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Considerações gerais sobre plantas medicinais; Lopez, 2006

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Ambiente: Gestão e Desenvolvimento, 1(1):19-27. 2006 
 
 
19
Considerações gerais sobre plantas medicinais 
 
López, C. A. A. 
Universidade Estadual de Roraima - UERR 
cesaruel@gmail.com 
Abstract 
Herbal drugs have been used since ancient times as medicines for the treatment of a range of diseases. Medicinal 
plants have played a key role in world health. Market surveys indicate that all socioeconomic classes in Brazil use 
medicinal plants because of cultural preferences, low cost, and efficacy. The quality of the medicinal plants is 
obtained during the whole productive process, from the botanical identification, the choice of the vegetal material, 
the time and plantation place, the cultural treatments, the determination of the harvest time and the care for the 
crop, drying and storage conditions. Although tropical medicinal plants are lauded by the international media and 
used by millions of Brazilians, field research on the ecology of medicinal plants in Brazil has been surprisingly 
limited. Many of these medicinal plants have no botanical substitute, and pharmaceuticals do not yet exist for some 
of the diseases for which they are used. 
Key Words: Herbal drugs, medicinal plants, phytotherapics 
 
Resumo 
Os fitoterapicos tem sido usados desde épocas antigas como medicina para o tratamento de uma ampla gama de 
doenças. As plantas medicinais desempenharam um papel chave na saúde do mundo. As pesquisas de mercado 
indicam que todas as classes socioeconômicas no Brasil usam plantas medicinais devido às preferências culturais, 
ao baixo custo, e pela sua eficácia. A qualidade das plantas medicinais é obtida durante todo o processo produtivo, 
desde a identificação botânica, escolha do material vegetal, época e local de plantio, tratos culturais, determinação 
da época de colheita e cuidados na colheita, a secagem e as condições de armazenamento. Embora as plantas 
medicinais tropicais sejam aprovadas pelos organismos internacionais e usadas por milhões de brasileiros, a 
pesquisa de campo sobre a ecologia das plantas medicinais no Brasil é surpreendente limitada. Muitas destas plantas 
medicinais não têm nenhum substituto botânico, e produtos farmacêuticos ainda não existem para algumas doenças 
para as quais elas são usadas. 
Palavras chaves: Ervas medicinais, plantas medicinais, fitoterápicos 
 
Introdução 
 
O conhecimento sobre plantas medicinais 
simboliza muitas vezes o único recurso terapêutico de 
muitas comunidades e grupos étnicos. O uso de 
plantas no tratamento e na cura de enfermidades é tão 
antigo quanto a espécie humana. Ainda hoje nas 
regiões mais pobres do país e até mesmo nas grandes 
cidades brasileiras, plantas medicinais são 
comercializadas em feiras livres, mercados populares 
e encontradas em quintais residenciais. As 
observações populares sobre o uso e a eficácia de 
plantas medicinais contribuem de forma relevante para 
a divulgação das virtudes terapêuticas dos vegetais, 
prescritos com freqüência, pelos efeitos medicinais 
que produzem, apesar de não terem seus constituintes 
químicos conhecidos. Dessa forma, usuários de 
plantas medicinais de todo o mundo, mantém em voga 
a prática do consumo de fitoterápicos, tornando 
válidas informações terapêuticas que foram sendo 
acumuladas durante séculos. De maneira indireta, este 
tipo de cultura medicinal desperta o interesse de 
pesquisadores em estudos envolvendo áreas 
multidisciplinares, como por exemplo, botânica, 
farmacologia e fitoquímica, que juntas enriquecem os 
conhecimentos sobre a inesgotável fonte medicinal 
natural: a flora mundial. 
Segundo a Resolução da Diretoria Colegiada No 
48/2004 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – 
ANVISA, fitoterápicos são medicamentos preparados 
exclusivamente com plantas ou partes de plantas 
medicinais (raízes, cascas, folhas, flores, frutos ou 
sementes), que possuem propriedades reconhecidas de 
cura, prevenção, diagnóstico ou tratamento sintomático 
de doenças, validadas em estudos etnofarmacológicos, 
documentações tecnocientíficas ou ensaios clínicos de 
fase 3. Com o desenvolvimento da ciência e da 
tecnologia as plantas medicinais estão tendo seu valor 
terapêutico pesquisado e ratificado pela ciência e vem 
C.A.A. López 
 
 
20
crescendo sua utilização recomendada por 
profissionais de saúde. 
O segmento de fitoterápicos movimenta 
anualmente, no mundo, cerca de 22 bilhões de dólares, 
com um crescimento de 12 % ao ano. No mercado 
brasileiro, esse segmento responde por cerca de 7 % do 
mercado farmacêutico brasileiro, ou seja, 400 milhões 
de dólares/ano, gerando em torno de 100 mil empregos 
diretos e indiretos (Sociedade Brasileira de Química – 
SBQ. 
O Brasil é detentor da maior biodiversidade do 
planeta. Com cerca de 22% de todas as espécies 
vegetais conhecidas, o Brasil possui um patrimônio 
genético potencialmente capaz de render-lhe benefícios 
econômicos astronômicos. 
Os trabalhos de pesquisa com plantas medicinais 
originam medicamentos em menor tempo, com custos 
muitas vezes inferiores e, conseqüentemente, mais 
acessíveis à população, que, em geral, encontra-se sem 
condições financeiras de arcar com os custos elevados 
da aquisição de medicamentos que possam ser 
utilizados como parte do atendimento das 
necessidades primárias de saúde, principalmente 
porque na maioria das vezes as matérias-primas 
utilizadas na fabricação desses medicamentos são 
importadas. Por esses motivos ou pela deficiência da 
rede pública de assistência primária de saúde, cerca de 
80% da população brasileira não tem acesso aos 
medicamentos ditos essenciais (Toledo et al., 2003). 
 
Importância das plantas medicinais 
O reconhecimento e o resgate da sabedoria popular 
sobre as plantas medicinais é fundamental às famílias 
rurais, pelo fato da fitoterapia caseira ser uma fonte de 
cura, muitas vezes a única devido à falta de outros 
recursos para cuidar da saúde. 
Do ponto de vista socioeconômico, é preciso 
destacar aspectos como a demanda pela fitoterapia e o 
custo dos medicamentos, o potencial de geração de 
trabalho e renda na cadeia produtiva dos fitoterápicos, 
especialmente em regime de economia solidária, os 
esforços de pesquisa que comprovem, cientificamente, 
as propriedades medicinais das plantas, e a 
necessidade de reestruturação do sistema de 
atendimento à saúde, incluindo a capacitação dos 
profissionais que atuam nesta área (Nunes et al., 
2003). 
O consumo de remédios caseiros à base de plantas 
é uma realidade assimilada não só pela indústria 
farmacêutica, como também pelo poder público. Tanto 
assim, que prefeituras de várias capitais, além de 
inúmeras cidades do interior já distribuem 
gratuitamente estes medicamentos à população nos 
postos de saúde. O Ministério da Saúde, que sempre 
mostrou excesso de cautela em relação a esta prática, 
também se curvou às ervas medicinais e delegou à 
Central de Medicamentos (CEME) a tarefa de 
patrocinar, junto a diversas universidades brasileiras, 
estudos sobre as reais propriedades e eventuais efeitos 
tóxicos. 
Após longos e detalhados estudos químicos e 
farmacológicos, os resultados mais conclusivos estão 
agora saindo dos centros de pesquisa e chegando às 
farmácias. 
O resgate e a revalorização crescente da fitoterapia 
no Brasil atual estão a exigir cuidados para que muitas 
plantas de alto valor medicinal não desapareçam das 
matas, da caatinga e do cerrado, antes mesmo que os 
cientistas descubram suas propriedades, para depois 
transformá-las em remédios. A principal providência é 
desenvolver técnicas de cultivo e colheita que não 
comprometam a reprodução dessas espécies. Outra 
medida é evitar que o crescimento urbano desordenado 
cause o extermínio das áreas verdes ricas em ervas 
medicinais, periféricas às cidades (Adeodato et al., 
1996). 
A tendência observada paraa fitoterapia é que esta, 
assim como no passado, desempenhará um papel cada 
vez mais importante na assistência à saúde da 
população. Desta forma, não se pode negar a 
importância da avaliação dos efeitos terapêuticos de 
cada um destes fitoterápicos, através de estudo 
randomizado, duplo-cego e controlado por placebos, 
envolvendo um número significante de pessoas. Além 
do estabelecimento da atividade por meio de testes 
clínicos, outro aspecto relevante é a padronização desta 
atividade, de modo assegurar uma quantidade uniforme 
desta em cada dose (Calixto, 2000). 
Outro aspecto relevante é o cuidado de proceder ao 
cultivo das plantas medicinais em sistema orgânico, 
conservacionista do meio físico e biológico local. Esse 
sistema é plenamente viável numa horta e, acima de 
tudo, necessário para garantir a integridade medicinal 
das plantas. E a horta cumpre, ainda, a função 
paisagística de embelezamento e harmonização do 
espaço entre as edificações urbanas. 
 
Usos das plantas medicinais 
O uso de plantas medicinais no tratamento de 
enfermidades é conhecido desde a mais remota 
antigüidade, sendo as obras mais antigas sobre 
medicina e plantas medicinais originárias da China e 
Egito. Diversas culturas se valeram das plantas 
medicinais, sendo esta a principal, ou mesmo a única 
matéria prima para elaboração de medicamentos (Ody, 
1993). No início do século XX, a descoberta e o 
desenvolvimento de processos de síntese de compostos 
orgânicos, culminaram no desenvolvimento de 
C.A.A. López 
 
 
21
diversos medicamentos. Entretanto, efeitos colaterais, 
causados por eles, somados aos altos valores dos 
medicamentos sintéticos promoveram a busca por 
novas drogas, e o interesse por compostos 
fitoterápicos, uma alternativa de tratamento (Volak e 
Stodola, 1990). 
As plantas medicinais, que têm avaliadas a sua 
eficiência terapêutica e a toxicologia ou segurança do 
uso, dentre outros aspectos, estão cientificamente 
aprovadas a serem utilizadas pela população nas suas 
necessidades básicas de saúde, em função da facilidade 
de acesso, do baixo custo e da compatibilidade cultural 
com as tradições populares. Uma vez que as plantas 
medicinais são classificadas como produtos naturais, a 
lei permite que sejam comercializadas livremente, além 
de poderem ser cultivadas por aqueles que disponham 
de condições mínimas necessárias. Com isto, é 
facilitada a automedicação orientada nos casos 
considerados mais simples e corriqueiros de uma 
comunidade, o que reduz a procura pelos profissionais 
de saúde, facilitando e reduzindo ainda mais o custo do 
serviço de saúde pública (Lorenzi e Matos, 2002). 
A necessidade exige e a ciência busca a unificação 
do progresso com aquilo que a natureza oferece, 
respeitando a cultura do povo em torno do uso de 
produtos ou ervas medicinais para curar as doenças. As 
plantas medicinais sempre foram utilizadas, sendo no 
passado o principal meio terapêutico conhecido para 
tratamento da população. A partir do conhecimento e 
uso popular, foram descobertos alguns medicamentos 
utilizados na medicina tradicional, entre eles estão os 
salicilatos e digitálicos. 
Na América Latina, em especial nas regiões 
tropicais, existem diversas espécies de plantas 
medicinais de uso local, com possibilidade de geração 
de uma relação custo-benefício bem menor para a 
população, promovendo saúde a partir de plantas 
produzidas localmente. No Brasil existem diversidades 
e peculiaridades, com concepções, opiniões, valores, 
conhecimentos, práticas e técnicas diferentes, que 
precisam ser incorporadas e respeitadas no cotidiano, 
influenciadas por hábitos, tradições e costumes. O 
conhecimento e uso das plantas medicinais têm sido 
estimados, baseando em algumas variáveis sociais. 
Algumas características desejáveis das plantas 
medicinais são sua eficácia, baixo risco de uso, assim 
como reprodutibilidade e constância de sua qualidade. 
Entretanto, devem ser levados em conta alguns pontos 
para formulação dos fitoterápicos, necessitando do 
trabalho multidisciplinar, para que a espécie vegetal 
seja selecionada corretamente, o cultivo seja adequado, 
a avaliação dos teores dos princípios ativos seja feita e 
para que a manipulação e a aplicação na clínica médica 
ocorram (Toledo et al., 2003). 
O aproveitamento adequado dos princípios ativos 
de uma planta exige o preparo correto e uso adequado. 
Os efeitos colaterais são poucos na utilização dos 
fitoterápicos, desde que utilizados na dosagem correta. 
A maioria dos efeitos colaterais conhecidos, 
registrados para plantas medicinais, são extrínsecos à 
preparação e estão relacionados a diversos problemas 
de processamento, tais como identificação incorreta 
das plantas, necessidade de padronização, prática 
deficiente de processamento, contaminação, 
substituição e adulteração de plantas, preparação e/ou 
dosagem incorretas (Veiga Jr. e Pinto, 2005). 
Como exemplo de avaliação de qualidade quanto 
aos contaminantes, um estudo investigou amostras de 
camomila (Matricaria recutita) obtidas em farmácias, 
ervarias e mercados. Somente cerca de metade das 
amostras apresentaram os constituintes dos óleos 
essenciais, necessários à atividade antiinflamatória da 
planta. Os resultados com a camomila indicam a 
precariedade com que as plantas medicinais e os 
fitoterápicos vêm sendo comercializados e confirmam 
a necessidade urgente de vigilância destes produtos no 
Brasil (Simões et al., 2001). 
Tradicionalmente utiliza-se a associação de ervas 
medicinais em formulações, que devem ser 
administradas com critério e sob orientação, porque as 
ervas apresentam muitas vezes efeitos farmacológicos 
similares, podendo potencializar suas ações. Os 
medicamentos alopáticos podem ser associados aos 
fitoterápicos, mediante acompanhamento de um 
profissional da área de saúde, lembrando que podem 
potencializar os efeitos de alguns medicamentos 
alopáticos. 
As informações técnicas ainda são insuficientes 
para a maioria das plantas medicinais, de modo a 
garantir qualidade, eficácia e segurança de uso das 
mesmas. A domesticação, a produção, os estudos 
biotecnológicos e o melhoramento genético de plantas 
medicinais podem oferecer vantagens, uma vez que 
torna possível obter uniformidade e material de 
qualidade que são fundamentais para a eficácia e 
segurança. 
As plantas medicinais podem ser classificadas por 
categorias, de acordo com sua ação sobre o organismo: 
estimulantes, coagulantes, diuréticas, sudoríferas, 
hipotensoras, de função reguladora intestinal, 
colagogas, depurativas, remineralizantes e 
reconstituintes (Lorenzi e Matos, 2002). 
Mesmo a fitoterapia sendo eficaz, cabe aos 
profissionais de saúde orientar as pessoas quanto ao 
uso indiscriminado de algumas plantas medicinais. 
A principal causa das intoxicações é a presença de 
alcalóides, cardiotônicos, glicosídios cianogenéticos, 
proteínas tóxicas, glicosídios e furanocumarinas, 
C.A.A. López 
 
 
22
oriundos de algumas espécies de plantas ornamentais. 
Para evitar acidentes é necessário manter as crianças 
afastadas das plantas ornamentais, manipular os 
alimentos corretamente e não utilizar plantas 
medicinais sem o acompanhamento de profissionais 
habilitados (Volak e Stodola, 1990). 
 
Abordagem etnobotânica 
Várias definições podem ser encontradas para 
etnobotânica. Dentre as mais recentes destacam-se: a) 
disciplina que se ocupa do estudo e conceituações 
desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito do 
mundo vegetal - engloba a maneira como um grupo 
social classifica as plantas e a utilidade que dá a elas 
(Posey, 1986); b) verdadeira botânica científica 
voltada para o hábitat e uso de uma etnia específica - 
sendo realizada por alguém treinado em botânica 
científica, que efetuaria correspondências entre a 
classificação científicaocidental e local; c) ciência 
botânica que possui uma etnia específica - vê a cultura 
de uma sociedade como tudo aquilo que alguém tem 
que saber ou crer, a fim de operar de forma aceitável 
para seus membros. 
A etnobotânica aplicada ao estudo de plantas 
medicinais trabalha em estreita cumplicidade com a 
etnofarmacologia, que consiste na exploração 
científica interdisciplinar de agentes biologicamente 
ativos, tradicionalmente empregados ou observados 
por determinado agrupamento humano. A etnobotânica 
é citada na literatura como sendo um dos caminhos 
alternativos que mais evoluiu nos últimos anos para a 
descoberta de produtos naturais bioativos (Nunes et al., 
2003). 
 
Seleção de espécies vegetais 
Várias abordagens para a seleção de espécies 
vegetais têm sido apresentadas na literatura, dentre 
elas, três tipos são alvo de maiores investigações: a) 
abordagem randômica - escolha da planta sem 
qualquer critério, tendo como fator determinante a 
disponibilidade da planta; b) abordagem 
quimiotaxonômica ou filogenética – seleção da espécie 
correlacionada com a ocorrência de uma dada classe 
química de substâncias em um gênero ou família; c) 
abordagem etnofarmacológica - seleção da espécie de 
acordo com o uso terapêutico evidenciado por um 
determinado grupo étnico. De acordo com a 
abordagem randômica 10000 diferentes tipos de 
plantas simbolizam 50000 - 100000 possibilidades 
estruturais de produtos naturais. As probabilidades de 
novas descobertas de substâncias inéditas, bioativas ou 
não, é, sem dúvida, maior na seleção randômica 
(Maciel et al., 2002). 
A seleção etnofarmacológica, no entanto, favorece 
com maior probabilidade a descoberta de novas 
substâncias bioativas. Nesta abordagem as plantas 
medicinais são consideradas não apenas como simples 
matéria prima. A descrição do histórico da planta como 
um recurso terapêutico eficaz para o tratamento e cura 
de doenças de determinado grupo étnico, se traduz na 
economia de tempo e dinheiro, dois dos fatores mais 
perseguidos pelas economias ocidentais (Nunes et al., 
2003). 
 
O Trabalho com Plantas Medicinais 
O número de espécies realmente conhecidas, e 
utilizadas como medicamentos é pequeno, frente à 
biodiversidade vegetal e a devastação causada pelo 
homem, em especial nos séculos XIX e XX (Gottlieb e 
Kaplan, 1990), surgiu então uma política de 
preservação do meio ambiente, com receio da perda de 
espécies raras. Desse modo houve um incentivo às 
pesquisas de levantamentos florísticos e de triagens 
químicas das espécies nativas. No Brasil, menos de 1% 
dessas espécies medicinais nos diferentes ecossistemas 
foram quimicamente estudadas (Vieira, 1993). 
O trabalho com plantas medicinais enfoca a 
questão do cultivo e a produção de mudas. O objetivo 
do trabalho é reunir de forma sistemática, informações 
sobre plantas medicinais mais populares, incluindo as 
nativas e aclimatadas, visando o melhor 
aproveitamento e desenvolvimento de futuras 
pesquisas sobre produtos naturais dos trópicos úmidos. 
As plantas são selecionadas pela eficiência 
terapêutica, verificadas na literatura científica e pela 
adaptabilidade do cultivo nas diferentes regiões. As 
espécies selecionadas são cultivadas em sementeiras e 
canteiros para formar um banco de germoplasma com 
matrizes de mudas sadias e perfeitas, para serem 
oferecidas aos vários segmentos da comunidade, 
interessados no cultivo das plantas medicinais. 
Muitas plantas medicinais têm sido coletadas na 
mata ou nos ambientes naturais. Mas para que seja 
garantida sua preservação e o fornecimento, com 
quantidade e de forma constante, é necessário que 
sejam cultivadas. 
 
Os princípios ativos 
As plantas apresentam diversas vias metabólicas 
secundárias que levam à formação de compostos, cuja 
distribuição é restrita a algumas famílias, gêneros ou 
mesmo espécies. O conjunto de compostos 
secundários nas plantas é resultado do balanço entre a 
formação e eliminação desses compostos durante o 
crescimento da planta, sendo que esse equilíbrio é 
influenciado por fatores genéticos (que são fixos) e 
C.A.A. López 
 
 
23
ambientais como luz, temperatura, tipo de solo, água, 
além de outros, que são variáveis. 
Os compostos produzidos pelos vegetais são 
agrupados em dois grupos: os metabólitos primários, 
tais como carboidratos, aminoácidos e lipídeos; e os 
metabólitos secundários que são compostos elaborados 
a partir da síntese dos metabólitos primários, tais como 
compostos fenólicos, terpenóides, óleos essenciais e 
alcalóides entre outros. São esses compostos os 
responsáveis pelos efeitos medicinais, ou tóxicos, das 
plantas, e eles apresentam grande importância 
ecológica, uma vez que podem atuar na atração de 
polinizadores, ou representar uma defesa química 
contra estresse ambiental (Di Stasi, 1995). 
Esses compostos possuem importantes funções nos 
vegetais, já que são constituídos de substâncias que 
agem na preservação da integridade das plantas. Por 
outro lado, esses compostos, ao serem incorporados ao 
organismo animal, produzem variados efeitos e, 
quando benéficos, caracterizam as plantas que os 
possuem. Muitos desses compostos ou grupos deles 
podem provocar reações nos organismos, esses são os 
princípios ativos. Algumas dessas substâncias podem 
ou não ser tóxicas, isto depende muito da dosagem em 
que venham a ser utilizadas. Assim, planta medicinal é 
aquela que contém um ou mais de um princípio ativo 
que lhe confere atividade terapêutica (Lorenzi e Matos, 
2002). 
Nem sempre os princípios ativos de uma planta são 
conhecidos, mas mesmo assim ela pode apresentar 
atividade medicinal satisfatória e ser usada desde que 
não apresente efeito tóxico. Existem vários grupos de 
princípios ativos, abordaremos apenas alguns de maior 
importância na Tabela 1. 
 
Colheita e processamento 
O primeiro aspecto a ser observado na produção de 
plantas medicinais de qualidade, além da condução das 
plantas, é sem dúvida a colheita no momento certo. As 
espécies medicinais, no que se refere à produção de 
substâncias com atividade terapêutica, apresentam alta 
variabilidade no tempo e espaço. O ponto de colheita 
varia segundo órgão da planta, estádio de 
desenvolvimento, época do ano e hora do dia. 
A distribuição das substâncias ativas, numa planta, 
pode ser bastante irregular, assim, alguns grupos de 
substâncias localizam-se preferencialmente em órgãos 
específicos do vegetal. 
 
Tabela 1. Características de alguns grupos de princípios ativos em plantas medicinais 
Principio 
ativo Propriedades medicinais ou tóxicas 
Alcalóides 
 
Atuam no sistema nervoso central (calmante, sedativo, estimulante, anestésico, analgésico). Alguns 
podem ser cancerígenos e outros antitumorais. 
Mucilagens Cicatrizante, antiinflamatório, laxativo, expectorante e antiespasmódico. 
Flavonóides Antiinflamatório, fortalece os vasos capilares, antiesclerótico, antidematoso, dilatador de coronárias, espasmolítico, antihepatotóxico, colerético e antimicrobiano. 
Taninos Adstringentes e antimicrobianos (antidiarréico). Precipitam proteínas. 
Óleos 
essenciais Bactericida, antivirótico, cicatrizante, analgésico, relaxante, expectorante e antiespasmódico. 
Adaptada de Lorenzi e Matos (2002) 
 
O estádio de desenvolvimento também é muito 
importante para que se determine o ponto de colheita, 
principalmente em plantas perenes e anuais de ciclo 
longo, onde a máxima concentração é atingida a partir 
de certa idade e/ou fase de desenvolvimento. Por 
exemplo, o jaborandi (Pilocarpus microphyllus) 
apresenta baixo teor de pilocarpina (alcalóide) quando 
jovem. O alecrim (Rosmarinus officinalis) apresenta 
maior teor de óleos essenciais após a floração, sendo 
uma das exceções dentre as plantas medicinais de um 
modo geral. 
Há uma grande variação na concentração deprincípios ativos durante o dia: os alcalóides e óleos 
essenciais concentram-se mais pela manhã, os 
glicosídeos à tarde. As raízes devem ser colhidas logo 
pela manhã. Também a época do ano parece exercer 
algum efeito nos teores de princípios ativos. 
As cascas são colhidas quando planta está 
completamente desenvolvida, ao fim da vida anual ou 
antes da floração (nas perenes), nos arbustos as cascas 
são separadas no outono e, nas árvores, na primavera. 
No caso de sementes recomenda-se esperar até o 
completo amadurecimento. No caso de frutos 
deiscentes (cujas sementes caem após o 
amadurecimento), a colheita deve ser antecipada. 
Os frutos carnosos com finalidade medicinal são 
coletados completamente maduros. Os frutos secos, 
como os aquênios, podem cair após a secagem na 
planta, por isso recomenda-se antecipar a colheita, 
como ocorre com o funcho (Foeniculum vulgare). 
C.A.A. López 
 
 
24
Deve-se salientar que a colheita das plantas em 
determinado ponto tem o intuito de obter o máximo 
teor de princípio ativo, no entanto, na maioria das 
vezes, nada impede que as plantas sejam colhidas antes 
ou depois do ponto de colheita para uso imediato. O 
maior problema da época de colheita inadequada é a 
redução do valor terapêutico e/ou predominância de 
princípios tóxicos, como no confrei (Symphitum ssp.). 
Existem alguns aspectos práticos que deveremos levar 
em consideração, no processo de colheita de algumas 
espécies. Na Melissa officinalis L. cortamos seus 
ramos e não somente colhemos suas folhas, desta 
forma conseguimos uma produção em torno de 3 t/ha e 
matéria seca, em cortes, que são efetuados no verão e 
outono. O órgão vegetal seja ele folhas, flor, raiz ou 
casca, quando recém-colhido apresenta elevado o teor 
de umidade e substratos, que concorre para que a ação 
enzimática seja aumentada. A secagem, em virtude da 
evaporação de água contida nas células e nos tecidos 
das plantas, reduz o peso do material. Por essa razão 
promove aumento percentual de princípios ativos em 
relação ao peso do material (Embrapa – Rondônia). 
 
Tabela 2. Recomendações gerais de colheita 
Parte colhida Ponto de colheita 
Casca e entrecasca Quando estiver florida 
Flores No inicio da floração 
Frutos e sementes Quando maduros 
Raízes Quando a planta estiver adulta 
Talos e folhas Antes do florescimento 
Adaptada de Embrapa – Rondônia 
 
Produção e controle de qualidade de fitoterápicos 
A produção de fitoterápicos pressupõe que estudos 
de desenvolvimento tenham sido realizados 
anteriormente, estando os procedimentos e etapas de 
processamento devidamente estabelecidos. Cumprindo 
esse quesito, a obtenção de produtos fitoterápicos, quer 
seja em escala oficinal, hospitalar ou industrial, requer 
conhecimentos e habilidades específicas dos três 
pontos do ciclo de produção de medicamentos. Tais 
conhecimentos e habilidades devem relacionar-se, 
objetivando a produção de produtos farmacêuticos 
adequados, de acordo com os conceitos atuais de 
qualidade, que são o nível de satisfação do produtor e 
usuário do medicamento e o cumprimento de requisitos 
pré-fixados que conduzam à sua total adequabilidade 
ao fim a que se destinam. Portanto, o conhecimento do 
que se pretende fazer deve ser aliado às normas que 
permitam alcançar o objetivo traçado, para alcançar a 
qualidade total. 
O insumo é o conjunto de bens e serviços que 
permite, por meio das ações de transformação, a 
obtenção do medicamento. 
É indispensável que o produtor conheça 
profundamente as matérias-primas empregadas a fim 
de estabelecer, para cada uma delas, uma monografia 
completa, que vai servir como documento básico para 
o estabelecimento da ficha de especificações para 
aquisição, dos protocolos de controle de qualidade, das 
instruções para suas transformações, entre outras. 
De acordo com o tipo de matéria-prima, deverão 
ser delineados os controles de qualidade e tomados os 
cuidados de conservação e manipulação. 
O conhecimento dos adjuvantes empregados deverá 
abranger, em primeiro lugar, as especificações 
adequadas de conservação e manipulação. 
A especificação correta do material de embalagem 
primária pressupõe, por sua vez, o completo domínio 
do material a ser acondicionado e da composição dos 
continentes. A sua reatividade, representada pela 
capacidade de absorver substâncias, de ser permeável a 
gases ou vapores no sentido do ambiente ou do interior 
da embalagem ou de ceder componentes para o 
produto, pode comprometer a qualidade do produto 
final. 
As técnicas de produção e de controle de qualidade 
devem ser precedidas de parâmetros para que as 
operações ocorram sob completo domínio. 
A área física da empresa, atendendo à escala de 
produção, objetiva a adequação de cada área ao tipo de 
ação que será desenvolvida. 
Na produção de produtos fitoterápicos, grande 
atenção deve ser dada no planejamento das áreas à 
preservação da qualidade físico-química e 
microbiológica, quer da matéria-prima ativa, quer dos 
produtos intermediários e final. 
A validação dos equipamentos, aqui entendida 
como o conjunto das ações que procuram verificar o 
correto funcionamento dos mesmos, e a manutenção 
preventiva complementam as atitudes necessárias de 
conformidade às boas práticas de produção. 
Nesta perspectiva se estabelece a montagem do 
Procedimento Operacional Padrão (POP), o qual deve 
fixar os parâmetros de operação a serem mantidos e 
determinar as técnicas de controle de qualidade a 
serem executadas. 
A obtenção de formas farmacêuticas derivadas de 
matéria-prima vegetal necessita de um planejamento 
inicial, com a finalidade de planejar o manejo da 
matéria-prima vegetal e demais adjuvantes de acordo 
com as especificações dos mesmos, além da 
determinação seqüencial das ações de transformação e 
monitoramento dos pontos e metodologias de controle 
mais apropriados. 
Normalmente o produto intermediário que inicia o 
processamento da forma farmacêutica classificasse 
como preparação complexa, trata-se de um produto 
C.A.A. López 
 
 
25
oriundo da transformação da planta ou do 
farmacógeno. 
Dependendo da disponibilidade de mercado, a 
matéria-prima pode ser um extrato ou produto 
derivado, contendo adjuvantes farmacêuticos ou não. 
Este requer uma série de operações de 
transformação. A transformação do material vegetal 
para um produto tecnicamente elaborado, que pode ser 
intermediário ou acabado, implica a utilização de 
operações de transformação tecnológica. 
A complexidade do processo e o número de 
operações envolvidas estão determinados pelo grau de 
transformação tecnológica requerido, que pode ser 
mínimo, como é o caso de pós e drogas rasuradas 
destinados à preparação de chás; ou bem maior, 
quando o objetivo é obter frações purificadas ou 
fórmulas sólidas revestidas. Para cada uma das etapas 
do processo tecnológico, a escolha de uma operação 
específica é determinada pelas características físicas e 
físico-químicas do produto a ser obtido, pela natureza 
da matéria-prima a ser transformada e pelo volume de 
produção exigido. 
A garantia de qualidade do material vegetal a ser 
processado é fundamental na preparação de 
fitoterápicos, devendo considerar-se aspectos 
botânicos, químicos, farmacológicos e de pureza. Por 
esse motivo, além do teor de substância ativa e 
intensidade das atividades farmacológica e 
toxicológica, outros aspectos de qualidade a serem 
avaliados são a carga microbiana, contaminação 
química por metais pesados, pesticidas e outros 
defensivos agrícolas, e presença de matéria estranha, 
como terra, areia, partes vegetais, insetos e pequenos 
vertebrados ou de produtos oriundos destes (Brasil, 
2000). 
 
Conceitos básicos na pesquisa de plantas medicinais 
Em geral a escolha de uma determinada planta 
medicinal é feita através da abordagemetnofarmacológica. Uma vez definida a espécie vegetal 
a ser estudada, define-se também o local da coleta 
(origem da espécie vegetal escolhida: floresta 
amazônica; cerrado; mata atlântica; pantanal; caatinga; 
manguezal; etc.). Nesta fase inicial do trabalho 
científico, o pesquisador deve estar completamente 
inteirado da literatura sobre a planta escolhida, porque 
muitas vezes, plantas medicinais são investigadas 
parcialmente, validando, portanto, o interesse em 
novas investigações científicas. Por exemplo: a) se a 
espécie escolhida é encontrada em regiões diferentes 
no país, tornasse importante avaliar as modificações 
químicas que possam ocorrer em decorrência de 
fatores ambientais variáveis, tais como: fertilidade do 
solo, umidade, radiação solar, vento, temperatura, 
herbivoria, poluição atmosférica e poluição do solo. 
Outros fatores como idade da planta e época de coleta, 
também poderão causar modificações nos teores dos 
constituintes químicos de espécies vegetais; b) se a 
espécie vegetal medicinal estudada sofreu apenas 
investigação fitoquímica, deixando de lado a 
abordagem farmacológica, são válidos estudos que 
interliguem áreas multidiciplinares como etnobotânica, 
química e farmacologia, buscando resultados que 
possam validar ou não o uso da planta como medicinal. 
Em quaisquer circunstâncias, a pesquisa bibliográfica 
da planta alvo deve ser realizada obedecendo-se os 
seguintes fatores: gênero, família e classes de 
substâncias predominantes (Maciel et al., 2002). 
Com a escolha da planta definida e o local de coleta 
estabelecido, o levantamento bibliográfico efetuado e o 
projeto de pesquisa elaborado, parte-se então, para a 
coleta da planta. A planta escolhida deve ser 
seguramente identificada. Para atender esta exigência, 
depende-se de outro especialista: um botânico ou um 
técnico especializado. A falta de identificação 
científica (ou uma identificação errônea) anulará todo 
o trabalho do químico, tornando-o impublicável e 
praticamente inútil. A coleta, portanto, deve constar de 
duas etapas: coleta prévia para a identificação botânica 
da espécie e a coleta definitiva quando se tratar de 
grandes quantidades de material, destinada para 
estudos fitoquímicos e/ou farmacológicos. Na etapa 
prévia, coleta-se pequenos ramos com folhas, flores e 
frutos em vários estágios de desenvolvimento. As 
amostras devem ser representativas do aspecto geral da 
planta, de modo que ramos com danos causados por 
insetos, fungos ou injúria mecânica, devem ser 
evitados, porém, se as amostras representativas 
estiverem com estes danos, devem ser coletadas assim 
mesmo, pois a representatividade é fator prioritário 
(Maciel et al., 2002). 
As amostras coletadas são encaminhadas para um 
herbário, onde são prensadas e secas (no caso de não 
terem recebido este tratamento no local da coleta). 
Após identificação científica, a planta é catalogada 
contendo os seguintes itens: número de registro da 
exsicata; timbre da instituição; rótulo com etiqueta; 
amostra vegetal; envelope para flores e/ou frutos e 
capa de proteção. Concluída esta etapa inicial do 
trabalho, deve-se providenciar o seguinte registro de 
informações: 1) nome científico e família botânica; 2) 
nome de quem identificou a espécie; 3) número de 
registro da exsicata; 4) local do herbário; 5) local e 
data da coleta; 6) nome popular da planta; 7) anotar a 
parte da planta utilizada na medicina popular e suas 
indicações terapêuticas; 8) anotar o tipo de solo onde a 
planta foi coletada, tipo de vegetação local, tipo da 
planta (arbusto ou árvore), horário de abertura floral 
C.A.A. López 
 
 
26
(no caso de conter flores), época de frutificação (no 
caso de conter frutos), cor e cheiro de várias partes da 
planta. Quando possível, deve ser tirada uma ou mais 
fotos da planta inteira no seu hábitat natural (Maciel et 
al., 2002). 
A segunda etapa de coleta, destinada ao estudo 
fitoquímico e/ou farmacológico, consta de uma única 
coleta ou várias coletas. Neste último caso, as coletas 
poderão ser realizadas em épocas diferentes do ano 
e/ou locais diferentes. Caso haja coleta em regiões 
diferentes, inicia-se novamente todo o processo de 
identificação botânica, porque muitas vezes plantas 
diferentes são conhecidas popularmente pelo mesmo 
nome. 
Na etapa que determina o estudo fitoquímico, 
escolhe-se a parte da planta que será investigada (raiz, 
cascas do caule, caule, galhos, folhas, flores, frutos) e a 
quantidade de material que será coletado. 
Num projeto que interligue a fitoquímica com a 
farmacologia deve-se escolher para coleta a parte da 
planta que é utilizada na medicina popular. Coleta-se 
no mínimo 2 kg de material vegetal; no entanto, 
havendo boas condições de trabalho no laboratório, 
deve-se coletar entre 3-6 kg de material vegetal, 
buscando com isso, o isolamento em grandes 
quantidades de substâncias majoritárias, possibilitando 
suas avaliações farmacológicas. Durante a coleta, os 
seguintes itens devem ser cuidadosamente 
monitorados: separação e etiquetagem do material 
coletado; embalagem em sacos plásticos; transporte do 
material; pesagem do material úmido; secagem do 
material; pesagem do material seco; armazenagem; 
moagem; pesagem do material triturado; obtenção de 
extratos. A secagem pode ser realizada ao sol, à 
sombra ou em estufa, sempre com circulação de ar. 
Caso haja interesse no óleo essencial, deve-se evitar a 
secagem. A armazenagem deve ser feita em sacos 
plásticos, acondicionados em caixas de papelão 
guardadas em local seguro, com baixa umidade e 
temperatura (Maciel et al., 2002). 
Desta maneira, previne-se reações de oxidação, 
hidrólise, ataque de microorganismos, entre outros. A 
moagem só deverá ser efetuada na ocasião da 
preparação dos extratos. A preparação de extratos é 
feita geralmente por percolação (método de extração a 
frio), Soxhlet (método de extração a quente) ou ácido-
base. 
A investigação preliminar de constituintes 
químicos representa, muitas vezes, um estímulo 
motivador da curiosidade, já que possibilita o 
conhecimento prévio dos extratos e indica a natureza 
das substâncias presentes, facilitando a escolha de 
técnicas de fracionamento cromatográfico. As 
principais classes de constituintes químicos de plantas 
que podem ser detectadas com a aplicação de testes 
analíticos padrões são: ácidos graxos; terpenóides; 
esteróides; fenóis; alcalóides; cumarinas e flavonóides. 
Dados da literatura sobre as classes de substâncias 
detectadas em plantas do mesmo gênero da espécie que 
será investigada, devem ser analisados e catalogados 
(Matos, 2000). 
A escolha dos métodos e separação estão 
correlacionados com o tipo de extrato com o qual se 
está trabalhando e com as condições de infra-estrutura 
do laboratório, onde o trabalho está sendo 
desenvolvido. A avaliação farmacológica de extratos 
brutos, frações e substâncias isoladas devem seguir 
rigorosamente as indicações terapêuticas empíricas 
divulgadas por estudos etnobotânicos. A seleção 
correta de testes biológicos específicos, permitirá uma 
avaliação do uso terapêutico da espécie vegetal, 
fornecendo também, informações sobre a toxicidade da 
planta (Maciel et al., 2002). 
 
Avaliação biológica 
A elucidação dos componentes ativos presentes nas 
plantas, bem como seus mecanismos de ação, vem 
sendo um dos maiores desafios para a química 
farmacêutica, bioquímica e a farmacologia. As plantas 
contêm inúmeros constituintes e seus extratos, quando 
testados podem apresentar efeitos sinérgicos entre os 
diferentes princípios ativos devido a presença de 
compostos de classes ou estruturas diferentes 
contribuindo para a mesma atividade. No estudo da 
atividade biológica de extratos vegetais é importante a 
seleção de bioensaios para a detecção do efeito 
específico. Os sistemas de ensaio devem sersimples, 
sensíveis e reprodutíveis. 
Os bioensaios podem envolver organismos 
inferiores (microorganismos e microcrustáceos, entre 
outros), ensaios bioquímicos visando alvos 
moleculares (enzimas e receptores) e cultura de células 
animais ou humanas. Contudo, o teste adequado 
dependerá da doença alvo. 
Os laboratórios de fitoquímica normalmente não 
estão preparados para a realização de ensaios 
biológicos elaborados. O ensaio da letalidade de 
organismos simples, como o microcrustáceo marinho 
Artemisa salina Leach, permite a avaliação da 
toxicidade geral e é considerado um bioensaio 
preliminar no estudo de extratos e metabólitos 
especiais com potencial atividade biológica. 
O desenvolvimento de novas drogas bioativas 
necessita de modelos apropriados para a identificação 
de alvos moleculares que sejam fundamentais no 
crescimento celular seja in vitro ou in vivo. 
Entre os principais alvos intracelulares temos o 
DNA, RNA, microtúbulos e enzimas. Entre o grande 
C.A.A. López 
 
 
27
número de ensaios possíveis para a obtenção de 
componentes ativos de plantas, selecionamos alguns 
testes in vivo e in vitro para avaliação da atividade 
antitumoral, antiestrogênica e antimutagênica, que 
constituem alvos de grande importância terapêutica 
(Maciel et al., 2002). 
 
Conclusões 
O planejamento do estudo farmacológico com 
plantas tidas como medicinais na forma de chás e 
extratos exige investigações minuciosas, em face de 
inúmeros fatores que comumente dificultam a 
comprovação em modelos animais e humanos, já que 
são misturas complexas e indefinidas de princípios 
ativos e outros secundários que, além de variarem 
constantemente sua composição, podem se potenciar 
ou antagonizar mutuamente, bem como, com certa 
freqüência, não produzirem efeitos agudos, em face de 
períodos de latência que podem alcançar várias 
semanas. 
O conhecimento destes fatos contribuirá 
fundamentalmente para a utilização racional das 
plantas medicinais e seus preparados com base na 
medicina tradicional, cabendo aos profissionais das 
áreas de saúde, estarem atentos quanto à orientação de 
utilização de chás medicinais, bem como na prática de 
farmacovigilância. 
 
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