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A justiça no Brasil e os grupos vulneráveis

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A justiça no Brasil e os grupos
vulneráveis
Os direitos dos grupos vulneráveis e a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal em matéria de povos
indígenas, mulheres, minorias de gênero e idosos.
Prof. Wallace Corbo
1. Itens iniciais
Propósito
Compreender o tratamento jurídico-constitucional dos direitos de grupos vulneráveis, especialmente no
âmbito do Supremo Tribunal Federal e no campo dos direitos de povos indígenas, mulheres, minorias de
gênero e da pessoa idosa é essencial não só para a prática específica do litígio de direitos humanos como
também para o entendimento mais amplo do sistema constitucional de proteção desses grupos.
Preparação
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos o texto atualizado da Constituição Federal de 1988.
Objetivos
Definir o conceito de grupo vulnerável e os fundamentos da proteção aos povos indígenas
Identificar as principais discussões sobre gênero levadas ao Supremo Tribunal Federal
Distinguir os traços gerais da proteção ao idoso na Constituição Federal
Introdução
Neste tema, vamos tratar da relação entre a Justiça e os direitos de grupos vulneráveis no Brasil. Quando
falamos em grupos vulneráveis, tratamos, aqui, daquelas coletividades sociais que, em razão de determinadas
características, foram historicamente marginalizadas ou discriminadas na história de uma sociedade.
Há grupos que foram vulnerabilizados em razão de:
 
Gênero: como mulheres e pessoas transexuais
Raça e etnia: como pessoas negras e povos indígenas
Orientação sexual: como pessoas homossexuais e bissexuais
 
Por vezes, também falamos em minorias para nos referirmos a esses grupos. Nesses casos, não significa que
tais grupos sejam numericamente menores na sociedade — o que não seria o caso, por exemplo, de mulheres
e pessoas negras no Brasil. Esses grupos são minoritários nos espaços de poder. Portanto, são minorias
políticas ou sociais, mas não necessariamente numéricas.
 
Aqui, vamos nos debruçar especificamente sobre os direitos de três grupos vulneráveis: os povos indígenas,
as minorias de gênero e a pessoa idosa. Cada um desses grupos recebeu uma forma de tratamento em nosso
texto constitucional e tem recebido um tratamento específico na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.
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• 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
1. Proteção aos povos indígenas
Reconhecimento dos povos indígenas e do
multiculturalismo
A Constituição de 1988 inovou ao trazer um capítulo próprio acerca da proteção dos povos indígenas. Nos
arts. 231 e 232 do texto constitucional brasileiro, encontramos os dispositivos que conferem essa proteção
diferenciada.
 
Aqui, precisamos nos recordar de que, historicamente, o Estado Brasileiro negou reconhecimento aos povos
indígenas. De fato, na história do Brasil, os índios foram sujeitos a reiterados casos de genocídio, além da
constante tentativa de apagamento de sua cultura e sua religiosidade. Esse projeto político operou por
diversas razões.
A pretexto de “integrar” os índios à sociedade brasileira, buscou-se o apagamento dos traços característicos
desses grupos — desde sua religiosidade, passando por sua linguagem e seus costumes. Ainda hoje
encontramos em diferentes cursos e manuais jurídicos referências depreciativas aos indígenas — tratados
como incivilizados, ingênuos ou menos capazes do que os não indígenas.
Nisso repousa, então, a inovação do texto constitucional brasileiro.
Ao dedicar um capítulo ao tratamento dos indígenas em suas especificidades, a Constituição Federal passou a
reconhecer a condição do indígena não só como sujeito de direito universal, mas também como sujeito de
direitos específicos.
Atenção
Em outras palavras, aos indígenas são garantidos todos os direitos previstos no texto constitucional,
tanto quanto os direitos específicos que a condição de povos indígenas exige. 
Nesse aspecto, a Constituição incorporou a ideia de reconhecimento do multiculturalismo, ou seja, da ideia de
que determinadas sociedades (e cada vez mais outras delas) são compostas por diferentes grupos étnicos
que partilham modos de vida, cultura e saberes diferenciados.
Em uma sociedade multicultural, então, não basta assegurar a todos os mesmos direitos (igualdade
formal). É necessário assegurar também o direito à diferença, conferindo a cada grupo o tratamento
jurídico compatível com suas particularidades.
Interesses econômicos 
De um lado, por interesses econômicos —
especialmente relacionados à apropriação
das terras indígenas.
Interesses sociais 
De outro, por interesses sociais,
políticos e culturais diversos, que
buscaram negar humanidade e o
respeito a essa parcela da população.
Em nossa análise, vamos verificar como esse grupo vem sendo percebido e tratado pelo Poder Judiciário.
Tradicionalmente, referimo-nos ao Poder Judiciário como um fórum importante de efetivação dos direitos de
grupos vulneráveis, porque, diferentemente de outros poderes, o Judiciário não estaria sujeito às reações da
política majoritária. Juízes são independentes e, por isso, podem decidir contra a vontade da maioria,
protegendo direitos e minorias.
 
No entanto, nem sempre é assim: juízes e juízas também são pessoas inseridas na sociedade, de modo que,
se a sociedade é marcada por desigualdades estruturais (como racismo, machismo e etarismo), juízes e juízas
também estão sujeitos a reproduzir essas desigualdades, por vezes perpetuando discriminações. Ainda assim,
muitas vezes a Justiça é capaz de exercer seu papel fundamental de avançar nos direitos dos grupos
vulneráveis.
Etarismo
Discriminação etária, baseada na idade do indivíduo.
Direitos assegurados aos indígenas
Vamos conhecer, agora, os direitos assegurados aos indígenas no texto constitucional
brasileiro, sob a perspectiva do direito à diferença e ao reconhecimento.
Já no art. 231, no caput da Constituição, são reconhecidos direitos em favor dos povos indígenas, os quais
podemos classificar em dois grupos.
Em primeiro lugar
Vêm os direitos relacionados ao
reconhecimento de sua cultura, de seus modos
de vida e de seus saberes (reconhecimento
étnico-cultural). É do que trata o dispositivo ao
afirmar que: “São reconhecidos aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças
e tradições” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988,
art. 231).
Em segundo lugar
O dispositivo reconhece o direito dos povos
indígenas “sobre as terras que tradicionalmente
ocupam” (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988, art.
231). Em uma primeira leitura, poderíamos
concluir que o direito à terra se trata de um
direito puramente econômico — o direito de
propriedade sobre as terras.
E, de fato, o art. 231 e seus parágrafos 1º, 2º e 3º versam sobre aspectos eminentemente econômicos
relacionados às terras indígenas. É necessário, no entanto, tecermos algumas distinções.
Primeiro, as terras indígenas integram o conjunto de bens da União, conforme dispõe o
art. 20, inciso XI, da Constituição. São os indígenas, contudo, que detêm a posse
permanente dessas terras, nos termos do art. 231, podendo usufruir de suas riquezas
com exclusividade.
Mais que isso: a exploração de recursos hídricos pelo Estado — por exemplo, para construir uma hidrelétrica
— não só depende de um processo mais difícil, exigindo a autorização do Congresso Nacional, como também
da oitiva das comunidades indígenas.
No entanto, precisamos lembrar que a terra, para povos indígenas (e para povos quilombolas, de que
a Constituição trata em outros momentos) não tem um significado puramente econômico, apesar de
também ser fonte de subsistência. A terra também tem um sentido existencial: há uma conexão
intrínseca entre a comunidade e sua identidade e a terra que ela habita.
Isso significa que, para os povos indígenas, a terra consubstancia múltiplos direitos. São eles:
1º – Direito à dignidade humana como direito ao
reconhecimento
Na medida em que a dignidade da pessoa humana exige o reconhecimento e a proteção de valores
comunitários de povos indígenas, a terra — como integrante desses valores comunitários— exsurge
(ergue-se) como um direito digno de tutela.
2º – Direito à moradia
A terra indígena também é o local onde os povos indígenas vivem e reproduzem seus saberes e sua
cultura.
3º – Direito à identidade coletiva
A terra indígena não só é condição para a reprodução desses povos, mas também um elo que une os
diferentes indivíduos integrantes desses grupos. Isso significa que, retirados de suas terras, diversos
povos indígenas poderiam desaparecer em seu vínculo coletivo — cada indivíduo buscando sua
subsistência em uma parte da geografia do Brasil, levando, assim, à extinção da própria coletividade
protegida pela Constituição.
É por essa razão que a própria Constituição dispõe, no art. 231, parágrafo 4º, que as terras indígenas são
inalienáveis e indisponíveis, e os direitos que repousam sobre elas são imprescritíveis. Em outros termos, os
povos indígenas, que possuem direito de posse e de usufruto sobre suas terras, não podem vendê-las a
outras coletividades ou a outros indivíduos.
 
Do contrário, seria possível facilmente desvirtuar o direito previsto na Constituição, já que a pressão
econômica exercida por elites locais sobre as comunidades indígenas (muitas vezes, pobres) levaria
a que todas as terras demarcadas fossem rapidamente vendidas. Assim, a proteção que a própria
Constituição tentou estabelecer seria esvaziada.
Portanto, para os povos indígenas, a terra não tem sentido eminentemente econômico, e sim
existencial.
Ainda que essa afirmação não seja totalmente precisa — ou seja, que haja indivíduos ou mesmo grupos de
indígenas que vislumbram um caráter eminentemente econômico em suas terras —, o fato é que a tutela
constitucional do direito à terra de povos indígenas reveste-se dessa característica existencial.
 
Tal caráter existencial das terras indígenas fica ainda mais claro se repararmos o que afirma o parágrafo 5º do
art. 231 da Constituição.
O dispositivo veda que grupos indígenas sejam removidos de suas terras, salvo na hipótese de
catástrofe ou epidemia. Mesmo no caso de interesse da soberania do país, a remoção só pode ser
temporária e depende sempre de deliberação do Congresso Nacional.
Estamos falando aqui, de fato, de proteção aos povos indígenas em sua integralidade — como coletividade,
cuja identidade é forjada tanto por seus usos e costumes quanto por sua terra.
Terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas
Historicamente, a maior parte (senão toda) das terras brasileiras foi ocupada por indígenas, expulsos delas
desde o processo de colonização portuguesa. No entanto, esta não pareceu ser a reivindicação dos
movimentos dos povos indígenas abarcada pela constituinte.
O que se pretendeu, de fato, foi tutelar os povos indígenas que havia em 1988 e que viam suas
terras sujeitas a constantes investidas advindas do Estado e de particulares. Ainda assim, foi
necessário que o Supremo Tribunal Federal definisse os parâmetros para o reconhecimento do
direito a tais terras.
Foi o que ocorreu no caso Raposa Serra do Sol
(Petição nº 3.388), em que o Tribunal
estabeleceu que a definição de “terras
tradicionalmente ocupadas” pelos indígenas
tem como marco temporal a promulgação da
Constituição, ou seja, 5 de outubro de 1988.
Isso significa que eventuais aldeamentos
indígenas que já não existiam à data de
promulgação da Constituição não mais teriam
reconhecidos direitos às terras que, no
passado, ocupavam.
 
Assim, são terras tradicionalmente ocupadas
pelos indígenas aquelas que, em 1988, eram ocupadas por povos indígenas. As terras que apenas no passado
foram ocupadas por indígenas, mas que não mais o eram em 1988, não são resguardadas pelo art. 231 da
Constituição.
Exemplo
O que acontece no caso de, por exemplo, um aldeamento indígena haver sido violentamente expulso de
suas terras alguns anos antes da promulgação da Constituição? Imagine um caso de esbulho
possessório ocorrido antes da promulgação da Constituição, ou seja, a situação em que um terceiro
impede que indígenas exerçam a posse sobre suas terras, muitas vezes mediante violência ou grave
ameaça. 
Seria possível negar o direito desses povos indevidamente expulsos, mas que seguiam
disputando a posse dessas terras, pelo simples fato de terem sido impedidos de exercer sua
posse sobre aquelas terras em 5 de outubro de 1988?
 
A resposta é negativa. Para o Supremo Tribunal Federal, estes casos — o chamado “esbulho renitente” — são
uma exceção à exigência de que os povos indígenas ocupassem as terras à data da Constituição de 1988.
 
Como consequência da proteção constitucional às terras indígenas, a Constituição prevê, no parágrafo 6º do
art. 231, que serão considerados nulos e extintos todos os atos que tenham por objeto a ocupação, o domínio
e a posse dessas terras. Em outros termos, se um terceiro, não indígena, possuía determinado título que lhe
reconhecesse direitos sobre terras que, em realidade, são tradicionalmente ocupadas por pessoas indígenas,
esse título seria imediatamente anulado e extinto, em favor dos povos ocupantes da terra.
 
O Supremo Tribunal Federal decidiu nesse sentido, por exemplo, na Ação Originária nº 312, em que declarou a
nulidade de título de propriedade que tinha como objeto imóveis localizados na Reserva Indígena Caramuru-
Catarina Paraguassu — terras tradicionalmente ocupadas pelo grupo indígena Pataxó Hã-hã-hãe.
Atenção
Assim, a Constituição de 1988 reconhece o direito à terra dos povos indígenas como forma de assegurar
a proteção a esse grupo étnico-racial sob uma perspectiva eminentemente existencial e econômica. O
direito à terra para povos indígenas é uma proteção à sua identidade coletiva, ao seu direito à moradia, à
sua dignidade humana. 
Essas terras são definidas de acordo com o dia 5 de outubro de 1988: os povos que ocupavam terras naquela
data tiveram seu direito assegurado pela Constituição, mas também aqueles povos que se encontrassem em
disputa sobre terras — judicializada ou não — teriam seus direitos reconhecidos. Ficaram de fora tão somente
aquelas coletividades indígenas que, muito antes da Constituição de 1988, haviam deixado de ocupar as
terras ou mesmo aquelas que haviam desaparecido ao longo dos anos.
Proteção de direitos de povos indígenas
Diversas particularidades que conformam o direito às terras de povos indígenas não estão textualmente
previstas na Constituição. De fato, nenhuma lei é capaz de antecipar todas as controvérsias interpretativas
que pode gerar. Disso resulta a importância do Supremo Tribunal Federal, que, ao dar contornos específicos
aos direitos previstos na Constituição, pode assegurar em maior ou em menor grau a proteção desses grupos
vulneráveis.
 
É por isso que não basta a mera previsão textual de direitos para que eles sejam assegurados. Direitos
fundamentais também exigem a existência de organizações e procedimentos capazes de protegê-los tanto de
ofício quanto mediante provocação dos interessados.
De ofício
Sem a provocação de nenhuma das partes, por impulso oficial do Poder Público. 
Em outras palavras, como os povos indígenas poderão se proteger diante de violações ou
ameaças de violações a seus direitos?
Aqui repousa, então, a importância de irmos além do art. 231 da Constituição. Não muito além: é o art. 232
que traz importante previsão quanto à organização e procedimentos de proteção de direitos de povos
indígenas. Nos termos desse dispositivo, é garantido aos indígenas, a suas comunidades e a suas
organizações a legitimidade para ingressar em juízo em defesa de seus direitos e interesses.
 
O dispositivo prevê, assim, que os povos indígenas não precisam constituir-se na forma de Pessoas Jurídicas
específicas para que possam ajuizar uma ação judicial em defesa de seus interesses. Essa previsão é
importante, porque, por terem seus próprios modos de vida, formas e organização, muitas vezes, os povos
indígenas não vão estruturar sua ação coletiva da mesma forma que os não indígenas.
Legitimidade 
Aqui, este termo tem sentido processual, ou seja, é a possibilidade de ser autor um processo. Nocaso
do art. 232 da Constituição, é especificamente a possibilidade de ser autor em um processo na defesa
de tais direitos (legitimidade ativa). 
Exemplo
Enquanto outras coletividades, por exemplo, podem formar associações civis como forma de atender a
determinados interesses em comum, povos indígenas não possuem esse costume nem estão sujeitos a
essa exigência. 
Uma relevante discussão surge a partir dessa previsão. Apesar de não trazer grandes controvérsias nas
instâncias judiciais de primeiro grau, o dispositivo pode gerar certas dúvidas com relação aos casos trazidos
diretamente ao Supremo Tribunal Federal.
 
Em especial, surge a pergunta: se forem sujeitados a atos violadores de seus direitos
(previstos na Constituição), os povos indígenas poderão ajuizar ações de controle de
constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal?
 
A dúvida surge, porque o ajuizamento de ações de controle de constitucionalidade é limitado aos legitimados
previstos no art. 103 da Constituição Federal. Em uma primeira leitura, os povos indígenas não estão previstos
nessa lista de legitimados ativos. A questão foi solucionada pelo Supremo Tribunal Federal em 2020, no
julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 709 (ADPF nº 709).
 
A ADPF foi ajuizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) diante da inércia do Poder Executivo
Federal no combate à pandemia da Covid-19 em comunidades indígenas. Afinal, a pandemia gerou impacto
desproporcional sobre esses grupos, causando níveis altíssimos de mortes sem uma resposta adequada do
governo federal.
 
Porém, a primeira pergunta que o Supremo precisava responder era: poderia a APIB, uma articulação que não
era constituída como Pessoa Jurídica, ajuizar a ação de controle de constitucionalidade?
 
A resposta foi positiva. No entendimento do Supremo Tribunal Federal, o conceito de “entidade de classe”
também abarca as organizações de movimentos sociais. No caso específico dos indígenas, em relação aos
quais a Carta Magna dispensa a constituição de Pessoa Jurídica específica (art. 232), o relator, ministro Luis
Roberto Barroso, entendeu que:
Ações de controle de constitucionalidade
Entre estas ações estão: Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI).Ação Direta de Inconstitucionalidade
por Omissão (ADO).Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC).Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) 
“Não se pode pretender que tais povos [indígenas] se organizem do mesmo modo que nos organizamos.
Assegurar o respeito a seus costumes e [a suas] instituições significa respeitar os meios pelos quais
articulam a sua representação à luz da sua cultura.”
BRASIL, 2020
Portanto, o Supremo Tribunal Federal não só conferiu certos contornos aos direitos fundamentais de povos
indígenas ao longo dos anos como também reconheceu a possibilidade de que tais povos acessem a
jurisdição constitucional, o que permitirá, com o decorrer do tempo, que novos casos de violações possam ser
levados e solucionados por essa instância do Poder Judiciário.
O direito à terra dos povos indígenas: propriedade ou
identidade?
O especialista Wallace Corbo fala sobre O direito à terra dos povos indígenas: propriedade ou identidade?
Conteúdo interativo
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Verificando o aprendizado
Questão 1
Estudamos sobre a proteção de grupos vulneráveis no Supremo Tribunal Federal. Sobre o
conceito de grupos vulneráveis, assinale a alternativa incorreta:
A
Minorias sociais e políticas, como povos indígenas e homossexuais, podem ser considerados grupos
vulneráveis.
B
Maiorias numéricas podem ser consideradas grupos vulneráveis, caso tenham sofrido discriminações
históricas, como no caso das mulheres.
C
Não cabe ao Poder Judiciário atuar em favor de grupos vulneráveis, quando isso signifique contrariar a visão
das maiorias políticas e sociais.
D
A vulnerabilidade dos povos indígenas decorre da negação histórica de direitos, da perseguição e até mesmo
do genocídio, praticado pelo Estado brasileiro contra esses povos ao longo dos séculos.
E
A ideia de discriminação que perpassa o conceito de vulnerabilidade está relacionada à negação de direitos a
certas coletividades.
A alternativa C está correta.
Ainda que o Poder Judiciário possa ter limitações em sua capacidade de proteger grupos vulneráveis, sua
função é precisamente assegurar-lhes a proteção de seus direitos, ainda que contra os interesses da
maioria.
Questão 2
Sobre a proteção constitucional aos povos indígenas, assinale a alternativa correta:
A
De acordo com o Supremo Tribunal Federal, a proteção aos povos indígenas busca integrar tais grupos sociais
à sociedade em geral, de modo que eles possam incorporar os usos e costumes do restante da sociedade,
atingindo um nível de civilidade.
B
A proteção aos povos indígenas é necessária, porque este é um grupo social intelectualmente atrasado e
dotado de menor capacidade econômica e técnica.
C
A proteção constitucional aos povos indígenas é uma forma de assegurar-lhes o direito ao reconhecimento,
promovendo o respeito ao multiculturalismo e à identidade coletiva desses grupos sociais.
D
O Supremo Tribunal Federal reconhece o direito dos povos indígenas às terras tradicionalmente ocupadas por
eles, ainda que os aldeamentos não mais existissem nem ocupassem tais terras à data de promulgação da
Constituição de 1988.
E
Nos termos da Constituição Federal, as terras indígenas são bens de propriedade dos povos indígenas.
A alternativa C está correta.
O reconhecimento dos direitos dos povos indígenas consiste em uma forma de proteção do direito à
diferença. Não se trata, portanto, de considerar os povos indígenas menos ou mais civilizados nem de
reproduzir preconceitos racistas contra esses grupos. Trata-se, sim, de respeitar a diversidade étnico-
racial, especialmente (mas não apenas) a partir do reconhecimento de seu direito à terra e de sua
relevância na formação nacional.
2. Discussões de gênero no STF
Questões de gênero abarcadas na Constituição
Já vimos que grupos vulneráveis receberam especial atenção da Constituição Federal. Isso se deve a diversos
fatores. Um dos principais tem relação com a própria origem da Constituição brasileira.
A Carta de 1988 foi elaborada no contexto da redemocratização, marcado pela efervescência de
diversos movimentos sociais preocupados com o avanço nas pautas de promoção da igualdade e
dos direitos humanos. Movimentos como os de povos indígenas e de negros, entre tantos outros,
fizeram-se diretamente presentes na Assembleia Constituinte, ou indiretamente, por meio da
pressão social que marcou o processo de elaboração da Constituição.
É natural, portanto, que o movimento feminista também encontrasse eco em suas pautas, muitas das quais
foram expressamente adotadas pelo texto expresso da Carta Magna. Assim, para listarmos os exemplos mais
evidentes, são previstos na Constituição:
 
O combate à discriminação de gênero - art. 3º, inciso IV
A igualdade de gênero - art. 5º, inciso I
A proibição de discriminação de gênero no mercado de trabalho - art. 7º inciso XXX
 
No entanto, como vimos no caso dos indígenas, não basta a previsão textual de direitos para que eles sejam
assegurados ou mesmo para que saibamos de antemão o que significam os dispositivos constitucionais. É
apenas a partir da interpretação que conferimos sentido ao texto constitucional, transformando texto em
norma.
 
Essa transformação, enfim, permite-nos identificar os comandos constitucionais e verificar as violações à
Constituição. Nesse processo, novamente o Supremo Tribunal Federal é um agente muito importante.
Tipos de discriminação
Fala, mestre!
Uma mulher compartilha sua experiência profissional na Petrobras, onde ocupou cargos gerenciais e de
diretoria, incluindo a presidência. Ela expressa tristeza e preocupação pelo fato de que, mesmo após ela ter
sido pioneira em várias dessas posições, nenhuma outra mulher a sucedeu nesses cargos. Ela menciona que
desde os anos 1980e 1990, quando iniciou em funções técnicas importantes, mas de pouca atuação
empresarial, até hoje, o cenário de liderança feminina na empresa não progrediu significativamente.
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Um dos mais importantes casos julgados pelo Supremo Tribunal Federal em matéria de gênero foi a Ação
Direta de Inconstitucionalidade nº 1.946 (ADI nº 1.946), julgada em 2003. O caso não parecia, a princípio, ter
qualquer relação com o tema da discriminação de gênero. O que se questionava ali era o estabelecimento de
um teto de benefícios do regime geral de Previdência Social estabelecido pela Emenda Constitucional nº
20/1998.
 
De acordo com as alterações trazidas pela emenda, os benefícios advindos desse regime previdenciário
seriam limitados a R$1.200,00, de modo que caberia, a princípio, aos empregadores arcar com os valores
excedentes desse teto. Mais uma vez, o texto nada dizia sobre homens e mulheres. Ocorre que, ao julgar a
ADI nº 1.946, o Supremo Tribunal Federal identificou o risco de se produzir, com aquela norma, uma verdadeira
discriminação indireta.
Do ponto de vista jurídico, a discriminação consiste na negação de direitos a
coletividades historicamente marginalizadas.
Essa discriminação pode ocorrer de duas formas:
Foi exatamente isso que o Supremo Tribunal Federal entendeu que aconteceria quando da aplicação do art. 14
da Emenda Constitucional nº 20/1998 à licença-maternidade.
A lógica, antevista pelo STF, é bastante clara: caso o empregador fosse obrigado a arcar com todo
valor que exceda R$1.200,00, inclusive da licença-maternidade, um incentivo à discriminação de
gênero no mercado de trabalho seria criado. Afinal, para qualquer função cuja remuneração
excedesse o teto, o custo do empregador com relação a uma trabalhadora seria potencialmente
superior ao de trabalhadores homens.
Consequentemente, essa nova norma constitucional iria de encontro ao objetivo de promoção da igualdade de
gênero no mercado de trabalho. Por essa razão, o STF excluiu da aplicação do mencionado dispositivo o
benefício da licença-maternidade, que deixou de estar sujeito ao teto geral.
 
Discriminação direta 
Quando uma lei expressamente prejudica
pessoas negras, mulheres, pessoas com
deficiência ou outros grupos vulneráveis.
Discriminação indireta 
Quando uma lei ou uma prática não
nega expressamente direitos a um
grupo, mas, aplicada de fato, acaba
produzindo efeitos semelhantes aos
que produziria se discriminasse
expressamente.
Veja que nada na Constituição afirmava expressamente que o teto de benefícios previdenciários não poderia
atingir a licença-maternidade. Porém, por meio de uma interpretação sistemática, teleológica (argumentativa)
e com a aplicação do princípio da unidade da Constituição, o Supremo Tribunal Federal deu concretude à
proteção constitucional às mulheres como grupo vulnerável ainda sujeito à intensa discriminação no mercado
de trabalho e em outros espaços.
Papel do Supremo Tribunal Federal na questão do aborto
A discussão sobre gênero se desenvolveu no STF para abarcar cada vez mais debates. Um dos mais
relevantes e que se seguiu à ADI nº 1.946/2003 ocorreu na Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental nº 54 (ADPF nº 54). Neste caso, discutia-se a constitucionalidade da criminalização do aborto
(arts. 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal) no caso do feto anencéfalo.
 feto anencéfalo
Feto desprovido de um Sistema Nervoso Central. Do ponto de vista biológico, nesses casos, a vida
extrauterina é inviável. Em outras palavras, os fetos anencéfalos são natimortos — no limite, são capazes
de manter células vivas por poucas horas após o parto. 
A discussão sobre o aborto desse tipo de feto tinha relevância na perspectiva do gênero, porque, a
pretexto de se proteger uma vida absolutamente inviável, centenas de mulheres eram forçadas a se
submeter à grave dor psicológica de manter uma gestação sem frutos por até nove meses.
Para além da dor psicológica, médicos e médicas também se viam sujeitos a graves riscos jurídicos por
realizarem a interrupção da gestação, na medida em que pairava insegurança jurídica acerca da
caracterização do aborto.
Assim, ao ponderar a inexistência de vida no caso do feto anencéfalo e a liberdade sexual
e reprodutiva da mulher, bem como seu direito à saúde e à autodeterminação, o Supremo
Tribunal Federal entendeu que os artigos do Código Penal que criminalizam o aborto não
foram recepcionados pela Constituição de 1988 em relação à interrupção desse tipo de
feto.
O STF não decidiu que a criminalização do aborto é inconstitucional, e sim que a criminalização do aborto do
feto anencéfalo o é, por impor restrições significativas aos direitos da mulher, sem gerar qualquer benefício
possível para o feto.
 
Em termos mais amplos, a questão do aborto foi levada ao STF em dois casos que já são paradigmáticos.
 
1. O primeiro consistiu em uma ação individual — um Habeas Corpus (HC nº 124.306) — julgada pela 1ª Turma
do Supremo Tribunal Federal. Nesse caso, a turma entendeu que a interrupção da gravidez até o terceiro mês
de gestação não poderia ser equiparada ao aborto, tendo em vista o direito à autonomia da mulher e o
impacto desproporcional da criminalização sobre as mulheres mais pobres.
Como se tratava de caso individual e julgado por turma (e não pelo Plenário) do STF, o entendimento trazido
no Habeas Corpus não significou que o Supremo, como instituição, reconheceu a inconstitucionalidade da
criminalização do aborto.
 
2. O segundo caso foi a análise da compatibilidade entre o crime de aborto e a Constituição, feita pelo
Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADPF nº 442, cuja relatora é a ministra Rosa Weber. Nessa
arguição, questiona-se a recepção dos arts. 124 e 126 do Código Penal, tendo em vista a tutela constitucional:
 
À dignidade da pessoa humana
À cidadania.
À não discriminação.
À inviolabilidade da vida.
À liberdade.
À igualdade.
À proibição de tortura ou de tratamento desumano ou degradante.
À saúde e ao planejamento familiar das mulheres.
Aos direitos sexuais e reprodutivos.
 
Até o final de 2020 o caso não havia sido julgado. É certo que caberia ao STF analisar se a legislação editada
em 1940 ainda é adequada à proteção dos bens jurídicos constitucionais fundamentais, ou se ela revela uma
incompatibilidade, total ou parcial, com o novo ordenamento constitucional brasileiro.
Direitos das pessoas trans
De 2010 a 2020, os debates que envolvem questões de gênero ampliaram-se para além das discussões sobre
igualdade entre homens e mulheres. Nesse período, verificamos, no Brasil e no mundo, o fortalecimento de
movimentos sociais voltados à proteção de minorias de gênero que, historicamente, foram marginalizadas, e
cujas identidades foram até mesmo tratadas como enfermidades.
 
Falamos, aqui, especialmente das questões que envolvem pessoas transexuais, transgêneros e travestis
(pessoas trans). Dentro desse grupo estão:
Pessoas trans
Pessoas cuja identidade de gênero não converge com seu sexo biológico ou com o sexo que lhes foi
atribuído no nascimento.
Homens transexuais
Identificados no nascimento como se fossem
mulheres.
Mulheres transexuais
Identificadas no nascimento como se fossem
homens.
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Travestis, não binários e agêneros
Outros grupos que não se identificam nem
como homens nem como mulheres.
E o que o direito tem a ver com isso?
Ora, pessoas trans foram historicamente relegadas à margem da sociedade, e a elas foram fechadas
as portas do mercado de trabalho, do acesso a direitos básicos e do tratamento respeitoso, em uma
sociedade marcada por discriminações e intolerância.
Apenas em 2018 a Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a transexualidade da lista de transtornos
mentais, dando um importante passo para compreendermos a necessidade de proteção desses grupos
sociais.
 
Considerando o compromisso igualitário da Constituição Federal, o reconhecimento do tratamento
discriminatórioconferido pela sociedade brasileira às pessoas trans exige a atuação das instâncias jurídicas e
políticas com o objetivo de resguardar seus direitos.
 
Nesse sentido, dois casos importantes avançaram na pauta da proteção de direitos de pessoas trans no
Supremo Tribunal Federal.
 
A ADI nº 4.275, ajuizada em 2009 e julgada apenas em 2018, voltava-se contra o disposto no art. 58 da Lei de
Registros Públicos (Lei nº 6.015/1973), que estabelece parâmetros para a alteração do prenome. Para todas as
pessoas, o direito ao próprio nome é um dos primeiros passos para o reconhecimento de sua identidade.
 
Pessoas cisgênero não enfrentam, em geral, maiores problemas com relação a esse aspecto de sua
identidade. Existem duas exceções:
Pessoas cisgênero
Pessoas cuja identidade de gênero converge com seu sexo biológico ou com as identidades que lhes
foram atribuídas no nascimento.
Grave constrangimento
Quando o prenome causa grave
constrangimento à pessoa.
Apelido público notório
Quando a pessoa adota, ao longo de sua vida,
um apelido público notório, pelo qual, por
vezes, é mais conhecida do que por seu
prenome real.
Nesses dois casos, a legislação e a jurisprudência sempre admitiram a alteração do
prenome.
Exemplo
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a apresentadora Xuxa e com o político Lula. 
No entanto, mesmo os tribunais brasileiros sempre tiveram grande resistência a autorizar a alteração do nome
de pessoas transexuais pelo chamado nome social.
 
Disso resulta o fato de que, para pessoas trans, o nome registral sempre tenha sido uma lembrança constante
do não reconhecimento pelo Estado e pela sociedade de suas identidades e de sua dignidade.
 
O sofrimento psicológico de serem identificadas, em todos os documentos públicos, por um nome que não
condiz com sua identidade, com sua aparência e com seu gênero foi, então, um dos principais motivadores
para o ajuizamento da mencionada ADI nº 4.275.
 
Com fundamento nesse fato, o STF estabeleceu, no julgamento da referida ADI, o direito das pessoas trans a
alterarem não só seu nome como também seu sexo no registro público, independentemente da realização de
cirurgias e mesmo do ajuizamento de ação judicial.
Nome social
Nome pelo qual as pessoas transexuais são conhecidas. 
Em outros termos, a partir do julgado do STF, as pessoas trans tiveram reconhecido seu direito de
buscar, administrativamente — ou seja, diretamente junto ao cartório competente de Registro Civil
de Pessoas Naturais —, a mudança de seu nome e sexo, para que fosse compatível com sua
identidade de gênero.
Ao passo que pessoas trans começaram a obter maior visibilidade social, também tornou-se mais exposta a
discriminação sofrida por elas — ora uma discriminação que se produz no campo da negação de acesso a
espaços, ora uma discriminação que se converte até mesmo em casos de homicídio que afetam
desproporcionalmente essa população.
 
Para lidar com isso, o STF julgou a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão nº 26 (ADO nº 26).
Nesta, argumentou-se que a Constituição de 1988 impunha o dever do legislador no sentido de criminalizar
não apenas o racismo como também toda forma de discriminação, nos termos do art. 5º, incisos XLI e XLII, da
Constituição Federal.
 
No entanto, mais de 30 anos depois da promulgação do texto constitucional, jamais avançaram os projetos de
lei tendentes a criminalizar as chamadas:
Homofobia
Discriminação contra pessoas homossexuais.
Bifobia
Discriminação contra pessoas bissexuais.
Transfobia
Discriminação contra pessoas trans.
Assim, sustentou-se perante o Supremo Tribunal Federal que essa omissão legislativa violaria o dever de
legislar imposto pela Constituição, cabendo ao Supremo suprir tal omissão até que sobreviesse a legislação
criminalizadora.
 
De fato, o STF acolheu os argumentos apresentados na ADO, afirmando que, até que sobrevenha a legislação
especificamente voltada para a homotransfobia, deve-se considerar tais manifestações como expressões de
racismo, compreendido em sua dimensão social. Isso significa que, nos termos da decisão do Supremo nessa
ADO, as práticas de racismo criminalizadas pela Lei nº 7.716/1989 também englobam as discriminações de
gênero voltadas contra pessoas trans.
Discriminação e desigualdade de gênero
Antes de concluirmos a análise da abordagem do Supremo Tribunal Federal com relação a questões de
gênero, não podemos deixar de tratar de outro conjunto de casos que recebeu a análise da Corte.
 
A visibilidade de pessoas trans gerou reações acaloradas em grupos conservadores e em grupos avessos à
garantia de igualdade em favor de tais minorias sociais. Então, esses grupos organizaram-se nacionalmente,
buscando aprovar diversas leis que tinham por objetivo combater o discurso inclusivo e igualitário de pessoas
trans no campo do ensino.
Em outras palavras, tanto no âmbito nacional quanto nos âmbitos municipal e estadual, foram
apresentados projetos de lei que pretendiam excluir do debate escolar as questões relativas à
discriminação e à desigualdade de gênero. Em alguns casos, esses projetos foram aprovados e
converteram-se em leis, que, por sua vez, foram impugnadas no STF.
Assim, na ADPF nº 457, o Supremo entendeu que leis desse tipo, as quais buscam impedir o debate sobre
gênero nas escolas — essencial para a formação de novas gerações capazes de respeitar a diferença e o
outro — violam à Constituição sob duas perspectivas:
Competência legislativa sobre currículo
escolar
Não cabe aos Estados e municípios editar
normas gerais sobre o currículo escolar — e a
ação versava sobre lei municipal.
Vedação à censura
A Constituição veda a imposição do silêncio e a
censura, especialmente quando esse silêncio
vai de encontro ao necessário combate a toda
forma de discriminação, estabelecido no art. 3º,
inciso IV, da Carta Magna.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7716.htm
Com isso, vimos como são diversas as questões de gênero trazidas ao Supremo: desde casos envolvendo a
discriminação de gênero no mercado de trabalho, a (in)constitucionalidade do crime de aborto até a proteção
dos direitos de pessoas trans.
 
São muitos os temas nos quais o Supremo Tribunal Federal atua, tomando decisões — todas, até então, em
favor da proteção dos grupos vulneráveis: mulheres (transgênero e cisgênero) e pessoas trans. Mais uma vez
percebemos como a atuação do STF é capaz de conferir maior especificidade e densidade normativa ao texto
constitucional, assegurando o objetivo constitucional de inclusão, de promoção da igualdade e de combate à
discriminação.
Direito à identidade de pessoas transexuais, transgêneros
e travestis
O especialista Wallace Corbo fala sobre o Direito à identidade de pessoas transexuais, transgêneros e
travestis.
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Questão 1
Sobre a judicialização da desigualdade de gênero no Supremo Tribunal Federal, assinale a
alternativa incorreta:
A
O Supremo Tribunal Federal reconheceu, na ADI nº 1.946, que a limitação genérica do teto dos benefícios do
regime geral de previdência geraria uma situação de discriminação indireta contra mulheres no mercado de
trabalho.
B
O Supremo Tribunal Federal afirmou o direito à interrupção do feto anencéfalo, sem qualquer repercussão
penal para a mulher nem para os profissionais de saúde que realizassem o procedimento abortivo.
C
O Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou, com efeitos vinculantes, a não recepção da criminalização
do aborto pelo Código Penal de 1940 até o terceiro mês de gestação.
D
Apesar de não serem minorias numéricas, as mulheres podem ser consideradas grupos vulneráveis diante da
discriminação de gênero histórica a que foram sujeitas.
E
Em julgamento não vinculante proferido em habeas corpus, a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal afastou as
repercussões penais do aborto realizado em gestante que não havia concluído o primeiro trimestre de
gestação.
A alternativa C está correta.
A decisão do Supremo TribunalFederal, que afastou as consequências penais da interrupção de gestação
no primeiro trimestre, foi tomada em caso individual e proferida por órgão fracionário. Portanto, não se trata
de decisão vinculante.
Questão 2
Sobre a posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal nas discussões que envolvem
identidade de gênero, assinale a alternativa incorreta:
A
O Supremo Tribunal Federal reconheceu o direito de pessoas transexuais, transgêneros e travestis a alterar
seu nome e sexo no registro civil, independentemente de cirurgia ou de ação judicial.
B
O Supremo Tribunal Federal afirmou que o objetivo de promoção de uma sociedade livre de discriminações
também implica levar discussões envolvendo a discriminação contra mulheres e contra pessoas LGBT às
escolas.
C
O Supremo Tribunal Federal reputou potencialmente lesiva a direitos de crianças e adolescentes a realização
de debates envolvendo discriminação de gênero no âmbito das escolas.
D
O Supremo Tribunal Federal considerou que a discriminação contra homossexuais e transexuais pode
configurar uma expressão do crime de racismo.
E
O Supremo Tribunal Federal tem contribuído para o avanço de pautas de grupos vulnerabilizados em razão de
gênero, como mulheres e pessoas trans.
A alternativa C está correta.
O Supremo Tribunal Federal considerou que a ideia de “ideologia de gênero” é uma distorção do necessário
debate acerca da discriminação de gênero e contra pessoas transexuais, transgêneros e travestis nas
escolas — razão pela qual declarou a inconstitucionalidade de leis que tentavam impor silêncio sobre o
tema.
3. Proteção ao idoso na Constituição Federal
Conceito de idoso
Vamos voltar nossa atenção para um terceiro grupo vulnerável que, por vezes, é negligenciado em seu
tratamento jurídico e constitucional: as pessoas idosas.
 
Sabemos que, no Brasil, tornar-se idoso é um direito que a realidade social, muitas vezes, transforma em
privilégio: a população brasileira jovem e negra, por exemplo, é atingida por altíssimos níveis de violência e
letalidade, impedindo-lhe um envelhecimento saudável e o gozo da vida na chamada terceira idade.
O fato é, sem prejuízo disso, que as pessoas idosas estão sujeitas a uma forma específica de
vulnerabilidade social: muitas vezes, são acometidas por problemas de saúde diretamente
relacionados à idade, mas também por doenças psicológicas que as afetam desproporcionalmente.
Fora do campo da saúde, a pessoa idosa também encontra dificuldades ora para ser incluída no mercado de
trabalho, quando assim deseja, ora para gozar de seu direito à vida em um momento precioso que coroa toda
uma existência ao longo de décadas.
 
É nessa linha que o texto constitucional brasileiro buscou conferir amparo aos idosos, o que se
realiza não só por meio de direitos específicos como também de políticas públicas
especificamente voltadas para essa população.
 
Fora do campo da saúde, a pessoa idosa também encontra dificuldades ora para ser incluída no mercado de
trabalho, quando assim deseja, ora para gozar de seu direito à vida em um momento precioso que coroa toda
uma existência ao longo de décadas.
 
É nessa linha que o texto constitucional brasileiro buscou conferir amparo aos idosos, o que se
realiza não só por meio de direitos específicos como também de políticas públicas
especificamente voltadas para essa população.
Antes de analisarmos tais dispositivos, precisamos, no entanto, definir quem se qualifica juridicamente como
idoso.
 
O Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003) considera idosa toda pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos.
 
Diante do envelhecimento da população brasileira, diversos projetos de lei foram apresentados ao longo dos
anos com o objetivo de alterar a idade a partir da qual se considera idosa uma pessoa.
Mais especificamente, há quem defenda a alteração do parâmetro: dos atuais 60 (sessenta) anos
para 65 (sessenta e cinco) anos. Até que advenha uma alteração legislativa, no entanto,
precisaremos atentar ao Estatuto do Idoso vigente.
Perceba, a este respeito, como estamos, aqui, diante de uma situação na qual a Constituição nos apresenta
um conceito jurídico indeterminado, que depende da atuação legislativa para sua concretização. Assim,
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm
poderíamos considerar como idosos pessoas acima de 80, de 70 ou de 60 anos, e todas essas alternativas
poderiam estar corretas.
 
Como a própria Constituição não nos dá a resposta, o legislador acaba, então, definindo o
recorte aplicável nos limites do que é permitido pelo conceito.
Conceito jurídico indeterminado
Aquele que permite pluralidade de sentidos. 
Atenção
Aqui, surge um ponto importante: uma lei não poderia definir como idoso, por exemplo, os maiores de 30
anos, porque sabemos, com segurança, que pessoas com mais de 30 anos não são idosas. Da mesma
forma, a lei não poderia restringir o conceito de idoso às pessoas acima de 100 anos. Afinal,
pouquíssimos brasileiros chegam a essa idade, e implementar uma classificação desse tipo esvaziaria o
princípio constitucional da proteção da pessoa idosa. 
Contudo, o legislador goza, sim, de discricionariedade para definir, nos limites semânticos da palavra “idoso” o
recorte que seja adequado à proteção constitucional e aos objetivos da Carta Magna.
Constituição e tutela à pessoa idosa
O idoso é sujeito de direito e goza dos mesmos direitos fundamentais que as demais pessoas. O Estatuto do
Idoso teve a preocupação de prever essa proteção a esse grupo social:
Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
LEI Nº 10.741, 2003
Feito esse esclarecimento, passamos à análise do texto constitucional.
 
Um primeiro direito assegurado à pessoa idosa está previsto no art. 203, inciso V, da Constituição. Trata-se da
garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa idosa que não possua meios de prover a própria
manutenção nem tenha família que possa provê-lo. Esse benefício, denominado “benefício de prestação
continuada”, foi regulado pela Lei Orgânica da Assistência Social (Lei nº 8.742/1993), que o limitou a pessoas
idosas com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais. Mais uma vez, diante do silêncio do texto constitucional, é
razoável que a legislação estabeleça determinado parâmetro para definir quem é a pessoa idosa tutelada pelo
benefício.
 
Já no capítulo voltado especificamente para a família, a criança, o adolescente e o idoso, a Constituição
consagrou, em seu art. 230, o dever do Estado, da família e da sociedade de amparar as pessoas idosas:
Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua
participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988
Trata-se, aqui, de um dispositivo que reflete o que o ministro Carlos Ayres Britto do Supremo Tribunal Federal
denominou “constitucionalismo fraternal”, que exige a efetivação de uma solidariedade social em favor da
pessoa idosa.
 
Igualmente, o art. 230, em seu parágrafo 2º, estabelece o direito dos maiores de 65 anos à gratuidade dos
transportes coletivos urbanos. Apesar da previsão constitucional expressa, a matéria chegou a ser levada ao
Supremo Tribunal Federal em ação que impugnava o art. 39 do Estatuto do Idoso, que reproduzia este
dispositivo.
No entendimento do STF, diante da garantia de gratuidade inserida na Constituição, não se poderia falar em
violação pela legislação que reitera o texto constitucional.
 
Dado o reconhecimento do direito dos idosos pelo Supremo Tribunal Federal, vale conferir o julgado na Ação
Direta de Inconstitucionalidade nº 3.768 (ADI nº 3.768):
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE.ART. 39 DA LEI N. 10.741, DE 1º DE OUTUBRO DE 2003
(ESTATUTO DO IDOSO), QUE ASSEGURA GRATUIDADE DOS TRANSPORTES PÚBLICOS URBANOS E
SEMIURBANOS AOS QUE TÊM MAIS DE 65 (SESSENTA E CINCO) ANOS. DIREITO CONSTITUCIONAL.
NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA PLENA E APLICABILIDADE IMEDIATA. NORMA LEGAL QUE
REPETE A NORMA CONSTITUCIONAL GARANTIDORA DO DIREITO. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. O art.
39 da Lei n. 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) apenas repete o que dispõe o § 2º do art. 230 da
Constituição do Brasil. A norma constitucional é de eficácia plena e aplicabilidade imediata, pelo que não
há eiva de invalidade jurídica na norma legal que repete os seus termos e determina que se concretize o
quanto constitucionalmente disposto. 2. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente
ADI Nº 3.768, 2007
Direito preferencial de recebimento de precatórios
Outro importante direito assegurado pela Constituição à pessoa idosa diz respeito à preferência no
recebimento de precatórios.
 
A Constituição Federal, em seu art. 100, estabeleceu um mecanismo próprio de pagamento
das condenações pecuniárias contra a Fazenda Pública, buscando assegurar impessoalidade
na satisfação a credores.
 
Diferentemente do que acontece com um indivíduo que perde em uma ação judicial, a Fazenda Pública não
deve pagar as condenações judiciais imediatamente. Esse pagamento é feito pelo mecanismo do precatório: a
dívida é inscrita no orçamento das entidades de direito público até 1º de julho, para que seja realizado o
pagamento até o final do exercício seguinte, na ordem cronológica de apresentação dos precatórios.
 
Isso significa que o prazo para pagamento de condenações judiciais pela Fazenda Pública nunca será inferior
a aproximadamente seis meses.
Na prática, porém, diversos entes públicos reiteradamente descumprem o dever de pagar seus
precatórios, mesmo quando já há muito está esgotado o prazo de pagamento. Em razão disso,
diversas emendas à Constituição foram editadas, de forma a reduzir tais dívidas e facilitar o
pagamento pelos entes.
É nesse contexto de “calote” dos precatórios que surge um tratamento diferenciado e privilegiado em favor da
pessoa idosa. Nos termos do art. 100, parágrafo 2º, da Constituição, os créditos de natureza alimentícia
inscritos em precatório serão pagos com preferência, caso seus titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade
ou mais:
Art. 100.§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, originários ou por sucessão hereditária,
tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou pessoas com
deficiência, assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais
débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo,
admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de
apresentação do precatório.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988
Essa previsão tem um objetivo específico que vai além da vulnerabilidade da pessoa idosa. O texto
constitucional concluiu que, sem esse tratamento diferenciado, seria possível que diversas pessoas idosas
jamais recebessem o pagamento das condenações judiciais promovidas em seu favor ou mesmo que,
recebendo após anos, não pudessem gozar dessas condenações.
Papel do Supremo Tribunal Federal na proteção à pessoa
idosa
É interessante notarmos que, diferentemente do que ocorre com os povos indígenas e com as minorias de
gênero, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ainda é escassa em matéria de proteção à pessoa idosa.
Isso ocorre principalmente pelo fato de que a Constituição não previu amplos direitos em favor desse grupo, o
que reduz o parâmetro de controle de atos do Poder Público.
 
Além disso, no sistema jurisdicional brasileiro, a proteção da pessoa idosa depende, em larga medida, da
implementação de políticas públicas no campo da saúde, do emprego, do lazer, da moradia e do mercado de
trabalho, cuja implementação e desenho recaem com muito mais peso sobre:
Poder Legislativo
Define seus objetivos, suas fontes de
financiamento e seus parâmetros gerais.
Poder Executivo
Efetivamente implementa as medidas concretas
necessárias ao atingimento das finalidades
constitucionais.
Isso não significa que os desafios da proteção da pessoa idosa estejam superados. Longe disso, há muito que
se avançar nesse sentido. O Supremo Tribunal Federal pode, eventualmente, ser chamado a avaliar omissões
e violações aos direitos desse grupo.
 
Hoje, no entanto, a tutela da pessoa idosa ocorre especialmente fora do debate da jurisdição constitucional,
evidenciando para nós, estudiosos do Direito, como os direitos fundamentais dependem, em geral, da atuação
de outros agentes externos ao sistema de Justiça.
A proteção do idoso como dever da família e do Estado:
entre solidariedade e políticas públicas
O especialista Wallace Corbo fala sobre A proteção do idoso como dever da família e do Estado: entre
solidariedade e políticas públicas.
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Questão 1
obre a proteção constitucional às pessoas idosas, assinale a alternativa incorreta:
A
A pessoa idosa que não possua meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família tem
direito ao benefício mensal de um salário-mínimo.
B
Nos termos do Estatuto do Idoso, considera-se pessoa idosa aquela com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos.
C
A proteção da pessoa idosa é dever do Estado e da própria pessoa, com exclusão de quaisquer outros.
D
A proteção à pessoa idosa ocorre especialmente no campo das políticas públicas.
E
É constitucional a gratuidade nos transportes públicos, assegurada a pessoas com 65 anos ou mais.
A alternativa C está correta.
De acordo com o art. 230 da Constituição Federal, a proteção da pessoa idosa é dever não apenas do
Estado, mas também da sociedade e da família.
Questão 2
Sobre os conceitos que envolvem as pessoas idosas e os direitos assegurados a elas, assinale
a alternativa correta:
A
A pessoa idosa não goza de direitos específicos na Constituição.
B
Diferentemente do que ocorre com relação a outros grupos sociais, a Fazenda Pública deve pagar, de
imediato, as condenações judiciais realizadas em favor da pessoa idosa.
C
A vulnerabilidade da pessoa idosa decorre de sua idade avançada, fragilidade de saúde e dificuldade de
inserção em diversos espaços sociais.
D
O Poder Judiciário, em geral, e o Supremo Tribunal Federal, em específico, são os principais promotores dos
direitos da pessoa idosa.
E
Idoso é um conceito jurídico indeterminado, que admite diferentes conformações pelo legislador, desde que
não ultrapassem os sentidos mínimos do termo.
A alternativa C está correta.
A vulnerabilidade a que se sujeita a pessoa idosa diferencia-se, por vezes, daquela que atinge outros
grupos sociais. Enquanto indígenas, negros e mulheres sofrem discriminações estruturais ao longo de sua
vida, as pessoas idosas encontram-se vulnerabilizadas especialmente em razão da dificuldade de
exercerem sua autodeterminação por motivos de saúde e de idade avançada, o que também atinge o gozo
de seus direitos em outros espaços.
4. Conclusão
Considerações finais
O Supremo Tribunal Federal tem abordado o tema dos direitos de grupos vulneráveis. Descobrimos como, por
vezes, é em sede judicial que muitos direitos podem ser conquistados, a despeito das resistências que
enfrentam no campo da política majoritária.
 
Temas como a promoção dos direitos de povos indígenas, o combate à desigualdade e à discriminação de
gênero em diversas facetas, e a proteção da pessoa idosa revelaram as possibilidades e os desafios na
relação entre Justiça e minorias sociais e políticas.
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Qual o papel da Justiça na redução das desigualdades sociais?
 
Sinopse: Dra. Ivone Caetano, primeira juíza negra do Estado do Rio de Janeiro e primeira desembargadora
negra do TJRJ, discorre sobre o compromisso que a Justiça deveria ter com a redução das desigualdades
sociais.
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Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, pesquise:
No YouTube e assista às sustentações orais realizadas na ADI nº 4.275, que discutiu sobre o direito de
pessoas trans à alteração de nome e sexo no registro civil:
 
Sustentação oral STF – Registro de Pessoas Trans, por Wallace Corbo.
Sustentação oral STF – Registro de Pessoas Trans, por Gisele Alessandra.
• 
• 
Sustentação oral STF – Registro de Pessoas Trans, por Maria Berenice.
 
Na mesma plataforma, assista ao julgamento do Supremo Tribunal Federal que tratou da luta contra o
coronavírus em um grupo social considerado vulnerável: Pleno Combate à Covid-19 em comunidades
indígenas.
Referências
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF:
Presidência da República, [2020].
 
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei nº 10.741, de 1º de
outubro de 2003. Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da
República, º out. 2003.
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.768. Relator: Cármen Lúcia, 19 de
setembro de 2007. Diário da Justiça Eletrônico: jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, Dje-131, Brasília,
DF, 2007.
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. ADPF/709 – Medida Cautelar na Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental Nr. 709. Relator: Ministro Roberto Barroso, 8 de julho de 2020. Diário da Justiça Eletrônico:
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, Dje-174, Brasília, DF, 2020.
 
CORBO, W. Discriminação indireta: conceito, fundamentos e uma proposta de enfrentamento à luz da
Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2017.
 
GARGARELLA, R. Derecho y grupos desaventajados. Barcelona: Gedisa Editorial, 1999.
LENZA, P. Direito Constitucional esquematizado. São Paulo: Saraiva Educação, 2017.
 
MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva Educação, 2020. (Série
IDP).
 
SARLET, I. W.; MARINONI, L. G.; MITIDIERO, D. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Saraiva Educação,
2016.
• 
	A justiça no Brasil e os grupos vulneráveis
	1. Itens iniciais
	Propósito
	Preparação
	Objetivos
	Introdução
	1. Proteção aos povos indígenas
	Reconhecimento dos povos indígenas e do multiculturalismo
	Nisso repousa, então, a inovação do texto constitucional brasileiro.
	Atenção
	Direitos assegurados aos indígenas
	Vamos conhecer, agora, os direitos assegurados aos indígenas no texto constitucional brasileiro, sob a perspectiva do direito à diferença e ao reconhecimento.
	Em primeiro lugar
	Em segundo lugar
	Primeiro, as terras indígenas integram o conjunto de bens da União, conforme dispõe o art. 20, inciso XI, da Constituição. São os indígenas, contudo, que detêm a posse permanente dessas terras, nos termos do art. 231, podendo usufruir de suas riquezas com exclusividade.
	1º – Direito à dignidade humana como direito ao reconhecimento
	2º – Direito à moradia
	3º – Direito à identidade coletiva
	Terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas
	Exemplo
	Seria possível negar o direito desses povos indevidamente expulsos, mas que seguiam disputando a posse dessas terras, pelo simples fato de terem sido impedidos de exercer sua posse sobre aquelas terras em 5 de outubro de 1988?
	Atenção
	Proteção de direitos de povos indígenas
	Em outras palavras, como os povos indígenas poderão se proteger diante de violações ou ameaças de violações a seus direitos?
	Exemplo
	Em especial, surge a pergunta: se forem sujeitados a atos violadores de seus direitos (previstos na Constituição), os povos indígenas poderão ajuizar ações de controle de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal Federal?
	O direito à terra dos povos indígenas: propriedade ou identidade?
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	Estudamos sobre a proteção de grupos vulneráveis no Supremo Tribunal Federal. Sobre o conceito de grupos vulneráveis, assinale a alternativa incorreta:
	Sobre a proteção constitucional aos povos indígenas, assinale a alternativa correta:
	2. Discussões de gênero no STF
	Questões de gênero abarcadas na Constituição
	Tipos de discriminação
	Fala, mestre!
	Conteúdo interativo
	Do ponto de vista jurídico, a discriminação consiste na negação de direitos a coletividades historicamente marginalizadas.
	Papel do Supremo Tribunal Federal na questão do aborto
	Assim, ao ponderar a inexistência de vida no caso do feto anencéfalo e a liberdade sexual e reprodutiva da mulher, bem como seu direito à saúde e à autodeterminação, o Supremo Tribunal Federal entendeu que os artigos do Código Penal que criminalizam o aborto não foram recepcionados pela Constituição de 1988 em relação à interrupção desse tipo de feto.
	Direitos das pessoas trans
	Homens transexuais
	Mulheres transexuais
	Travestis, não binários e agêneros
	E o que o direito tem a ver com isso?
	Grave constrangimento
	Apelido público notório
	Nesses dois casos, a legislação e a jurisprudência sempre admitiram a alteração do prenome.
	Exemplo
	Homofobia
	Bifobia
	Transfobia
	Discriminação e desigualdade de gênero
	Competência legislativa sobre currículo escolar
	Vedação à censura
	Direito à identidade de pessoas transexuais, transgêneros e travestis
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	Sobre a judicialização da desigualdade de gênero no Supremo Tribunal Federal, assinale a alternativa incorreta:
	Sobre a posição adotada pelo Supremo Tribunal Federal nas discussões que envolvem identidade de gênero, assinale a alternativa incorreta:
	3. Proteção ao idoso na Constituição Federal
	Conceito de idoso
	É nessa linha que o texto constitucional brasileiro buscou conferir amparo aos idosos, o que se realiza não só por meio de direitos específicos como também de políticas públicas especificamente voltadas para essa população.
	É nessa linha que o texto constitucional brasileiro buscou conferir amparo aos idosos, o que se realiza não só por meio de direitos específicos como também de políticas públicas especificamente voltadas para essa população.
	Como a própria Constituição não nos dá a resposta, o legislador acaba, então, definindo o recorte aplicável nos limites do que é permitido pelo conceito.
	Atenção
	Constituição e tutela à pessoa idosa
	Direito preferencial de recebimento de precatórios
	A Constituição Federal, em seu art. 100, estabeleceu um mecanismo próprio de pagamento das condenações pecuniárias contra a Fazenda Pública, buscando assegurar impessoalidade na satisfação a credores.
	Papel do Supremo Tribunal Federal na proteção à pessoa idosa
	Poder Legislativo
	Poder Executivo
	A proteção do idoso como dever da família e do Estado: entre solidariedade e políticas públicas
	Conteúdo interativo
	Verificando o aprendizado
	obre a proteção constitucional às pessoas idosas, assinale a alternativa incorreta:
	Sobre os conceitos que envolvem as pessoas idosas e os direitos assegurados a elas, assinale a alternativa correta:
	4. Conclusão
	Considerações finais
	Podcast
	Conteúdo interativo
	Fala, mestre!
	Conteúdo interativo
	Explore+
	Referências

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