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CAPÍTULO 4: MOMENTO DE TRANSPORTE E MATRIZ MODAL BRASILEIRA. Alexandre da Silva Paim1 Como estamos? Onde estamos? Prezado (a) aluno (a): Neste capítulo será visto como é calculada uma matriz modal, o que exige conhecer o conceito de momento de transporte. Para isso também foi necessário conceituar alguns tipos de carga como granel. Para podermos avaliar a matriz modal brasileira e sua adequabilidade ao país são examinadas comparativamente as características dos modais e são feitas comparações entre a matriz modal brasileira e as de outros países. Também é feita uma análise do motivo da matriz brasileira ser predominantemente rodoviária. 4.1 – Classificação de cargas Pode-se classificar as cargas segundo critérios como: a) facilidade de movimentação e armazenagem; b) periculosidade (explosiva, tóxica, corrosiva, radioativa, bioperigosa, etc.); c) valor (alto valor ou não); d) perecibilidade; e) volume (cargas de alto volume ou cargas fracionadas); f) diversos outros critérios. Iremos adotar neste capítulo e nos de custos o primeiro critério de classificação. Isto posto iremos classificar as cargas em granel, neo granel e carga geral. Os granéis são cargas homogêneas de grande volume, não embaladas, que assumem a forma do recipiente onde são colocadas. Se prestam, portanto, ao preenchimento praticamente completo dos compartimentos de carga dos veículos de transporte e são muito adequados à movimentação mecanizada, ou seja, sua movimentação e armazenagem são muito eficientes. Há três tipos básicos de granéis: sólidos (minérios, farelos, grãos e pós), líquidos (petróleo, gasolina, álcool, leite, ácidos, água, etc.) e gasosos (nitrogênio, oxigênio, gás liquefeito de petróleo, gás natural 1 Mestre em Ciências Empresariais, consultor e professor adjunto da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA. veicular, etc.). O granéis sólidos são normalmente movimentados por esteiras transportadoras e os granéis líquidos e gasosos são movimentados por bombas e tubulações. Os granéis sólidos e líquidos não são armazenados sob pressão, mas os gasosos são mantidos pressurizados (normalmente para mante-los liquefeitos) nos veículos, que não podem ser perfurados sob risco de explosão. Ou seja, apesar de o granel gasoso frequentemente ser transportado na forma líquida (pressurizada) ele não é um granel líquido, pois os veículos são muito diferentes. Os neo-granéis são quase um granel, apenas que com dimensões bem maiores. Eles são cargas sólidas homogêneas de grande volume, embaladas, que assumem parcialmente a forma do recipiente onde são colocadas. Se prestam, frequentemente, ao preenchimento praticamente completo dos compartimentos de carga dos veículos de transporte e são frequentemente adequados à movimentação mecanizada, ou seja, sua movimentação e armazenagem são também muito (apesar de menos que os granéis) eficientes. Como exemplos pode-se citar açúcar e café ensacado, produtos siderúrgicos (e.g. bobinas de aço), CKD (Car Knocked Down)2, madeiras em bruto ou semi-manufaturadas, celulose, papel em bobinas, contêineres em navios porta-contêiner, veículos transportados em navios Ro-Ro, etc. A carga geral ou carga fracionada (break bulk) é a carga geral solta (sacaria, fardos, caixas de papelão e madeira, engradados, tambores, etc.), não homogênea (poucos itens de cada tipo e uma variedade muito grande de itens). Este tipo de carga exige atenção no manuseio e na armazenagem, o que gera baixa eficiência nestas operações. 4.2 – Unidade de Medida de Transporte A unidade de Medida de Transporte que é mais usada em logística é o Momento de Transporte que é dado em t.km (tonelada vezes quilômetro) ou TKU (tonelada vezes quilômetro útil). O Momento de Transporte é calculado multiplicando o peso total da carga transportada pela distância percorrida por ela. Esta unidade é muito usada quando se tratam de granéis sólidos, pois nesse caso o peso da carga é mais significativo que seu volume ou seu preço. Vejamos o exemplo a seguir. Exemplo 1 Duas empresas transportaram no mesmo período o mesmo tipo de granel sólido. A empresa X transportou 500 t para um destino 1 000 km distante e a empresa Y transportou 2 000 t para um destino 2 CKD são carros desmontados, ou seja, milhares de caixas iguais são embarcadas com as partes dos automóveis para determinado lugar onde serão montados. a 30 km de distância. Qual delas movimentou mais carga? Resolução: Momento de Transporte da empresa X = 500 t x 1 000 km = 500 000 t.km Momento de Transporte da empresa Y = 2 000 t x 30 km = 60 000 t.km Resposta: a empresa X teve maior movimentação de carga (quase 10 vezes maior que a da empresa Y) 4.3 – Matriz Modal A matriz modal indica a distribuição percentual dos momentos de transporte de cada modal para um país, estado ou organização. Vejamos no exemplo a seguir como calcular uma matriz modal. Exemplo 2 1. Uma companhia que produz granéis sólidos transportou em 1 ano as quantidades abaixo. Via RODOVIÁRIA Via FERROVIÁRIA 3 500 t de B à A 2 500 t de A à C 2 000 t de A à D 900 t de C à B Calcular a) o momento total de transporte (t.km), b) a matriz modal (%), Resolução: MT de B à A = 3 500 t x 60 km = 210 000 t.km MT de A à D = 2 000 t x 40 km = 80 000 t.km MT rodoviário = 290 000 t.km MT de A à C = 2 500 t x 40 km = 100 000 t.km MT de C à B = 900 t x 55 km = 49 500 t.km MT ferroviário = 149 500 t.km MT total = MT rodoviário + MT ferroviário = 290 000 t.km + 149 500 t.km = 439 500 t.km Parcela rodoviária = 290 000 t.km / 439 500 t.km = 0,6598 = 65,98 % Parcela ferroviária = 149 500 t.km / 439 500 t.km = 0,3402 = 34,02 % Resposta: a) momento de transporte total = 439 500 t.km b) matriz modal: RODOVIÁRIA = 66 % e FERROVIÁRIA = 34 % A C B D 40km 40km 35km 55km 60km 4.4 – Matriz Modal Brasileira Os países periodicamente fazem levantamentos de seus momentos de transporte e cálculos de matriz modal. A Figura 1 apresenta a distribuição (matriz) dos modais de transporte regional de carga no ano de 2011. O que fica claro do gráfico é o predomínio do modal rodoviário sobre os outros modais. Figura 1: Distribuição modal da matriz brasileira de transportes regionais de cargas em 2011. Fonte: MT (2012). O Quadro 1 apresenta a evolução da matriz modal brasileira desde 1996. O que se percebe é um claro decréscimo da participação do modal rodoviário e um crescimento do modal ferroviário. Estes resultados não são casuais, mas resultado de ações do governo federal neste sentido. Quadro 1: Matriz modal brasileira. MODAL 1996 2005 2011 Aéreo 0,33 0,4 * Hidroviário 11,47 13,0 13,0 Dutoviário 3,78 3,6 5,0 Ferroviário 20,74 25,0 30,0 Rodoviário 63,68 58,0 52,0 Fonte: Ministério dos Transportes, 2013. A pergunta que surge é: o que havia (ou há) de errado na matriz modal brasileira? Para responder a esta pergunta é necessário comparar nossa matriz com a de outros paísese também fazer uma análise histórica. O Quadro 2 compara as densidades das malhas rodoviárias e ferroviárias. Isto nos permite perceber que quantidade de ferrovias no Brasil é muito baixa se comparada com outros países. Mas a nossa densidade de rodovias também está muito baixa. Quadro 2: Comparativo entre as densidades ferroviária e rodoviária de diversos países Países Densidade Ferroviária m/km 2 Densidade Rodoviária m/km 2 Alemanha 107,5 647,2 Argentina 12,9 20,5 Brasil 3,3 19,4 Chile 8,3 17,9 Espanha 24,7 322,5 Estados Unidos 16,8 379,5 França 58,5 1 789,6 México 13,5 48,7 Uruguai 16,9 67,8 Fontes: GEIPOT/Anuário Estatístico dos Transportes- 2000. DITIAS/ALADI – 2000, Já a Quadro 3 apresenta uma matriz modal apenas com os três mais significativos modais em 2007. Mas mesmo assim fica difícil identificar se a matriz modal está inadequada ou não. Quadro 3: Participação relativa de cada modo no sistema de transportes de diferentes países em 2007 Fonote: PNLT (2012) O que se sabe é que a matriz modal brasileira mostra um predomínio do modal rodoviário. A Figura 1 apresenta informações mais esclarecedoras: neste gráfico ficou claro que o Brasil apresenta uma matriz modal semelhante a de países como Alemanha, Dinamarca, Bélgica e França. Como são países desenvolvidos poderia ser bom, mas o critério de avaliação deve ser outro. O que na verdade está acontecendo é que o Brasil está com uma matriz modal de países com pequenas dimensões geográficas, que se situam na parte superior esquerda do gráfico (mais de 50 % rodoviário e menos de 50 % ferroviário). Sua matriz modal deveria posicionar-se no canto inferior direita do gráfico junto com países de grandes dimensões geográficas como EUA, China, Canadá e Rússia. Figura 1: Comparativo entre as matrizes modais de diversos países em 2001. Mas por que esta é uma matriz adequada para países de maiores dimensões territoriais? O quadro 4 nos dá o indicativo. O modal rodoviário é mais indicado (por ser mais barato) para transportes de distâncias pequenas e o modal ferroviário é mais barato para longas distâncias, ou seja, para países como França, Bélgica e Dinamarca (viaja-se menos de 500 km para atravessa-los) o modal mais barato é o rodoviários e para países maiores geograficamente o modal mais barato é o ferroviário. Quadro 4: Características dos modais mais significativos. Modal Distância recomendada típica Consumo de combustível para transportar 1000t Comboio para transportar 6000t de granel Custo de implantação para 1 km de via Rodovia Até 500 km 15 L/km 172 carretas bitrem graneleiro de 35 t US$ 440 mil Ferrovia 500 km a 1 500 km 6 L/km 86 vagões de 70 t + 3 locomotivas US$ 1 400 mil Hidrovia Mais de 1 500 km 4 L/km 4 chatas + 1 empurrador US$ 34 mil São várias as causas do predomínio do transporte rodoviário no Brasil. A partir da segunda metade da década de 1950 (vinda de montadoras de automóveis para o Brasil) que o transporte rodoviário realmente se firmou no Brasil. Entre 1940 e 1970 a malha rodoviária foi aumentada de 185 000 km para cerca de 1,5 milhão de km. Por outro lado a malha ferroviária foi reduzida de 38 mil km para aproximadamente 30 mil km nesse mesmo período, ou seja começou a ser sucateada. Não foi muito diferente com o modal aquaviário cujos portos ainda apresentam baixa eficiência. Os governos federais consideravam apenas o modal rodoviário como importante e deixaram de fazer os investimentos necessários nos modais ferroviário e aquaviário. Mas os resultados mostrados no Quadro 1 mostram que os esforços do governo estão iniciando o processo de fazer a matriz modal brasileira ser adequada às dimensões do país. A consequência disso a longo prazo será uma diminuição do custo Brasil. Referências Bibliográficas MT – Ministério dos Transportes. PNLT – PLANO NACIONAL DE LOGÍSTICA E TRANSPORTES. Projeto de Reavaliação de Estimativas e Metas do PNLT. Brasília: Ministério dos Transportes, 2012. Atividades 1) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque (X) somente na resposta verdadeira. A.( ) O consumo de combustível em L por t.km do caminhão é muito mais baixo que do navio. B.( ) O modal ferroviário tem um custo de implantação mais baixo que o aquaviário. C.( ) O Brasil tem uma matriz modal de países de grandes dimensões territoriais como EUA, Canadá e China. D.( ) Nenhuma é verdadeira. 2) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque (X) somente na resposta verdadeira. A matriz modal brasileira é predominantemente rodoviária por A.( ) ser este um modal mais moderno que o ferroviário e o aquaviário. B.( ) decisões de governos anteriores de adotar um modal de países desenvolvidos como Alemanha, França, Dinamarca, etc. C.( ) decisões de governos federais desde meados do século 20 de investir quase que exclusivamente em rodovias e pouco em ferrovias e hidrovias. D.( ) Nenhuma das acima. 3) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque (X) somente na resposta verdadeira. Com relação ao momento de transporte, pode-se afirmar que A.( ) considera tanto o peso transportado como o volume transportado. B.( ) considera o peso transportado e a distância percorrida. C.( ) considera o peso transportado e a velocidade dos veículos (entrega no momento adequado). D.( ) Nenhuma é verdadeira. 4) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque (X) somente na resposta verdadeira. Granel é um tipo de carga que: A.( ) assume a forma do recipiente onde é colocada. B.( ) é composta apenas de grãos. C.( ) não se presta à mecanização do carregamento e descarregamento. D.( ) não pode ser molhada. 5) A partir dos estudos desenvolvidos nesse capítulo, marque (X) somente na resposta verdadeira. Uma companhia que produz granéis sólidos transportou em 1 ano as quantidades abaixo. Via RODOVIÁRIA, com total pago por fretes de R$ 140 000: 2 000 t de A à B 350 t de A à C 1 000 t de A à D Via FERROVIÁRIA, com total pago por fretes de R$ 50 000: 1 800 t de B à A 500 t de B à C 1 500 t de B à D Calcular o movimento total de cargas (t.km) e a matriz modal (%). A.( ) 362 000 t.km; RODO 51,9 % e FERRO 48,1 %. B.( ) 362 000 t.km; RODO 48,1 % e FERRO 51,9 %. C.( ) 174 000 t.km; RODO 48,1 % e FERRO 51,9 %. D.( ) 188 000 t.km; RODO 51,9 % e FERRO 48,1 %. Respostas: 1 – D; 2 – C; 3 – B; 4 – A; 5 – B. A C B D 40km 40km 35km 55km 60km
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