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Capítulo 8 Cristalização MARCOS OMIR MARQUES 106 8. CRISTALIZAÇÃO 8.1. CRISTALIZAÇÃO EM MOVIMENTO Objetivando o crescimento a e uniformidade dos cristais formados na fase de cozimento do xarope, a massa cozida descarregada dos cozedores é encaminhada a tanques dotados de pás agitadoras e sistema de refrigeração. Tais recipientes são denominados tanques de cristalização em movimento ou cristalizadores. Assim, a massa cozida, após ter sido processada nos cozedores, à temperatura na faixa de 65-70 º C e coeficientes de supersaturação de aproximadamente 1,20, são descarregadas nos referidos tanques onde é mantida em regime de agitação lenta sobre refrigeração, o que torna possível a continuidade do processo de cristalização iniciado na fase de cozimento do xarope. Esse fenômeno só é possível pois, as condições de supersaturação da massa são viabilizadas pela redução da temperatura. A agitação também assume grande importância na medida em que garante o crescimento dos cristais em tamanho de forma individual. A não realização de agitação poderia fazer com que a massa cozida se solidificasse, formando um único bloco, o que não seria desejável. Dessa forma, essa fase do processo, visa, além do aumento do tamanho dos cristais, também a exaustão máxima possível da sacarose presente no melaço. Esse objetivo para ser atingido exige que se trabalhe em temperaturas reduzidas ao mínimo possível, desde que permita a movimentação das pás agitadoras do equipamento. Com esse procedimento obtém-se um progressivo decréscimo da solubilidade da sacarose, o que garante as condições necessárias de supersaturação da massa, viabilizando o crescimento dos cristais. Normalmente nos cristalizadores a temperatura da massa gira em torno de 55 º C, mas dependendo das características da massa cozida esses valores podem sofrer oscilações na faixa de 45 – 50ºC, para massas cozidas de densidades elevadas, e acima de 35ºC, para massas cozidas de baixas densidades. A velocidade de resfriamento nos cristalizadores depende das características da massa cozida (por exemplo densidade), da natureza das impurezas, do formato dos equipamentos e potência de acionamento dos sistemas de agitação. Quando se trata de massa cozida de baixa pureza, a velocidade de cristalização varia acentuadamente, influenciando de forma direta o tempo necessário para que o processo se conclua. Para se manter altas velocidades de cristalização, sem o aparecimento espontâneo de novos cristais, os melhores resultados são obtidos quando a velocidade de resfriamento se dá no mesmo rítimo da velocidade de cristalização. Nessas condições, a supersaturação não sofre mudanças significativas, principalmente depois que a temperatura mínima é atingida. Capítulo 8 Cristalização MARCOS OMIR MARQUES 107 Figura 8.1. Relação entre a porcentagem de cristais na massa cozida e Pureza do mel final para cozimentos conduzidos em tempos diferentes. Algumas indústrias preferem cristalizadores dotados de sistemas de resfriamento rápidos, e outras, mais lentos. O tempo para se atingir a temperatura de 49 º C, por exemplo, gira em torno de 9 horas, quando se trata de sistema de refrigeração rápido. Outros, dotados de sistemas mais lentos, chegam a necessitar de 16 horas para atingir os mesmos 49 º C. Geralmente a velocidade de resfriamento situa-se próxima de 1,5 a 2,0 º C h -1 . Quando o teor de açúcares invertidos, em massas cozidas mais pobres, é elevado, o resfriamento rápido não causa elevação da viscosidade do licor mãe a ponto de reduzir a taxa de cristalização da sacarose. Porém, quando o teor de açúcares invertidos, em massas cozidas mais ricas, é baixo, o resfriamento rápido pode causar significativo aumento da viscosidade do licor mãe, o que diminui a taxa de cristalização da sacarose, refletindo na menor esgotabilidade do melaço. Em refinarias, os rendimentos mais altos são obtidos quando se emprega resfriamentos rápidos. Nessas condições, nas primeiras 24 horas se observa queda de pureza de 6,40 pontos e somente 2,8 pontos nas 24 horas subseqüentes. Assim, a queda de pureza não é proporcional à exaustão do açúcar do licor mãe, pois outras perdas por inversão e destruição podem ocorrer durante o processo de resfriamento. Os melhores resultados são atingidos quando a massa cozida é rapidamente resfriada a temperatura mínima a qual se adequa o cristalizador. A mesma deverá ser mantida até que as condições de saturação desejadas sejam atingidas. A taxa de resfriamento, contudo, deve ser limitada à zona de supersaturação metaestável, evitando a ocorrência de granagem expontânea que levaria ao aparecimento de novos cristais, causando desuniformidade no tamanho dos cristais do processo final. Em algumas situações específicas pode-se proceder à diluição da massa cozida no interior dos cristalizadores ou após a cristalização em movimento, antes de se proceder à centrifugação. A movimentação da massa cozida dentro dos cristalizadores á afetada pela viscosidade a baixas temperaturas e altos teores de sólidos. Quando a relação Açúcares Capítulo 8 Cristalização MARCOS OMIR MARQUES 108 Redutores/ Cinzas é baixa na fase de cozimento, a massa cozida tem que ser concentrada até próximo de 100 º Brix, o que causa mais problemas, principalmente em sistemas continuo de cozimento do xarope. A utilização de água para a diluição da massa cozida é comum em vários países. Alguns adotam a adição de melaço diluído visando a redução da viscosidade. Porém, na literatura existem trabalhos que não recomendam essa prática. Após o período de cristalização o licor mãe deve ser mantido na zona de supersaturação metaestável, podendo- se reduzir a sua viscosidade através do reaquecimento ou da diluição com água, desde que não se passe pela zona não saturada ou pela combinação de ambos. A adoção de um ou outro procedimento deve ser levado em consideração, não apenas elementos teóricos, mas também os práticos. É bem verdade que a diluição com água é mais efetiva do que o reaquecimento da massa cozida para a redução de sua viscosidade. Entretanto, na prática, essa diluição, as vezes, não é possível, o que pode justificar a adoção de outras alternativas como o reaquecimento, por exemplo. O reaquecimento da massa cozida pode ser realizado dentro dos cristalizadores em uma etapa intermediária entre estes e a centrifugação ou em ambas as etapas. Tecnicamente é desejado que a temperatura da massa cozida seja aumentada sem alterar as condições de saturação do licor mãe, evitando, assim, que ocorra a solubilização dos cristais. Quando se processa massa cozida de alta qualidade e de alta densidade é possível se atingir temperaturas mais elevadas, mantendo as condições de saturação e a diferença entre a temperatura mínima e máxima é menor do que para o caso de massas cozidas de baixas purezas. O reaquecimento dos cristalizadores pode ser obtido da circulação de água quente no elementos utilizados normalmente para o resfriamento. A temperatura da água não deve ser mais do que 2 º C acima da temperatura desejada para o licor mãe. O rápido reaquecimento da massa cozida e o envio imediato da mesma para as centrífugas, minimiza possíveis perdas caracterizadas pelo aumento da pureza do melaço. Capítulo 8 Cristalização MARCOS OMIR MARQUES 109 Figura 8.2. Aquecimento por resistência para centrífugas contínuas. A combinação de aquecedor de resistência e a centrifugação contínua, resulta em menores perdas decorrentes da dissolução da sacarose do que o reaquecimento convencionalrealizado dentro dos cristalizadores. Assim, massas cozidas de baixa pureza podem ser resfriadas sem que se tenha maiores preocupações com possíveis viscosidades elevadas (30.000 poises). A alimentação das centrífugas por gravidade e a maior resistência dos aquecedores podem reduzir a viscosidade a valores inferiores a 4.000 poises (1 poise = 1 g cm -1 s -1 ). Isto envolve um aquecimento acima de 20 º C e um fluxo de vazão de 50 Kg min -1 ; a resistência do aquecedor requer 31,5 KW. Com essa resistência de aquecimento obtêm-se uma redução de 0,1 a 0,15 unidades de pureza no melaço. A utilização do aquecimento por resistência elétrica, em massas cozidas de baixa pureza, tem apresentado bons resultados práticos e as mais usadas têm de 200 a 300V e de 100 a 150 A. A redução da pureza do licor mãe precursor de massa cozida de baixa pureza é um indicativo da eficiência de recuperação da sacarose obtida no processo. A redução máxima possível na pureza é representada pela diferença entre a pureza da massa cozida e a pureza esperada, que é a pureza do melaço exaurido ao máximo. O total de redução de pureza, obtida em condições práticas dentro do cozedor, é da ordem de 60 a 75%. O restante (25 a 40%) ocorre nos cristalizadores. Capítulo 8 Cristalização MARCOS OMIR MARQUES 110 Figura 8.3. Sistema de reaquecimento da massa cozida empregado na África do Sul. 8.2. MODELOS DE CRISTALIZADORES EMPREGADOS EM USINAS DE AÇÚCAR 8.2.1. Cristalizador comum Trata-se de equipamento envolvido por chapa com seção vertical em forma de U. O mesmo é constituído por um agitador que permite manter a massa em movimento lento e contínuo. Em média, a velocidade de rotação da hélice varia de 0,5 a 0,67 rpm. A potência necessária para fazer girar o cristalizador depende da velocidade de rotação e para um cristalizador comum com 0,5 rpm é necessário 0,3 CV m -3 de massa cozida. A capacidade unitária dos cristalizadores deve ser estabelecida em função da capacidade dos cozedores. Contudo, não se deve misturar num mesmo cristalizador cristais de 2 cozedores e descarregar uma massa cozida quente num cristalizador parcialmente ocupado com uma massa cozida já esfriada. Geralmente os cristalizadores possuem uma capacidade unitária equivalente a 15 a 20% da capacidade dos cozedores aos quais estão ligados. Figura 8.4. Cristalizador comum. Capítulo 8 Cristalização MARCOS OMIR MARQUES 111 8..2.2. Cristalizador com hélice dupla São equipamentos de construção idêntica aos cristalizadores comuns. Contudo, apresentam 2 eixos e 2 hélices, que se movem em sentido contrário e são acionados pela mesma rosca tangencial. São mais estreitos em relação ao seu volume, apresentando assim uma superfície de esfriamento maior, pois a hélice superior expõe ao ar películas finas de massa cozida, apressando seu esfriamento. Com esse sistema há diminuição do tempo de esfriamento em 50% em relação aos cristalizadores comuns. Figura 8.5. Cristalizador de dupla hélice. 8.2.3. Cristalizador Ragot São cristalizadores cuja estrutura constituída pela paleta da hélice foi substituída por uma serpentina percorrida internamente por água. Esse sistema apresenta as vantagens de proporcionar um esfriamento mais rápido e possibilitar a realização do aquecimento da massa antes da realização centrifugação através da substituição da água fria por água quente. 8.2.4. Cristalizadores com circulação de água Em sua grande maioria, são fabricados com alimentação de água fria e a expulsão de água quente sendo realizada através do eixo. A entrada e saída das águas (quente e fria) são efetuadas pelo mesmo lado. Esses cristalizadores possibilitam o resfriamento de forma semelhante aos cristalizadores comuns, porém em tempos menores. Em média esses equipamentos necessitam de 16 a 18 horas para completar o resfriamento das massas cozidas, em comparação a 2 a 3 dias requeridos pelos cristalizadores comuns. Assim, tem- se uma grande economia de espaço nas usinas. Nesses equipamentos a velocidade de esfriamento varia de acordo com o desejável, porém aconselha-se a não esfriar a massa cozida após ser colocada no cristalizador, sendo recomendável cristalizar durante 1,5 horas antes de fazer circular a água de esfriamento, visando evitar a formação de cristais desuniformes. Capítulo 8 Cristalização MARCOS OMIR MARQUES 112 8.2.5. Cristalizadores WERKSPOOR São cristalizadores que possuem linhas externas muito semelhantes aos cristalizadores comuns. Porém, internamente, ao invés de hélices tem-se discos com seção aberta de 45 º . Os eixos e os discos são ocos, o que permite a circulação de água. A massa cozida é introduzida de modo contínuo na extremidade do comando do movimento do eixo do cristalizador, sendo a massa deslocada pela força de gravidade entre os discos. Sua vantagens está no fato de que a massa cozida ao chegar, só entra em contato com a água já aquecida, de tal forma que em cada ponto a temperatura da água é progressivamente diminuída na mesma proporção do esfriamento da massa cozida. Dessa forma, são eliminados os riscos de formação de cristais desuniformes. Esse sistema de cristalizador apresenta também como vantagem o poder de manipular massas cozidas muito densas com uma potência 50% menor, quando comparadas aos cristalizadores dotados de tubos de circulação de água fria. A superfície de esfriamento deve ser proporcional à quantidade de massa cozida a ser esfriada por hora, dependendo também da temperatura da massa cozida no momento do descarregamento, da temperatura da água fria disponível, do esfriamento desejado, etc. Figura 8.6. Disco Werkspoor. Capítulo 8 Cristalização MARCOS OMIR MARQUES 113 Figura 8.7. Vista lateral do sistema de circulação de água e curvas de temperatura de um Werkspoor. 8.2.6. Cristalizador de estocagem Apresenta entrada de massa cozida contínua e, como os cozedores, operam em sistema de bateladas, o que torna necessário a disposição de um recipiente intermediário de massa cozida entre os cozedores e o cristalizador. 8.2.7. Cristalizador LAFEWILLE Pode ser considerado tanto como cozedor como cristalizador. Trata-se de cilindro que se movimento em torno do seu próprio eixo sobre roldanas, que se movimentam sobre 2 trilhos de rolamento. É possível estabelecer o vácuo em seu interior, introduzir a massa cozida, méis, água e vapor. Todas as conexões se efetuam pelo eixo: vácuo, massa cozida e méis por um lado. E vapor, água e gases incondensáveis pelo outro lado. No seu interior são instalados tubos paralelos ao eixo, sendo esses percorridos por vapor ou água. O aparelho é carregado até 75% do volume interno disponível. O movimento de rotação que se lhe imprime provoca agitação e cristalização da massa. Possui, em média, diâmetro de 2 metros e de comprimento variável. Sua velocidade de rotação é de 1 rpm quando utilizado como cozedor e 0,25 rpm quando é utilizado como cristalizador, sendo que sua potência sua potência de giro varia de 4 a 8 CV. Calcula-se que a duração de cozimento situe-se próximo a 6 horas para massas de altas purezas, e de 12 a 18 horas para massas de baixa pureza. Capítulo 8 Cristalização MARCOS OMIR MARQUES 114 Como vantagens do sistema pode-se mencionar a menor necessidade de espaço e de pressão hidrostática a qual é necessária num valor mínimo. Sua principal desvantagem é de ser um aparelho de difícil utilização,principalmente como cozedor, exigindo maior grau de especialização do operador, sendo este o principal motivo da sua não difusão. Figura 8.9. vista geral da fabricação de açúcar. Cozedores, Cristalizadores e Centrífugas de açúcar. Figura 8.10. Detalhe do sistema de agitação da massa cozida com circulação interna de água fria.
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