Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS E TECNOLÓGICAS CURSO DE BACHARELADO EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO CÓRREGO DO BAIRRO DOM JAIME CÂMARA, MOSSORÓ, RN. João Manuel Rêgo Silva MOSSORÓ-RN 2011 JOÃO MANUEL RÊGO SILVA DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO CÓRREGO DO BAIRRO DOM JAIME CÂMARA, MOSSORÓ, RN. Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido- UFERSA, Departamento de Ciências Ambientais e Tecnológicas para obtenção do título de Bacharel em Ciência e Tecnologia. Orientador: Prof. Dr. Marco Antonio Diodato MOSSORÓ-RN 2011 JOÃO MANUEL RÊGO SILVA DIAGNÓSTICO AMBIENTAL DO CÓRREGO DO BAIRRO DOM JAIME CÂMARA, MOSSORÓ, RN. Parecer dos Professores. ............................................................................................................................. ...................................... ................................................................................................................................................................... ............................................................................................................................. ...................................... DATA DE DEFESA: 16 de dezembro de 2011 BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Marco Antonio Diodato – UFERSA Orientador Profª. Drª. Solange Aparecida Goularte Dombroski – UFERSA Primeiro Membro Profª. Ms. Cláudia Regina Tavares do Nascimento – UERN Segundo Membro DEDICATÓRIA A minha Família e amigos que sempre acreditaram na minha vontade de vencer e ao meu orientador que dedicou seu tempo e conhecimento para ajudar-me a conseguir concluir este trabalho. AGRADECIMENTO À Deus, pela esperança constante que tenho de vencer e pelos caminhos certos que ele irá me guiar. Ao meu pai, José de Anchieta Silva e a minha mãe, Angela Maria Rêgo Silva, que com muito esforço e determinação fizeram-me estar aqui hoje. O apoio em todos os momentos que eles oferecem, só traz cada vez mais confiança. Ao meu Orientador Prof. Marco Antonio Diodato por todo o suporte fornecido (conhecimento transmitido) e pela paciência aos erros cometidos. Influenciou muito para que o trabalho fosse concluído com êxito. Aos meus amigos da minha cidade natal, que mesmo estando longe sempre me ofereceram suporte emocional em todos os momentos. ”Deixe-nos aprender a sonhar e talvez, então, aprenderemos a verdade.” (Augusto Kekulé, 1865). RESUMO Em cidades sem planejamento e com crescimento desordenado as drenagens urbanas não são levadas em consideração. Assim, criam-se e desenvolvem-se bairros sem levar em consideração o caminho das águas. Esse problema é percebido somente quando as precipitações tornam-se mais intensas, provocando enchentes e inundações. Esse é o caso da cidade de Mossoró (RN), que, por estar situada no semi-árido nordestino, seus dirigentes não julgam ser necessário levar em consideração os índices pluviométricos na época das chuvas. Sendo assim, este trabalho caracteriza-se por mostrar os problemas causados pelo descaso e o decorrente mau uso do córrego, que está inserido na paisagem urbana do setor oeste da cidade de Mossoró. A metodologia adotada para a pesquisa foi a observação direta in loco da situação analisada, junto com registros fotográficos. A coleta de dados foi complementada pela formulação de entrevistas aos moradores ao longo de todo o curso do córrego. Do levantamento da situação ambiental do córrego Dom Jaime Câmara percebeu-se um leque de impactos ambientais que se repetem ao longo do seu curso: alteração da qualidade química da água e do fluxo hídrico, artificialização do corpo d'água, assoreamento, contaminação do solo, da água subterrânea e superficial, eutrofização, aumento da presença de fauna urbana (insetos e ratos), poluição do ar (mau cheiro), diminuição da qualidade de vida da população, poluição visual e risco à saúde pública. O maior percentual de sugestão de melhoria (43%) foi para a construção de galeria subterrânea, isto é, o desaparecimento do córrego no cenário urbano. O fato da governança local não efetivar um programa de recuperação do córrego, requalificando a sua função, assim como de revitalização das áreas circunvizinhas a ele, traz prejuízo à população em vários sentidos (ambiental, econômico e social). O córrego, se bem conduzido, pode ser um referencial positivo no cotidiano das pessoas. O que ocorre atualmente é uma percepção negativa da sua presença, desvalorizando e degradando a paisagem urbana e, consequentemente, a sociedade como um todo. Palavras-Chave: Córregos. Impactos Ambientais. Mossoró-RN. ABSTRACT In cities without planning and urban disordered, urban drainage are not taken into account. So, you create and develop neighborhoods regardless of the path of the water. That problem is seen only when the rainfall becomes more intense, causing flooding and floods. That is the case of the city of Mossoró (RN), which, being situated in the semi-arid Northeast, their leaders do not feel it necessary to take into account the rainfall in the rainy season. Thus, this work is characterized by showing the problems caused by neglect and the resulting misuse of the stream, which is inserted in the urban sector west of Mossoró. The methodology adopted for the research was the direct observation in situ of the situation described, along with photographic records. Data collection was supplemented by the formulation of interviews with residents throughout the course of the stream. The survey of the environmental situation of the stream Dom Jaime Câmara it was noticed is a range of environmental impacts that recur throughout your course: changes in chemical water quality and water flow, artificiality of the water body, sedimentation, soil contamination of ground and surface water, eutrophication, increased presence of urban wildlife (insects and rats), air pollution (odor), decreased quality of life, visual pollution and public health risk. The highest percentage of suggestions for improvement (43%) was for the construction of underground gallery, that is, the disappearance of the stream in an urban setting. The fact that local governance is not an effective recovery program stream, retrains its function, as well as revitalization of the areas surrounding it, brings harm to the population in many ways (environmental, economic and social). The stream, if properly conducted, can be a positive reference in daily life. What happens today is a negative perception of his presence, devaluing and degrading the urban landscape and, consequently, society as a whole. Key-words: Streams, Environmental Impacts. Mossoró-RN. LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Impactos ambientais registrados no córregoDom Jaime Câmara. ...................................24 LISTA DE FIGURAS Figura 01 – Ciclo hidrológico ............................................................................................... 17 Figura 02 – Escoamento superficial na pré e pós-urbanização .......................................... ...18 Figura 03 – Localização do córrego Dom Jaime Câmara na cidade de Mossoró ................... 21 Figura 04 – Bacia de drenagem do córrego Dom Jaime Câmara na cidade de Mossoró......... 22 Figura 05 – Canalização do córrego Dom Jaime Câmara. ..................................................... 25 Figura 06 – Disposição inadequada de resíduos sólidos no córrego Dom Jaime Câmara. ...... 26 Figura 07 – Lançamento de efluentes industriais no córrego Dom Jaime Câmara. ................ 27 Figura 08 – Lançamento de efluentes domésticos no córrego Dom Jaime Câmara ................ 28 Figura 09 – Córrego Dom Jaime Câmara. A) Lançamento de efluentes oriundos de lava-jatos. B) Lançamento de esgoto doméstico .................................................................................... 29 Figura 10 – Presença de animais de grande porte no córrego Dom Jaime Câmara................. 30 Figura 11 – Distribuição dos gêneros entre os entrevistados. ................................................ 31 Figura 12 – Distribuição, por faixa, do tempo de residência dos entrevistados. ..................... 31 Figura 13 – Distribuição dos problemas relatados pelos entrevistados .................................. 32 Figura 14 – Vista parcial da degradação do córrego. A) Caixa de papelão com abundante presença de larvas de mosquito. B) Deposição inadequada de lixo ....................................... 33 Figura 15 – Distribuição das sugestões de melhorias relatadas pelos entrevistados. .............. 34 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 11 2. OBJETIVOS ...................................................................................................... 13 2.1 Geral ................................................................................................................. 13 2.2 Específicos .................................................................................................... 13 3. REVISÃO DA LITERATURA ....................................................................... 14 3.1 Bacia hidrográfica ........................................................................................ 14 3.2 Córregos ....................................................................................................... 15 3.3 O Efeito Da Urbanização ............................................................................. 15 3.4 Impactos Ambientais Nos Corpos D’água Urbanos ........................................ 16 4. METODOLOGIA............................................................................................... 20 4.1 Área de estudo ........................................................................................... 20 5 RESULTADOS .................................................................................................. 23 5.1 Situação ambiental do córrego ....................................................................... 23 5.2 Córrego e comunidade .................................................................................. 30 6. CONCLUSÕES .................................................................................................. 35 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................ 36 ANEXOS .................................................................................................... 38 11 1. INTRODUÇÃO Os rios desempenharam um papel essencial na estruturação das paisagens urbanas e consolidaram uma conexão entre forma e uso exclusiva em cada cidade. Ao longo do tempo, os rios se tornaram espinhas dorsais das cidades por onde passam, estruturando o tecido urbano próximo a eles e tornando-se muitas vezes eixos de desenvolvimento do desenho da cidade. As populações servem-se dos rios, interferem no seu traçado e poluem as águas sem a consciência da importância da conservação dos rios urbanos e sua paisagem. Em virtude desse processo as cidades têm sofrido intensas modificações em sua paisagem. As áreas adjacentes aos rios são gradativamente ocupadas, transformando áreas de grande valor ecológico e paisagístico em densas áreas urbanas (PORATH, 2004). Em cidades sem planejamento e com crescimento desordenado as drenagens urbanas não são levadas em consideração. Assim, criam-se e desenvolvem-se bairros sem levar em consideração o caminho das águas. Esse problema é percebido somente quando as precipitações tornam-se mais intensas, provocando enchentes e inundações. Esse é o caso da cidade de Mossoró (RN), que, por estar situada no semi-árido nordestino, seus dirigentes não julgam ser necessário levar em consideração os índices pluviométricos na época das chuvas. Esse descuido traz aparelhados problemas urbanos inerentes aos seus cursos d’água, principalmente os de menor envergadura, isto é, os córregos. Estes são vistos como uma fonte de problemas, ou seja, estão desvalorizados na paisagem urbana, principalmente pelo modo que é tratado pela população, como fonte de depósitos de lixo, entre outros fatores que podem poluir até mesmo os lençóis freáticos. As modificações do solo impostas pelas construções e edificações vem aumentar a impermeabilização da sua superfície, logo, altera-se também o ciclo hidrológico natural, diminuindo a infiltração da água no solo e a recarga do lençol freático. Quando não se tem uma visão adequada de tais cursos d’água, por exemplo, a responsabilidade de tratar os problemas indesejados na fonte, acaba por gerar situações sérias, tais como: enchentes, inundações, doenças e a consequentemente alteração da qualidade das águas dos córregos devido a dejetos e outras formas de poluição causadas pelo homem. Dessas situações de risco podem surgir erosões, desaparecimento da vida aquática, além de problemas de saúde pública. O córrego do bairro Dom Jaime Câmara, localizado no bairro homônimo e no bairro Presidente Costa e Silva, faz parte da paisagem cotidiana da população adjacente, no entanto, o destino dado a ele refere-se à sua função como depósito de esgotos domiciliares e de lixo. 12 As funções que poderiam mantê-lo como ponto de embelezamento da paisagem são inutilizadas. Daí a necessidade de se entender o quadro ambiental do córrego, assim como as inter-relações que se estabelecem entre ele e a população. Este trabalho caracteriza-se por mostrar os problemas causados pelo descaso e o decorrente mau uso do córrego, que está inserido na paisagem urbana do setor oeste da cidade de Mossoró. Também sugere possíveis medidas para minimizar a situação de degradação ambiental, principalmente com ações simples, mas que podem ser de grande valia para obtenção de uma melhor qualidade de vida da população. 13 2. OBJETIVOS 2.1. Geral Este trabalho tem por objetivo retratar a situação ambiental do córrego Dom Jaime Câmara, através da identificação, registro e análise dos seus impactos ambientais, assim como também o estudo da relação córrego-moradores adjacentes e da percepção que estes têm sobre esse curso d’água. 2.2. Específicos - Mapear o percurso do córrego desde a sua(s) nascente(s) até a sua confluência com o rio Mossoró. - Identificare registrar os impactos ambientais no percurso do córrego. - Conhecer a percepção dos residentes na vizinhança do córrego em relação a este. 14 3. REVISÃO DA LITERATURA 3.1. Bacia hidrográfica O conceito de Bacia Hidrográfica pode ser compreendido por diversos autores (LIMA e ZAKIA, 2000; BORSATO e MARTONI, 2004; ATTANASIO, 2004). Embora tecnicamente o conceito implícito no termo seja preciso, podem existir variações no foco principal, conforme a percepção dos técnicos que o utilizam em seus estudos. Barrella (2001) define bacia hidrográfica como um conjunto de terras drenadas por um rio e seus afluentes, formada nas regiões mais altas do relevo por divisores de água, onde as águas das chuvas, ou escoam superficialmente formando os riachos e rios, ou infiltram no solo para formação de nascentes e do lençol freático. As águas superficiais escoam para as partes mais baixas do terreno, formando riachos e rios, sendo que as cabeceiras são formadas por riachos que brotam em terrenos íngremes das serras e montanhas e à medida que as águas dos riachos descem, juntam-se a outros riachos, aumentando o volume e formando os primeiros rios, esses pequenos rios continuam seus trajetos recebendo água de outros tributários, formando rios maiores até desembocarem no oceano. A bacia hidrográfica em ambientes florestados, ou mesmo com atividades agrárias, apresenta funcionamento bem diferente das áreas urbanas (FRANCO, 2009). Logo adiante serão vistos diferenças entre os solos naturais e os urbanizados quando analisados o caminho do escoamento d’água quando ocorrem chuvas. De acordo com Botelho e Silva (2004), o ciclo hidrológico no ambiente rural é semelhante ao das áreas florestadas, não havendo grande redução na entrada de água no solo. Já em solos urbanizados, onde existe uma grande superfície impermeabilizada, ocorre a geração de fluxos superficiais e quase nenhuma infiltração de água no solo. A importância da infiltração é propiciar maior permanência da água na bacia hidrográfica, permitindo assim, que o ciclo hidrológico se complete. As alterações na paisagem, como por exemplo, a retirada da floresta, impede que a água da chuva sirva de suprimento para os vegetais, abasteça o lençol freático, recarregue os aquíferos e abasteça os cursos d’água durante a estação chuvosa e também durante a estiagem (BOTELHO e SILVA, 2004). Franco (2009) conclui que a água do escoamento superficial tende a aumentar significativamente o volume de água nos rios durante a época de chuvas, podendo causar inundações de grandes proporções. Além disso, essa água também seria responsável por 15 perdas do solo por erosão, pois a água que escoa sobre superfícies pavimentadas ganha maior velocidade e, portanto, maior potencial erosivo. 3.2. Córregos Segundo o dicionário (DICIONÁRIO DO AURÉLIO, 2011) córrego é um sulco aberto pelas águas correntes; regueiro; no Brasil significa também riacho, ribeiro, regato. Já, para o dicionário e tradutor Babylon (BABYLON, 2011) córrego é uma denominação dada a um corpo de água corrente de pequeno porte. Rotineiramente, é utilizado para se referir a algo de menor tamanho que um riacho. Portanto, percebe-se que a definição corrente do termo córrego refere-se à drenagem natural de uma paisagem por onde circula água corrente, isto é, em movimento. Não condiciona a existência de uma nascente, o que sugere que os canais naturais que drenam as águas das chuvas também poderiam ser considerados córregos. Também não mencionam à intermitência do canal de drenagem. Esse fato é importante, pois é necessário definir se o objeto de estudo deste trabalho é realmente um córrego. Devido à ocorrência de fluxo de água, mesmo que só no período das chuvas, pode-se nomear o objeto de estudo de córrego. Mesmo assim, o referido córrego também apresenta fluxo de líquidos no período em que não chove, justificado pela descarga clandestina contínua de águas servidas das residências vizinhas. 3.3. O efeito da urbanização Com a migração do homem para a cidade deu-se inicio, no que podemos chamar de uma alteração, em partes, catastróficas, do meio ambiente como um todo. Segundo Porath (2004, p.3): No Brasil, a urbanização tem tratado com desprezo os cursos d'água, origem e razão de ser de muitas cidades, transformando-os em paisagem residual. Os pequenos rios e córregos estão cada vez mais desaparecendo dos mapas. Encontramos rios com seus leitos alterados, canalizados, aterrados ou em avenidas-canal. Obras como túneis, viadutos e pontes são projetados para facilitar o fluxo do sistema viário, acabam por colocar em segundo plano as facilidades possibilitadas pelos rios 16 urbanos, tais como a sua utilização como meio de circulação em área urbana. A mata ciliar é degradada, há um adensamento cada vez mais intenso nas áreas próximas aos rios com impermeabilização do solo, pontes, avenidas e túneis são construídos e os rios são tratados então como fundos de lotes e local de despejos. Enfim, os rios e suas margens são desvalorizados e com esse processo, acabam por sucumbir ao ataque urbano, transformando-se numa paisagem invisível por aterros e canais. As cidades cada vez mais estão tendo uma paisagem de rios esquecidos, tornando-se cada vez mais sujos, poluídos e desvalorizados, onde quanto menos ele é visto, melhor é para a imagem da cidade (PORATH, 2004, p.3). O problema com enchentes não são novidades no Brasil, já que se trata de um problema, em parte, permanente. Tais ocorrências são devido à falta de um bom planejamento de drenagem e à mão de obra, quase sempre mais baratas, que ocasiona erros de engenharia. Erros que refletem a idéia dos engenheiros que a boa drenagem é aquela em que a água escoa o mais rápido possível sobre a área em questão. Comumente esses erros acarretam custos (em grandes casos, irreversíveis) na sociedade. Entretanto, a melhor drenagem é aquela que drena o escoamento sem produzir impactos no local (TUCCI, 1995). As enchentes podem ser combatidas de duas formas: a que acarrete menores ocorrências (medidas estruturais) e outra em que minimize as perdas de qualquer natureza (medidas não estruturais). A ultima, citada na maioria das vezes, possui menores custos (ANDRADE, 2004). Em ambos os casos o processo de melhoramento do solo se inicia através de algum regulamento que tenha por finalidade a preocupação com as enchentes. (TUCCI, 1995). 3.4. Impactos ambientais nos corpos d’água urbanos De acordo com Porath (2004), há cidades que possuem grandes rios que secionam o tecido urbano, mas há também um número significativo de pequenos rios e córregos. Muitos desses rios são lembrados nos períodos de fortes chuvas, pois se tornam notícias de jornais devido às inundações. E porque isto? As cidades que apresentam uma baixa declividade do sítio, um alto índice pluviométrico, associados à degradação ambiental, com áreas densamente construídas e impermeabilizadas, tornam-se um escudo à prova d’água e incapaz de penetrar no solo, as águas escoam pela superfície cada vez mais rápido e em quantidades cada vez maiores (SPIRN,1995). 17 A água faz parte do ciclo hidrológico, que é um processo de precipitação, infiltração, escoamento superficial (runoff), escoamento subterrâneo, evaporação e evapo-transpiração (Figura 01). Segundo Mota (1999), o processo de urbanização provoca alterações sensíveis no ciclo hidrológico, principalmente sob os seguintes aspectos: aumento da precipitação; diminuição da evapo-transpiração, como conseqüência da redução da vegetação; aumento da quantidade de líquidoescoado (aumento do runoff); diminuição da infiltração da água, devido à impermeabilização e compactação do solo; consumo de água superficial e subterrânea, para abastecimento público, usos industriais e outros; mudanças no nível do lençol freático, podendo ocorrer redução ou esgotamento do mesmo; maior erosão do solo e consequente aumento do processo de assoreamento das coleções superficiais de água; aumento da ocorrência de enchentes; poluição de águas superficiais e subterrâneas. Figura 01 – Ciclo hidrológico. Fonte: Porath (2004, p.26). 18 Na figura 02 pode-se avaliar o aumento do volume de água escoada e um ponto critico de maior vazão e de ocorrência mais acentuada. Isso se deve principalmente a urbanização que cresce de maneira desorganizada e a impermeabilização do solo provocando alterações na drenagem das águas pluviais (PORATH, 2004). Figura 02 – Escoamento superficial na pré e pós-urbanização. Fonte: Mota (1999, p. 45) – Elaboração: Soraia L. Porath. Sabe-se que a maioria, ou pelo menos em grande parte, dos centros urbanos são munidos pela presença incessante de resíduos biológicos, orgânicos, entre outros nas correntes de água que fluem por ela, devido principalmente a falta de saneamento. Esses resíduos são originados principalmente de residências, onde são despejados grande parte dos dejetos nesse fluxo de água, geralmente nos córregos, causando consequências catastróficas ao ambiente em que o compõe. Esses problemas acabam por afetar de modo geral a qualidade das águas e a biodiversidade, em especial os rios, lençóis freáticos, fauna, flora, entre outros seres vivos que dependem desse meio para sustentarem suas vidas. Todas as alterações no ciclo hidrológico podem resultar em condições bastante prejudiciais para os habitantes de uma área urbana. Portanto, o ciclo deve ser considerado na ocupação do solo, visando minimizar os seus efeitos negativos. 19 Segundo Porath (2004, p.28-29): A utilização que o homem faz da água resulta em resíduos líquidos e sólidos que voltam novamente para aos recursos hídricos, causando a sua poluição. Por outro lado a água que precipita carrega impurezas do ar e do solo para as áreas superficiais ou subterrâneas de água, alterando a sua qualidade, poluindo-a. Assim, vários são os mecanismos de poluição da água superficial e subterrânea em um meio urbano, podendo-se destacar como principais fontes de poluição como o lançamento de esgotos domésticos (sanitários), de esgotos industriais e de águas pluviais, através de galerias, ou ainda a água do escoamento superficial (runoff), água de infiltração, lançamento direto de resíduos sólidos e outras impurezas (como por exemplo a ocupação desordenada das margens e o uso excessivo de agrotóxicos) e a intrusão de água salgada (PORATH, 2004, p.28-29). De acordo com Silva (1993, p. 25) no ponto em que se compõe a área urbana de Mossoró, o rio transformou-se em esgoto a céu aberto e fonte de transmissão de doenças, Outrora era o rio o maestro do crescimento da cidade de Mossoró, fornecendo-lhe água, barro para construção de casas, peixes para alimentação da cidade e estradas fluviais para transporte de mercadorias. Hoje a cidade é maestra da sua agonia: matas ciliares devastadas, redução da capacidade biológica, assoreamento em alto nível e porto Santo Antônio destruído (SILVA, 1993, p. 25). 20 4. METODOLOGIA A metodologia adotada para a pesquisa foi a observação direta in loco da situação analisada. A observação também é considerada uma coleta de dados para conseguir informações sob determinados aspectos da realidade. Ela ajuda o pesquisador a “identificar e obter provas a respeito de objetivos sobre os quais os indivíduos não têm consciência, mas que orientam seu comportamento” (LAKATOS, 1996). A observação também obriga o pesquisador a ter um contato mais direto com a realidade. Durante as visitas à área de estudo foram realizados registros fotográficos do córrego e das diversas situações encontradas. O percurso compreendeu desde à área de captação das águas pluviais até o encontro com o rio Mossoró. A coleta de dados foi complementada pela formulação de entrevistas, com diversas pessoas na área que engloba o córrego, isto é, foram entrevistados moradores ao longo de toda a faixa que delimita o córrego. O objetivo desse método é o de se obter dados de caráter subjetivo, pois nas entrevistas é que se relacionam os valores, as atitudes e as opiniões dos sujeitos entrevistados. As entrevistas foram do tipo semiestruturadas, que combinam perguntas abertas e fechadas, onde o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o tema proposto. As informações oriundas das entrevistas foram tabuladas com o auxílio do programa Excel®, que também gerou os gráficos utilizados neste trabalho. 4.1. Área de estudo O córrego Dom Jaime Câmara está localizado na zona urbana do município de Mossoró. Inicia no bairro Dom Jaime Câmara, passando pelo bairro Alto de São Manoel e encontra o rio Mossoró no bairro Presidente Costa e Silva (Figura 03). A densidade demográfica dos bairros de abrangência do córrego é: Dom Jaime Câmara, 10.312 habitantes; Alto de São Manoel, 21.038 habitantes; Presidente Costa e Silva, 4.487 habitantes (SOUZA, 2010). Os três bairros contam com serviço de recolhimento de lixo, três vezes por semana. Também são atendidos pela Associação Comunitária Reciclando para a Vida (ACREVI), que recolhe semanalmente a parte reciclável dos resíduos domésticos. A população desses bairros é atendida pela rede de abastecimento de água potável por parte da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN), de energia elétrica pela Companhia Energética do Rio Grande do Norte (COSERN). 21 No que se refere a esgoto, o uso de fossas sépticas ainda é uma constante nos bairros em questão. Atualmente (novembro de 2011), a cidade de Mossoró está em processo de implantação e ampliação do sistema de esgotos, o qual contempla os três bairros por onde passa o percurso do córrego. Figura 03 – Localização do córrego Dom Jaime Câmara na cidade de Mossoró. Novembro de 2011. Fonte: Adaptado de Plano Diretor de Desenvolvimento de Mossoró (PMM, 2005). 22 A bacia de drenagem do córrego contempla também parte do bairro Planalto Treze de Maio, conforme pode ser visualizado na figura 04. Figura 04 – Bacia de drenagem do córrego Dom Jaime Câmara na cidade de Mossoró. Novembro de 2011. Fonte: Adaptado de Plano Diretor de Desenvolvimento de Mossoró (PMM, 2005). 23 5. RESULTADOS 5.1. Situação ambiental do córrego Do levantamento realizado em campo sobre os aspectos de degradação ambiental do córrego, foram levantados os seus impactos ambientais, conforme apresentado na tabela 01. Os impactos encontrados na área de estudo se repetem ao longo do curso do córrego e podem ser resumidos nos seguintes: RECURSO HÍDRICO Alteração da qualidade química da água Alteração no fluxo hídrico Artificialização do corpo d'água Assoreamento do córrego Contaminação da água subterrânea Contaminação da água superficial Eutrofização RECURSO EDÁFICO Contaminação do solo Diminuição da permeabilização Erosão do solo RECURSO BIOLÓGICO Aumento da presença de fauna urbana (insetos e ratos) Redução e/ou perda da biodiversidade AR Poluição do ar (mau cheiro) SOCIAL Diminuição da qualidade de vida da vizinhança Poluição visual Risco à saúde pública 24 Tabela 01 – Impactos ambientais registrados no córrego Dom Jaime Câmara. Mossoró, 2011. AGENTE ATIVIDADE IMPACTO AMBIENTAL Pessoas da vizinhança Desmatamento próximo à foz Erosão do solo Assoreamento do córrego Perda da biodiversidade Alteração no fluxo hídrico Prefeitura municipal Canalização do córrego Alteração no fluxo hídrico Diminuição da permeabilização Artificialização do corpo d'água Diminuição da biodiversidade Pessoas da vizinhança Disposição inadequada de resíduos solidos Redução e/ou perda da biodiversidade Poluição do ar (mau cheiro) Contaminação do solo Contaminação da água superficial Contaminação da água subterrânea Poluição visual Aumento da presença de fauna urbana (insetos e ratos) Risco à saúde pública Diminuição da qualidade de vida da vizinhança Pessoas da vizinhança, lava- jatos, empresas Lançamento de efluentes domésticos e industriais Eutrofização Redução e/ou perda da biodiversidade Poluição do ar (mau cheiro) Poluição da água superficial Poluição da água subterrânea Alteração da qualidade química da água Risco à saúde pública Poluição visual Diminuição da qualidade de vida da vizinhança Pessoas da vizinhança Presença de animais de grande porte (cavalos e gado) Eutrofização pelo aumento de matéria orgânica na água Redução e/ou perda da biodiversidade Risco à saúde pública Diminuição da qualidade de vida da vizinhança A seguir serão mostradas algumas figuras e apresentados comentários sobre a situação ambiental observada no córrego Dom Jaime Câmara, na cidade de Mossoró-RN. Existem trechos do córrego que são canalizados (Figura 05), o que diminui a sua permeabilidade, ocasionando em um não absorvimento adequado da água pelo solo. Pode ocorrer também o desvio natural do fluxo hídrico do córrego. 25 Figura 05 - Canalização do córrego Dom Jaime Câmara. Mossoró, 2011. Fonte: autoria própria. Em diversos pontos ao longo do córrego observou-se a disposição inadequada de resíduos sólidos despejados pela população local (Figura 06). Isso vem a acarretar em inúmeros problemas, como a contaminação das águas superficiais e lençóis freáticos, poluição do ar, perda da biodiversidade nativa, porém também acarreta o aumento de animais da fauna urbana (ratos, baratas, entre outros). Esses fatores acabam por comprometer a saúde da população e, consequentemente, a qualidade de vida da vizinhança. Em alguns pontos observou-se a presença a forte presença de efluentes domésticos e industriais, como tensoativos, tintas, óleos (Figura 07). Os óleos e tintas são principalmente de origens de lava-jatos e oficinas mecânicas. Isso acarreta em uma diminuição considerável do pH da água, deixando-a alcalina, e imprópria para o consumo humano. Observa-se também na figura 08 a disposição, principalmente, de dejetos biológicos e/ou orgânicos pelas encanações residenciais, que acabam por comprometer a qualidade da água. 26 Figura 06 – Disposição inadequada de resíduos sólidos no córrego Dom Jaime Câmara. Mossoró, 2011. Fonte: autoria própria. Esses fatos destacados nas duas figuras ocorrem devido a uma falta de saneamento adequado na cidade. Como consequência, testemunha-se a problemática urbana, como a presença incessante de insetos, poluição das águas superficiais e subterrâneas, alteração da qualidade química da água, mau cheiro e, consequentemente, o surgimento de doenças a população. A figura 09A mostra a alta concentração de espuma nas águas do córrego. Segundo moradores vizinhos existe também intenso cheiro de óleo. A presença de espuma e óleo deve- se, segundo os mesmos moradores, as atividades dos lava-jatos que, posteriormente, foi confirmada a existência de vários empreendimentos desse tipo no bairro Dom Jaime Câmara. Os impactos que pode trazer o derramamento desse tipo de efluente para o ambiente físico, biológico e social são diversos, e referem-se principalmente à contaminação das águas, 27 superficiais e subterrâneas, à perda da biodiversidade nativa e à saúde pública da população vizinha ao córrego. Curiosamente, alguns vizinhos afirmaram não haver problemas com mosquitos, pois os óleos na água não permitem a sobrevivência das larvas. Alegaram que não há manifestação de dengue na população ribeirinha. Figura 07 – Lançamento de efluentes industriais no córrego Dom Jaime Câmara. Mossoró, 2011. Fonte: autoria própria. Se por um lado a presença de efluentes na água é nociva ao ambiente físico e biológico, por outro traz aparelhada uma diminuição do risco a doenças que tem com vetores a fauna urbana. Na figura 09B pode ser visualizado o derramamento de esgoto diretamente no córrego. Em pesquisa de campo não conseguiu verificar a sua origem por se tratar de manilhas subterrâneas. Conforme os vizinhos, quando perguntados, trata-se de vazamento de uma estação de tratamento de esgoto da CAERN. Esse fato não foi apurado nem visualmente, nem junto à referida companhia. 28 Figura 08 – Lançamento de efluentes domésticos no córrego Dom Jaime Câmara. Mossoró, 2011. Fonte: autoria própria. Nas áreas com menor densidade urbana, isto é, nas áreas vazias vizinhas ao córrego, observou-se a presença de animais de grande porte, principalmente de equinos, sem nenhum tipo de identificação, utilizando da água do córrego para dessedentação (Figura 10). A presença desses animais nessa corrente de água pode acarretar algum tipo de contaminação na água devido aos animais realizar suas necessidades fisiológicas, causando assim um grande risco à saúde pública. 29 Figura 09 – Córrego Dom Jaime Câmara. A) Lançamento de efluentes oriundos de lava-jatos. B) Lançamento de esgoto doméstico. Mossoró, 2011. A B Fonte: autoria própria. Deve-se destacar também que um grande acúmulo de matéria orgânica advindos desses animais, dentro das águas, acaba por acelerar a eutrofização. Esse processo traz fatores prejudiciais à vida aquática, devido a grande presença de nitratos e minerais que acarreta na multiplicação de microorganismos na superfície da água, formando uma camada densa que impede a penetração da luminosidade e, consequentemente, diminuição da taxa de fotossíntese nas camadas onde vivem os peixes. Assim, o nível de oxigênio tende a se reduzir a níveis que podem causar a mortalidade da fauna aquática. 30 Figura 10 – Presença de animais de grande porte no córrego Dom Jaime Câmara. Mossoró, 2011. Fonte: autoria própria. 5.2. CÓRREGO E COMUNIDADE Os resultados a seguir são oriundos das entrevistas realizadas a alguns moradores ao longo do córrego Dom Jaime Câmara, principalmente das suas adjacências. O gênero dos entrevistados correspondeu, na sua maioria, ao sexo feminino (64%) (figura 11). Isso se deve provavelmente aos horários em que as entrevistas foram realizadas, isto é, no período diurno. É de pressupor que os homens estejam no seu trabalho, enquanto que as mulheres entrevistadas ficam a cargo dos cuidados da casa. 31 Figura 11 – Distribuição dos gêneros entre os entrevistados. Mossoró, 2011. Fonte: autoria própria. Em relação ao tempo de residência dos entrevistados percebeu-se que a maioriaé antiga residente nas áreas visitadas. Dos entrevistados 72,7% residem a mais de 11 anos (Figura 12), sendo o mais antigo residente há 30 anos. Esse fato dá a noção de que essas pessoas acompanharam a história do próprio córrego. Figura 12 – Distribuição, por faixa, do tempo de residência dos entrevistados. Mossoró, 2011. Fonte: autoria própria. 36% 64% Masculino Feminino Até 10 anos De 11 a 20 anos Mais de 21 anos 27,3% 36,4% 36,4% 32 De acordo com os resultados das entrevistas com a população que vive próximo ao córrego, há relatos sobre o descaso dos órgãos responsáveis em relação a uma intervenção adequada na região em que o envolve. Por essa razão, segundo os entrevistados, os problemas despontam de maneira crônica. A presença constante e abundante de insetos foi o item mais citado pelos entrevistados (41%), seguindo de mau cheiro (18%) advindo principalmente de matérias orgânicas despejadas no córrego. A presença de ratos foi registrada por 11% das pessoas. Disposição de lixo e poeira no ar nas épocas em que o córrego está mais seco foram indicados por 7% dos entrevistados. Já, 4% deles reclamaram de calçamento deficiente, cheiro de óleo, doenças e a existência de pontos de consumo de drogas, principalmente nos terrenos baldios. Os dados percentuais, de acordo com o número de entrevistas realizadas, estão representados na figura 13. Foi possível constatar a presença de muitos insetos, em especial, de mosquitos (Figura 14A), que podem promover o aparecimento de doenças à população. Observou-se também a presença em quase todos os pontos do córrego de lixo (Figura 14B), assim como também intenso mau cheiro que exalam deles e da água poluída. Figura 13 – Distribuição dos problemas relatados pelos entrevistados. Mossoró, 2011. Fonte: autoria própria. 41% 18% 11% 7% 7% 4% 4% 4% 4% Insetos em excesso Mau cheiro Ratos Lixo Poeira Calçamento deficiente Cheiro de óleo (presente na água) Doenças Ponto de consumo de drogas 33 Figura 14 – Vista parcial da degradação do córrego. A) Caixa de papelão com abundante presença de larvas de mosquito. B) Deposição inadequada de lixo. Mossoró, 2011. A B Fonte: autoria própria. A população preocupada com o bem-estar geralmente requer melhorias nas áreas que englobam o córrego. Com o intuito de conhecer quais as expectativas e sugestões para minimizar ou mesmo eliminar os problemas relatados, é que foi perguntado aos entrevistados a esse respeito. Quase a metade das pessoas (43%) sugere a criação de galerias cobertas, a fim de se evitar o despejo do lixo na corrente de água e “cobrir os problemas trazidos pela água”. Quase um quarto dos entrevistados (22%) também sugere que seja feito um saneamento geral para evitar que os dejetos domésticos sejam lançados diretamente ao córrego e alagamentos nas ruas, entre diversos outros problemas causados pela ausência de saneamento. Dos entrevistados, 7% solicitam que cerquem as áreas de acesso ao córrego, a fim de evitar a entrada de animais e pessoas nessas áreas, garantindo assim maior segurança. Mesmo percentual pede a retirada imediata do lixo presente no córrego, assim como melhorar a situação da rua, não explicitando a que aspecto da rua se refere essa melhoria. Provavelmente estariam se referindo à construção de áreas de lazer e à limpeza, também citado por 7% dos entrevistados. A Figura 15 mostra distribuição percentual das sugestões de melhoria, conforme as expectativas dos entrevistados. 34 Figura 15 – Distribuição das sugestões de melhorias relatadas pelos entrevistados. Mossoró, 2011. Fonte: autoria própria. 43% 22% 7% 7% 7% 7% 7% Construção de galeria fechada Saneamento geral Cercar a área de acesso Retirar o lixo Melhorar a situação da rua Construção de áreas de lazer Limpeza 35 6. CONCLUSÕES Do levantamento da situação ambiental do córrego Dom Jaime Câmara percebeu-se um leque de impactos ambientais que se repetem ao longo do seu curso. Esses impactos são os corriqueiros nas cidades modernas, a saber, alteração da qualidade química da água e do fluxo hídrico, artificialização do corpo d'água, assoreamento, contaminação do solo, da água subterrânea e superficial, eutrofização, aumento da presença de fauna urbana (insetos e ratos), redução e/ou perda da biodiversidade, poluição do ar (mau cheiro), diminuição da qualidade de vida da vizinhança, poluição visual e risco à saúde pública. O córrego conformou-se, inicialmente, da drenagem natural do terreno, no bairro Dom Jaime Câmara. Atualmente, com a rápida urbanização da cidade de Mossoró, as diversas vias de drenagem pluvial foram absorvidas no relevo urbano, permanecendo poucos para o escoamento das águas das chuvas. É o caso do córrego em foco. Aos poucos, ele foi mudando de função, de escoamento das águas pluviais para receptor das águas servidas da população. A confirmação desse fato advém da presença de líquidos de forma permanente, mesmo em épocas que não chove, isto é, de quatro a seis meses por ano. A própria cor da água do córrego denuncia a agressão. O fato da governança local não efetivar um programa de recuperação do córrego, requalificando a sua função, assim como de revitalização das áreas circunvizinhas a ele, traz prejuízo à população em vários sentidos (ambiental, econômico e social). O córrego, se bem conduzido, pode ser um referencial positivo no cotidiano das pessoas, no sentido de ter acesso a um lugar agradável, de lazer, recreação e socialização. O que ocorre atualmente é uma percepção negativa da sua presença, desvalorizando e degradando a paisagem urbana e, consequentemente, a sociedade como um todo. 36 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, J. P. M. Medidas não Estruturais. In: Mendes, H. C.; Marco, G. de; Andrade, J. P. M.; Souza, S. A.; Macedo, R. F. Reflexões sobre impactos das inundações e propostas de políticas públicas mitigadoras – USP/EESC, 2004. ATTANASIO, C.M. Planos de manejo integrado de microbacias hidrográficas com uso agrícola: uma abordagem hidrológica na busca da sustentabilidade. 2004. 193p. Tese (Doutorado em Recursos Florestais) – Escola Superior de Agricultura “Luis de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2004. BABYLON. Definição da palavra Córrego. Disponível em: <http://dicionario.babylon.com/ enciclopedia/>. Acesso em nov.2011. BARRELLA, W. et al. As relações entre as matas ciliares os rios e os peixes. In: RODRIGUES, R.R.; LEITÃO FILHO; H.F. (Ed.) Matas ciliares: conservação e recuperação. 2.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2001. BIDONE, F.; TUCCI, C. E. M. Microdrenagem. In: Tucci,C.E.M.; Porto, R.L.L.; Barros, M.T. Drenagem Urbana. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS/ABRH, 1995, V.5, p.277- 347. BOTELHO, Rosangela G M. e SILVA, Antonio S da. “Bacia Hidrográfica e Qualidade Ambiental” in VITTE, Antonio Carlos. e GUERRA, Antonio José T. (orgs) “Reflexões sobre a Geografia Física no Brasil”. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. COSTA, Lúcia Maria. Águas urbanas: os rios e a construção da paisagem. In: Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura e Urbanismo,VI, Recife, 2002. Anais, Recife: [S.I.], 2002. DICIONÁRIO DO AURÉLIO. Definição da palavra Córrego. Disponível em: <http://www.dicionariodoaurelio.com>. Acesso em nov.2011. DUARTE, Fabio. Rastros de um rio urbano – cidade comunicada, cidade percebida.Ambiente & Sociedade, v. IX, n. 2, p. 105-122, 2006. FRANCO, Gustavo Cosenza de Almeida. Apropriação e percepção de um rio urbano: o caso do ribeirão Jacaré de Itatiba (SP). 825f. Dissertação (mestrado) - Centro de Ciências Exatas, Ambientais e de Tecnologias, Pós-Graduação em Urbanismo. Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas-SP, PUC, 2004. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de pesquisa. 3ª edição. São Paulo: Editora Atlas, 1996. 232 p. LIMA, W.P.; ZAKIA M.J.B. Hidrologia de matas ciliares. In: RODRIGUES, R.R.; LEITÃO FILHO, H.F. (Ed.) Matas ciliares: conservação e recuperação. 2.ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2000. p.33-43. 37 MOTA, Suetônio. Urbanização e Meio Ambiente. Rio de Janeiro: ABES, 1999. PORATH, Soraia Loechelt. A paisagem de rios urbanos: a presença do Rio Itajaí-Açu na cidade de Blumenau. 832f. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC, UFSC, 2004. SILVA, Francisco das Chagas. As principais fontes de poluição do rio Mossoró-Apodi na altura do sítio urbano do município de Mossoró. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Desenvolvimento Regional da UERN. Mossoró: 1993, 59 p. SOUZA, E. B. de. Planta Cadastral da Cidade de Mossoró. 2010. SPIRN, Anne W. O Jardim de granito: a Natureza no desenho da cidade. São Paulo: Edusp, 1995. 38 APÊNDICE 39 Apêndice 1 – Questionário para entrevista com os moradores da vizinhança do Córrego do bairro Dom Jaime Câmara. QUESTIONÁRIO Entrevista N o Data da Entrevista Bairro Rua Sexo: □ Masculino □ Feminino Idade: 1. Há quanto tempo mora nessa residência? ___________________________ 2. Há problemas de enchentes na sua rua? □ Não □ Sim □ Não sabe 3. Já foi afetado por enchentes na sua residência atual? □ Não □ Sim □ Não responde 4. Você sabe se existe algum tipo de medida por parte da prefeitura em relação ao córrego? □ Não □ Sim □ Não sabe Se tiver especificar: __________________________________________________________ 5. Você considera que as ações da Prefeitura tem sido suficientes? □ Não □ Sim □ Não sabe 6. Quais são os benefícios e malefícios que você associa com a presença da sua residência nas proximidades do córrego? Benefícios Malefícios 7. Se você fosse prefeito(a), teria alguma proposta em relação ao córrego? ___________________________________________________________________________ (insetos? ratos?) ____________________________________ (mau cheiro) _______________________________________
Compartilhar