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Notas de Aula 
de Hidrologia 
 
 
 
 
 
 
Profa Rutinéia Tassi 
Fundação Universidade Federal do Rio Grande 
Departamento de Física – Setor de Hidráulica e Saneamento 
Av. Itália km 8/SN 
rutineia@gmail.com 
Prof Walter Collischonn 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul 
Isntituto de Pesquisas Hidráulicas 
Av. Bento Gonçalves, 9500 
collischonn@uol.com.br
 
Índice 
 
1. Introdução à Hidrologia ..........................................................................................................1 
1.1 Definição .........................................................................................................................1 
1.2 O que é a água? ...............................................................................................................1 
1.3 Domínio da hidrologia ....................................................................................................1 
1.4 A hidrologia na Engenharia.............................................................................................2 
2. Ciclo Hidrológico....................................................................................................................3 
3. Bacia Hidrográfica ..................................................................................................................5 
3.1 O que é uma bacia hidrográfica?.....................................................................................5 
3.2 Características físicas de uma bacia hidrográfica ...........................................................6 
3.3 Balanço hídrico em uma bacia hidrográfica..................................................................13 
4. Precipitação ...........................................................................................................................15 
4.1 Definição .......................................................................................................................15 
4.2 Qual a importância da precipitação? .............................................................................15 
4.3 Formação da precipitação..............................................................................................15 
4.4 Tipos de precipitação ....................................................................................................16 
4.5 Aquisição de dados de precipitação ..............................................................................17 
4.5.1 Pluviômetros..........................................................................................................18 
4.5.2 Pluviógrafos ..........................................................................................................19 
4.5.3 Radar .....................................................................................................................19 
4.5.4 Satélite...................................................................................................................20 
4.6 Características gerais da precipitação ...........................................................................20 
4.6.1 Variação Espacial da Precipitação ........................................................................22 
4.6.2 Variabilidade Sazonal da Precipitação..................................................................22 
4.6.3 Variabilidade da Precipitação com a Altitude.......................................................23 
4.6.4 Variabilidade da Precipitação com a Área ............................................................24 
4.7 Precipitação Média em uma Área .................................................................................24 
4.7.1 Método da média aritmética..................................................................................25 
4.7.2 Método dos Polígonos de Thiessen.......................................................................25 
4.7.3 Método das Isoietas...............................................................................................27 
4.8 Tratamento dos Dados Pluviométricos .........................................................................29 
4.8.1 Identificação de erros grosseiros ...........................................................................29 
4.8.2 Preenchimento de falhas........................................................................................29 
4.8.3 Análise de consistência das séries pluviométricas ................................................31 
4.9 Análise de Séries de Mensais e Anuais de Precipitação....................................................35 
4.10 Precipitações intensas....................................................................................................43 
4.11 Distribuição temporal da precipitação...........................................................................46 
5. Interceptação .........................................................................................................................47 
6. Evapotranspiração .................................................................................................................48 
6.1 Formação da evaporação...............................................................................................49 
6.2 Fatores que afetam a evaporação ..................................................................................50 
6.3 Medição de evaporação.................................................................................................52 
6.4 Fatores que afetam a transpiração .................................................................................53 
6.5 Medição da evapotranspiração ......................................................................................53 
6.6 Estimativa da evapotranspiração através de equações ..................................................54 
6.6.1 Balanço hídrico .....................................................................................................54 
6.6.2 Método de Thorntwaith.........................................................................................55 
6.6.3 Método de Blaney-Criddle ....................................................................................56 
 
6.6.4 Equações de Penman-Monteith.............................................................................56 
7. Infiltração ..............................................................................................................................61 
7.1 Movimento da água no solo ..........................................................................................61 
7.2 Infiltração ......................................................................................................................63 
7.2.1 Capacidade de infiltração e taxa de infiltração .....................................................64 
7.3 Estimativa da Infiltração ...............................................................................................65 
7.3.1 Medição direta – Infiltrômetro ..............................................................................65 
7.3.2 Equação de Horton ................................................................................................66 
7.3.3 Equação de Phillip.................................................................................................68 
7.3.4 Método do SCS .....................................................................................................68 
7.3.5 Método do Índice φ ...............................................................................................71 
8. Análise do hidrograma ..........................................................................................................73 
8.1 O hidrograma.................................................................................................................73 
8.2 Fatores que influenciam a forma de um hidrograma.....................................................74 
8.3 Analisando o hidrograma ..............................................................................................77de precipitações. 
Para exemplificar o método, considere um posto Y, que apresenta as falhas a serem 
preenchidas. É necessário selecionar pelo menos três postos da vizinhança que possuam no 
mínimo dez anos de dados (X1, X2 e X3). Para preencher as falhas do posto Y, adota-se a 
equação 
 
 
3
1.3.
3
2.
2
1.
1 ⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜
⎝
⎛
++= PX
PX
PYPX
PX
PYPX
PX
PYPY (4.3) 
 
onde: PY é a precipitação do posto Y a ser estimada; PX1, PX2 e PX3 são as precipitações 
correspondentes ao mês (ou ano) que se deseja preencher, observadas nas três estações vizinhas; 
PY é a precipitação média do posto Y; 1PX , 2PX e 3PX são as precipitações médias nas três 
estações circunvizinhas. 
Os postos vizinhos escolhidos devem estar numa região climatológica semelhante ao 
posto a ser preenchido. Por exemplo, quando um posto se encontra próximo a um divisor 
importante como a Serra do Mar, mesmo havendo outro posto geograficamente próximo do 
outro lado do divisor, este não deve ser escolhido, pois provavelmente os mesmos terão 
comportamentos distintos devido à precipitação orográfica. 
O preenchimento efetuado por esta metodologia é simples e apresenta algumas 
limitações, quando cada valor é visto isoladamente. Para o preenchimento de valores diários de 
precipitação não se deve utilizar esta metodologia, pois os resultados podem ser muito ruins. 
Normalmente valores diários são de difícil preenchimento devido a grande variação espacial e 
temporal da precipitação para os eventos de freqüências médias e pequenas. 
 
 Método da regressão linear 
 
Um método mais aprimorado de preenchimento de falhas consiste em utilizar regressão 
linear simples ou múltipla. Na regressão linear simples, as precipitações do posto com falhas (Y) 
e de um posto vizinho (X) são correlacionadas. As estimativas dos dois parâmetros da equação 
podem ser obtidas graficamente ou através do critério de mínimos quadrados. 
Para o ajuste da regressão linear simples, correlaciona-se o posto com falhas (Y) com 
outro vizinho (X). A correlação produz uma equação analítica, cujos parâmetros podem ser 
estimados por métodos como o de mínimos quadrados, ou graficamente através da plotagem 
cartesiana dos pares de valores (X, Y), traçando-se a reta de maior aderência que passa pelos 
pontos médios de X e Y. Uma vez definida a equação do tipo 
 
XbaY .+= (4.4) 
 
as falhas podem ser preenchidas. 
Por exemplo, considerando as duas séries de precipitação dos postos P1-3252006 e P2-
3252008 (ambos localizados próximos à Estação Ecológica do Taim/RS), apresentadas na 
Tabela 4. 2. O preenchimento das falhas dos meses de Abril e Maio de P1 pode ser feito com 
base na regressão linear simples. A equação obtida é apresentada no gráfico da Figura 4. 18. 
Assim, as precipitações dos meses de Abril e Maio seriam 108,7 e 112,1 mm, respectivamente. 
 
 
 
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -31- 
 
Tabela 4. 2 – Preenchimento de falhas de precipitação mensal para o ano de 2001 
Precipitação mensal (mm) Mês/Ano 
Posto 3252006 Posto 3252008 
1/2001 211.1 106.5 
2/2001 58.9 75.2 
3/2001 178.1 256.3 
4/2001 109.6 
5/2001 113.1 
6/2001 183.6 161.0 
7/2001 164.1 180.8 
8/2001 27.6 24.8 
9/2001 209.0 139.4 
10/2001 144.4 161.7 
11/2001 135.8 116.0 
12/2001 127.9 142.6 
 
 
Na regressão linear múltipla as informações pluviométricas do posto Y são 
correlacionadas com as correspondentes observações de vários postos vizinhos (X1, X2, X3,...) 
através de equações como 
 
...4.3.2.1. +++++= XeXdXcXbaY (4.5) 
 
onde: a, b, c, d, e,... são os coeficientes a serem estimados a partir dos dados. 
 
 
P2xP1 P1 = 0.9706.P2 + 2.2754
0
50
100
150
200
250
0 50 100 150 200 250
P2
P
1
 
Figura 4. 18 – Determinação da equação de regressão para preenchimento de falhas 
 
 
4.8.3 Análise de consistência das séries pluviométricas 
 
Um dos métodos mais conhecidos para a análise de consistência dos dados de 
precipitação é o Método da Dupla Massa, desenvolvido pelo Geological Survey (USA). A 
principal finalidade da aplicação do método é identificar se ocorreram mudanças no 
comportamento da precipitação ao longo do tempo, ou mesmo no local de observação. 
 O Método da Dupla Massa é baseado no princípio que o gráfico de uma quantidade 
acumulada, plotada contra outra quantidade acumulada, durante o mesmo período, deve ser uma 
Falha
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -32- 
linha reta, sempre que as quantidades sejam proporcionais. A declividade da reta ajustada nesse 
processo representa então, a constante de proporcionalidade. 
Especificamente, devem ser selecionados os postos de uma região, acumular para cada 
um deles os valores mensais (se for o caso), e plotar num gráfico cartesiano os valores 
acumulados correspondentes ao posto a consistir (nas ordenadas) e de um outro posto confiável 
adotado como base de comparação (nas abscissas). Pode-se também modificar o método, 
considerando valores médios das precipitações mensais acumuladas em vários postos da região, 
e plotar esses valores no eixo das abscissas. 
Na Figura 4. 19 é apresentada a análise de Dupla Massa para os postos 3252006 e 
3252008, para um período de 37 anos de dados de precipitação mensal, onde pode-se observar que não 
ocorreram inconsistências. Quando não se observa o alinhamento dos dados segundo uma única 
reta, podem ter ocorrido as seguintes situações: 
 
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
0 10000 20000 30000 40000 50000
Acumulados - 3252006
Ac
um
ul
ad
os
 - 
32
52
00
8
 
Figura 4. 19 – Análise de Dupla Massa – Sem inconsistências 
 
 
 Mudança na declividade da reta (Figura 4. 20(a)) 
 
Esse tipo de inconsistência pode ser oriundo de causas como: alterações de condições 
climáticas ou condições físicas do local, mudança de observador, ou ainda devido a erros 
sistemáticos. 
 
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
0 20000 40000
Acumulados posto confiável
 
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
0 20000 40000
Acumulados posto confiável
Ac
um
ul
ad
os
 p
os
to
 e
m
 a
ná
lis
e
0
10000
20000
30000
40000
50000
60000
0 20000 40000
Acumulados posto confiável
Ac
um
ul
ad
os
 p
os
to
 e
m
 a
ná
lis
e
a) com mudança de tendência b) diferentes regimes c) erros de transcrição 
Figura 4. 20 – Análise de Dupla Massa – Postos com inconsistências 
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -33- 
 
Para se considerar a existência de mudança na declividade, é prática comum exigir a 
ocorrência de pelo menos cinco pontos sucessivos alinhados segundo a nova tendência. Para 
corrigir os valores correspondentes ao posto sob análise, existem duas possibilidades: corrigir os 
valores mais antigos para a situação atual ou corrigir os valores mais recentes para a condição 
antiga. A escolha da alternativa de correção depende das causas que provocaram a mudança da 
declividade. Por exemplo, se foram detectados erros no período mais recente, a correção deverá 
ser realizada no sentido de preservar a tendência antiga. Os valores deverão ser acumulados a 
partir do período para o qual se deseja manter a tendência da reta, e os valores inconsistentes 
podem ser corrigidos de acordo com a equação 
 
Po
Mo
MaPacumPcorr ∆+= .' (4.6) 
 
onde: Pcorr é a precipitação acumulada após o ajuste à tendência desejada; Pacum’ é o valor da 
ordenada correspondente à interseção das duas tendências; Ma é o coeficiente angular da 
tendência desejada; Mo é coeficiente angular da tendência a corrigir; e ∆Po representaa 
diferença Po-Pa, onde sendo Po é o valor acumulado a ser corrigido, e Pa é o valor acumulado 
da tendência desejada. Deve-se lembrar que o método de Dupla Massa não deve ser usado para 
valores diários de precipitação. 
 
Tabela 4. 3 – Análise de Dupla Massa 
 Postos Confiáveis Posto a ser consistido 
Ano Apiuna Blumenau Ibirama Indaial 
1945 1208.1 1352.4 1111.4 1319.5 
1946 1770.8 1829 1645 2002.3 
1947 1502.3 1516.7 1461.4 1976.1 
1948 1409.9 1493.8 1471.8 1510.2 
1949 1258.8 1301.2 1145.4 1432.9 
1950 1358 1403.9 1443.9 1548 
1951 1044.7 1230.2 1197.7 1295.4 
1952 1159.1 1322.1 1243.8 1330.9 
1953 1255.6 1289.4 1249 1356.8 
1954 1851.3 1652.3 1673.3 1692.2 
1955 1240 1289.8 1474.3 1274.4 
1956 1237 1266.5 1402.8 1246.6 
1957 1854.7 1941.1 1928.6 2036.6 
1958 1758 1844.6 1404.5 1893.5 
1959 1204 1564.6 1025.1 1287.5 
1960 1318.9 1882.5 1224.9 1583.7 
1961 1751.9 1808.3 1410.6 1712.1 
1962 1219.5 1274.5 1178.2 1144.1 
19d63 1530.9 1630 1392.4 1649 
 
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -34- 
Por exemplo, considerando os dados dos postos apresentados na Tabela 4. 3, fazer a 
consistência dos dados do posto de Indaial. Na Tabela 4. 4 é mostrado o procedimento para o 
traçado da Dupla Massa, e na Figura 4. 21 a análise é apresentada de forma gráfica 
(representação em forma gráfica da terceira e quarta coluna da Tabela 4. 4), ressaltado a 
mudança de tendência, bem como os coeficientes angulares. Para a análise de consistência 
considerou-se a manutenção do comportamento da série para o período antigo, portanto, os 
dados são acumulados a partir de 1945. Os valores ressaltados na coluna 5 da Tabela 4. 4 foram 
obtidos a partir da aplicação da equação 4.6. Os valores de precipitação apresentados na última 
coluna são obtidos a partir da desagregação dos dados da coluna 5. 
 
 
Tabela 4. 4 – Correção dos valores de precipitação do Posto Indaial a partir da análise de Dupla 
Massa 
Ano 
Precipitação 
média da região 
(mm) 
Precipitação 
acumulada 
média da região 
(mm) 
Precipitação 
acumulado 
Indaial 
(mm) 
Precipitação 
acumulada 
corrigida Indaial 
(mm) 
Precipitação 
Indaial 
Corrigida 
(mm) 
1945 1224.0 1224.0 1319.5 1319.5 1319.5 
1946 1748.3 2972.2 3321.8 3321.8 2002.3 
1947 1493.5 4465.7 5297.9 5297.9 1976.1 
1948 1458.5 5924.2 6808.1 6808.1 1510.2 
1949 1235.1 7159.3 8241.0 8241.0 1432.9 
1950 1401.9 8561.3 9789.0 9789.0 1548.0 
1951 1157.5 9718.8 11084.4 11084.4 1295.4 
1952 1241.7 10960.5 12415.3 12415.3 1330.9 
1953 1264.7 12225.1 13772.1 13772.1 1356.8 
1954 1725.6 13950.8 15464.3 15508.9 1736.8 
1955 1334.7 15285.5 16738.7 16905.9 1396.9 
1956 1302.1 16587.6 17985.3 18272.3 1366.5 
1957 1908.1 18495.7 20021.9 20504.8 2232.4 
1958 1669.0 20164.7 21915.4 22580.3 2075.6 
1959 1264.6 21429.3 23202.9 23991.6 1411.3 
1960 1475.4 22904.7 24786.6 25727.6 1736.0 
1961 1656.9 24561.7 26498.7 27604.3 1876.7 
1962 1224.1 25785.7 27642.8 28858.5 1254.1 
1963 1517.8 27303.5 29291.8 30666.0 1807.6 
 
 
 
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0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
0 5000 10000 15000 20000 25000 30000
Precipitação Média Acumulada na Região (mm) - Postos de Apiuna, Blumenau e Ibirama
Pr
ec
ip
ita
çã
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Ac
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a 
do
 P
os
to
 In
da
ia
l (
m
m
)
Ponto de 
interseção
Pacum'
β = M a = 1,14
α = M o = 1,04
Po
 - 
Pa
cu
m
'
 
Figura 4. 21 – Análise de Dupla Massa 
 
 Alinhamento dos pontos em retas paralelas (Figura 4. 20 (c)) 
 
Esse tipo de inconsistência ocorre quando existem erros na transcrição de um ou mais 
dados de precipitação, ou ainda pela ocorrência de eventos extremos de chuva dentro de um ano. 
Quando essa situação for identificada, pode-se estar fazendo a comparação de postos com 
diferentes regimes pluviométricos, portanto, sendo que nesse caso é necessário refazer a análise, 
buscando outros postos. 
 
 Distribuição errática dos pontos (Figura 4. 20 (b)) 
 
Esse tipo de inconsistência ocorre normalmente quando são comparados postos com 
diferentes regimes pluviométricos. Nesse caso devem ser buscados outros postos para fins de 
comparação. 
 
 
4.9 Análise de Séries de Mensais e Anuais de Precipitação 
 
A precipitação é um processo aleatório, condicionando sua previsão a poucos dias de 
antecedência. Dada essa dificuldade, a previsão da precipitação é normalmente realizada em 
função de registros antigos de eventos, associando a freqüência de ocorrência de uma 
precipitação com dada magnitude a uma probabilidade teórica de ocorrência da mesma. 
 Em hidrologia freqüentemente são utilizadas séries de precipitação mensal e/ou 
anuais. Uma série de precipitação total mensal é obtida acumulando-se o volume de chuva diário 
ocorrido no mês correspondente (adição de precipitação diária de cada mês). Uma série de 
precipitação total anual é obtida pela adição dos totais mensais, ou ainda através da soma das 
precipitações diárias de cada ano. Na Tabela 4. 5 é apresentada uma série de precipitação total 
mensal e conjuntamente o total anual do posto Granja Santa Marta em Rio Grande, para o 
período compreendido entre 1960 e 1970. 
 
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Tabela 4. 5 – Série de precipitação total mensal e anual do posto Granja Santa Marta em Rio 
Grande 
Precipitação Total Mensal (mm) Ano Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. 
Total Anual 
(mm) 
1960 99 29 238 103 6 146 272 149 164 89 81 51 1427 
1961 111 87 110 39 19 215 110 107 266 113 73 54 1304 
1962 65 83 181 65 29 32 100 80 148 98 36 37 954 
1963 137 85 159 65 78 79 134 174 215 125 176,2 119,4 1546,6 
1964 70 87,2 86,9 23,4 70,6 51,5 63,5 104,9 50,6 147 25,6 26,4 807,6 
1965 8,1 35,1 181,9 114 40 52 33 217 234 79 58 66 1118,1 
1966 84,9 27,7 143,5 65,8 14,1 78 200 45,4 61 63 23,2 83 889,6 
1967 40,6 65,2 39,5 24,6 165,7 207,9 142 147,7 60,2 129 50,4 26,6 1099,4 
1968 65,5 106,9 116,4 51,9 27,3 28,4 59,5 26,6 102,9 68,7 101,1 110,7 865,9 
1969 43,1 48,4 30,5 18,7 223,7 134,4 52,7 69,2 96,7 29,2 62,3 17,3 826,2 
1970 130,6 59,2 42 43,3 124,4 122,8 86,6 86,3 28,3 41,5 46,2 150 961,2 
 
Quando usado o termo precipitação média anual, significa que foi obtida uma média a 
partir dos totais anuais. Por exemplo, para a série apresentada na Tabela 4. 5, o precipitação 
média anual seria 1072,7 mm. É evidente que a série apresentada para esse exemplo é curta, e 
esse é um dos cuidados que deve ser tomado durante a determinação de dados médios da região; 
essa observação não é válida somente para dados de precipitação, ela diz respeito também a 
outros dados hidrológicos como a vazão, conforme trataremos posteriormente. Nesse processo a 
série utilizada deve ser representativa de um período que contemple períodos secos e chuvosos, 
para evitar qualquer tendenciosidade no ajuste. Por exemplo, uma série de precipitação de 2 anos 
é muito curta em termos de representatividade temporal, visto que a mesma pode possuir 
unicamente registros de chuva em anos de el niño, o que levaria a uma super-estimativa da 
precipitação. 
Para exemplificar, na região de Porto Alegre, por exemplo, chove aproximadamente 1300 
mm por ano, em média. Em muitas regiões da Amazônia chove mais do que 2000 mm por ano, 
enquanto na região do Semi-Árido do Nordeste há áreas com menos de 600 mm de chuva por 
ano. O clima, entretanto, não é constante, e ocorrem variações importantes em torno da média da 
precipitação anual. Nesse caso, o uso de um histograma de freqüências de uma amostra de uma 
variável aleatória permite conhecer a freqüência com que esta variável assumiu valores dentro de 
um dado intervalo, durante as observações realizadaspara a formação da amostra. A Figura 4. 22 
apresenta um histograma de freqüências de chuvas anuais de um posto localizado no interior de 
Minas Gerais, no período de 1942 a 2001. A chuva média neste período é de 1433 mm, mas 
observa-se que ocorreu um ano com chuva inferior a 700 mm, e um ano com chuva superior a 
2300 mm. 
Como normalmente estamos interessados em saber o que acontecerá no futuro em termos 
de precipitação (situações de projeto), um tratamento estatístico deve ser dado ao registro de 
precipitação, de forma a permitir a estimativa da precipitação em outro cenário. É claro que ao 
utilizar uma amostra obtida no passado para prever uma situação no futuro, admite-se 
probabilisticamente que não ocorrerão mudanças substanciais no processo de formação das 
chuvas no local. Isto deve ser entendido como: embora não seja possível prever as chuvas 
máximas que ocorrerão no futuro, pode-se afirmar que as freqüências de ocorrência observadas 
no passado serão válidas para descrever as probabilidades de ocorrência no futuro. (Tucci, C., 
1993). 
 
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Figura 4. 22 – Histograma de freqüência de chuvas anuais posto 02045005, no município de 
Lamounier (MG). 
 
Observa-se no histograma da Figura 4. 22 que a distribuição de freqüência segue 
aproximadamente a Distribuição de Gauss (distribuição Normal). A partir dessa observação, 
verifica-se que um ajuste de distribuição de probabilidade Normal pode ser utilizado para 
representar a ocorrência de um evento que ainda não foi observado. 
Lembrando, que segundo a teoria da distribuição Normal, uma variável aleatória X tem 
uma distribuição Normal se sua função densidade de probabilidade segue a expressão 
)5,0(
2
.
2
1)(
⎥⎦
⎤
⎢⎣
⎡ −
−
= σ
µ
πσ
x
exf (4.7) 
 
onde: f(x) é a função densidade de probabilidade; µ é a média; e σ é o desvio padrão da 
amostra. Pode-se ver que para cada par de valores dos parâmetros média e desvio padrão existe 
uma curva diferente (Figura 4. 23). 
 
Figura 4. 23 – Representação das funções de densidade de probabilidade da distribuição Normal 
 
Entre as propriedades da distribuição Normal, temos que: 
i) a curva é simétrica em torno da média, e a área total sob a curva é definida como 100%, e cada 
metade da curva tem 50% da área total; 
ii) a probabilidade de que a variável aleatória X esteja dentro do intervalo (a,b), P(a≤X≤b), é 
dada pela área sob a curva entre esses dois intervalos. 
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 A grande vantagem da distribuição Normal é que com o conhecimento da média e do desvio 
padrão é possível calcular qualquer valor de probabilidade. No entanto, como existe uma 
distribuição Normal diferente para cada par de valores dos parâmetros média e desvio padrão, a 
obtenção dos resultados se torna muito trabalhosa. O cálculo do valor da probabilidade 
acumulada desde menos infinito até o valor de a, denominada como probabilidade acumulada até 
a, P(-∞≤X≤a), sendo conhecidos os valores da média e do desvio padrão, exige que seja 
integrada a expressão f(x). Assim, para facilitar os cálculos foi desenvolvido um procedimento 
com uma única curva de distribuição. Denominada como distribuição normal padronizada, sendo 
aplicado o desvio padrão normalizado Z como operador de transformação. 
σ
µ−
=
XZ (4.8) 
 
Assim a função de densidade da distribuição normal padronizada tem segue a função 
 
)
2
(
2
.
2
1)(
Z
eZf
−
=
π
 (4.9) 
com as seguintes propriedades: 
i) média zero e desvio padrão igual a 1; 
ii) f(Z) tende a zero, quando Z tende a ± infinito; 
iii) a curva é simétrica em torno da média, e a área total sob a curva é definida como 100%, e 
cada metade da curva tem 50% da área total; 
iv) a probabilidade de que a variável aleatória Z esteja dentro do intervalo (z1,z2), P(z1≤X≤ 
z2), é dada pela área sob a curva entre esses dois intervalos. 
 
Os cálculos da distribuição normal padronizada podem ser realizados a partir de uma 
tabela de probabilidades. O aplicativo Excel também pode ser utilizado para esse fim, através da 
função NORMDIST. Na Tabela 4. 6 é apresentada a curva de distribuição de Z, P(Z≤Z’), onde 
Z’é o resultado da equação 4.8. 
 
Por exemplo, o desvio padrão da chuva anual no posto pluviométrico da Figura 4. 22 é de 
298,8 mm e a média de 1433 mm. Deseja-se estimar qual o valor de precipitação anual que é 
igualado ou superado apenas 5 vezes a cada 200 anos. Esse exemplo remete aos conceitos de 
freqüência de ocorrência e tempo de retorno apresentados no item 4.6 Características gerais da 
precipitação. 
 Nesse exemplo teríamos um tempo de retorno do evento de 40 anos (200/5), ou seja, a cada 
40 anos em média esse evento se repetiria. Lembrando que o inverso do tempo de retorno (TR) 
fornece a probabilidade de ocorrência do evento, teríamos: 
 
025,0
40
1
TR
1.obPr === ou 2,5% 
 
como essa é a probabilidade do evento ser igualado ou superado, temos que a probabilidade da 
variável reduzida Z ser menor ou igual, é 100%-2,5%=97,5%=0,975, que nesse caso resulta em 
um valor de variável reduzida de 1,96. 
 
 
 
 
 
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Tabela 4. 6 – Distribuição de Z - P(Z≤Z’) 
Z 0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09 
0.0 0.5000 0.5040 0.5080 0.5120 0.5160 0.5199 0.5239 0.5279 0.5319 0.5359 
0.1 0.5398 0.5438 0.5478 0.5517 0.5557 0.5596 0.5636 0.5675 0.5714 0.5753 
0.2 0.5793 0.5832 0.5871 0.5910 0.5948 0.5987 0.6026 0.6064 0.6103 0.6141 
0.3 0.6179 0.6217 0.6255 0.6293 0.6331 0.6368 0.6406 0.6443 0.6480 0.6517 
0.4 0.6554 0.6591 0.6628 0.6664 0.6700 0.6736 0.6772 0.6808 0.6844 0.6879 
0.5 0.6915 0.6950 0.6985 0.7019 0.7054 0.7088 0.7123 0.7157 0.7190 0.7224 
0.6 0.7257 0.7291 0.7324 0.7357 0.7389 0.7422 0.7454 0.7486 0.7517 0.7549 
0.7 0.7580 0.7611 0.7642 0.7673 0.7704 0.7734 0.7764 0.7794 0.7823 0.7852 
0.8 0.7881 0.7910 0.7939 0.7967 0.7995 0.8023 0.8051 0.8078 0.8106 0.8133 
0.9 0.8159 0.8186 0.8212 0.8238 0.8264 0.8289 0.8315 0.8340 0.8365 0.8389 
1.0 0.8413 0.8438 0.8461 0.8485 0.8508 0.8531 0.8554 0.8577 0.8599 0.8621 
1.1 0.8643 0.8665 0.8686 0.8708 0.8729 0.8749 0.8770 0.8790 0.8810 0.8830 
1.2 0.8849 0.8869 0.8888 0.8907 0.8925 0.8944 0.8962 0.8980 0.8997 0.9015 
1.3 0.9032 0.9049 0.9066 0.9082 0.9099 0.9115 0.9131 0.9147 0.9162 0.9177 
1.4 0.9192 0.9207 0.9222 0.9236 0.9251 0.9265 0.9279 0.9292 0.9306 0.9319 
1.5 0.9332 0.9345 0.9357 0.9370 0.9382 0.9394 0.9406 0.9418 0.9429 0.9441 
1.6 0.9452 0.9463 0.9474 0.9484 0.9495 0.9505 0.9515 0.9525 0.9535 0.9545 
1.7 0.9554 0.9564 0.9573 0.9582 0.9591 0.9599 0.9608 0.9616 0.9625 0.9633 
1.8 0.9641 0.9649 0.9656 0.9664 0.9671 0.9678 0.9686 0.9693 0.9699 0.9706 
1.9 0.9713 0.9719 0.9726 0.9732 0.9738 0.9744 0.9750 0.9756 0.9761 0.9767 
2.0 0.9772 0.9778 0.9783 0.9788 0.9793 0.9798 0.9803 0.9808 0.9812 0.9817 
2.1 0.9821 0.9826 0.9830 0.9834 0.9838 0.9842 0.9846 0.9850 0.9854 0.9857 
2.2 0.9861 0.9864 0.9868 0.9871 0.9875 0.9878 0.9881 0.9884 0.9887 0.9890 
2.3 0.9893 0.9896 0.9898 0.9901 0.9904 0.9906 0.9909 0.9911 0.9913 0.9916 
2.4 0.9918 0.9920 0.9922 0.9925 0.9927 0.9929 0.9931 0.9932 0.9934 0.9936 
2.5 0.9938 0.9940 0.9941 0.9943 0.9945 0.9946 0.9948 0.9949 0.9951 0.9952 
2.6 0.9953 0.9955 0.9956 0.9957 0.9959 0.9960 0.9961 0.9962 0.9963 0.9964 
2.7 0.9965 0.9966 0.9967 0.9968 0.9969 0.9970 0.9971 0.9972 0.9973 0.9974 
2.8 0.9974 0.9975 0.9976 0.9977 0.9977 0.9978 0.9979 0.9979 0.9980 0.9981 
2.9 0.9981 0.9982 0.9982 0.9983 0.9984 0.9984 0.9985 0.99850.9986 0.9986 
3.0 0.9987 0.9987 0.9987 0.9988 0.9988 0.9989 0.9989 0.9989 0.9990 0.9990 
3.1 0.9990 0.9991 0.9991 0.9991 0.9992 0.9992 0.9992 0.9992 0.9993 0.9993 
3.2 0.9993 0.9993 0.9994 0.9994 0.9994 0.9994 0.9994 0.9995 0.9995 0.9995 
3.3 0.9995 0.9995 0.9995 0.9996 0.9996 0.9996 0.9996 0.9996 0.9996 0.9997 
3.4 0.9997 0.9997 0.9997 0.9997 0.9997 0.9997 0.9997 0.9997 0.9997 0.9998 
3.5 0.9998 0.9998 0.9998 0.9998 0.9998 0.9998 0.9998 0.9998 0.9998 0.9998 
3.6 0.9998 0.9998 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 
3.7 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 
3.8 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 0.9999 
3.9 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 
4.0 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 1.0000 
 
 
 mm6,2018
8,298
1433X96,1XZ =
−
==
σ
µ−
= 
 
Outra propriedade interessante de uma distribuição Normal é: 
- A probabilidade de uma precipitação de valor σ+P ser igualada ou superada é 15,9% 
P(Z≤Z’) 
Z’ 
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- A probabilidade de uma precipitação de valor σ−P ser igualada ou superada é 84,2 % 
onde: P é a precipitação média e σ é o desvio padrão. 
 
Caso o ajuste teórico da distribuição Normal não se ajuste bem aos valores empíricos, 
recomenda-se testar o ajuste de outra distribuição. 
O ajuste de uma distribuição Normal aos dados permite que seja feita a extrapolação do ajuste, 
para valores de precipitação que ainda não foram registrados. Contrariamente, para os valores 
observados, normalmente são utilizadas equações empíricas de posição de plotagem dos dados 
de precipitação. Uma das equações empíricas mais utilizadas para o tratamento de dados de 
precipitação anual e mensal é a equação de Weibull 
1n
i P
+
= (4.10) 
onde: P é a probabilidade de excedência de um evento; i é o número de ordem do valor da chuva 
numa série ordenada (no sentido do evento mais raro para o menos raro); n é o tamanho da 
amostra (número de anos de dados). Na literatura especializada também são apresentadas outras 
equações empíricas de posição de plotagem. 
 
Tabela 4. 7 – Série de precipitação anual do posto Hospital em Arroio Grande 
ANO P total anual (mm) 
1954 1673,3 
1955 1474,3 
1956 1402,8 
1957 1928,6 
1958 1404,5 
1959 1025,1 
1960 1224.9 
1961 1410,6 
1962 1178,2 
1963 1392,4 
1964 918,5 
1965 1383,7 
1966 1633 
1967 1223,7 
1968 851,2 
1969 1530,4 
1970 1493,8 
1971 1433,3 
1972 1472 
1973 1519,3 
1974 1191,9 
1975 1549,5 
1976 1374 
1977 1374,8 
1978 1272,2 
1979 1430,1 
1980 1807,1 
1981 1151,2 
1982 1408,6 
1983 2160,7 
1984 1825,7 
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 Por exemplo, deseja-se determinar o tempo de retorno da precipitação anual de 1408,6 mm, 
registrada no posto Hospital de Arroio Grande. A série de totais anuais é apresentada na Tabela 
4. 7. A equação empírica de posição de plotagem de Weibull é utilizada (Tabela 4. 8), 
posteriormente é determinado o tempo de retorno de cada precipitação (TR=1/P). Para a 
precipitação em interesse o tempo de retorno seria de 2 anos, ou seja, essa precipitação anual 
acontece em média a cada 2 anos. 
 
Tabela 4. 8 – Ajuste da equação empírica de Weibull à série de precipitação 
Ordem 
Precipitação Ordenada 
(mm) 
Probabilidade de excedência do 
evento (%) Tempo de retorno (anos) 
1 2160.7 3.13 32.00 
2 1928.6 6.25 16.00 
3 1825.7 9.38 10.67 
4 1807.1 12.50 8.00 
5 1673.3 15.63 6.40 
6 1633.0 18.75 5.33 
7 1549.5 21.88 4.57 
8 1530.4 25.00 4.00 
9 1519.3 28.13 3.56 
10 1493.8 31.25 3.20 
11 1474.3 34.38 2.91 
12 1472.0 37.50 2.67 
13 1433.3 40.63 2.46 
14 1430.1 43.75 2.29 
15 1410.6 46.88 2.13 
16 1408.6 50.00 2.00 
17 1404.5 53.13 1.88 
18 1402.8 56.25 1.78 
19 1392.4 59.38 1.68 
20 1383.7 62.50 1.60 
21 1374.8 65.63 1.52 
22 1374.0 68.75 1.45 
23 1272.2 71.88 1.39 
24 1224.9 75.00 1.33 
25 1223.7 78.13 1.28 
26 1191.9 81.25 1.23 
27 1178.2 84.38 1.19 
28 1151.2 87.50 1.14 
29 1025.1 90.63 1.10 
30 918.5 93.75 1.07 
31 851.2 96.88 1.03 
 
 Suponhamos agora que haja interesse em determinar uma precipitação total anual cujo tempo 
de retorno seja de 50 anos. Nesse caso a distribuição empírica não fornece essa informação, 
sendo necessário, portanto, fazer uso de uma distribuição teórica de probabilidades para, a partir 
da estatística amostral, estimarmos o valor da precipitação desejada. 
 A partir da amostra são determinadas as estatísticas da série, de forma a utilizarmos uma 
distribuição Normal para a extrapolação do ajuste. Para a série de precipitação apresentada na 
Tabela 4. 7 a média é 1423,2 mm e o desvio padrão é 276,91 mm. Uma vez determinadas essas 
estatísticas, é possível ajustar uma distribuição normal a todos os dados (Tabela 4. 9), o que pode 
ser facilmente realizado em uma planilha do tipo Excel. Finalizado esse processo, devem ser 
plotados os ajustes teóricos e empíricos conjuntamente, de forma a verificar a validade da 
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escolha da metodologia para a distribuição de probabilidade teórica (Figura 4. 24). A plotagem 
também pode ser realizada utilizando o aplicativo Excel, colocando no eixo das abscissas o 
tempo de retorno (em escala logarítmica) e nas ordenadas a precipitação. Outra alternativa para a 
plotagem é a utilização de um papel mono-logarítmico. 
A partir do gráfico a precipitação com 50 anos de tempo de retorno pode ser estimada em 
função do ajuste teórico de probabilidades. Observa-se no mesmo gráfico que houve uma boa 
aderência entre os ajustes teórico e empírico para baixos valores de precipitação, entretanto, isso 
não é observado para valores maiores de precipitação. Nesse caso, pode-se verificar que a partir 
do ajuste teórico a precipitação com 50 anos de tempo de retorno seria de aproximadamente 
2000 mm, enquanto a partir do ajuste empírico essa precipitação corresponde e um TR de 
aproximadamente 20 anos. O recomendado nessa situação seria a busca de uma nova 
distribuição de probabilidade teórica, que conseguisse produzir um bom ajuste tanto aos valores 
maiores, quanto menores de precipitação. 
 
Tabela 4. 9 – Ajuste de distribuição Normal aos dados de precipitação do Posto Hospital 
Observado 
decrescente Z dados 
Probabilidade 
Acumulada (%) 
TR 
teórico(anos) 
2160.7 2.663 0.39 258.49 
1928.6 1.825 3.40 29.42 
1825.7 1.454 7.30 13.69 
1807.1 1.386 8.28 12.07 
1673.3 0.903 18.32 5.46 
1633.0 0.758 22.43 4.46 
1549.5 0.456 32.42 3.08 
1530.4 0.387 34.93 2.86 
1519.3 0.347 36.43 2.75 
1493.8 0.255 39.94 2.50 
1474.3 0.185 42.68 2.34 
1472.0 0.176 43.01 2.33 
1433.3 0.036 48.55 2.06 
1430.1 0.025 49.01 2.04 
1410.6 -0.046 51.82 1.93 
1408.6 -0.053 52.10 1.92 
1404.5 -0.068 52.69 1.90 
1402.8 -0.074 52.94 1.89 
1392.4 -0.111 54.43 1.84 
1383.7 -0.143 55.67 1.80 
1374.8 -0.175 56.94 1.76 
1374.0 -0.178 57.05 1.75 
1272.2 -0.545 70.72 1.41 
1224.9 -0.716 76.31 1.31 
1223.7 -0.720 76.44 1.31 
1191.9 -0.835 79.82 1.25 
1178.2 -0.885 81.19 1.23 
1151.2 -0.982 83.70 1.19 
1025.1 -1.438 92.47 1.08 
918.5 -1.823 96.58 1.04 
851.2 -2.066 98.06 1.02 
 
 
 
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -43- 
0
500
1000
1500
2000
2500
1 10 100 1000TR (anos)
Pr
ec
ip
ita
çã
o 
(m
m
)
TR - empírico
TR - teórico
 
Figura 4. 24 – Ajuste de distribuição Normal aos dados de precipitação da 
Tabela 4. 7 
 
4.10 Precipitações intensas 
 
As precipitações intensas sãoas principais causas de cheias e prejuízos, por isso merecem 
destaque especial em hidrologia. Normalmente o transbordamento de rios, problemas de 
drenagem, alagamento de ruas, inundação de residências, escolas, entre outros é um processo 
decorrente de uma chuva intensa. Assim, é lógico que no dimensionamento de obras de 
drenagem (pontes, bueiros, vertedores, etc.) deve-se analisar o comportamento das chuvas 
intensas em uma região, de forma a dimensionar estruturas que tragam segurança à população. 
Dentro do conceito de chuva intensa, deve ser lembrado que quanto mais curta a duração 
de uma precipitação, maior a chance de que ela tenha sido muito intensa, e que quanto mais 
freqüente uma chuva maior é a probabilidade de sua ocorrência. Assim, na análise de um chuva 
intensa, deve ser considerada a inter-relação entre essas variáveis: Intensidade – Duração – 
Freqüência. Esse processo é possível através da utilização das chamadas curvas IDF. 
A curva IDF é obtida a partir da análise estatística de séries longas de dados de um 
pluviógrafo (mais de 15 anos, pelo menos). A metodologia de desenvolvimento da curva IDF 
baseia-se na seleção das maiores chuvas de uma duração escolhida (por exemplo 15 minutos) em 
cada ano da série de dados. Com base nesta série de tamanho N (número de anos) é ajustada uma 
distribuição de freqüências que melhor represente a distribuição dos valores observados. Ao 
utilizar o registro de chuvas intensas utiliza-se uma distribuição assimétrica, como Gumbel e 
Log-Person III, para a realização do ajuste, O procedimento é repetido para diferentes durações 
de chuva (5 minutos; 10 minutos; 1 hora; 12 horas; 24 horas; 2 dias; 5 dias) e os resultados são 
resumidos na forma de um gráfico, ou equação, com a relação das três variáveis: Intensidade, 
Duração e Freqüência (ou tempo de retorno). 
 A Figura 4. 25 apresenta uma curva IDF obtida a partir da análise dos dados de um 
pluviógrafo que esteve localizado no Instituto de Pesquisas Hidráulicas em Porto Alegre. Cada 
uma das linhas representa um Tempo de Retorno; no eixo horizontal estão as durações e no eixo 
vertical estão as intensidades. Observa-se que quanto menor a duração maior a intensidade da 
50 
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -44- 
chuva. Da mesma forma, quanto maior o Tempo de Retorno, maior a intensidade da chuva. Por 
exemplo, a chuva de 1 hora de duração com tempo de retorno de 100 anos tem uma intensidade 
de 60 mm.hora-1. 
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
0 20 40 60 80 100 120 140
Duração (minutos)
In
te
ns
id
ad
e 
(m
m
/h
)
TR 2 anos
TR 5 anos
TR 10 anos
TR 25 anos
TR 50 anos
TR 100 anos
 
Figura 4. 25 – Curva IDF de Porto Alegre obtida a partir do posto IPH 
 
Evidentemente as curvas IDF são diferentes em diferentes locais. Assim, a curva IDF de 
Porto Alegre vale para a região próxima a esta cidade. Infelizmente não existem séries de dados 
de pluviógrafos longas em todas as cidades, assim, muitas vezes, é necessário considerar que a 
curva IDF de um local é válida para uma grande região do entorno. No Brasil existem estudos de 
chuvas intensas com curvas IDF para a maioria das capitais dos Estados e para algumas cidades 
do interior, apenas. 
De maneira geral as equações IDF são expressas através de uma expressão com a 
seguinte forma 
d
b
c) (t 
TR a
 I
+
= (4.11) 
 
onde: a, b, c e d são parâmetros característicos da IDF de cada local; TR é o tempo de retorno em 
anos; t é a duração da precipitação em minutos. Por exemplo, a equação IDF que representa as 
curvas da Figura 4. 25 tem os parâmetros: a=509,86; b=0,196; c=10; d=0,72. 
Em termos práticos, para a utilização de uma IDF, uma vez conhecidos os parâmetros que 
caracterizam a IDF de um dado local, é necessário informar o tempo de retorno de projeto e a 
duração da chuva. O tempo de retorno a ser utilizado é um critério relacionado com o tipo de 
obra de engenharia. Por exemplo, no projeto de um sistema de drenagem pluvial urbano as 
bocas-de-lobo são em geral dimensionadas para chuvas de 3 a 5 anos de período de retorno, 
enquanto que o vertedor de uma barragem como Itaipú no rio Paraná, é dimensionado para uma 
vazão de 100.000 anos de período de retorno. Com relação à duração da chuva, normalmente 
adota-se o critério de utilização da duração da chuva igual ao tempo de concentração da bacia 
hidrográfica para a qual será desenvolvido o estudo. Em alguns casos especiais, a duração da 
Apostila de Hidrologia 
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chuva também pode seguir um critério pré-estabelecido, como por exemplo, a duração máxima 
de 10 minutos é utilizada para o dimensionamento de redes de micro-drenagem em Porto Alegre. 
Uma equação IDF também pode ser utilizada para obter a precipitação discretizada 
temporalmente. Por exemplo, deseja-se obter a precipitação com 20 minutos de duração e 2 anos 
de tempo de retorno da cidade de Porto Alegre, utilizando uma discretização temporal de 5 
minutos. Na Tabela 4. 11 é apresentado esse processo a partir do uso dos parâmetros 
apresentados anteriormente para a IDF. Nessa tabela é apresentado na primeira coluna a duração 
respectiva de cada precipitação até os 20 minutos; na segunda coluna é apresentada a intensidade 
da precipitação correspondente a cada duração; na terceira coluna é apresentada a lâmina de água 
acumulada de chuva (=I*Tempo/60); e na última coluna é apresentada a precipitação de forma 
desacumulada (Pacumt-Pacumt-1). 
 
Tabela 4. 10 – Determinação da precipitação a partir de uma IDF 
Tempo (min) I (mm/h) Pacum (mm) P (mm) 
5 83,11 6,93 6,93 
10 67,56 11,26 4,33 
15 57,54 14,38 3,12 
20 50,46 16,82 2,44 
 
O procedimento apresentado na Tabela 4. 10 é particularmente importante, visto que em 
algumas metodologias para a determinação da vazão deve ser informada a precipitação em 
intensidade, enquanto em outras, deve ser informada a precipitação em forma de lâmina, 
conforme será visto posteriormente. 
É interessante observar também que na última coluna da Tabela 4. 10 a precipitação 
encontra-se desagregada, no entanto, distribui-se do maior para o menor valor, como se houvesse 
ocorrido uma “pancada” de chuva no início do tempo, e gradativamente a mesma foi 
diminuindo. Esse fato é decorrente do fato como é elaborada a IDF, e pode não representar o 
comportamento real de uma chuva. Assim, existem alguns procedimentos para fazer a 
redistribuição temporal da chuva gerada a partir de uma IDF, conforme apresentado no item 4.11 
Distribuição temporal da precipitação. 
É interessante comparar as intensidades de chuva da curva IDF da Figura 4. 25 com as 
chuvas da Tabela 4. 11, que apresenta as chuvas mais intensas já registradas no mundo, para 
diferentes durações. Observa-se que existem regiões da China em que já ocorreu em 10 horas a 
chuva de 1400 mm, que é equivalente ao total anual médio de precipitação em Porto Alegre. 
 
Tabela 4. 11 – Chuvas mais intensas já registradas no mundo (adaptado de Ward e Trimble, 
2003). 
Duração Precipitação 
(mm) 
Local e Data 
1 minuto 38 Barot, Guadeloupe 26/11/1970 
15 minutos 198 Plumb Point, Jamaica 12/05/1916 
30 minutos 280 Sikeshugou, Hebei, China 03/07/1974 
60 minutos 401 Shangdi, Mongólia, China 03/07/1975 
10 horas 1400 Muduocaidang, Mongólia, China 
01/08/1977 
24 horas 1825 Foc Foc, Ilhas Reunião 07 e 08/01/1966 
12 meses 26461 Cherrapunji, Índia Ago. de 1860 a Jul. de 
1861 
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4.11 Distribuição temporal da precipitação 
 
Conforme mencionado anteriormente, o resultado da obtenção da precipitaçãoa partir de 
uma equação IDF é uma série de precipitação que não apresenta distribuição temporal. Assim, 
antes do uso da informação de precipitação é importante fazer a distribuição temporal da chuva, 
de tal forma que a mesma tente representar o comportamento da chuva da região. 
No caso de haver informação disponível de pluviógrafo, é possível fazer um estudo sobre 
o comportamento da distribuição temporal da chuva na região, e a partir dessa análise proceder 
com a organização da chuva determinada a partir da IDF no tempo. No entanto, o caso mais 
comum é a adoção de um critério pré-definido para a distribuição temporal da chuva. Entre esses 
critérios, o mais usado dada sua simplicidade é o Método dos Blocos Alternados. 
Uma vez determinada a precipitação (equivalente à última coluna da Tabela 4. 10), o 
procedimento para a utilização do Método dos Blocos Alternados consiste em re-organizar a 
precipitação da seguinte forma: o maior volume de chuva é colocado na metade (50%) da 
duração total da chuva (ou de acordo com outros critérios (25, 75%, etc.); os demais volumes de 
chuva são dispostos em ordem alternada, um abaixo desse valor, outro acima, e assim até o final 
do processo, conforme apresentado na Tabela 4. 12 . À última coluna dessa tabela é dado o nome 
de hietograma de projeto, e o mesmo pode ser apresentado em forma de um diagrama de barras, 
como na Figura 4. 26. 
 
Tabela 4. 12 – Distribuição temporal da chuva usando o Método dos Blocos Alternados 
Tempo (min) I (mm/h) Pacum (mm) P (mm) P(mm) Ordenada – 
Blocos Alternados 
5 83,11 6,93 6,93 3,12 
10 67,56 11,26 4,33 6,93 
15 57,54 14,38 3,12 4,33 
20 50,46 16,82 2,44 2,44 
 
0
1
2
3
4
5
6
7
8
5 10 15 20
Tempo (minutos)
Pr
ec
ip
ita
çã
o 
(m
m
)
 
Figura 4. 26 – Hietograma de projeto 
 
Além do Método dos Blocos Alternados, na literatura especializada em hidrologia são 
apresentados outros métodos como o de Huff e de Chicago. 
 
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5. Interceptação 
 
 
A interceptação é um fenômeno mal conhecido e difícil de estudar. A interceptação é 
produzida pela cobertura vegetal e armazenamento em depressões. Seus efeitos são de retenção 
de um certo volume de água da precipitação, que logo se transforma em evaporação, ou acaba 
infiltrando, no caso de obstruções. 
 
 Interceptação vegetal 
 
No caso da cobertura vegetal, a capacidade de interceptação depende das características 
da precipitação (intensidade, duração, volume), das características da própria cobertura vegetal 
(vegetação de folhas maiores possuem maior capacidade de interceptação), das condições 
climáticas (quando há muito vento a capacidade de interceptação é diminuída), da época do ano 
(por exemplo, no outono a capacidade de interceptação é praticamente nula em árvores de folhas 
caducas), entre outros. 
Alguns valores estimados para perdas por interceptação são: prados, de 5 a 10% da 
precipitação anual; em bosques espessos, cerca de 25% da precipitação anual. Pode-se dizer 
também que se a chuva é menor que 1 mm ela será interceptada em sua totalidade, e se é maior 
que 1 mm, a interceptação vegetal pode variar entre 10 e 40%. 
A quantificação de perdas devido à interceptação vegetal pode deve ser feita através do 
monitoramento do dado de precipitação em uma região sem cobertura de vegetação, e o 
monitoramento da precipitação que atravessa a vegetação (além de monitorar a água que escoa 
pelo tronco das árvores). A diferença do volume total precipitado e volume de água que 
atravessa a vegetação (considerando o volume escoado pelos troncos) fornece uma estimativa da 
interceptação do local. 
 
 Armazenamento em depressões 
 
O volume armazenado nas depressões do terreno constitui-se perdas, já que esse volume 
evapora se a depressão é impermeável, ou também infiltra, caso contrário. 
Em áreas urbanas estima-se que o volume de água perdido por armazenamento em 
depressões seja da ordem de 5 a 8% da precipitação total. 
A literatura apresenta algumas equações empíricas para estimativa do armazenamento, 
como a de Linsley. 
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6. Evapotranspiração 
 
 
 
O retorno da água precipitada para a atmosfera, fechando o ciclo hidrológico, ocorre 
através do processo da evapotranspiração. A importância do processo de evapotranspiração 
permaneceu mal-compreendido até o início do século 18, quando Edmond Halley provou que a 
água que evaporava da terra era suficiente para abastecer os rios, posteriormente, em forma de 
precipitação. 
Dá-se o nome de evapotranspiração ao conjunto de dois processos: evaporação e 
transpiração. 
 
 Evaporação 
 
A evaporação é o processo de transferência de água líquida para vapor do ar diretamente 
de superfícies líquidas, como lagos, rios, reservatórios, poças, e gotas de orvalho. A água que 
umedece o solo, que está em estado líquido, também pode ser transferida para a atmosfera 
diretamente por evaporação. 
 
 Transpiração 
 
É a transferência da água presente no solo para a atmosfera através do processo de 
transpiração vegetal. A transpiração envolve a retirada da água do solo pelas raízes das plantas, o 
transporte da água através da planta até as folhas e a passagem da água para a atmosfera através 
dos estômatos da folha. Na Figura 6. 1 é apresentado o processo conjunto de evaporação (E) da 
água do solo e transpiração vegetal (T), dando origem ao processo de evapotranspiração. 
 
 
Figura 6. 1 – Processo de evapotranspiração 
 
 
Do ponto de vista do profissional envolvido com obras para armazenamento de água, a 
evapotranspiração tem um interesse muito específico nas perdas de água que ocorrem nos 
reservatórios. No caso de reservatórios, temos uma grande superfície líquida sujeita à 
evaporação. Além disso, a evapotranspiração é um processo que influencia fortemente a 
quantidade de água precipitada que é transformada em vazão em uma bacia hidrográfica. 
 
 
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6.1 Formação da evaporação 
 
A evaporação ocorre quando o estado líquido da água é transformado de líquido para 
gasoso. As moléculas de água estão em constante movimento, tanto no estado líquido como 
gasoso. Algumas moléculas da água líquida têm energia suficiente para romper a barreira da 
superfície, entrando na atmosfera, enquanto algumas moléculas de água na forma de vapor do ar 
retornam ao líquido, fazendo o caminho inverso. Quando a quantidade de moléculas que deixam 
a superfície é maior do que a que retorna está ocorrendo a evaporação. 
As moléculas de água no estado líquido estão relativamente unidas por forças de atração 
intermolecular. No vapor, as moléculas estão muito mais afastadas do que na água líquida, e a 
força intermolecular é muito inferior. Durante o processo de evaporação a separação média entre 
as moléculas aumenta muito, o que significa que é realizado trabalho em sentido contrário ao da 
força intermolecular, exigindo grande quantidade de energia. A quantidade de energia que uma 
molécula de água líquida precisa para romper a superfície e evaporar é chamada calor latente de 
evaporação. O calor latente de evaporação pode ser dado por unidade de massa de água, como na 
equação 6.1 
 
Ts002361,0501,2 ⋅−=λ (6.1) 
 
onde: λ é o calor latente em MJ.kg-1 e Ts é a temperatura da superfície da água em oC. 
Portanto o processo de evaporação exige um fornecimento de energia, que, na natureza, é 
provido pela radiação solar. 
O ar atmosférico é uma mistura de gases entre os quais está o vapor de água. A 
quantidade de vapor de água queo ar pode conter é limitada, e é denominada concentração de 
saturação (ou pressão de saturação). A concentração de saturação de vapor de água no ar varia de 
acordo com a temperatura do ar, como mostra a Figura 6. 2. Quando o ar acima de um corpo 
d’água está saturado de vapor o fluxo de evaporação se encerra, mesmo que a radiação solar 
esteja fornecendo a energia do calor latente de evaporação. 
 
 
Figura 6. 2 - Relação entre o conteúdo de água no ar no ponto de saturação e a temperatura do ar. 
 
Assim, para ocorrer a evaporação são necessárias duas condições: 
 
I) que a água líquida esteja recebendo energia para prover o calor latente de evaporação; 
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II) que o ar acima da superfície líquida não esteja saturado de vapor de água. 
Além disso, quanto maior a energia recebida pela água líquida, tanto maior é a taxa de 
evaporação. Da mesma forma, quanto mais baixa a concentração de vapor no ar acima da 
superfície, maior a taxa de evaporação. 
A umidade relativa é a medida do conteúdo de vapor de água do ar em relação ao 
conteúdo de vapor que o ar teria se estivesse saturado (equação 6.2). Assim, ar com umidade 
relativa de 100% está saturado de vapor, e ar com umidade relativa de 0% está completamente 
isento de vapor. 
sw
w100UR ⋅= (6.2) 
onde UR é a umidade relativa em %; w é a massa de vapor pela massa de ar e ws é a massa de 
vapor por massa de ar no ponto de saturação. 
A umidade relativa também pode ser expressa em termos de pressão parcial de vapor. De 
acordo com lei de Dalton cada gás que compõe uma mistura exerce uma pressão parcial, 
independente da pressão dos outros gases, igual à pressão que exerceria se fosse o único gás a 
ocupar o volume. No ponto de saturação a pressão parcial do vapor corresponde à pressão de 
saturação do vapor no ar, e a equação 6.2 pode ser reescrita como: 
se
e100UR ⋅= (6.3) 
onde UR é a umidade relativa em %; e é a pressão parcial de vapor no ar e es é pressão de saturação. 
 
6.2 Fatores que afetam a evaporação 
 
Os principais fatores que afetam a evaporação são a temperatura, a umidade do ar, a 
velocidade do vento e a radiação solar. 
 
 Radiação solar 
 
A quantidade de energia solar que atinge a Terra no topo da atmosfera está na faixa das 
ondas curtas. Na atmosfera e na superfície terrestre a radiação solar é refletida e sofre 
transformações, de acordo com a Figura 6. 3. 
Parte da energia incidente é refletida pelo ar e pelas nuvens (26%) e parte é absorvida 
pela poeira, pelo ar e pelas nuvens (19%). Parte da energia que chega a superfície é refletida de 
volta para o espaço ainda sob a forma de ondas curtas (4% do total de energia incidente no topo 
da atmosfera). 
A energia absorvida pela terra e pelos oceanos contribui para o aquecimento destas 
superfícies que emitem radiação de ondas longas. Além disso, o aquecimento das superfícies 
contribuem para o aquecimento do ar que está em contato, gerando o fluxo de calor sensível (ar 
quente), e o fluxo de calor latente (evaporação). 
Finalmente, a energia absorvida pelo ar, pelas nuvens e a energia dos fluxos de calor 
latente e sensível retorna ao espaço na forma de radiação de onda longa, fechando o balanço de 
energia. 
O processo de fluxo de calor sensível é onde ocorre a evaporação. A intensidade desta 
evaporação depende da disponibilidade de energia. Os valores apresentados na Figura 6. 3 
referem-se às médias globais, o que significa que a energia utilizada para evaporação pode ser 
maior ou menor, dependendo principalmente da latitude e da época do ano. Regiões mais 
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Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -51- 
próximas ao Equador recebem maior radiação solar, e apresentam maiores taxas de 
evapotranspiração. 
Espaço
Atmosfera
Superfície (Terra + Oceanos)
R
ad
ia
çã
o
So
la
r
in
ci
de
nt
e
6
re
fle
tid
a
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lo
ar
20
re
fle
tid
a
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la
s n
uv
en
s
re
fle
tid
a
pe
la
su
pe
rfí
ci
e
4
Absorvida na
superfície
51
3
Absorvida pelas
nuvens
Absorvida pelo
ar e poeira 16
ondas
curtas
21
15
Emitida pela
superfície
6 2638
ondas
longas
Absorvida pelo
vapor de H2O
e CO2
Fluxo de calor
sensível
7 23
Fluxo de calor
latente
Emitida pelas
nuvens
Emitida pelo
vapor de H2O
e CO2
10
0
 
Figura 6. 3 - Média global de fluxos de energia na atmosfera da Terra. 
 
 Temperatura 
 
A quantidade de vapor de água que o ar pode conter varia com a temperatura. Ar mais 
quente pode conter mais vapor, portanto o ar mais quente favorece a evaporação. 
 
 Umidade do ar 
 
Quanto menor a umidade do ar, mais fácil é o fluxo de vapor da superfície que está 
evaporando. O efeito é semelhante ao da temperatura. Se o ar da atmosfera próxima à superfície 
estiver com umidade relativa próxima a 100% a evaporação diminui porque o ar já está 
praticamente saturado de vapor. 
 
 Velocidade do vento 
 
O vento é uma variável importante no processo de evaporação porque remove o ar úmido 
diretamente do contato da superfície que está evaporando ou transpirando. O processo de fluxo 
de vapor na atmosfera próxima à superfície ocorre por difusão, isto é, de uma região de alta 
concentração (umidade relativa) próxima à superfície para uma região de baixa concentração 
afastada da superfície. Este processo pode ocorrer pela própria ascensão do ar quente como pela 
turbulência causada pelo vento. 
 
 
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6.3 Medição de evaporação 
 
A evaporação é medida de forma semelhante à precipitação, utilizando unidades de mm 
para caracterizar a lâmina evaporada ao longo de um determinado intervalo de tempo. As formas 
mais comuns de medir a evaporação são o Tanque Classe A e o Evaporímetro de Piche. 
O tanque Classe A (Figura 6. 4) é um recipiente metálico que tem forma circular com um 
diâmetro de 121 cm e profundidade de 25,5 cm. Construído em aço ou ferro galvanizado, deve 
ser pintado na cor alumínio e instalado numa plataforma de madeira a 15 cm da superfície do 
solo. Deve permanecer com água variando entre 5,0 e 7,5 cm da borda superior. 
A medição de evaporação no Tanque Classe A é realizada diariamente diretamente em 
uma régua, ou ponta linimétrica, instalada dentro do tanque, sendo que são compensados os 
valores da precipitação do dia. Por esta razão o Tanque Classe A é instalado em estações 
meteorológicas em conjunto com um pluviômetro. 
 
 
Figura 6. 4 - Tanque Classe A para medição de evaporação. 
As medições de tanques Classe A são particularmente importantes quando se deseja 
determinar a evaporação de superfícies líquidas, como por exemplo, lagos, açudes e 
reservatórios. É necessário, no entanto, aplicar um coeficiente de redução aos dados de 
evaporação medidos no tanque. Isso ocorre porque a água do reservatório normalmente está mais 
fria do que a água do tanque, que tem um volume pequeno e está completamente exposta à 
radiação solar. 
Assim, para estimar a evaporação em reservatórios e lagos costuma-se considerar que 
esta tem um valor de aproximadamente 60 a 80% da evaporação medida em Tanque Classe A, na 
mesma região, isto é: 
Elago = Etanque . Ft (6.4) 
onde Ft tem valores entre 0,6 e 0,8. 
 
Para exemplificar a importância da quantificação da evaporação, é citado o exemplo do 
reservatório de Sobradinho, um dos mais importantes do rio São Francisco, tem uma área 
superficial de 4.214 km2, constituindo-se no maior lago artificial do mundo. Esse lago está em 
uma das regiões mais secas do Brasil, e em conseqüência disso, a evaporação direta deste 
reservatório é estimadaem 200 m3.s-1, o que corresponde a 10% da vazão regularizada do rio 
São Francisco. Esta perda de água por evaporação é superior à vazão prevista para o projeto de 
transposição do rio São Francisco, idealizado pelo governo federal. 
 
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O evaporímetro de Piche (Figura 6. 5) é constituído por 
um tubo cilíndrico, de vidro, de aproximadamente 30 cm de 
comprimento e um centímetro de diâmetro, fechado na parte 
superior e aberto na inferior. A extremidade inferior é tapada, 
depois do tubo estar cheio com água destilada, com um disco de 
papel de feltro, de 3 cm de diâmetro, que deve ser previamente 
molhado com água. Este disco é fixo depois com uma mola. A 
seguir, o tubo é preso por intermédio de uma argola a um 
gancho situado no interior de um abrigo meteorológico padrão. 
Tanto o Tanque Classe A, quanto o evaporímetro de 
Piche fornecem valores de evapotranspiração potencial. No 
entanto, os dados de evaporação do Tanque Classe A são 
consideradas mais confiáveis do que as do evaporímetro de 
Piche. 
 
Figura 6. 5 – Evaporímetro de Piché
 
 
6.4 Fatores que afetam a transpiração 
 
A transpiração é influenciada também pela radiação solar, pela temperatura, pela umidade 
relativa do ar e pela velocidade do vento. Além disso, intervém outras variáveis, como o tipo de 
vegetação e o tipo de solo. 
Como o processo de transpiração é a transferência da água do solo, uma das variáveis 
mais importantes é a umidade do solo. Quando o solo está úmido as plantas transpiram 
livremente, e a taxa de transpiração é controlada pelas variáveis atmosféricas. Porém, quando o 
solo começa a secar o fluxo de transpiração começa a diminuir. As próprias plantas têm um certo 
controle ativo sobre a transpiração ao fechar ou abrir os estômatos, que são as aberturas na 
superfície das folhas por onde ocorre a passagem do vapor para a atmosfera. 
Para um determinado tipo de cobertura vegetal a taxa de evapotranspiração que ocorre em 
condições ideais de umidade do solo é chamada a Evapotranspiração Potencial, enquanto a taxa 
que ocorre para condições reais de umidade do solo é a Evapotranspiração Real. A 
evapotranspiração real é sempre igual ou inferior à evapotranspiração potencial. 
 
6.5 Medição da evapotranspiração 
 
A medição da evapotranspiração é relativamente mais complicada do que a medição da 
evaporação. Existem dois métodos principais de medição de evapotranspiração: os lisímetros e 
as medições micrometeorológicas. 
Os lisímetros são depósitos ou tanques enterrados, abertos na parte superior, os quais são 
preenchidos com o solo e a vegetação característicos dos quais se deseja medir a 
evapotranspiração (Figura 6. 6). O solo recebe a precipitação, e é drenado para o fundo do 
aparelho onde a água é coletada e medida. O depósito é pesado diariamente, assim como a chuva 
e os volumes escoados de forma superficial e que saem por orifícios no fundo do lisímetro. A 
evapotranspiração é calculada por balanço hídrico entre dois dias subseqüentes de acordo com a 
equação 6.5, onde ∆V é a variação de volume de água (medida pelo peso); P é a chuva (medida 
num pluviômetro); E é a evapotranspiração; Qs é o escoamento superficial (medido) e Qb é o 
escoamento subterrâneo (medido no fundo do tanque). 
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E = P - Qs – Qb - ∆V (6.5) 
 
 
Figura 6. 6 - Lisímetros para medição de evapotranspiração 
 
Os lisímetros fornecem dados de evapotranspiração real, e um lisímetro sem vegetação 
pode ser utilizado para medir a evaporação real. 
A medição de evapotranspiração por métodos micrometeorológicos envolve a medição 
das variáveis velocidade do vento e umidade relativa do ar em alta freqüência. Próximo à 
superfície, a velocidade do vento é paralela à mesma, o que significa que o movimento médio na 
vertical é zero. Entretanto, a turbulência do ar em movimento causa flutuações na velocidade 
vertical, que na média permanece zero, mas apresenta momentos de fluxo ascendente e 
descendente alternados. Na média estes fluxos são iguais a zero, entretanto num instante 
qualquer a velocidade ascendente pode ser dada por w’. 
A umidade do ar também tem um valor médio (q) e uma flutuação em torno deste valor 
médio (q’). O valor de q’ positivo significa ar com umidade ligeiramente superior à média q, 
enquanto o valor q’ negativo significa umidade ligeiramente inferior à média. Se num instante 
qualquer tanto w’ como q’ são positivos então ar mais úmido do que a média está sendo afastado 
da superfície, e se w’ e q’ são, ao mesmo tempo, negativos, então ar mais seco do que o normal 
está sendo trazido para próximo da superfície. 
De fato, esta correlação entre as variáveis umidade e velocidade vertical ocorre e pode ser 
medida para estimar a evapotranspiração. São necessários para isto sensores de resposta muito 
rápida para a velocidade do ar e para sua umidade, e um processador capaz de integrar os fluxos 
w’.q’ ao longo do tempo. 
 
 
6.6 Estimativa da evapotranspiração através de equações 
 
6.6.1 Balanço hídrico 
 
A evapotranspiração real pode ser estimada, também, pela medição das outras variáveis 
que intervém no balanço hídrico de uma bacia hidrográfica. De forma semelhante ao apresentado 
na equação 6.4, para um lisímetro, pode ser realizado o balanço hídrico de uma bacia para 
estimar a evapotranspiração. Neste caso, entretanto, as estimativas não podem ser feitas 
considerando o intervalo de tempo diário, mas apenas o anual, ou maior. Isto ocorre porque, 
dependendo do tamanho da bacia, a água da chuva pode permanecer vários dias ou meses no 
interior da bacia antes de sair escoando pelo exutório. 
Para estimar a evapotranspiração real por balanço hídrico de uma bacia é necessário 
considerar valores médios de escoamento e precipitação de um período relativamente longo, 
idealmente superior a um ano. A partir daí é possível considerar que a variação de 
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armazenamento na bacia pode ser desprezada, e a equação de balanço hídrico se reduz à equação 
6.6. 
 
E TR = P – Q (6.6) 
 Por exemplo, uma bacia de 800 km2 recebe anualmente 1600 mm de chuva, e a vazão média 
corresponde a 700 mm. A evapotranspiração anual pode ser calculada por balanço hídrico da bacia 
desprezando a variação do armazenamento na bacia, ou seja, E = 1600 – 700 = 900 mm. 
 
6.6.2 Método de Thorntwaith 
 
Equação empírica do Método de Thorntwaith foi desenvolvida com base em dados de 
precipitação e escoamento, de várias bacias hidrográficas localizadas nas regiões central e leste 
dos Estados Unidos (clima temperado com verões secos e invernos úmidos). 
O método correlaciona estas informações com a variável temperatura e possibilita a 
estimativa da evapotranspiração potencial. Por tratar-se de um método baseado unicamente na 
temperatura, o método de Thorntwaite ainda é muito utilizado, visto que a temperatura é um 
dado normalmente coletado em estações meteorológicas. No entanto, por basear-se apenas na 
temperatura, pode levar a resultados errôneos, pois a temperatura não é um bom indicador da 
energia disponível para a evapotranspiração. 
Outras limitações do método são: não considera a influência do vento, nem da advecção 
do ar frio ou quente, não permite estimar a ETP para períodos diários. Seu uso é mais adequado 
para regiões úmidas. Neste método, a ETP pode ser estimada pela equação abaixo: 
a
I
T1016fETP ⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛ ⋅
⋅⋅= (6.7) 
onde: 
∑
=
⎥⎦⎤
⎢⎣
⎡=
12
1i
514,1
5
tiI (6.8) 
onde: 
ETP é a evapotranspiração potencial para meses de 30 dias e dia com 12 horas diárias de 
insolação (mm/mês) 
T é a temperatura média do ar (ºC) 
f é o fator de correção em função da latitude e mês do ano (ver Tabela 6. 1) 
ti é a temperatura do mês analisado (ºC) 
 
O valor de a é dado pela função cúbica do índice de calor anual: 
 
a = 67,5 . 10-8 . I3 – 7,71 . 10–6 . I2 + 0,01791 . I + 0,492 (6.9) 
 
Os valores obtidos pela fórmula de Thornthwaite são válidos para meses de 30 dias com 
12 horas de luz por dia. Como o número de horas de luz por dia muda com a latitude e também 
porque há meses com 28 e 31 dias, torna-se necessário proceder correções. O fator de correção 
(f) é obtido da seguinte forma: 
30
n
12
hf ⋅= (6.10) 
onde: h é número de horas de luz na latitude considerada; n é número de dias do mês em estudo. 
 
 
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Tabela 6. 1 -Fator de correção f do método de Thornthwaite (UNESCO, 1982) 
Latitude Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 
10 N 0,98 0,91 1,03 1,03 1,08 1,06 1,08 1,07 1,02 1,02 0,98 0,99 
5 N 1,00 0,93 1,03 1,02 1,06 1,03 1,06 1,05 1,01 1,03 0,99 1,02 
0 1,02 0,94 1,04 1,01 1,01 1,01 1,04 1,04 1,01 1,04 1,01 1,04 
5 S 1,04 0,95 1,04 1,00 1,02 0,99 1,02 1,03 1,00 1,05 1,03 1,06 
10 S 1,08 0,97 1,05 0,99 1,01 0,96 1,00 1,01 1,00 1,06 1,05 1,10 
15 S 1,12 0,98 1,05 0,98 0,98 0,94 0,97 1,00 1,00 1,07 1,07 1,12 
20 S 1,14 1,00 1,05 0,97 0,96 0,91 0,95 0,99 1,00 1,08 1,09 1,15 
25 S 1,17 1,01 1,05 0,96 0,94 0,88 0,93 0,98 1,00 1,10 1,11 1,18 
30 S 1,20 1,03 1,06 0,95 0,92 0,85 0,90 0,96 1,00 1,12 1,14 1,21 
35 S 1,23 1,04 1,06 0,94 0,89 0,82 0,87 0,94 1,00 1,13 1,17 1,25 
40 S 1,27 1,06 1,07 0,93 0,86 0,78 0,84 0,92 1,00 1,15 1,20 1,29 
 
 
6.6.3 Método de Blaney-Criddle 
 
Esse método foi desenvolvido na região oeste dos Estados Unidos, nos anos 50. 
Originalmente o método era utilizado para estimativas de uso consuntivo. Dadas as característica 
da região para a qual o método foi desenvolvido, o método é mais indicado para zonas áridas e 
semi-áridas, e consiste na aplicação da seguinte equação empírica para avaliar a 
evapotranspiração potencial: 
ETP = (0,457.T + 8,13). p .24 (6.11) 
onde: 
ETP é a evapotranspiração potencial (mm/mês); 
T é a temperatura média mensal do ar em ºC; 
p é a porcentagem diária de horas de luz (Tabela 6. 2) 
 
Tabela 6. 2 - Proporção média diária (p) de horas de luz para diferentes latitudes 
Latitude Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 
0 S 0,27 0,27 0,27 0,27 0,27 0,27 0,277 0,27 0,27 0,27 0,27 0,27 
05 S 0,28 0,28 0,28 0,27 0,27 0,27 0,27 0,27 0,27 0,28 0,28 0,28 
10 S 0,29 0,28 0,28 0,27 0,26 0,26 0,26 0,27 0,27 0,28 0,28 0,29 
15 S 0,29 0,28 0,28 0,27 0,26 0,25 0,26 0,26 0,27 0,28 0,29 0,29 
20 S 0,30 0,29 0,28 0,26 0,25 0,25 0,25 0,26 0,27 0,28 0,29 0,30 
25 S 0,31 0,29 0,28 0,26 0,25 0,24 0,24 0,26 0,27 0,29 0,30 0,31 
30 S 0,31 0,30 0,28 0,26 0,24 0,23 0,24 0,25 0,27 0,29 0,31 0,32 
35 S 0,32 0,30 0,28 0,25 0,23 0,22 0,23 0,25 0,27 0,29 0,31 0,32 
40 S 0,33 0,31 0,28 0,25 0,22 0,21 0,22 0,24 0,27 0,30 0,32 0,34 
46 S 0,34 0,32 0,28 0,24 0,21 0,20 0,20 0,23 0,27 0,30 0,34 0,35 
50 S 0,35 0,32 0,28 0,24 0,20 0,18 0,19 0,23 0,27 0,31 0,34 0,36 
 
 
 
6.6.4 Equações de Penman-Monteith 
 
A principal equação de evapotranspiração de base física é a equação de Penman-Monteith 
(6.12). 
( ) ( )
W
a
s
a
ds
pAL 1
r
r
1
r
ee
cGR
E
ρ⋅λ
⋅
⎟
⎟
⎟
⎟
⎟
⎠
⎞
⎜
⎜
⎜
⎜
⎜
⎝
⎛
⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜
⎝
⎛
+⋅γ+∆
−
⋅⋅ρ+−⋅∆
= (6.12) 
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onde: 
E é a taxa de evaporação da água (m.s-1); 
λ é o calor latente de vaporização (MJ.kg-1); 
∆ é a taxa de variação da pressão de saturação do vapor com a temperatura do ar (kPa.ºC-1); 
RL é a radiação líquida que incide na superfície (MJ.m-2.s-1); 
G é o fluxo de energia para o solo (MJ.m-2.s-1); 
ρA é a massa específica do ar (kg.m-3); 
ρW é a massa específica da água (kg.m-3); 
cp é o calor específico do ar úmido (cp = 1,013.10-3 MJ.kg-1.ºC-1); 
es é a pressão de saturação do vapor (kPa); 
ed é a pressão real de vapor de água no ar (kPa); 
γ é a constante psicrométrica (γ = 0,66) (kPa.ºC-1); 
rs é a resistência superficial da vegetação (s.m-1); 
ra é a resistência aerodinâmica (s.m-1). 
 
Os valores das variáveis podem ser obtidos pelas seguintes equações: 
 
( )T002361,0501,2 ⋅−=λ (6.13) 
T275
P486,3 A
A +
⋅=ρ
 (6.14) 
( )2
s
T3,237
e4098
+
⋅
=∆
 (6.15) 
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛
+
⋅
⋅=
T3,237
T27,17exp6108,0es
 (6.16) 
100
Uee R
sd ⋅=
 (6.17) 
λ
⋅=γ AP0016286,0
 (6.18) 
 
onde: UR é a umidade relativa do ar (%); PA é a pressão atmosférica (kPa); T é a temperatura do 
ar a 2 m da superfície (ºC). 
Há uma analogia de parte da equação 6.12 com um circuito elétrico, em que o fluxo 
evaporativo é a corrente, a diferença de potencial é o déficit de pressão de vapor no ar (pressão 
de saturação do vapor menos pressão parcial real: es-ed) e a resistência é uma combinação de 
resistência superficial e resistência aerodinâmica. A resistência superficial é a combinação, para 
o conjunto da vegetação, da resistência estomática das folhas. Mudanças na temperatura do ar e 
velocidade do vento vão afetar a resistência aerodinâmica. Mudanças na umidade do solo são 
enfrentadas pelas plantas com mudanças na transpiração, que afetam a resistência estomática ou 
superficial. 
O valor de E, calculado pela equação 6.12, é convertido para as unidades de lâmina diária 
pela equação a seguir. 
fcEEa ⋅= (6.19) 
onde: Ea é a lâmina de evapotranspiração (mm.dia-1); E é a taxa de evaporação da água (mm.dia-
1); fc é um fator de conversão de unidades (fc = 8,64.107) (mm.s.dia-1.m-1). 
A energia disponível para a evapotranspiração depende da energia irradiada pelo sol, da 
energia que é refletida ou bloqueada pela atmosfera, da energia que é refletida pela superfície 
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terrestre, da energia que é irradiada pela superfície terrestre e da energia que é transmitida ao 
solo. 
Normalmente, as estações climatológicas dispõe de dados de radiação que atinge a 
superfície terrestre (SSUP), medida com radiômetros, ou do número de horas de insolação (n), 
medidas com o heliógrafo, ou mesmo da fração de cobertura de nuvens (n/N), estimada por um 
observador. A estimativa da radiação líquida disponível para evapotranspiração depende do tipo 
de dados disponível. 
A situação de estimativa mais simples ocorre quando existem dados de radiação medidos, 
dados normalmente em MJ.m-2.dia-1, ou cal.cm-2.dia-1. Neste caso, o termo RL da equação de 
Penman-Monteith pode ser obtido da equação a seguir, que desconta a parte da radiação 
refletida. 
( )α−⋅= 1SR SUPL (6.20) 
onde: RL é a radiação líquida na superfície (MJ.m-2.s-1); SSUP é a radiação que atinge a superfície 
(valor medido) (MJ.m-2.s-1); α é o albedo, que é a parcela da radiação incidente que é refletida 
(parâmetro que depende da cobertura vegetal e uso do solo) adimensional. 
Quando existem apenas dados de horasde insolação, ou da fração de cobertura de 
nuvens, a radiação que atinge a superfície terrestre pode ser obtida considerando-a como uma 
fração da máxima energia, de acordo com a época do ano, a latitude da região, e o tipo de 
cobertura vegetal ou uso do solo. 
A insolação máxima em um determinado ponto do planeta, considerando que o céu está 
sem nuvens, é dada pela equação abaixo. 
s
24N ω⋅
π
=
 (6.21) 
 
onde: N é a insolação máxima (horas); ωs é o ângulo do sol ao nascer (depende da latitude e da 
época do ano) (radianos), e é dado por: 
( )δ⋅ϕ−=ω tantanarccoss (6.22) 
 
onde: φ é a latitude (positiva no hemisfério norte e negativa no hemisfério sul) (graus); ωs é o 
ângulo do sol ao nascer (radianos); δ é a declinação solar (radianos), dada por: 
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛ −⋅
π⋅
⋅=δ 405,1J
365
2sin4093,0
 (6.23) 
 
onde: δ é a declinação solar (radianos); J é o dia no calendário Juliano (contado a partir de 1˚ de 
janeiro) adimensional. 
A radiação que atinge o topo da atmosfera também depende da latitude e da época do 
ano: 
( )ssr
W
TOP sencoscossensend
1000
392,15S ω⋅δ⋅ϕ+δ⋅ϕ⋅ω⋅⋅
λ⋅ρ
⋅=
 (6.24) 
 
onde: λ é o calor latente de vaporização (MJ.kg-1); STOP é a radiação no topo da atmosfera 
(MJ.m-2.dia-1); ρW é a massa específica da água (kg.m-3); δ é a declinação solar (radianos); φ é a 
latitude (graus); ωs é o ângulo do sol ao nascer (radianos); e dr é a distância relativa da terra ao 
sol (adimensional), dada por: 
⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛ ⋅
π⋅
⋅+= J
365
2cos033,01d r
 (6.25) 
onde J é o dia do calendário Juliano. 
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A radiação que atinge o topo da atmosfera é parcialmente refletida pela própria 
atmosfera, não atingindo a superfície terrestre. As nuvens são as principais responsáveis pela 
reflexão, e a estimativa da radiação que atinge a superfície terrestre depende da fração de 
cobertura de nuvens, conforme a abaixo: 
TOPssSUP S
N
nbaS ⋅⎟
⎠
⎞
⎜
⎝
⎛ ⋅+=
 (6.26) 
 
onde: N é a insolação máxima possível numa latitude em certa época do ano (horas); n é a 
insolação medida (horas); STOP é a radiação no topo da atmosfera (MJ.m-2.dia-1); SSUP é a 
radiação na superfície terrestre (MJ.m-2.dia-1); as é a fração da radiação que atinge a superfície 
em dias encobertos (quando n=0) adimensional; e as + bs é a fração da radiação que atinge a 
superfície em dias sem nuvens (n=N) adimensional. 
Quando não existem dados locais medidos que permitam estimativas mais precisas, são 
recomendados os valores de 0,25 e 0,50, respectivamente, para os parâmetros as e bs 
(Shuttleworth, 1993). 
Quando a estação meteorológica dispõe de dados de insolação, a equação acima é 
utilizada com n medido e N estimado pela equação 6.21. Quando a estação dispõe de dados de 
fração de cobertura, utiliza-se o valor de n/N diretamente. 
Uma parte da radiação que atinge a superfície terrestre (SSUP) é refletida, conforme já 
descrito. A maior parte da energia irradiada pelo sol está na faixa de ondas curtas, de 0,3 a 3 µm. 
O balanço de energia, porém, também inclui uma pequena parcela de radiação de ondas longas, 
de 3 a 100 µm. 
O balanço de radiação de ondas longas na superfície terrestre depende, basicamente, de 
quanta energia é emitida pela superfície terrestre e pela atmosfera. Normalmente, a superfície 
terrestre é mais quente do que a atmosfera, resultando em um balanço negativo, isto é, há perda 
de energia na faixa de ondas longas. A equação a seguir descreve a radiação líquida de ondas 
longas que deixa a superfície terrestre. 
( )4
n 2,273TfL +⋅σ⋅ε⋅= (6.27) 
 
onde: Ln é a radiação líquida de ondas longas que deixa a superfície (MJ.m-2.dia-1); f é um fator 
de correção devido à cobertura de nuvens (adimensional); T é a temperatura média do ar a 2 m 
do solo (ºC); ε é a emissividade da superfície (adimensional); σ é uma constante (σ=4,903.10-9 
MJ.m-2.ºK-4.dia-1). 
A emissividade da superfície pode ser estimada pela equação abaixo. 
( )de14,034,0 ⋅−=ε (6.28) 
onde ed é a pressão parcial de vapor de água no ar (kPa). 
O fator de correção da radiação de ondas longas devido à cobertura de nuvens (f) pode 
ser estimado com base na equação a seguir: 
N
n9,01,0f ⋅+=
 (6.29) 
Por simplicidade, o fluxo de calor para o solo - termo G na equação de Penman-Monteith 
– pode ser considerado nulo, principalmente quando o intervalo de tempo é relativamente grande 
(1 dia). 
Na analogia da evapotranspiração com um circuito elétrico, existem duas resistências que 
a “corrente” (fluxo evaporativo) tem de enfrentar: resistência superficial e resistência 
aerodinâmica. A resistência aerodinâmica representa a dificuldade com que a umidade, que deixa 
a superfície das folhas e do solo, é dispersada pelo meio. Na proximidade da vegetação o ar 
tende a ficar mais úmido, dificultando o fluxo de evaporação. A velocidade do vento e a 
turbulência contribuem para reduzir a resistência aerodinâmica, trocando o ar úmido próximo à 
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superfície que está fornecendo vapor, como as folhas das plantas ou as superfícies líquidas, pelo 
ar seco de níveis mais elevados da atmosfera. 
A resistência aerodinâmica é inversamente proporcional à altura dos obstáculos 
enfrentados pelo vento, porque são estes que geram a turbulência. 
2
010,m
a z
10ln
u
25,6r ⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜
⎝
⎛
⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜
⎝
⎛
⋅=
 para h 10 metros 
 
onde: ra é a resistência aerodinâmica (s.m-1); um,10 é a velocidade do vento a 10 m de altura 
(m.s-1); z0 é a rugosidade da superfície (m); h é altura média da cobertura vegetal (m). 
A rugosidade da superfície é considerada igual a um décimo da altura média da 
vegetação. 
As estações climatológicas normalmente dispõe de dados de velocidade do vento medidas 
a 2 m de altura. Para converter estes dados a uma altura de referência de 10 m é utilizada a 
equação a seguir (Bremicker, 1998). 
 
⎟
⎟
⎟
⎟
⎟
⎠
⎞
⎜
⎜
⎜
⎜
⎜
⎝
⎛
⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜
⎝
⎛
⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜
⎝
⎛
⋅=
0
0
2,m10,m
z
2ln
z
10ln
uu
 (6.31) 
 
onde: um,10 é a velocidade do vento a 10 m de altura (m.s-1); um,2 é a velocidade do vento a 2 
m de altura (m.s-1); z0 é a rugosidade da superfície (m). 
A resistência superficial é a combinação, para o conjunto da vegetação, da resistência 
estomática das folhas. A resistência superficial representa a resistência ao fluxo de umidade do 
solo, através das plantas, até a atmosfera. Esta resistência é diferente para os diversos tipos de 
plantas e depende de variáveis ambientais como a umidade do solo, a temperatura do ar e a 
radiação recebida pela planta. A maior parte das plantas exerce um certo controle sobre a 
resistência dos estômatos e, portanto, pode controlar a resistência superficial. 
A resistência estomática das folhas depende da disponibilidade de água no solo. Em 
condições favoráveis, os valores de resistência estomática e, em conseqüência, os de resistência 
superficial são mínimos. 
A resistência superficial em boas condições de umidade é um parâmetro que pode ser 
estimado com base em experimentos cuidadosos em lisímetros. A grama utilizada para cálculos 
de evapotranspiração de referência tem uma resistência superficial de 69 s.m-1 quando o solo 
apresenta boas condições de umidade. Florestas tem resistências superficiais da ordem de 100 
s.m-1 em boas condições de umidade do solo.8.4 Separação do escoamento..............................................................................................78 
9. Escoamento Superficial.........................................................................................................80 
9.1 Método Racional ...........................................................................................................80 
9.2 O Hidrograma Unitário (HU)........................................................................................82 
9.2.1 Dedução do Hidrograma Unitário .........................................................................85 
9.3 Hidrograma Unitário Sintético (HUS) ..........................................................................86 
9.3.1 Hidrograma Unitário Sintético do Snyder.............................................................86 
9.3.2 Hidrograma Unitário Sintético do SCS.................................................................88 
9.4 Aplicação dos métodos do HU e HUS..........................................................................89 
10. Propagação de Vazões.......................................................................................................90 
10.1 Propagação do escoamento em rios e canais - Muskingum..........................................90 
10.1.1 Ajuste dos parâmetros X e K.................................................................................92 
10.2 Propagação de escoamento em reservatórios ................................................................93 
 
 
 
 
 
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -1- 
1.Introdução à Hidrologia 
 
1.1 Definição 
 
 A Hidrologia é a ciência da água. Trata da quantificação dos volumes de água que, em 
diversas formas, encontram-se distribuídos pela superfície terrestre e são suscetíveis de 
aproveitamento pelo homem. Ocupa-se, também, da movimentação dessas massas de água que, 
num fluxo contínuo, deslocam-se de um lugar a outro facilitando seu uso, mas causando também, 
às vezes, grandes dificuldades e prejuízos à atividade humana. 
 Diversas especialidades têm surgido dentro das ciências hídricas relacionadas com os 
diferentes usos da água, e por isso aspectos como a hidrologia de águas subterrâneas e a 
qualidade das águas não estão aqui incluídas, tendo-se abordado apenas de forma preliminar a 
ocorrência das águas subterrâneas, constituídas hoje numa ciência especializada que poderá ser 
melhor consultada em textos próprios. 
 
 
1.2 O que é a água? 
 
A água é uma substância com características incomuns. É a substância mais presente na 
superfície do planeta Terra, cobrindo mais de 70% do globo. O corpo humano é composto por 
água mais ou menos na mesma proporção. Já um tomate é composto por mais de 90 % de água, 
assim como muitos outros alimentos. Todas as formas de vida necessitam da água para 
sobreviver. A água é a única substância na Terra naturalmente presente nas formas líquida, 
sólida e gasosa. A mesma quantidade de água está presente na Terra atualmente como no tempo 
em que os dinossauros habitavam o planeta, a milhões de anos atrás. A busca de vida em outros 
planetas está fortemente relacionada a busca de indícios da presença de água. 
A estrutura molecular da água (H2O) é responsável por uma característica fundamental 
da água que é a sua grande inércia térmica, isto é, a temperatura da água varia de forma lenta. O 
sol aquece as superfícies de terra e de água do planeta com a mesma energia, entretanto as 
variações de temperatura são muito menores na água. Em função deste aquecimento diferenciado 
e do papel regularizador dos oceanos, o clima da Terra tem as características que conhecemos. 
Comparada com outros líquidos a água também apresenta uma tensão superficial relativamente 
alta. Esta tensão superficial é responsável pela organização da chuva na forma de gotas e pela 
ascensão capilar da água nos solos. 
Os recursos de água têm determinado o destino de muitas civilizações ao longo da 
história. Povos entraram em conflito e guerras foram iniciadas em torno de problemas 
relacionados ao acesso à água. O crescimento da população mundial ao longo do último século 
tornou criticamente necessária a racionalização do uso da água. 
No Brasil a geração de energia elétrica é apenas um dos usos da água, mas sua importância é 
muito grande, chegando a influenciar fortemente as estimativas do valor associado á água. 
 
 
1.3 Domínio da hidrologia 
 
 Tendo como objeto o estudo da água, podem-se dar várias sub-divisões dentro da Hidrologia. 
Hidrometeorologia é o estudo dos problemas intermediários, ou que afetam os campos da 
hidrologia e meteorologia. Limnologia é o estudo dos lagos. Criologia o estudo dos assuntos 
relacionados com neve e gelo. Potamologia é o estudo das correntes superficiais e Geohidrologia 
o estudo das águas subterrâneas. 
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -2- 
 A maioria dos problemas reais envolve várias dessas especialidades, porquanto muitos dos 
fenômenos são interdependentes. A Hidrologia, por seu caráter abrangente, utiliza como suporte 
outras ciências específicas como a geologia, geografia, hidromecânica, estatística, computação e 
outras, fora das básicas de física e matemática (Gray, 1973). 
 Linsley et Al. (1949) reconhecem três grandes temas a serem tratados na Hidrologia: a 
medição, registro e publicação de informações básicas, a análise dessa informação para 
desenvolver e expandir as teorias fundamentais, e a aplicação dessas teorias e dados na solução 
de problemas reais. 
 
 
1.4 A hidrologia na Engenharia 
 
Visto que o recurso água nem sempre se encontra no local oportuno e no momento 
oportuno, é necessária muitas vezes, a construção de obras hidráulicas. Em caso de secas, ou 
locais onde a água seja escassa, o objetivo das obras hidráulicas é aproximar o recurso do 
usuário, no mesmo momento que seja necessário, criando barragens, canais, aquedutos, redes de 
distribuição de água, sistema de irrigação. Nos casos de locais que sofrem com inundações, as 
obras hidráulicas devem proteger o homem dos efeitos devastadores das ondas de cheia, através 
da delimitação da planície de inundação e criando obras de defesa e drenagem, tanto urbana, 
como rural. 
De forma mais ampla, o engenheiro deve responder a questões como: Qual é a vazão 
máxima que se pode esperar num vertedor de barragem ou num bueiro de rodovia ou no sistema 
pluvial de uma cidade? Qual é o volume de água necessário para garantir o fornecimento para 
irrigação durante uma seca? Quais serão os efeitos dos reservatórios e diques de controle sobre 
as ondas de cheia de um rio? Qual a possibilidade de abastecer uma população com água 
subterrânea? 
 O engenheiro também é responsável pelo fornecimento de informações (níveis, velocidade, 
sedimentos, etc.) para obras de melhoramento das condições de navegabilidade de um rio, 
dragagem de trechos, fechamento de braços e projeto de espigões. Na construção de portos 
fluviais, diques de proteção e aterros, os estudos estatísticos de variação de níveis podem atribuir 
períodos de recorrência a esses valores, introduzindo o conceito de probabilidade e risco de 
ocorrência de eventos. A irrigação, a proteção contra erosão de solos agrícolas, a recuperação de 
terras, o estudo da poluição dos cursos d’água por defensivos agrícolas, tem na hidrologia o seu 
elemento básico. 
 
 
 
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Highlight
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Highlight
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Highlight
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -3- 
 
2.Ciclo Hidrológico 
 
Ciclo hidrológico é o termo que se usa para descrever a circulação geral da água, desde o 
oceano até a atmosfera, atéDurante períodos de estiagem mais longos, a umidade do solo vai sendo retirada por 
evapotranspiração e, à medida que o solo vai perdendo umidade, a evapotranspiração diminui. A 
redução da evapotranspiração não ocorre imediatamente. Para valores de umidade do solo entre a 
capacidade de campo e um limite, que vai de 50 a 80 % da capacidade de campo, a 
evapotranspiração não é afetada pela umidade do solo. A partir deste limite a evapotranspiração 
é diminuída, atingindo o mínimo – normalmente zero – no ponto de murcha permanente. Neste 
ponto a resistência superficial atinge valores altíssimos (teoricamente deve tender ao infinito). 
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7. Infiltração 
 
 
7.1 Movimento da água no solo 
 
Os processos que se desenvolvem abaixo da superfície da terra são a infiltração, o fluxo 
sub-superficial e o fluxo subterrâneo (Figura 7. 1). A infiltração é o fenômeno de penetração da 
água nas camadas do solo próximas à superfície do terreno. O fluxo sub-superficial é o que se 
produz como resultado do fluxo da água no meio não saturado através do solo. O fluxo 
subterrâneo é o que se produz como resultado do fluxo saturado através dos estratos do solo ou 
rocha. O fluxo sub-superficial e o subterrâneo, sob certas condições, podem sair para a 
superfície, transformando-se em escoamento (vertente ou ainda fluir diretamente a um rio). 
 
 
Figura 7. 1 – Zona de água sub-superficial e processos que se desenvolvem nela 
 
Os estratos de solo e rocha, que permitem a circulação do fluxo através de si, 
denominam-se de meio poroso. O fluxo é não saturado quando o meio poroso tem seus vazios 
ocupados por ar, e é saturado quando os vazios estão completamente ocupados por água. O nível 
freático é a superfície onde a água no meio poroso saturado se encontra a pressão atmosférica. 
Abaixo do nível freático, a água está a uma pressão maior que a atmosférica. Acima do nível 
freático, as forças capilares podem saturar o meio poroso em uma espessura não muito grande do 
solo, chamada de franja capilar. Acima desta camada, o meio poroso normalmente não está 
saturado, exceto imediatamente depois de uma chuva, quando se produz condição de saturação. 
Se considerarmos uma porção do meio poroso não saturado, como a da Figura 7. 2, 
vemos que uma porção está ocupada por partículas sólidas e o resto com vazios. A porosidade η 
se define como a relação que há entre o volume de vazios e o volume total. 
 
t
wv
V
VV +
=η (7.1) 
 
onde: Vv é o volume de vazios; Vw é o volume de água; Vt é o volume total. Em geral, η varia 
entre 0,25 e 0,75, em função da textura do solo. 
 
Apostila de Hidrologia 
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Figura 7. 2 – Seção transversal do meio poroso não saturado 
 
Tabela 7. 1 - Porosidade para materiais típicos (Urbonas e Stahre, 1993) 
Material Porosidade (%) 
Rocha dinamitada – Brita grossa 30 
Cascalho de granulometria uniforme 40 
Brita graduado (≤ ¼ polegadas) 30 
Argila 40-70 
Areia 25-50 
Cascalho de jazida – Seixo rolado 15 – 25 
 
Se define como conteúdo de umidade do solo, θ a relação entre o volume de água e o 
volume total: 
t
w
V
V
=θ (7.2) 
A variação de θ é desde 0 a η. Quando o solo está saturado, η=θs. 
 
O movimento da água em um meio poroso, como é o solo, obedece a Lei de Darcy, que 
se define como: 
fS.Kq = (7.3) 
onde: q é o fluxo de Darcy (Q/A); K é a condutividade hidráulica; Sf é a perda e carga por 
unidade de comprimento do meio poroso. Se h é a altura de carga total e consideramos a direção 
z, então 
z
hSf ∂
∂
−= (7.4) 
Assim, a Lei de Darcy pode ser expressa como: 
z
h.Kq
∂
∂
−= (7.5) 
 
Esta lei se aplica a uma seção transversal de meio poroso sempre quando esta seção seja 
grande, comparada com a seção deixada pelos poros e grãos individuais no meio. As forças que 
intervém no fluxo saturado não confinado são a gravidade e a fricção. Em um fluxo não saturado 
intervêm essas duas forças, mais a força de sucção. A força de sucção é a força que une a água 
com as partículas de solo através da tensão superficial. 
O efeito da força de sucção pode ser avaliado colocando uma coluna de solo seco em 
forma vertical sobre uma lâmina de água. A água se elevará dentro da coluna de solo até que a 
força de gravidade iguale a força sucção. A parte da altura de carga devido a força de sucção se 
Superfície de 
controle 
Partículas sólidas 
Água 
Vazios cheios de ar 
Apostila de Hidrologia 
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chama de altura de sucção (ψ) e pode ser desde uns poucos milímetros (areias grossas) até vários 
metros (argilas). 
Tanto a força de sucção, como a condutividade hidráulica, variam com o conteúdo de 
umidade no solo. Em um meio poroso não saturado, a altura da carga total, h, pode ser 
considerada igual a altura de sucção (ψ) mais a altura de gravidade z. 
 
zh +ψ= (7.6) 
Substituindo na Lei de Darcy, 
)K
z
.D()K
z
..K(
z
)z(.Kq +
∂
θ∂
−=+
∂
θ∂
θ∂
Ψ∂
−=
∂
+Ψ∂
−= (7.7) 
 
onde: D é a difusividade da água, que se define como 
).(KD
θ∂
Ψ∂
= (7.8) 
A equação de continuidade para fluxo unidimensional não saturado e não permanente em 
um meio poroso é dado por 
0
z
q
t
=
∂
∂
+
∂
θ∂ (7.9) 
que pode ser expressa em função da difusividade e da condutividade como: 
 
)K
z
.D(
zt
+
∂
θ∂
∂
∂
=
∂
θ∂ (7.10) 
que é a equação de Richards unidimensional, apresentada pela primeira vez em 1931. 
 
 
7.2 Infiltração 
 
A infiltração também pode ser definida como o fenômeno de penetração da água nas 
camadas de solo próximas à superfície do terreno, movendo-se para baixo, através de vazios, sob 
a ação da gravidade, até atingir uma camada suporte que a retém, formando então a água do solo. 
É um fenômeno que depende da água disponível para infiltrar, da natureza do solo, do estado da 
superfície, da vegetação e das quantidades de água e ar, inicialmente presentes no seu interior. À 
medida que água infiltra pela superfície, as camadas superiores do solo vão se umedecendo de 
cima para baixo, alterando gradativamente o perfil de um umidade. 
Enquanto há aporte de água, o perfil de umidade tende à saturação em toda a 
profundidade, sendo a superfície, naturalmente, o primeiro nível a saturar. Quando o aporte de 
água à superfície cessa, isto é, deixa de haver infiltração, a umidade no interior do solo se 
redistribui, evoluindo para um perfil de umidade inverso, com menor teor de umidade próximo à 
superfície e maior nas camadas mais profundas. Na Figura 7. 3 pode-se visualizar a evolução do 
perfil de umidade em um solo. Nem toda a umidade é drenada para as camadas mais profundas 
do solo, já que parte é transferida para a atmosfera por evapotranspiração. 
Na Figura 7. 3 podem ser distinguidas 4 zonas: 
- Zona de saturação: próxima da superfície; 
- Zona de transmissão: de fluxo saturado e conteúdo de umidade aproximadamente uniforme; 
- Zona de umidade: a umidade decresce com a profundidade; 
- Frente úmida: a mudança do conteúdo de umidade com a profundidade é tão grande que tem a 
aparência de uma descontinuidade aguda entre o solo molhado acima e o solo seco abaixo. 
 
Apostila de HidrologiaProfa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -64- 
 
Figura 7. 3 – Perfil de umidade no solo 
 
7.2.1 Capacidade de infiltração e taxa de infiltração 
 
O conceito de capacidade de infiltração é aplicado no estudo da infiltração para 
diferenciar o potencial que o solo tem de absorver água pela sua superfície, em termos de lâmina 
de água por tempo, da taxa real de infiltração que acontece quando há disponibilidade de água 
para penetrar no solo. Uma curva de taxas reais de infiltração no tempo somente coincide com a 
curva das capacidades de infiltração de um solo, quando o aporte superficial de água tem 
intensidade superior ou igual à capacidade de infiltração. Normalmente representa-se a taxa de 
infiltração como f(mm/hora). A maior parte das equações de infiltração descrevem a taxa de 
infiltração potencial. 
Quando cessa a infiltração, parte da água no interior do solo propaga-se para camadas 
mais profundas no solo e parte é transferida para a atmosfera por evaporação direta ou por 
transpiração dos vegetais. Esse processo faz com que o solo vá recuperando sua capacidade de 
infiltração, tendendo a um limite superior à medida que as camadas superiores do solo vão se 
tornando mais secas. 
Se uma precipitação atinge o solo com a uma intensidade menor que a capacidade de 
infiltração toda a água penetra no solo, provocando uma progressiva diminuição da própria 
capacidade de infiltração, já que o solo está se umedecendo. Se a precipitação continuar, pode 
ocorrer um momento em que a capacidade de infiltração diminui tanto que sua intensidade se 
iguala à da precipitação. A partir deste momento, continuando a precipitação, a infiltração real se 
processa nas mesmas taxas da curva da capacidade de infiltração, que passa a de crescer 
exponencialmente no tempo tendendo a um valor mínimo de infiltração. A parcela não infiltrada 
escoa superficialmente. 
Quando a precipitação cessa a taxa de infiltração real anula-se rapidamente e a 
capacidade de infiltração volta a crescer, porque o solo continua a perder a umidade para as 
camadas mais profundas. 
A infiltração acumulada F é definida como o volume acumulado de água infiltrada, 
dentro de um período de tempo dado, e é igual a integral da taxa de infiltração nesse período. 
 
∫ ττ=
t
0
d)(fF (7.11) 
A taxa de infiltração por sua vez, é a derivada temporal da infiltração acumulada. 
 
dt
)t(dF)t(f = (7.12) 
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7.3 Estimativa da Infiltração 
 
7.3.1 Medição direta – Infiltrômetro 
 
Os aparelhos utilizados para medir a infiltração são chamados de infiltrômetro, e são 
basicamente de dois tipos: 
 
• Infiltrômetro com aplicação de água por inundação: 
São constituídos de dois anéis concêntricos de chapa metálica (Figura 7. 4), com 
diâmetros variando entre 16 e 40 cm, que são cravados verticalmente no solo de modo a restar 
uma pequena altura livre sobre este. Aplica-se água em ambos os cilindros mantendo uma lâmina 
líquida de 1 a 5 cm, sendo que no cilindro interno mede-se o volume aplicado a intervalos fixos 
de tempo. A finalidade do cilindro externo é manter verticalmente o fluxo de água do cilindro 
interno, onde é feita a medição da capacidade de campo. 
 
 
Figura 7. 4 – Infiltrômetro por inundação 
 
• Infiltrômetro com aplicação de água por aspersão ou simulador de chuva: 
São aparelhos nos quais a água é aplicada por aspersão (Figura 7. 5), com taxa uniforme, 
superior à capacidade de infiltração no solo, exceto para um curto período de tempo inicial. 
Delimitam-se áreas de aplicação de água, com forma retangular ou quadrada, de 0,10 a 40 m2 de 
superfície; medem-se a quantidade de água adicionada e o escoamento superficial resultante, 
deduzindo-se a capacidade de infiltração do solo. 
 
Figura 7. 5 – Simulador de chuva 
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7.3.2 Equação de Horton 
 
A partir de experimentos de campo Horton estabeleceu, para o caso de um solo 
submetido a uma precipitação com intensidade sempre superior a capacidade de infiltração, uma 
relação empírica para representar o decaimento da infiltração com o tempo, que pode ser 
representado da seguinte forma: 
 
tk
bib e)ff(f)t(f ∆−⋅−+= (7.13) 
 
onde: t representa o tempo (hora) contado a partir do momento em que houve saturação 
superficial do solo; f(t) representa a taxa de infiltração (mm/h) no tempo t; fi é a taxa de 
infiltração inicial (mm/h) ou seja, quando t=0; fb é a taxa de infiltração mínima (mm/h); k é uma 
constante de decaimento (hora-1) . 
Para a utilização da equação de Horton, é necessário determinar os parâmetros a partir 
dos dados observados em ensaios de campo. O parâmetro fb representa a condutividade 
hidráulica saturada aparente do solo. O parâmetro fi é a taxa de infiltração inicial, isto é, a taxa 
de infiltração no momento em que é atingida a saturação superficial e começa a haver 
escoamento. O parâmetro k é obtido através do ajuste da equação aos pontos f x t medidos em 
campo. 
Por exemplo, considere um ensaio de infiltração realizado (Tabela 7. 2), com alimentação 
de água suficiente para suprir a capacidade de infiltração. Determinar os parâmetros do método 
de Horton. 
Na Figura 7. 6 o ensaio de infiltração foi graficado, de forma a facilitar a identificação do 
parâmetro fb. Nesse caso, o valor de fb é de 5,9 mm/h (valor assintótico). Para determinar o 
valor de k, utiliza-se a equação 7.13, onde são conhecidos fb (5,9 mm/h), fi (27 mm/h) e os 
intervalos de tempo ∆t. O valor de k é encontrado através de tentativas, e corresponde ao valor 
que produz a menor diferença entre o f(t) calculado e observado. Na Tabela 7. 3 são apresentadas 
algumas tentativas de ajuste de k para o ensaio de infiltração desse exemplo, e na são 
apresentados os ajustes. Nesse caso, o valor mais adequado de k seria 0,55, que produziu um 
melhor ajuste. 
Tabela 7. 2 – Ensaio de infiltração 
t (hora) f (mm/h) 
1 27 
2 19 
3 15 
4 10 
5 9 
6 8 
7 7 
8 6 
9 5,9 
 
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0
5
10
15
20
25
30
0 2 4 6 8 10
Tempo (hora)
f (
m
m
/h
)
 
Figura 7. 6 – Resultado do ensaio de infiltração 
 
Tabela 7. 3 – Ajuste do parâmetro k do método de Horton 
t(hora) f (mm/h) 
ensaio 
f (mm/h) calc. 
k=0,2 
f (mm/h) calc. 
k=0,55 
f (mm/h) calc. 
k=0,80 
1 27 27.00 27.00 27 
2 19 23.18 18.07 15.38 
3 15 20.04 12.92 10.16 
4 10 17.48 9.95 7.81 
5 9 15.38 8.24 6.76 
6 8 13.66 7.25 6.29 
7 7 12.26 6.68 6.07 
8 6 11.10 6.35 5.98 
9 5.9 10.16 6.16 5.94 
 
0
5
10
15
20
25
30
0 2 4 6 8 10
Tempo (horas)
f (
m
m
/h
)
f obs.
f calc k=0,2
f calc k=0,55
f calc k=0,80
 
Figura 7. 7 – Ajuste dos parâmetros de Horton ao ensaio de infiltração 
Apostila de Hidrologia 
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Integrando-se a equação 7.13, chega-se à equação que representa a infiltração acumulada, 
ou potencial de infiltração, dada por: 
 
)e1()
k
ff
(t.fF tkbi
b
∆−−⋅
−
+= (7.14) 
 
onde F é a quantidade infiltrada (ou a quantidade que iria infiltrar se houvesse água disponível), 
em mm. 
 
 
7.3.3 Equação de Phillip 
 
Phillip em 1957 resolveu numericamente a equação de Richards suponde que K e D 
poderiam variar com o conteúdo de umidade no solo θ.KtSt)t(F 5,0 += (7.15) 
 
onde S é a adsorção, que é uma função do potencial de sucção do solo e K é a condutividade 
hidráulica. Diferenciando encontra-se a taxa de infiltração 
KSt.5,0)t(f 5,0 += − (7.16) 
Da equação, à medida que t tende ao ∞, f(t) tendo a K. O primeiro termo da equação 
representa a altura de sucção e o segundo a altura de gravidade. Para uma coluna de solo, a 
equação de Phillip se reduz a 
5,0St)t(F = (7.17) 
 
Essa equação pode ser aproveitada para calcular S em uma coluna horizontal de solo, e 
utilizar esse valor para calcular a infiltração acumulada na coluna vertical. 
 
 
7.3.4 Método do SCS 
 
O Soil Conservation Service (SCS, 1957) propôs uma formulação para determinar o 
volume máximo de precipitação que pode ser infiltrado. 
Para a aplicação do método, considera-se que existe uma capacidade máxima de 
armazenamento de água no solo, denominada S (mm). O valor de S depende do parâmetro CN 
(Curve Number) do método do SCS. O parâmetro CN, por sua vez, é determinado em função do 
tipo de solo, uso do solo, e condição de umidade antecedente. 
254
CN
25400S −= (7.18) 
Assim, para determinar a parcela de água precipitada que não é infiltrada (precipitação 
efetiva - Pef), utiliza-se a equação 7.19 
S8,0P
)S2,0P(P
2
ef +
−
= (7.19) 
onde: P é a precipitação acumulada (mm); Pef é a precipitação efetiva (mm). 
Como o próprio SCS verificou, as perdas iniciais representam em média 20% da 
capacidade máxima de armazenamento (S). Assim, a equação 7.19 só é válida se a precipitação 
P>0,2.S. No caso de P7. 9 é apresentado o hietograma com a separação através do índice φ. Nessa 
figura é possível observar que existem alguns intervalos de tempo onde as perdas (volume 
precipitado que encontra-se abaixo da linha do índice φ) estimadas superaram a precipitação (30, 
60 e 360 minutos). Nesse caso deve ser feita uma redistribuição temporal de perdas, como pro 
exemplo o critério apresentado na. Figura 7. 10, onde assumiu-se que durante os 3 primeiros e 
nos 2 últimos intervalos de tempo, toda a precipitação infiltrou. Deve-se observar que com a 
correção do índice φ, a precipitação efetiva deve permanecer em 13 mm. 
 
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0
1
2
3
4
5
6
7
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390
Tempo (minutos)
P
re
ci
pi
ta
çã
o 
(m
m
)
 
Figura 7. 8 – Hietograma para determinação da precipitação efetiva através do índice φ 
 
0
1
2
3
4
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6
7
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390
Tempo (minutos)
Pr
ec
ip
ita
çã
o 
(m
m
)
Precipitação (mm)
indice FI
 
Figura 7. 9 – Hietograma após determinação do índice φ 
 
0
1
2
3
4
5
6
7
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
Tempo (minutos)
P
re
ci
pi
ta
çã
o 
(m
m
)
Precipitação (mm)
indice f
P efetiva - corrigida
 
Figura 7. 10 – Hietograma de precipitação efetiva após a separação do escoamento 
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -73- 
8. Análise do hidrograma 
 
8.1 O hidrograma 
 
O hidrograma é a representação gráfica da variação da vazão (Q) ao longo do tempo 
(minutos, horas, dias). Costuma-se representar um hidrograma em escala gráfica, colocando no 
eixo das abscissas o tempo, e no eixo das ordenadas o valor correspondente de vazão (Figura 8. 
1). 
 
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
01-jan-65 24-jun-70 15-dez-75 06-jun-81 27-nov-86 19-mai-92 09-nov-97 02-mai-03
Va
zã
o 
(m
3/
s)
 
Figura 8. 1 – Hidrograma do arroio Fragata (01/01/1965 a 31/12/2002) 
 
Da análise do hidrograma computa-se volume total, distribuição sazonal de vazão, fluxo 
diário, fluxo de pico, fluxo mínimo e a freqüência de vários fluxos críticos. 
Entre as grandezas que estão relacionadas com o hidrograma, podem ser mencionadas, a 
vazão, a velocidade do escoamento, a vazão específica e o coeficiente de escoamento. 
 
 Vazão (Q): volume de água escoado na unidade de tempo em uma determinada seção 
do rio. Normalmente é expressa em m3/s ou l/s. 
 Velocidade (V): relação entre o espaço percorrido pela água e o tempo gasto. É 
geralmente expressa em m/s. 
 Vazão específica (q): relação entre a vazão e a área de drenagem da bacia. Expressa em 
l/s.km2. 
A
Qq = (8.1) 
 Coeficiente de escoamento é a relação entre o volume de água que atinge uma seção do 
curso d’água e o volume precipitado. Na Tabela 8. 1 são apresentados os coeficientes de 
escoamento para algumas regiões brasileiras. 
 
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Tabela 8. 1 – Coeficiente de escoamento para algumas regiões brasileiras 
Área Chuva Vazão Evapotr. Coef. Esc. Região (km2) (mm) (mm) (mm) 
Amazonas - Total 6112000 2546 1042 1504 0,41 
Amazonas - Brasil 3884191 2249 1047 1134 0,47 
Tocantins 757000 1766 471 1295 0,27 
Atlântico Norte 242000 2136 782 1354 0,37 
Atlântico Nordeste 787000 1121 125 996 0,11 
São Francisco 634000 986 151 835 0,15 
Atlântico Leste (1) 242000 1014 87 927 0,09 
Atlântico Leste (2) 303000 1227 386 841 0,31 
Paraná 877000 1436 403 1033 0,28 
Paraguai 368000 1399 115 1284 0,08 
Uruguai 178000 1699 716 983 0,42 
Atlântico Sul 224000 1481 643 838 0,43 
Brasil - Amazonas Total 10724000 2047 738 1309 0,36 
Brasil - Amazonas Parcial 8496191 1780 660 1088 0,37 
 
 
8.2 Fatores que influenciam a forma de um hidrograma 
 
Entre os fatores que influenciam na formação e característica de um hidrograma, podem 
ser citados: 
 Área da bacia hidrográfica: 
A área da bacia hidrográfica define a potencialidade hídrica da mesma. Bacias hidrográficas 
maiores, normalmente apresentam hidrogramas com vazões maiores que bacias hidrográficas 
menores, para um mesmo evento de chuva. Na Figura 8. 2 é apresentado um exemplo, 
comparando os hidrogramas de duas bacias hidrográficas, uma com área de 75 km2 e outra de 25 
km2. 
 
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56
Tempo (minutos)
Va
zã
o 
(m
3/
s)
0
5
10
15
20
25
30
Pr
ec
ip
ita
çã
o 
(m
m
)
P 
Qs - Bacia 75 km2
Qs - Bacia 25 km2
 
Figura 8. 2 – Hidrogramas em duas bacias hidrográficas 
 
 Relevo, densidade de drenagem, declividade do rio/bacia hidrográfica e forma: 
Bacias hidrográfica íngremes e com boa drenagem têm hidrogramas mais “rápidos”, 
geralmente com pouco escoamento de base. Bacias hidrográficas muito planas, com grandes 
áreas de extravasamento, tendem a regularizar o escoamento e reduzindo o pico das vazões. 
Quanto à forma, pode-se dizer que bacias hidrográficas com forma aproximadamente circular 
antecipam o pico das cheias e, normalmente, as vazões de pico são maiores que em bacias de 
forma alongadas (Figura 8. 3). 
Apostila de Hidrologia 
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0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo (minutos)
Va
zã
o 
(m
3/
s)
Bacia alongada
Bacia radial
 
Figura 8. 3 – Influência da forma da bacia hidrográfica no hidrograma 
 
 Condições de superfície do solo e constituição geológica do sub-solo: 
Em geral a cobertura vegetal tende a retardar o escoamento e aumentar as perdas por 
evaporação. A substituição da cobertura vegetal por superfícies impermeáveis diminui 
consideravelmente a infiltração no solo, podendo agravar os problemas com cheias; assim um 
evento de chuva que antes da impermeabilizada não provocava inundações, pode vir a causar 
sérios problemas (Figura 8. 4). A redução da água infiltrada no solo também pode provocar uma 
mudança, em longo prazo, no regime de vazões, uma vez que a recarga sub-superficial e 
subterrânea pode ser consideravelmente reduzida. 
A constituição geológica da bacia hidrográfica influencia na quantidade de precipitação que é 
transformada em escoamento superficial direto e a quantidade de água que é infiltrada. Assim, 
em regiões em que o solo é pouco profundo, existe uma baixa capacidade de armazenamento de 
água no solo e os hidrogramas apresentam picos rápidos e vazões mais elevadas, que em regiões 
onde a constituição geológica permite armazenar grande quantidade de água no solo. 
0
20
40
60
80
100
120
140
0 10 20 30 40
Tempo (minutos)
Permeável
Impermeável
 
Figura 8. 4 – Hidrograma em para bacia hidrográfica permeável e impermeável 
 
 Modificações artificiais no rio: 
Quando são realizadas obras de canalização, como por exemplo, para aproveitamento de 
água (irrigação, abastecimento), para retificação de um rio, ou mesmo para a drenagem de águas 
pluviais, geralmente o pico das vazões e a velocidade de escoamento é aumentada. 
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No caso da construção de reservatórios para a regularização de vazões, amortecimento de 
ondas de cheias, entre outros fins, o pico das vazões é amortecido, e a velocidade do escoamento 
é reduzida (Figura 8. 5). 
 
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
Tempo (segundos)
Com reservatório
Sem reservatório
 
Figura 8. 5 – Impactoda implantação de um reservatório em uma bacia hidrográfica 
 
 Característica da precipitação 
Em geral, chuvas que deslocam-se de jusante para montante geram hidrogramas com 
picos menores, e em alguns casos com dois picos. 
As chuvas convectivas, de grande intensidade e distribuídas numa pequena área, podem 
provocar as grandes enchentes em pequenas bacias, não sendo tão importantes no caso de 
grandes bacias hidrográficas. No caso de grandes bacias, as chuvas frontais são as mais 
importantes. 
Quando a precipitação é constante, e a capacidade de armazenamento de água no solo, e 
o tempo de concentração da bacia são atingidos, há uma estabilização do valor da vazão de pico 
(Figura 8. 6). Quando cessa a precipitação, o hidrograma entra em período de recessão. 
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
0 10 20 30 40 50 60Tempo 
Va
zã
o
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
Pr
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P
Q
 
Figura 8. 6 – Efeito da precipitação no hidrograma 
 
Apostila de Hidrologia 
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8.3 Analisando o hidrograma 
 
O comportamento do hidrograma típico de uma bacia hidrográfica, após a ocorrência de 
uma precipitação é apresentado na Figura 8. 7. Verifica se que após o início da chuva, existe um 
intervalo de tempo em que o nível começa a elevar se. Este tempo retardado de resposta deve se 
às perdas iniciais por interceptação vegetal e depressões do solo, além do próprio retardo de 
resposta da bacia devido ao tempo de deslocamento da água na mesma. 
O hidrograma atinge o máximo (pico), de acordo com a distribuição de precipitação, e 
apresenta a seguir a recessão onde se observa normalmente, um ponto de inflexão (I). A elevação 
da vazão até o pico ocorre normalmente em menor tempo que o tempo de recessão. O 
escoamento superficial é o processo predominante neste período. O ponto de inflexão caracteriza 
o fim do escoamento superficial e a predominância do escoamento subterrâneo. 
 
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
1/1/1961 3/1/1961 5/1/1961 7/1/1961 9/1/1961 11/1/1961 13/1/1961 15/1/1961 17/1/1961 19/1/1961 21/1/1961 23/1/1961 25/1/1961 27/1/1961 29/1/1961 31/1/1961
CGH
CGP tc
tp
tm
tl
tb
Vazão (m3/s)
I
tr
 
Figura 8. 7 – Componentes do hidrograma 
O tempo transcorrido entre o final da precipitação e o momento que caracteriza o fim do 
escoamento superficial (I) é o tempo de concentração (tc) da bacia hidrográfica. O tempo de pico 
é contabilizado a partir da diferença entre o centro de massa da precipitação (CM) e o momento 
onde ocorre o pico de vazão. 
O tempo de retardo (tl) do hidrograma, com relação à precipitação, é obtido a partir da 
diferença entre os centros de massa. O tempo de ascensão do hidrograma (tm) é o tempo 
transcorrido entre o início da precipitação e a ocorrência do pico no hidrograma; assim, o tempo 
de recessão é o tempo necessário para a vazão diminuir até o momento em que é cessado o 
escoamento superficial (tr). O tempo de base (tb) é o tempo transcorrido entre o início da 
precipitação e aquele em que a precipitação ocorrida já escoou através da seção principal, ou que 
o rio volta às condições anteriores a da ocorrência da precipitação. 
 
 
 
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8.4 Separação do escoamento 
 
Em alguns casos (por exemplo, determinação da precipitação efetiva), é interessante fazer 
a separação do escoamento de um hidrograma, na parcela de escoamento superficial, sub-
superficial e subterrâneo. Como normalmente as parcelas de escoamento superficial e 
subterrâneo representam a maior parte do escoamento, a parcela correspondente ao escoamento 
sub-superficial acaba é incluída em uma dessas duas parcelas. 
Na verdade, o processo de separação do escoamento é um tanto subjetivo, sendo 
necessário determinar, primeiramente, os tempos de início da geração de escoamento superficial 
(início da ascensão do hidrograma) e de fim do mesmo (ponto de inflexão). A identificação do 
ponto que define o início da ascensão normalmente é mais simples que a definição do ponto de 
inflexão, sendo que normalmente a inspeção visual do hidrograma permite essa identificação. Na 
literatura especializada são apresentados alguns métodos para a determinação do ponto de 
inflexão: utilização da equação de Linsley et al. (1975); determinação do tempo de concentração; 
e inspeção visual. 
Segundo o método apresentado por Linsley et al. (1975), o ponto de inflexão pode ser 
determinado a partir da equação 
2,0A.827,0D = (8.1) 
onde: D corresponde ao número de dias transcorridos entre o pico do hidrograma e o tempo que 
defini o ponto de inflexão, e A é a área da bacia hidrográfica em km2. Como se pode observar, 
esse método é um tanto simplificado, já que para uma mesma bacia hidrográfica esse valor 
permanece constante, não considerando a variabilidade dos eventos de cheia. 
A partir da análise gráfica anteriormente realizada, onde o tempo de concentração foi 
identificado como o tempo transcorrido entre o final da precipitação e o ponto de inflexão do 
hidrograma, verifica-se que podem ser utilizadas equações empíricas para a determinação do 
valor de tc. Uma vez definido esse valor é possível identificar o ponto de inflexão. No entanto, 
esse método é também muito simplificado, pois dependendo da equação utilizada na 
determinação, podem não estar sendo considerados importantes processos na bacia hidrográfica. 
 
0
10
20
30
40
50
60
70
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0
Tempo (min)
V
az
ão
 (m
3/
s)
1
10
100
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0
Tempo (min)
V
az
ão
 (m
3/
s)
(a) Evento observado (b) Separação do escoamento 
Figura 8. 8 – Separação do escoamento segundo o método da inspeção visual 
I
A
Apostila de Hidrologia 
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -79- 
O método da inspeção visual é um dos procedimentos mais simples, e consiste na 
plotagem do hidrograma em escala mono-logarítmica com o tempo em escala linear (Pilgrim e 
Cordery, 1992). Esse procedimento permite uma melhor visualização dos menores valores que 
vazão, que realmente têm importância nesse processo de separação do escoamento. Assim, para 
o evento (exemplo Figura 8. 8(a)) se define o ponto de início do escoamento superficial e o 
ponto que define o fim do escoamento superficial (ponto de inflexão, é aquele a partir do qual a 
recessão se torna uma linha reta – Figura 8. 8(b)). Em alguns casos pode ocorrer que mais de 
uma mudança de inclinação da reta seja identificada, o que pode caracterizar também o 
escoamento sub-superficial, retardos de diferentes partes da bacia ou o efeito de diferentes 
camadas dos aqüíferos. Uma vez definidos esses dois pontos, une-se os mesmos por uma reta, 
que caracteriza a separação entre o escoamento superficial e de base. 
Por exemplo, sobre uma bacia hidrográfica de 150 km2 ocorreu um evento de chuva, com 
total precipitado de 91 mm, que durou aproximadamente 2 horas. O evento foi registrado e é 
apresentado na Tabela 8. 2 . Foi realizada a separação do escoamento, apresentado na mesma 
tabela, em na Figura 8. 9 é apresentada a separação do escoamento no hidrograma. A partir da 
análise desse evento de precipitação e vazão, poderia ser obtido o coeficiente de escoamento e 
uma estimativa das perdas. O coeficiente de escoamento desse evento resultou em 0,15 (volume 
escoado superficialmente/volume precipitado) e o total de perdas da precipitação correspondeu a 
77,5 mm (91 mm descontando a precipitação efetiva que é 0,15*91). 
0
10
20
30
40
50
60
70
5 10 15 20 25 30 35
Tempo (horas)
Qobs. 
Qbase
 
Figura 8. 9 – Separação do escoamento no hidrogramaobservado 
 
Tabela 8. 2 – Hidrograma observado e separação do escoamento 
Tempo 
(h) 
Qobs. 
(m3/s) 
Qbase 
(m3/s) 
Qsup. 
(m3/s) 
10 0.7 0.7 0 
12 13 0.9 12.1 
14 43.9 1.5 42.4 
16 62 2 60 
18 57.5 2.1 55.4 
20 46 2.5 43.5 
22 33.9 2.9 31 
24 22.9 3.2 19.7 
26 14.5 3.6 10.9 
28 9.3 4 5.3 
30 4.6 4.3 0.3 
32 1.8 1.8 0 
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9. Escoamento Superficial 
 
Uma vez que a precipitação de projeto, associada a um determinado tempo de retorno já 
tenha sido analisada, e as perdas já tenham sido estimadas (através de alguma das metodologias 
disponíveis), de tal maneira a determinar a precipitação efetiva, o passo seguinte é transformar 
essa chuva efetiva em escoamento, ou vazão. 
Essa transformação pode ser realizada mediante diferentes métodos, que podem ser 
identificados de acordo com a informação necessária. O método mais simples de aplicação, e 
baseado unicamente em dados de precipitação é o Método Racional; esse método, no entanto, 
fornece apenas a vazão máxima para projeto. Um segundo método baseado na precipitação e 
algumas características da bacia hidrográfica são os chamados Hidrogramas Unitários Sintéticos. 
Quando se dispõe de dados de precipitação e vazão para um mesmo evento, é possível utilizar 
um Hidrograma Unitário. 
A seguir são apresentadas essas metodologias mencionadas. 
 
 
9.1 Método Racional 
 
O método Racional é freqüentemente utilizado para o dimensionamento das redes de 
drenagem urbana dada sua simplicidade, visto que engloba todos os processos em apenas um 
coeficiente “Coeficiente de escoamento (C)”. No entanto, o mesmo não deve ser empregado em 
bacias com área superior a 2 km2. Os princípios desta metodologia são: 
• Considera a duração da precipitação intensa de projeto igual ao tempo de concentração 
da bacia. Ao considerar esta igualdade admite-se que a bacia é suficientemente pequena para que 
esta situação ocorra, pois a duração é inversamente proporcional à intensidade. Em bacias 
pequenas, as condições mais críticas ocorrem devido às precipitações convectivas que possuem 
pequena duração e grande intensidade. 
• Adota um coeficiente único de perdas (coeficiente de escoamento), estimado com base 
nas características da bacia. 
• Não avalia o volume de cheia e a distribuição temporal das vazões. 
 
A equação do método racional é a seguinte: 
 
 A.I.C.27,0Q = (9.1) 
onde: 
Q: vazão máxima (m3/s); 
C: coeficiente de escoamento; 
I: intensidade da precipitação (mm/h); 
A: área da bacia (km2). 
 
A intensidade da precipitação depende dos seguintes fatores: 
• Equação IDF característica da região. 
• Tempo de concentração: para a estimativa da intensidade da precipitação, é necessário 
conhecer o tempo de concentração da bacia, já que o mesmo é considerado igual à duração da 
precipitação máxima. 
• Tempo de retorno (TR): o TR utilizado para o dimensionamento de obras de microdrenagem 
varia de dois a dez anos. Para dimensionamento de redes de macrodrenagem costuma-se 
utilizar tempos de retorno de 10 anos ou mais. 
 
Apostila de Hidrologia 
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O coeficiente de escoamento utilizado no método racional depende das seguintes 
características: 
- solo; 
- cobertura; 
- tipo de ocupação; 
- tempo de retorno; 
- intensidade da precipitação. 
 
Os coeficientes de escoamento recomendado para as superfícies urbanas estão 
apresentados em várias tabelas (Tabela 9. 1). 
 
Tabela 9. 1 – Coeficientes de escoamento 
Descrição da área C 
Área Comercial/Edificação muito densa: 
Partes centrais, densamente construídas, em cidade com ruas e calçadas 
pavimentadas 0,70 - 0,95 
Área Comercial/Edificação não muito densa: 
Partes adjacentes ao centro, de menor densidade de habitações, mas com 
ruas e calçadas pavimentadas 0,60 - 0,70 
Área Residencial: 
residências isoladas; com muita superfície livre 0,35 - 0,50 
unidades múltiplas (separadas); partes residenciais com ruas 
macadamizas ou pavimentadas 
0,50 - 0,60 
unidades múltiplas (conjugadas) 0,60 - 0,75 
lotes com > 2.000 m2 0,30 - 0,45 
áreas com apartamentos 0,50 - 0,70 
Área industrial: 
indústrias leves 0,50 - 0,80 
indústrias pesadas 0,60 - 0,90 
Outros: 
Matas, parques e campos de esporte, partes rurais, áreas verdes, 
superfícies arborizadas e parques ajardinados 
0,05 – 0,20 
parques, cemitérios; subúrbio com pequena densidade de construção 0,10 - 0,25 
Playgrounds 0,20 - 0,35 
pátios ferroviários 0,20 - 0,40 
áreas sem melhoramentos 0,10 - 0,30 
Pavimento: 
Asfalto 0,70 – 0,95 
Concreto 0,80 – 0,95 
Calçadas 0,75 – 0,85 
Telhado 0,75 – 0,95 
Cobertura: grama/areia 
plano (declividade 2%) 0,05 – 0,10 
médio (declividade de 2 a 7%) 0,10 – 0,15 
alta (declividade 7%) 0,15 – 0,20 
Grama, solo pesado: 
plano (declividade 2%) 0,13 – 0,17 
médio (declividade de 2 a 7%) 0,18 – 0,22 
alta (declividade 7%) 0,25 – 0,35 
 
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9.2 O Hidrograma Unitário (HU) 
 
O mais popular dos métodos é o hidrograma unitário, introduzido por Sherman nos anos 
30. O método do HU considera a área da bacia hidrográfica e a intensidade da chuva, assim 
como o Método Racional. A declividade e características fisiográficas da bacia hidrográfica em 
estudo também são consideradas, embora não seja explicitado. 
Conceitualmente o HU é o hidrograma do escoamento direto, causado por uma chuva 
efetiva unitária (por exemplo, uma chuva de 1mm ou 1 cm), por isso o método é chamado de 
Hidrograma Unitário. O método considera que a precipitação efetiva e unitária tem intensidade 
constante ao longo de sua duração e distribui-se uniformemente sobre toda a área de drenagem 
(Sherman, 1932). 
Os princípios do método são: 
 
 A resposta da bacia hidrográfica diante do processo de escoamento tem um 
comportamento linear. Isso significa que podem ser aplicados os princípios da 
proporcionalidade e superposição. 
 Não considera a variabilidade temporal das características da bacia hidrográfica, de 
maneira que a mesma chuva efetiva produz sempre o mesmo hidrograma de escoamento 
superficial. 
 
Em virtude dessas hipóteses, devem ser cumpridas algumas condições: 
 
 A chuva efetiva tem uma intensidade constante dentro da duração efetiva. Essa condição 
exige que as chuvas sejam de curta duração, já que a taxa de chuva efetiva seria maior e 
aproximadamente constante no tempo, produzindo um hidrograma melhor definido, com 
pico único e tempo de base curto. 
 A chuva efetiva está uniformemente distribuída através de toda a área de drenagem. Em 
virtude dessa condição, a área de drenagem não deverá ser muito grande. Caso seja 
necessário trabalhar em bacias hidrográficas grandes, a mesma deverá ser sub-dividida 
em sub-bacias de modo que se cumpra essa suposição. Marínez Marin (1994) recomenda 
o limite superior de 400 km2. 
 O tempo de base do hidrograma de escoamento superficial, resultante de uma chuva 
efetiva, de uma dada duração, é constante. Para que o comportamento da bacia 
hidrográfica seja considerado linear, é necessário assumir que os hidrogramas de 
escoamento superficial gerados por chuvas efetivas de igual duração têm o mesmo tempo 
de base, independentemente da intensidade das chuvas efetivas. Esta consideração se 
estende também ao tempo de pico. A informação hidrológica real não é completamente 
linear, porém os resultados obtidos através da suposição linear são suficientemente 
aproximados para fins práticos. 
 O HU de uma duração determinada é único para uma bacia hidrográfica e não variano 
tempo. As características do rio não devem ter mudanças e a bacia hidrográfica não deve 
possuir armazenamentos apreciáveis (sem reservatórios). 
 
Principio de proporcionalidade 
Para uma chuva efetiva de uma dada duração, o volume de chuva, que é igual ao volume 
escoado superficialmente, é proporcional à intensidade dessa chuva. Como os hidrogramas de 
escoamento superficial correspondem a chuvas efetivas de mesma duração, têm o mesmo tempo 
de base, considera-se que as ordenadas dos hidrogramas serão proporcionais à intensidade da 
chuva efetiva. Ou seja 
Apostila de Hidrologia 
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k
Q
Q
P
P
2
1
2
1 == (9.2) 
onde: 
P: volume de chuva efetiva; 
Q: vazão do escoamento superficial. 
 
0
5
10
15
20
25
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25
Tempo (horas)
V
az
ão
 (l
/s
)
P2
P1 
Q2=f (P2)
Q1=f (P1)
 
Figura 9. 1 - Princípio da proporcionalidade 
 
Principio de superposição 
As vazões de um hidrograma de escoamento superficial, produzidas por chuvas efetivas 
sucessivas, podem ser encontradas somando as vazões dos hidrogramas de escoamento 
superficial correspondentes às chuvas efetivas individuais. 
0
5
10
15
20
25
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25
Tempo (horas)
V
az
ão
 (l
/s
)
P1 
Q1=f (P1)
Q2=f (P2)
Q total
P2
 
Figura 9. 2 - Princípio da superposição 
A aplicação dos princípios de proporcionalidade e superposição levam à definição da 
chamada equação de convolução discreta. 
 
∑=
=
+−
t
1i
1itit hPefQ para tde Snyder 
Onde: 
Qp: vazão de pico; 
 tp 
tr 
Q 
Tb 
qp 
L75 
L50 
t 
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tr: duração da chuva efetiva; 
L75: largura do hidrograma a uma vazão 0,75q; 
L50: largura do hidrograma a uma vazão 0,50q; 
Tb: tempo de base. 
 
As relações entre os parâmetros descritos acima e as características físicas da bacia foram 
feitas através de estudos de regressão múltipla e resultaram nas seguintes equações: 
Equação do tempo de retardo: 
 3,0)*(
33,1 GCLLCttR = (9.11) 
onde : 
tR: tempo de retardo em horas; 
L: comprimento do curso d’água principal (km); 
LCG: distância desde a saída da bacia até o ponto do leito principal mais próximo do centróide 
da bacia (km); 
Ct: coeficiente característico da bacia. 
O valor LCG tem sua representação na Figura 9. 5, abaixo: 
 
 
Lc
 
Figura 9. 5 – Representação do valor de LCG 
 
Equação do tempo de duração da precipitação: 
 
5,5
tRtr = (9.12) 
A vazão máxima do HU, para uma chuva de 1 cm, em m3/s.cm, é dada por: 
 
 
tR
A.Cp76,2qp = (9.13) 
onde: 
Cp: coeficiente característico da bacia. 
A: área da bacia em km2. 
Para fazer o ajuste do hidrograma a valores de duração da chuva diferentes de tr, dado 
pela equação 9.12, deve-se substituir o valor de tR calculado anteriormente pelo obtido segundo 
a seguinte: 
t’R = tR + 0,25*( tRadotado – tr ) (9.14) 
 
onde: 
tp: tempo de pico original. 
tr: que gerou o hidrograma unitário; 
tRadotado: duração de interesse. 
O tempo de base do hidrograma em dias: 
* Centro de gravidade da bacia 
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Tb = 3 + tR/8 (9.15) 
 
sendo tR dado em horas. O valor estimado de Tb não pode ser considerado no caso da bacia ser 
muito pequena. O tempo de pico deve ser estimado por 
tp = 0,5.tr + tR’ (9.16) 
 
A partir destes pontos calculados procede-se ao desenho do hidrograma, que terá forma 
triangular e área igual a 1. 
 
 
9.3.2 Hidrograma Unitário Sintético do SCS 
 
 O hidrograma formado com o uso deste método foi desenvolvido a partir de bacias 
agrícolas dos Estados Unidos e tem forma triangular, conforme a Figura 9. 6. 
 
tp
tm tr
∆t
∆t/2
Qp
tc
Q, P
 
Figura 9. 6 - Hidrograma unitário triangular do SCS 
 
Para a determinação do hidrograma unitário, deve-se inicialmente determinar alguns 
parâmetros, conforme roteiro a seguir: 
1) Determinar o tempo de concentração (tc) da bacia hidrográfica. 
2) Determinar o parâmetro tp (horas), 
 tcttp .6,0
2
+
∆
= (9.17) 
onde: 
∆t: intervalo de tempo de simulação, obtido a partir da precipitação (horas); 
tc : tempo de concentração da bacia (horas). 
3) Determinar o tempo de pico do hidrograma tR (horas), 
tctR .6,0= (9.18) 
4) Determinar o tempo de recessão do hidrograma tr (horas), 
tptr .67,1= (9.19) 
tp 
tR
tr 
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5) Determinar o tempo de base do hidrograma tb (horas), 
trtptb += (9.20) 
6) Determinar a vazão máxima utilizando a equação 9.15, válida para precipitação de 1 mm. 
 
tp
AQp .208,0
= (9.21) 
onde: 
Qp : vazão máxima do hidrograma triangular em m3/s; 
A: área da bacia em km2. 
O intervalo de tempo é definido em unidades de tp. Recomenda-se a utilização de 
∆t=tR/5. Para o caso dos hidrogramas unitários sintéticos, o procedimento para a convolução da 
chuva é o mesmo apresentado para o caso com dados, conforme apresentado adiante. 
 
 
9.4 Aplicação dos métodos do HU e HUS 
 
Uma vez que já se conheça o HU correspondente a uma duração de chuva efetiva 
determinada, a aplicação do método do HU para encontrar o hidrograma de escoamento 
superficial pode se resumir nos seguintes passos. 
 
1) Selecionar a precipitação de projeto; 
2) Determinar o hietograma da chuva efetiva através da estimativa de perdas; 
3) Ajustar a duração do hidrograma unitário, se necessário, através da curva S (ver descrição a 
seguir), visto que o intervalo de tempo utilizado para definir as ordenadas do hietograma de 
precipitação efetiva deve ser o mesmo que o especificado para o HU; 
4) Calcular o hidrograma de escoamento superficial através da equação discreta de convolução. 
 
Os hidrogramas unitários, desenvolvidos com a metodologia exposta apresentam o 
escoamento superficial resultante de uma chuva unitária ocorrida durante um intervalo de tempo 
especificado. Se a chuva de projeto disponível é de uma duração diferente (ou está discretizada 
em intervalos de tempo diferente), é necessário definir um HU adequado, isso é, causado por 
uma chuva de duração que interessa. 
O método do retardamento é uma possibilidade. Se existe um HU de 1 hora (entende-se 
causado por uma chuva de 1 hora), é possível achar o HU resultante de uma chuva unitária de 2 
h, plotando dois HUs de 1 hora, deslocados de 1 hora e extraindo a média aritmética das 
ordenadas. 
Assim, por exemplo, os 10 mm de chuva iniciais, contido na duração original de 1 hora, 
têm se espalhado ao longo de duas horas. Outras combinações são possíveis, compondo-se HUs 
da mesma duração; não é possível, no entanto, compor HUs devido a chuvas de durações 
diferentes. Nesses casos recorre-se ao uso de um hidrograma unitário chamado de curva S. A 
curva S pode ser definida como o hidrograma unitário causado por uma chuva (unitária) de 
duração infinita. 
Para obter a curva S a partir de um HU conhecido, basta acumular progressivamente as 
ordenadas do HU original para se obter as respectivas ordenadas da curva S. A grande utilidade 
da curva S é que ela permite o cálculo de HUs de qualquer duração; para isso se desloca a curva 
S um intervalo de tempo t, igual à duração do HU desejado. As ordenadas desse HU procurado 
são calculadas pela diferença entre as duas curvas S, corrigidas pela relação D/t (onde D é a 
duração da chuva que originou a curva S e t é o tempo do novo HU). 
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10. Propagação de Vazões 
 
Denomina-se de propagação de vazões o procedimento através do qual se pode 
determinar o hidrograma em um ponto do curso de água, utilizando um hidrograma conhecido 
em um ponto mais a montante. Existem vários métodos apresentados na literatura para tal 
finalidade. No entanto, aqui são abordados o modelo de Muskingum para propagação do 
escoamento em rios, e o modelo de Puls, para escoamento em reservatórios. 
Esses dois modelos são do tipo armazenamento, e foram desenvolvidos a partir da 
equação da continuidade, onde é realizado um balanço de volumes de entrada (I) e saída (Q) para 
cada intervalos de tempo. 
)t(Q)t(I
dt
dS
−= (10.1) 
 
Conhecendo I(t), não é possível obter Q(t) se não éconhecida uma segunda relação, 
chamada de função de armazenamento. A forma da equação de armazenamento depende da 
natureza do sistema analisado. Existem vários métodos que são diferentes, conforme a maneira 
como é considerada a função de armazenamento. 
O efeito do armazenamento sobre o hidrograma de saída é, por um lado, o de modificar a 
forma do hidrograma, atrasando o tempo ao pico, aumentando o tempo de base e diminuindo a 
vazão de pico, e por outro lado, o de atrasar o começo do hidrograma, especialmente quando se 
trata de canais muito longos, onde a onda de cheia deve viajar uma distância considerável. 
 
 
10.1 Propagação do escoamento em rios e canais - Muskingum 
 
O método de Muskingum foi apresentado por McCarthy (1938). Este método modela o 
armazenamento em um rio ou canal, mediante a combinação de dois tipos de armazenamentos, 
tal como se mostra na Figura 10. 1. 
Durante o avanço da onda de cheia, a vazão de entrada é maior que a vazão de saída, 
formando um armazenamento em forma de cunha. Durante a recessão, a vazão de saída é maior 
que de entrada, resultando em uma cunha negativa. Adicionalmente, existe um armazenamento 
por prisma, que está formado por um volume de seção transversal constante ao longo de todo o 
comprimento do canal prismático (Chow, 1959). 
 
 
Figura 10. 1 - Armazenamento por cunha e prisma em um rio 
 
O volume de armazenamento prismático é proporcional a vazão de saída, já que se supõe 
que a vazão de saída é proporcional à área da seção do rio. 
mai
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Q.KS p = (10.2) 
O valor de K é considerado igual ao tempo de deslocamento da onda de cheia através do 
trecho de rio. O volume de armazenamento por cunha é proporcional à diferença entre as 
entradas e saídas. 
 
)QI.(X.KSc −= (10.3) 
onde X é um fator de ponderação, podendo asumir valores entre 0 e 0,5, em função da 
forma de armazenamento em cunha. Quando X = 0, não existe cunha de armazenamento, e não 
há curva de remanso no rio, e o escoamento será do tipo reservatório, onde S = K.Q. Nesse caso 
se produz a máxima atenuação possível. Quando X=0,5; diz-se que a cunha está completamente 
desenvolvida e não existe atenuação alguma do pico. Em rios naturais, de vazões elevadas e de 
baixa declividade, X é muito próximo de 0, e será mais próximo de 0,5 quanto maior a 
declividade do rio, e menor for a vazão do mesmo. 
O armazenamento total no trecho de rio considerado seria então: 
 
)QI.(X.KQ.KS −+= (10.4) 
que pode ser reordenado como: 
]Q)X1(XI[KS −+= (10.5) 
 
Esta equação representa o modelo linear de armazenamento para a propagação de ondas 
de cheia em rios, através do método de Muskingum. Se analisamos o volume de armazenamento 
em dois instantes, 1 e 2, no início e ao final de um intervalo de tempo ∆t, esses podem ser 
escritos como: 
]Q)XI(XI[KS 111 −+= (10.6) 
]Q)XI(XI[KS 222 −+= (10.7) 
 
A variação do armazenamento através do rio seria a diferença entre ambos 
armazenamentos. 
{ [ ] }112212 Q)X1(XI]Q)XI(XI[.KSS −+−−+=− (10.8) 
 
Utilizando a equação da continuidade, a variação no armazenamento é igual a: 
 
t.
2
QQ
t.
2
II
SS 2121
12 ∆∆
+
−
+
=− (10.9) 
 
Combinando as equações 10.8 e 10.9 
 
t.
2
QQ
t.
2
II
)]QQ).(X1()II.(X[K 2121
1212 ∆∆
+
−
+
=−−+− (10.10) 
 
isolando Q2, resulta: 
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1212 Q.
2
t)X1.(K
2
t)X1.(K
I.
2
t)X1.(K
2
tX.K
I.
2
t)X1.(K
2
tX.K
Q
∆
∆
∆
∆
∆
∆
+−
−−
+
+−
+−
+
+−
+
= (10.11) 
ou então: 
1322112 QCICICQ ++= (10.12) 
onde: 
2/t)X1(K
2/tKXC1 ∆
∆
+−
+
= 
 
2/t)X1(K
2/tKXC2 ∆
∆
+−
+−
= (10.13) 
 
2/t)X1(K
2/t)X1(KC3 ∆
∆
+−
−−
= 
Para checar se os valores de C1, C2, C3 estão corretamente calculados temos: 
 1CCC 321 =++ (10.14) 
 
10.1.1 Ajuste dos parâmetros X e K 
 
Se estão disponíveis os hidrogramas de entrada e saída observados para um trecho do rio, 
podem ser determinados os valores de K e X, utilizando a seguinte metodologia: 
1) Adotam-se vários valores de X 
2) Utilizando a informação das vazões de entrada e de saída, calculam-se os valores do 
numerador e do denominador da seguinte expressão de K, deduzida da equação 10.10: 
 
( ) ( )[ ]
( ) ( ) ( )1212
1212
QQ.X1II.X
QQII.
2
t
K
−−+−
+−+
=
∆
 (10.15) 
 
3) Os valores calculados do numerador e denominador devem ser acumulados e plotados em um 
gráfico como ordenadas e abscissas, respectivamente, produzindo uma curva em forma de laço. 
O valor de X que produz um laço mais parecido possível com uma reta única deve ser utilizado 
para calcular o valor de K, que é a declividade da reta. 
 
O parâmetro X deve ser maior que zero para evitar a possibilidade de vazões negativos, e 
por razões de estabilidade numérica da solução deve ser ademais menor que 0.5, portanto 
teremos: 
0 +− ∆ => KX2/t >∆ (10.18) 
 
Analogamente para C3: 
0C3 ≥ (10.19 
 
)X1(K2/t −−>− ∆ => )X1(K2/t −>∆ (10.20) 
 Sendo assim, 
)X1(2K/tX2 −≤≤ ∆ (10.21) 
 
A região de variação dos parâmetros fica definida, e como conseqüência é possível 
estabelecer a discretização temporal. (conforme Figura 10. 2) 
-0.5 0 0.5 1.0
1
2
Xnos tempos referidos. 
As duas incógnitas do problema são Q e S no tempo t+1. Reorganizando a equação 
anterior, com as variáveis conhecidas de um lado e as desconhecidas de outro, resulta 
 
mai
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mai
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mai
Highlight
mai
Highlight
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∆t
2S
QII
∆t
2S
Q t
t1tt
1t
1t +−+=+ +
+
+ (10.23) 
 
Como existe uma equação e duas incógnitas, a equação adicional é a relação Q = f(S), 
relacionando a vazão de saída do reservatório com o estado de armazenamento do mesmo. A 
obtenção dessa função é descrita posteriormente nesse texto. Utilizando esta função, é possível 
construir uma segunda função auxiliar, para a determinação de Qt+1 
 
 )2S/∆Sf1(QQ += (10.24) 
 
Normalmente essa função é conhecida de forma tabular, onde para cada ordenada haverá 
um valor de S, dividido pelo intervalo de tempo de cálculo e somado a vazão define a nova 
abscissa, gerando a função f1. 
Com base nas equações 10.23 e 10.24 é possível simular o escoamento através do 
reservatório através da seguinte seqüência: 
 
a) Para o início do cálculo é necessário definir o volume inicial do reservatório (So). 
Esse volume depende dos critérios do estudo em análise ou do valor observado conhecido, no 
caso de reprodução de um evento. Conhecido So é calculado Qo através da função entre as duas 
variáveis (Q = f(S)); 
 
b) Para o intervalo de tempo seguinte deve-se determinar os termos da direita da 
equação 10.23, já que todos os termos do lado esquerdo da equação são conhecidos (hidrograma 
de entrada deve ser previamente conhecido); 
 
c) O termo da direita é igual à abcissa da função f1. Portanto entrando com esse valor 
na função obtém-se a vazão 1tQ + ; 
 
d) Conhecido 1tQ + determina-se 1tS + através da função que relaciona essas variáveis. 
 
Os passos de b até d se repetem para todos os intervalos de tempo. 
 
Determinação da relação entre S e Q: 
 
Esta relação é estabelecida com base nas seguintes relações: 
 
- cota e o armazenamento no reservatório; 
- cota e vazão de saída do reservatório. 
 
A curva cota x armazenamento é obtida pela cubagem do reservatório (Figura 10. 3). 
Essa relação é apresentada na forma de tabela, gráfico ou é ajustada uma equação. Devido às 
características normalmente encontrada nos reservatórios essa função pode ser ajustada a uma 
função do tipo seguinte 
 
 baSZ = (10.25) 
 
onde a e b são coeficientes ajustados aos dados e Z a cota. Existem outras expressões 
matemáticas utilizadas para o ajuste. 
 
 
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Figura 10. 3 - Relação entre cota e armazenamento 
 
A função entre cota e a vazão de saída depende do tipo de estrutura de saída que está 
sendo utilizada. Essa função é fornecida pelo projetista ou estabelecida através de modelo 
reduzido. Os reservatórios podem possuir dois tipos de extravasores: vertedor e descarregador de 
fundo (Figura 10. 4). Tanto um como o outro pode ter comportas. 
 
 
Figura 10. 4 – Estruturas de descargas dos reservatórios 
 
Para evitar que haja alteração destas equações, e possível comprometimento do 
funcionamento do reservatório, recomenda-se que as estruturas de descarga não operem 
afogadas. Quando se deseja esvaziamento completo do reservatório, o descarregador deve ser 
posicionado junto ao fundo do reservatório. 
Combinando a função Z = f2(S) com a função Q = f3(Z) é possível determinar Q = f(S) 
(conforme Figura 10. 5 ). Utilizando um valor de Zi da primeira função, determina-se Si. Para o 
mesmo valor de Zi, na função f3 determina-se Qi. Com esse pontos e outros obtidos da mesma 
forma pode-se construir a relação mencionada (Figura 10. 6). 
 
 
Figura 10. 5 - Cálculo do amortecimento em reservatório: funções de armazenamento 
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Quando o reservatório possui comportas, a curva de descarga muda para cada manobra 
de comporta. A função f3 é alterada, o que necessita um novo cálculo de Q = f(S). A regra 
operacional é transferida para a simulação através da função f3. 
A aplicação do método de Puls, ou o uso somente da relação biunívoca entre 
armazenamento e vazão, implica em admitir que a linha de água no reservatório é 
aproximadamente horizontal. Quando a declividade da linha de água é importante, e os processos 
dinâmicos afetam o escoamento de saída e mesmo ao longo do reservatório, esse tipo de método 
não deve ser utilizado. Para esta situação deve-se procurar utilizar um modelo hidrodinâmico 
baseado na solução das equações completas de Saint Venant ou outro modelo de escoamento que 
trata o trecho do reservatório como um rio. 
 
 
Figura 10. 6 - Função vazão x armazenamento 
 
Exemplo 10.1 
Deseja-se propagar em um reservatório o hidrograma da Figura 10. 7 (cujos dados são 
apresentados na Coluna 1 da planilha 10.2). O reservatório estudado possuirá um descarregador 
de fundo circular (φ=1,40m) e um vertedor de emergência com 10 m de comprimento, cuja cota 
é 55,2 m. A cota de fundo do reservatório é 53,2 m (o mesmo tem 2m de altura) e está 
inicialmente vazio. O intervalo de tempo do hidrograma de entrada é de 120 s. A curva Cota x 
Armazenamento do lago é fornecida na Tabela 10. 1. O coeficiente de descarga do vertedor é 
0,86 e do descarregador de fundo 0,50. 
 
Apostila de Hidrologia 
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0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
0 5 10 15 20 25 30
Tempo (min)
V
az
ão
 (m
3/
s)
 
Figura 10. 7 – Hidrograma a ser propagado 
 
Tabela 10. 1– Curva Cota x Armazenamento 
Prof Z = zo +prof S 
(m) (m) (m3) 
0.0 53.20 0.0 
0.1 53.30 560.0 
0.2 53.40 1120.0 
0.3 53.50 1680.0 
0.4 53.60 2240.0 
0.5 53.70 2800.0 
0.6 53.80 3360.0 
0.7 53.90 3920.0 
0.8 54.00 4480.0 
0.9 54.10 5040.0 
1.0 54.20 5600.0 
1.1 54.30 6160.0 
1.2 54.40 6720.0 
1.3 54.50 7280.0 
1.4 54.60 7840.0 
1.5 54.70 8400.0 
1.6 54.80 8960.0 
1.7 54.90 9520.0 
1.8 55.00 10080.0 
1.9 55.10 10640.0 
2.0 55.20 11200.0 
1.9 55.10 10640.0 
2.0 55.20 11200.0 
2.1 55.30 11760.0 
2.5 55.70 14000.0 
 
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O primeiro passo é a construção da curva da função conhecida f1 ( )2S/∆Sf1(QQ += ). Neste 
exemplo esta função existirá para o descarregador de fundo e vertedor. A planilha 10.1 mostra o 
procedimento de cálculo para este fim. 
Onde: 
Col. 1: é a altura do reservatório, discretizada em intervalos de cotas. Neste exemplo a altura do 
reservatório foi discretizada em intervalos de 10 cm. 
Col. 2: Armazenamento no reservatório correspondente a cada cota. 
Col. 3: Corresponde à cota referenciada que é atingida dentro do reservatório. Z = Zo + Altura 
(altura é a Col. 1). 
Col. 4: Vazão vertida pelo vertedor. Calculada a partir da equação: 
 
( ) 5,1
wZZ.g.2.Lv.Cv.
3
2Qv −=
 
 onde: g é a aceleração da gravidade m/s2; Cv e Lv são o coeficiente de descarga do 
vertedor e largura do vertedor respectivamente. Substituindo as colunas da planilha P10.1 
na equação, resulta: 
 
( ) 5,13Col.g.2.Lv.Cv.
3
2Qv =
 
Col. 5: Vazão drenada pelo descarregador de fundo. Calculada a partir da equação: 
hg2AcCQ d ⋅⋅⋅⋅=
 
onde: g éo sub-solo, e novamente até o oceano, conforme apresentado na 
Figura 2. 1. 
 
 
Figura 2. 1- Representação esquemática do ciclo hidrológico 
 
 Pode-se dizer que o ciclo hidrológico não tem princípio e nem fim. A principal força motriz 
desse sistema é a energia solar, que provoca o aquecimento do ar, do solo e da água superficial. 
Como resultado desse aquecimento, temos a circulação de massas de ar e a evaporação. Esse 
vapor se condensa por meio de vários processos e è devolvida à terra em forma de precipitação, 
impulsionado pelas forças gravitacionais. Uma porção da água precipitada é retida 
temporariamente em depressões superficiais, vegetação e outros “objetos” (interceptação) e 
retorna à atmosfera por meio da evaporação e transpiração. O restante da água pode infiltrar no 
solo ou escoar sobre uma superfície até atingir um rio, lago ou mar, sendo que essa água também 
está igualmente sujeita à evaporação e transpiração durante todo o seu trajeto. A água infiltrada 
pode percolar até zonas mais profundas ao ser armazenada como água subterrânea, que pode 
mais tarde fluir como manancial ou incorporar-se a rios, lagos ou mar. Dessa maneira, o ciclo 
hidrológico sofre vários processos: precipitação, interceptação, transpiração, evaporação, 
infiltração, percolação, armazenamento e escoamento. 
Essa é uma descrição do ciclo hidrológico sumamente simplificada. Na realidade, todas 
as fases do ciclo hidrológico ocorrem simultaneamente. À escala global, a quantidade de água 
contida em cada uma das fases do ciclo é constante, porém, visto em termos de uma área 
limitada, como, por exemplo, uma bacia hidrográfica, a quantidade de água contida em cada 
parte do ciclo varia muito. Por exemplo, a água precipitada que está escoando em um rio pode 
evaporar, condensar e novamente precipitar antes de retornar ao oceano. A água também sofre 
alterações de qualidade ao longo das diferentes fases do ciclo hidrológico. A água salgada do 
mar é transformada em água doce pelo processo de evaporação. 
Estima-se que 1,4 km3 de água seja mundialmente disponível. Cerca de 97 % da água do 
mundo está nos oceanos, e dos 3% restantes, a metade (1,5% do total) está armazenada na forma 
de geleiras ou bancadas de gelo nas calotas polares (). A água doce de rios, lagos e aqüíferos 
(reservatórios de água no subsolo) corresponde a menos de 1% do total. Em valores totais, a 
mai
Highlight
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água doce existente na Terra e a água que atinge a superfície dos continentes na forma de chuva 
é suficiente para atender todas as necessidades humanas. Entretanto, grandes problemas surgem 
com a grande variabilidade temporal e espacial da disponibilidade de água. A América do Sul é, 
de longe, o continente com a maior disponibilidade de água, porém a precipitação que atinge 
nosso continente é altamente variável, apresentando na Amazônia altíssimas taxas de 
precipitação enquanto o deserto de Atacama é conhecido como o lugar mais seco do mundo. 
 
Tabela 2. 1 – Água disponível na terra (Gleick, 2000) 
 Percentual água do planeta 
(%) 
Percentual da água doce 
(%) 
Oceanos/água salgada 97 
Gelo permanente 1,7 69 
Água subterrânea 0,76 30 
Lagos 0,007 0,26 
Umidade do solo 0,001 0,05 
Água atmosférica 0,001 0,04 
Banhados 0,0008 0,03 
Rios 0,0002 0,006 
Biota 0,0001 0,003 
 
No Brasil a disponibilidade de água é grande, porém existem regiões em que há 
crescentes conflitos em função da quantidade de água, como na região semi-árida do Nordeste. 
Mesmo no Rio Grande do Sul ocorrem anos secos em que a disponibilidade de água de alguns 
rios não é suficiente para atender as demandas para abastecimento da população e para irrigação. 
Algumas alterações produzidas pelo homem sobre o ecossistema podem alterar parte do 
ciclo hidrológico. Em nível global, a emissão de gases para a atmosfera produz aumento do 
efeito estufa, alterando as condições climáticas. A nível local, as obras hidráulicas que atuam 
sobre os rios, lagos e oceanos, além dos desmatamentos, atuam sobre o comportamento da bacia 
hidrográfica, e a urbanização também produz alterações localizadas nos processos do ciclo 
hidrológico terrestre. 
 
 
 
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3. Bacia Hidrográfica 
 
3.1 O que é uma bacia hidrográfica? 
 
O ciclo hidrológico é normalmente estudado com maior interesse na fase terrestre, onde o 
elemento fundamental da análise é a bacia hidrográfica (Figura 3. 1). Por definição, a bacia 
hidrográfica é a área de captação natural dos fluxos de água, originados a partir da precipitação, 
que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, seu exutório. 
 
 
 
Figura 3. 1 – Bacia hidrográfica 
 
A bacia hidrográfica pode ser considerada como um sistema físico sujeito a entradas de 
água (eventos de precipitação) que gera saídas de água (escoamento e evapotranspiração). A 
bacia hidrográfica transforma uma entrada concentrada no tempo (precipitação) em uma saída 
relativamente distribuída na tempo (escoamento). 
Para definir uma bacia hidrográfica, é necessário definir uma seção ou ponto de 
referência em um curso d’água selecionado, além de informações topográficas (relevo) do local. 
Uma bacia hidrográfica, por sua vez, pode ser dividida em sub-bacias e cada uma das sub-bacias 
pode ser considerada uma bacia hidrográfica. 
Na são apresentadas as bacias hidrográficas brasileiras, com a rede de drenagem 
disponibilizada pela Agência Nacional de Águas (ANA, 2005). No site da ANA 
(www.ana.gov.br) podem ser encontradas informações sobre as bacias hidrográficas brasileiras 
(Figura 3. 2), e para as sub-bacias também. Na Figura 3. 3 é apresentada a bacia do arroio 
Dilúvio, e a divisão em sub-bacias. 
 
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Figura 3. 2 – Bacias hidrográficas brasileiras 
 
Figura 3. 3 – Bacia hidrográfica do Arroio Dilúvio 
 
 
3.2 Características físicas de uma bacia hidrográfica 
 
As principais características físicas da bacia hidrográfica são a área, comprimento do rio 
principal, declividade do rio e bacia e cobertura do solo. A seguir são descritas algumas 
características físicas das bacias hidrográficas. 
 
 Área de drenagem 
A área de drenagem (A) é a superfície em projeção horizontal, delimitada pelo divisor de 
águas. O divisor de águas é uma linha imaginária, que passa pelos pontos de maior nível 
topográfico, e separa a bacia hidrográfica em estudo de outras bacias hidrográficas vizinhas 
(Figura 3. 4). Deve-se considerar que essa linha não é, em geral, o contorno real da bacia 
Bacia do rio Amazonas 
Bacia Atlântico trecho 
Norte/Nordeste 
Bacia do rio 
Tocantins 
Bacia do rio São 
Francisco 
Bacia Atlântico 
 trecho Leste 
Bacia do rio 
Paraná 
Bacia do 
 rio Uruguai 
Bacia Atlântico 
 trecho Sudeste 
mai
Highlight
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hidrográfica, já que a influência da geologia pode fazer com que o contorno de aportes de 
águas subterrâneas e superficiais seja diferente. Em geral, a área de uma bacia hidrográfica 
é estimada a partir da delimitação dos divisores da bacia em um mapa topográfico. A área 
da bacia hidrográfica é um dado fundamental para definir a potencialidade hídrica de uma 
bacia, uma vez que é a região de captação da água da chuva. Assim, a área da bacia 
multiplicada pela lâmina precipitada ao longo de um intervalo de tempo define o volume de 
água recebido pela bacia hidrográfica. 
 
Figura 3. 4 – Determinação da áreaa aceleração da gravidade m/ s2; Cd é o coeficiente de descarga do descarregador 
de fundo e Ac é a área da seção transversal do desarregador de fundo. Substituindo as 
colunas da planilha P10.1 na equação, resulta: 
1Colg2AcdCQ ⋅⋅⋅⋅=
 
Col. 6: Armazenamento no reservatório em intervalos de tempo de cálculo do hidrograma de 
entrada. (2.S/∆t) = (2.Col.2)/∆t. 
Col. 7: Col. 4 + Col. 5 + Col. 6 
Col. 8: Col. 4 + Col. 5 (vazão de saída) 
 
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 Planilha 10.1 
Col1 Col2 Col3 Col4 Col5 Col6 Col7 Col8 
Altura 
(m) 
Armazenamento 
(m3) 
Z 
(m) 
Q vertedor 
(m3/s) 
Q descarregador 
(m3/s) 
(2S/dt) 
 (m3/s) 
(2S/dt) + Qdesc + Q vert 
 (m3/s) 
Q saída 
(m3/s) 
0.0 0.0 53.20 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 
0.1 560.0 53.30 0.00 1.18 9.33 10.42 1.18 
0.2 1120.0 53.40 0.00 1.67 18.67 20.21 1.67 
0.3 1680.0 53.50 0.00 2.04 28.00 29.89 2.04 
0.4 2240.0 53.60 0.00 2.36 37.33 39.52 2.36 
0.5 2800.0 53.70 0.00 2.64 46.67 49.11 2.64 
0.6 3360.0 53.80 0.00 2.89 56.00 58.67 2.89 
0.7 3920.0 53.90 0.00 3.12 65.33 68.22 3.12 
0.8 4480.0 54.00 0.00 3.33 74.67 77.75 3.33 
0.9 5040.0 54.10 0.00 3.54 84.00 87.27 3.54 
1.0 5600.0 54.20 0.00 3.73 93.33 96.78 3.73 
1.1 6160.0 54.30 0.00 3.91 102.67 106.29 3.91 
1.2 6720.0 54.40 0.00 4.08 112.00 115.78 4.08 
1.3 7280.0 54.50 0.00 4.25 121.33 125.27 4.25 
1.4 7840.0 54.60 0.00 4.41 130.67 134.75 4.41 
1.5 8400.0 54.70 0.00 4.56 140.00 144.23 4.56 
1.6 8960.0 54.80 0.00 4.71 149.33 153.70 4.71 
1.7 9520.0 54.90 0.00 4.86 158.67 163.17 4.86 
1.8 10080.0 55.00 0.00 5.00 168.00 172.63 5.00 
1.9 10640.0 55.10 0.00 5.14 177.33 182.09 5.94 
2.0 11200.0 55.20 0.00 5.27 186.67 191.55 7.54 
2.1 11760.0 55.30 0.80 5.40 196.00 201.80 6.40 
2.5 14000.0 55.70 8.98 5.46 233.33 247.77 11.95 
 
 
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0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
Altura (m)
A
rm
az
en
am
en
to
 (m
3)
 
Figura 10. 8 – Curva de armazenamento reservatório (Col. 1 x Col. 2 - Planilha P10.1) 
 
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
5.00
6.00
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
Altura (m)
V
az
ão
 (m
3/
s)
Q descarregador 
 
Figura 10. 9 – Curva de vazão do descarregador de fundo (Col. 1 x Col. 5 – Planilha P10.1) 
 
A partir dos cálculos, a propagação do hidrograma está apresentada na planilha P10.2. 
 
 
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Planilha P10.2 
Col. 1 Col. 2 Col. 3 Col. 4 Col. 5 Col. 6 
t (s) I entrada 
(m3/s) 
It + It+1 - Ot + 2S/dt 
(m3/s) 
h (m) (2S/t ) 
(m3/s) 
Q saída (m3/s) 
0 0.00 - 0.00 0.00 0.00 
120 0.03 0.03 0.00 0.03 0.00 
240 2.14 2.20 0.02 1.97 0.23 
360 7.04 10.92 0.11 9.81 1.11 
480 14.16 29.90 0.30 28.01 1.89 
600 19.44 59.72 0.61 57.03 2.70 
720 21.27 95.04 0.98 91.62 3.42 
840 19.07 128.54 1.33 124.56 3.99 
960 13.83 153.47 1.60 149.11 4.36 
1080 7.59 166.16 1.73 161.62 4.54 
1200 3.45 168.12 1.75 163.55 4.57 
1320 1.04 163.48 1.70 158.97 4.50 
1440 0.00 155.51 1.62 151.12 4.39 
1560 146.73 1.53 142.46 4.26 
1680 138.20 1.44 134.07 4.13 
1800 129.93 1.35 125.93 4.01 
1920 121.92 1.26 118.04 3.88 
2040 114.16 1.18 110.41 3.75 
2160 106.65 1.10 103.03 3.62 
2280 99.40 1.03 95.91 3.50 
2400 92.41 0.95 89.04 3.37 
2520 85.67 0.88 82.43 3.24 
2640 79.19 0.82 76.07 3.11 
2760 72.96 0.75 69.97 2.99 
2880 66.99 0.69 64.13 2.86 
2892 61.27 0.63 58.54 2.73 
3012 55.81 0.57 53.20 2.60 
3132 50.60 0.52 48.12 2.48 
3252 45.65 0.46 43.30 2.35 
3372 40.95 0.42 38.73 2.22 
3492 36.51 0.37 34.42 2.09 
3612 32.33 0.33 30.37 1.96 
3732 28.40 0.28 26.57 1.84 
3852 24.73 0.25 23.02 1.70 
3972 21.32 0.21 19.74 1.58 
4092 18.15 0.18 16.71 1.45 
4212 15.26 0.15 13.94 1.31 
4332 12.63 0.12 11.44 1.19 
4452 10.24 0.10 9.17 1.07 
4572 8.10 0.08 7.25 0.85 
4692 6.40 0.06 5.73 0.67 
4812 5.06 0.05 4.53 0.53 
4932 4.00 0.04 3.58 0.42 
5052 3.17 0.03 2.83 0.33 
5172 2.50 0.02 2.24 0.26 
5292 1.98 0.02 1.77 0.21 
5412 1.56 0.02 1.40 0.16 
5532 1.24 0.01 1.11 0.13 
5652 0.98 0.01 0.88 0.10 
: 
: 
 : 
: 
: 
: 
: 
: 
: 
: 
7452 0.05 0.00 0.04 0.00 
 
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Onde: 
Col. 1: intervalo de tempo de propagação (segundos). Informação depende do dado de 
entrada. 
Col. 2: hidrograma de a ser propagado no reservatório. O hidrograma de entrada foi 
fornecido. 
Col. 3: Esta coluna representa o termo da direita da equação “Qt+1 + 2.St+1/∆t = It + It+1 - 
Qt + 2.St/∆t” 
Para o primeiro intervalo de tempo, o armazenamento inicial é conhecido (So=0), o 
armazenamento é nulo e a Q saída é nula. Conhecido o valor do termo da direita da equação, 
calcula-se a cota atingida no reservatório (h) , consultando as colunas 7 e 3 da Planilha P10.1. 
Determina-se (2.St/∆t) consultando as colunas 6 e 7 da Planilha P10.1, na mesma planilha, 
determina-se Qt consultando as colunas 7 e 8. O mesmo procedimento é feito para todos os 
intervalos de tempo seguinte, até haver a completa propagação no reservatório. 
Col. 4: cota atingida no interior do reservatório. Calculada conforme apresentado acima. 
Col. 5: armazenamento/∆t no interior do reservatório. Calculada conforme apresentado 
acima. 
Col. 6: vazão de saída do reservatório. Calculada conforme apresentado acima. 
 
Os hidrogramas de entrada e saída do reservatório podem ser vistos na Figura 10. 10. 
 
0.00
5.00
10.00
15.00
20.00
25.00
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000
Tempo (minutos)
V
az
ão
 (m
3/
s)
Q entrada 
Q saída 
 
Figura 10. 10 – Hidrogramas de entrada e saída do reservatório.de drenagem de uma bacia hidrográfica 
 
 Comprimento do rio principal 
Define-se o rio principal de uma bacia hidrográfica como aquele que drena a maior área no 
interior da bacia. O comprimento da drenagem principal é uma característica fundamental 
da bacia hidrográfica porque está relacionado ao tempo de viagem da água ao longo de 
todo o sistema. O tempo de viagem da gota de água da chuva que atinge a região mais 
remota da bacia até o momento em que atinge o exutório é chamado de tempo de 
concentração da bacia, conforme será explicado a seguir. 
 
 Declividade da bacia hidrográfica e do rio 
A declividade média da bacia hidrográfica e do curso d’água principal também são 
características que afetam diretamente o tempo de viagem da água ao longo do sistema, 
além de ter relação com os processos de infiltração. A declividade do curso d’água pode ser 
determinada, por exemplo, através do cálculo da declividade média ou média ponderada. A 
declividade média é a relação entre a diferença de cotas (cota máxima menos a cota 
mínima) e o comprimento do mesmo. Em geral, recomenda-se usar o método da média 
ponderada, dividindo o rio em vários sub-trechos (Figura 3. 5) e ponderar as declividades 
parciais com os comprimentos de cada trecho. Definir a declividade da bacia é mais 
complicado, já que se trata de uma superfície curva com várias inclinações. Um dos 
métodos mais usados sub-divide a bacia em faixas de altitude e pondera a declividade 
individual de cada faixa com a área da mesma, conforme se indica na Figura 3. 6. 
 
Divisor topográfico 
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0
25
50
75
100
125
150
175
200
225
250
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Comprimento (m)
A
lti
tu
de
 (m
)
 
Figura 3. 5 - Perfil do fundo do arroio do Moinho em Porto Alegre (IPH, 1979) 
 
Figura 3. 6 - Esquema para a determinação da declividade média na bacia hidrográfica 
 
 Tipo e uso do solo 
O tipo predominante de solo na bacia controla a infiltração generalizada e daí sua 
importância nas bacias naturais; a permeabilidade dos terrenos é um fator decisivo na taxa 
de infiltração permitida pelo solo e a constituição geológica será a responsável pela 
percolação das águas e sua circulação através do subsolo, para mais tarde vir a alimentar os 
rios durante as épocas de estiagem. Assim como o tipo de solo, o uso do solo tem grande 
influência nos processos que ocorrem na bacia hidrográfica. Pode-se citar, por exemplo, o 
caso das bacias hidrográficas submetidas a processos de urbanização, a superfície natural 
da bacia é substituída por superfícies quase impermeáveis, impedindo a penetração da água 
no solo. Isso acarreta a ocorrência de picos de cheia muito altos e volumes de escoamento 
superficial grandes, concentrados em tempos curtos, condições estas as mais críticas para o 
comportamento hidrológico da bacia. 
 
Além dessas características principais, também são características físicas de uma bacia 
hidrográfica: 
 
 Forma da bacia hidrográfica 
Duas bacias hidrográficas que tenham a mesma área poderão ter respostas hidrológicas 
completamente diferentes em função de sua forma, já que esta condicionará o tempo de 
Apostila de Hidrologia 
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concentração. Entre os parâmetros utilizados para medir a forma de uma bacia hidrográfica 
encontram-se os índices de Greavelius ou coeficiente de compacidade (Kc) e o fator de 
forma (Kf). 
O Índice de compacidade ou de Gravelius é a relação entre o perímetro P da bacia 
hidrográfica e o perímetro de uma bacia circular da mesma área A. Este índice compara, 
portanto, a bacia com um círculo da mesma área; uma bacia compacta apresenta um índice 
de compacidade baixo (próximo de um). 
A
P
A
PKc 28.0
/)2(
==
ππ
 (3.1) 
 
Caso não existam fatores que interfiram, os menores valores de Kc indicam maior 
potencialidade de produção de picos de enchentes elevados. 
 O fator de forma é definido como a relação existente entre a área da bacia e o quadrado do 
comprimento axial da mesma, medido ao longo do curso principal até a cabeceira mais 
distante da foz, no divisor de águas: 
 
2/ LAKf = (3.2) 
Esse fator dá alguma indicação sobre a tendência da bacia a produzir enchentes ou 
inundações, pois um fator de forma baixo (grande comprimento axial) reflete uma menor 
probabilidade de ocorrer na bacia uma chuva intensa que atinja toda sua extensão, 
comparada com outra bacia da mesma área e menor comprimento axial (maior índice de 
forma). 
 
 Características do relevo 
Além da determinação das declividades médias da bacia hidrográfica e do curso d’água, 
podem ser obtidas outras informações sobre o relevo da bacia hidrográfica, como por 
exemplo, a curva hipsométrica. A curva hipsométrica é uma representação gráfica do 
relevo de uma bacia hidrográfica. É uma curva que indica a porcentagem da área da bacia 
hidrográfica que existe acima de uma determinada cota (Figura 3. 7). Uma curva 
hipsométrica pode dar algumas informações sobre a fisiografia da bacia hidrográfica. Por 
exemplo, uma curva hipsométrica com concavidade para cima indica uma bacia com vales 
extensos, e o contrário, indica uma bacia com vales profundos. A curva hipsométrica torna-
se interessante à medida que a maior parte dos fatores hidrometeorológicos (precipitação, 
temperatura, ventos, etc.) apresenta variação com a altitude. 
 
0
25
50
75
100
125
150
175
200
225
250
275
300
325
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
% da área
A
lti
tu
de
 (m
)
 
Figura 3. 7 – Curva hipsométrica da bacia hidrográfica do arroio Moinho (IPH, 1979) 
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 Índices de drenagem – A rede de drenagem da bacia hidrográfica joga papel importante na 
geração de cheias. Em uma bacia eficientemente drenada, o escoamento concentra-se 
rapidamente na saída, causando vazões de pico elevadas e baixos valores de vazões mínimas. 
Um dos índices utilizados é a densidade de drenagem (DD), definida como o comprimento 
total (L) dos canais que formam a rede de drenagem, por unidade de área (A) da bacia da 
bacia hidrográfica. Outro índice utilizado é o de ordenamento dos canais da rede de 
drenagem da bacia hidrográfica. Destacam-se o sistema de Horton (1945) e Strahler (1957). 
No sistema de Horton os canais de primeira ordem são aqueles que não possuem tributários; 
os canais de segunda ordem têm apenas afluentes de primeira ordem; os canais de terceira 
ordem recebem afluência de canais de segunda ordem, podendo também receber diretamente 
canais de primeira ordem; sucessivamente, um canal de ordem u pode ter tributários de 
ordem u-1 até 1. Isto implica atribuir a maior ordem ao rio principal, valendo esta 
designação em todo o seu comprimento, desde o exutório da bacia até sua nascente. No 
sistema de Strahler é evitada a subjetividade de classificação das nascentes. Para Strahler, 
todos os canais sem tributários são de primeira ordem, mesmo que sejam nascentes dos rios 
principais e afluentes; os canais de segunda ordem são os que se originam da confluência de 
dois canais de primeira ordem, podendo ter afluentes também de primeira ordem; os canais 
de terceira ordem originam se da confluência de dois canais de segunda ordem, podendo 
receber afluentes de segunda e primeira ordens; sucessivamente, um canal de ordem u é 
formado pela união de dois canais de ordem u-1, podendo receber afluência de canais com 
qualquer ordem inferior. Portanto, no sistema de Strahler, o rio principal e afluentes não 
mantêm o número de ordem na totalidade de suas extensões, como aconteceno sistema de 
Horton que tem problemas práticos de numeração (Figura 3. 8). A densidade de drenagem é 
uma característica que pode ser profundamente alterada pela construção de estruturas de 
drenagem. Por exemplo, a construção de galerias de drenagem das águas pluviais em áreas 
urbanas representa um aumento significativo na densidade de drenagem. A determinação dos 
índices de drenagem está relacionada com a qualidade (escala) da informação disponível, 
sendo que hoje em dia esses índices não têm merecido grande destaque dentro da hidrologia. 
 
 
Figura 3. 8 – Sistema de ordenamento 
 
Pode-se mencionar ainda o tempo de concentração da bacia hidrográfica, que não é 
propriamente uma característica física da bacia hidrográfica, mas sim um parâmetro que está 
profundamente relacionado com as características físicas da mesma. 
 
 Tempo de concentração – Conceitualmente, o tempo de concentração é o tempo que uma 
gota de chuva, que atinge a região mais remota da bacia hidrográfica, leva para atingir o 
exutório. Para entender o tempo de concentração, considere o ponto P1 da bacia hidrográfica 
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da Figura 3. 9. Se nesse ponto precipitar uma gota de água, e houver condições para geração 
de escoamento, essa gota d’água escoará por regiões de maior declividade até atingir o curso 
d’água principal (P2). Quando a água atinge o rio principal, o escoamento passa a se 
desenvolver em um canal, até o exutório da bacia hidrográfica. O procedimento para o 
cálculo do tempo de concentração, com base na Figura 3. 9 é calcular o comprimento dos 
percursos (L1 – entre P1 e P2 e L2 – entre P2 e o exutório) e estimar as velocidades da água 
correspondente (V1 e V2). Posteriormente se calcula o tempo de viagem T1 e T2, sendo que 
o tempo de concentração total da bacia hidrográfica, nesse caso, seria T1+T2. Pode-se traçar, 
a partir de interpolação, para toda a bacia hidrográfica, isolinhas de tempo de deslocamento 
ou isócronas. As isócronas representam linhas de mesmo tempo de deslocamento na bacia 
hidrográfica. Por exemplo, na Figura 3. 10 ao observar a isócrona de 3h, tem-se uma 
estimativa do tempo de viagem de uma gota de água que atinge essa região. 
 
 
Figura 3. 9 – Tempo de concentração em uma bacia hidrográfica 
 
 
Figura 3. 10 – Esquema das isócronas em uma bacia hidrográfica 
 
A maneira mais adequada de determinação do tempo de concentração é a partir de dados 
observados de precipitação e vazão. No entanto, são raras as bacias hidrográficas que 
dispõem desse tipo de informação. Para contornar esses problemas, são apresentadas na 
literatura algumas formulações empíricas para a determinação do tempo de concentração, 
como as apresentadas a seguir, na Tabela 3. 1. Recomenda-se, no entanto, muito cuidado na 
utilização dessas equações, visto que as mesmas foram desenvolvidas para bacias 
hidrográficas com determinadas características e em condições específicas. Deve-se, 
portanto, observar as condições para as quais as formulações foram desenvolvidas, e 
identificar a mais adequada para a bacia hidrográfica em questão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Tabela 3. 1 – Equações para o cálculo do tempo de concentração 
Equação Observações 
Kirpich (1940) 
 
 
 
385,077,0989,3 −⋅⋅= SLtc 
Desenvolvida com dados de sete pequenas bacias 
rurais do Tenessee com declividades variando de 3 a 
10% e áreas de, no máximo, 0,5 km2. Embora o tipo 
de informação que a fórmula necessite (L e S) seja 
uma indicação de que ela reflete o escoamento em 
canais, o fato de ter sido desenvolvida para bacias tão 
pequenas é uma indicação de que os parâmetros 
devem representar o escoamento em superfícies. 
Quando o valor de L é superior a 10 km, a fórmula 
parece subestimar o valor de tc. 
Federal Aviation Agency (1970) 
 
( ) 33,050,01,173,22 −⋅⋅−⋅= SLCtc 
Desenvolvida para drenagem de aeroportos, é válida, 
provavelmente, para casos em que predomine o 
escoamento em superfícies, ou seja, em bacias muito 
pequenas. 
Onda cinemática (1963) 
 
( ) 4,03,06,0447 −− ⋅⋅⋅⋅= ISLntc 
Deduzida a partir da teoria da onda cinemática, 
aplicada a superfícies a partir das hipóteses de 
escoamento turbulento e chuva de intensidade 
constante. O comprimento das superfícies variou de 
15 a 30 metros. É adequada para bacias muito 
pequenas, em que o escoamento em superfícies seja 
predominante. 
SCS - "Lag formula" (1975) 
 
 
( )[ ] 5,07,08,0 9/100042,3 −⋅−⋅⋅= SCNLtc
 
A fórmula do SCS foi desenvolvida em bacias rurais 
com áreas de drenagem de atá 8 km2 e reflete, 
fundamentalmente, o escoamento em superfícies. Para 
a aplicação em bacias urbanas, o SCS sugere 
procedimentos para ajuste em função da área 
impermeabilizada e da parcela dos canais que 
sofreram modificações. Essa fórmula superestima o 
valor de tc em comparação com as expressões de 
Kirpich e Dooge. 
SCS - Método Cinemático (1975) 
 
 
∑⋅=
V
Ltc
60
1000
 
A fórmula diz que o tempo de concentração é a 
somatória dos tempos de trânsito dos diversos trechos 
que compõem o comprimento do talvegue. Na parte 
superior das bacias, em que predomina o escoamento 
em superfícies, ou em canais mal definidos, a 
velocidade pode ser determinada por meio de 
fórmulas como a 6.3. Em canais bem definidos e 
galerias deve ser usada a fórmula de Manning. 
Dooge (1956) 
 
17,041,0188,21 −⋅⋅= SAtc 
Foi determinada com dados de dez bacias rurais da 
Irlanda, com áreas na faixa de 140 a 930 km2. Seus 
parâmetros refletem o comportamento de bacias 
médias e escoamento predominante em canais. 
Em todas as fórmulas, o significado dos termos é o seguinte: 
tc = tempo de concentração em minutos 
A = área da bacia em km2 
S = declividade do talvegue em m/m 
H = diferença entre as cotas da seção de saída e o ponto mais a montante da bacia em m 
C = coeficiente de escoamento superficial do Método Racional 
n = rugosidade de Manning 
I = intensidade da chuva em mm/h 
CN = número da curva (método do SCS) 
V = velocidade média no trecho em m/s 
L= comprimento do curso d’água principal em km. 
 
 
 
 
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3.3 Balanço hídrico em uma bacia hidrográfica 
 
À relação entre as entradas e saídas de água em uma bacia hidrográfica, dá-se o nome de 
balanço hídrico. A principal entrada de água de uma bacia hidrográfica é a precipitação, 
enquanto a evapotranspiração e o escoamento, constituem-se as formas de saída. De forma geral, 
o balanço hídrico de uma bacia exige que seja satisfeita a equação: 
 QEP
t
V
−−=
∆
∆ (3.3) 
onde: ∆V é a variação do volume de água armazenado na bacia (m3); ∆t é o intervalo de tempo 
considerado (s); P é a precipitação (m3.s-1); E é a evapotranspiração (m3.s-1); e Q é o escoamento 
(m3.s-1). 
Em intervalos de tempo longos, como um ano ou mais, a variação de armazenamento 
pode ser desprezada na maior parte das bacias, e a equação pode ser reescrita em unidades de 
mm.ano-1, o que é feito dividindo os volumes pela área da bacia. 
 QEP += (3.4) 
onde: P é a precipitação em mm.ano-1; E é a evapotranspiração em mm.ano-1 e Q é o escoamento 
em mm.ano-1. 
As unidades de mm, ou lâmina de chuva, são mais usuais para a precipitação e para a 
evapotranspiração. Uma lâmina de 1 mm de chuva corresponde a um litro de água distribuído 
sobre uma área de 1 m2. O percentual da chuva que se transforma em escoamento é chamado 
coeficiente de escoamento e é dado por: 
P
QC = (3.5) 
O coeficientede escoamento tem, teoricamente, valores entre 0 e 1. Na prática os valores 
vão de 0,05 a 0,5 para a maioria das bacias. 
A Tabela 3. 2 apresenta dados de balanço hídrico para as grandes bacias brasileiras, de 
acordo com dados da Agência Nacional da Água (ANA). A região do Rio Grande do Sul está 
contida nas bacias do rio Uruguai e na bacia do Atlântico Sul, onde a precipitação média é de 
1699 e 1481 mm por ano, respectivamente. Na bacia do rio Uruguai o escoamento é de 716 mm 
por ano, o que corresponde a 4040 m3.s-1 de vazão média. Na bacia do Atlântico Sul, em que está 
inserida a bacia do rio Guaíba, o escoamento é de 643 mm por ano, enquanto a 
evapotranspiração, que completa o balanço, é de 838 mm por ano. O coeficiente de escoamento 
nas duas bacias é um pouco superior a 40%, o que significa que cerca de 40% da chuva é 
transformada em vazão, enquanto 60% retorna à atmosfera pelo processo de evapotranspiração. 
 
Tabela 3. 2 – Balanço hídrico para algumas bacias hidrográficas brasileiras 
Área Chuva Vazão Evapotr. Chuva Vazão Evapotr. Coef. Esc.Região (km2) (m3/s) (m3/s) (m3/s) (mm) (mm) (mm) (%) 
Amazonas - Total 6112000 493491 202000 291491 2546 1042 1504 41 
Amazonas - Brasil 3884191 277000 128900 139640 2249 1047 1134 47 
Tocantins 757000 42387 11300 31087 1766 471 1295 27 
Atlântico Norte 242000 16388 6000 10388 2136 782 1354 37 
Atlântico Nordeste 787000 27981 3130 24851 1121 125 996 11 
São Francisco 634000 19829 3040 16789 986 151 835 15 
Atlântico Leste (1) 242000 7784 670 7114 1014 87 927 9 
Atlântico Leste (2) 303000 11791 3710 8081 1227 386 841 31 
Paraná 877000 39935 11200 28735 1436 403 1033 28 
Paraguai 368000 16326 1340 14986 1399 115 1284 8 
Uruguai 178000 9589 4040 5549 1699 716 983 42 
Atlântico Sul 224000 10519 4570 5949 1481 643 838 43 
Brasil - Amazonas 
Total 
10724000 696020 251000 445020 2047 738 1309 36 
Brasil - Amazonas 
Parcial 
8496191 479529 177900 293169 1780 660 1088 37 
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A tabela mostra que a evapotranspiração tende a ser maior nas bacias mais próximas do 
Equador. Observa-se também que a disponibilidade de água é menor na bacia do rio São 
Francisco e na bacia Atlântico Leste (1) que inclui as regiões mais secas da região Nordeste do 
Brasil. 
 
 
 
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4. Precipitação 
 
4.1 Definição 
 
 A água da atmosfera, que atinge a superfície da terra, na forma de chuva, granizo, neve, 
orvalho, neblina ou geada é denominada precipitação. No Brasil a chuva é a forma mais 
importante de precipitação, embora grandes prejuízos possam advir da ocorrência de 
precipitação na forma de granizo e em alguns locais possa eventualmente nevar. 
Em engenharia a forma de precipitação mais comum, e que tem maior interesse é a 
chuva. A chuva é a principal causa dos processos hidrológicos, e sua quantificação correta é um 
dos desafios que o hidrólogo ou o engenheiro enfrentam. 
 
 
4.2 Qual a importância da precipitação? 
 
Conforme mencionado quando abordado o assunto balanço hídrico, a precipitação é a 
única forma de entrada de água em uma bacia hidrográfica. Assim sendo, ela fornece subsídios 
para a quantificação do abastecimento de água, irrigação, controle de inundações, erosão do solo, 
etc., e é fundamental para o adequado dimensionamento de obras hidráulicas, entre outros. 
 
 
4.3 Formação da precipitação 
 
Para que ocorra uma precipitação, a condição básica é a presença de vapor de água na 
atmosfera. A quantidade de vapor que o ar pode conter é limitada. A quantidade máxima de 
vapor que pode ser contida no ar sem condensar é a concentração de saturação (o ar a 20º C pode 
conter uma quantidade máxima de vapor de, aproximadamente, 20 gramas por metro cúbico – 
quantidades de vapor superiores a este limite acabam condensando). Uma característica muito 
importante da concentração de saturação é que ela aumenta com o aumento da temperatura do ar. 
Assim, o ar mais quente pode conter mais vapor do que ar frio. A Figura 4. 1 apresenta a 
variação da concentração de saturação de vapor no ar com a temperatura. Observa-se que o ar a 
10º C pode conter duas vezes mais vapor do que o ar a 0º C. 
O ar úmido, mais leve, eleva-se e atinge camadas mais frias da atmosfera. Ao se resfriar, 
pode chegar ao ponto de saturação, transformando o vapor de água em pequenas gotículas 
líquidas espalhadas no ar livre em forma de aerosol, constituindo nuvens. A formação das 
nuvens está ligada ao aumento do volume das gotículas, que flutuam graças às turbulências 
atmosféricas. O processo de aumento crescimento é possibilitado pela absorção de uma gotícula 
por outra, por choque entre elas ou pela condensação do vapor de água sobre as próprias 
gotículas, facilitada pela presença de núcleos de condensação (cristais de gelo, partículas de 
cloreto de sódio, poeira, resíduos, etc.) que normalmente flutuam no ar. Porém, em certas 
condições, as gotas das nuvens crescem, atingindo (entre 0,5 e 2 mm)e peso suficiente para 
vencer as correntes de ar que as sustentam. Nestas condições, a água das nuvens se precipita para 
a superfície da Terra, na forma de chuva. 
Embora os volumes das gotas de chuva são de 105 a 106 vezes maiores que os das 
gotículas, a condensação de toda a água da nuvem geraria uma chuva imperceptível. É 
necessário admitir então uma constante alimentação de vapor de água de fora da nuvem por 
correntes de ar ascendente que conduzem ar quente e úmido e refazem constantemente a nuvem 
enquanto dura a precipitação. 
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Figura 4. 1 – Relação entre a temperatura e o conteúdo de vapor de água no ar na condição de 
saturação 
 
 
4.4 Tipos de precipitação 
 
De acordo com as características de localização, intensidade e abrangência, o ar úmido 
eleva-se sob diferentes condições, e dá origem a três tipos básicos de precipitação: 
 
 Convectiva: quando há pouca circulação de massas de ar, o ar próximo ao solo é aquecido 
pela radiação emitida e refletida pela superfície terrestre. Esse ar quente, menos denso que o 
ar circundante, eleva-se na forma de células de conveção. Esse ar se esfria adiabaticamente, 
até atingir o nível de condensação, gerando nuvens de tipo cúmulos ou cúmulo-nimbus 
(Figura 4. 2). Esse tipo de precipitação é típico de zonas equatoriais, onde, o movimento do 
ar é essencialmente vertical. Nas zonas temperadas ocorrem nos períodos quentes, na forma 
de tormentas de verão, localizadas e violentas (na região sul esse tipo de precipitação 
também é conhecida como “chuva de verão”). As características principais de uma chuva 
convectiva são a sua pequena duração, intensidade elevada, atingindo áreas reduzidas; é 
também esse tipo de precipitação que gera o granizo. Problemas de inundação em áreas 
urbanas estão, muitas vezes, relacionados às chuvas convectivas 
 
Figura 4. 2 – Esquema de formação da precipitação convectiva 
 
 Orográfica: quando os ventos carregados de umidade, soprando normalmente do oceano 
para o continente, encontram uma barreira montanhosa (por exemplo, a serra do Mar), as 
massas de ar úmido elevam-se para transpor o obstáculo, resultando num resfriamento que 
pode alimentar a formação de nuvens e desencadear precipitações (Figura 4. 3). São 
localizadas nas encostas montanhosas que olham para o mar e quando os ventos conseguem 
ultrapassar a barreira montanhosa, do lado oposto projeta-se a sombra pluviométrica, dando 
lugar a zonas secas ou semi-áridas, causadas pelo ar seco, já que a umidade foi descarregada 
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na encosta oposta. Esse tipo de precipitação geralmente tem ocorrência localizada, podendo 
atingir grande intensidade. 
 
 
 
 
Figura 4. 3 – Esquema de formação de precipitação orográfica 
 
 Frontal: quando se encontram duas grandes massas de ar, de diferente temperatura e 
umidade, o ar mais quente (mais leve e, normalmente, mais úmido) é empurrado para cima, 
onde atinge temperaturas mais baixas, resultando na condensação do vapor (Figura 4. 4). As 
massas de ar que formam as chuvas frontais têm centenas de quilômetros de extensão e 
movimentam se de forma relativamente lenta, conseqüentemente as chuvas frontais 
caracterizam-se pela longa duração e por atingirem grandes extensões. No Brasil as chuvas 
frontais são muito freqüentes na região Sul, atingindo também as regiões Sudeste, Centro 
Oeste e, por vezes, o Nordeste. 
 
 
Figura 4. 4 – Esquema de formação da precipitação frontal 
 
 
4.5 Aquisição de dados de precipitação 
 
No Brasil a precipitação é convencionalmente medida por meio de aparelhos chamados 
de pluviômetros ou pluviógrafos. Existe ainda a possibilidade de se medir a precipitação por 
meio de radar (radares meteorológicos) ou imagens de satélite, mas os erros associados a esses 
métodos ainda são relativamente grandes. No entanto, pelo fato de apresentarem medidas em um 
contínuo espacial são excelentes ferramentas, que permitem a análise da distribuição espacial da 
chuva, ao contrário dos pluviômetros e pluviógrafos, que têm medição de caráter pontual. 
 
Cadeia montanhosa
Vento 
úmido 
Vento seco 
Ar frio 
Ar quente 
Avanço da frente 
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4.5.1 Pluviômetros 
 
O pluviômetro é um aparelho dotado de uma superfície de captação horizontal, 
delimitada por um anel metálico e de um reservatório para acumular a água recolhida, ligado a 
essa área de captação. É um aparelho que fornece o total de água acumulado durante um 
intervalo de tempo. 
Em função dos detalhes construtivos, há vários modelos de pluviômetros em uso no 
mundo. No Brasil é bastante difundido o tipo “Vile de Paris” (Figura 4. 5). Esse pluviômetro tem 
uma forma cilíndrica com uma área superior de captação da chuva de 400 cm2, de modo que um 
volume de 40 ml de água acumulado no pluviômetro corresponda a 1 mm de chuva. 
A quantidade de chuva que entra no pluviômetro depende da exposição ao vento, da 
altura do instrumento e da altura dos objetos vizinhos ao aparelho. O efeito do vento altera as 
trajetórias do ar no espaço circundante ao pluviômetro e causa turbulência nas bordas do 
instrumento, produzindo erros na observação da chuva. A distância mínima dos obstáculos 
próximos (prédios, árvores, morros, etc.) deve ser igual a quatro vezes a altura desse obstáculo, 
devendo o local de instalação estar protegido do impacto direto do vento. O pluviômetro deve ser 
instalado a uma altura padrão de 1,50 m do solo (Figura 4. 5). 
 
Figura 4. 5 – Pluviômetro “Ville de Paris” 
 
Nos pluviômetros da rede de observação mantida pela Agência Nacional da Água (ANA) 
a medição da chuva é realizada uma vez por dia, sempre às 7:00 da manhã, por um observador 
que anota o valor lido em uma caderneta. 
Durante o processo de monitoramento e operação do instrumento podem ocorrer alguns 
erros que devem ser minimizados: 
 
 perdas por evaporação da água contida no coletor; 
 contagem incorreta do número de provetas resultantes, no caso de chuvas importantes; 
 água derramada durante a transferência do coletor para a proveta; 
 graduação da proveta não correspondente à área da boca do pluviômetro; 
 leitura defeituosa da escala da proveta; 
 anotação incorreta na caderneta do observador. 
A ANA tem uma rede de 2473 estações pluviométricas distribuídos em todo o Brasil. 
Além da ANA existem outras instituições e empresas que mantém pluviômetros, como o 
Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), empresas de geração de energia hidrelétrica e 
empresas de pesquisa agropecuária. No banco de dados da ANA (www.hidroweb.ana.gov.br) 
estão cadastradas 14189 estações pluviométricas de diversas entidades, mas apenas 8760 estão 
em atividade atualmente. 
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4.5.2 Pluviógrafos 
 
 Quando é necessária informação mais detalhada da precipitação, como sua distribuição 
temporal ou a variação das intensidades, usa-se o pluviógrafo (Figura 4. 6). Esse tipo de 
instrumento permite um monitoramento contínuo, sendo que originalmente eram mecânicos, 
utilizavam uma balança para quantificar a água e um papel para registrar o total precipitado. Os 
pluviógrafos antigos com registro em papel foram substituídos, nos últimos anos, por 
pluviógrafos eletrônicos com memória (data-logger). 
O pluviógrafo mais comum atualmente é o de cubas basculantes, em que a água recolhida 
é dirigida para um conjunto de duas cubas articuladas por um eixo central. A água é dirigida 
inicialmente para uma das cubas e quando esta cuba recebe uma quantidade de água equivalente 
a 20 g, aproximadamente, o conjunto báscula em torno do eixo, a cuba cheia esvazia e a cuba 
vazia começa a receber água. Cada movimento das cubas basculantes equivale a uma lâmina 
precipitada (por exemplo 0,25 mm), e o aparelho registra o número de movimentos e o tempo em 
que ocorre cada movimento. 
 
 
Figura 4. 6 – Esquema de pluviógrafo de báscula 
 
 
4.5.3 Radar 
 
A chuva também pode ser estimada utilizando radares meteorológicos. A medição de 
chuva por radar está baseada na emissão de pulsos de radiação eletromagnética que são refletidos 
pelas partículas de chuva na atmosfera, e na medição do da intensidade do sinal refletido (Figura 
4. 7). A relação entre a intensidade do sinal enviado e recebido, denominada refletividade, é 
correlacionada à intensidade de chuva que está caindo em uma região. A principal vantagem do 
radar é a possibilidade de fazer estimativas de taxas de precipitação em uma grande região no 
entorno da antena emissora e receptora, embora existam erros consideráveis quando as 
estimativas são comparadas com dados de pluviógrafos. 
 
No Brasil são poucos os radares para uso meteorológico, com a exceção do Estado de São 
Paulo em que existem alguns em operação. Em alguns países, como os EUA, a Inglaterra e a 
Alemanha, já existe uma cobertura completa com sensores de radar para estimativa de chuva. 
 
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Figura 4. 7 – Estimativa de chuva utilizando radar 
 
 
4.5.4 Satélite 
 
Também é possível fazer estimativas da precipitação a partir de imagens obtidas por 
sensores instalados em satélites (Figura 4. 8). A temperatura do topo das nuvens, que pode ser 
estimada a partir de satélites, tem uma boa correlação com a precipitação (quanto mais quente a 
nuvem, mais água ela contém). Além disso, existem experimentos de radares a bordo de satélites 
que permitem aprimorar a estimativa baseada em dados de temperatura de topo de nuvem. 
 
 
Figura 4. 8 – Estimativa de chuva através de imagem de satélite 
 
 
4.6 Características gerais da precipitação 
 
 Do ponto de vista da engenharia, são necessários três parâmetros para definir completamente 
uma precipitação: sua altura pluviométrica, sua duração e sua freqüência de ocorrência ou 
probabilidade. 
 
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 Altura Pluviométrica (P): corresponde à espessura média da lâmina da água precipitada, 
que recobriria a região atingida pela precipitação, admitindo-se que esta águanão se 
infiltrasse, não evaporasse nem escoasse para fora dos limites da bacia. A unidade de 
medição é o mm de chuva, definido como a quantidade de precipitação correspondente a um 
volume de 1 litro por metro quadrado de superfície. A altura pluviométrica total multiplicada 
pela área da bacia fornece o volume médio. A quantidade total de chuva (lâmina de água), 
dividida pela duração, indica a intensidade média dessa precipitação. Conceitualmente 
define-se como a quantidade de chuva por unidade de tempo (mm/h), ou taxa de 
transferência de água da atmosfera para o solo. A intensidade varia de um instante para outro 
dentro da mesma precipitação. 
 
 Duração: é o tempo transcorrido entre o início e o fim da chuva, expresso em horas ou 
minutos. 
 
 Freqüência de ocorrência: é a quantidade de ocorrências de eventos iguais ou superiores ao 
evento de chuva considerado. Chuvas muito intensas tem freqüência baixa, isto é, ocorrem 
raramente. Chuvas pouco intensas são mais comuns. A Tabela 4. 1 apresenta a análise de 
freqüência de ocorrência de chuvas diárias de diferentes intensidades ao longo de um período 
de 23 anos em uma estação pluviométrica no interior do Paraná. Observa-se que ocorreram 
5597 dias sem chuva (P = zero) no período total de 8279 dias, isto é, em 67% dos dias do 
período não ocorreu chuva. Em pouco mais de 17% dos dias do período ocorreram chuvas 
com intensidade baixa (menos do que 10 mm). A medida em que aumenta a intensidade da 
chuva diminui a freqüência de ocorrência. 
 
Tabela 4. 1: Freqüência de ocorrência de chuvas diárias de diferentes alturas em um posto 
pluviométrico no interior do Paraná ao longo de um período de, aproximadamente, 23 anos 
 Bloco Freqüência
P = zero 5597
P 200 mm 0
Total 8279 
 
A variável utilizada na hidrologia para avaliar eventos extremos como chuvas muito 
intensas é o tempo de retorno (TR), dado em anos. O tempo de retorno é uma estimativa do 
tempo em que um evento é igualado ou superado, em média. Por exemplo, uma chuva com 
intensidade equivalente ao tempo de retorno de 10 anos é igualada ou superada somente uma vez 
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a cada dez anos, em média. Esta última ressalva “em média” implica que podem, eventualmente, 
ocorrer duas chuvas de TR 10 anos em dois anos subseqüentes. 
O tempo de retorno pode, também, ser definido como o inverso da probabilidade de 
ocorrência de um determinado evento em um ano qualquer. Por exemplo, se a chuva de 130 mm 
em um dia é igualada ou superada apenas 1 vez a cada 10 anos diz-se que seu Tempo de Retorno 
é de 10 anos, e que a probabilidade de acontecer um dia com chuva igual ou superior a 130 mm 
em um ano qualquer é de 10%, ou seja 
 
 
eobabilidadPr
1TR = (4.1) 
 
 A precipitação é uma variável hidrológica com grande aleatoriedade, tanto temporalmente 
quanto espacialmente. Podemos exemplificar a variabilidade espacial da chuva observando que, 
em algumas cidades é registrada a ocorrência de precipitação em uma região, enquanto em 
outras, a poucos quilômetros de distância, não se observa o evento chuvoso. Justamente pela 
dificuldade da correta definição da variabilidade temporal e espacial, a precipitação é uma das 
variáveis hidrológicas mais difíceis de ser avaliada. 
 
 
4.6.1 Variação Espacial da Precipitação 
 
Como já foi mencionado, uma das características da precipitação é sua extrema 
variabilidade espacial, existindo gradientes pluviométricos tanto horizontais como verticais. Os 
dados de chuva dos pluviômetros e pluviógrafos referem-se a medições executadas em áreas 
muito restritas (400 cm2), quase pontuais, não conseguindo, portanto, representar a variabilidade 
espacial da precipitação. Assim, durante um evento de chuva um pluviômetro pode ter registrado 
60 mm de chuva enquanto um outro pluviômetro, a 30 km de distância registrou apenas 40 mm 
para o mesmo evento. Isto ocorre porque a chuva apresenta uma grande variabilidade espacial, 
principalmente se é originada por um processo convectivo. 
Uma forma de visualizar essa variação são os mapas de isoietas, isso é, linhas que unem 
pontos de igual precipitação durante um certo período de tempo (dia, mês, ano). As isoietas são 
obtidas por interpolação dos dados de pluviômetros ou pluviógrafos, e podem ser traçadas de 
forma manual ou automática. A Figura 4. 9 apresenta um mapa de isoietas de chuva média anual 
do Estado de São Paulo, com base em dados de 1943 a 1988. Observa-se que a chuva média 
anual sobre a maior parte do Estado é da ordem de 1300 a 1500 mm por ano, mas há uma região 
próxima ao litoral com chuvas anuais de mais de 3000 mm por ano. As regiões onde as isoietas 
ficam muito próximas entre si é caracterizada por uma grande variabilidade espacial. 
 
 
4.6.2 Variabilidade Sazonal da Precipitação 
 
Um dos aspectos mais importantes do clima e da hidrologia de uma região é a época de 
ocorrência das chuvas. Existem regiões com grande variabilidade sazonal da chuva, com 
estações do ano muito secas ou muito úmidas. Na maior parte do Brasil o verão é o período das 
maiores chuvas. No Rio Grande do Sul, entretanto, a chuva é relativamente bem distribuída ao 
longo de todo o ano (em média). Isto não impede, entretanto, que em alguns anos ocorram 
invernos ou verões extremamente secos ou extremamente úmidos. 
A variabilidade sazonal da chuva é representada por gráficos com a chuva média mensal, 
como o apresentado na Figura 4. 10 para Porto Alegre e Cuiabá. Observa-se que no Sul do Brasil 
existe uma distribuição mais homogênea das chuvas ao longo do ano, enquanto no Centro-Oeste 
ocorrem verões muito úmidos e invernos muito secos. 
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Figura 4. 9 – Mapa de isoietas do Estado de São Paulo 
 
Figura 4. 10- Variabilidade sazonal da precipitação 
 
 
4.6.3 Variabilidade da Precipitação com a Altitude 
 
 As observações indicam que, em geral, o volume de chuva precipitado aumenta com a altitude 
até atingir um máximo, a partir do qual decresce; isso permite elaborar perfis pluviomêtricos de 
grandes bacias ou áreas extensas. 
No estudo de grandes bacias com relevo acidentado, essa característica não pode ser 
ignorada nas estimativas dos volumes precipitados; no traçado de isoietas, como consequência 
desse fato, as isolinhas em princípio devem ser paralelas às curvas de nível e isso deve ser levado 
em conta ao confeccionar os mapas referidos. 
 
 
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4.6.4 Variabilidade da Precipitação com a Área 
 
A chuva não é homogênea numa dada extensão de terreno, mas se apresenta na forma de 
células mais intensas que se movimentam de acordo com os ventos. Imaginando uma rede fixa 
de pluviômetros amostrando as chuvas que passam sobre eles, podem-se traçar curvas como as 
da Figura 4. 11 (Tucci, C.;1993), que deixam ver variações para cada região. 
 
Figura 4. 11 – Curva relacionando o abatimento da precipitação em relação à área 
 
 
4.7 Precipitação Média em uma Área 
 
 Os dados de chuva dos pluviômetros e pluviógrafos referem-se a uma área de coleta de 400 
cm2, ou seja, quase pontual. Porém, o maior interesse na hidrologia é por chuvas médias que 
atingem uma região, como abacia hidrográfica. A precipitação média é considerada como uma 
lâmina de água, de altura uniforme sobre toda a área considerada (Figura 4. 12 a), dentro de um 
certo período de tempo (horas, dias, meses, anos) de tal forma que o volume precipitado assim 
gerado seja igual ao real. 
Ao se fazer essa consideração, é feita uma abstração da condição real da distribuição 
espacial da precipitação. No entanto, a única forma de se conhecer essa distribuição real seria 
com a instalação de um grande número de pluviômetros na bacia hidrográfica. Como a 
manutenção e operação dos postos pluviométricos demandam dinheiro, normalmente contamos 
com um pequeno número de postos nas bacias hidrográficas, e é a partir dessa pequena amostra 
que devemos retirar o máximo de informações. 
 
Figura 4. 12 – Precipitação média sobre uma bacia hidrográfica 
 
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O cálculo da chuva média em uma bacia pode ser realizado utilizando o método da média 
aritmética; das Isoietas; dos polígonos de Thiessen ou através de interpolação em Sistemas de 
Informação Geográfica (SIGs). 
 
4.7.1 Método da média aritmética 
 
 É a forma mais simples de estimar a precipitação média em uma bacia hidrográfica. Como o 
próprio nome do método sugere, a precipitação média é calculada como a média aritmética dos 
valores médios de precipitação. Ao fazer esse processo, todos os postos pluviométricos têm a 
mesma importância. 
Por exemplo, a precipitação média da bacia hidrográfica apresentada na 
Figura 4. 13 é dada por: 
 
Figura 4. 13 – Bacia hidrográfica para o cálculo da precipitação média usando média aritmética 
 
mmPm 50
4
)40445066(
=
+++
= 
 O método ignora as variações geográficas da precipitação e portanto é aplicável apenas em 
regiões onde isso possa ser feito sem incorrer em grandes erros, ou seja, em regiões planas com 
variação gradual e suave do gradiente pluviométrico e com cobertura de postos de medição 
bastante densa. 
 
4.7.2 Método dos Polígonos de Thiessen 
 
O método dos polígonos de Thiessen, também conhecido como método do vizinho mais 
próximo, é um dos mais utilizados. Nesse método é definida a área de influência de cada posto 
pluviométrico dentro da bacia hidrográfica. Por exemplo, vamos determinar a precipitação média 
na bacia hidrográfica apresentada na Figura 4. 14. 
Utilizando o método dos polígonos de Thiessen o primeiro passo é traçar linhas que unem 
os postos pluviométricos mais próximos. A seguir é determinado o ponto médio em cada uma 
destas linhas e, a partir desse ponto é traçada uma linha perpendicular. A interceptação das linhas 
médias entre si e com os limites da bacia irão definir a área de influência de cada um dos postos. 
 
Área total = 100 km2 
A seqüência é apresentada na Figura 4. 15. 
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Figura 4. 14 – Bacia hidrográfica para determinação da precipitação média pelo método de 
Thiessen 
 
Traçar linhas que unem 
os postos pluviométricos 
mais próximos entre si. 
 
Traçar linhas médias 
perpendiculares às linhas 
que unem os postos 
pluviométricos. 
 
Definir a região de 
influência de cada posto 
pluviométrico e medir a 
sua área. 
 
Figura 4. 15 – Determinação da precipitação média pelo método de Thiessen 
 
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Área sob influência do posto com 120 mm = 15 km2 
Área sob influência do posto com 70 mm = 40 km2 
Área sob influência do posto com 50 mm = 30 km2 
Área sob influência do posto com 75 mm = 5 km2 
Área sob influência do posto com 82 mm = 10 km2 
 
Precipitação média na bacia: 
mmPm 7310,0.8205,0.7530,0.5040,0.7015,0.120 =++++= 
 
Se fosse utilizado o método da média aritmética haveria apenas dois postos no interior da 
bacia, com uma média de 60 mm. Se fosse calculada uma média incluindo os postos que estão 
fora da bacia chegaríamos a 79,5 mm. 
 
 
4.7.3 Método das Isoietas 
 
Como já mencionado, as isoietas são linhas que unem pontos de igual precipitação. 
Depois de escrever os valores de chuva em cada posto se unem estes com linhas retas nas quais 
se interpolam linearmente os valores para os quais se pretende traçar as isolinhas. 
A título de exemplo, vamos considerar a mesma Figura 4. 15, e o procedimento 
apresentado na Figura 4. 16. 
Uma vez determinadas as isolinhas, determina-se a precipitação média na bacia 
hidrográfica. Calcula-se a área Ai, delimitada por duas isoietas e essa área é utilizada como 
ponderador, segundo a equação: 
∑
∑
=
== n
i
n
i
Ai
AiPi
Pm
1
1
.
 (4.2) 
 
Na Figura 4. 17 é apresentado o procedimento para obter os elementos necessários para 
determinação da precipitação média. 
Esse método não é puramente mecânico como os anteriores e tem um certo grau de 
dependência do julgamento do usuário, permitindo introduzir no traçado do mapa todo o 
conhecimento que se tenha da região, incluída a topografia, regime dos ventos, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Traçar linhas que unem 
os postos pluviométricos 
mais próximos entre si. 
 
Dividir as linhas 
escrevendo os valores da 
precipitação interpolados 
linearmente 
 
Proceder com o traçado 
das isolinhas. 
 
Figura 4. 16 – Determinação da precipitação média utilizando isoietas 
 
 
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Figura 4. 17 – Procedimento para determinação da precipitação média utilizando o método das 
isoietas 
 
 
4.8 Tratamento dos Dados Pluviométricos 
 
O objetivo de um posto de medição de chuvas é o de obter uma série ininterrupta de 
precipitações ao longo dos anos (ou o estudo da variação das intensidades de chuva ao longo das 
tormentas). Em qualquer caso pode ocorrer a existência de períodos sem informações ou com 
falhas nas observações, devido a problemas com os aparelhos de registro e/ou com o operador do 
posto. 
A seguir são descritos os processos empregados na consistência dos dados. 
 
 
4.8.1 Identificação de erros grosseiros 
 
As causas mais comuns de erros grosseiros nas observações são: 
a) preenchimento errado do valor na caderneta de campo; 
b) soma errada do número de provetas, quando a precipitação é alta; 
c) valor estimado pelo observador, por não se encontrar no local no dia da amostragem; 
d) crescimento de vegetação ou outra obstrução próxima ao posto de observação; 
e) danificação do aparelho; 
f) problemas mecânicos no registrador gráfico. 
Após esta análise as séries poderão apresentar falhas, que devem ser preenchidas por 
alguns dos métodos indicados a seguir. 
 
4.8.2 Preenchimento de falhas 
 
 Conforme mencionado, quando se trabalha com precipitação deseja-se uma série ininterrupta 
e mais longa possível de dados. No entanto, podem ocorrer dias, ou períodos maiores em que a o 
dado de precipitação não foi obtido, caracterizando assim uma falha. Para o preenchimento 
dessas falhas podem ser utilizados alguns métodos, apresentados a seguir. 
 
 
 
Elemento de 
área Ai 
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 Método de ponderação regional 
 
É um método simplificado, de fácil aplicação, e normalmente utilizado para o 
preenchimento de séries mensais ou anuais

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