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Os Economistas - Piero Sraffa - Produção de Mercadorias por Meio de Mercadorias

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OS	ECONOMISTAS
PIERO	SRAFF A
PRODU ÇÃO DE MERCADORIAS POR MEIO DE MERCADORIAS
JOAN	ROBINS ON
ENS AIO S SOBRE A TEORIA
DO CRES CIMEN TO ECONÔMICO
LIBERD ADE E NECESS IDADE
Seleção de textos de Pau l Singer
Traduções de Elizabeth Macha do Olivei ra , Pau lo de Almeid a e
Chr istiano Mont eiro Oiticica
Fun dador
VICTOR CIVITA (1907 - 1990 )
Editora Nova Cultura l Ltda.
Copyright © des ta edição 1997 , Círculo do Livro Ltda.
Rua Pa es Leme, 524 - 10º an dar CEP 05424 -010 - São Pau lo - SP
Títu los origina is: Texto de Sra ffa:
Production of Comm odities and Prelude to a Criti c of Economic Theory
Texto de Robinson:
Essays in the Theory of Economic Growth Freedom and Necessity: An Introduction to the S tudy of Society
Texto origina lment e publicado e licenciado por Macmillan Pr ess Ltd., Reino Un ido
(Ensaios Sobre a Teoria do Crescimento Econômico,
© Joan Robinson, 1962 )
Direitos exclusivos sobre a Aprese nta ção: Editora Nova Cultura l Ltda.
Impress ão e acabam ento:
DONNE LLEY COC HRANE GRÁFICA E EDITOR A BRASIL LTDA. DIVISÃO CÍRC ULO - FONE (55 11) 4191 -4633
ISBN 85-351-0921 -8
APRESEN TAÇÃO
Consultoria: Pau l Singer
A revolução realizada por Keynes (1883 -1946) na economia não se limitou à corrente ma rginalista. Com Kalecki (1899-1970 ), a orto- doxia mar xista também foi atingida, embora seus efeitos se tenham feito sentir algo mais ta rde. Mas não há dúvida de que o grande debate que surgiu nos meios ma rxista s, a partir dos anos sessenta , sobre o caráter do Estado capitalista contemporâneo e da etapa atual do sistema, é prova de que o imobilismo foi mesmo abandonado.
A presença de Sraffa e Kalecki em Cambridge serviu para que o intercâmbio de idéias entre marginalistas e marxistas recomeçasse pelo menos no plano pessoal. Mas não há dúvida de que foi Joan Robinson, mais do que ninguém, que fez com que as últimas bar reiras da incomunicação caíssem. Educada na ortodoxia mar ginalista, Joan Robinson começou por desafiar o pressuposto da livre concorrência. Em seguida, uniu-se a Keynes como um de seus mais destacados discípulos e ajudou a divulgar e interpretar o novo evangelho.
JOAN VIOL ET ROBINS ON
Em bora Keynes tenha des tru ído gran de part e da consagra da doutr ina mar gina lista , inclusive com ar gum entos, em part e ao me- nos, an álogos aos de Mar x, ele menosp rezava completam ent e a economia mar xista como ciência. Joan Robinson, no entant o, tinha menos apego ao capita lismo como sistema e, uma vez verificada a fra gilidade do mes mo, passou a int eress ar-se por sua crítica ma is ra dical. Em 1944 , no livro int itu lado Economia Marxista , ela tenta tornar compreensíveis para o economista acadêmico as principais teses de O Capital . Ao fazer isso, no entant o, rompe com o mar xismo. Sua posição é definida, ness a altura , do seguint e modo: “Os eco- nomista s ortodoxos, como um todo, ident ificaram -se com o sistema e assumiram o papel de seus apologistas, enquanto Marx se propôs
5
a entender o funcionam ento do capitalismo a fim de apressar sua derrubada. Marx estava consciente desse propósito. Os economistas, numa inconsciência total”. E mais adiante: “Neste ínterim, os econo- mistas acadêmicos, sem prestar muita atenção a Marx, fora m forçados pelas expe riências dos tempos modernos a questionar muito da apo- logética ortodoxa, e os progressos recentes da teoria acadêmica leva- ram-nos a uma posição que, em algum sentido, assemelha-se muito mais à posição de Marx do que à de seus antecessores”.
Joan Robinson es ta va rompendo politi camente com o mar gi- na lismo, sem se desligar metodologicam ent e do mes mo. Esse des- ligam ento se dá nos anos seguint es, sendo mar cado pela publicação de A Acumulação do Capital , em 1956 , no qua l ela empreende uma incur são na an álise do dese nvolvimento gera l de uma economia capita lista , tema querido aos clássicos de A. Smith a Mar x, ma s que tinha sido aban dona do pelos mar gina lista s. Realiza a análise sem aderir a nenhuma teoria do valor, o que evide nt ement e lhe impede de formu lar leis que regem a acumu lação do capita l, sendo obrigada a se limitar a certa casuística de modelos. Nos Ensaios Sobre a Teoria do Crescimento, esse tipo de análise es tá bem re- prese nta do. Ela constitu i part e int egrant e da macro-economia mo- derna , que tenta ent ender o funcionam ento do capita lismo usan do indistintam ent e conceitos e teses tira das do mar gina lismo (ao me- nos em sua versão keynesi ana ) e do mar xismo.
O gran de mérito das an álises da dinâmica econômica de Joan Robinson es tá na crítica aguda e mordaz do pretensioso edifício lógico constru ído pelos mar gina lista s e que, apes ar de capenga, cont inua sendo aprese nta do como o único corpo “cient ífico” de co- nh ecimentos econômicos. Joan Robinson, em lugar de efetuar a crítica “de fora”, como o fazem usua lment e os mar xista s denun - cian do as int enções apologéticas e os conceitos ina deq ua dos, exa- mina as proposições mar gina lista s a part ir “de dentr o”, de seus próprios press upostos lógicos, denun cian do sua s inconsistências e sobretu do sua s pretensões injustificadas de dize r algo sobre o mun - do real.
Joan Robinson abriu cam inho para um tipo de pensam ento econômico que, por se recusar a qua lquer ortodoxia, pode ser tido como eclético. Ele tem se adapta do bem à política amorfa das ins- titu ições int erna ciona is, part icularm ent e dos órgãos int ergoverna - menta is ligados à ONU, que têm que conciliar as posições dive r- gent es de seus int egrant es. Os tra balhos de análise econômica pro- duzidos pela CEPAL são um bom exemplo de como esse tipo de pensam ento consegue produzir res ulta dos significat ivos.
Em Liberdade e Necessidade, um de seus últimos livros, Joan
OS ECONOMISTAS
Robinson tra ça um gran de panorama , das orige ns da sociedade até os dias de hoje. Trata -se de uma int erpretação da história da hu- man idade e não de uma história da economia; e seu ma ior signi- ficado es tá nisso: mostra a necessid ade de reint egrar a chama da ciência econômica no conjunt o das ciências do homem e, ao mes mo tempo, de que es ta s es tejam solidam ent e ancora das na s ciências da natur eza. Sua fra queza metodológica revel a-se à medid a que a obra avança em direção ao mun do cont emporâneo; seu tom torna -se cada vez ma is opinat ivo e as análises perdem em profun didade.
A grande cont ribuição de Joan Robinson para o pensamento econômico está em sua própria trajetória intelectual, que abriu vastos horizontes a toda uma nova geração de economistas, que, graças a ela e a alguns de seus companheiros, pôde lançar mão de um acervo de conhecimento muito mais rico do que na época em que todos es- tavam quase que obrigatoriamente filiados a uma ou outra corrente doutrinária, cada qual paralisada em seu próprio dogmatismo.
SRAFF A: A MERCADORIA-PADRÃO
Piero Sraffa escreveu relativamente pouco. Além de seu famoso ar tigo “The Laws of Returns under Competitive Conditions”, publicado em 1926 no Economic Journal, ele apenas editou as obras de Ricardo, para as quais escreveu um important e prefácio, e publicou, em 1960 , A Produção de Mercadorias por Meio de Mercadorias. Constitui esse livro a obra de toda uma vida, pois, como Sraffa mesmo indica no prefácio, ele o começou em 1925, tendo levado “um tempo despropor- cionado para um t rabalho tão curto”. Na verdade, o autor está sendo muito modesto: seu livro de reduzido tamanho já teve enorme reper- cussão no pensamento econômico contemporâneo e é fácil prever que terá repercussão ainda ma ior no fut uro.
Apes ar de fácil lei tura , A Produção de Mercadorias por Meio de Mercadorias é de difícil absorção, pois os mu itos problema s que aborda não es tão explicita dos, ocultando-se sob uma simplicidade engana dora . É isso que explica por que a repe rcussão inicial da obra tenha sido modes ta . Levou ma is de dez anos para que seu significado tivesse penetra do na s consciências e pass ado a fecun dar um crescent e número de es tu dos e análises. Não é exagero dize r que Sra ffa possivel ment e tenha proporciona do um novo ponto de part ida lógico para a an álise do capita lismo, es tan do a ma ior part e de seus frut os ainda por vir.
A Produção de Mercadorias começa por constru ir um qua dro do tipo insumo-produto, no qua l as relações de troca entr e diferent es valores de uso são determ ina das por coeficient es técnicos e pela es trutura da deman da. Mostra a seguir que, ha vendo um excede nt e,
SRAFF A
mesmo que se suponha a mesma taxa de lucro em todos os setores, os preços relativos e essa taxa de lucro se determinam mutu amente. Quando se adiciona o salário ao sistema, o número de equações é menor que o de incógnitas, o que significa que apenas quan do é fixado seja o salário seja o lucro é que os preços relativos se determina m.
Para demonstrar que, num sistema abs trat o que aprese nta as principais cara cterísticas da economia capita lista , exis te um con- junt o de relações que determ inam os preços relat ivos, os salários e os lucros, Sra ffa precisava demonstrar que ta is quant ias são co- mensur áveis, ou seja, que podem ser red uzidas ao mes mo denomi- na dor. Para resolve r esse problema , Sra ffa ut ilizou um “construt o” teórico — a mercadoria-padrão — que se compõe de todas as mer- cadorias básicas (isto é, as que entram na produção de outra s mer- cadorias) em ta l proporção que “o produto e os meios de produção são quant idades da própria mercadoria composta”. A mercadoria- padrão tem por cara cterística conservar o mes mo preço em face de qua lquer var iação dos salários ou lucros, o que não se dá com nenhuma mercadoria simples. Esta terá não só seu custo de tra - balho acrescido, se o salário aum enta , ma s seus insumos tam bém sofrerão aum entos em proporções var iáveis, conform e a proporção do custo do tra balho em seus custos tota is.
Como ess as proporções var iam entr e as dive rsas indústr ias, cada mercadoria será afeta da de modo diferent e por um aum ento de salários, de modo que no fim — depois que a alteração salar ial tive r reajusta do os preços — mercadorias que eram ma is barata s que outra s podem ter ficado ma is cara s, e sucessiv am ent e.
Com a mercadoria-padrão Sra ffa descobriu uma espécie de ped ra filosofal da economia, à cuja procura es tive ram Ricar do, Mar x e mu itos outr os: a de uma medid a invar iant e do valor. Com es ta sua descoberta , Sra ffa mostrou que uma teoria objetiva do valor é perfeitam ent e possível e se pode, a part ir dela, constru ir uma visão coerent e — embora complex a — do movimento dos gran des agre- gados econômicos e das leis que os regem. Ele mes mo inicia a aplicação des ta sua teoria ao problema da dep reciação do capita l fixo, da renda da terra e do deslocam ento dos métodos de produção.
A TEORIA DO VALO R-TRABALHO
Na verdade, para Sra ffa o “construt o” teórico da mercadoria- padrão é “puram ent e au xili ar”. Ela lhe serve apena s para mostrar que a comensura bilid ade das quant ias é logicam ent e possível em termos de valor, ma s es te tem como “medid a ma is tan gível” o tra - balho. Na verdade, o que Sra ffa precisa é de uma medid a do valor que perm ita descontar preços pass ados, tran sforman do-os em va- lores prese nt es, já que cada mercadoria incorpora uma longa série
OS ECONOMISTAS
de outras mercadorias, que ajudaram a produzi-la. É preciso pois reduzir essas outras mercadorias a um valor atual e nesse processo de redução as mercadorias vão se dissolvendo até que somente resta “trabalho datado”. Demonstra Sraffa, desse modo, que, num sistema em que mercadorias são produzidas por meio de mercadorias, os preços relativos, os salários e os lucros são determinados, em última análise, pelo tempo de t rabalho que é gasto na produção dessas mercadorias.
Verifica-se, pois, que a Teoria do Valor-Tra balho é a base necess ária para se poder formu lar teorias consistent es sobre a alo- cação de recur sos entr e os diferent es ram os de produção, sobre a rep art ição da renda entr e as diferent es classes sociais, sobre o pro- gresso técnico e os dema is tema s car deais da economia política. É bom que se diga, no entant o, que ess a reabilitação da teoria do valor-tra balho não se dá nos termos simplista s em que seus próprios part idários em gera l a compreendiam e aplicavam . O cálculo ma- tr icial, mes mo quan do aplicado a casos extr emam ent e simplificados medi ant e press upostos heróicos — a mes ma ta xa de lucros e o mes mo salário em todos os ram os —, dá res ulta dos sur preendent es do ponto de vista do senso comum . O que não dize r de an álises que relaxem esses press upostos e tent em realment e penetrar nos mean dros de um sistema capita lista monopólico, cuja cara cterística é a heterogeneid ade es trutura l? Apes ar da complexi dade da tar efa, cam pos fascinant es se abrem ao pensam ento teórico, arma do, a part ir de agora , com instrum entos conceitua is mu ito poderosos.
É interessante considerar que o livro de Sraffa não somente veio desencadear polêmicas nos meios ma rxistas mas ta mbém animou o diálogo polêmico entre as duas corr entes. A chamada “Controvérsia sobre o capital”, que contrapôs os autores da escola de Cambridge aos teóricos do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, foi provocada pelo livro de Sraffa, principalmente quando ele demonstra que um método de produção mais intensivo em capital pode substitu ir um menos intensivo, mesmo que o novo sistema implique em um salário mais elevado. Tal possibilidade parecia impossível do ponto de vista marginalista e levou à descoberta de inconsistências lógica s na própria for mulação do conceito de capital por parte dos marginalistas.
Como se pode ver, a relat iva es ta gnação teórica, provocada pelo enr ijecimento doutr inário das dua s gran des ortodoxias, acabou sendo supera da em boa medid a graças a Keynes, Sra ffa, Kalecki e Robinson. Atua lment e a economia política es tá em crise, ma s é uma crise mu ito sau dável, de rena scimento, dese ncadeada por uma renovação profun da das bases do pensam ento teórico. Keynes, Ka- lecki, Robinson e Sra ffa varr eram os escombros do cam po e lança- ram novos alicerces, sobre os qua is será possível voltar a constru ir.
SRAFF A
CRONOLOGIA
1883 — Nas ce John Maynar d Keynes, em Cam bridge.
1898 — Nas ce Piero Sra ffa.
1899 — Nas ce Micha el Kalecki.
1903 — Nas ce Joan Violet Robinson.
1911 — Keynes pass a a dirigir o Economic Journal.
1914 — Inicia-se a I Guerra Mun dial. O “laissez-faire” econômico é subs tituído pelos plan ejam entos.
1917 — Estoura a Revolução Comun ista na Rússia e o mar xismo torna -se doutr ina econômica oficial nesse país.
1918 — Term ina a I Guerra Mun dial e os países capita lista s tentam voltar ao libe ra lismo econômico.
1919 — Keynes rep rese nta o Tesouro Britânico na Conferência Int erna ciona l de Pa z.
1924 — Inicia-se a Nova Política Econômica na URSS .
1926 — Sraffa publica um artigo que sacode os meios acadêmicos da Economia, nos países capitalistas .
1929 — “Crack” da Bolsa de Valores de Nova York cria pânico nos países capita lista s.
1930 — Sur ge Treatise on Money, de Keynes.
1933 — Joan Robinson publica The Economics of Imperfect Com- petition. Vem à luz Tentat iva de Teoria da Conjuntura , de Michael Kalecki.
1934 — Inicia-se nos Esta dos Un idos o “New Deal” de Roosevel t, para fazer frent e à crise econômica.
1936 — Keynes publica Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda.
1939 — Começa a II Guerra Mun dial. Sur ge Ensaios Sobre a Teoriadas Flutuações Econômicas, de Micha el Kalecki.
1940 — Kalecki tran sfere-se para Oxfor d.
1943 — Mich ael Kalecki publica Aspectos Políticos do Pleno Emprego. 1944 — Surge Economia Mar xista de Joan Robinson. Keynes par- ticipa da Conferência Int erna ciona l de Bretton Woods.
11
OS ECONOMISTAS
1945 — Term ina a II Guerra Mun dial.
1946 — Kalecki tra balha no Secretar iado da Organ ização das Na- ções Un idas. O Fun do Monetário Int erna ciona l é presidid o por Keynes. Morr e Keynes.
1956 — Vem à luz Acumu lação do Capita l, de Joan Robinson.
1960 — Sraffa proporciona um novo ponto de parti da para a análise do capitalis mo com A Produção de Mercadorias por Meio de Mercadorias.
1983 — Joan Robinson falece aos 5 de agosto. Sraffa morre em Ca mbridge no dia 3 de setembro.
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BIBLIOG RAFIA
HAYEK, F. A.: A Survey of Contemporary Economics, Irwin & Co., Nova York , 1935 .
SCHUMPETER, J. A.: Business Cycles, McGraw-Hill, Nova York, 1939 . KLEIN, L. R.: The Keynesean Revolution, The Macmillan Co., Nova
York , 1947 .
HARRIS , S. E.: The New Economics, Knopf & Co., Nova York 1948 . DILL ARD, D.: The Economics of John Maynard Keynes, Pr ent ice-
Ha ll, Nova York , 1948 .
GALBRAITH, J. K.: The Affl uent Society, Litt le Brown, 1958 .
LEKACHMAN, R.: A History of Economic Ideas, Har per an d Row, Nova York , 1959 .
TAYLOR , O. H.: A History of Economic Thought, MacGra w-Hill, Nova York , 1960 .
WHITTAKER, E.: Schools and Streams of Economic Thought, Ran d MacNa lly, Chicago, 1960 .
GHERITY, J. A.: Economic Thought, Random House, Nova York, 1965 . HARCO URT, G. C. e LAING , N. S.: Capital and Growth, Penguin
Modern Economic Readings, 1971 .
HARCO URT, G. C.: Some Ca mbridge Controversies in the Theory of Capital , Cam bridge, 1972 .
13
PIERO SRAFF A
PRODU ÇÃO DE MERCADORIAS POR MEIO DE MERCADORIAS*
PRELÚDIO A UMA CRÍTICA DA TEORIA ECONÔMICA
Tradução de Elizabeth Macha do de Olivei ra
* Tra duzido do origina l inglês: Production of Comm odities by mean of Comm odities - Prelude to a Criti c of Economic Theory, Un ive rsity Pr ess , Cam bridge, 1972 .
PREF ÁCIO
Qua lquer pess oa acostuma da a pensar em termos de equilí- brio de deman da e oferta pode inclinar -se a supor, ao ler es ta s página s, que a ar gum enta ção repousa sobre a suposição tácita de rendimentos constant es em todas as indústr ias. Se se achar útil ta l suposição, não há inconvenient e algum em que o lei tor a adote como uma hipótese temporária de tra balho. De fato, entr etant o, não se faz ta l suposição. Não se considera var iação alguma no volum e de produção, nem (ao menos na s Part es I e II) var iação alguma na s proporções em que os diferent es meios de produção são ut iliz ados por uma indústr ia, de modo que não sur ge problema algum sobre a var iação ou constância dos rendimentos. A investi- gação ocupa-se exclusivam ent e daquelas propriedades de um sis- tema econômico que não depe ndem de var iações na escala de pro- dução ou na s proporções dos “fatores”.
Este ponto de vista , que é o dos ant igos economista s clássicos, de Adam Smith a Ricar do, tem es ta do submerso e esq uecido desde o advento do método “mar gina lista”. A ra zão é óbvia. O enfoque mar gina lista exige que a at enção se centra lize na var iação, porque sem var iação, seja na escala da indústr ia, seja “na s proporções dos fatores de produção”, não pode ha ver produto mar gina l nem custo mar gina l. Num sistema no qua l a produção cont inu e invar iável nesses aspectos, dia após dia, o produto mar gina l de um fator (ou, alternat ivam ent e, o custo mar gina l de um produto) não seria apena s difícil de encontrar , ma s não se teria onde encontr á-lo.
É preciso, entr etant o, ter cuidado em evitar a confusão entr e as “mar gens” esp úrias e o art igo aut ênt ico. Serão encontra dos nes- ta s página s exemplos que, à primeira vista , podem par ecer indis- tinguíveis dos exemplos de produção mar gina lista; ma s o sina l se- guro de seu car áter esp úrio é a au sência do tipo de var iação re- querido. O caso ma is conh ecido é o do produto da “terra mar gina l” na agricultura , isto é, quan do se cultivam simu ltan eam ent e terra s
17
de qua lidades diferent es: sobre es te ponto basta referir-se a P. H. Wickst eed, o pur ista da teoria mar gina lista , que condena a ut ili- zação do termo “mar gina l” como font e de “horr ível confusão”.1
A tenta ção de press upor rendimentos constant es não é int ei- ram ent e caprichosa. O próprio aut or a expe rimentou quan do co- meçou es tes es tu dos, há mu itos anos — e isto o conduziu, em 1925 , à tentat iva de ar gum entar que apena s o caso dos rendimentos cons- tant es era gera lment e consistent e com as premiss as da teoria eco- nômica. E, além disso, quan do, em 1928 , Lord Keynes leu um bor- ra dor das primeira s proposições des te tra balho, recomendou que, se não se supusesse m rendimentos constant es, deveria ser feita uma clara advertência nes te sent ido.
Estas alusões dão, incidentalmente, alguma idéia sobre o des- proporcional período de tempo durante o qual esteve em preparação um t rabalho tão breve. Embora as proposições centrais tivessem to- mado for ma nos últimos anos da década de 1920, alguns pontos par- ticulares, tais como a mercadoria-padrão, os produtos conjuntos e o capital fixo, foram desenvolvidos durante a década de 1930 e nos primeiros anos da década seguinte. A partir de 1955, enquant o estas páginas era m agrupadas de um grande volume de antigas notas, pouco foi acrescentado, além de preencher algumas lacunas que se revelara m no processo (tais como a adoção da distinção entre “produtos básicos” e “não-básicos” no caso de produtos conjunt os).
Como era perfeitam ent e natura l, durant e um período tão lon- go, outr os aut ores adotaram , alguma s veze s e indepe ndent ement e, pontos de vista que são similar es a um ou outr o dos adota dos nes te tra balho, e os dese nvolve ram em ma ior medid a ou em direções diferent es das aqui seguidas. É, entr etant o, um tra ço part icular do conjunt o de proposições agora publicadas que, embora não en- tr em numa discussão da teoria mar gina lista do valor e da distr i- buição, têm sido des tina das para servir de base a uma crítica de ta l teoria. Se as bases se sustentar em, a crítica poderá ser tenta da ma is tar de, seja pelo aut or, seja por alguém ma is jovem e melhor equipado para a tar efa.
Minha ma ior dívida é para com o Professor A. S. Besicovitch, pela ines timável ajuda mat emática que me pres tou por mu itos anos. Tam bém es tou em dívida, por uma ajuda similar em períodos di- ferent es, com o falecido Mr. Frank Ram sey e com Mr. Alister Wat- son. Ficar á perfeitam ent e claro que nem sempre segui os conselhos
1 "Political economy in th e light of mar gina l th eory", in Economic Journal, XXIV, 1914 , pp. 18-20, reimpresso como um apêndice de seu Comm on Sense of Politi cal Economy, ed. Lionel Robbins, 1993 , pp. 790-792 .
OS ECONOMISTAS
expe rtos que me foram dados; part icularm ent e, referent es ao sis- tema de notação adota do que insisti em mant er para que pudesse ser seguido facilment e por lei tores não mat emáticos (embora admito que es teja sujeito a objeções em algun s aspectos).
P. S. Trinity College, Ca mbridge, Março de 1959
SRAFF A
PARTE I
IND ÚSTRIAS DE UM SÓ PRODU TO E CAPITAL CIRCULANTE
CAPÍTULO I
Produ çã o de Subsist ê nc ia
Consideremos uma sociedade extr emam ent e simples que produza apena s o suficient e para se mant er. As mercadorias são produzidas por indústr ias distinta s e são int ercam biadas num mer- cado que se realiza depois da colheita .
Suponham os, inicialmente, que apena s dua s mercadorias são produzidas: tr igo e ferro. Ambas são ut iliz adas, em part e, para o sustento dos que tra balham e o res tant e como meios de produção
— o tr igo como sement e e o ferro em forma de ferram enta s. Su- ponham os que, no conjunt o e incluindo as necessid ades dos tra ba- lha dores, ut iliz am-se 280 arr obas de tr igo e 12 toneladas de ferro para produzir 400 arr obas de tr igo; enquant o que são empregadas
120 arr obas de tr igo e 8 toneladas de ferro para produzir 20 to- neladas de ferro. As operações de um ano podem ser ta buladas do seguint e modo:
280 arr obas de tr igo + 12 t de ferro 400 arr obas de tr igo
120 ar robas de t rigo + 8 t de ferro  20 t de ferro.
Nada foi acrescenta do, pela produção, às posses da sociedade em seu conjunt o: foram absorvidas 400 arr obas de tr igo e 20 to- neladas de ferro, no tota l, e produziram -se ess as mes ma s quant i- dades. Mas cada mercadoria, que inicialment e es ta va distr ibuída entr e as indústr ias, de acordo com sua s necessid ades, apar ece no fina l do ano int eiram ent e concentra da na s mãos de seu produtor. (Denominar emos es ta s relações de métodos de produção e de
consumo produ tivo, ou, para abreviar , métodos de produção.)
Há um único conjunt o de valores de troca que, se adota do pelo mercado, res ta belece a distr ibuição origina l dos produtos e torna possível que o processo se repi ta; ta is valores sur gem dire-
23
tam ent e dos métodos de produção. No exemplo part icular que to- mam os, o valor de troca requerido é 10 arr obas de tr igo para 1 tonelada de ferro.
O mes mo se aplica ao caso de três ou ma is mercadorias. Acrescentan do um terceiro produto, porcos:
240 arr obas de tr igo + 12 t de ferro + 18 porcos 
450 ar robas de t rigo
90 ar robas de trigo + 6 t de ferro + 12 porcos  21 t de ferro
120 arr obas de tr igo + 3 t de ferro + 30 porcos  60 porcos
Os valores de troca que asseguram a reposição completa são
10 arr obas de tr igo = 1 t de ferro = 2 porcos.
Pode-se notar que, enquant o no sistema de dua s indústr ias, a quant idade de ferro ut iliz ada para produzir tr igo tinha necess a- riam ent e o mes mo valor que a quant idade de tr igo ut iliz ada na fabricação de ferro. Is to deixa de ser necess ar iam ent e verdade para qua lquer par de mercadorias, quan do há tr ês ou ma is produtos. Assim, no último exemplo, não se regis tra ta l igua ldade, e a repo- sição apena s pode ser efetua da atra vés de um comércio tr ian gular .
Formu lan do a posição em termos gera is, temos as merca- dorias ‘a’, ‘b’, ..., ‘k’, cada uma das qua is produzida por uma indústr ia distinta .
Chamam os A à quant idade anua lment e produzida da merca- doria ‘a’; B à quant idade produzida da mercadoria ‘b’, e assim su- cessiv am ent e.
Denominam os, tam bém, Aa, Ba, ..., Ka às quant idades de ‘a’, ‘b’, ..., ‘k’ ut iliz adas anua lment e pela indústr ia que produz A, e
denominam os Ab, Bb, ..., Kb às corr espondent es quant idades ut ili- zadas para produzir B, e assim sucessiv am ent e.
Todas es ta s quant idades são conh ecidas. As incógnita s a de- term inar são pa, pb, ..., pk, que indicam , respe ctivam ent e, os valores un it ários das mercadorias ‘a’, ‘b’, ..., ‘k’ que, se forem adota dos,
res ta beleceriam a posição inicial.
As condições de produção são agora as seguint es:
Aa pa + Ba pb + ... + Ka pk = Apa Ab pa + Bb pb + ... + Kb pb = Bpb
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Ak pa + Bk pb + ... + Kk pk = Kpk
onde, visto que se supõe que o sistema es teja num es ta do de aut o- reposição, Aa + Ab + ... + Ak = A; Ba + Bb + ... + Bk = B; ...; e Ka
+ Kb + ... + Kk = K. Is to é, a soma da primeira coluna é igua l à
OS ECONOMISTAS
da primeira linha ; a da segun da coluna é igua l à da segun da linha , e assim sucessiv am ent e.
Não é necess ário supor que cada mercadoria entr e direta mente na produção de todas as dema is; sendo assim, alguma s das quan - tidades do lado esq uerdo, isto é, do lado dos meios de produção, podem ser zero.
Toma-se uma mercadoria como medid a de valor e igua la-se seu preço à un idade. Is to nos deixa com k – 1 incógnita s. Visto que, no tota l das equações, as mes ma s quant idades apar ecem em am bos os lados, qua lquer uma das equações pode inferir-se da soma das dema is.2 Assim, ficamos com k – 1 equações linear es indepe n- dent es que determ inam un ivocam ent e os k – 1 preços.
2 Esta formu lação press upõe que o sistema es teja num es ta do de aut o-reposição; ma s todo sistema do tipo considera do pode ser lev ado a ta l es ta do simplesment e medi ant e a var iação das proporções em que as equações individua is entram nele. (Os sistema s que assim se comportam , com um excede nt e, serão discut idos na seção 4 e seguint es. Sistema s que são incapazes de se comportar assim como qua isquer proporções e que aprese ntam um déficit na produção de alguma s mercadorias em relação a seu consumo, mes mo que nenhuma tive r um excede nt e, não rep rese ntam sistema s econômicos viáveis e não são considera dos.)
SRAFF A
CAPÍTULO II
Produ çã o com um exceden te
Se a economia produz mais do que o mínimo necessário para a reposição e existe um excedente a ser distribuído, o sistema torna-se autocontra ditório. Com efeito, se somarmos todas as equações, o lado direito da equação-soma resultante (ou produto nacional bruto) con- terá, além de todas as quantidades que se encontram no lado esquerdo (ou meios de produção e subsistência), algumas adicionais que lá não estão. Cont ando, como na seção 3, teremos agora k equações inde- pendentes com apenas k – 1 incógnitas.
A dificuldade não pode ser superada com a separação do exce- dente antes que os preços sejam determinados, como se faz com a reposição de matérias-primas, bens de subsistência etc. Isto acontece porque o excedente (ou lucro) deve ser distribuído em proporção aos meios de produção (ou capital) adiantados em cada indústria, e tal proporção entre dois agregados de bens heterogêneos (em outras pa- lavras, a taxa de lucro) não pode ser determ inada antes que con he- çamos os preços dos bens. Por outro lado, não podemos acat ar a se- paração do excedente até que conheçamos os preços, porque, como ve remos, os preços não podem ser determinados antes de se conhecer a taxa de lucro. O resultado é que a distribuição do excedente deve ser determinada at ravés do mesmo mecanismo e ao mesmo tempo em que se determinam os preços das mercadorias.
Sendo assim, intr oduzimos a ta xa de lucro (que deve ser un i- form e para todas as indústr ias) como uma incógnita que denomi- nam os r, e o sistema se convert e em
(Aa pa + Ba pb + ... + Ka pk) (1 + r) = Apa
(Ab pa + Bb pb + ... + Kb pk) (1 + r) = Bpb
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
(Ak pa + Bk pb + ... + Kk pk) (1 + r) = Kpk
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onde, visto que se supõe que o sistema es teja num es ta do de aut o- reposição, Aa + Ab + ... + Ak  A; Ba + Bb + ..., + Bk  B; ...; Ka + Kb + ... + Kk  K; isto é, a quant idade produzida de cada mercadoria
é no mínimo igua l à quant idade da mes ma que é ut iliz ada por
todos os ram os de produção em seu conjunt o.
Este sistema contém k equações indepe ndent es que determ i- nam os k – 1 preços e a ta xa de lucro.
Como exemplo podemos aum entar , no caso de dua s mer- cadorias (seção 1), a produção de tr igo de 400 arr obas para 575 arr obas, deixan do sem var iação as dema is quant idades. Is to deter- mina um excede nt e social de 175 arr obas de tr igo e a posição re- sultant e é:
280 arr obas de tr igo+ 12 t de ferro  575 arr obas de tr igo
120 ar robas de t rigo +	8 t de fer ro 	20 t de ferro.
A relação de troca que perm ite que os adiantam entos sejam repostos e que os lucros sejam distr ibuídos a am bas as indústr ias em proporção aos seus adiantam entos é 15 arr obas de tr igo por 1 tonelada de ferro; e a corr espondent e ta xa de lucro em cada in- dústr ia é de 25%.
(Façamos, como ilustra ção, o cálculo ar itm ético para a indús- tr ia do ferro. Das 20 toneladas produzidas, 8 vão repor o ferro ut iliz ado e 12 são vendidas ao preço de 15 arr obas de tr igo por tonelada, obtendo-se, por conseguint e, 180 arr obas de tr igo; des ta s,
120 arr obas vão repor o tr igo ut iliz ado e 60 arr obas são o lucro, à ta xa de 25% sobre as 240 arr obas de tr igo, que é o valor agregado do tr igo e o ferro ut iliz ados como meios de produção e de subsis tência na indústr ia do ferro.)
É preciso advert ir sobre um efeito da ocorrência de um excede nt e. Ant eriorm ent e, todas as mercadorias es ta vam em pé de igua ldade, cada uma delas apar ecendo tant o entr e os produtos como entr e os meios de produção; em conseqüência, cada uma delas en- tra va, direta ou indiretam ent e, na produção de todas as dema is, e cada mercadoria dese mpenha va um papel na determ inação dos preços. Mas agora sur ge a possibili dade da exis tência de uma nova classe de bens de “luxo” que não são ut iliz ados nem como instru - mentos de produção nem como art igos de subsis tência, na produção de outra s mercadorias.
Estes produtos não têm part icipação alguma na determ inação do sistema . Seu papel é puram ent e passivo. Se uma inovação vie r a red uzir à meta de a quant idade de cada um dos meios de produção que são necess ários para produzir uma un idade de bem de “luxo” des te tipo, o preço des ta mercadoria cairia pela meta de, ma s não
OS ECONOMISTAS
se regis trar iam conseqüências posteriores; as relações de preços dos outr os produtos e as ta xas de lucro perman eceriam ina ltera das. Mas, se isso ocorr esse na produção de uma mercadoria do tipo oposto, que entra nos meios de produção, todos os preços ficar iam afeta dos e a ta xa de lucro var iar ia. Is to pode ser visto se elimi- narm os do sistema a equação que rep rese nta a produção de um bem de “luxo”. Visto que, ao fazer isto, eliminam os uma incógnita (o preço des te bem) que apena s apar ece ness a equação, as equações res tant es cont inuar ão forman do um sistema determ ina do que será sat isfeito pelas soluções do sistema ma is am plo. Por outr o lado, se eliminarm os uma das outra s equações, corr espondent es a bens que não são de “luxo”, o número de incógnita s não ficar ia red uzido, pois a mercadoria em ques tão apar ece como meio de produção na s outra s equações, e o sistema ficar ia indeterm ina do.
O que acabamos de dize r sobre o papel passivo dos bens de luxo pode facilment e es tender-se às outra s “superfluidades” que são apena s ut iliz adas em sua própria rep rodução, seja diretam ent e (por exemplo, cavalos de corr ida), seja indiretam ent e (por exemplo, as avestru zes e os ovos de avestru z), ou simplesment e para a pro- dução de outra s “superfluidades” (por exemplo, sed a bruta ).
O critério consiste em saber se uma mercadoria entra (direta ou indiretam ent e) na produção de todas as mercadorias. As que o fazem serão denomina das produtos básicos e as que não o fazem serão denomina das produtos não-básicos.
Suporemos que qua lquer sistema contém, no mínimo, um pro- duto básico.
Par ece oportun o, chegado a es te es tágio, explicar por que as relações que sat isfazem as condições de produção têm sido de- nomina das “valores” ou “preços” e não, como poder-se-ia pensar ser ma is apropriado, “custos de produção”.
Esta última denominação seria adeq ua da em relação aos pro- dutos não-básicos, pois, conform e o que foi visto na seção ant erior, sua relação de troca é simplesment e um reflexo do que deve ser pago pelos meios de produção, tra balho e lucro para produzi-los — não há depe ndência mútua .
Mas, no caso de um produto básico, há um outr o aspecto a ser considera do. Sua relação de troca depe nde tant o do uso que dele se faz na produção de outra s mercadorias básicas, como do grau em que aquelas mercadorias entram em sua própria produção. (Alg uém poderia ser tenta do a dize r — embora desse lugar a pos- síveis erros — que “sua relação de troca depe nde tant o do lado da deman da como do lado da oferta”.)
Em outra s palavra s, o preço de um produto não-básico depe nde
SRAFF A
dos preços de seus meios de produção; ma s es tes não depe ndem dele. Entr etant o, no caso de um produto básico, os preços de seus meios de produção depe ndem de seu próprio preço não menos do que es te último depe nde daqueles .
Por isso, é necess ária uma denominação menos un ilat era l que a de custo de produção. Em bora sejam apropriados termos clássicos como “preço necess ário”, “preço natura l” ou “preço de produção”, foram preferidos valor e preço por serem exp ressões ma is curta s e não ma is am bígua s no prese nt e cont exto (que não cont ém refe- rência a preços de mercado).
Pode ser acrescenta do que, não apena s nes te caso, ma s em geral , o uso do termo “custo de produção”, foi evita do nes te tra balho, assim como o termo capita l em sua conotação quant itat iva, às custa s de algum can sat ivo circun lóquio. Is to porque es tes termos acabaram fican do ligados insep ara vel ment e à suposição de que rep rese ntam quant idades que podem ser medid as indepe ndent ement e e ant es da determ inação dos preços dos produtos. (Recordem-se dos “custos reais” de Mar sha ll e da “quant idade de capita l” implícita na teoria e produt ividade mar gina l.) Visto que um dos objetivos des te tra - balho consiste em libe rtar -se de ta is press upostos, a eliminação dos termos par eceu ser o único modo de não prejudicar o tema .
Até o momento, consideram os os salários como consistent es nos bens necess ários para a subsis tência dos tra balha dores, en- tran do, ent ão, no sistema em pé de igua ldade com o combustível para os motores ou os alimentos para o gado. Deve mos agora lev ar em conta o outr o aspecto dos salários, pois, além do sempre prese nt e elemento de subsis tência, eles podem incluir uma parcela do produto excede nt e. Tendo em vista es te duplo caráter dos salários, seria apropriado, quan do considerarm os a divisão do excede nt e entr e capita lista s e tra balha dores, sep arar as dua s part es component es do salário e considerar apena s a part e do “excede nt e” como var iável; enquant o que os bens necessários para a subsis tência dos tra ba- lha dores cont inuar iam apar ecendo entr e os meios de produção, como o combustível etc.
Evitar emos, nes te livro, entr etant o, toda intr omissão no con- ceito tra diciona l de salário e seguiremos a prática usua l de tratar todo salário como var iável.
A desvanta gem des te procede r consiste em que implica em releg ar os bens necess ários de consumo ao limbo dos produtos não- básicos. Is to porque não ma is apar ecem entr e os meios de produção do lado esq uerdo das equações: de modo que uma melhora nos métodos de produção dos bens necess ários para a vida não ma is afetar á diretam ent e a ta xa de lucro e os preços dos outr os produtos.
OS ECONOMISTAS
30
Os bens de primeira necessid ade são, entr etant o, esse ncialment e básicos, e, se se impede que exerçam sua influência sobre os preços e lucros sob ess a denominação, é preciso perm itir que a exerçam por cam inhos tortu osos (por exemplo, es ta belecendo um limite sob o qua l os salários não podem descer; um limite que cairia com qua lquer melhora nos métodos de produção dos bens de primeira necessid ade, tra zendo consigo um aum ento na ta xa de lucros e uma mu dança nos preços dosdema is produtos).
Em qua lquer caso, a discussão que se segue pode ser facil- ment e adapta da à int erpretação ma is apropriada do salário, embora não convenciona l, sugerida acima .
Suporemos tam bém, a seguir, que o salário é pago post factum como uma part icipação do produto anua l, aban donan do-se assim a idéia dos economista s clássicos de um salário “adianta do” do capita l. Mant eremos, entr etant o, a suposição de um ciclo anua l de produção com um mercado anua l.
A quant idade de tra balho empregada em cada indústr ia tem que ser agora rep rese nta da explicitam ent e, ocupan do o lugar das corr espondent es quant idades de bens de subsis tência. Supomos que o tra balho é un iform e em qua lidade, ou, o que vem a ser o mes mo, ass um imos que qua isquer diferenças em qua lidade foram previam ent e red uzidas a diferenças equivalent es em quant idade, de modo que cada un idade de tra balho recebe o mes mo salário.
Denominam os La, Lb, ..., Lk as quant idades anua is de tra balho empregadas respe ctivam ent e na s indústr ias produtora s de A, B,...,
K e as definimos como frações do tra balho anua l da sociedade, que somam os como a un idade, de modo que
La + Lb + ... + Lk = 1.
Chamam os w o salário por un idade de tra balho, que será exp resso, como os preços, em termos da medid a de valor escolhida. (Ver, sobre a escolha de uma medid a de valor, s eção 12.)
Sobre es ta s bases, a equação adota a forma :
(Aa pa + Ba pb + ... + Ka pk) (1 + r) + Law = Apa
(Ab pa + Bb pb + ... + Kb pk) (1 + r) + Lbw = Bpb
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
(Ak pa + Bk pb + ... + Kk pk) (1 = r) + Lkw = Kpk
onde, como nos casos ant eriores, supõe-se que o sistema es teja num es ta do de aut o-reposição ta l que Aa + Ab + ... + Ak  A; Ba + Bb +
... + Bk  B; ...; Ka + Kb + ... + Kk  K.
A renda naciona l de um sistema num es ta do de aut o-re-
posição consiste no conjunt o de mercadorias que res tam após se
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31
ter extra ído do produto naciona l brut o, item por item, os bens que vão repor os meios de produção absorvidos em todas as indústr ias. O valor des te conjunt o de mercadorias, ou “mercadoria com-
posta”, como podemos cham á-la, que forma a renda naciona l, igua- lamos à un idade. Convert e-se, assim, na medid a de valor em termos da qua l se exp ress am os salários e os k preços (ocu pan do o lugar da mercadoria única ar bitrar iam ent e seleciona da em termos da qua l eram exp ressos os k – 1 preços, além do salário).
Teremos, portant o, a equação adiciona l:
[A – (Aa + Ab + ... + Ak)]pa + [B – (Ba + Bb, + ... + Bk)]pb + ...
+ [K – (Ka + Kb + ... + Kk)]pk = 1.
(É impossível que a quant idade agregada de qua lquer mer- cadoria rep rese nta da nes ta exp ress ão seja negat iva, devido à con- dição de aut o-reposição suposta na seção 11.)
Is to nos proporciona k + 1 equações que se comparam com k
+ 2 var iáveis (k preços, o salário w e a ta xa de lucro r).
O res ulta do de acrescentar o salário como uma das var iáveis é que o número des ta s excede em uma agora o número de equações e que o sistema pode mover-se com um grau de libe rdade; e se uma das var iáveis é fixada, as dema is tam bém es tar ão fixadas.
OS ECONOMISTAS
CAPÍTULO III
Propo rçõ es en tr e o trabal ho e os me ios de produçã o
. Prosseguimos dan do ao salário w sucessiv os valores, que vão de 1 a 0; es tes rep rese ntam agora frações da renda naciona l (con sultar seção 10 e 12). O objetivo é obse rvar o efeito de var iações no salário sobre a ta xa de lucro e sobre os preços das mercadorias individua is na suposição de que os métodos de produção perman e- çam ina ltera dos.
Quan do fazemos w = 1, toda a renda naciona l vai para os salários, e r é elimina do. Retornam os assim, de fato, ao sistema de equações linear es de que part imos, com a diferença de que as quant idades de tra balho apar ecem agora explicitam ent e, em vez de serem rep rese nta das por quant idade de bens necessários para a subsis tência.
A es te nível de salários, os valores relat ivos das mercadorias são proporciona is a seus custos tra balho, isto é, à quant idade de tra balho que foi usada, direta ou indiretam ent e, para produzi-las.3 Os valores não seguem uma regra simples para nenhum outr o nível de salários.
Part indo da situa ção em que toda a renda naciona l vai para o tra balho, ima ginemos que os salários sejam red uzidos: como conseq üência, sur ge uma ta xa de lucro.
A cha ve do movimento de preços relat ivos que segue a uma var iação no salário consiste na desigua ldade das proporções em que o tra balho e os meios de produção são empregados na s distinta s indústr ias.
É claro que, se a proporção fosse a mes ma em todas as in-
Ver Apêndice A: Sobre os “subsis tema s”.
dústr ias, não poderia acont ecer var iação alguma de preços por ma ior que fosse a dive rsidade da composição-mercadoria dos meios de produção na s diferent es indústr ias. Porque em cada indústr ia uma red ução igua l do salário proporcionar ia apena s o necessário para pagar os lucros sobre seus meios de produção a uma ta xa un iform e, sem necessid ade de alterar os preços exis tent es.4
Pela mes ma ra zão, é impossível que os preços perman eçam ina ltera dos quan do há desigua ldade de “proporções”. Suponham os que os preços perman eceram invar iáveis, enquant o os salários se red uziram e sur giu uma ta xa de lucro. Visto que, em qua lquer indústr ia, a poupança derivada da red ução salar ial depe nderia do número de homens empregados, enquant o que o necessário para pagar lucros a uma ta xa un iform e depe nderia do valor tota l dos meios de produção ut iliz ados, as indústr ias com uma proporção suficient ement e baixa de tra balho em relação aos meios de produção teriam um déficit, enquant o que as indústr ias com uma proporção suficient ement e alta teriam um excede nt e sobre seus pagam entos por salários e lucros. (No momento, nenhuma suposição es tá sendo feita a respei to de que ta xa de lucro corr esponde a uma red ução salar ial; tu do o que necessi tam os nes te es tágio de an álise é que exis te um salário un iform e e uma ta xa de lucro un iform e em todo o sistema .)
Ha veria uma “proporção crítica” entr e o tra balho e os meios de produção que mar car ia a front eira entr e as indústr ias com “déficit” e com “excede nt e”.
Uma indústr ia que empregasse ess a “proporção” part icular mostrar ia um equilíbrio — a poupança procede nt e da red ução sa- lar ial proporcionar ia exatam ent e o necessário para o pagam ento de lucros à ta xa gera l. Qua lquer que seja o valor preciso des ta “proporção” num sistema part icular , pode-se dize r, a priori, que num sistema que inclua dua s ou ma is indústr ias básicas, a indústr ia com a ma is baixa proporção entr e o tra balho e os meios de produção seria uma indústr ia com “déficit” e a que tivesse a proporção ma is alta seria uma indústr ia com “excede nt e”.
Dis to se ded uz que com uma red ução salar ial seriam ne-
Nes ta s “proporções” os meios de produção devem ser medid os por seus valores, ma s, visto que os valores podem mu dar com uma var iação no salário, sur ge a ques tão: qua is valores? A resposta é que, em relação ao es ta belecimento da igua ldade ou não igua ldade das pro- porções (que é tu do o que nos preocupa, no momento), todos os conjunt os possíveis de valores dão o mes mo res ulta do. Com efeito, como vimos, se as proporções de todas as indústr ias são igua is, os valores, e, portant o, as proporções, não var iam com o salário; disto se ded uz que, se as proporções são desigua is, o conjunt o de valores corr espondentes a um salário não podem ser igua is a qua lquer outr o, de modo que são desigua is para todos os valores.
OS ECONOMISTAS
cess árias var iações nos preços para res ta belecer o equilíbrio em cada uma das indústr ias com “déficit” e em cada uma das indústr ias com “excede nt e”.
Para alcançar es te objetivo espe ra-se que, em primeiro lugar , entr e em jogo a relação de preços entr e cada produto e seus meios de produção. Consideremos a situa ção de uma indústr ia com “dé- ficit”, quan do o salário é red uzido. Uma elev ação no preço do produto em relação aos meios de produção ajudar ia a eliminar o “déficit”, visto que libe rar ia uma part e da cota do produto brut o da indústr ia que es ta va sendo des tru ída para finan ciar a reposição dos meios de produção agora ma is barat os; e assim se incrementar ia a quan - tidade disponível para ser distr ibuída como salários ou lucros. A alta do preço lev ar ia, por si mes ma , a um incremento na ma gnitu de (e não simplesment e no valor) daquela part e do produto da indústr ia que fica disponível para ser distr ibuída, apes ar do fato de os métodos de produção terem perman ecido invar iáveis.
Outro efeito da elevação do preço do produto em relação aos meios de produção consistiria, naturalmente, em ajudar a que uma dada quantidade do produto tenda a alcançar a taxa de lucro requerida.
Em segun do lugar , e indepe ndent ement e disto, quant o ma is fort e fosse a elev ação no preço do produto relat ivo ao tra balho, menor seria a quant idade do mes mo absorvida pelo salário.
De modo semelhant e, os movimentos de preços numa direção oposta poderiam lev ar à absorção do excede nt e que, em outr o caso, apar eceria numa indústr ia que ut iliz asse uma alta “proporção” en- tr e tra balho e meios de produção.
Não se conclui disto, entr etant o, que o preço do produto de uma indústr ia com uma baixa proporção entr e tra balho e meios de produção (e, por conseguint e, com um déficit potencial) se ele- var ia necess ar iam ent e, com uma red ução salar ial, em relação a seus próprios meios de produção. Pelo contr ário, é possível que desça. A ra zão des ta contra dição apar ent e é que os meios de pro- dução de uma indústr ia são, em si mes mos, produto de uma ou ma is indústr ias, que podem empregar , por sua vez, uma proporção ainda ma is baixa entr e tra balho e meios de produção (e o mes mo pode ocorr er com es tes últimos meios de produção, e assim suces- sivam ent e); em ta l caso, o preço do produto, embora produzido por uma indústr ia com “déficit”, poderia baixar em termos de seus meios de produção, e seu déficit teria que ser coberto medi ant e uma elev ação part icularm ent e fort e em relação ao tra balho.
O res ulta do é que quan do os salários descem, o preço do pro- duto de uma indústr ia com baixa proporção entr e tra balho e seus meios de produção (ou indústr ia com “déficit”) pode elev ar-se ou
SRAFF A
pode cair ou pode, inclusive, elev ar-se e descer alternat ivam ent e, em relação a seus meios de produção; enquant o que o preço do produto de uma indústr ia com alta proporção entr e o tra balho e seus meios de produção (ou indústr ia com “excede nt e”) pode cair, elev ar-se ou mover-se alternat ivam ent e. O que nenhum de ta is produtos pode fazer, como veremos agora (seções 21 e 22), é mant er seu preço es tável em relação a seus meios de produção, qua lquer que seja a am plitu de, longa ou curta , da var iação salar ial.
Para concluir es ta visão preliminar do tema , deve ser des tacado que es ta s considerações dominam não apena s a relação de preços de um produto com seus meios de produção, ma s tam bém sua s relações com qua lquer outr o produto. Em conseqüência, os movimentos de preços relat ivos de dois produtos vêm a depe nder não apena s das “proporções” entr e tra balho e meios de produção pelas qua is foram respe ctivam ent e produzidos, ma s tam bém das “proporções” pelas qua is es tes meios foram , por sua vez, produzidos e tam bém das “proporções” medi ant e as qua is os meios de produção daqueles meios de produção foram produzidos, e assim sucessiv a- ment e. Res ulta , assim, que o preço relat ivo de dois produtos pode mover-se, com uma baixa de salários, em direção oposta da que seria espe ra da com base em sua s “proporções” respe ctivas; além disso, os preços de seus respe ctivos meios de produção podem mo- ver-se de modo ta l que invertam a ordem dos dois produtos quant o a proporções ma is alta s e ma is baixas; e ainda sur gem ma is com- plicações que serão considera das subseq üent ement e.
Por ma is complexo que seja o esq uema das var iações de preços derivados de uma var iação na distr ibuição, seu res ulta do líquido (e sua completa justificação) consiste simplesment e em res ta belecer o equilíbrio em cada indústr ia. Alcançam completam ent e ta l objetivo e não poderia ser alcançado por menos.
Voltemos agora à proporção “crítica” que já mencionam os (seção 17) e que constitu i a front eira entr e as indústr ias com “déficit” e as indústr ias com “excede nt e”. Suponham os que exis ta uma in- dústr ia que empregue tra balho e meios de produção em ta l pro- porção precisa, de modo que, com uma red ução salar ial, e com base nos preços iniciais, mostra um perfeito equilíbrio de salários e lu- cros. Suponham os, além disso, que os meios de produção que ut ilize, toma dos em seu conjunt o, foram por sua vez produzidos medi ant e tra balho e meios de produção em ta l proporção; e suponham os, fina lment e, que se apliq ue a mes ma proporção à produção de meios de produção tota is pelos qua is es tes meios de produção foram pro- duzidos, e de modo similar , com os sucessiv os es trat os de meios de produção envolvidos à medid a que seguimos para trás.
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A mercadoria produzida por ta l indústr ia não expe rimentar ia a necessid ade res ultant e das condições de produção da própria in- dústr ia, de aum entar ou diminu ir em valor com relação a qua lquer outra mercadoria quan do os salários se elev asse m ou descesse m; porque, como vimos, ta l necessid ade apena s pode derivar-se de um déficit ou de um excede nt e potencial, e uma indústr ia que opere na s condições descrita s es tar á ipso facto em equilíbrio. Uma mer- cadoria des te tipo seria incapaz, em qua lquer caso, de var iar em valor com relação ao tota l de seus próprios meios de produção, visto que a recorrência da mes ma “proporção” se aplicar ia igua l- ment e a es tes.
Dua s condições distinta s foram suposta s para alcançar es te res ulta do, a saber: 1) que se ut ilize a proporção equilib ra dora e 2) que a mes ma proporção se repita sem limite nos sucessiv os es trat os dos meios de produção tota is da indústr ia.
Veremos, entr etant o, que a primeira condição es tá necess a- riam ent e implícita na segun da, porque, como agora mostrar emos (seção 22), a “recorr ência” completa no sistema apena s é possível com a proporção equilib ra dora . De modo que, de fato, apena s há uma condição: a de “recorr ência”.
Ao tratar de ident ificar a proporção “equilib ra dora” é con- venient e subs titu ir a híbrida “proporção” entr e a quant idade de tra balho e o valor dos meios de produção, que temos ut iliz ado até agora , por uma das corr espondent es ra zões “pura s” entr e quant i- dades homogêneas. Há duas razões correspondentes, a saber: a ra- zão-qu a n tidade en tr e tr abalho direto e indireto empregado e a ra zão-valor entr e o produto líquido e os meios de produção5. Aqui adotar emos es ta última .
Enqua nto a taxa de lucro é uniforme em todas as indústrias e depende apenas do salário, a razão-valor entre o produto líquido e os meios de produção é, em geral, diferente em cada indústria e depe nde principalmente de suas circunstâncias particulares de produção.
Há, entretanto, uma exceção. Quando fazemos o salário igualar a zero e a totalidade doproduto líquido ir para os lucros, a razão-valor entre o produto líquido e os meios de produção em cada indústria coincidem necessariamente com a taxa geral de lucro. Por mais dife- rentes que possam ser entre si a outros níveis de salários, neste nível as “razões-valor” de todas as indústrias são iguais.
Daqui se conclui que a única “ra zão-valor” que pode não var iar
Em gera l (isto é, para todas as indústr ias que não ut iliz am a proporção “equilib ra dora”) es ta s dua s ra zões coincidirão apena s quan do a ra zão-valor se calcula para os valores cor- respondent es a w = 1.
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an te mu d anças no salá rio, e que é, porta n to, capaz de ser “re- corr ente” no sent ido definido n a seção 21, é aquela que é igu al à ta xa de lucro que corr esponde ao salá rio zero. E essa é a r azão “equilib ra dor a”.
Denominar emos taxa máxima de lucro à ta xa de lucro que se regis trar ia se toda a renda naciona l fosse para os lucros. E exp ress ar emos medi ant e uma letra apena s, R, as dua s ra zões coin- cident es, a saber, a ta xa máxima de lucro e a ra zão “equilib ra dora” entr e o produto líquido e os meios de produção.
OS ECONOMISTAS
CAPÍTULO IV
A me rcado ri a-pad rão
. A necessid ade de ter que exp ress ar o preço de uma mer- cadoria, em termos de outra que é escolhida ar bitrar iam ent e como padrão, complica o es tu do dos movimentos de preços que acompa- nham a uma var iação na distr ibuição. Torna -se impossível dize r, ant e qua lquer flutua ção part icular de preços, se ela sur ge como conseq üência das peculiar idades da mercadoria que es tá sendo me- dida, ou se sur ge das peculiar idades da mercadoria adota da como padrão de medid a. As peculiar idades relev ant es, como acabamos de ver, podem consistir apena s na desigua ldade das proporções entr e o tra balho e os meios de produção nos sucessiv os “es trat os” em que se podem ana lisar uma mercadoria e o tota l de seus meios de produção; porque é ta l desigua ldade, que torna necessário que uma mercadoria mu de de valor em relação a seus meios de produção quan do o salário se modifica.
A mercadoria “equilib ra da” que acabamos de considerar (seção
21) não aprese ntar ia peculiar idades des te tipo, visto que se regis- trar ia a mes ma proporção em todos os seus “es trat os”. É verdade que, à medid a que os salários descem, ta l mercadoria não seria menos suscep tível que qua lquer outra de aum entar ou descer em preço com relação a outra s mercadorias individua is; ma s saberíamos com cert eza que ta l flutua ção teria sua orige m exclusivam ent e na s peculiar idades da produção da mercadoria que es ta va sendo com- para da com ela e não na s de sua própria produção. Se pudésse mos descobrir ta l mercadoria, nos encontrar íamos em posse de um pa- drão capaz de isolar os movimentos de preços de qua lquer outr o produto, de modo que pudesse m ser obse rvados como num vácuo.
Não é provável que se poss a encontrar uma mercadoria individua l que não poss ua , nem seq uer aproxima dam ent e, os re-
quisitos necess ários. Entr etant o, uma combinação de mercadorias, ou uma “mercadoria composta”, poderia funcionar igua lment e bem; poderia mes mo funcionar melhor, já que seria possível “combiná-la” de modo adeq ua do a noss as exigências, modifican do sua composição, de forma que se sua vizasse uma tensão altista de preços a um nível de salários ou se evitar ia uma qued a a outr o nível.
En tretanto, não iríamos muito longe na tentativa de projet ar ta l combinação, an tes de dar-nos cont a que a perfeita mercadoria composta deste tipo, em que os requisitos se cumprem ao pé da letra, é a que se compõe das mesmas mercadorias (combinadas nas mesmas proporções) que o conjunto de seus próprios meios de produção; em outras palavras, uma combinação tal, que o produto e os meios de produção são quantida des da própria mercadoria composta .
O problema é: pode ta l mercadoria ser construída?
O problema afeta ma is as indústr ias do que as mercadorias e é melhor abordá-lo a part ir daquele ângulo. Suponham os que se segregue do sistema econômico exis tent e aquelas frações das in- dústr ias básicas individua is que junta s formam um sistema com- pleto em miniatura , dota do da propriedade de que as diferent es mercadorias es tão rep rese nta das entr e seus meios de produção to- ta is, nas mesmas proporções em que o es tão entr e seus produtos.
Suponham os, por exemplo, que o sistema exis tent e, do qua l part imos, inclua apena s indústr ias básicas, e que es ta s produzam , respe ctivam ent e, ferro, car vão e tr igo na seguint e forma :
90 t ferro + 120 t carvão + 60 ar robas tr igo + 3 tr abalho 
16
180 t ferro
50 t ferro + 125 t carvão + 150 ar robas tr igo + 5 tr abalho 
16
450 t car vão
40 t ferro + 40 t carvão + 200 ar robas tr igo + 8 tr abalho 
16
OS ECONOMISTAS
40
Tota is 180	285	410	1
480 arr obas
tr igo
onde, visto que o ferro se produz numa quant idade apena s suficient e para sua reposição (180 toneladas), a renda naciona l inclui soment e car vão e tr igo e se compõe de 165 toneladas do primeiro e de 70 arr obas do segun do.
Para obter, a part ir des te sistema , um sistema de escala re- duzida na s proporções requeridas, devemos tomar , com o tota l da
indústr ia do ferro, 3/5 da indústr ia do car vão e 3/4 da indústr ia que produz tr igo. O sistema res ultant e é:
90 t ferro + 120 t carvão + 60 ar robas tr igo + 3 tr abalho 
16
180 t ferro
30 t ferro + 75 t carvão + 90 ar robas tr igo + 3 tr abalho 
16
270 t car vão
30 t ferro + 30 t carvão + 150 ar robas tr igo + 6 tr abalho 
16
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41
Tota is 150	225	300	12
16
360 arr obas
tr igo
As proporções em que são produzidas as três mercadorias no novo sistema (180 : 270 : 360) são igua is àquelas em que entram em seus meios de produção tota is (150 : 225 : 300). A mercadoria composta procura da es tá forma da, portant o, na s proporções,
1 t de ferro : 11
2
t de car vão: 2 arr obas de tr igo.
Denominar emos a uma combinação des te tipo — merca- doria composta padrão, ou, para abreviar , mercadoria-padrão; e o conjunt o de equações (ou de indústr ias) toma das na s proporções que geram a mercadoria-padrão será denomina do sist ema-padrão. Pode-se dize r que em qua lquer sistema econômico es tá en-
cerra do um sistema-padrão em miniatura que poderia ser tra zido à luz eliminan do as part es não requeridas. (Is to se aplica tant o a um sistema que não es teja num es ta do de aut o-reposição como a um que es teja em ta l es ta do.)
Em gera l, achar emos convenient e tomar como un idade da mer- cadoria padrão a quant idade da mes ma que formar ia o produto líquido de um sistema padrão que empregasse o tra balho anua l tota l do sistema exis tent e. (Para que ta l un idade forma sse o produto líquido no exemplo ant erior, cada indústr ia deveria ser acrescida em 1/3, elev an do-se, por conseguint e, o tra balho tota l de 12/16 a 16/16; conseqüent ement e, a un idade se comporia de 40 toneladas de ferro, 60 toneladas de car vão e 80 arr obas de tr igo.) Tal un idade será denomina da produ to líquido padrão ou rend a nacional padrão.
O fato de que, num sistema-padrão, as dive rsas merca- dorias são produzidas na s mes ma s proporções em que entram nos
meios de produção tota is, implica que a ta xa a que a quant idade produzida excede à quant idade absorvida na produção é a mes ma para cada uma delas. No exemplo ant erior, a ta xa é de 20% para cada mercadoria, como pode ser visto se as cifra s forem reordena das de modo que a quant idade tota l de cada mercadoria que entra nos meios de produção seja confronta da com a quant idade da mes ma que éproduzida:
(90 + 30 + 30) (1 + 20 ) = 180 t ferro
100
(120 + 75 + 30) (1 + 20 ) = 270 t car vão
100
(60 + 90 + 150) (1 + 20 ) = 360 arr obas tr igo
100
A ta xa que se aplica às mercadorias individua is é tam bém, natura lment e, a ta xa pela qua l o produto tota l do sistema-padrão excede a seus meios de produção tota is, ou a ra zão entr e o produto líquido e os meios de produção do sistema . Esta ra zão será deno- mina da raz ão-padrão.
A possibili dade de falar de uma ra zão entr e dua s coleções de mercadorias heterogêneas, sem necessid ade de red uzi-las a uma medid a comum de preço, deriva natura lment e de que am bas as coleções es tão constru ídas na s mes ma s proporções — isto é, de que são, de fato, quant idades da mes ma mercadoria composta .
Portant o, o res ulta do não seria afeta do se se mu ltiplicasse m as mercadorias individua is component es por seus preços. A ra zão entr e os valores dos dois tota is seria inevita vel ment e sempre igua l à ra zão entr e as quant idades de seus dive rsos component es. E, uma vez que as mercadorias tivesse m sido mu ltiplicadas pelos seus preços, tam bém não seria afeta da a ra zão se aqueles preços indi- vidua is começasse m a var iar de todos os modos ima gináveis.
Assim, no sistema-padrão a razão entre o produto líquido e os meios de produção seria a mesma, quaisquer que fossem as variações regist radas na divisão do produto líquido entre salários e lucros, e qua isquer que fossem as conseqüentes variações de preços.
O que acabamos de dize r sobre a ra zão entr e o produto líquido e os meios de produção no sistema-padrão se aplica igua l- ment e, se subs titu irmos o produto líquido por qua lquer fração do mes mo: a ra zão entr e ta l fração e os meios de produção não seria afeta da pelas var iações dos preços.
Suponham os agora que o produto líquido padrão es teja divi-
OS ECONOMISTAS
dido entre salários e lucros, tendo cuidado para que a participação de cada um se componha sempre, como acontece no conjunto, da mercadoria-padrão: a taxa de lucro resultante estaria na mesma pro- porção em relação à razão padrão do sistema, em que estava a parte destinada aos lucros em relação ao produto líquido total. No exemplo dado anteriormente, onde a razão-padr ão era de 20%, se 3/4 da renda nacional padrão fosse para salários e 1/4 fosse para lucros, a taxa de lucro seria de 5%; se a meta de fosse para cada um deles, seria de 10%; e se o total fosse para lucros, a taxa de lucro teria alcançado seu nível máximo de 20% e coincidiria com a razão-padrão.
A ta xa de lucro no sistema padrão apar ece assim como uma ra zão entr e quant idades de mercadorias, indepe ndent ement e de seus preços.
Reformu lan do a posição em termos gera is, no que se refere ao sistema-padrão, podemos dize r que se R é a ra zão-padrão ou ta xa máxima de lucro e w é a proporção do produto líquido que vai para os salários, a ta xa de lucro é
r = R (1 - w)
Fig . 1. Relação entre os salários (como proporção do produ to líquido padrão) e a taxa de lucro.
Assim, à medid a que o salário se red uz gra dua lment e de 1 para 0, a ta xa de lucro aum enta em proporção direta à ded ução tota l feita do salário. A relação pode ser rep rese nta da graficam ent e por uma linha reta , ta l como apar ece na figura 1.
Tal relação é de int eresse apena s se se puder demonstrar que sua aplicação não es tá limita da ao sistema-padrão ima ginário, ma s sim que é capaz de ser es tendida ao sistema econômico efetivo de obse rvação.
Is to depe nde de que o papel decisivo que a mercadoria-padrão joga nes ta relação consista em ser o mat erial constitut ivo da renda naciona l e dos meios de produção (que é peculiar ao sistema-padrão)
SRAFF A
ou em proporcionar o meio em que são es tima dos os salários. Porque es ta última é uma função que a mercadoria-padrão apropriada pode dese mpenhar em qua lquer caso, es teja ou não o sistema na s pro- porções-padrão.
É verdade, agora , que as aparências es tão contra a segun da alternat iva. No sistema-padrão, a circun stância de que o salário seja pago na mercadoria-padrão par ece derivar sua significação espe cial do fato de que o resíduo que sobra para lucros será uma quant idade da mercadoria-padrão, e, por conseguint e, similar em composição aos meios de produção: o res ulta do é que se pode ver como a ta xa de lucro, sendo a ra zão des ta s dua s quant idades ho- mogêneas, elev a-se em proporção direta a qua lquer red ução feita no salário. Não par eceria, portant o, ha ver ra zão alguma para es- perar que no sistema efetivo, quan do o equivalent e de mes ma quan - tidade de mercadoria-padrão tive r sido pago como salários, o valor do que sobra para lucros devesse se mant er na mes ma ra zão com o valor dos meios de produção em que es tão as quant idades cor- respondent es no sistema-padrão.
Mas o sistema efetivo compõe-se das mesmas equações básicas que o sistema-padrão, apenas em diferentes proporções; de modo que, uma vez dado o salário, a taxa de lucro se determina em ambos os sistemas, indepe ndentemente das proporções das equações em cada um deles. Proporções particulares, tais como as proporções-padrão, podem dar transparência a um sistema e tornar visível o que está oculto, mas não podem alterar suas propriedades matemáticas.
A reação linear entr e o salário e a ta xa de lucro mant er-se-á portant o, em todos os casos, com a única condição de que o salário se exp resse em termos do produto-padrão. A mes ma ta xa de lucro que no sistema-padrão se obtém como uma ra zão entr e quantidades de mercadorias, res ultar á, no sistema efetivo, da ra zão de valores agregados.
Voltan do ao nosso exemplo, se no sistema efetivo (ta l como foi delineado na seção 25 e seguint es, com R = 20%) o salário é fixado em termos de produto líquido padrão, a w = 3/4 corr esponderá r = 5%. Mas, enquant o a part icipação dos salários será igua l em valor a 3/4 da renda naciona l padrão, não se ded uz que a part ici- pação dos lucros será equivalent e ao 1/4 res tant e da renda-padrão. A part icipação dos lucros consistirá no que tenha sobra do da renda naciona l efetiva , depois de ded uzir dela o equivalent e de 3/4 da renda naciona l padrão para salários: e os preços deverão ser ta is que façam com que o valor do que vá para lucros seja igua l a 5% do valor dos meios de produção efetivos da sociedade.
Para reformu lá-lo em termos gera is, o problema de cons-
OS ECONOMISTAS
tru ir uma mercadoria-padrão equivale a encontrar um conjunt o de
k mu ltiplicadores adeq ua dos que podem ser denomina dos qa, qb,
..., qk, para serem aplicados respe ctivam ent e às equações de pro- dução das mercadorias ‘a’, ‘b’, ... ‘k’.
Os multiplicadores devem ser tais que as quant idades resultan- tes das várias mercadorias manterão entre si as mesmas proporções no lado direito das equações (como produtos) que as que mantêm no total do lado esquerdo das mesmas (como meios de produção).
Is to implica, como vimos, que a porcenta gem em que o volum e de produção de uma mercadoria excede à quant idade da mes ma que entra no tota l de meios de produção é igua l para todas as mercadorias. Temos denomina do a es ta porcenta gem ra zão-padrão, e a temos rep rese nta do pela letra R .
Tal condição se exp ress a medi ant e um sistema de equações que mant ém as mes ma s constant es (rep rese ntan do quant idades de mercadorias) que as equações de produção, ma s ordena das de modo diferent e (as linha s de um sistema corr espondem às coluna s do outr o). Este sistema de equações a que nos referiremos como o sistema q é o seguint e:
(Aaqa + Abqb + ... + Akqk) (1 + R) = Aqa
(Baqa + Bbqb + ... + Bkqk) (1 + R) = Bqb
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
(Kaqa + Kbqb + ...+ Kkqk) (1 + R) = Kqk
Pa ra completa r o sistema é necessário definir a unidade em que vão ser expressos os multiplicadores; e visto que desejamos que a qua ntidade de t rabalho empregada no sistema-padrão seja a mesma que no sistema efetivo (seção 26), definimos a unidade mediant e um a equação adicional que incorpora esta condição, a saber:
Laqa + Lbqb + ... + Lkqk = 1
Temos, assim, k + 1 equações que determ inam os k mu ltipli- cadores e R.
Resolve ndo es te sistema de equações, obtemos um conjunt o de números para os mu ltiplicadores (podemos denominar ta is nú- meros qa’, qb’, ..., qk’). Aplicamos es tes números às equações do
sistema de produção (seção 11) e o tran sformam os assim num sis-
tema-padrão ta l como o seguint e:
qa’[(Aa pa + Ba pb + ... + Ka pk) (1 + r) + La w] = qa’Apa
qb’[(Ab pa + Bb pb + ... + Kb pk) (1 + r) + Lbw] = qb’Bpb
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
qk’[(Ak pa + Bk pb + ... + Kk pk) (1 + r) + Lk w] = qk’Kpk
SRAFF A
Daqui derivamos a renda naciona l padrão, que de agora em diant e adotar emos como un idade de salários e preços no sistema origina l de produção. A equação-un idade da seção 12 é, portant o, subs titu ída pela seguint e equação, onde os q’ rep rese ntam números conh ecidos, enquant o que os p são var iáveis:
[qa’A – (qa’Aa + qb’Ab + ... + qk’Ak)]pa + [qb’B – (qa’Ba + qb’Bb + ...
+ qk’Bk)]pb + ... + [qk’K – (qa’Ka + qb’Kb + ... + qk’Kk)]pk = 1.
Esta mercadoria composta é o padrão de salários e preços que es tive mos buscan do (seção 23).
É evide nt ement e impossível que aqueles produtos não-bá- sicos que es tão completa mente excluídos do papel de meios de pro- dução sat isfaçam es ta s condições e encontr em um lugar no siste- ma-padrão. O mu ltiplicador apropriado para sua s equações só pode ser, portant o, zero.
O mes mo é verdade, embora um tant o menos obviam ent e, para aqueles outr os produtos não-básicos que, embora não entr em como meios de produção das mercadorias em gera l, são ut iliz ados, entr etant o, na produção de um ou ma is produtos não-básicos, entr e os qua is podem ser incluídos eles mes mos (por exemplo, mat érias- prima s espe ciais para bens de luxo e an ima is ou planta s de luxo). Na medida em que mercadoria deste tipo entra apenas na pro- dução de um produto não-básico do tipo previamente considerado, se- guiria clar amente a sorte deste último e teria um multiplicador zero.
E na medida em que entra em sua própria produção, a razão entre sua quantidade como produto e sua quantidade como meio de produção seria determinada exclusivamente por sua própria equação de produção e, portanto, estaria em geral não relacionada com R e seria, por conseguinte, incompatível com o sistema-padrão. O multi- plicador apropriado para a mesma seria, portan to, também zero.6
Podemos simplificar conseqüentemente a discussão supondo que todas as equações não-bá sicas sejam eliminadas desde o princípio, de modo que apenas entram em nossa consideração as indústrias básicas.
Deve-se notar que a au sência das indústr ias não-básicas do sistema-padrão não impede que es te seja equivalent e em seus efei- tos ao sistema origina l, visto que (seção 6), sua prese nça ou au sência não supõe diferença alguma para a determ inação dos preços e da ta xa de lucro.
Fa lan do num sent ido es tr ito, o mu ltiplicador seria zero para todo valor possível de R, exceto para aquela que foi igua l à ra zão entr e a quant idade desse produto não-básico no produto líquido e sua quant idade nos meios de produção. Este é um dos casos rar os do tipo a que se refere o Apêndice B: a esse valor part icular de R, todos os preços seriam zero em termos do produto não-básico em ques tão.
OS ECONOMISTAS
CAPÍTULO V
Caráter ú nico do sistema -pad rão
. Nas cinco seções seguint es tratar -se-á de provar que sem- pre há um modo, e não ma is do que um modo, de tran sformar um dado sistema econômico em um sistema-padrão: em outra s palavra s, que há sempre um conjunt o de mu ltiplicadores, e apena s um , que, se aplicado às várias equações ou indústr ias que compõem o sistema , terá o efeito de reordená-las em ta is proporções que a composição- mercadoria dos meios de produção tota is e a do produto tota l sejam idênt icas.
Pode ser demonstra do, medi ant e um expe rimento ima gi- nário, que qua lquer sistema econômico efetivo do tipo que temos considera do pode ser sempre tran sforma do num sistema-padrão.
(O expe rimento implica em dois tipos de passos alternat ivos. Um tipo consiste em var iar as proporções das indústr ias; o outr o consiste em red uzir na mes ma proporção as quant idades produzidas por todas as indústr ias, deixan do sem var iações as quant idades ut iliz adas como meios de produção.)
Comecemos ajust a ndo as p roporções das indústr ias do sis- tem a, de t al modo que se produza de cada mercadoria básica um a qua n t idade ma ior do que a est rit am en te necessá ria pa ra sua reposição.
Ima ginemos, depois, que o produto de todas as indústr ias se red uz gra dua lment e medi ant e sucessiv os e peq uenos cort es pro- porciona is, sem int erferir na s quant idades de tra balho e meios de produção que empregam .
Tão logo os cort es red uzam a produção de qua lquer mercadoria ao nível mínimo requerido para a reposição, reajustam os as pro- porções das indústr ias de modo que se regis tr e de novo um exce- dent e de cada produto (enquant o se mant ém constant e a quant idade
de tra balho empregado no tota l). Is to pode ser feito sempre que houver um excede nt e de alguma s mercadorias e nenhum déficit.
Cont inu emos com ta l alternação de red uções proporciona is com o res ta belecimento de um excede nt e para cada produto, até que alcancemos o ponto em que os produtos tenham sido red uzidos em ta l medid a, que é exatam ent e possível a reposição gera l sem deixar na da como produto excede nt e.
Visto que os produtos de todas as indústr ias foram red uzidos na mes ma proporção para alcançar es ta posição, podemos agora res ta belecer as condições origina is de cada produção aum entan do a quant idade produzida em cada indústr ia a uma ta xa un iform e; por outr o lado, não pertur bamos as proporções às qua is as indús- tr ias foram tra zidas. A ta xa un iform e que res ta belece as condições origina is de produção é R e as proporções alcançadas pelas indús- tr ias são as proporções do sistema-padrão.
Consideremos agora a ques tão de saber se o sistema-pa- drão em que pode ser tran sforma do um dado sistema de indústr ias é único ou se pode ha ver modos alternat ivos de reordenação que sat isfaçam as condições.
As equações do sistema q (seção 33) são red utíveis a uma equação de grau k em R e, portant o, pode ha ver até k valores de R (ca da um com seu corr espondent e conjunt o de valores de q) que as sat isfaçam . Para demonstrar que apena s um des tes conjunt os rep rese nta um modo possível de reordenação das indústr ias num sistema-padrão, é suficient e provar que não pode ha ver ma is do que um valor de R ao qua l corr esponde um conjunt o de valores de q, todos positivos.
Como passo preliminar para se fazer isto, devemos de- monstrar que, assim como há sempre um possível conjunt o de mu l- tiplicadores (seção 37), exis te tam bém para todos os valores do salário, inclusive zero, um conjunt o de preços que sat isfazem a condição de reposição dos meios de produção com lucros un iform es: isto é, sempre exis te um conjunt o de valores positi vos de p.
Comecemos pelo nível de w = 1, onde, sendo os preços pro- porciona is ao custo de tra balho (seção 14), os valores de p devem ser necess ar iam ent e todos positivos. Se o valor de w se move con- t inu am en

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