Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 1 1. Histórico da Cana-de-açúcar. A provável origem da cana-de-açúcar é o norte da Índia. Há referências sobre a produção de açúcar na Pérsia por volta do ano 500 D.C., conhecido como "Kandisefid" através do cozimento do caldo até a cristalização, seguindo-se a drenagem do mel excedente por gravidade. Da Pérsia, foi levada para a costa ocidental através do Mar Mediterrâneo e daí para a Espanha, por volta do século VIII. Nos séculos XI e XII, através das Cruzadas se espalhou por toda Europa, África, China, alcançando a Ilha da Madeira. Na América foi introduzida por Colombo em São Domingos, em 1.494. No Brasil, o plantio iniciou-se em São Vicente, em 1.522, trazida por Martim Afonso de Souza. O primeiro engenho foi chamado de São Jorge dos Erasmos. Dois anos depois se dava a instalação em Pernambuco. No século XVII, a indústria açucareira sofreu expansão com ajuda dos holandeses, aumentando a produção brasileira de açúcar na época. No século XVIII ocorreu novo declínio decorrente da forte concorrência exercida pelo mercado europeu, especialmente com o açúcar produzido no Suriname e nas Antilhas. Já nos séculos XIX e XX a agroindústria canavieira passou por períodos de alto e baixos, devido à concorrência de outros mercados. Em meados da década de 70, o Brasil tornou-se vulnerável no campo energético, devido à alta do preço do petróleo no mercado internacional. Surgiu então, o Proálcool, com a finalidade de produzir o etanol ou álcool etílico, um combustível alternativo, ecológico e renovável para a substituição da gasolina, com o objetivo maior de reequilibrar a balança comercial, reduzindo as evasões de divisas. Hoje, no Brasil, de 3 a 4 milhões de hectares são cultivados com cana-de-açúcar, produzindo 14 bilhões de litros de álcool combustível, além de fazer com que o país detenha o título de maior produtor mundial de açúcar e desenvolva a tecnologia da co-geração de energia elétrica e adubos orgânicos e organo-minerais utilizando-se dos subprodutos da cana-de-açúcar. 1.1 Classificação Botânica Temos estabelecida a seguinte classificação botânica para a Cana-de-açúcar segundo CRONQUIST (1981): DIVISÃO Magnoliophyta CLASSE Liliopsida SUB CLASSE Commelinidae ORDEM Cyperales FAMÍLIA Poaceae TRIBO Andropogonae SUBTRIBO Saccharininae GÊNERO Saccharum A classificação em espécies botânicas mais aceita é a de Jeswiet, que agrupa as espécies existentes da seguinte forma: Saccharum officinarum L. Compõe-se de plantas de porte médio e alto. Os colmos normalmente são grossos e com elevados teores de sacarose, porém com baixos teores de fibra fibra. São plantas exigentes em relação Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 2 às condições edafoclimáticas e sensíveis a pragas e doenças. No Brasil, os cultivares Riscada, Roxa, Cristalina, Manteiga, Caiana, Preta, dentre outras já foram cultivadas em larga escala. Saccharum spontaneum L. Constitui-se de plantas mais baixas do que as da espécie anterior, com colmos curtos, finos, fibrosos, praticamente sem açúcar. O sistema radicular destaca-se por ser abundantemente perfilhado e bem desenvolvido. Essa espécie é menos exigente em termos de fertilidade, apresentando maior adaptabilidade a condições adversas. Caracteriza-se ainda por ser resistente ao virus do mosaico. Saccharum sinense Roxb São encontradas na Ásia (China e Japão). São plantas de porte alto, colmos finos e fibrosos com teores médios de sacarose. Normalmente o sistema radicular é bem desenvolvido e pouco exigente em termos de fertilidade do solo. A resistência ao mosaico não é característica generalizada entre os cultivares, embora alguns o manifeste. O cultivar Cana de Ubá é o representante mais conhecido dessa espécie nas nossas condições. Saccharum barbieri Jesw Normalmente é constituída por plantas de baixo porte, colmos finos com elevados teores de fibra e baixos teores de sacarose. São plantas rústicas, tolerantes a solos pobres, tolerantes ao frio e susceptível ao virus do mosaico. Destaca-se, dentro dessa espécie, as “Canas Indianas” entre as quais destaca-se a Chunnee. Saccharum robustum Jesw. As plantas dessa espécie podem atingir até 10 metros de altura. Apresentam altos teores de fibras e baixos teores de sacarose. São plantas susceptíveis ao virus do mosaico, mas toleram bem o excesso de umidade. Saccharum edule Exemplares dessa espécie limitam-se a áreas restritas da Nova Guiné e ilhas vizinhas. As inflorescências são normalmente entumecidas com flores abortivas utilizadas na alimentação de habitantes da região. A cana-de-açúcar pode-se reproduzir por sementes (sexuada) ou por brotação de gemas (assexuada). A via sexuada é fortemente influenciada por fatores como localização geográfica e variáveis climáticas. Essa possibilidade se efetiva apenas em estações experimentais que operam programas de melhoramento genético para a obtenção de novas variedades. Em condições de produção industrial, o processo levado a cabo baseia-se na brotação de gemas de plantas sadias de variedades selecionadas por apresentar características de interesse industrial. Nesse sistema a cana-de-açúcar uma vez colocada em contato com o solo, picada em toletes no sulco de plantio ou não, e em condições favoráveis de umidade e temperatura, brota através das gemas, as quais irão formar uma nova parte aérea e prosseguir o seu desenvolvimento vegetativo. O corte do colmo em toletes é realizado com o objetivo de facilitar a inserção do rizoma no sulco de plantio, visto que muitos apresentam-se recurvados e evitar possível interferência da gema apical, que poderia inibir a germinação de outras gemas (efeito hormonal). O início da brotação das gemas também é acompanhado pela formação inicial do sistema radicular em que finas e numerosas radicelas vão evoluindo, formando um sistema radicular completo do tipo fasciculado, cujas dimensões são variadas Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 3 dependendo da variedade, preparo e tipo de solo e do número de cortes. Na maioria dos casos, 70% do sistema radicular encontra-se nos primeiros 45 centímetros de profundidade, o que faz com que todas as preocupações recaiam sobre esta faixa do perfil do solo. O colmo assume forma cilíndrica, de diâmetro e comprimento variado. É fibroso e com teor de açúcar variando principalmente em decorrência de fatores hídricos e térmicos. É constituído por nós e entrenós, que podem ser de diversas formas, mas a mais comum é a cilíndrica, podendo também ter forma de carretel ou tumescente, sua parte mais mole (entrenós) é onde se acumula a maior parte da sacarose. Os nós, geralmente são mais duros, com baixa concentração de sacarose, e possui importantes características para a identificação das variedades, como: - cicatriz foliar; - gemas - podem ser apical ou subapical ; - região ponteada - formação sistema radicular; - região cerosa abaixo da cicatriz foliar - glauca; - anel de crescimento. Figura 1.1. Aspectos morfológicos da cana de açúcar. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 4 O colmo tem a função de armazenar sacarose e outros materiais, além de atuar como suporte para as folhas e inflorescência, conduzir água e nutrientes entre as folhas e o sistema radicular (relação xilema/floema). As folhas se formam e se apoiam na base dos nós. São alternadascom tonalidades variadas de verde, conforme as características das variedades. Têm comprimento e largura variadas e como funções principais destacam-se a realização da fotossíntese e a transpiração (a função é manter a temperatura no interior da planta em níveis suportáveis). A cana-de-açúcar, de acordo com a variedade e estímulos climáticos, podem emitir inflorescência em forma de panícula, sendo que as espiguetas aparecem aos pares, com pêlos sedosos característicos. O ovário tem forma ovalada e contém um único óvulo. 1.2. Composição Química e Tecnológica. Dentre os fatores que influenciam a composição química da cana-de-açúcar destacam-se o clima, solo, adubação, infestações de plantas daninhas, pragas, doenças, variedade, entre outros. As variedades comerciais, de um modo geral, apresentam características de composição tecnológica que variam dentro de certos limites restritos, conforme o apresentado a seguir. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 5 1.3. A escolha das Variedades de Cana-de-açúcar. As variedades de cana-de-açúcar são híbridos complexos, desenvolvidos de forma a contemplar os seguintes aspectos: - maior produção de açúcar por unidade de área plantada; - resistência à doenças e pragas; - resistência à aplicação de herbicidas e inseticidas; - persistência da produtividade ao longo dos sucessivos cortes; - adaptação a solos e climas diversos; - resistência ao tombamento; - porte ereto; - separação facilitada da palha do colmo; - resistência ao impacto por máquinas e implementos; - nitidez de diferenciação das variedades aptas ao corte manual com queima da palhada ou ao corte mecanizado da cana cru; - não ocorrência de florescimento e isoporização; - favorecimento da ação de maturadores através da maior eficiência de absorção desses produtos; - alta velocidade de crescimento vegetativo para o rápido sombreamento das entrelinhas; - resistência à ação de microrganismos deterioradores; - atendimento às exigências tecnológicas. Portanto, nem sempre uma nova variedade deve obrigatoriamente produzir mais do que outra. Ela pode produzir igual ou até menos, mas possuir características específicas que tornem interessante o seu cultivo. A seguir, algumas das variedades mais plantadas no Estado de São Paulo em 1.998 e 1.999 e suas características principais(Tabelas 1.1 e 1.2). 1.3.1. Exigências agroclimáticas e de solo da Cana-de-açúcar. A cana-de-açúcar caracteriza-se por se adaptar plenamente a climas tropicais, quentes e úmidos, com temperaturas entre 19 a 32ºC e índices pluviométricos de aproximadamente 1.000 mm anuais bem distribuídos. No transcorrer do seu desenvolvimento, a cana-de-açúcar possui dois períodos distintos: o de crescimento vegetativo e o de maturação. O crescimento vegetativo (úmido e quente) e o de maturação (frio e seco). Dessa forma existem períodos mais adequados para o plantio, tratos culturais de cana-planta e cana-soca e colheita. A realização da fertirrigação constitui-se num fator que pode influenciar os procedimentos, permitindo, por exemplo, a realização do plantio em qualquer época do ano. Nesses casos questões relacionadas à profundidade de plantio, camada de solo sobre os toletes, aplicação de fungicidas e inseticidas no solo para o controle de pragas e doenças devem se adequar às condições climáticas do período. Outros fatores também influenciam no desenvolvimento e maturação da cana-de-açúcar, como a intensidade de luminosidade, a altitude e a ocorrência de geadas. A luminosidade exerce influência no crescimento vegetativo e na maturação, pois estabelece correlação direta com a síntese, translocação e acúmulo de carboidratos das folhas para o colmo. Temperaturas excessivamente baixas influem negativamente no crescimento e desenvolvimento vegetativo, podendo resultar em escoriações, morte da gema apical e em casos extremos, em morte da planta. Isto ocorre principalmente na região centro-sul do Brasil, no período de inverno. São os fenômenos conhecidos por geadas. As geadas são de 2 tipos: a negra (podendo ocorrer de temperaturas negativas até alguns pontos acima de 0 o C) e a branca (ocorre a temperaturas inferiores a Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 6 0 o C). Quando da ocorrência desses fenômenos, as medidas a serem adotadas dependerão da temperatura e umidade do local de cultivo (ar e solo). Em casos de baixa temperatura e umidade, é possível se manter a cana no campo por mais tempo, sem a ocorrência de prejuízos significativos a sua qualidade como matéria prima para a indústria. Em condições opostas (alta temperatura e umidade), deve-se preceder ao encaminhamento, o mais rápido possível, do material à indústria. Entretanto, as decisões a serem tomadas devem considerar as seguintes variáveis: a idade, o estágio de desenvolvimento da cultura, e a finalidade à qual se destina o canavial (produção de mudas ou de matéria prima para a indústria). Em casos de viveiros, quando da ocorrência de geadas, deve-se proceder à colheita e o seu encaminhamento para a indústria. Em termos de fertilidade, pode-se considerar como solo ideal aquele que apresente atributos assim definidos: solos arejados, profundos, não muito secos nem muito úmido, de boa fertilidade e pH em CaCl2 variando de 5,2 a 6,0. Quanto à textura, a cana se adapta em quase todos os tipos de solo. Antes da implantação do Proálcool (1973), os solos ocupados no Brasil com cana-de-açúcar eram solos argilosos, de fertilidade média/alta, normalmente representados pelas terras roxas estruturadas que passaram, com o tempo, a apresentar problemas causados pela compactação em função da movimentação de veículos envolvidos na mecanização da cultura (tratos culturais e transporte). Com a expansão das fronteiras, em busca de novas áreas para produção, foram implantadas novas áreas de cultivo, em solos mais arenosos, até então, com vegetações de cerrado, mais frágeis e de alto custo para recuperação da fertilidade através de corretivos, fertilizantes e preparo. Portanto, atualmente a cultura da cana-de-açúcar é cultivada praticamente em todos os tipos de solo no Brasil. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 7 Tabela 1.1. Principais Variedades cultivadas em 1.998/1.999. Variedades Exigênci a em fertilidad e dos Solos Produti vidade Agrícol a Potencial de Acúmulo de Sacarose Época Início Corte PUI (meses) Veloci dade de Cresci mento Brotação de soqueira Ferru gem Carvão Floresci mento Isoporiz ação Fecham Entre linha Tomba- mento Queimada Crua RB72 454 Média Muito Alta Alto Setemb ro 3 Rápida Boa Ruim Resist ente Resisten te Eventua l Baixa Bom Médio RB82 5336 Md/Bx Alta Média Agosto 3 Rápida Muito Boa Muito Boa Resist ente Resisten te Não Não Bom Muito RB83 5486 Md/Alta Md/Alt a Muito Alto Maio 3 - 4 Rápida Boa Boa Mod. Moderad o Sim Baixa Bom Muito RB84 5257 Média Muito Alta Alto Setemb ro 3 Rápida Boa Média Resist ente Moderad o Sim Baixa Bom Médio RB85 5113 Md/Alta Muito Alta Alto Agosto 3 Média Lenta Muito Boa Média Resist ente Resisten te Sim Média Bom Não RB85 5536 Média Muito Alta Alto Julho 4 - 5 Rápida MuitoBoa Muito Boa Resist ente Resisten te Não Não Muito Bom Médio SP79 – 1011 Média Alta Alto Julho 3 - 4 Média Muito Boa Muito Boa Susce ptível Resisten te Não Não Médio Não SP79 – 2233 Muito Alta Md/Alt a Muito Alto Junho 3 Lenta Muito Boa Boa Resist ente Resisten te Não Não Bom Não SP80 – 1816 Média Alta Alto Julho 3 - 4 Rápida Muito Boa Boa Resist ente Resisten te Eventua l Baixa Ruim Médio SP80 – 1842 Média Md/Alt a Muito Alto Maio 3 Muito Rápida Boa Boa Resist ente Resisten te Sim Baixa Ruim Muito SP81 – Nédia Muito Alto Junho 3 - 4 Rápida Muito Boa Boa Resist Moderad Sim Conside Muito Médio Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 8 3250 Alta ente o rável Bom Tabela 1.2. Outras atividades que serão cultivadas em 1.998/1.999. Variedades Exigência Produtivi dade Potencial Início PUI Velocidade Brotamento de soqueira Ferrugem Carvão Floresci mento Isoporiz ação Fechamam ento na entrelinha Tomba- mento Fertilidade Agrícola Sacarose Corte Meses Cresciment o Queimada Crua SP80 – 0180 Média Alta Md/Bx Agosto 3 Rápida M. Boa M. Boa Res. Res. Sim Média Bom Muito SP80 – 0185 Alta Alta Alto Julho 3 Lenta Boa Boa Res. Mod. Sim Média Ruim Não SP80 – 1836 M. Alta Média M. Alto Maio 3 Médio Média Média Mod. Mod. Não Não Ruim Médio SP80 – 3280 Média Alta Médio Agosto 3 - 4 Rápida Boa Boa Mod. Res. Sim Baixa Bom Muito SP81 – 1763 M. Alta Alta M. Alto Maio 3 Lenta Boa M. Boa Susceptivel Res. Sim Baixa Ruim Não RB80 6043 Média Alta Md/Bx Agosto 3 - 4 Rápida M. Boa Boa Mod. Suscepti vel Não Não Médio Não RB83 5089 Média Alta Md/Bx Agosto 3 - 4 Rápida Boa Boa Res. Res. Não Não Ruim Não RB84 5197 Média Md/Alta Md/Bx Agosto 2 - 3 Lenta M. Boa Boa Res. Res. Sim Muito Bom Não RB84 5210 Alta Md/Alta Md/Alto Julho 3 Médio Boa Boa Res. Res. Sim Baixa Bom Médio RB85 5035 Alta Md/Alta M. Alto Maio 3 Rápida Boa Boa Susceptivel Res. Sim Baixa Ruim Médio RB85 5036 M. Alta Alta M. Alto Junho 3 Lenta M. Boa Boa Res. Res. Eventua l Baixa Bom Não RB85 5156 Alta Md/Alta M. Alto Maio 3 - 4 Rápida M. Boa Boa Res. Res. Sim Baixa Médio Muito RB85 5453 M. Alta Média M. Alto Maio 2 - 3 Médio Média Ruim Res. Res. Sim Baixa Ruim Médio IAC82 2045 Média Md/Alta Médio Agosto 2 - 3 Médio M. Boa Boa Res. Res. Sim Baixa Bom Médio IAC86 2210 Alta Média M. Alto Maio 2 - 3 Rápida Boa ? Res. Res. Sim Baixa Médio Muito Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 9 A cana-de-açúcar é uma cultura que protege o solo contra a erosão, principalmente, quando adulta e plantada em nível. Dependendo do tipo de solo e da topografia, além do plantio em nível, normalmente são necessários terraços de base larga ou embutidos. Em solos de textura arenosa, especialmente em períodos chuvosos, tem-se que atentar à profundidade dos sulcos de plantio e à camada de solo sobre os toletes, pois dependendo da intensidade das chuvas, existe a possibilidade de assoreamento dos sulcos, comprometendo a brotação das gemas o que proporcionará descontinuidade das linhas de plantio, afetando o "Stand" dos talhões e os níveis de produtividade. 1.3.2. Planejamento da Lavoura de Cana-de-açúcar O planejamento agrícola, se não for bem executado, trará conseqüências desastrosas para o setor industrial, refletindo no balanço financeiro do processo. Para evitar que isso ocorra é necessário dispor de uma estimativa da quantidade total de cana para ser processada na safra (própria + arrendada + fornecedor), da qualidade da matéria-prima, do manejo varietal, dimensionamento e manutenção de distância das frentes de colheita e custos das manutenções de fluxo contínuo de cana para a indústria, além do conhecimento detalhado dos solos e relevos das áreas cultivadas, da resistência à pragas e doenças, controle sanitário dos equipamentos e mudas, origem dessas. 1.4. Composição Química da cana-de-açúcar 1.4.1- Análise Foliar Os resultados da análise foliar em cana-de-açúcar são influenciados por diversos fatores: - tipo de folha amostrada; - estado de sanidade da folha; - idade cronológica e fisiológica da cultura; - fatores climáticos; - variedade; - altitude da região; - atributos do solo; - pragas e doenças do sistema radicular ; - integridade do sistema radicular afetada por danos mecânicos causados por implementos e herbicidas. Na Tabela 1.3 são apresentados os intervalos de variação dos teores de nutrientes em folhas de cana-de-açúcar, considerando-se médias de vários países (ANDERSON & BOWEN, 1992) e níveis adequados para o Estado de São Paulo ( MALAVOLTA, 1982 ). Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 10 Tabela 1.3. Variação dos teores de nutrientes em folhas de cana-de-açúcar. NUTRIENTES VARIAÇÕES PAÍSES* TEORES PARA O ESTADO DE SÃO PAULO* % N 1,50 – 2,70 1,90 - 2,10 P 0,08 – 0,35 0,20 - 0,24 K 0,62 – 2,00 1,10 - 1,30 Ca 0,18 – 0,76 0,80 - 1,00 Mg 0,08 – 0,35 0,20 - 0,30 S 0,03 – 1,00 0,25 - 0,30 (ppm) B 1 – 30 15 – 50 Cu 3 – 100 8 – 10 Fe 20 – 600 200 – 500 Mn 12 – 400 100 – 250 Mo 0,05 – 4,0 0,15 - 0,30 Zn 15 – 50 25 – 50 *Cana planta com 4 meses. Valores válidos para a folha +3. 1.4.2. Análise química do solo. A análise química do solo é a principal ferramenta para se avaliar a fertilidade do mesmo e, conseqüentemente, a necessidade de correção e adubação para suprir as exigências nutricionais da cana-de-açúcar. As operações necessárias para essa avaliação podem ser divididas em 3 etapas: amostragem de campo, análise laboratorial, interpretação dos resultados e recomendações. Para que a amostra coletada seja representativa da área amostrada tem-se que seguir algumas recomendações básicas: - Delimitação de áreas visualmente homogêneas; - Uso de trados para retirar amostra; - Realizar uma perfuração para cada 2 ha. Separar as profundidades amostradas e após término da coleta, homogeneizar separadamente as referentes a uma profundidade, fazendo então, uma amostragem composta. Considerar as profundidades 0-25cm e 25- 50cm. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 11 Figura 1.2. Amostragem do solo nas profundidades 0-25 e 25-50 cm empregando-se trado dotado de rosca helicoidal. 1.4.2.1. Calagem do Solo. A calagem do solo constitui-se em importante operação agrícola que justifica-se por: - corrigir a acidez do solo; - aumentar os teores disponíveis de Ca e Mg no solo; - diminuir teores elevados e tóxicos de Al e Mn por insolubilização e precipitação; - melhoria das propriedades físicas e biológicas do solo, criando condições favoráveis ao desenvolvimento de microrganismos do solo; - acelerar o processo de decomposição da Matéria Orgânica do solo em conseqüência do aumento da atividade biológica; - melhor aproveitamento dos fertilizantes através do comprometimento da Capacidade de Troca de Cátions do solo com elementos desejáveis (K + , Ca ++ e Mg ++ ), em detrimento dos ions H + e Al + que acabam por precipitar, não sendo portanto absorvidos pelas plantas (liberação de cargas dependentes do pH) e da maior liberação N, P e S para a solução dosolo. Contudo, deve-se considerar que a calagem excessiva pode criar condições para o surgimento de sintomas de deficiência de Boro e Fósforo nas plantas como conseqüência da sua menor disponibilidade no solo. Para o cálculo da quantidade de calcário a ser aplicada a um determinado solo, pode se empregar a seguinte fórmula matemática: N.C. = ( 60 - V ) x T PRNT Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 12 N.C. = Necessidade de Calagem (t ha -1 ). V = Saturação por Bases (% da CTC ocupada por K + , Ca ++ e Mg ++ ). T = Capacidade de Troca de Cátions do solo (mmolc dm -3 ). PRNT = Poder Relativo de Neutralização Total (Valor fornecido pelo fabricante). Quanto à distribuição do calcário, esta deve ser realizada a lanço, em área total. O ideal, é aplicar metade da quantidade recomendada antes da aração e o restante após, de preferência com arado do tipo aiveca, que possibilita a incorporação do calcário em camadas mais profundas, do que quando se emprega grades aradoras ou arados convencionais. O calcário, também pode ser usado no sulco de plantio, principalmente em áreas de cultivo mínimo e em superfície, ao lado das touceiras quando se trata de cana-soca, com posterior incorporação quando da realização dos tratos culturais. 1.4.2.2. Gessagem do Solo. O gesso agrícola é um subproduto da fabricação de adubos fosfatados concentrados. Constitui-se em importante fonte de Cálcio e Enxofre para as plantas. Em decorrência da grande quantidade em que é produzido, trata-se de um produto de baixo custo. O gesso não é corretivo de solo, apesar de, em certas situações, possibilitar a redução da toxicidade de Al +++ ao permitir a sua lixiviação ao longo dos perfis dos solos e a sua concomitante substituição por ions Ca ++ . O gesso agrícola têm como função complementar a ação do calcário, através da aplicação de misturas (75% de calcário + 25% de gesso). Em situações específicas, de solos com saturação de Alumínio no horizonte B superior a 50%, essa prática pode favorecer o desenvolvimento do sistema radicular das plantas. A aplicação, de forma isolada, do gesso deve ser realizada a lanço, em área total. Em épocas chuvosas não há necessidade de se proceder à incorporação. 1.4.3. Preparo do Solo. 1.4.3.1. Sistema convencional de preparo do solo. A cultura da cana-de-açúcar, em todas as etapas do seu estabelecimento e desenvolvimento, envolve o uso de máquinas agrícolas, as quais são empregadas desde o preparo do solo até a colheita, principalmente se o corte for mecanizado. Evidentemente, esse tráfego de equipamentos pesados sobre o solo pode ocasionar a formação de camadas adensadas no perfil, o que afeta a aeração, a densidade e a condutividade hidráulica do solo, com reflexos negativos sobre o desenvolvimento do sistema radicular das plantas. Portanto, a descompactação dessas áreas deve ser realizada quando da realização do preparo do solo. Considerando-se que a cana-de-açúcar é uma gramínea semi-perene, o preparo do solo reveste-se de grande importância, pois tem influência significativa na produtividade média dos sucessivos cortes realizados. Por outro lado, se no preparo convencional do solo Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 13 o objetivo é eliminar as camadas compactadas, a realização indiscriminada de operações motomecanizadas pode agravar tais problemas, pois os implementos podem provocar a desagregação da estrutura do solo, o que facilita a ocorrência de erosão e o adensamento. Assim, as práticas a serem realizadas dependem, sobretudo, do conhecimento prévio das propriedades físicas desse solo, que irão servir de parâmetro para a escolha dos equipamentos e a maneira de se realizar esse preparo. Os Principais equipamentos utilizados para o preparo convencional do solo, podem ser utilizados em diferentes combinações, dependendo das propriedades físicas do solo: Primeira combinação (recomendada para solos eutróficos argilosos) - Calagem - Grade intermediária 26 x 26" ( erradicar soqueira ) - Arado de Aiveca - Grade Niveladora Segunda combinação (recomendada tanto para solos arenosos quanto argilosos. Visa reduzir o tempo gasto na fase de preparo do solo) - Calagem - Grade Aradora 24 x 30" - Subsolador - Grade Niveladora Terceira combinação (recomendada para solos arenosos, pois não provocará alterações significativas nos diferentes horizontes que compõem o perfil). - Calagem - Eliminador de soqueira - Arado bacia - Grade Intermediária - Grade Niveladora Também, incluem-se no preparo convencional a construção de curvas de nível ou de terraços que podem ter diversos tipos de formas e tamanhos. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 14 Figura 1.3. Preparo de solo empregando-se revolvedor de solo. Equipamento utlizado nos EUA. Figura 1.4. Preparo de solo empregando-se grade aradora pesada. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 15 Figura 1.5. Preparo de solo empregando-se de “Scrapper” para nivelamento de solo visando otimizar o desempenho da colheita mecanizada. 1.4.3.2. Cultivo mínimo ou Plantio Direto. Antes reservado apenas às áreas de maior declividade, o cultivo mínimo ou plantio direto tem se tornado cada vez mais freqüente na cultura da cana-de-açúcar, especialmente em áreas de reforma, onde os cortes se realizam por máquinas sem a queima da palhada. O alto custo da incorporação desse material e os efeitos danosos da movimentação do solo fazem com que o cultivo mínimo surja como alternativa de grande interesse. Muito ainda há para se pesquisar sobre a mudança provocada por essa nova situação, no que se refere ao comportamento da cultura, pragas, doenças, novas infestações de plantas daninhas, nova biologia do solo, etc. Basicamente, o cultivo mínimo ou plantio direto resume-se a duas operações: uma pulverização com herbicida para a erradicação química da soqueira e escarificação com um escarificador dotado de disco cortante. A calagem ou a calagem mais a gessagem, é feita superficialmente e não incorporada. Em alguns casos, a calagem é feita no fundo do sulco de plantio. Na maioria das vezes, faz-se rotação de cultura com soja ou milho. Amendoim e girassol, estão em fase de teste. 1.5. Recomendações de adubação mineral de plantio e soqueira em Cana-de- açúcar. 1.5.1. Macronutrientes. 1.5.1.1. Nitrogênio. Através das análises químicas do solo, têm-se constatado que tanto o teor de N total quanto o teor de matéria orgânica não têm se mostrado eficientes nas orientações ou recomendações de adubações nitrogenadas para a cultura da cana-de-açúcar. Em cana-planta, os efeitos decorrentes da realização de adubações nitrogenadas, na maioria das vezes, não resultam em ganhos significativos em termos de produtividade. Esses efeitos esperados, quando ocorrem concentram-se nas seguintes condições: - sob cultivo mínimo; - solos eutróficos; - áreas de primeiro cultivo de cana-de-açúcar. Em cana-soca, as respostas positivas à fertilização nitrogenada, têm ocorrido em solos de elevada fertilidade. Existem várias fontes minerais de nitrogênio, como a uréia, sulfato de amônio, nitrato de amônio, aquamônia, etc. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 16Figura1.6. Cana-planta deficiente em nitrogênio (esquerda) e plantas normais (direita), Fonte: J. Orlando Filho). 1.5.1.2. Fósforo. Em áreas de expansão da cana-de-açúcar, freqüentemente o fósforo é o fator limitante. Normalmente, em solos tropicais, este elemento tende a ser imobilizado, o que impede a sua absorção pelas plantas. Especificamente para a cana-de-açúcar é procedimento comum a realização de adubação fosfatada no fundo do sulco de plantio. Em casos de solos com teores muito baixos de fosfatos, pode-se também realizar a adubação fosfatada para atender às exigências nutricionais da cana-soca, com o objetivo de minimizar a queda de produtividade que caracteriza essa fase do processo produtivo. Mesmo considerando ser a cana-de-açúcar uma cultura semi-perene (ciclo de vida maior do que culturas anuais), o desempenho dos fosfatos solúveis, supera o dos fosfatos naturais. Foto 7. À frente plantas com severa deficiência de fósforo. (Fonte: J. Orlando Filho). 1.5.1.3. Potássio. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 17 A adubação potássica adequada do solo cultivado com cana-planta e/ou cana-soca tem resultado em incrementos significativos da produtividade e da qualidade da matéria prima. Tanto o excesso, quanto a falta de potássio no solo, podem diminuir a qualidade da matéria-prima, influenciando diretamente os teores de sacarose e de fibra da cana. Em cana-planta, a baixa disponibilidade pode conduzir à brotação vagarosa. Em determinadas condições, como as que ocorrem em solos arenosos, mesmo sendo realizada a fertilização potássica, pode-se ter a ocorrência de níveis do elemento aquém da exigência da cultura decorrente do fenômeno denominado de lixiviação de potássio que, nessas condições pode ser elevada. Figura 1.8. Plantas apresentando folhas com sintonmas de deficiência de potássio. (Fonte: J. Orlando Filho). 1.5.1.4. Recomendação de adubação mineral de plantio em Cana-de-açúcar. Na tabela abaixo, são indicadas as quantidades de nitrogênio, fósforo e potássio a aplicar com base na análise de solo e nas metas de produtividade. Metas de produtivi dade Nitrogênio P-resina (mg dm - ³) 0 - 6 7 - 15 16 - 40 >40 K+ TROCÁVEL (mmol dm - ³) 0 - 0,7 0,8 - 1,5 1,6 - 3,0 3,1 – 6,0 >6,0 T ha -1 N (kg ha -1 ) P2O5 (kg ha -1 ) K2O (kg ha -1 ) < 100 30 180 100 60 40 100 80 40 40 0 Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 18 100 – 150 30 180 120 80 60 150 120 80 60 0 > 150 30 - 140 100 80 200 160 120 80 0 1.5.1.5. Recomendação da adubação mineral em soqueira na Cana-de-açúcar. Na Tabela abaixo, são indicadas as quantidades de Nitrogênio, Fósforo e Potássio a aplicar com base na análise de solo e nas metas de produtividade esperadas. Metas de produtividade Nitrogênio P-resina (mg dm - ³) 0 - 15 > 15 K+ Trocável (mmol dm-³) 0 - 1,5 1,5 - 3,0 > 3,0 t ha -1 N (Kg ha -1 ) P2O5 (Kg ha -1 ) K2O (Kg ha -1 ) < 60 60 30 0 90 60 30 60 - 80 80 30 0 110 80 50 80 - 100 100 30 0 130 100 70 > 100 120 30 0 150 120 90 1.5.2. Micronutrientes. Principalmente nos solos de menor fertilidade, o cobre e o zinco são os micronutrientes mais limitantes para cana-de-açúcar. Nos Estados do Nordeste, suas deficiências são mais freqüentes (ORLANDO FILHO, 1993). Na região sul do país, ocorre deficiência de ferro no início da brotação da soqueira, mas não chega a afetar a produtividade. Em relação ao boro, sua deficiência é muito semelhante à doença causada pelo Fusarium monilifome, conhecida por " Pokkah boeng ". Sua correção é feita com fertilização com Bórax ou ácido bórico. 1.5.3. Subprodutos da industrialização da cana-de-açúcar Em usinas de açúcar e álcool, através dos processos de fabricação, são gerados alguns resíduos usados como fertilizantes. Entre eles, os destaques ficam por conta da torta de filtro e da vinhaça. A partir de uma tonelada de cana, gera-se, em média, no Estado de São Paulo 35 kg de torta de filtro. Contudo essa produção estabelece correlação inversa com a qualidade da matéria-prima. A torta de filtro pode ser usada em área total na dose de 80 a 100 t ha -1 antes do preparo de solo. Alternativamente pode-se ainda aplicar de 40 a 50 t ha -1 nas entre linhas da cana-soca ou de 15 a 30 t ha nos sulcos de plantio. A torta de filtro atua principalmente como fonte de fósforo e cálcio, além de apresentar elevados teores de matéria orgânica em sua composição, que lhe confere também característica de atuar como condicionador do Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 19 solo. Em contra partida, uma tonelada de cana pode gerar de 700 a 1300 l de vinhaça, dependendo da porcentagem de moagem destinada a fabricação de álcool. Em relação a sua composição, a vinhaça apresenta, em sua maior parte, água. Na fração sólida predomina a matéria orgânica, ficando por último os elementos minerais. Entre os elementos minerais, o que ocorre em maiores teores é o potássio. Apesar do seu elevado poder poluente a vinhaça promove grande benefício ao setor produtivo à medida em que é utilizada como fonte de potássio, matéria orgânica e água, através da fertirrigação de solos cultivados cana-de- açúcar. Sua distribuição nos canaviais é feita por irrigação - aspersão via canal ou veículos- tanque. Suas doses variam de acordo com os atributos do solo e custos de aplicação. Seu emprego pode resultar em aumento da produtividade agrícola e longevidade dos canaviais. Figura 1.9. Aplicação de vinhaça por aspersão por sistema combinado de transporte rodoviário e sistema de alimentação de canhão aspersor por moto- bomba. 1.6. Plantio. 1.6.1. A melhor época. O conhecimento da melhor época de plantio é de fundamental importância no planejamento da atividade canavieira, pois permite otimizar o processo produtivo através da ampliação do Período Útil de Industrialização, o que vai possibilitar a colheita de matéria prima de melhor qualidade por um período de tempo maior. Deve-se levar em conta, o ciclo da variedade e o tipo de solo. Em áreas não irrigadas é possível o estabelecimento de 3 épocas distintas de plantio, para a região centro-sul: - Cana de ano e meio: de janeiro a abril; - Cana de ano: de setembro a outubro. - Cana de dois verões: novembro a dezembro. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 20 Em área em que há possibilidade de se proceder à irrigação o ano todo, o plantio pode ser efetuado em qualquer época de acordo com a necessidade. 1.6.2. Espaçamento. De acordo com o solo, a variedade e o tipo de corte (manual ou mecanizado), bitola do trator e implementos disponíveis, o espaçamento entrelinhas varia de 1m a 1,50. 1.6.3. Plantio Convencional. A cana-de-açúcar pode se multiplicar via sexuada e assexuada. Quando se trata de talhões industriais tem-se a necessidade de se obter a multiplicação de forma rápida e homogênea. Nessa situação é maisinteressante optar-se pela via assexuada. Para tanto, a forma utilizada é multiplicação por brotamento de gemas. Assim, colmos adultos são dispostos no interior do sulco e, em seguida seccionados em toletes com o objetivo de se "quebrar" a dominância da gema apical, o que permite com que todas as gemas laterais do colmo tenham condições de brotar. O corte das mudas é realizado manualmente, carregadas por guinchos em caminhões e distribuídas manualmente por sistemas denominados "banquetas". O corte dos toletes se dá manualmente em sulcos previamente abertos. Nessa fase, pode se lançar mão de fungicidas e inseticidas, que são aplicados no solo. Esta fase caracteriza-se por empregar grande quantidade de mão-de-obra, o que é responsável pelo alto custo de implantação da lavoura. Figura 1.10. Distribuição manual de colmos nos sulcos de plantio. 1.6.4. Plantio Mecanizado. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 21 Todas as divisões do trabalho, desde o corte da “olhadura” (muda de cana) até a aplicação de herbicida, são realizados por máquinas de alta tecnologia, empregando-se mão-de-obra especializada, responsável pelo alto custo da operação. Figura 1.11. Transbordo de mudas colhidas através de máquinas para plantio mecanizado. Figura 1.12. Plantio mecanizado. 1.7. Tratos Culturais. Em cana-planta as atividades operacionais resumem-se em: quebra de lombo uma ou duas vezes, dependendo se o primeiro corte da cana for mecanizado ou não; aplicação de herbicida; controle de pragas e catação de escape de ervas daninhas. Em cana-soca as operações realizadas são: tríplice operação (adubação + subsolagem + grade niveladora ou destorroadora); aplicação de torta de filtro e/ou vinhaça; aplicação de herbicida; catação de escape de ervas daninhas e controle de pragas. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 22 1.8. Pragas de maior importância econômica para cana-de-açúcar e seu controle. 1.8.1. Pragas de parte aérea. Broca do colmo - Diatraea spp. Sintomas de ataque: Diretos: morte da gema apical, redução de peso, quebra dos colmos e brotações laterais. Indiretos: inversão da sacarose. Controle: 1) Químico: não viável economicamente. 2) Biológico: através de larvas de Cotesia flavipes, cujo controle pode ser considerado satisfatório. Figura 1.13. Crisálida de Diatrea Saccharalis em galeria no colmo. Fonte: Botelho & Macedo. Figura 1.14. Inimigo natural – Vespa Cotesia Flavipes ovopositando em lagarta Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 23 de Diatrea Saccharalis. (Fonte: Botelho & Macedo). Cigarrinha da folha - Mahanarra posticata Sintomas: ninfas adultas picam as folhas das canas, injetando toxina, causando necrose. Os prejuízos representam da ordem de 17% do rendimento agrícola. Controle: 1) Químico: pouco eficiente. 2) Biológico: mais econômico através do fungo Metarhizium anisopliae Figura 1.15. Adulto de Mahanarva posticata (cigarrinha). (Fonte: Botelho & Macedo). Formiga Saúva - Atta bisphaerica Atta capiguara Sintomas: desfolha contínua das plantas, causando falhas e redução de “stand” e formação dos colmos do canavial, estima-se que um sauveiro pode diminuir em até 5% a produção de um hectare. Controle: 1) Mecânico: restrito a sauveiros novos. 2) Iscas: prático, mas não pode ser aplicado em épocas de chuvas. 3) Termonebulização: eficiente, mas de alto custo inicial. 4) Fumigação: alta toxidade. 1.8.2. Pragas de hábitos subterrâneos. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 24 Cupins (Heterotermes, entre outros). Sintomas: alimentam-se de tecidos vegetais vivos ou mortos, atacam toletes, danificam gemas provocando falhas no plantio. Na cana adulta, atacam os entrenós da base, provocando redução no crescimento e seca dos colmos. Podem reduzir a produtividade agrícola em até 10 t ha -1 . Controle: 1) Químico: endosulfan 4,0 L ha-1. Figura 1.16. Colmo atacado por cupim do gênero Heterotermes. (Fonte: Botelho & Macedo). Migdolus Sintomas: o ataque em cana-de-açúcar se dá em reboleiras, danificando os toletes em cana- planta levando à não brotação das gemas e, conseqüentemente, desuniformidade no "Stand". Em cana-soca, alimenta-se dos entrenós basais, levando a planta à morte. Controle: 1) Químico: mais eficiente. 2) Mecânico: preparo de solo profundo e bianual, destruindo-se a soqueira. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 25 Figura 1.17. Larva de Migdolus friannus. (Fonte: Botelho & Macedo). Figura 1.18. Macho e fêmea de Migdolus Friannus. (Fonte: Botelho & Macedo). 1.9. Doenças da Cana-de-açúcar. No mundo, tem-se listado e classificado mais de 216 doenças em cana-de-açúcar. Destas pelo menos, 60 foram encontradas no Brasil, sendo que podemos classificar as 10 espécies com maior importância para a economia canavieira. A maioria dos agricultores brasileiros desconhecem a importância dessas doenças, pois o controle das mesmas, está embutido nas características agronômicas das variedades industriais, mas basta expandir a multiplicação sem os devidos cuidados (fitossanitários) para que a variedade se torne susceptível. Assim, as doenças podem se manifestar de forma mais enérgica, o que resulta em perdas econômicas expressivas. As principais medidas de controle são: variedades resistentes; viveiros sadios; tratamento térmico de mudas; escolha do local e época de plantio; manejo da época de colheita. Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 26 A Tabela 1.4 relaciona as principais doenças de cana-de-açúcar no Brasil, como se transmite, os sintomas e o controle mais eficaz. Tabela 1.4. Principais doenças, sintomas e formas de controle relacionadas com cana-de- açúcar no Brasil. Doença Agente causal Formas de transmissão Sintomas mais evidentes Controle mais eficaz Escaldadura das folhas Bactéria Mudas, corte Estrias brancas, brotação lateral Variedade resistente, mudas sadias Raquitismo das soqueiras Bactéria Mudas, corte Entupimento dos vasos, brotação de soca Variedade resistente, tratamento térmico Mosaico Vírus Mudas, pulgões Mosaico nas folhas Variedade resistente, "roguing" do viveiro Carvão da cana Fungo Mudas, vento Chicote Variedades resistentes, tratamento térmico e "roguing" Estria vermelha Bactéria Mudas, vento Estrias vermelhas nas folhas, podridão da cana Variedade resistente, adubação balanceada Mancha ocular Fungo Vento Mancha com estrias avermelhadas Variedade resistente, adubação balanceada Ferrugem da cana Fungo Vento Queima das folhas, esporos cor de ferrugem Variedade resistente, manejo da colheita Mancha amarela Fungo Vento Manchas amarelas ou avermelhadas nas folhas Variedade resistente, variedade que não floresce Podridão vermelha Fungo Broca, chuva Podridão avermelhada internamente, riscas vermelhas transversais Controle de broca, variedade resistente Podridão abacaxi Fungo Inseto, solo Podridão com odor de abacaxi e esporos pretos Época de plantio, mudas novas, plantio raso Capítulo 1A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 27 Figura 1.19. Sintoma de ataque do fungo da ferrugem em folhas de cana-de-açúcar. (Fonte: H. Tokeshi). Figura 1.20. Ocorrência de carvão em cana-de-açúcar. (Fonte: H. Tokeshi). Capítulo 1 A Cultura da Cana-de-açúcar MARCOS OMIR MARQUES 28 Figura 1.21. Estria vermelha em colmo de cana. (Fonte: H. Tokeshi). Figura 1.22. Fungo causador da mancha amarela. (Fonte: H. Tokeshi). Figura 1.23. Colmos atacados pela “Podridão Abacaxi” (Fonte: H. Tokeshi).
Compartilhar