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Texto A mundialização do capitalismo e a Geopolítica mundial no fim do século XX

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A mundialização do capitalismo e a Geopolítica mundial no fim do século XX. 
Ariovaldo Umbelino de Oliveira 
O século XX chega ao seu final marcado por grandes transformações mundiais. Essas transformações podem 
ser encontradas em praticamente todas as dimensões da humanidade: o surgimento, a expansão e a crise do 
socialismo; as duas grandes guerras mundiais; a corrida espacial e a chegada do homem à Lua; o 
desenvolvimento da eletrônica e das comunicações e muitos outros. O mundo contemporâneo rompeu as 
distâncias, aproximando os povos; uniu e separou nações; fez emergir e fez sucumbir potências mundiais; 
disseminou guerras e colocou o planeta à beira do holocausto nuclear; a capacidade de destruição do homem 
alcançou níveis inimagináveis para qualquer ser humano. Mas colocou também, para toda a humanidade, mais 
do que nunca, o imperativo da solidariedade entre os homens. 
A abordagem dessas transformações passará pelo desvendamento das alterações profundas que a geopolítica 
mundial está conhecendo e os conseqüentes arranjos e rearranjos que o espaço mundial está apresentando. Na 
geopolítica mundial encontrar-se-á a chave que pode explicar as diferentes lógicas da ordenação territorial por 
que passam muitos Estados e nações. 
O desenvolvimento e as transformações que o modo capitalista de produção introduziu na sociedade 
contemporânea é o cimento com o qual uma nova ordem mundial está sendo edificada. Mas o mundo atual não 
pode ser compreendido sem o contraponto histórico do surgimento, da expansão e das crises do socialismo; sem 
o entendimento da guerra fria e da geopolítica da bipolaridade travada entre EUA e URSS; e sem as profundas 
transformações que o capitalismo realizou. A formação dos grandes monopólios capitalistas denominados 
multinacionais é a expressão moderna da etapa monopolista do capitalismo mundial. A história de sua formação 
reside nas crises de 1874 e de 1929. As duas guerras mundiais legaram novas organizações econômicas e 
políticas, e os Estados nacionais conheceram novas ordenações territoriais. 
A lógica que dominou o mundo do século XX foi aquela ditada por dois processos: a expansão geográfica do 
socialismo e a formação dos monopólios capitalistas. Com a crise que se abateu sobre os países socialistas no 
final da década de 80, a principal característica do mundo no fim do século XX passou a ser a mundialização do 
capitalismo. 
1.1 A MUNDIALIZAÇÃO DO CAPITALISMO 
O desenvolvimento do capitalismo no pós-Segunda Guerra Mundial deve ser entendido como o processo de 
consolidação dos oligopólios internacionais que deu origem às empresas multinacionais, sejam elas cartéis, 
trustes ou monopólios industriais e/ou financeiros. Esse processo histórico teve como sujeitos principais a 
emergência dos Estados Unidos como potência econômica capitalista e a transformação interna das empresas 
norte-americanas. 
A generalização da presença das empresas multinacionais como característica do mundo pós-guerra está 
intimamente ligada ao processo de reconstrução da economia capitalista destruída pela guerra na Europa e no 
Japão. Mas está também relacionada com a expansão da indústria norte-americana em decorrência da Segunda 
Guerra Mundial e da guerra fria. 
As multinacionais são, portanto a expressão mais avançada de um capitalismo que, a partir da crise 
interimperialista, moldou novas formas de organização interna e de relações de trabalho, que por sua vez 
permitiram superar as contradições geradas pela disputa de mercados e fontes de matérias-primas entre as 
empresas nacionais. O domínio e a expansão das empresas multinacionais, dessa forma, envolvem 
simultaneamente três processos inter-relacionados: necessidade de movimentos internacionais de capitais, 
produção capitalista internacional e existência de ações de governos em nível internacional. 
O primeiro processo foi determinado pela necessidade da reconstrução da Europa e do Japão depois da Segunda 
Guerra Mundial. O Plano Marshall e as fusões entre empresas industriais americanas e européias, as bombas 
atômicas de Hiroshima e Nagasaki, os acordos de São Francisco e a Guerra Fria serviram de base para os fluxos 
de capitais norte-americanos na Europa, no Japão e no mundo todo. 
Esses movimentos internacionais de capitais, em última análise, derivam dos investimentos diretos dos 
monopólios empresariais em suas filiais, subsidiárias e diferentes formas de associação no exterior. Esses 
investimentos, entre as décadas de 40 e 60, chegaram a mais de 800 bilhões de dólares para as multinacionais 
norte-americanas e a mais de 50 bilhões para as não-norte-americanas. 
Eles estimularam o crescimento das finanças internacionais, dos depósitos em bancos estrangeiros, dos 
investimentos no mercado europeu e depois japonês de divisas e títulos e particularmente dos investimentos em 
capital acionário de empresas multinacionais efetuados por investidores não-nacionais. Os investimentos diretos 
de capitais no estrangeiro pelas multinacionais constituíram a base de uma enorme superestrutura de captação 
de capitais em todas as partes do mundo. Os fluxos de capitais privados associados de um país para outro, não 
pertencentes às multinacionais, passaram a crescer mais do que os investimentos diretos dessas empresas. Foi, 
em síntese, a constituição/unificação contraditória (capital nacional x estrangeiro) do mercado financeiro 
internacional. 
O segundo processo (produção capitalista internacionalizada) derivou dos monopólios da pesquisa e, 
conseqüentemente, da tecnologia, que, somados ao fluxo de capitais internacionais, abriram as economias 
nacionais, internacionalizando-as. Ao mesmo tempo, geraram as bases da produção internacional, qual seja, o 
controle da força de trabalho, dos mercados e das fontes de matérias-primas nacionais. Esse controle redundou 
na formação do mercado mundial de mão-de-obra e, simultaneamente, na posse dos monopólios das fontes de 
matérias-primas e na repartição dos mercados, substituindo a disputa pela cooperação entre as empresas 
estrangeiras que se associaram ou se fundiram com as nacionais. 
A produção capitalista internacional derivou, portanto, da incorporação de mão-de-obra de muitos países em 
uma estrutura produtiva empresarial mundialmente integrada. Dessa forma, a maior parte da força de trabalho 
empregada pelas multinacionais está fora de seus países de origem. Por exemplo, as quinhentas maiores 
empresas multinacionais americanas têm cerca de 30 a 50% de sua mão-de-obra fora dos Estados Unidos. Essa 
mão-de-obra deve chegar a mais de 8 milhões de pessoas empregadas direta ou indiretamente. 
O terceiro processo (ações internacionais de governo) decorreu dos dois anteriores, somados à necessidade da 
intervenção do Estado na economia e na definição dos projetos de cooperação internacional. As organizações 
governamentais internacionais constituem uma realidade do mundo pós-Segunda Guerra Mundial. A criação da 
ONU (Organização das Nações Unidas), do Banco Mundial, do FMI (Fundo Monetário Internacional), entre 
outros, e a presença de organismos supranacionais (os blocos econômicos), formados por governos nacionais 
empenhados numa economia internacionalizada, passaram a compor cada vez mais o capitalismo que se 
mundializava. A formação de verdadeiros governos internacionais derivou do desgaste dos poderes clássicos 
dos Estados nacionais e do emprego crescente de instrumentos de política econômica internacional com a 
tendência de internacionalização do capital e do trabalho pela empresa multinacional. As receitas de política 
econômica do Fundo Monetário Internacional há muito tempo se tornaram políticas econômicas de muitos 
Estados nacionais onde ocorrem investimentos das multinacionais. Estas constituíram, no pós-guerra, umaverdadeira rede mundial de aplicação/captação de capital e mão-de-obra. Disso resultou a unificação simultânea 
do capital mundial e da força de trabalho mundial no seio de um novo sistema que modificou completamente o 
sistema de economias nacionais característico do capitalismo concorrencial. Essa unificação reduz a 
independência dos Estados nacionais e exige a formação de instituições supranacionais para manejar a 
interdependência crescente dos mesmos. 
Os três processos, combinados contraditoriamente, estão na base da formação do mercado mundial, mercado 
esse que derivou da posição internacional alcançada pelas empresas multinacionais norte-americanas gestadas 
na perspectiva monopolista do capitalismo desde o final do século XIX. Dessa realidade resulta sua posição de 
vanguarda no mundo. 
A partir do processo desencadeado pelas multinacionais norte-americanas, as empresas européias e, sobretudo 
japonesas aprimoraram o sistema e formam hoje de maneira integrada um sistema financeiro internacional e, 
consequentemente, um mercado internacional de capitais. A interligação/ unificação das bolsas de valores de 
Nova Iorque, Tóquio, Londres, Paris, Frankfurt, Milão etc. constitui um exemplo dessa realidade. 
A economia capitalista monopolista, dessa forma, engendrou finalmente sua própria mundialização. Essa 
mundialização é muito mais do que a pura e simples internacionalização ou multinacionalização da economia. 
A internacionalização decorreu dos processos de evolução dos diferentes setores industriais a partir de uma 
crescente integração dos fluxos de conhecimentos técnicos, matérias-primas, bens intermediários, produtos e 
serviços finais através de diversos países do mundo. 
A multinacionalização, por sua vez, originou-se do processo de transformação das empresas nacionais em 
empresas internacionais e multinacionais através da expansão por diferentes países via abertura de filiais, 
aquisições, fusões, associações etc.A mundialização do capitalismo, por conseguinte, é um fenômeno novo na 
economia. Segundo Ricardo Petrella, ele é formado por um conjunto de processos que possibilitam produzir, 
distribuir e consumir bens e serviços: 
• a partir de mecanismos de valorização dos meios de produção (materiais ou não) e que sejam organizados em 
bases mundiais (por exemplo, através de bancos de dados, de patentes, da formação superior dos recursos 
humanos etc.); 
• para mercados mundiais regulamentados (ou que ainda serão regulamentados) por normas e padrões 
mundiais; 
• por organizações criadas ou atuantes em bases mundiais com uma cultura de organização que seja aberta e 
tenha como meta uma estratégia mundial; 
• cuja territorialidade (jurídica, econômica e tecnológica) seja difícil de identificar, em virtude das inúmeras 
inter-relações e integrações entre os elementos que participam das diferentes fases do processo produtivo. 
Muitos já são os exemplos desse processo: cartões de crédito, fast food, rede informatizada interbancária etc. 
Assim, a mundialização não significa necessariamente produtos padronizados para mercados mundiais 
igualmente homogêneos, mesmo que se tomem os chamados bens de consumo final. Isso não quer dizer que se 
produzam mercadorias impecavelmente iguais em toda parte do mundo onde as empresas atuam. Ao contrário, 
a mundialização da economia capitalista pressupõe processos de adaptação aos mercados locais, em função de 
diferentes fatores econômicos, climáticos, jurídicos e culturais. 
Assim, internacionalização, multinacionalização e mundialização são fenômenos integralmente 
interconectados. São expressões do processo de transformação do capitalismo industrial e financeiro centrado 
principalmente nas economias nacionais para um capitalismo centrado na economia mundial. 
Esse processo cria novas bases para as relações Estado-empresa, que entram em uma nova dinâmica de 
alianças. A partir desse processo, os Estados nacionais permitiram que as empresas passassem a ser as novas 
organizações de controle da economia mundial. 
A lógica das novas alianças deriva de vários fatores: a crescente necessidade de integração entre as diversas 
tecnologias e os diferentes setores da economia; a presença de custos crescentes em pesquisa e 
desenvolvimento; o encurtamento do ciclo de vida útil dos produtos; e a escassez relativa de pessoal altamente 
qualificado nos países industrializados. 
Em resumo, a base da natureza das novas alianças entre as empresas multinacionais e os Estados nacionais está 
no fato de que “as empresas necessitam dos Estados „locais‟ (nacionais) para enfrentar a mundialização e para 
se mundializar; os Estados „locais‟ necessitam das empresas mundializadas para garantir a continuidade de sua 
legitimidade e seu futuro enquanto formações políticas e sociais „locais‟!” (Petrella). Consolida-se assim a fase 
monopolista do capitalismo através da unidade (contraditória) das empresas multinacionais e das classes sociais 
nacionais, ou seja: os capitalistas das multinacionais estão em todos os países onde elas atuam; o mercado da 
multinacional não é somente o dos países industrializados; a mundialização do capitalismo uniu dialeticamente 
o mercado dos países altamente industrializados com todos os demais de média ou pequena presença industrial. 
Portanto, o capitalismo não está centrado somente nos países ricos; o centro do capitalismo está em todos os 
lugares do mundo onde as empresas multinacionais estão. Essa é, pois, a nova ordem internacional criada pelo 
capitalismo monopolista. 
1.2 A NOVA DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO 
O processo de mundialização da economia capitalista monopolista teve como pressuposto básico a necessidade 
de uma nova divisão internacional do trabalho. Já não bastava um mundo dividido em países produtores de bens 
industrializados e países unicamente produtores de matérias-primas, quer agrícolas, quer minerais. A 
mundialização da economia pressupõe uma descentralização da atividade industrial e sua instalação e difusão 
por todo o mundo. Pressupõe também um outro nível de especialização dos produtos oriundos dos diferentes 
países do mundo para o mercado internacional. 
Assim, simultaneamente, a indústria multinacional implanta-se nos mercados existentes em todos os países 
(através de filiais, fusões, associações, franquias etc.) e cria bases para a produção industrial adaptada às 
necessidades desses mercados nacionais. Ao mesmo tempo, atua de forma a aprimorar a exploração e a 
exportação das matérias-primas requeridas pelo mercado internacional. 
Esse processo de expansão industrial sobrepôs uma divisão vertical à antiga divisão horizontal do trabalho. 
Agora combina-se a antiga divisão por setores (primário: agrícola e mineiro, e secundário: industrial) em níveis 
de qualificação dentro de cada ramo industrial. 
Dessa forma, segundo Alain Lipietz, há a formação de três tipos de áreas de concentração da força de trabalho, 
caracterizadas pela presença de engenharia e tecnologias avançadas; ou pela presença de atividades produtivas 
padronizadas, com a produção qualificada; ou ainda pela presença de atividades de execução e montagem 
desqualificadas. Assim, a divisão internacional do trabalho distinguiria três níveis de países: os altamente 
industrializados; os de industrialização parcial e tardia e os que adotaram a chamada economia de enclave, ou 
zonas francas. A presença das muItinacionais solda e solidifica esses diferentes mercados em regiões 
igualmente diferentes do mundo. 
1.3 A EXPANSÃO GEOGRÁFICA DAS MULTINACIONAIS 
A expansão geográfica das multinacionais é um dos fatos mais importantes da economia capitalista depois da 
Segunda Guerra Mundial; entretanto, a sua origem ocorreu no final do século XIX, com a formação dos 
monopólios capitalistas. A América Latina, porexemplo, desde o início do século XX constitui-se em área de 
expansão das multinacionais norte-americanas. No pós-Segunda Guerra Mundial as multinacionais 
expandiram-se para a Europa ocidental e para a Ásia. Simultaneamente, as empresas multinacionais européias 
expandiram-se para a África e a Ásia, na esteira do processo de descolonização/independência das antigas 
colônias. Com isso criaram-se novas formas de dependência econômica nesses jovens países. 
Em função da nova divisão internacional do trabalho, o processo de mundialização da indústria expande essa 
atividade para vários países: México, Venezuela, Colômbia, Peru, Chile, Argentina e Brasil na América Latina; 
Egito, Argélia, Marrocos, Nigéria e África do Sul no continente africano; Israel, Turquia, Irã, Iraque, Índia, 
Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Filipinas, Cingapura, Malaísia, Tailândia, Austrália e Nova Zelândia na 
Ásia e na Oceania. 
A criação das zonas francas, ou zonas de livre comércio, ou ainda zonas de processamento de exportações, tem 
funcionado como instrumento de aproveitamento de mão-de-obra barata combinada com vantagens fiscais. De 
certo modo, elas passam a caracterizar uma das facetas da industrialização seletiva no seio da economia 
capitalista industrializada mundial. A sua distribuição pelo globo está apresentada no mapa a seguir. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A análise das 52 maiores empresas multinacionais do mundo por vendas, por sua distribuição por ramos de 
atividades e por países, em 1989, revela aspectos interessantes. Com relação ao número de empresas, 31% delas 
são de origem norte-americana, 19% são japonesas, 42% são de países da Europa e 8% de países do Terceiro 
Mundo (Coréia do Sul 4%). Entre as dez maiores, seis são norte-americanas, três européias e uma japonesa. 
Quanto ao volume de vendas, as dez maiores empresas controlam 38% do mercado mundial. Do ponto de vista 
geográfico (e em função de quem tem o controle do mercado mundial), a distribuição é a seguinte: EUA 39%, 
Europa 40%, Japão 16% e Terceiro Mundo 5%. Por setores de atividades a distribuição é a seguinte: 30% 
indústrias eletrônicas, 25% petrolíferas e 21 % do setor automobilístico, ficando os demais setores com 24%. 
A concentração territorial das multinacionais fez com que os países industrializados participassem com mais de 
70% das exportações no comércio internacional no ano de 1988: EUA 14%, Alemanha 10,8%, Japão 9,9%, 
Grã-Bretanha 7,7%, França 6,7%, Itália 4,5%, Bélgica (inclusive Luxemburgo) 3,9%, Holanda 3,7%, Canadá 
3,6 e Suíça 2,2%. O Brasil participou com 0,96% do total das exportações mundiais nesse ano. 
1.4 AS GRANDES INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS MUNDIAIS 
A partir da hegemonia norte-americana no mundo capitalista, selada por sua participação na Segunda Guerra 
Mundial, foram sendo construídas as bases internacionais para a consolidação da mundialização do capitalismo 
monopolista. 
A partir dos Acordos de Bretton Woods e por solicitação dos Estados Unidos, foi criado em 1945 o FMI (Fundo 
Monetário Internacional). Com sede em Washington D.C., nos EUA, essa organização internacional 
independente tem relações com a ONU através de um convênio de cooperação mútua. O FMI tem como 
objetivos principais: promover a cooperação monetária internacional; expandir o comércio internacional e a 
estabilidade dos diferentes câmbios; colaborar no estabelecimento de um sistema de pagamentos multi-laterais 
e ajudar os países-membros com recursos financeiros para equilibrarem suas balanças de pagamentos, sob” 
garantias consideradas adequadas”. 
Os recursos financeiros do Fundo provêm das contribuições dos Estados-membros. O montante da participação 
define o peso (e a quantia que pode ser solicitada como empréstimo) de cada país nas decisões. Isto significa 
que o grupo dos sete países mais ricos do mundo tem o controle absoluto do Fundo e de seus recursos e os 
alocam somente aos países que lhes interessam. 
O FMI tem como meta o controle das economias capitalistas nacionais, sobretudo do Terceiro Mundo, que na 
atualidade são as maiores tomadoras internacionais de capitais. Dessa forma, o FMI cria uma nova forma de 
dependência entre os povos: o endividamento externo, agora controlado por uma organização supranacional. 
Esse endividamento externo, por sua vez, funciona como instrumento de pressão internacional sobre os países 
pobres, forçando seus governos a ampliar as políticas de exportação de seus recursos naturais e a abrir suas 
fronteiras ao capital multinacional. 
Outra organização financeira internacional importante é o Banco Mundial. Ele tem sede também em 
Washington D.C., e engloba três instituições: o BIRD (Banco Internacional de Reconstrução e 
Desenvolvimento), a Associação Internacional de Desenvolvimento e a Corporação Financeira Internacional. 
Entre os três, o BIRD é o mais importante por ser oriundo dos Acordos de Bretton Woods e conta com a 
participação de mais de 150 países. Tem como objetivo principal os empréstimos financeiros para a promoção 
do desenvolvimento econômico nos países mais pobres. Seis países controlam 47% do poder de decisão no 
Banco: EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Japão e Canadá; entre eles, os EUA ficam com 22%. 
O BIRD e o seu similar americano, BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), são instituições que 
articulam ações supranacionais nos diferentes países de modo a adotar políticas nacionais que permitam maior 
integração dos mesmos à comunidade financeira internacional. Em outros termos, isto significa que essas 
organizações cumprem a função de articular os interesses do capital monopolista multinacional e das elites 
nacionais, numa espécie de “grande governo econômico-financeiro internacional” do mundo capitalista. 
Garantem dessa forma a gestão mundial da economia capitalista mundializada. 
1.5 A FORMAÇÃO DOS BLOCOS ECONÔMICOS 
A mundialização da economia capitalista gerou a segmentação do espaço econômico mundial. Esta 
característica geográfica se expressa no final do século XX na formação de blocos econômicos em todo o 
mundo. 
A Comunidade Econômica Européia (CEE) constitui-se no exemplo mais avançado desse processo de formação 
e unificação econômica. Desde o ano de 1993 a CEE forma um espaço econômico, financeiro e monetário 
único. Portanto, constitui-se em um espaço onde as suas fronteiras nacionais não são obstáculos à livre 
circulação das mercadoria e das pessoas. Esta unificação consolida o Ato Único assinado por todos os Estados-
membros em Luxemburgo e Haia (em vigor desde 1 º de julho de 1987) e o Tratado de Maastricht, assinado em 
7 de fevereiro de 1992 na Holanda (em vigor desde 1 º de novembro de 1993). Esse tratado substituiu o Tratado 
de Roma de 1957 como documento básico da CEE e estabelece que haverá uma só moeda e um só banco 
central na Europa até 1999. Dá maiores poderes à CEE sobre as questões relativas a meio ambiente, educação, 
proteção ao consumidor, saúde pública, rodovias, ligações de computadores e eurocomunicações. Cria normas 
de política externa comum e estimula uma política única de defesa. Estabelece ainda uma maior cooperação em 
assuntos jurídicos e policiais, com regras de imigração, asilo político, combate ao crime organizado e ao 
narcotráfico, e prevê ainda a criação de uma Europol (polícia pan-européia). 
A CEE possui entre seus órgãos o Parlamento Europeu, com poder de co-decisão sobre os assuntos relativos ao 
mercado interno, ao orçamento e à decisão sobre ingresso de novos Estados-membros. É composto por 518 
deputados, eleitos por cinco anos via sufrágio universal direto segundo os países-membros. A CEE possui 
também o Conselho Europeu, que reúne os chefes de Estado e de governo dos países-membros; uma Comissão 
Executiva, um Tribunal de Justiça e um Tribunalde Contas; e o Banco Europeu de Investimento. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Com a unificação, a CEE (que também é denominada União Européia) está gerando um dos maiores mercados 
mundiais, abrindo para as multinacionais um verdadeiro “paraíso de economias nacionais ricas”, com um PNB 
de cerca de 6 trilhões de dólares. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A partir de 1994, a União Européia e a Associação Européia de Livre Comércio (EFTA) (formada por Suécia, 
Noruega, Finlândia, Islândia e Áustria – a Suíça, após plebiscito em dezembro de 1992, optou por ficar fora) 
decidiram formar a Espaço Econômico Europeu (EEE). Área econômica sem barreiras alfandegárias, o EEE é 
uma das maiores áreas econômicas de livre comércio do mundo, com mais de 372 milhões de consumidores e 
um PIB de mais de 7,5 trilhões de dólares por ano. A tendência da Europa é, pois, continuar aumentando o 
número de países-membros da União Européia, pois são muitos os países europeus que nela pretendem 
ingressar. É o exemplo de Áustria, Finlândia, Noruega e Suécia, que a partir de 1995 passarão também a fazer 
parte da CEE. 
Os outros blocos econômicos têm características diferentes, pois originaram-se de acordos multilaterais que 
pactuaram a eliminação de barreiras alfandegárias protecionistas, abrindo perspectivas para o livre trânsito dos 
capitais e das mercadorias entre os países participantes. Exemplo desse tipo de bloco econômico é o Tratado de 
Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), assinado em 1992, que reúne EUA, Canadá e México, e que 
entrou em vigor em 1994. Esse bloco econômico é uma zona de livre comércio com mais de 360 milhões de 
consumidores e um PIB de mais de 6 trilhões de dólares anuais. O acordo que o criou prevê a eliminação de 
todas as barreiras alfandegárias no prazo máximo de quinze anos. 
Outro bloco econômico com caracterísiticas diferentes da União Européia é formado pelo Japão e pelos Tigres 
Ásiaticos. Trata-se de uma área de livre comércio baseada na presença de zonas de processamento de 
exportações na Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong, Cingapura, Malaísia, Tailândia, lndonésia e Filipinas. Esse 
bloco deriva diretamente do extravasamento da industrialização japonesa (a partir dos anos 70) e da guerra fria, 
pois com a derrota militar americana no Vietnã e a transformação desse país, do Laos e do Kampuchea em 
países socialistas, os norte-americanos passaram a estimular a implantação industrial nos Tigres Asiáticos para 
que funcionassem como “vitrinas” do capitalismo na Ásia. 
A industrialização desses países baseia-se nos seguintes pilares: a superexploração da força de trabalho (baixos 
salários, restrições ao movimento sindical etc.); governos centralizados e ditatoriais; economia voltada 
fundamentalmente para a exportação, com a criação de áreas internacionais livres para investimentos das 
multinacionais; e a presença de indústrias, que foram fortalecidas durante a Guerra do Vietnã. A combinação 
entre esse conjunto de fatores e a necessidade das multinacionais japonesas de incrementar seus investimentos 
fora do Japão está transformando os Tigres Asiáticos, segundo Alain Lipietz, em verdadeiros “países-oficina”. 
Atualmente, a Tailândia é um dos últimos países a fazer parte dos Tigres. Esse país, que tem em seu território 
bases militares da USAF (United States Air Force) (muito utilizadas durante a Guerra do Vietnã), também está 
recebendo grande quantidade de investimentos japoneses. Calcula-se que no início da década de 90 havia cerca 
de 30 mil japoneses envolvidos em mais de 2 mil empresas naquele país. Faz parte da estratégia japonesa 
ampliar a sua área de investimentos na Ásia. Aliás, os acordos com a China levaram o país a ampliar 
significativamente seus investimentos e exportações para aquele país e também para o Vietnã. O Japão recebe 
também, desses países, matérias-primas industriais, das quais é fortemente dependente. 
Esse bloco econômico formado pelos Tigres Asiáticos concentra (1989) um PNB de mais de 3,43 trilhões de 
dólares (só o Japão detém 3 trilhões), com um movimento comercial anual de mais 650 bilhões de dólares em 
exportações e 570 bilhões de dólares em importações. A participação japonesa nesse volume comercial é de 
265 bilhões nas exportações e de 187 bilhões nas importações, o que revela o dinamismo e o papel desses 
Tigres Asiáticos, que, de certa forma, representam exportações japonesas made in Korea, Taiwan, Hong Kong, 
Singapore, Thailand etc., principalmente para os Estados Unidos e para o mundo em geral. 
Do ponto de vista geográfico, podem-se incluir nesse bloco econômico asiático também a Austrália e a Nova 
Zelândia, pois as trocas comerciais desses dois países com o Japão têm-se intensificado. Mas cabe lembrar 
também os fortes laços que unem esses países e a Inglaterra. 
Outro bloco econômico existente no mundo é aquele derivado do Comecon (Conselho para a Assistência 
Econômica Mútua), que aglutinava a URSS e os países do Leste europeu, representando um PNB de mais de 2 
trilhões de dólares anuais. Com a crise vivida no final da década de 80 e início de 90, o quadro é de transição e 
espera-se uma definição no sentido de que esses países encontrem novas regras de convivência internacional. 
Parte dos países do Leste deverá continuar a gravitar na órbita da Rússia, e alguns poderão ingressar na União 
Européia. 
A China também vive situação peculiar, pois por si só já constitui um bloco econômico. Sua política externa, no 
sentido de admitir investimentos estrangeiros no país em regiões definidas, tem como tendência a sua 
aproximação com o Japão. 
Outro exemplo de bloco econômico é o Mercosul (Mercado Comum do Sul), criado a partir do Tratado de 
Assunção, assinado em 1991, entre Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil. O tratado estabelece que a partir de 
1º de janeiro de 1995 fica implantada de forma definitiva a livre circulação de bens, serviços e fatores 
produtivos entre os países, através da eliminação das barreiras tarifárias e não-tarifárias e do estabelecimento de 
uma tarifa comum em relação aos países de fora do MercosuI. O tratado também estabelece a necessidade de 
uma coordenação permanente das políticas macroeconômicas e setoriais entre seus membros e o compromisso 
de chegar a uma harmonização das legislações. 
Como se pode ver, pretende-se criar efetivamente um mercado comum que preveja fluxos de mercadorias, 
serviços, capitais e mão-de-obra. A análise da balança comercial entre o Brasil e os países do Mercosul na 
última década mostra um comércio superavitário favorável ao Brasil nos primeiros oito anos e um significativo 
déficit em 1989 e 1990. Esses saldos positivos decorrem de problemas conjunturais vividos, sobretudo pela 
Argentina. Quanto às importações brasileiras de produtos agroindustriais, verifica-se que o Brasil está 
passando, cada vez mais, a adquiri-los no Mercosul. 
A criação do Mercosul faz parte da proposta conhecida como Plano Bush – Iniciativa para as Américas, que 
visa à integração pan-americana sob a liderança dos EUA. É importante salientar também que Brasil e 
Argentina respondem por cerca de 40% (US$189 bilhões) da dívida externa total da América Latina e Caribe. 
Dessa forma, a integração regional vem, de um lado, servir de alternativa para resolver os problemas de ajustes 
e dos pagamentos da dívida externa e, de outro, estabelecer novas regras para a região se ajustar ao comércio 
internacional. 
A formação de blocos geoeconômicos está marcando o mundo no final do século XX. Sua consolidação 
depende de um conjunto de fatores, que vão desde o comportamento das multinacionais até as ações das 
sociedades nacionais, inclusive de suas minorias. Mas um fator significativo e talvez decisivo para a 
consolidaçãodo mercado mundial está relacionado com a possibilidade de o GATT (Acordo Geral de Tarifas e 
Comércio) conseguir fechar o ciclo de negociações multilaterais para liberalizar as trocas internacionais, o que 
ficou conhecido como “Rodada do Uruguai” porque foi lançada em 1986 em Punta deI Este, no Uruguai. Esse 
acordo pretende abolir todos os protecionismos nacionais e tornar o mundo um mercado livre único. Aliás, é 
bom não esquecer que as empresas multinacionais dependem cada vez mais de uma teia de produção espalhada 
por todo O mundo. 
O mundo no final do século xx mostra diferentes organizações econômicas existentes que, de uma forma ou de 
outra, contribuem para a aglutinação dos países na busca da integração de mercados e da redução de 
tarifas.Além desses blocos econômicos, existem outras organizações supranacionais que têm o objetivo de 
ampliar as relações comerciais entre as nações, tais como: 
• Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE): instituída em 1961, tem como países-membros: 
EUA, Canadá, Japão, Alemanha, França, Grã- Bretanha, Itália, Suíça, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Áustria, 
Dinamarca, Finlândia, Noruega, Suécia, Irlanda, Portugal, Espanha, Islândia, Grécia, Turquia, Austrália e Nova 
Zelândia. Tem como objetivo incrementar o crescimento econômico e a geração de empregos nos países-
membros e promover o desenvolvimento econômico capitalista mundial. 
• Associação Européia de Livre Comércio (EFTA – European Free Trade Association): organizada em 1960, 
tem como países-membros: Áustria, Finlândia, Suécia, Noruega, Islândia e Suíça. Seu principal objetivo, 
alcançado em 1966, foi o de promover a eliminação das tarifas internacionais sobre bens industrializados. Essa 
associação promove também a negociação de acordos bilaterais sobre produtos agrícolas. 
• Associação Latino-América de Integração (ALADI): criada em 1980 em substituição à Associação Latino-
Americana de Livre Comércio (ALALC), visa estabelecer um mercado comum latino-americano. É integrada 
por Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. 
• Pacto Andino: organizado em 1969, visa permitir a integração econômica, o desenvolvimento regional e a 
diminuição das disparidades existentes entre os países andinos. É formado por Bolívia, Colômbia, Equador, 
Peru e Venezuela. 
• Mercado Comum Centro-Americano (MCCA): instituído em 1960 com o objeto de promover a integração 
econômica, é formado por Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua. 
• Mercado Comum do Caribe (Caricom): criado em 1973, tem como objetivo a integração econômica dos 
Estados-membros. É formado por Antígua, Barbados, Dominica, Granada, Guiana, Jamaica, Santa Lúcia, São 
Cristóvão-Névis-Anguilla, São Vicente e Trinidad- Tobago. 
• Mercado Comum dos Países do Leste e Sul da África (Comesa): visa formar um mercado comum no 
continente africano e tem como membros Angola, Moçambique, Namíbia, Ruanda, Somália, Tanzânia, Uganda, 
Zâmbia, Burundi, Camarões, Djibuti, Etiópia, Quênia, Lesoto, Malawi, Mauritânia, Suazilândia e Zimbábue. 
• Associação de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC): organização econômica formada com o 
objetivo de integrar os mercados dos países da Ásia e do Pacífico. Dela fazem parte Japão, China, Cingapura, 
Brunei, Malaísia, Tailândia, Indonésia, Hong Kong, Taiwan, Filipinas, Coréia do Sul, Austrália, Nova Zelândia, 
Canadá e Estados Unidos. O México e o Chile já são considerados futuros membros dessa associação. 
1.6 AS TRANSFORMAÇÕES NO LESTE EUROPEU 
As transformações que os países socialistas da Europa oriental conheceram na passagem da década de 80 para a 
de 90 têm suas origens históricas em dois processos. Um de natureza interna, decorrente da implantação do 
socialismo nesses países, suas lutas e opções políticas. O outro de natureza externa, decorrente da guerra fria, 
que levou URSS e EUA à corrida armamentista, que por sua vez requereu investimentos maciços, que deixaram 
gradativamente de ser feitos nas indústrias de bens de consumo e na melhor repartição da renda nacional. 
O primeiro processo derivou da luta política travada imediatamente após a vitória da revolução bolchevista, no 
início da década de 20, quando a tese da revolução proletária internacional foi gradativamente sendo substituída 
pela tese do socialismo em um país só. Essa luta intensificou-se após a morte de Lênin, com a expulsão de 
Trótski, seu exílio e assassinato, no México, por um agente stalinista em 1944. Nessa luta política interna pela 
conquista do poder central, Stálin foi gradativamente eliminando os opositores, levando-os à prisão e aos 
tribunais no “processo de Moscou” para finalmente mandar assassiná-Ios. A essa luta política associou-se a 
estratégia de consolidação do poder central por Stálin por meio da ampliação da base burocrática do Partido 
Comunista (único partido existente) e do governo, com a criação de inúmeros órgãos que deveriam elaborar e 
implementar a política de planificação da economia. Somaram-se também a isso uma política repressiva contra 
qualquer movimento de oposição; a repressão chegou ao extremo de promover um verdadeiro massacre 
camponês, no início dos anos de 30, para implantar à força a coletivização no campo. 
A esses fatos devem ser acrescentadas as conseqüências derivadas da Segunda Guerra Mundial, tais como: a 
invasão da URSS pela Alemanha e a necessidade de reorganização da economia para o combate aos nazistas; a 
vitória na guerra e os acordos que se sucederam passaram a significar em termos geopolíticos a expansão 
européia da URSS, pois transformou os países do Leste europeu depois da ocupação militar em satélites, 
verdadeiros escudos de proteção bélica contra o Ocidente; a anexação das províncias bálticas; os conflitos e 
confrontos que ocorreram nos países do Leste e na China e que levaram a intervenções armadas da URSS 
nesses países; e, por fim, o desastre provocado pelo envolvimento militar soviético no Afeganistão, que trouxe 
para o interior do poderoso exército vermelho o amargor da derrota. 
O segundo processo decorreu da guerra fria e da corrida armamentista, sobretudo nuclear. O desenvolvimento 
de uma política de confronto entre EUA e URSS, como estratégia para frear a expansão do socialismo no 
mundo desenvolvida pelos países capitalistas liderados pelos EUA, levou a URSS a investir uma quantia cada 
vez mais significativa de seu orçamento na indústria bélica. Por isso os governos que sucederam a Stálin 
procuraram estabelecer políticas internacionais que levassem em conta a necessidade interna de o país diminuir 
a corrida armamentista. Foi assim que Nikita Khruschov, depois de denunciar os crimes de Stálin, buscou 
estabelecer a política da coexistência pacífica. Entretanto, essa política não foi suficiente para impedir que as 
forças do Pacto de Varsóvia ocupassem a Hungria para reprimir movimentos populares em 1956. Também não 
foi suficiente para evitar a construção do Muro de Berlim em 1961 e o rompimento de relações diplomáticas e 
políticas com a China um ano antes. 
 
Com a subida ao poder de Leonid Brejnev em 1964, a URSS inaugurou a política da détente (distensão). Esta 
nova proposta de política exterior pretendia diminuir a corrida armamentista e a guerra fria, estabelecendo uma 
política de desarmamento mundial. A détente também não foi suficiente para impedir a invasão da 
Tchecoslováquia pelas forças do Pacto de Varsóvia em 1968, na chamada “Primavera de Praga”. Foi no interior 
dessa política externa contraditória que a URSS de Brejnev determinou, em 1979, o envio de tropas soviéticas 
ao Afeganistão. Assim, a condução da política externa e interna da URSS foi gerando as contradições que 
culminaram com a profunda crise dos anos de 90. 
1.7 A URSS E A PERESTROIKAA URSS, depois da morte de Brejnev, em 1982, e das mortes seguidas de Iúri Andropov, em 1984, e Konstantin 
Tchernenko, em 1985, passou a ser governada por Mikhail Gorbatchov. Sua ascensão ao poder central soviético 
representou o fim da liderança política da geração soviética formada no stalinismo e que participou da Segunda 
Guerra Mundial. Gorbatchov, um intelectual formado em Direito, representava uma nova geração agora 
formada nas universidades e que chegava ao poder. 
A economia da URSS desde a década de 60 apresentava sinais de esgotamento e crise. Os índices das taxas 
médias de crescimento anual da renda nacional, da produção industrial e da renda per capita demonstram essa 
realidade. 
 
Dentro desse quadro de crise econômica, que se deteriorava 
em decorrência da ausência de ganhos de produtividade, e cujo 
crescimento se fazia apenas pela adição de novas unidades 
produtivas, é que Gorbatchov propõe seu plano de reformas da 
economia socialista por dentro da própria estrutura do Partido. 
Essas reformas visavam elevar a produtividade e a 
diversificação industrial, o que requeria a intervenção na 
gestão dos planos. 
Essa proposta de reformas econômicas foi denominada Perestroika. Como eixo básico para a sua implantação 
foi também proposta a Glasnost, que visava associar a abertura econômica da Perestroika com transparência 
política. Buscava-se substituir a herança stalinista dos métodos de gestão da sociedade pela construção de um 
socialismo democrático e humanizado. 
Para possibilitar a implantação das reformas era necessário: cessar a corrida armamentista e espacial, o que 
exigia alterações na política externa; descentralizar o poder decisório; implantar um sistema de gestão baseado 
num igualitarismo onde não houvesse diferença entre direitos e deveres. No plano político foram propostas 
reformas para permitir maior autonomia do poder legislativo, rotatividade no poder e eleições gerais com 
escolha, pelo Parlamento, do presidente. Essas reformas políticas objetivavam restabelecer o Estado de direito 
no país. 
A implantação das propostas foram sendo realizadas com a URSS assinando um tratado com a República 
Federal da Alemanha para sua reunificação com a República Democrática Alemã e a conseqüente queda do 
“Muro de Berlim”. A eclosão de movimentos de autonomia em relação aos partidos comunistas nos países do 
Leste e o movimento de independência das províncias bálticas fizeram avançar as transformações. Esse 
processo de distensão culminou com o fim do Tratado de Assistência Mútua da Europa Oriental (Pacto de 
Varsóvia), que levou à retirada das tropas soviéticas de todos os países do Leste europeu. O Comecon 
(Conselho para a Assistência Econômica Mútua) ficou praticamente reduzido a uma comissão que estuda a sua 
reestruturação. 
Em 1991, um grupo ligado à chamada “linha dura” do Partido tentou dar um golpe de Estado, depondo 
Gorbatchov. A população russa, que já havia eleito Bóris Yéltsin presidente da Federação Russa, saiu às ruas e 
em três dias os golpistas estavam presos e Gorbatchov voltava ao poder, porém praticamente sem poder político 
algum. 
A situação interna deteriorou-se com a ação de Yéltsin, que, antecipando-se ao Tratado da União a ser assinado 
entre as repúblicas, reuniu-se com os presidentes da Ucrânia e da Bielorrússia e criou a CEI – Comunidade dos 
Estados Independentes, decretando na prática o fim da URSS. Esse acordo foi referendado por onze das quinze 
repúblicas soviéticas, ficando de fora as três repúblicas bálticas, que se tornaram independentes (Lituânia, 
Letônia e Estônia), e a Geórgia, em função da ocorrência de conflitos internos nesta última. No dia 25 de 
dezembro de 1991, em pronunciamento transmitido por TV via satélite para o mundo todo, Mikhail Gorbatchov 
renunciou! Este foi o fim da URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). 
1.8 A COMUNIDADE DOS ESTADOS INDEPENDENTES (CEI) 
O surgimento da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), em substituição à URSS, foi uma manifestação 
clara do desejo de maior autonomia política e econômica das repúblicas em relação à união inter-repúblicas 
proposta no Tratado da União. A herança do sistema econômico planificado, no entanto, impôs a necessidade, 
pelo menos a curto e a médio prazo, da cooperação entre elas. 
Uma análise da distribuição intersetorial e territorial da realidade econômica herdada do socialismo mostra que 
a Federação Russa concentra mais de 60% da produção industrial da CEI, a Ucrânia 20% e a Bielorrússia 10%, 
ficando os 10% restantes distribuídos entre as outras repúblicas. Essa realidade, seguramente, exige que se 
mantenham relações de interdependência entre as repúblicas. Tudo indica que mais cedo ou mais tarde 
renascerá uma integração econômica sólida entre elas. 
No plano das reformas estruturais, a Federação Russa é o carro-chefe das mudanças. Nela vem sendo adotado 
um processo gradualista de introdução de mecanismos de mercado na economia. Segundo Lenina Pomeranz, a 
orientação é “clara e coerentemente liberal” e suas diretrizes básicas são as seguintes: 
1. desregulamentação da economia, eliminação das restrições administrativas aos preços, às relações 
econômicas e à atividade econômica externa, desenvolvimento do comércio em substituição ao sistema anterior 
de distribuição administrativa; 
2. estabilização dos sistemas financeiro e monetário, assegurando o fortalecimento do rublo como equivalente 
geral e único meio de troca legal no território da Federação Russa, condição básica para estimular a atividade 
de negócios; 
3. privatização, desenvolvimento do empresariado, criação das demais condições institucionais para uma 
economia eficiente de mercado e o crescimento econômico; 
4. reconstrução estrutural da economia, sua desmilitarização, aumento da competitividade russa no mercado 
internacional, integração à economia mundial; 
5. criação de um ambiente competitivo de mercado; 
6. política social ativa, com o objetivo de capacitar a população ativa às novas condições, defesa das camadas 
mais vulneráveis às conseqüências negativas do processo de transição, criação de condições para o crescimento 
econômico na base da elevação da atividade de negócios e poupanças privadas. [ ... ] 
Para chegar a esses objetivos, a proposta econômica e as metas são as seguintes: [ ... ] participação do Estado 
não superior a 40% em geral e a 10% no comércio; crédito concedido ao setor privado não inferior a 70% do 
seu volume total; investimentos privados em nível não inferior a 70% do total de investimentos; [ ... ] Até 1994 
devem estar completamente privatizados o comércio, os serviços de manutenção e reparação domésticas, a 
pequena produção, parte significativa da habitação, bem como até 30% das médias e pequenas empresas. Esse 
coeficiente deve alcançar 40-50% até 1995. [...] 
1.9 A ALEMANHA E A REUNIFICAÇÃO 
Toda a estratégia geopolítica da Perestroika tinha como base a distensão entre EUA e URSS, ou seja, o final da 
guerra fria. É evidente que tal objetivo só seria atingido se a razão básica inicial do surgimento da própria 
guerra fria desaparecesse. Essa razão básica foi a ocupação militar da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, 
sua divisão (aliás, da Coréia também) e a conseqüente formação de dois Estados autônomos, além, é lógico, do 
bloqueio e do Muro de Berlim. 
Sabedor dessa realidade geopolítica, Gorbatchov passou a rearticular toda a política externa da URSS em 
relação aos EUA e aos países do Leste europeu. Nesse processo, os ventos da Perestroika e da Glasnost 
passaram a soprar também nos países do Leste europeu e, conseqüentemente, na República Democrática 
Alemã. É importante não esquecer que a luta do sindicato Solidariedade, na Polônia, já havia avançado na 
década de 80.Assim, para compreender a reunificação da Alemanha é necessário integrá-Ia nesse quadro internacional e no 
seio dos movimentos decorrentes da abertura política nos países socialistas. A República Democrática Alemã 
conheceu um período de crise econômica na década de 80. Com a liberalização da circulação internacional na 
Polônia e na Hungria, levas de trabalhadores alemães orientais, principalmente os mais qualificados, 
procuraram emigrar para a República Federal da Alemanha. Inicialmente, a polícia militar tentou reprimir essas 
fugas em massa; entretanto, em outubro de 1989 ocorreu um golpe de Estado e assumiu o governo Egon Krenz, 
substituindo o dirigente da “linha dura” Eric Honecker. 
Em novembro de 1989 caiu o Muro de Berlim, tornando-se livre a circulação das pessoas entre os dois lados da 
cidade. No ano seguinte, 1990, realizou-se em Moscou a conferência “Dois Mais Quatro”, com a participação 
da República Federal da Alemanha, da República Democrática Alemã, mais os EUA, a França, a Inglaterra e a 
URSS, quando ficaram acertadas as bases para a reunificação alemã: a URSS aceitava a filiação da Alemanha 
reunificada à OTAN; não seriam deslocadas tropas militares da OTAN para o lado oriental; a Alemanha 
renunciaria a ter ou produzir armas nucleares, biológicas ou químicas; a URSS retiraria gradualmente, em três 
ou quatro anos, os 350 mil soldados soviéticos estacionados na Alemanha Oriental; os custos da retirada seriam 
cobertos pela Alemanha Ocidental e avaliados em 7,5 bilhões de dólares. 
Em 3 de outubro de 1990 desapareceram a República Federal da Alemanha e a República Democrática Alemã e 
nasceu a República Federal da Alemanha, reunificando o país que ficara 45 anos dividido. Ainda em 1990 a 
Alemanha unificada assinou o Tratado de Amizade e Cooperação com a URSS, e a guerra fria praticamente 
terminou. 
1.10 OS CONFLITOS NA IUGOSLÁVIA 
A Iugoslávia nasceu como uma monarquia no final da Primeira Guerra Mundial, quando Pedro I, da Sérvia, 
proclamou o reino dos sérvios, croatas e eslovenos. Mas foi somente a partir de 1929 que Alexandre I, depois 
de sufocar o movimento separatista da Croácia, mudou o nome do país para Iugoslávia. É importante recordar 
que o estopim da Primeira Guerra Mundial foi o assassinato do herdeiro do Império Austro-Húngaro em 
Sarajevo, na Bósnia, por um nacionalista sérvio. Em 1934, Alexandre I foi assassinado em Marselha por um 
croata. Há muito, portanto, a história dessa região dos Bálcãs tem sido marcada por intensos conflitos e 
movimentos de autonomia das diferentes etnias que a formam. 
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Iugoslávia foi ocupada pelas forças militares nazistas, posteriormente 
derrotadas pela resistência guerrilheira dos partisans liderados por Tito. Os partisans fundaram a República 
Popular da Iugoslávia, aglutinando todas as etnias em uma república federativa socialista composta de seis 
unidades políticas: Eslovênia, Croácia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedônia. Na década de 
60, a Sérvia concedeu autonomia a duas regiões, Kosovo e Voivodina. 
A Iugoslávia socialista ficou conhecida mundialmente pelas suas posições de autonomia em relação à URSS e 
por ter experimentado formas democráticas de administração das empresas: a autogestão. 
Na década de 1970, Tito reprimiu movimentos nacionalistas nas repúblicas, prendendo e levando a julgamento 
líderes croatas, sérvios, macedônios e bósnios, que foram posteriormente anistiados. Como forma de manter o 
país unido, Tito, antes de morrer (1980), articulou um sistema de governo baseado em um colegiado dos 
presidentes das repúblicas e das províncias autônomas. O presidente e o vice-presidente desse colegiado seriam 
escolhidos para dirigi-lo por um ano através da rotatividade, com alternância entre os seus membros. 
Os movimentos nacionalistas étnicos passaram a eclodir no país, que havia vivido um período de profunda crise 
econômica na década de 80, causada sobretudo pela política adotada face aos compromissos decorrentes da sua 
dívida externa (cerca de 20 bilhões de dólares). Primeiro foi a província de Kosovo, que já havia conhecido 
(1981) movimentos pela sua autonomia, que através de seu Parlamento fez aprovar, em 1989, modificações 
constitucionais que reduziam a sua própria autonomia. Essa medida fez eclodir protestos e confrontos entre 
nacionalistas e a polícia. Depois foi o Parlamento da Eslovênia que, aproveitando as transformações que 
estavam acontecendo em todos os países do Leste europeu, aprovou emenda à sua Constituição, declarando-se 
República independente, soberana e autônoma. A partir daí, no ano de 1990 ocorreram movimentos de 
independência na Croácia, em Kosovo, na Bósnia-Herzegovina etc. A Sérvia mobilizou o Exército federal, que 
possuía maioria de sérvios entre seus membros, e atacou a Croácia e a Eslovênia, fazendo eclodir a guerra civil. 
A ONU interveio no conflito depois de esgotadas todas as mediações. No início de 1992 mandou um 
contingente de 10 mil soldados como Força de Paz para fazer cessar a guerra. A Eslovênia e a Croácia tiveram 
suas independências reconhecidas pela Comunidade Econômica Européia e depois por outros países. A Bósnia-
Herzegovina e a Macedônia também declararam sua independência. Mas Sérvia e Montenegro, representando o 
que restou da Iugoslávia, também intervieram na Bósnia-Herzegovina. A tendência dos conflitos aponta para o 
desaparecimento da Iugoslávia e a formação de um conjunto de repúblicas independentes. Cabe ressaltar que 
esse processo sempre esteve na base dos movimentos nacionalistas étnicos naquela região dos Bálcãs, 
1.11 As TRANSFORMAÇÕES NOS DEMAIS PAÍSES DO LESTE EUROPEU 
A presença de movimentos pela democratização foi uma das características das repúblicas do Leste europeu. A 
introdução do socialismo nesses países se fez de cima para baixo, pois foi decorrência da ocupação militar 
soviética no final da Segunda Guerra Mundial. 
Entre os movimentos pela democratização mais importantes estão os da Hungria na década de 50 e os da 
Tchecoslováquia na década de 60. Em 1956, a Hungria iniciou um programa de reformas com a finalidade de 
democratizar o socialismo depois das mudanças que ocorreram na URSS em função da crítica ao stalinismo. Os 
governantes húngaros procuraram conceder maior liberdade de expressão, de organização política e sindical e, 
sobretudo, defendiam o não-alinhamento externo. O movimento avançou com a formação de um novo governo, 
comprometido com as mudanças e que propôs a retirada do país do Pacto de Varsóvia. Antes do final do ano, as 
tropas soviéticas esmagaram violentamente o movimento, restabelecendo no país um governo pró-Moscou. 
No final da década de 60, em 1968, as lideranças políticas da Tchecoslováquia iniciaram também um 
movimento visando à democratização do país. 
Esse movimento ficou conhecido mundialmente como a “Primavera de Praga” e tinha como objetivo a 
destituição de líderes stalinistas, o fim da censura à imprensa, a defesa da soberania nacional e o 
restabelecimento dos direitos civis e da liberdade de organização política. Mas o movimento durou pouco, pois 
no mesmo ano as tropas do Pacto de Varsóvia ocuparam militarmente o país e impuseram um saída negociada 
anti-reformas e pró-Moscou. 
Em 1980 a Polônia, que havia entrado em um período de crise econômica, conheceu um movimento grevista de 
grande amplitude que atingiu os estaleiros navais do porto de Gdansk e as minas da Silésia. Depois de intensas 
negociações, ficou acertado entre as partes que o governo atenderia a todas as reivindicações dos grevistas 
liderados por Lech Walesa, inclusive a criação de sindicatos livres. Os trabalhadores de Gdansk fundaram o 
sindicato Solidariedade. No ano seguinte (1981), o avanço da organização do Solidariedade levou novamenteao confronto entre trabalhadores e governo. 
Nesses episódios eclodiu um processo de radicalização por parte do governo polonês, que decretou estado de 
guerra, levando para a prisão milhares de trabalhadores, inclusive Walesa, e em 1982 colocou o Solidariedade 
na ilegalidade. A intermediação do papa João Paulo II levou o governo polonês a soltar Walesa e os presos 
políticos. As lideranças sindicais procuraram reorganizar o Solidariedade, mas em fins de 1986 o governo 
voltou a colocar o sindicato na ilegalidade. Com o agravamento da crise econômica, as greves voltaram a 
eclodir nos estaleiros de Gdansk, na siderurgia de Nowa Huta, nas indústrias de tratores Ursus e depois entre os 
mineiros de diversos pontos do país. Como conseqüência, o governo renunciou coletivamente (1988) e foram 
convocadas eleições gerais, com o Solidariedade legalizado, em 1989. 
Nas eleições para a Presidência da República em 1990, Lech Walesa foi eleito e passou a adotar reformas 
econômicas para conter a inflação e o desemprego. No ano seguinte, conseguiu que o Clube de Paris reduzisse 
em 50% a dívida externa de 33 bilhões de dólares, além da redução em 70% da dívida para com os EUA, que 
era de 2,9 bilhões de dólares. Em troca, Walesa autorizou o FMI (Fundo Monetário Internacional) a monitorar a 
economia do país e comprometeu-se a implantar uma política de privatização das empresas estatais. No final do 
ano de 1990, a dívida externa da Polônia era de 46 bilhões de dólares e o governo Walesa tomou medidas 
liberalizantes, entre as quais estão o incentivo à privatização e um plano inédito de distribuição gratuita de 
ações das quatrocentas maiores empresas estatais para todos os 27 milhões de poloneses adultos do país. No 
final de 1991, mais de 20% da produção industrial já tinha origem nas empresas privatizadas. O arrocho salarial 
e o desemprego agravaram-se, provocando a mobilização dos trabalhadores, o que levou o governo a diminuir o 
ritmo das reformas. 
A Hungria, que na década de 50 já havia experimentado o amargor dos tanques soviéticos, em 1982, 
aproveitando-se do clima de reivindicações na Polônia e da não-intervenção de Moscou, recomeçou a 
implantação de um conjunto de medidas para liberalizar a economia. Com as medidas, passou a ser permitido o 
funcionamento de empresas privadas e o país aderiu ao FMI. Em 1983 foram criadas zonas francas de comércio 
e, no final da década, aprovou-se a abertura política, instituindo-se o pluripartidarismo e eleições gerais e 
diretas em todo o país. Em 1990, com uma dívida externa de 20 bilhões de dólares, o Parlamento aprovou uma 
legislação permitindo a redução da participação do Estado nas empresas privatizadas de 90% para 40%. 
Autorizou também o governo a indenizar com bônus (que poderão ser utilizados na atual privatização) os 
antigos proprietários das empresas confiscadas pelo Estado depois da Segunda Guerra Mundial. Em 1990 a 
Hungria passou a fazer parte do Conselho da Europa e no ano seguinte a Assembléia Nacional aprovou o 
pedido da sua associação à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). 
A Tchecoslováquia, estimulada pela Perestroika, promoveu a abertura política do país com a introdução do 
pluripartidarismo e de eleições gerais diretas. Os tchecoslovacos passaram a fazer o que denominaram 
“revolução de veludo”. A partir de 1990 iniciaram a política liberalizante, com a autorização do Parlamento 
para a privatização, total ou parcial, das cinqüenta maiores empresas estatais do país. O primeiro grande 
negócio foi fechado em 1991, com a compra da indústrias de automóveis Skoda pela Volkswagen alemã. Em 
1990 a Tchecoslováquia iniciou negociações para participar da OTAN, ingressou no FMI e sua dívida externa 
ultrapassou 52 bilhões de dólares. 
A Romênia, ao contrário da maioria dos países do Leste europeu, foi governada durante 24 anos por um só 
homem: Nicolae Ceausescu. Seu governo sempre foi duro e violento com os movimentos políticos do país. Em 
1989, quando as manifestações pró-abertura começaram no país, mandou o Exército e a temível Securitate, 
polícia política, reprimir todas as manifestações. Entretanto, o movimento se espalhou e chegou às ruas de 
Bucareste, culminando com a prisão, julgamento sumário e fuzilamento do casal Ceausescu no dia 25 de 
dezembro de 1989. No ano seguinte o novo governo implantou a abertura democrática, com a convocação de 
eleições gerais, e começou um programa de liberalização da economia. No campo, o sistema de fazendas 
coletivas sofreu modificações parciais, com a cessão de três hectares de terras para cada camponês explorar 
individualmente. As cooperativas foram autorizadas a reter 30% de sua produção para comercializar livremente 
no mercado. Foi também aprovada a política de privatização e liberalização para os investimentos estrangeiros 
no país. A Romênia tem situação econômica um pouco diferente dos demais países do Leste europeu em função 
de ser produtora de petróleo. 
A Bulgária, a partir de 1989, também conheceu movimentos pela abertura democrática depois de conviver 35 
anos com o controle do governo por Todor Jivkov. Em 1990 o governo foi derrubado e o país aderiu à onda 
liberalizante do Leste europeu, com abertura política, pluripartidarismo e eleições gerais. No plano econômico 
foi aprovada a privatização das empresas estatais e, na agricultura, a devolução das terras a seus proprietários 
anteriores. Em 1990 o país ingressou no FMI e em 1992 a dívida externa atingiu 12 bilhões de dólares. A 
Albânia foi, junto com a Iugoslávia, o país que experimentou na implantação do socialismo caminhos de certo 
modo autônomos em relação à URSS. 
A Albânia constitui-se no último reduto do stalinismo na Europa. Desde a Segunda Guerra Mundial foi 
governada por Enver Hodja, que rompeu com a URSS e com o Comecon em 1961, por não concordar com a 
desestalinização defendida por Kruschev. Naquela época alinhou-se com a China, com quem rompeu em 1980, 
depois que os chineses iniciaram sua aproximação com o Ocidente. No plano econômico, o país adotou a linha 
clássica moscovita de apoio à indústria de base, e na agricultura adotou a coletivização. Com um comércio 
externo restrito, a Albânia praticamente ficou isolada do mundo na segunda metade do século XX, porém 
conseguiu atingir a auto-suficiência na produção de alimentos. 
Com a morte de Hodja, em 1985, os sucessores continuaram a mesma política, mas os movimentos nos países 
do Leste europeu também atingiram a Albânia, com milhares de jovens procurando asilo político nas 
embaixadas estrangeiras em Tirana e superlotando navios para emigrar para a Itália. A partir de 1990 o país 
começou a abrir-se política e conomicamente. Dentre as principais medidas nesse sentido destacaram-se: 
autonomia financeira para as empresas; salários de acordo com a produtividade; retirada dos subsídios aos 
alimentos; abertura do país ao investimento estrangeiro (com a possibilidade de remessa de lucro e capital 
total); amplo plano de privatização das empresas estatais; e o estabelecimento de negociações para ingresso no 
FMI.Todas as transformações que ocorreram na Europa fizeram com que seu mapa político fosse modificado 
em decorrência do nascimento de um grande número de novos Estados nacionais. O mapa anterior mostra essas 
alterações. 
1.12 A FORMAÇÃO TERRITORIAL DO MUNDO NO FINAL DO SÉCULO XX 
As profundas transformações geopolíticas a que o mundo assistiu na passagem da década de 80 para a de 90 
apontam para uma reestruturação da ordem mundial. A crise que levou à desintegração da URSS e dos países 
do Leste europeu revelou, no plano internacional, mais do que um recuo da expansão geográfica do socialismo. 
Mostrou uma profunda crise no seio dos países que optaram pela economia planificada como estratégia para a 
construçãode uma sociedade socialista. 
A desintegração da URSS e o fim da geopolítica da bipolaridade são as marcas geopolíticas da década de 90. O 
final da guerra fria e a reunificação da Alemanha colocam para a humanidade novos paradigmas. Por certo a 
ONU continuará sendo o fórum das discussões sobre as questões e os conflitos mundiais, regionais e locais. 
A mundialização da economia capitalista instaurou uma crescente integração pela interdependência e uma 
relativa uniformização das condições de existência das sociedades humanas. Além disso, gerou um mutação 
estrutural das modalidades de produção, distribuição e consumo de bens e serviços, e esses mecanismos 
econômicos já não estão ligados a uma localização territorial nacional. 
A consolidação do capitalismo monopolista mundializado revelou neste final do século XX sua dimensão 
multiterritorial e transterritorial. A mundialização do capitalismo colocou as empresas multinacionais 
(monopólios que em geral atuam oligopolizados) no centro da produção material da existência humana. Esse 
processo criou, pois, a empresa mundial. Uma empresa que tem na busca do lucro o elo da unidade empresarial 
e na diversidade produtiva de bens e serviços a sua distribuição teiritorial em múltiplas localidades do mundo. 
As empresas mundiais estabelecem assim redes, cadeias de cooperação e alianças com parceiros nacionais que 
atuam em setores afins, complementares e mesmo diferentes. O mundo se tornou um paraíso das 
multinacionais, essas estruturas oligopólicas que atuam no sentido de monoplizar ou mesmo cartelizar os 
mercados. Em todos os setores econômicos, praticamente, menos de uma dezena de grandes redes ou cadeias de 
empresas industriais e financeiras controlam cerca de 70 a 80% da produção mundial. Os exemplos são muitos. 
Na produção de equipamentos industriais, as três maiores empresas (todas norte-americanas) controlam 55% do 
mercado mundial e as dez maiores controlam 75%. O setor industrial produtor de vidros para veículos auto-
motores apresenta igual concentração: as sete maiores empresas detêm cerca de 90% do mercado mundial. No 
setor de produção de pneus, em 1989 a Michelin adquiriu a empresa norte-americana Uniroyal-Goodrich e 
passou a controlar perto de 25% do mercado mundial de pneumáticos, tornando-se a primeira empresa do 
mundo no setor. Em função disso, hoje apenas seis empresas controlam 80% do mercado mundial. 
São muitos os setores industriais em que as empresas, num período de alianças e fusões, formaram 
megaempresas. A Pratt & Whitney e a General Electric (as duas maiores fabricantes norte-americanas de 
turbinas para avião a jato) anunciaram uma aliança com duas empresas européias do setor, a MTU, controlada 
pela Deutsche Aerospace, e a estatal francesa Snecma. O objetivo é enfrentar a associação formada pela 
britânica Rolls Royce e pela alemã BMW. A KLM, a Swissair, a Scandinavian e a Austrian Airlines articulam-
se para juntas controlar mais de 20% do mercado europeu e participar com maior força no mercado norte-
americano. A Renault e a Volvo negociam uma fusão, já que a empresa francesa tem uma participação de 8% 
no capital da Volvo, enquanto esta detém 20% da Renault. No setor das telecomunicações, a British Telecom e 
a Mel Communications Corpo aliaram-se para enfrentar a American Telephone & Telegraph e outros gigantes 
do mercado mundial. Em decorrência da aliança, as duas primeiras faturaram 30 bilhões de dólares por ano, 
enquanto a AT&T fatura mais de US$ 39 bilhões. 
Desse modo, a formação territorial do mundo no final do século XX revela novas facetas. De um lado, um 
mundo capitalista industrializado cada vez mais fortemente integrado, alcançando níveis de bem-estar elevados; 
de outro, a maior parte da população mundial ainda não tendo resolvido seu problema biológico básico: a fome. 
Os desníveis sociais aprofundaram-se, quer nos Estados Unidos, quer na África. A tendência de mostrar essa 
nova realidade mundial como uma divisão simplista entre pobres e ricos pode servir como uma nova máscara 
para esconder as contradições fundamentais da própria sociedade capitalista. 
A mundialização da economia capitalista está gerando, pois, um mundo cada vez mais unificado 
economicamente e não multipolar, como querem muitos estudiosos. Um mundo comandado simultaneamente 
pelas multinacionais nas diferentes localidades desse próprio mundo. Certamente se está diante da unidade 
contraditória e desigual das burguesias nacionais que internacionalizaram seu capital. A sua expressão 
geográfica é a formação dos blocos econômicos, que mostram os primeiros sinais simultâneos da unificação 
mundial do capital. Mas essa mundialização do capital mundializa também, contraditoriamente, o trabalho. 
Dessa forma, a própria mundialização do capital está gerando a intemacionalização do trabalho e, por certo, da 
organização dos trabalhadores. O futuro da humanidade será escrito no interior dessa contradição fundamental. 
 
Referência: 
OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A mundialização do capitalismo e a geopolítica mundial no fim do século 
XX. In:ROSS, Jurandyr (org.). Geografia do Brasil. 2. Ed. São Paulo: EDUSP, 1998

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