caso? Se a mãe, após o divórcio, 
voltou a usar o nome de solteira, o registro de nascimento do filho pode ser modificado para adequar o 
nome lá constante ao atual nome da genitora? 
SIM. É admissível a averbação, no registro de nascimento do filho, da alteração do sobrenome de um dos 
genitores que, em decorrência do divórcio, optou por utilizar novamente o nome de solteiro, contanto que 
ausentes quaisquer prejuízos a terceiros. 
Na presente hipótese, houve mudança do nome da genitora da criança que, em virtude do divórcio, voltou a 
utilizar o nome de solteira. É possível a retificação do seu nome no registro do filho a fim de que prevaleça 
no assentamento informação legítima da vida de todos os envolvidos. 
Mesmo que não houvesse a retificação, ainda assim seria possível explicar porque o nome atual da mãe está 
diferente do nome que consta no registro. Para isso, no entanto, seria indispensável que a mãe, quando fosse 
resolver qualquer situação que envolvesse seu filho, carregasse consigo a cópia da certidão de seu antigo 
casamento com a respectiva averbação do divórcio e o retorno do nome de solteira. O STJ entendeu que 
exigir isso da mãe não era razoável e que seria muito mais simples e coerente que fosse autorizada a 
retificação do registro de nascimento do filho, evitando qualquer dificuldade para que a genitora exercesse 
seu poder familiar. 
Conclui-se que, havendo alteração superveniente que venha a obstaculizar (dificultar) a própria identificação 
do indivíduo no meio social, é possível a retificação do registro civil. 
 
 
 
1 “Jurisprudência em Teses” é um serviço produzido e oferecido pelos servidores da Secretaria de Jurisprudência do Superior Tribunal 
de Justiça e disponível no endereço eletrônico: http://www.stj.jus.br/SCON/jt/ 
A atividade aqui foi a de organizar as teses divulgadas no site do STJ, elaborando ainda breves comentários. Recomenda-se a visita 
ao site do STJ para conhecer este e outros excelentes serviços produzidos pela Secretaria de Jurisprudência do Tribunal. 
 
 
 
 
 
JURISPRUDÊNCIA EM TESES DO STJ 
(comentada pelo Dizer o Direito)1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
http://www.stj.jus.br/SCON/jt/
Jurisprudência em Teses 
EDIÇÃO N. 226: CARTÓRIOS 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
 
Art. 3º (...) Parágrafo único. É ressalvado o direito de averbar alteração do patronímico materno, em 
decorrência do casamento, no termo de nascimento do filho. 
2) É inadmissível a homologação, em juízo, de acordo extrajudicial de retificação de registro civil de menor, 
pois os direitos da personalidade não podem ser transacionados e o procedimento de retificação de 
registro deve observar a forma prevista em lei. 
O princípio da verdade real norteia o registro público e tem por finalidade a segurança jurídica, razão pela 
qual deve espelhar a realidade presente, informando as alterações relevantes ocorridas desde a sua lavratura 
(STJ. 4ª Turma. REsp 1.072.402⁄MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 04/12/2012). 
 
Existe algum fundamento legal? Algum dispositivo de lei que poderia ser invocado? 
SIM. Se a mãe casar e alterar seu nome acrescentando o sobrenome do marido, é permitido que essa 
alteração do patronímico materno seja averbada no registro de nascimento de seus filhos. Isso está previsto 
no art. 3º, parágrafo único da Lei nº 8.560/92: 
 
 
Para o STJ, à luz do princípio da simetria, é possível aplicar essa mesma norma à hipótese inversa, ou seja, 
quando, em decorrência do divórcio, um dos genitores deixa de utilizar o nome de casado. 
Atenção. Dica importante para quem faz concursos de cartório: 
O STJ afirmou que, em razão do princípio da segurança jurídica e da necessidade de preservação dos atos jurídicos 
até então praticados, o nome de casada da mãe não deve ser suprimido (apagado) dos assentamentos do filho. O 
que se deve fazer é a averbação da alteração do nome após o divórcio. Em outras palavras, nos assentamentos 
do registro civil constará o nome original da mãe (nome quando a pessoa foi registrada) e será acrescentada a 
informação de que ela se divorciou e passou a usar o nome de solteira. 
 
 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Sandro namorava Letícia. Eles tiveram uma briga e, nesta noite, Letícia teve uma relação sexual com João. 
Logo em seguida, Letícia voltou a namorar Sandro. 
Três semanas depois, Letícia descobriu que estava grávida. 
Sandro, pensando que a criança recém-nascida era sua filha biológica, assim registrou a criança (Marcela). 
Alguns anos depois, por meio de um exame de DNA feito em uma clínica particular, descobre-se que o pai 
biológico da menor é, na verdade, João. 
 
Acordo 
Sandro (pai registral), João (pai biológico) e Marcela (representada por sua mãe Letícia) celebraram um 
acordo extrajudicial de anulação de assento civil. 
Por intermédio deste instrumento, as referidas partes acordaram que haveria a retificação do registro civil 
da menor Marcela para que houvesse a substituição do nome de seu pai registral Sandro pelo pai biológico 
(João), bem como a retificação do registro no que diz respeito aos respectivos avós paternos. 
As partes ingressaram com pedido para que o juiz homologasse esse acordo. 
O pedido deverá ser acolhido? O referido acordo deve ser homologado? 
NÃO. Esse acordo não pode ser homologado porque foram descumpridos os requisitos e o procedimento 
previstos na lei para essa finalidade. Vejamos: 
1) Neste negócio jurídico, uma criança renunciou ao seu direito à filiação, transferindo essa situação jurídica 
a um terceiro; 
2) O negócio jurídico celebrado pelas partes teve como objeto um direito personalíssimo, sobre o qual não 
se admite a transação, o que se depreende da interpretação a contrario sensu do art. 841 do CC: 
Jurisprudência em Teses 
EDIÇÃO N. 226: CARTÓRIOS 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
 
3) A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do 
vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios (Tema n. 
622/STF). 
Parto suposto. Supressão ou alteração de direito inerente ao estado civil de recém-nascido 
Art. 242. Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar recém-nascido 
ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil: 
 
 
3) Esse negócio jurídico não preenche os requisitos básicos previstos no art. 104, II e III, do CC, uma vez que 
se negociou objeto ILÍCITO – direitos da personalidade de uma menor sem que tenha sido observada a forma 
prescrita em lei quando se trata de retificação de registros civis. 
4) Não se fez uma apuração mais aprofundada a respeito da existência de erro ou de falsidade do registro da 
criança, condições indispensável para que se possa modificar o registro de nascimento, na forma do art. 
1.604 do CC. 
5) Em um caso desta natureza, não se pode relegar ao Ministério Público o papel de mero opinante no 
processo de homologação. 
6) Nãose pode utilizar o exame de DNA realizado em clínica particular como meio de prova válido para 
homologar o acordo extrajudicial, especialmente porque a prova pericial válida é aquela submetida ao crivo 
judicial, em que se deve observar o efetivo contraditório e a ampla defesa, com a possibilidade de 
acompanhamento da produção da prova por todos os atores do processo, com oportuna quesitação, 
diligências, participação do assistente técnico e produção de laudos técnicos convergentes ou divergentes. 
7) Deveria ter sido realizado um estudos psicossocial para se verificar se existia ou não vínculo socioafetivo 
entre a criança e o pai registral. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.698.717-MS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/06/2018 (Info 627). 
 
 
 
NOÇÕES GERAIS SOBRE ADOÇÃO À BRASILEIRA 
O que é a chamada “adoção à brasileira”? 
“Adoção à brasileira” ou “adoção à moda brasileira” ocorre quando o homem ou a mulher declara, para fins 
de registro civil, um menor como sendo seu filho biológico, sem que isso seja verdade. 
Exemplo 
Carla tinha um namorado (Bruno), tendo ficado grávida desse rapaz. Ao contar a Bruno sobre a gravidez, este 
achou que era muito novo para ser pai e “sumiu”, não deixando paradeiro conhecido. 
Três meses depois, Carla decide se reconciliar com André, seu antigo noivo, que promete à amada que irá se 
casar com ela e “assumir” o nascituro. No dia em que nasce a criança, André vai até o registro civil de pessoas 
naturais e, de posse da DNV (declaração de nascido vivo) fornecida pela maternidade, declara que o menor 
recém-nascido (Vitor) é seu filho e de Carla, sendo o registro de nascimento lavrado nesses termos. 
 
Por que recebe esse nome? 
Essa prática é chamada pejorativamente de “adoção à brasileira” porque é uma espécie de “adoção” 
realizada sem observar as exigências legais, ou seja, uma adoção feita segundo o “jeitinho brasileiro”. 
Tecnicamente, contudo, não se trata de adoção, porque não segue o procedimento legal. Consiste, em 
verdade, em uma perfilhação simulada. 
 
A “adoção à brasileira” é permitida? 
NÃO. Formalmente, esta conduta é até mesmo prevista como crime pelo Código Penal: 
 
Art. 841. Só quanto a direitos patrimoniais de caráter privado se permite a transação. 
Jurisprudência em Teses 
EDIÇÃO N. 226: CARTÓRIOS 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
 
 
 
Vale ressaltar, entretanto, que, na prática, dificilmente alguém é condenado ou recebe pena por conta desse 
delito. Isso porque, no caso concreto, poderá o juiz reconhecer a existência de erro de proibição ou, então, 
aplicar o perdão judicial previsto no parágrafo único do art. 242 do CP. 
É preciso, no entanto, que seja investigada a conduta porque, embora a “adoção à brasileira”, na maioria das 
vezes, não represente torpeza de quem a pratica, pode ela ter sido utilizada para a consecução de outros 
ilícitos, como o tráfico internacional de crianças. 
AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CONTRA O PAI BIOLÓGICO SEM ANULAÇÃO DO REGISTRO NO 
QUAL CONSTA OUTRO PAI 
Voltando ao exemplo dado: 
Vitor foi criado e educado por André com todo amor e carinho e, perante a família e amigos, Vitor é conhecido 
como filho de André, sendo poucos os que sabem que não existe vínculo biológico entre eles. 
Quando o rapaz completou 18 anos, Carla decide contar a ele que André não é seu pai biológico, mas sim 
Bruno, narrando toda a história vivenciada. 
Vitor descobre no Facebook que Bruno, seu pai biológico, é um rico empresário, sendo possível observar 
pelas fotos postadas que ele passa férias em lugares incríveis ao redor do mundo. Enquanto isso, Vitor teve 
que trancar a faculdade que cursava por não conseguir pagar as mensalidades e, atualmente, trabalha como 
chapeiro em uma lanchonete do bairro. 
Vitor procura a Defensoria Pública, explica a situação, afirma que deseja ser reconhecido como filho de 
Bruno, ter todos os direitos inerentes a essa condição, mas, ao mesmo tempo, ama muito André e não quer 
deixar de ser seu filho. 
O Defensor Público ajuíza ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos contra Bruno 
pedindo que ele seja reconhecido como pai biológico de Vitor e que, ao mesmo tempo, André continue 
também figurando como pai do autor. Em suma, na certidão de nascimento de Vitor constariam dois pais: 
Bruno e André. Além disso, pede-se a fixação de alimentos a serem pagos por Bruno a fim de que Vitor 
consiga custear sua faculdade. 
O réu contestou a ação afirmando que o Direito brasileiro não admite a dupla filiação e que a paternidade 
socioafetiva deve prevalecer em detrimento da biológica. Assim, como o autor não deseja anular a filiação 
socioafetiva, não se deve reconhecer a filiação biológica. 
O pedido formulado pelo autor pode ser acolhido? É possível que o indivíduo busque ser reconhecido como 
filho biológico de determinado pai e, ao mesmo tempo, continue como filho socioafetivo de outro? É 
possível que uma pessoa tenha dois pais: um biológico e outro socioafetivo e receba de ambos os direitos 
relacionados a essa filiação? 
SIM. 
 
Dignidade da pessoa humana e proteção dos modelos de família diversos do tradicional 
A dignidade da pessoa humana, prevista no art. 1º, III, da CF/88, é classificada por alguns doutrinadores como 
sendo um "sobreprincípio", porque atua "sobre" outros princípios. 
A dignidade humana compreende o ser humano como um ser intelectual e moral, capaz de determinar-se e 
desenvolver-se em liberdade. No campo do direito de família, a dignidade da pessoa humana confere ao 
Pena — reclusão, de dois a seis anos. 
Parágrafo único — Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza: 
Pena — detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. 
A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo 
de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios. 
STF. Plenário. RE 898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21 e 22/09/2016 (Info 840). 
Jurisprudência em Teses 
EDIÇÃO N. 226: CARTÓRIOS 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
 
indivíduo a possibilidade de que ele escolha o formato de família que ele quiser, de acordo com as suas 
relações afetivas interpessoais, mesmo que elas não estejam previstas em lei. 
Direito à busca da felicidade 
O chamado "direito à busca da felicidade" está estritamente ligado à dignidade da pessoa humana. Alguns 
dizem que ele deriva deste sobreprincípio e outros afirmam que ele é o próprio cerne (núcleo) da dignidade 
da pessoa humana. 
A origem histórica do direito à busca da felicidade está em 4 de julho de 1776, na Filadélfia, Pensilvânia, 
quando foi publicada a declaração de independência dos Estados Unidos da América. Em seu preâmbulo, o 
documento exibe a seguinte frase atribuída a Thomas Jefferson: 
“Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, 
dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da 
felicidade.” 
O direito à busca da felicidade faz com que o indivíduo seja o centro do ordenamento jurídico-político que 
deverá reconhecer que ele tem a capacidade de autodeterminação, de autossuficiência e a liberdade de 
escolher seus próprios objetivos. O Estado deve atuar para garantir que essas capacidades próprias sejam 
respeitadas. 
O Min. Luiz Fux narra que a primeira vez em que a Suprema Corte dos Estados Unidos reconheceu a força 
normativa do direito à busca da felicidade foi no caso Meyer v. Nebraska, de 1923 (262 U.S. 390). Havia uma 
lei do Estado de Nebraska de 1919 que proibia as pessoas de estudaram idiomas estrangeiros. O objetivo da 
lei, denominada "Siman Act", era perseguir os imigrantes alemães por conta da 1ª guerra mundial. Um 
professor de alemão chamado Robert T. Meyer questionou a constitucionalidade da lei. A Suprema Corte 
acolheu o pedido e declarou a lei inconstitucional, afirmando que o direito à busca da felicidade seria uma 
norma constitucional implícita e quea lei seria inválida porque interferiu na vocação de professores, nas 
oportunidades dos alunos de adquirirem conhecimento e na prerrogativa dos pais de controlar a educação 
de seus descendentes. Segundo o Min. Fux, "a lição mais importante a ser extraída do caso é a de que sequer 
em tempos de guerra, excepcionais por natureza, poderá o indivíduo ser reduzido a mero instrumento de 
consecução da vontade dos governantes". 
Transportando-se para o Direito de Família, o direito à busca da felicidade funciona como um escudo do ser 
humano em face das tentativas do Estado de enquadrar a sua realidade familiar em modelos pré-concebidos 
pela lei. "É o direito que deve se curvar às vontades e necessidades das pessoas, não o contrário, assim como 
um alfaiate, ao deparar-se com uma vestimenta em tamanho inadequado, faz ajustes na roupa, e não no 
cliente." 
Dois exemplos de aplicação do direito à busca da felicidade pela Suprema Corte dos EUA em casos 
envolvendo direito de família: 
• Loving v. Virginia, de 1967 (388 U.S. 1): uma mulher negra e um homem branco foram condenados a um 
ano de prisão por terem se casado em descumprimento ao Racial Integrity Act, de 1924, lei que proibia 
casamentos entre pessoas de "raças diferentes". A Suprema Corte reverteu a condenação do casal adotando, 
dentre outros fundamentos, o de que o direito à liberdade de casamento é um dos direitos individuais vitais 
e essenciais para a busca ordenada da felicidade por homens livres; 
• Obergefell v. Hodges, de 2015: este foi o julgado por meio do qual a Suprema Corte dos EUA permitiu o 
casamento entre pessoas do mesmo sexo. Fico decidido que a Constituição reconhece a possibilidade de 
casamento de casais homoafetivos porque o direito a casar é uma decorrência essencial do direito à busca 
da felicidade. “A Constituição promete liberdade a todos aqueles sob seu alcance, uma liberdade que inclui 
certos direitos específicos que permitem a pessoas, dentro de um âmbito legal, definir e expressar sua 
identidade” (trecho do voto do Justice Anthony Kennedy). 
Alguns Ministros do STF, em seus votos, já invocaram o direito à busca da felicidade em temas de direito de 
família. Confira: 
Jurisprudência em Teses 
EDIÇÃO N. 226: CARTÓRIOS 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
 
“Reconhecimento do direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da ‘dignidade da pessoa 
humana’: direito a auto-estima no mais elevado ponto da consciência do indivíduo. Direito à busca da 
felicidade. Salto normativo da proibição do preconceito para a proclamação do direito à liberdade sexual.” 
(ADPF 132, Rel. Min. Ayres Britto, DJe de 14/10/2011) 
 
 
 
 
Em suma, tanto a dignidade humana como o direito à busca da felicidade asseguram que os indivíduos sejam 
senhores dos seus próprios destinos, condutas e modos de vida, sendo proibido que o Estado, seja por meio de 
seus governantes, seja por intermédio dos legisladores, imponha modelos obrigatórios de família. 
Deve-se garantir também que a pessoa seja feliz com suas escolhas existenciais. Isso inclui a proteção e o 
reconhecimento, pelo ordenamento jurídico, de modelos familiares diversos da concepção tradicional. 
Não há hierarquia entre a filiação biológica e a afetiva 
O Direito deve acolher tanto os vínculos de filiação originados da ascendência biológica (filiação biológica) 
como também aqueles construídos pela relação afetiva (filiação socioafetiva). 
Atualmente, não cabe estabelecer uma hierarquia entre a filiação afetiva e a biológica, devendo ser 
reconhecidos ambos os vínculos quando isso for o melhor para os interesses do descendente. 
Como afirma o Min. Fux: 
"Não cabe à lei agir como o Rei Salomão, na conhecida história em que propôs dividir a criança ao meio pela 
impossibilidade de reconhecer a parentalidade entre ela e duas pessoas ao mesmo tempo. Da mesma forma, 
nos tempos atuais, descabe pretender decidir entre a filiação afetiva e a biológica quando o melhor interesse 
do descendente é o reconhecimento jurídico de ambos os vínculos. Do contrário, estar-se-ia transformando 
o ser humano em mero instrumento de aplicação dos esquadros determinados pelos legisladores. É o direito 
que deve servir à pessoa, não o contrário." 
 
Obs: vale ressaltar que a filiação socioafetiva independe da realização de registro, bastando a consolidação 
do vínculo afetivo entre as partes ao longo do tempo, como ocorre nos casos de posse do estado de filho. 
Assim, a "adoção à brasileira" é uma das formas de ocorrer a filiação socioafetiva, mas esta poderá se dar 
mesmo sem que o pai socioafetivo tenha registrado o filho. 
Pluriparentalidade 
O conceito de pluriparentalidade não é novidade no Direito Comparado. Nos Estados Unidos, onde os Estados 
têm competência legislativa em matéria de Direito de Família, a Suprema Corte de Louisiana possui 
jurisprudência consolidada quanto ao reconhecimento da “dupla paternidade” (dual paternity). 
Essas decisões da Suprema Corte fizeram com que, em 2005, houvesse uma alteração no Código Civil estadual 
de Louisiana e passou-se a reconhecer expressamente a possibilidade de dupla paternidade. Com isso, 
Louisiana se tornou o primeiro Estado norte-americano a permitir legalmente que um filho tenha dois pais, 
atribuindo-se a ambos as obrigações inerentes à parentalidade. 
“O princípio constitucional da busca da felicidade, que decorre, por implicitude, do núcleo de que se irradia 
o postulado da dignidade da pessoa humana, assume papel de extremo relevo no processo de afirmação, 
gozo e expansão dos direitos fundamentais, qualificando-se, em função de sua própria teleologia, como fator 
de neutralização de práticas ou de omissões lesivas cuja ocorrência possa comprometer, afetar ou, até 
mesmo, esterilizar direitos e franquias individuais. 
- Assiste, por isso mesmo, a todos, sem qualquer exclusão, o direito à busca da felicidade, verdadeiro 
postulado constitucional implícito, que se qualifica como expressão de uma idéia-força que deriva do 
princípio da essencial dignidade da pessoa humana.” 
(RE 477.554-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, DJe de 26/08/2011) 
Jurisprudência em Teses 
EDIÇÃO N. 226: CARTÓRIOS 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
 
4) A inclusão de dupla paternidade no registro de nascimento de criança concebida com técnicas de 
reprodução assistida heteróloga e gestação por substituição não viola o instituto da adoção unilateral. 
Art. 1.626. A adoção atribui a situação de filho ao adotado, desligando-o de qualquer vínculo com os 
pais e parentes consangüíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento. 
O fato de o legislador no Brasil não prever expressamente a possibilidade de uma pessoa possuir dois pais 
(um socioafetivo e outro biológico) não pode servir de escusa para se negar proteção a situações de 
pluriparentalidade. Esta posição, agora adotada pelo STF, já era reconhecida pela doutrina: 
“Não mais se pode dizer que alguém só pode ter um pai e uma mãe. Agora é possível que pessoas tenham 
vários pais. Identificada a pluriparentalidade, é necessário reconhecer a existência de múltiplos vínculos de 
filiação. Todos os pais devem assumir os encargos decorrentes do poder familiar, sendo que o filho desfruta 
de direitos com relação a todos. Não só no âmbito do direito das famílias, mas também em sede sucessória. 
(...)” (DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 6ª ed. São Paulo: RT, 2010, p. 370). 
Em suma, é juridicamente possível a cumulação de vínculos de filiação derivados da afetividade e da 
consanguinidade. 
 
Paternidade responsável 
Haveria uma afronta ao princípio da paternidade responsável (art. 226, § 7º, da CF/88) se fosse permitido 
que o pai biológico ficasse desobrigado de ser reconhecido como tal pelo simples fato de o filho já ter um pai 
socioafetivo. 
Todos os pais devem assumir os encargos decorrentes do poder familiar, e o filho deve poder desfrutar de 
direitos com relação a todos, não só no âmbito do direito das famílias, mas também em sede sucessória. 
 
 
 
Imagine a seguintesituação hipotética: 
Daniel e João convivem em união estável homoafetiva e resolveram ter um filho. 
Procuraram, então, uma clínica de fertilização na companhia de Martha, irmã de João, para um programa de 
inseminação artificial. 
Daniel e Martha se submeteram ao ciclo de reprodução assistida, culminando na concepção de um embrião. 
Martha foi a “barriga de aluguel”. 
Este embrião deu origem a Letícia. 
Martha, mãe de substituição, por meio de escritura pública, renunciou ao seu poder familiar em relação ao 
nascituro. 
Daí, Daniel e João ajuizaram a ação postulando que ambos fossem declarados pais da criança recém-nascida. 
Eles pediram que fossem reconhecidos como pai biológico (Daniel) e pai socioafetivo (João) de Letícia, 
mantendo em branco os campos relativos aos dados da genitora, pois a concepção ocorreu mediante 
inseminação artificial heteróloga e a gestação por substituição. 
 
MP foi contrário ao pedido 
O Ministério Público se opôs ao pedido alegando a seguinte tese: 
A mãe está renunciando ao poder familiar e o tio da criança (João) está pretendendo adotá-la. Logo, o que 
temos aqui é um pedido de adoção unilateral que está sendo feito sem a observância das normas legais. 
 
Essa argumentação do MP foi acolhida pelo STJ? 
NÃO. Não há que se falar em adoção neste caso. 
Relembre o conceito de adoção trazido pelo Código Civil: 
Relembre-se o enunciado normativo do art. 1.626 do Código Civil: 
 
Jurisprudência em Teses 
EDIÇÃO N. 226: CARTÓRIOS 
DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL 
 
Art. 1.593. O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem. 
É possível a inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de criança concebida mediante as 
técnicas de reprodução assistida heteróloga e com gestação por substituição, não configurando violação ao 
instituto da adoção unilateral. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.608.005-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/05/2019 (Info 649). 
No caso, não se pretendeu, de forma alguma, via decisão judicial, em processo solene, a destituição de um 
poder familiar antigo e a instituição de um novo poder familiar. 
Não se quis apagar completamente a relação familiar anterior e fazer nascer uma nova relação familiar, 
irretratável e irrevogável. 
Pelo contrário, buscou-se o reconhecimento da filiação socioafetiva do companheiro do pai biológico. Com 
isso, não se quis o fim de uma relação paterno-filial anterior, mas a declaração da dupla paternidade da 
criança pelo casal homoafetivo. 
A pretensão, portanto, era de inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de filho havido por 
técnicas de reprodução assistida, e não destituição de um poder familiar reconhecido pelo pai biológico. 
Na I Jornada de Direito Civil do CJF, a questão foi debatida, conforme enunciado nº 111, destacando-se que 
o instituto da adoção e da reprodução assistida heteróloga atribuem a condição de filho ao adotado e à 
criança resultante de técnica conceptiva. 
Na oportunidade, foi feita uma diferenciação no sentido de que, enquanto na adoção haverá o desligamento 
dos vínculos, na reprodução assistida heteróloga sequer será estabelecido o vínculo de parentesco entre a 
criança e o doador do material fecundante, no caso dos autos da genitora da menor: 
 
Desse modo, deve ser estabelecida uma distinção entre os efeitos jurídicos da adoção e da reprodução 
assistida heteróloga, pois, enquanto na primeira há o desligamento dos vínculos de parentesco, na segunda 
sequer há esse vinculo. 
Assim, no caso concreto, a mãe biológica, irmã de um dos autores, não possui vínculo de parentesco com a 
criança, filha do pai biológico e filha socioafetiva do seu companheiro. 
Portanto, não merece acolhida a tese sustentada pelo Ministério Público Estadual, pois, em não havendo 
vínculo de parentesco com a genitora, há tão somente a paternidade biológica da criança, registrada em seus 
assentos cartorários, e a pretensão declaratória da paternidade socioafetiva pelo companheiro. 
O conceito legal de parentesco e filiação tem sido objeto de grandes transformações diante da nova realidade 
fática, em especial, das técnicas de reprodução assistida e da parentalidade socioafetiva, impondo, assim, ao 
intérprete da lei uma nova leitura do preceito legal contido no art. 1.593 do CC: 
 
 
Vale ressaltar também que o STF já admitiu a possibilidade de existir dupla paternidade: 
 
Em suma: 
 
Portaria 63/2017 do CNJ 
Importante mencionar também, especialmente para quem estuda para os concursos de cartório, a existência 
da Portaria 63/2017, do CNJ, que trata sobre o tema nos seguintes termos: 
Enunciado 111 da I Jornada de Direito Civil: A adoção e a reprodução assistida heteróloga atribuem a 
condição de filho ao adotado e à criança resultante de técnica conceptiva heteróloga; porém, enquanto na 
adoção haverá o desligamento dos vínculos entre o adotado e seus parentes consanguíneos, na reprodução 
assistida heteróloga sequer será estabelecido o vínculo de parentesco entre a criança e o doador do material 
fecundante. 
A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo 
de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios. 
STF. Plenário. RE 898060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21 e 22/09/2016 (Info 840). 
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5) É possível a desconstituição de registro civil quando a paternidade registral, em desacordo com a 
verdade biológica, é efetuada e declarada por indivíduo que acreditava ser o pai biológico e quando 
inexiste relação socioafetiva entre pai e filho. 
Seção III 
Da Reprodução Assistida 
Art. 16. O assento de nascimento de filho havido por técnicas de reprodução assistida será inscrito 
no Livro A, independentemente de prévia autorização judicial e observada a legislação em vigor no 
que for pertinente, mediante o comparecimento de ambos os pais, munidos de documentação 
exigida por este provimento. 
§ 1º Se os pais forem casados ou conviverem em união estável, poderá somente um deles 
comparecer ao ato de registro, desde que apresente a documentação referida no art. 17, III, deste 
provimento. 
§ 2º No caso de filhos de casais homoafetivos, o assento de nascimento deverá ser adequado para 
que constem os nomes dos ascendentes, sem referência a distinção quanto à ascendência paterna 
ou materna. 
Art. 17. Será indispensável, para fins de registro e de emissão da certidão de nascimento, a 
apresentação dos seguintes documentos: 
I – declaração de nascido vivo (DNV); 
II – declaração, com firma reconhecida, do diretor técnico da clínica, centro ou serviço de reprodução 
humana em que foi realizada a reprodução assistida, indicando que a criança foi gerada por 
reprodução assistida heteróloga, assim como o nome dos beneficiários; 
III – certidão de casamento, certidão de conversão de união estável em casamento, escritura pública 
de união estável ou sentença em que foi reconhecida a união estável do casal. 
§ 1º Na hipótese de gestação por substituição, não constará do registro o nome da parturiente, 
informado na declaração de nascido vivo, devendo ser apresentado termo de compromisso firmado 
pela doadora temporária do útero, esclarecendo a questão da filiação. 
§ 2º Nas hipóteses de reprodução assistida post mortem, além dos documentos elencados nos incisos 
do caput deste artigo, conforme o caso, deverá ser apresentado termo de autorização prévia 
específica do falecido ou falecida para uso do material biológico preservado, lavrado por instrumento 
público ou particular com firma reconhecida. 
§ 3º O conhecimento da ascendência biológica não importará no reconhecimento do vínculo de 
parentesco e dos respectivos efeitos jurídicos entre o doador ou a doadora e o filho gerado por meio 
da reprodução assistida. 
Art. 18. Será vedada aos oficiais registradores a recusa ao registro de nascimento e à emissão da 
respectiva certidão de filhos havidos portécnica de reprodução assistida, nos termos deste 
provimento. 
§ 1º A recusa prevista no caput deverá ser comunicada ao juiz competente nos termos da legislação 
local, para as providências disciplinares cabíveis. 
§ 2º Todos os documentos referidos no art. 17 deste provimento deverão permanecer arquivados no 
ofício em que foi lavrado o registro civil. 
 
 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João e Maria viviam em união estável, quando ela engravidou. 
O casal vivia uma relação aparentemente monogâmica e, quando a criança nasceu, João registrou o menino 
(chamado de Eduardo) como seu filho e de Maria. 
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Art. 1.601. Cabe ao marido o direito de contestar a paternidade dos filhos nascidos de sua mulher, 
sendo tal ação imprescritível. 
(...) 
Art. 1.604. Ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo 
provando-se erro ou falsidade do registro. 
Durante os primeiros cinco anos de vida de Eduardo, João e Maria ainda estavam juntos e educavam a criança 
normalmente como pais. 
Ocorre que, determinado dia, mexendo no whatsapp de Maria, João viu uma conversa dela com a amiga na 
qual revelava que Eduardo não era filho biológico de João, mas sim de Ricardo, um antigo namorado. 
Arrasado por ter descoberto a traição, João exigiu de Maria um teste de DNA e o resultado foi... que ele não 
era pai de Eduardo. 
A partir daí, João saiu de casa e não quis mais ter nenhum tipo de contato nem com Maria nem com Eduardo. 
Oito anos depois disso, João começou a estudar Direito e decidiu resolver formalmente a situação, razão pela 
qual ajuizou ação negatória de paternidade contra Eduardo pedindo que fosse reconhecido que ele não era 
seu filho biológico e, como consequência, que fosse retificado o registro de nascimento excluindo-se o seu 
nome como pai. 
Em uma situação semelhante a essa, o STJ admitiu a desconstituição da paternidade? 
SIM. REsp 1.330.404-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 5/2/2015 (Info 555). 
O STJ entendeu que, como o pai registral foi enganado (induzido em erro), deveria ser aplicado ao caso os 
arts. 1.601 e 1.604 do Código Civil: 
 
 
No caso concreto, houve vínculo de afeto entre o pai registral (João) e Eduardo. Não seria possível manter 
o registro com base na paternidade socioafetiva? 
A 3ª Turma do STJ, neste julgado, entendeu que não. Segundo defendeu o Min. Relator, “o estabelecimento 
da filiação socioafetiva perpassa, necessariamente, pela vontade e, mesmo, pela voluntariedade do 
apontado pai, ao despender afeto, de ser reconhecido como tal. É dizer: as manifestações de afeto e carinho 
por parte de pessoa próxima à criança somente terão o condão de convolarem-se numa relação de filiação, 
se, além da caracterização do estado de posse de filho, houver, por parte daquele que despende o afeto, a 
clara e inequívoca intenção de ser concebido juridicamente como pai ou mãe daquela criança.” 
No caso concreto, a relação afetiva que havia entre pai registral e filho foi rompida quando este tinha cinco 
anos, de forma que há oito anos eles não mais teriam qualquer contato. Segundo foi apurado, atualmente é 
impossível o restabelecimento desse vínculo que um dia existiu. 
Para o Min. Marco Aurélio Bellizze, “não se pode obrigar o pai registral, induzido a erro substancial, a manter 
uma relação de afeto, igualmente calcada no vício de consentimento originário, impondo-lhe os deveres daí 
advindos, sem que, voluntária e conscientemente, o queira. Como assinalado, a filiação sociafetiva pressupõe 
a vontade e a voluntariedade do apontado pai de ser assim reconhecido juridicamente, circunstância, 
inequivocamente, ausente na hipótese dos autos.” 
E se, no momento em que descobriu a traição, o pai registral tivesse continuado a ter contato com Eduardo 
como se nada tivesse acontecido? Nesse caso, poderia João, depois de uns anos, ajuizar a ação e conseguir 
a desconstituição? 
NÃO. O Min. Relator afirmou que se o pai registral, mesmo após ter obtido ciência da verdade dos fatos, ou 
seja, de que não era pai biológico do filho, mantivesse com este, voluntariamente, vínculos de afetividades, 
aí não seria possível a desconstituição porque teria ficado provada a paternidade socioafetiva. 
Resumindo a tese adotada neste julgado: 
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6) É possível a inclusão do sobrenome do outro cônjuge, na constância do matrimônio, após o período de 
habilitação para o casamento, por meio de procedimento de jurisdição voluntária, com participação 
obrigatória do Ministério Público. 
Art. 1.565 (...) 
§ 1º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. 
• Se o marido ou companheiro descobre que foi induzido em erro no momento de registrar a criança e que 
não é pai biológico do seu filho registral, ele poderá contestar a paternidade, pedindo a retificação do registro 
(arts. 1.601 e 1.604 do CC). 
• Para que o pai registral enganado consiga desconstituir a paternidade, é indispensável que, tão logo ele 
tenha sabido da verdade (da traição), ele tenha se afastado do suposto filho, rompendo imediatamente o 
vínculo afetivo. 
• Se o pai registral enganado, mesmo quando descobriu a verdade, ainda manteve vínculos afetivos com o 
filho registral, neste caso ele não mais poderá desconstituir a paternidade porque teria manifestado, ainda 
que implicitamente, o desejo de continuar sendo pai socioafetivo da criança, não podendo, depois de um 
tempo, arrepender-se e querer retificar o registro. 
Em outras palavras, o pai registral enganado terá êxito em conseguir a desconstituição da paternidade se foi 
induzido a erro, mesmo que antes tivesse bom relacionamento com o suposto filho. Para isso, no entanto, 
precisará romper imediatamente os laços com o filho quando descobrir a traição. 
STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.404-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 5/2/2015 (Info 555). 
 
 
 
Superada. 
O Código Civil prevê que o cônjuge pode acrescentar o sobrenome do outro. Tanto a mulher pode adicionar 
o do marido, quanto o marido o da mulher: 
 
 
Em regra, o sobrenome do marido/esposa é acrescido no momento do matrimônio, sendo essa providência 
requerida já no processo de habilitação para o casamento. 
Imagine agora a seguinte situação: marido e mulher se casaram e, no momento da habilitação para o 
casamento, não requereram a alteração do nome. É possível que, posteriormente, um possa acrescentar o 
sobrenome do outro? 
SIM. Mesmo sem previsão legal expressa, o STJ admitia essa providência: 
Aos cônjuges é permitido incluir ao seu nome o sobrenome do outro, ainda que após a data da celebração 
do casamento. 
O STJ afirmava, contudo, que esse acréscimo deveria que ser feito por intermédio da ação de retificação de 
registros públicos, nos termos dos arts. 57 e 109 da Lei de Registros Públicos (Lei n. 6.015/1973). Assim, não 
era possível a alteração pela via administrativa, mas somente em juízo. STJ. 4ª Turma. REsp 910.094-SC, Rel. 
Raul Araújo, julgado em 4/9/2012. 
É isso que é mencionado na tese. 
Lei nº 14.382/2022 
Ocorre que, em 2022, foi editada a Lei nº 14.382, que alterou o art. 57 da Lei nº 6.015/73 (Lei de Registros 
Públicos) permitiu essa inclusão no próprio cartório, sem necessidade de autorização judicial. 
Redação anterior: 
Art. 57. A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após audiência do 
Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o registro, arquivando-se o 
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7) É possível alterar o registro civil para incluir sobrenome de companheiro desde que seja feita prova 
documental da existência de união estável, por instrumento público, judicial ou extrajudicial, em que 
conste a anuência do companheiro quanto à adoção do patronímico. 
Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulherassumem mutuamente a condição de consortes, 
companheiros e responsáveis pelos encargos da família. 
§ 1º Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao seu o sobrenome do outro. 
(...) 
Art. 57 (...) 
§ 2º Os conviventes em união estável devidamente registrada no registro civil de pessoas naturais 
poderão requerer a inclusão de sobrenome de seu companheiro, a qualquer tempo, bem como 
alterar seus sobrenomes nas mesmas hipóteses previstas para as pessoas casadas. (Redação dada 
pela Lei nº 14.382, de 2022) 
mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a hipótese do art. 110 desta Lei. 
(Redação dada pela Lei nº 12.100, de 2009). 
Redação atual: 
Art. 57. A alteração posterior de sobrenomes poderá ser requerida pessoalmente perante o oficial de registro 
civil, com a apresentação de certidões e de documentos necessários, e será averbada nos assentos de 
nascimento e casamento, independentemente de autorização judicial, a fim de: 
(...) 
II - inclusão ou exclusão de sobrenome do cônjuge, na constância do casamento; 
Desse modo, atualmente, é possível a inclusão do sobrenome do outro cônjuge, na constância do 
matrimônio, após o período de habilitação para o casamento, por meio de procedimento extrajudicial, 
perante o oficial de registro civil, independentemente de autorização judicial. 
Exemplo: Ricardo Oliveira casou-se com Izabel Fontana. No processo de habilitação, não foi solicitada a 
mudança de nome. Desse modo, após o casamento, os nomes permaneceram iguais aos de solteiro. Ocorre 
que, após 5 anos de casada, Izabel decide acrescentar o patronímico de seu marido. Para tanto, Izabel pode 
procurar o Cartório (Registro Civil) onde foi lavrada sua certidão de casamento e pedir essa providência ao 
Registrador Civil. 
 
 
 
Se duas pessoas vivem em UNIÃO ESTÁVEL, é possível incluir o patronímico de um deles no nome do outro? 
Ex: Carlos Andrade vive em união estável com Juliana Barbosa. É permitido que Juliana acrescente o 
patronímico de seu companheiro e passe a se chamar “Juliana Barbosa Andrade”? 
SIM. 
Há previsão legal expressa dessa possibilidade? 
Antes da Lei nº 14.382/2022, não havia. O STJ, contudo, permitia essa alteração do nome aplicando, por 
analogia, o art. 1.565, § 1º do CC, que trata sobre o casamento: 
 
 
Como a união estável e o casamento são institutos semelhantes, o STJ aplicava a mesma regra. 
 
Lei nº 14.382/2022 
A Lei nº 14.382/2022 incluiu expressamente essa possibilidade ao alterar a redação do § 2º do art. 57 da Lei 
nº 6.015/73: 
 
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Imagine a seguinte situação hipotética: 
Maria Silva, uma cidadã brasileira, se casou com Kenji Tanaka, um cidadão de origem japonesa, em 1989. 
Ao se casar, Maria adotou o sobrenome do marido, tornando-se Maria Silva Tanaka. 
Em 1994, o casal se divorciou e Maria optou por excluir o sobrenome Tanaka, voltando a usar apenas Maria 
Silva. 
Maria e Kenji tinham um filho, Lucas Silva Tanaka, e durante o casamento, Maria se tornou conhecida na 
comunidade local como Maria Silva Tanaka, especialmente em seu trabalho como artista. 
Em 2020, Maria decide retomar o sobrenome Tanaka por razões sentimentais e profissionais, argumentando 
que sua identidade como artista estava fortemente associada a esse sobrenome. 
Ela entra com uma ação judicial para modificar seu registro civil e retomar o sobrenome Tanaka. 
O juiz negou seu pedido, afirmando que ela decidiu livremente excluir o sobrenome Tanaka no momento do 
divórcio e não demonstrou razões suficientemente fortes para justificar a retificação. 
A sentença foi mantida pelo Tribunal de Justiça. 
Maria recorre ao STJ defendendo seu direito de retomar o sobrenome Tanaka. 
O STJ, no entanto, mantém a sentença e o acórdão do TJ. 
Para o STJ, Maria não comprovou que era conhecida pelo sobrenome Tanaka ao ponto de justificar a 
alteração. Além disso, o fato de ela ter vivido no exterior por muitos anos sem mudar seus documentos 
pessoais enfraquece seu argumento. 
O STJ também considerou que, como Kenji Tanaka (o ex-marido) faleceu em 2001, ele não pode opinar sobre 
a questão, e que, considerando a cultura japonesa, a reinclusão de um sobrenome japonês após tanto tempo 
poderia ser vista como inapropriada. 
Finalmente, o STJ ressaltou que, embora a Lei nº 14.382/2022 permita a inclusão de um sobrenome de 
solteiro faltante, Maria não solicitou especificamente a retomada de seu sobrenome de solteira, mas sim o 
sobrenome do ex-marido, portanto, a questão não pode ser considerada. 
Confira trechos da ementa do julgado: 
 
8) Não é direito subjetivo do ex-cônjuge a retificação do registro civil para reincluir sobrenome utilizado 
na constância do casamento, que foi livremente excluído no divórcio. 
(...) 6- O simples fato de a parte não ter alterado os seus documentos pessoais até o momento não induz, por 
si só, à conclusão de que teria ela o direito de reincluir o sobrenome que abdicou por ocasião do divórcio 
ocorrido em 1994, inclusive porque se trata de pessoa que, de longa data, reside no exterior sem que tenham 
sido emitidos novos documentos em território nacional. 
7- Não se comprovou, ademais, que a parte seria uma pessoa conhecida pessoal ou profissionalmente pelo 
sobrenome de seu ex-cônjuge, razão pela qual não estão preenchidos os requisitos do art. 58, caput, da Lei 
nº 6.015/73, com a redação vigente ao tempo da propositura da ação, que indicam que a alteração do 
sobrenome será excepcional e deverá possuir motivo razoavelmente fundamentado inocorrente na hipótese. 
8- Na hipótese, ademais, duas circunstâncias fáticas específicas não recomendam a reinclusão do sobrenome 
do ex-cônjuge mais de 25 anos após o encerramento do vínculo conjugal, a saber: (i) pretende-se reincluir o 
sobrenome de ex-cônjuge falecido em 2001, que sequer pôde se pronunciar sobre o pedido, sua eventual 
aquiescência ou deduzir eventuais razões de resistência à pretensão; (ii) pretende-se a reinclusão de 
sobrenome de origem japonesa, país de cultura sabidamente tradicional e conservadora em relação aos 
costumes, na qual o sobrenome e as tradições familiares milenares possuem sentido e significado 
extremamente acentuado para a população local. 
9- Ausente, na petição inicial, pedido de retificação de registro civil para a retomada do sobrenome de 
solteiro idêntico ao que alegadamente utilizava antes do casamento, descabia o exame da questão pelas 
instâncias ordinárias, eis que a matéria não havia sido deduzida e não compunha o objeto litigioso, ressalvada 
Jurisprudência em Teses 
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Colaborou com a atualização do conteúdo: Cláudio Barbosa de França. 
a possibilidade de a parte requerer, extrajudicialmente, a inclusão do sobrenome alegadamente faltante com 
base no art. 57, I, da Lei nº 6.015/73 (incluído pela Lei nº 14.382/2022). 
10- Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, não-provido. 
(REsp n. 2.005.058/PR, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 18/10/2022, DJe de 
21/10/2022.)

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