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O DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL E A INCIDÊNCIA DE DANOS MORAIS

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O DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL E A INCIDÊNCIA DE DANOS MORAIS
Lucimeire Antonieta Correia
Mariele Cunha de Moraes2
RESUMO: A Constituição Federal Brasileira ao descrever os direitos e garantias fundamentais, conferiu ao cidadão o direito à reparação dos danos morais sofridos. Contudo, não especificou quais situações ensejariam esta composição, cabendo as fontes não formais do direito desempenhar tal função, o que, tendo em vista a subjetividade inerente ao assunto, deixa margem a diversas interpretações. Nesse diapasão, o Superior de Justiça vem limitando a aplicação deste instituto, pois entende que o mero descumprimento contratual não enseja a reparação por dano moral. Diante disso, alguns pontos têm sido objeto de dúvidas, pois, ao tomar esse posicionamento enrijecido o Tribunal limita a proteção que a Carta Magna Brasileira conferiu à pessoa humana e a sua dignidade. Para obtenção dos resultados utilizou-se técnicas conceituais e normativas e pesquisa empírica. Este estudo visa apontar os inconvenientes do atual posicionamento do STJ. Como referencial teórico foram utilizadas doutrinas especificas e jurisprudência. Utilizou-se a pesquisa empírica e procedimentos normativos e doutrinários como metodologia, através dos quais conclui-se que sedimentar um posicionamento acerca de um direito fundamental de caráter subjetivo poder configurar ofensa à Constituição Pátria, considerando sua natureza protetora e versátil no concerne a aplicação de direitos fundamentais. 
Palavras chaves: Constituição Federal; dano moral; Superior Tribunal de Justiça. 
INTRODUÇÃO 
O tema “reparação civil do dano moral” é hoje objeto de fértil discussão no campo do Direito Civil, sobretudo pelo papel fundamental que vem desempenhando no âmbito das obrigações no direito atual. Um olhar mais atento sobre esse instituto revela que ainda é necessário estabelecer bases teóricas mais robustas que possam efetivar a aplicação da lei. Dessa lacuna resulta, por exemplo, a ausência de um dispositivo legal que prescreva que não haverá dano moral decorrente do mero descumprimento contratual. Em regra, o inadimplemento resolve-se em perdas e danos – danos materiais – e não em danos morais, porém nos casos em que o descumprimento contratual violar direitos fundamentais é preciso um olhar mais humano que leve em consideração toda a carga subjetiva posta em situação danosa. Neste texto, questiona-se a responsabilidade civil contratual em decorrência do descumprimento de uma obrigação. Com esse propósito, organizamos o texto em três partes: 1 – O que se entende por dano moral, 2 – Requisitos do dano moral, 3 – O dano moral nas dimensões da legalidade, da operacionalização e da validade e as devidas considerações finais. 
DESENVOLVIMENTO
1 – O que se entende por dano moral
Buscando as origens históricas do dano moral, vê-se que ele não é um instituto exclusivo do mundo moderno. Pelo contrário, é possível encontrar a previsão da indenização financeira em diversas leis e códigos da antiguidade como, por exemplo, o Código de Hamurabi, elaborado na Mesopotâmia, que tinha como contexto central que o forte não prejudicaria o mais fraco, e nesse sentido trazia em alguns artigos indenizações em pecúnia às vítimas de danos sofridos. 
Evoluindo, claro, ao longo tempo, o instituto em comento é assimilado pela legislação brasileira, passando por diversas fases de adequação nas quais ora era retirado, ora era devolvido ao corpo de leis, o que demonstra a insegurança do próprio legislador a respeito do tema, e foi, finalmente, enraiado ao direito pátrio pela Constituição Federal de 1988, especificamente, em seu artigo 5º– onde, “é assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem.” (CF/88) 
Mas, o que é o dano moral? O dano moral caracteriza-se pelo infortúnio decorrente da perda ou abalo a atributos não patrimoniais, como a integridade física e a liberdade, ou seja, tudo aquilo que não for passível de valoração econômica, ou, em outras palavras constitui-se em um direito imaterial do indivíduo. Acontece quando a pessoa é lesionada em sua esfera psíquica ou intelectual, como sua honra por exemplo. Alguns autores defendem ainda que não basta apenas a lesão a um direito subjetivo para configurar o dano moral, mas é preciso que essa lesão ocasione algum mal estar ou sofrimento à vítima. Sobre esse aspecto Carlos Roberto GONÇALVES (2004 p.167) observa:
O dano moral não é propriamente a dor, a angústia, o desgosto, a aflição espiritual, a humilhação, o complexo que sofre a vítima do evento danoso, pois esses estados de espírito constituem o conteúdo, ou melhor, a consequência do dano. A dor que experimentam os pais pela morte violenta do filho, o padecimento ou complexo de quem suporta um dano estético, a humilhação de quem foi publicamente injuriado são estados de espírito contingentes e variáveis em cada caso, pois cada pessoa sente a seu modo.
Em que pese o conceito teórico de dano moral reverberar a noção de que se trata de um instituto voltado para a esfera subjetiva, psíquica ou intelectual, consenso relativamente estável no mundo jurídico, a aplicação no plano concreto tem se mostrado insuficiente para dar uma resposta satisfatória à sociedade. 
Dando voz à sociedade moderna, a jurisprudência, na 5ª Jornada de Direito Civil preceitua, no Enunciado 411 – Art. 186 que o descumprimento de contrato pode gerar dano moral quando envolver valor fundamental protegido pela Constituição Federal. Nesse sentido, nada mais justo do que se houver o descumprimento de um contrato que gere transtornos emocionais que haja a indenização por danos morais na proporção do agravo sofrido. 
2 – Requisitos do dano moral
No que tange ao descumprimento obrigacional, o Superior Tribunal de Justiça e a doutrina majoritária já fixaram entendimento no sentido de que o mero descumprimento da relação obrigacional não ocasiona o dano moral, sendo necessário provar a efetiva ofensa aos direitos de personalidade. 
É importante destacar que a dignidade humana não é apenas uma fundamentação legal para o requerimento de recomposição danosa, mas é um elemento fundamental na análise de todo e qualquer dano, o que não significa dizer que será acrescentada em qualquer hipótese.
No geral, o inadimplemento contratual não gera o dano moral, pois o próprio legislador previu outras formas de compensar esse tipo de aborrecimento, como por exemplo, os juros moratórios, a cláusula penal e a reparação das perdas e danos materiais. Não obstante o descumprimento da obrigação possa trazer certo desconforto para uma das partes, não é o suficiente para que se enseje uma indenização da moral abalada, tendo em vista que aborrecimentos são próprios da vida em sociedade. Para que se caracterize o dano moral decorrente do descumprimento da uma relação obrigacional é indispensável o preenchimento de alguns requisitos. São eles:
Um vínculo jurídico estabelecendo uma relação obrigacional válida anterior à violação do direito de personalidade
O inadimplemento da obrigação por uma das partes
Responsabilidade objetiva de uma das partes (haftung)
Lesão ao direito de personalidade da parte que sofreu o inadimplemento (normalmente causada pelo desdém do inadimplente com a situação)
Nexo de causalidade entre a lesão ao direito de personalidade e o inadimplemento da obrigação.
O descaso do inadimplente e a maneira desrespeitosa que ele empregar para tratar a outra parte da obrigação também pode auxiliar no cerceamento do dano moral. Embora não seja fácil mensurar o dano moral de fato, encontra maior ressonância entre nós a teoria que preconiza a reparação quando o bem da vida é atingido. 
3 – O dano moral nas dimensões da legalidade, da operacionalização e da validade
Conforme afirmado anteriormente, as bases da reparação do dano moral são estabelecidas na Constituição Federal no art. 5º, V. Na esteira da Carta Magna o Código Civil, embora de maneira genérica, buscou assegurar essa possibilidade ao tratar da responsabilidade civilno título IX e em outros artigos esparsos no ordenamento que, de acordo com a interpretação extensiva, podem servir de arcabouço para justificar a indenização por dano moral. Porém, como quantificar financeiramente a dor ou um aborrecimento emocional?
Na dimensão da legalidade podemos afirmar que o pontapé inicial mais importante já foi dado, que é o reconhecimento da validade e da existência do dano moral pela Constituição Federal. Como o legislador não previu um rol exemplificativo de dano moral, o juiz, de acordo com a sua sensibilidade na interpretação do caso concreto, é o responsável por apreciar, valorar e arbitrar a indenização dentro dos parâmetros pretendidos pelas partes. 
A inexistência de um parâmetro, um critério legal e objetivo de tarifação para o dano moral ficam evidentes na medida em que um mesmo julgado, em diferentes instâncias, é considerado procedente e improcedente, ou ainda tem seus valores indenizatórios fixados em esferas drasticamente opostas ou, nos casos de julgados semelhantes, os valores fixados serem totalmente diversos, cabendo ao STJ o veredicto final.
Em razão de a (in) definição do dano moral residir no âmbito subjetivo, o mesmo vem sendo invocado descabidamente visando reparar desgostos corolários da vida em sociedade, fato que ocasiona ainda maior inchaço no poder judiciário. Por vezes tais pedidos são elaborados sem que tenha havido uma violação efetiva ao âmbito subjetivo do indivíduo, visando o enriquecimento sem causa e não a reparação de um dano. 
No que concerne ao aspecto legal, o STJ entende que o dano moral deve atender uma dupla função: reparar o dano para minimizar a dor da vítima e punir o ofensor, para que o fato não se repita. Ao STJ é vedado reapreciar fatos e provas e interpretar cláusulas contratuais, de modo que se atém em alterar os valores fixados nas instâncias locais, balizando ora a quantia irrisória, ora a exagerada. Ocorre que o recurso ao STJ tem se tornado regra e não exceção, ocasionando um afogamento do órgão superior e fazendo com que os tribunais locais acabem desprestigiados ao terem suas decisões recorrentemente revistas. Nesse sentido, alguns juristas defendem que quando a causa não ultrapasse quarenta salários mínimos (alçada dos Juizados Especiais) que não seja permitido, nestes casos, recorrer ao Superior Tribunal de Justiça.
No plano da operacionalização do dano moral é possível perceber que comumente se considera, com relação à vítima: morte, lesão física ou deformidade, padecimento da própria pessoa e dos familiares, circunstâncias de fato e consequências de longa duração para a vítima. Já com relação ao ofensor mira-se na gravidade da conduta ofensiva, na desconsideração dos sentimentos humanos no agir, suas forças econômicas e a necessidade de maior ou menor valor, para que a punição tenha efeito pedagógico e seja um desestímulo efetivo para que a ofensa não se repita. Esses fatores todos, aplicados na análise do juiz, resultam na disparidade que ora referimos.
Com relação ao aspecto da validade aduz-se que a análise acerca de cada situação in concreto deve, sobretudo, ser apurada sob a ótica dos princípios constitucionais. No âmbito do dano moral contratual, a indenização pode constituir-se em um mecanismo importante para a redução de comportamentos lesivos e práticas abusivas de fornecedores e contratantes em geral. 
A lacuna legal acerca do assunto possibilita correntes de posicionamentos variados, sejam favoráveis, sejam contrários ao reconhecimento do dano moral em casos de inadimplemento de obrigação contratual. Para Carlos Roberto GONÇALVES (2004, p. 274), por exemplo:
Na realidade, o dano moral pressupõe ofensa anormal à personalidade. Embora a inobservância das cláusulas contratuais por uma das partes possa trazer desconforto ao outro contratante, trata-se, em princípio, de dissabor a que todos podem estar sujeitos, pela própria vida em sociedade. No entanto, o dano moral não deve ser afastado em todos os casos de inadimplemento contratual, mas limitado a situações excepcionais e que extrapolem o simples descumprimento da avença.
Já em artigo sobre o dano moral em caso de descumprimento de obrigação contratual o juiz André Gustavo Corrêa de Andrade (2008, p.03) observa muito acertadamente que: 
“Nenhuma estranheza, pois, deve causar a ideia de que o dano moral possa estar associado ou vinculado ao descumprimento de um contrato. Desde que se configure a ofensa a atributo da personalidade, nada importa que a causa remota desse dano tenha sido o inadimplemento de uma obrigação contratual”.
Ainda, Carlos Alberto Bittar (1994, p.223), defendendo a atribuição de um “valor de desestímulo” a indenização do dano moral assevera que “Deve-se, em qualquer hipótese, ter presentes os princípios básicos da satisfação integral dos interesses lesados e da estipulação de valor que iniba novas investidas, como balizas maiores na determinação da reparação devida”. Nesse diapasão, caracterizado o dano, este deve ser compensado, independentemente se foi decorrente de uma relação contratual ou não. Deixar de reparar um dano causado à personalidade de alguém atenta contra o princípio da dignidade da pessoa humana, cerne do direito brasileiro constitucionalizado, além do que cerceia sua aplicação, limitando a proteção ao indivíduo. Assim, não parece razoável o entendimento de que os danos morais originados da inadimplência contratual apenas em raros casos serão indenizados, tendo em vista que tal afirmação vai de encontro às conquistas provenientes do movimento constitucionalista brasileiro e da atual legislação civil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A responsabilidade civil contratual positivada na Constituição Federal e no Código Civil atual, vislumbra um avanço legal significativo do direito pátrio, especialmente ao que se refere ao dano moral e sua recomposição, porém ainda insuficientes para oferecer respostas satisfatórias e inequívocas aos que têm seus direitos subjetivos lesionados. 
Não obstante o direito brasileiro positivado não mensurar acerca da impossibilidade de reparar um dano moral proveniente do inadimplemento contratual, a jurisprudência majoritária massificou entendimento nesse sentido quando afirma veemente que o mero inadimplemento contratual não enseja a reparação. 
Como corolário desse enrijecimento jurisprudencial, por vezes danos significativos causados a sujeitos de uma relação obrigacional e decorrentes desta, restam sem a devida convalidação. Fato tal contempla imensa ofensa aos princípios constitucionais basilares, tendo em vista que a Constituição Federal apenas previu que os danos causados aos direitos de personalidade deveriam ser reparados, independentemente de sua origem. Fica evidente que não é o “mero” ou “simples” descumprimento contratual que enseja de pronto uma ofensa a direitos da personalidade, mas aqueles relativos aos direitos fundamentais e claro, passíveis de serem provados em juízo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2004.
_____. Parte especial do direito das obrigações. In: AZEVEDO, Antônio Junqueira de (Coord.). Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003.
_____. Responsabilidade civil. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
BITTAR, Carlos Alberto. Reparação civil por danos morais. 2ª ed. São Paulo: Ed. RT. 1994. 
ANDRADE, André Gustavo de. Dano Moral em caso de descumprimento de Obrigação Contratual – disponível em: http://www.tjrj.jus.br/institucional/dir_gerais/dgcon/pdf/artigos/direi_civil/dano_moral_em_caso_de_descumprimento_de_obrigacao_contratual.pdf (acessado em 06/08/2015)
Jornadas de Direito Civil I, III, IV e V: enunciados aprovados / coordenador científico Ministro Ruy Rosado de Aguiar Júnior. – Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2012.
 Acadêmica da 2ª série do curso de Direito/ UEMS - Naviraí. lucimeireantonieta@gmail.com
2 Acadêmica da 2ª série do curso de Direito/ UEMS – Naviraí marielle_moraes@hotmail.com

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