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Unidade II
Unidade II
5 PSICOLOGIA E COMPROMISSO SOCIAL
5.1 Compromisso social da psicologia
Gonçalves (2010), ao analisar o papel da psicologia no âmbito das políticas públicas, traz uma 
discussão importante sobre a dimensão subjetiva e sócio‑histórica presente nesta intersecção.
A história da relação da ciência psicológica com o campo das políticas públicas pode, conforme 
Gonçalves (2010), grosso modo, ser dividida em dois momentos: o primeiro, quando a psicologia estava 
ausente das políticas públicas (ou, conforme a autora, à margem das políticas públicas, já que não 
estava completamente ausente, mas, de alguma forma, não estava compromissada com a defesa dos 
direitos sociais); e o segundo momento é quando a psicologia esteve (e está, até os dias de hoje) presente 
nas políticas públicas.
Ambos os momentos têm relação com a construção histórica da ciência psicológica no Brasil e com 
os referenciais epistemológicos e consequentes posições políticas em que tais referenciais se implicam. 
A história da psicologia enquanto ciência da diversidade, tanto teórica quanto de campos de atuação, 
pode ser analisada sob o prisma do papel social exercido pela ciência psicológica na história brasileira.
A posição epistemológica de que a ciência é “neutra” trouxe para a ciência psicológica práticas sociais 
sobre as quais são criadas expectativas de um atendimento especializado, realizado por um profissional 
que se formou em sua área de atuação e tem o conhecimento técnico para servir às demandas que se 
apresentam de forma não implicada politicamente. Ou seja, essa posição parte do pressuposto de que 
o conhecimento científico é produzido sem conexão com a realidade social. Pretensamente, os estudos 
sobre os objetos da psicologia (comportamentos, emoções, desenvolvimento, personalidade, percepção, 
adoecimento mental etc.) lançariam foco sobre os processos psicológicos de maneira isolada. O contexto 
social, de acordo com o ponto de vista da neutralidade, não é levado em conta para o entendimento 
dos processos psicológicos. É uma visão de ciência que implica o profissional a “apenas” prestar o 
serviço especializado, a partir do domínio de técnicas específicas, que atuam sobre determinado objeto 
previamente pesquisado pela ciência.
A psicologia aplicada seria um exemplo claro dessa visão. Setores sociais como saúde e educação 
solicitavam ao psicólogo um laudo ou diagnóstico, a partir da constatação ou suspeita de algo “anormal” 
(psicologicamente falando). Entendendo que os instrumentos para a realização do serviço são suficientes, 
a visão de neutralidade científica resulta em uma prática que não leva em conta os contextos social, 
político, histórico e cultural para uma análise do indivíduo. A “neutralidade”, na verdade, funciona 
como neutralização de fatores que são desprezados pelo profissional que, na maioria dos casos, é um 
profissional liberal.
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POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Não há uma proposta de reflexão sobre a prática profissional, em termos de políticas públicas, 
em dois aspectos. Em primeiro lugar, a visão de que um objeto científico deve ser pesquisado e 
desenvolvido de maneira “neutra” acarreta o desenvolvimento de conceitos descolados de uma 
realidade social, portanto, a partir desse ponto de vista, não haveria porque associar os processos 
psicológicos à garantia de direitos sociais. Em segundo lugar, a atuação de profissionais liberais 
(psicólogos que atendem em consultório particular) ocupa um papel social à margem das políticas 
sociais. Como um profissional que parte de um referencial científico de “neutralidade”, serviços como 
a emissão de laudos, diagnósticos e mesmo o atendimento psicoterápico se configuram na esfera da 
individualização de problemas coletivos.
Diretamente associada a essa visão, há outra convicção que tem sido 
predominante na história da psicologia. Diz respeito à naturalização 
dos fenômenos psicológicos, implicando a busca de um conhecimento 
considerado universal sobre o psiquismo humano. Um conhecimento que 
se crê natural e universal justifica ações normalizadoras, de adaptação 
dos indivíduos a situações existentes. Também por essa via a presença da 
psicologia no campo das políticas públicas termina por ser pequena ou 
inexistente, pois ela não teria que produzir conhecimentos e procedimentos 
de intervenção específicos para cada situação, apenas “aplicar” o que já 
existia (Gonçalves, 2010, p. 82‑83).
A questão da adaptação exposta pela autora marca o papel social das práticas psicológicas. Dessa 
forma, pode‑se perceber claramente uma função social da psicologia, sem passar pelas políticas públicas. 
A ideia de adaptar um indivíduo a um contexto implica entender que esse indivíduo está fora de padrões 
de “normalidade” e não se faz uma análise de como o contexto afeta psicologicamente o indivíduo ou, 
mais do que isso, não se considera o contexto como parte do processo psicológico.
Assim sendo, Gonçalves (2010) analisa a psicologia “ausente” das políticas públicas no sentido de entender 
o papel social das práticas profissionais e da produção científica. A atuação de psicólogos como profissionais 
liberais, em consultórios ou clínicas privadas, se destaca pelo recebimento de encaminhamento de setores 
sociais, como educação, saúde e trabalho, para que, utilizando‑se de instrumentos desenvolvidos por uma 
ciência supostamente neutra, atendessem a demandas de diagnóstico e tratamento pelo viés da anormalidade. 
Tais práticas, além de desprezar o contexto social e histórico como constituintes da subjetividade, colocavam 
o indivíduo como único fator dos processos psicológicos, sem olhar para a necessidade da promoção de 
direitos sociais como um aspecto fundamental para o desenvolvimento psicológico.
As consequências das práticas individualizantes podem ser vistas como a essência das marcas 
deixadas por uma ausência das políticas públicas. A psicologia, como se colocava como apoio para 
outros campos das políticas sociais, reforçava a responsabilização individual por problemas coletivos. 
Na educação, o conceito de “normalidade” e a consequente concepção patologizante de crianças em 
idade escolar mostra como a psicologia atua no sentido de estigmatizar e até mesmo excluir as crianças 
do processo de escolarização e aprendizagem. Na saúde, a parceria da psicologia com a psiquiatria 
marca o campo da saúde mental no sentido higienista e disciplinador, reforçando a lógica manicomial, 
desumana e violenta. No campo do trabalho, a busca por enquadrar “o homem certo no lugar certo” 
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Unidade II
buscava fazer o trabalhador se adaptar às condições de trabalho, muitas vezes desgastantes e sob risco 
de acidente de trabalho, atuando para que o processo de industrialização virasse as costas para as 
condições de trabalho, colocando uma suposta “inaptidão” como responsável pelas mazelas da saúde 
mental do trabalhador.
O que é importante salientar é que todas essas características vão 
contribuir no desenvolvimento da profissão para que ela tenha esse lugar: 
secundário, enquanto saber e atuação que subsidia outras práticas, a partir 
da descrição e classificação de indivíduos em relação a seus “aspectos 
psicológicos”. Isso pode ser observado na escola, onde o psicólogo tem 
atuação auxiliar ou complementar em relação a professores e pedagogos 
(só para os “casos‑problema”); na empresa, em que subsidia o trabalho do 
administrador; na saúde, em que auxilia o médico psiquiatra; na justiça, em 
que auxilia o juiz; esse é, então, o lugar predominantemente ocupado no 
campo social. E, alternativo a esse, o lugar de psicoterapeuta no consultório 
particular, aí também utilizando, de forma geral, o mesmo conhecimento 
naturalizante e descontextualizado, mas, neste caso, como profissional 
autônomo (Gonçalves, 2010, p. 90).
A autora ainda chama atenção para o crescimento das práticas psicoterapêuticas, que, com a 
regulamentação da profissão em 1962, e com o aumento da oferta de cursos de psicologia, passa 
a configurar umna elaboração de 
programas de prevenção, evitando que se limitem apenas ao ensino do uso do preservativo, recomendações 
médicas e dados estatísticos. Também critica abordagens comportamentais ou pedagógicas, que 
tratam o usuário como simples receptor de informações, como ainda ocorre na maioria dos serviços 
públicos de saúde.
7 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO SUAS
7.1 A esfera de trabalho da psicologia no campo das políticas públicas da 
assistência social
A psicologia no contexto da assistência social tem sido objeto de constante reflexão. Por se tratar 
de uma inserção relativamente nova, psicólogos brasileiros têm colocado suas práticas em debate no 
sentido de realizar a construção de saberes e práticas que sejam pertinentes para a atuação no Suas.
É importante salientar que a psicologia tem sido objeto de reflexão constante dentro de sua linha 
histórica no Brasil. O modelo médico, até certo ponto, influenciou as práticas psicológicas de maneira 
decisiva, principalmente até a década de 1980, quando então a psicologia brasileira passa a exercer 
um olhar mais crítico sobre esse modelo. De alguma forma, a prática psicoterapêutica individual ainda 
permeia o imaginário sobre as práticas psicológicas. O consultório particular ainda é muito associado 
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POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
ao trabalho do psicólogo, e uma visão de saúde como tratamento de doença, mesmo que amplamente 
criticada nas últimas décadas, ainda faz parte do repertório profissional da psicologia. Sendo uma prática 
de um profissional liberal, a psicologia clínica era acessada por uma pequena parcela da população, uma 
elite econômica que, ao mesmo tempo, podia pagar pelos serviços, e tinha algum esclarecimento sobre 
o trabalho da psicologia – ou, podemos dizer, no mínimo, tinha acesso a algum conhecimento a respeito 
de saúde mental.
Com o crescimento do pensamento crítico em relação a um modelo médico na psicologia, os 
profissionais, pesquisadores e pensadores da área passam a discutir novos modelos de atuação. 
A  psicologia passa a enfrentar uma crise de identidade profissional, ao passo que a ampliação dos 
espaços de atuação, na década de 1980, coloca o psicólogo em contextos novos para a profissão. Antes 
de adentrar a área da assistência social, já que a regulamentação do Suas data de 1993, o psicólogo 
passa a atuar em espaços como: escola, comunidades, sindicatos e centros de saúde do trabalhador, 
sistema judiciário, em discussões sobre uma saúde mental crítica ao modelo manicomial etc. Todas 
essas inserções, de alguma forma, tentaram transpor o modelo médico de atenção psicológica clínica ao 
indivíduo, tentativa essa que esbarrou em uma série de empecilhos que, na verdade, eram um chamado 
para algumas reflexões críticas: seria possível fazer atendimento clínico em um contexto de pobreza e 
vulnerabilidade em um centro comunitário? A psicologia jurídica e a psicologia escolar viam sentido 
em replicar o modelo de laudos, diagnósticos e classificação em contextos em que os sujeitos e as 
coletividades eram produtores de sofrimento?
Através de tais questionamentos, o objeto e os objetivos da psicologia passam a ser reelaborados. 
Esse momento de crise da psicologia culmina em movimentos de intenso debate e redefinição de suas 
práticas. A partir disso, os currículos dos cursos de graduação foram revistos, mesmo com a dificuldade 
de acompanhar as discussões e a implementação de novas práticas que foram e estão sendo construídas 
nos diferentes contextos.
No caso da assistência social, essa construção em torno de novas práticas passa pela reflexão sobre 
as situações de risco e vulnerabilidade. Os primeiros psicólogos na assistência, após a promulgação da 
lei do Suas, vêm de uma formação acadêmica e profissional que não discutiu nem instrumentalizou 
o psicólogo para lidar com esses contextos. O aprendizado foi acontecendo na prática, no campo 
de trabalho.
Durante o fim da década de 1970 até a década de 1990, quando ainda eram incipientes as reflexões 
sobre as condições sociais e suas relações com o contexto histórico e político, ficou marcada o que foi 
chamada de crise dos paradigmas na psicologia. Disciplinas como sociologia, antropologia, ciências 
políticas, história e geografia, mesmo que anteriormente já presentes nos currículos de formação, 
passaram a se embrenhar com mais frequência às reflexões da psicologia, afinal, uma das grandes 
questões era (re)definir o objeto de estudo e atuação. Que sujeito era aquele que, em condições de 
pobreza, vulnerabilidade e violência, se apresentava para ser usuário de um serviço de psicologia? O que 
a psicologia deveria fazer e com que princípios deveria atuar? Como entender então o sofrimento desse 
sujeito? Uma pessoa que está em situação de vulnerabilidade social deve ter seu sofrimento entendido 
como distúrbio psicológico? Essas são algumas questões que passam a ser colocadas para um 
profissional em crise.
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É notável também que o profissional de psicologia não é instigado a fazer 
reflexões políticas acerca da profissão ou acerca das condições sociais e 
econômicas que permeiam as contingências da população a quem esta 
ciência e profissão serve no contexto da assistência social. Esta reflexão 
faz‑se necessária para melhor compreensão da realidade como um todo, e 
não apenas de recortes da realidade.
A pesquisa permitiu a constatação de que o psicólogo ainda não se sente 
pertencente àquele lugar. Não há um sentimento de pertença ao SUAS, não 
há um “chegar para ficar”, como sendo ali seu lugar. Os serviços acabam 
muitas vezes sendo realizados de forma fragmentada e desmembrada do 
todo. Entende‑se que isso também é consequência da fraca fundamentação 
na graduação e pouca instrumentalização para a prática nas políticas sociais. 
Outra razão para isso é o lugar de desejo do estudante de psicologia ainda 
ser o da clínica, com uma relação paciente/psicólogo, e não usuário/técnico 
de referência, por toda a construção histórica da profissão que foi discutida 
no início deste trabalho (Sales, 2017, p. 166).
A autora ainda relata, como resultado de sua pesquisa, que a percepção dos profissionais da psicologia 
no Suas é de que existe um campo de atuação que faz sentido para a psicologia. Não obstante os desafios 
da construção do campo de atuação, há um direcionamento para uma visão positiva da profissão.
Do ponto de vista do ordenamento e regulamentação da profissão a partir 
de um Conselho que busca fiscalizar a prática profissional, a inserção 
do psicólogo no SUAS e uma delimitação de seu papel nesse contexto é 
vantajosa, uma vez que trata‑se de reserva de mercado para a profissão 
e da demarcação de uma identidade laboral do profissional que ali se 
encontra. Nesse sentido seria interessante pensar numa construção da 
identidade profissional que esteja atrelada ao ideário das políticas públicas 
(Sales, 2017, p. 166).
Ainda no sentido de construção de identidade profissional, no processo de construção do campo de 
atuação aqui discutido, há um entrelaçamento entre a atuação do psicólogo da assistência social com 
o arcabouço da psicologia social comunitária. O conceito de “conscientização” – bastante discutido na 
psicologia social comunitária latino‑americana desde a década de 1970, amparando‑se nas obras de 
Paulo Freire, Karl Marx e dos autores soviéticos Vygotskty, Luria e Leontiev, entre outros –, acaba por vir 
de encontro de maneira inevitável com a atuação da psicologia na assistência social. Ao deparar‑se com 
um público em situação de pobreza, risco e vulnerabilidade, é imprescindível entender a importância de 
se apropriar conscientemente de seu processo histórico de formação social.
Tema de importantes debates na psicologia social comunitária, a conscientização está relacionada 
à questão dos indivíduos e grupos assumirem um papel de protagonista no destino de suas histórias. 
O fato de se conscientizarem possibilitaria uma busca ativa para as soluções de seus problemas e de 
construção coletiva de ações comunitárias.71
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Por mais que a conscientização possa parecer elementar para a prática do psicólogo comunitário em 
um primeiro momento, a prática não é tão simples como pode parecer. Não basta “levar informações” 
para o público atendido no contexto comunitário. A consciência, enquanto fenômeno psicossocial, 
é multideterminada por fatores individuais, assim como históricos, sociais, políticos, econômicos e 
culturais. Muitos fatores presentes na consciência se fazem de forma não consciente para o sujeito, ou, 
pode‑se dizer também, de difícil percepção. Processos como a ideologia, a propaganda, a socialização 
primária e secundária são formadores da consciência.
A psicologia social comunitária vai percebendo a importância de uma construção conjunta, a partir 
de uma base comum ético‑política em que profissional e público atendido se relacionem sem as amarras 
do autoritarismo e da desigualdade. Portanto, conscientização é um processo de fazer juntos, já que o 
profissional também passa pelo processo de conscientização, e deve rever seus preconceitos e ideologias 
no trabalho.
Ao entrar na comunidade, o psicólogo deve estar ciente que lidará com um 
sujeito concreto, inserido numa realidade sócio‑histórica‑cultural, tendo 
no cotidiano seu espaço vital, portanto, opta‑se por se pensar em uma 
metodologia cujos objetivos são definidos a posteriori e o trabalho pensado 
e formulado juntamente com a população.
[...] este processo inicia‑se com a inserção efetiva do psicólogo na comunidade, 
cujo início baseia‑se na construção de um vínculo, configurado por uma 
parceria, na qual comunidade e interventor têm igualdade de importância 
no processo (Silva; Corgozinho 2011, p. 18).
O processo de conscientização é um fazer conjunto, no qual o estabelecimento de prioridades, a 
definição de objetivos e a determinação de quais caminhos tomar são decididos pelo grupo e pela 
comunidade. A conscientização já se impõe como processo na própria criação de vínculos e no fazer 
coletivo; estar consciente é estar junto. Ao perceber as condições de vida, o questionamento de suas 
determinantes vem quase que naturalmente. A busca pelo bem‑estar e pela melhoria de vida só é 
possível quando se entende a condição sócio‑histórica. O trabalho do psicólogo no Suas tem respaldo 
na construção teórico‑técnica da psicologia social comunitária.
Dessa forma, esta Psicologia vem a ser uma ciência comprometida com a 
realidade estudada, especialmente com os excluídos, comprometimento 
que possui relação direta com os trabalhos visados e executados pelo CRS, que 
atua com grupos, famílias e indivíduos em seu contexto comunitário, e visa 
o direito à proteção social, garantindo a segurança de sobrevivência, de 
acolhida, e do convívio ou vivência familiar.
[…] A partir disso, inicia‑se a fase de implementação e execução dos projetos, 
elaborados a partir das demandas comunitárias, que necessitam ter metas 
claras. Como é apresentado pelos documentos que regem o CRS, esses 
projetos devem se materializar, de preferência, através de trabalhos grupais, 
72
Unidade II
no qual o profissional de Psicologia poderá fazer uso de uma das teorias 
existentes, que o qualifique, oriente e dê suporte. Nesses trabalhos deverão 
ser focados os conceitos, já apresentados, da Psicologia Social Comunitária, 
respeitando‑se a identidade e a alteridade do sujeito, na sua qualificação em 
busca de autonomia (Silva; Corgozinho, 2011, p. 18).
A defasagem técnica encontrada para a atuação da psicologia no Suas pode ser sanada com a 
aproximação da psicologia social comunitária. Claramente percebe‑se uma falta de preparação do 
psicólogo para atuação na assistência social, tanto nos cursos de graduação como na própria formação 
dos profissionais que já estão no setor. É necessário produzir cada vez mais teses, dissertações, artigos 
e relatos de experiência prática. O caminho da psicologia social comunitária é convidativo para 
esses profissionais.
 Lembrete
Políticas sociais são ações por parte de governos e instituições que visam a 
melhoria da qualidade de vida, o acesso a direitos sociais e a promoção de 
justiça. Já as políticas públicas são programas e ações que visam promover 
os direitos previstos na Constituição.
Como dizem os autores Rossini, Rotta e Borkovski (2019): “No conjunto 
das políticas públicas, entende‑se as políticas sociais como um conjunto 
de programas e ações, caracterizadas pela garantia da oferta de bens e 
serviços, transferências de renda e regulação de elementos do mercado, 
que visam a alcançar a proteção e a promoção social”.
7.2 Do “sujeito da caridade” ao “sujeito de direito”
A emergência de questões sociais no Brasil, que se deu no início do período da redemocratização 
(a partir da década de 1980), é notadamente resultado de reivindicações de movimentos sociais que 
surgiram naquele momento. O processo de garantia de direitos no Brasil foi precedido por um período 
de violação de direitos durante a ditadura militar. Foi só a partir do retorno das eleições diretas, do 
fortalecimento da participação popular em processos decisórios e da criação de políticas públicas 
previstas em lei, com a Constituição de 1988, que passamos a ter um panorama no Brasil de embate 
político em torno da formulação e da implementação das políticas sociais.
Vemos nas referências técnicas de atuação do psicólogo no Cras (Conselho Federal de Psicologia, 2021) 
uma importante discussão sobre pobreza e subjetividade, que dá embasamento para uma discussão no 
âmbito ético‑político relevante para a profissão.
De acordo com a referência (Conselho Federal de Psicologia, 2021, p. 35), políticas públicas voltadas 
para a garantia de direitos têm um objetivo de enfrentamento das desigualdades estruturais em nossa 
sociedade, com um foco na participação democrática ampla e na construção de um Estado que assegure 
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POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
os direitos humanos. Desse modo, a Loas, a PNAS e a NOB se configuram como ferramentas essenciais para 
a criação de práticas profissionais que visam garantir o acesso e a efetivação de direitos. As populações 
marginalizadas, que vivem na pobreza, vulnerabilidade e situação de riscos, são aquelas que ocupam áreas 
urbanas precárias e negligenciadas, onde as condições mínimas de vida são sistematicamente negadas, 
o que resulta em uma contínua pobreza e violações de direitos. Essa situação afeta diversas populações 
em diferentes contextos, como as rurais, ribeirinhas, indígenas, pescadores, quilombolas e pessoas em 
situação de rua. As desigualdades que moldam essas realidades estão profundamente relacionadas a 
questões de gênero, etnia, território, moradia e a extrema pobreza imposta a esses grupos socioculturais.
É importante caracterizar a complexidade da pobreza enquanto processo social. Pode‑se entender 
a pobreza como falta de recursos financeiros, ou mesmo como a falta de acesso a alimentos. A pobreza 
multidimensional, por sua vez, considera a pobreza como a incapacidade de satisfazer tanto as necessidades 
básicas monetárias quanto as não monetárias dos indivíduos. Já a pobreza relativa se refere aos estudos 
que a enxergam como a privação relativa de renda ou de outras dimensões socioeconômicas. Ainda 
existe a pobreza relativa ou subjetiva, que se baseia no posicionamento declarado pela própria pessoa.
A referência técnica (Conselho Federal de Psicologia, 2021, p. 36) traz a importante contribuição de 
Robert Castel, que se destaca por se alinhar mais diretamente ao campo da assistência social, pois vê 
a pobreza não apenas como um fenômeno econômico (como moradia, renda e higiene), mas como o 
resultado de várias rupturas de vínculos. Desse modo, a vulnerabilidade é gerada pela integração (ou 
falta dela) ao mercado de trabalho e pela inserção (ou não) no contexto sociofamiliar.
A população em situação de pobreza depende do Estado que, por sua vez, realiza investimento 
na promoção de direitos. Ao mesmo tempo, na sociedade capitalista, o Estado buscadar conta do 
crescimento econômico, o que nem sempre acompanha o desenvolvimento social. Essa tensão constante 
dificulta a implementação de políticas sociais públicas. A assistência social tem sido uma área ambígua 
nas relações entre Estado e sociedade civil, sendo que os conceitos de assistencialismo e clientelismo 
são frequentemente associados a uma sociedade conservadora, que, por muito tempo, tratou a pobreza 
como uma característica individual daqueles que não se esforçaram para superá‑la.
[...] essa tensão no campo das políticas sociais públicas permanece e se acirra 
no século XXI, vale lembrar que após a promulgação da Constituição Federal 
de 1988 a expressão sujeito de direito começa a ser mencionada, até então 
havia práticas de assistência social, em que o objeto destas era o sujeito 
da caridade, aquele que precisa de ajuda por algum motivo, o desvalido, 
o pobre. Ainda vivemos uma transição, parece ser um longo processo de 
incorporação da nova concepção. O sujeito de direito não é somente pobre 
(ainda que possa ser), mas o desfiliado. O desfiliado conjuga o estado 
de precariedade do trabalho com a fragilidade do elo social, aludindo à 
ruptura, à desqualificação e à invalidação social, atrelado às vias de sua 
produção, diferente do conceito de exclusão, que sugere uma condição 
estanque, designando estado de privação. Assim, o processo de desfiliação 
é continuamente balizado pela chamada zona de vulnerabilidade (Conselho 
Federal de Psicologia, 2021, p. 36‑37).
74
Unidade II
A questão urbana é outro fator importante no debate. As cidades brasileiras passaram a ser espaços 
marcados por uma urbanização que contribui para a produção e manutenção da pobreza, especialmente 
devido à criação de uma infraestrutura social e política que configura territórios de extrema pobreza, 
onde as condições de vida são subumanas. Nesse contexto, é essencial compreender a pobreza extrema 
ou a miséria não como algo inerente às características dos indivíduos, mas como um fenômeno produzido 
pelo próprio sistema capitalista, de forma cada vez mais intensa nas sociedades que ele domina. Assim, 
precisamos levar em conta as condições sociais e históricas ao refletirmos sobre as práticas profissionais 
no campo da assistência social.
Cabe mencionar também as populações que vivem distantes dos grandes centros urbanos, em 
condições de vulnerabilidade associadas à pobreza extrema, e que necessitam de medidas protetivas por 
parte do Estado. As chamadas comunidades tradicionais têm acumulado, ao longo da história do país, 
uma série de violências e violações de direitos que precisam ser reparadas. Esse processo de reparação 
pode ocorrer por meio de ações de um Estado de direitos e de promoção da justiça social, considerando 
as comunidades quilombolas, ribeirinhas, ciganas, indígenas, pessoas em situação de rua etc. que 
sofreram graves abusos e violências durante os anos de colonização, em uma política de extermínio de 
povos, culturas e costumes (Conselho Federal de Psicologia, 2021, p. 37).
Além disso, deve‑se destacar que, nesse processo de desinvestimento, as mulheres foram 
historicamente ignoradas na construção socioeconômica das nossas sociedades e riquezas, sendo 
minimizadas na importância estrutural das atividades que desempenham. É na interação desses diversos 
marcadores sociais de diferença (como ser mulher, ser negra, viver em determinada região, estar em 
situação de pobreza, ser LGBTQIAPN+ etc.) que os processos de exclusão e inclusão sociais operam na 
construção das desigualdades que moldam nossas subjetividades e influenciam o governo, o que exige 
uma abordagem interseccional para compreender esses problemas complexos. Isso é especialmente 
relevante quando se considera o fortalecimento dos vínculos sociocomunitários, com foco nas relações 
com a família e a comunidade.
A composição e desenvolvimento sistemático de governo desses processos 
de subjetivação, que ocorrem sob essa alcunha do Estado, possuem como 
atrizes(atores) sociais psicólogas(os), assistentes sociais, antropólogas(os), 
sociólogas(os), advogadas(os), entre outras(os) profissionais que enfrentam 
em seu cotidiano as dificuldades inerentes às políticas públicas como campos 
de atuação e efetivação de direitos, por isso a importância de construir e 
problematizar reflexões e orientações para nossas práticas nas políticas 
públicas da Assistência Social.
[…] Ao longo das últimas décadas, houve um avanço expressivo, mas ainda 
insuficiente, do número de Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) 
e Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) 
no país. Também uma série de profissionais, (muitos recém‑formados), 
encontram nesses espaços disposição para atuação profissional que coloca 
em destaque uma ação que possui, entre outros elementos, um caráter 
comunitário, para amenizar os efeitos da questão social, que, mais do que 
75
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
nunca, é profunda em sua complexidade e adquire extensas proporções. 
Além de desempenharem atividades que garantem a constituição e o acesso 
a uma rede de serviços no território em que as populações atendidas vivem 
e constroem suas experiências como sujeitos políticos (Conselho Federal de 
Psicologia, 2021, p. 38‑39).
7.3 Relatos de experiência
O profissional da psicologia pode atuar em praticamente qualquer equipamento do Suas, como: 
Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Centro de Referência Especializado de Assistência 
Social (Creas), Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro 
Pop). Ainda, o profissional de psicologia pode atuar nos Centros de Convivência, como Centro de 
Convivência Intergeracional (CCInter), Centro de Convivência do Idoso (CCI), Serviço de Convivência 
e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), Núcleo de Convivência de Idoso (NCI) e Centro de Convivência e 
Cooperativa (Cecco).
Nesses equipamentos, o psicólogo pode buscar garantir o acesso a direitos básicos de pessoas em 
situação de vulnerabilidade psicossocial e em sofrimento psíquico. Ainda é possível agir na promoção 
da autonomia e da emancipação, trabalhar a fragilidade e condição psicossocial de pessoas em 
situação de violência, promover o fortalecimento de vínculos familiares, comunitários e educacionais, 
dentre outras funções. A fim de exemplificação, apresentaremos três exemplos práticos de atuação do 
psicólogo no Suas.
O primeiro exemplo de atuação (Schmitt; Schweizer, 2017) relata o trabalho de estagiários junto 
à população de rua em um Centro Pop no município de Florianópolis, em Santa Catarina. O segundo 
exemplo (Ruffier et al., 2019) traz a atuação de estagiários de psicologia em um CCFV na região sul do 
Brasil (sem identificar o município). Por fim, o terceiro exemplo, apresentado (Oliveira et al., 2016), traz o 
relato das atividades desenvolvidas por estagiários juntamente com um psicólogo de um Cras localizado 
em um município do Rio Grande do Norte.
O exemplo apresentado por Schmitt e Schweizer (2017) tem como foco as intervenções psicossociais 
o tema “trabalho”.
Os estagiários, inicialmente, fizeram reuniões com a equipe do Centro Pop para estabelecer um 
vínculo inicial e definir as diretrizes e os objetivos da intervenção proposta.
Com o convênio estabelecido, foram acordadas, junto a equipe, as temáticas 
a serem trabalhadas, considerando modificações de planejamento caso outras 
demandas surgissem ao longo dos encontros. Os temas definidos foram os 
seguintes: preconceito e violência; realidade das ruas, utilização de drogas 
e outras substâncias; projeto de vida e futuro; sentidos e significados do 
trabalho; cursos e profissões; inserção e permanência no mercado de trabalho; 
elaboração de currículos e preparação para entrevistas de emprego; e música.
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Unidade II
Essa experiência aconteceu por meio de nove encontros presenciais 
com o grupo, com atividades específicas de acordo com as necessidades 
identificadas pelos profissionais do local e da demandados encontros 
grupais (Schmitt; Schweizer, 2017, p. 106).
Durante o processo de intervenção, que se deu por meio de atendimentos grupais, constatou‑se que, 
para as pessoas em situação de rua, a dificuldade em se conseguir trabalho está associada a diversos 
fatores. A ruptura de vínculos sociais, especialmente dos vínculos familiares, denota a falta de apoio e 
suporte emocional, que, para tantas esferas da organização cotidiana, traz consequências importantes. 
A busca por trabalho não ocorre da forma habitual como se dá para a população geral (em que apenas 
a competência técnica e um currículo bastam), para pessoas em situação de rua, os estigmas sociais 
representam bloqueios simbólicos e emocionais. A falta de acesso a bens materiais, além de dificultar a 
busca por trabalho, reforça o estigma: “Ao longo do projeto, pôde ser percebido que uma das grandes 
dificuldades enfrentadas pela população em situação de rua acessada não está somente em conseguir 
um emprego, mas em encontrar um local para ficar e obter apoio material, psicológico e emocional” 
(Schmitt; Schweizer, 2017, p. 108).
A vivência nos grupos possibilitou aos participantes a valorização de si mesmo, a potencialização 
da autoestima e a experiência em um espaço de troca e aprendizado. O projeto de vida e de trabalho 
elaborado durante os encontros gerou um processo de reconstrução subjetiva. Foi importante 
perceber como o trabalho pode carregar um sentido de produção de desejos, ou seja, mesmo diante 
das dificuldades enfrentadas, e o próprio reconhecimento das dificuldades, foi importante para os 
participantes se perceberem enquanto seres de desejo – desejo esse que se construiu com apoio dos 
vínculos estabelecidos.
A importância da potencialização e empoderamento desses sujeitos surge 
como um fator essencial para o resgate da autoestima e autonomia, criando 
a necessidade de se propor alternativas econômicas e sociais que respondam 
às urgentes demandas dessa população, além de resgatar a autonomia e a 
independência (Schmitt; Schweizer, 2017, p. 108).
Esse primeiro exemplo de atuação da psicologia em contexto de assistência social demonstra uma 
possibilidade de atuação que leva em conta a realidade vivenciada pela população em situação de rua.
Por meio do presente projeto salientou‑se a importância de acreditar 
no potencial das pessoas em situação de rua, de modo a valorizar suas 
competências e habilidades, facilitando a visualização de caminhos de 
seus interesses, proporcionando mudanças neste ambiente por meio das 
discussões das temáticas propostas (Schmitt; Schweizer, 2017, p. 110).
O segundo exemplo, apresentado por Ruffier et al. (2019), traz o relato de atividades desenvolvidas 
por duas estudantes estagiárias de psicologia junto a um Centro de Convivência e Fortalecimento 
de Vínculos (CCFV) localizado em um município do sul do Brasil, uma unidade referenciada ao Cras 
local. O CCFV é um equipamento da assistência social que promove encontros e atividades no intuito 
77
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
de promover o fortalecimento das famílias e comunidades e prevenir que, futuramente, estejam em 
situação de risco e vulnerabilidade, sendo complementar ao trabalho realizado com as famílias por meio 
dos programas Paif e Paefi.
A trajetória das estagiárias começa no Cras, porém, com o passar do tempo, elas relatam desmotivação 
com o trabalho nessa unidade, ao perceberem dificuldades em implementar uma proposta baseada em 
trabalho territorializado, e elaboram uma proposta de realizar uma intervenção no CCFV.
Foi verificada uma grande dificuldade por parte das educadoras contratadas pelo CCFV em definir 
vínculos com as crianças usuárias do serviço. Dessa forma, as estagiárias realizaram encontros com as 
crianças para conhecê‑las, assim como suas demandas. No decorrer dos encontros com as crianças, as 
estagiárias perceberam como os relatos do cotidiano das vidas das crianças traziam marcas próprias das 
vivências no território.
Suas narrativas sobre a vida da comunidade auxiliaram as estagiárias a 
compreenderem sua complexa trama, a conhecer suas realidades e reconhecer, 
gradualmente, interesses e demandas que poderiam ser trabalhadas nesse 
contexto, com o grupo em particular com o qual trabalharam (Ruffier et 
al., 2019, p. 93).
Dessa forma, as estagiárias decidiram, então, desenvolver o trabalho com dois grupos: um com 
crianças de 6 a 9 anos, e outro de 10 a 12 anos. O primeiro encontro formalizado com os grupos se deu 
a partir da leitura do livro O pintor de lembranças, de José de Antonio del Cañizo. A partir daí o tema da 
memória permeou diversas atividades, trazidas de forma diversificada pelas estagiárias.
Durante as atividades, as crianças oscilavam entre interesse e dispersão, 
implicando a necessidade de uma prática criativa e flexível. Foi indispensável 
para a continuidade do grupo um constante reinventar‑se por parte das 
estagiárias, movido pelo movimento das crianças, seus desejos e necessidades 
(Ruffier et al., 2019, p. 95).
O brincar foi fundamental nas atividades, possibilitando que os vínculos fossem fortalecidos, a partir 
da possibilidade de vivências marcadas por prazer, imaginação, criatividade e iniciativa.
Alguns dos temas que surgiram nos grupos estavam ligados à questão social de gênero, propiciando 
a discussão sobre o masculino e o feminino enquanto convenções sociais. Além disso, a vulnerabilidade 
experienciada no cotidiano apareceu em muitos momentos e de diversas formas nos grupos.
As questões de gênero que emergiram também exigiram o redirecionamento do olhar das estagiárias. 
As diferenciações das masculinidades e feminilidades objetivavam‑se em suas falas, formas de vestir, 
comportamentos, brincadeiras e criações artísticas
78
Unidade II
Conjectura‑se que a situação de vulnerabilidade decorrente dos movimentos 
migratórios das famílias em busca de melhores condições de vida, o 
distanciamento de entes queridos, a morte de familiares, pais ausentes 
devido à longa jornada de trabalho diário, entre outras condições, tenham 
produzido nessas crianças sentimentos que eram significados, enfrentados 
e reproduzidos de diferentes formas. Algumas expressavam muita raiva e 
insatisfação. Outras se mostravam tristes, com pouco interesse e motivação 
para as atividades. Ainda, havia aquelas que demandavam incessantemente 
a atenção das estagiárias e outros profissionais do serviço, seja com 
estripulias, proximidade corporal, pedidos, questionamentos, olhares e falas 
(Ruffier et al., 2019, p. 95).
O trabalho realizado pelas estagiárias mostra uma das muitas possibilidades de atuação da psicologia 
no contexto de assistência social. A vivência das crianças que frequentavam o CCFV foi ressignificada a 
partir do trabalho proposto.
No artigo de Oliveira et al. (2016), encontramos nosso terceiro exemplo. Nele, temos a atuação 
prática da psicologia no campo, com relatos e detalhes das atividades desenvolvidas pela equipe de 
um Cras localizado em um município no estado do Rio Grande do Norte (o artigo não especifica qual 
município). As atividades relatadas tiveram a participação de uma psicóloga da equipe do Cras e de uma 
estagiária que cursava a graduação em psicologia. A abordagem teórica utilizada para a análise das 
práticas se baseia na psicologia comunitária de origem latino‑americana.
Conforme descrito no artigo, o Cras mantinha relações e realizava projetos em conjunto com outros 
equipamentos da comunidade, tais como uma pastoral da criança, uma associação cooperativa de 
costureiras e um grupo de idosos. A equipe do centro em questão era composta por cinco profissionais: 
uma coordenadora, uma assistente social, uma psicóloga, uma assistente de serviços gerais e uma 
estagiária de psicologia.
O artigo ressalta e descreve as atividades que envolviam a psicóloga e a estagiária de psicologia, mas 
é importante ressaltar que diversas dessas atividades tinham o caráter inter e multidisciplinar, contando 
com a participação de outros profissionais.A primeira atividade descrita é o acolhimento:
O acolhimento se caracterizava pela escuta da demanda espontânea que 
chegava à instituição. Operacionalizava‑se desde a escuta do usuário que 
chegava em busca de informações gerais, por exemplo, saber onde era 
realizado o cadastro para inserção no PBF, até denúncias e solicitações 
de atendimento com a assistente social ou com a psicóloga. A partir do 
acolhimento, não se identificava apenas a demanda do usuário, mas também 
se investigava a inserção da família nos programas sociais, os devidos 
encaminhamentos para outros serviços, caso fosse necessário, e a situação 
cadastral da família na instituição. O preenchimento de cadastro mostrou‑se 
instrumento potencial para conhecer as condições materiais de existência 
das famílias, visto que eram recolhidas suas características socioeconômicas, 
79
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
tornando‑se um recurso fundamental para contextualização da demanda 
trazida pelo usuário. O acolhimento também demandava outras ações 
da equipe, principalmente no que diz respeito aos encaminhamentos 
(Oliveira et al., 2016).
As autoras ainda destacam a importância da busca ativa (entrar em contato com os usuários de Cras, 
convidando‑o para comparecer à instituição), que resultava no comparecimento ao Cras, onde era possível 
o acolhimento. A busca ativa, muitas vezes, incluía o levantamento de dados dos usuários, permitindo saber 
informações importantes, como o local de residência e quais programas da assistência se beneficiavam. Em 
alguns casos, eram agendadas visitas domiciliares, sobretudo quando envolviam denúncias em relação a 
situações de vulnerabilidade, inclusive envolvendo crianças, adolescentes e idosos.
Para a Psicologia comunitária, a visita domiciliar é um recurso psicossocial 
que protege a família mediante situações de vulnerabilidade, tendo como 
objetivo central potencializar a capacidade de cuidado. Permite ainda ao 
profissional identificar melhor as demandas e atuar em coerência com as 
necessidades concretas das famílias (Oliveira et al., 2016, p. 39).
Outra atividade importante era a realização de grupos com os usuários do Cras. Foram realizadas 
sessões em grupo com quatro públicos diferentes: um grupo de idosos (composto em sua maioria por 
mulheres que já frequentavam o Cras); um grupo de gestantes; um grupo de mulheres que faziam parte de 
uma associação de costureiras; e um grupo de mães ligadas ao Peti (Programa de Erradicação do Trabalho 
Infantil), que foram identificadas como estando naquele momento com os vínculos familiares fragilizados.
A perspectiva teórico‑técnica dos atendimentos em grupo se embasava na concepção de sujeito da 
psicologia comunitária, compreendendo a subjetividade como parte de um contexto histórico e social.
Ou seja, uma perspectiva que insere o sujeito no processo de historicidade 
para compreender contextualmente a sua formação humana. Acredita‑se 
que as temáticas trabalhadas com os grupos de mães, idosos, gestantes e 
a Associação das Costureiras contribuiu com a incorporação de processos 
de empoderamento de suas vidas, principalmente em relação à família e à 
comunidade (Oliveira et al., 2016, p. 41).
Outras duas atividades importantes foram a articulação com as redes intersetoriais. A primeira delas 
foi o desenvolvimento de oficinas que eram aplicadas a públicos diferentes, como: a equipe gestora da 
educação; os agentes comunitários de saúde; a equipe do Conselho Tutelar e os líderes da Pastoral 
da Criança. Já a segunda foi a sistematização de informações pertinentes para entender as demandas 
que chegavam ao Cras.
80
Unidade II
8 OUTRAS ATUAÇÕES DO PSICÓLOGO NAS POLÍTICAS PÚBLICAS
Para além de todas as discussões que trouxemos até aqui, recomendamos, ainda, que sejam lidas 
todas as referências técnicas presentes no site do Crepop. Até aqui, nosso foco foi a saúde e a assistência 
social, assim, a seguir, apresentaremos quatro discussões que fazem referência à articulação da psicologia 
com as políticas públicas.
8.1 Psicologia e políticas públicas: violência e direitos humanos
A Declaração Universal dos Direitos Humanos é um documento que foi produzido pela ONU 
(Organização das Nações Unidas) em 1948, após o fim da Segunda Guerra Mundial, quando o mundo 
estava abalado com os horrores da violência praticada na guerra, principalmente em relação ao holocausto 
promovido pelo nazismo. A tensão geopolítica estabelecida naquele momento levou os países‑membros 
da ONU a pensar em ações que promovessem direitos fundamentais a toda a população no planeta, 
independentemente de onde residissem.
Com o objetivo de determinar diretos básicos a todos os seres humanos, a DUDH (Declaração Universal 
dos Direitos Humanos) serve de marco para outros documentos e tratados internacionais subsequentes 
da ONU, como a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948), a Convenção 
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965), a Convenção sobre 
a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979), a Convenção sobre os 
Direitos da Criança (1989) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006).
A declaração é composta por 30 artigos que estabelecem os direitos fundamentais aos quais todas 
as pessoas devem ter o acesso garantido de alguma forma. Os artigos versam sobre as liberdades 
fundamentais e os direitos básicos, e todos os países signatários estão comprometidos, ao assinar esse 
documento, a garantir seu cumprimento.
Embora a criação da DUDH seja um marco essencial para a humanidade e para o direito internacional, 
a violação de direitos humanos continua sendo uma realidade a ser enfrentada. Os países signatários 
observam uma série de violações, e a própria ONU tem tido problemas e dificuldades para fiscalizar, 
receber denúncias e exigir a garantia do cumprimento da declaração. A escalada da violência e 
descumprimento de diversos dos artigos por parte de muitos Estados‑membros crescem a cada ano.
Observa‑se grande deficiência na operacionalização dos direitos humanos 
mesmo naqueles países que oficialmente já reconheceram as declarações acerca 
desses direitos promulgadas pela ONU. Até naqueles países que integraram 
estes princípios normativos em suas próprias constituições, o que é o caso 
também do Brasil, verificam‑se estas dificuldades, demonstrando‑se, com 
efeito, fraquezas das instituições responsáveis de fazer vigorar tais princípios 
na vida social, deficiências estas que, no Brasil, levam esta temática à pauta do 
dia tanto nas organizações governamentais quanto nas não governamentais 
e nas universidades (Maluschke; Bucher‑Maluschke; Hermanns, 2004, p. 17).
81
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Dessa forma, verifica‑se a necessidade de abordar essa temática por uma visão interdisciplinar. No 
âmbito dos direitos humanos, passamos pela questão das políticas públicas, do direito internacional 
e constitucional, das ciências políticas, das ciências sociais, e no caso das questões relativas à saúde 
mental e o impacto das violações de direitos para ela, a psicologia, dentre outras ciências e produções 
científicas relevantes. Se considerarmos os 30 artigos da DUDH,podemos considerar que é possível violar 
cada um deles.
É necessário compreender que, historicamente, a DUDH foi elaborada em um contexto de pós‑guerra 
e da iminente Guerra Fria. Os países‑membros da ONU, ao se depararem com os horrores do holocausto e 
dos crimes de guerra, julgaram ser necessária a elaboração de um documento considerado universal, ou 
seja, que tenha validade para todas as nações, todas as culturas, todas as formas de organização social e 
todos os povos. Ao mesmo tempo, quando a Guerra Fria entre os países do bloco liderado pelos Estados 
Unidos e os países liderados pela União Soviética – que se iniciou após o fim da Segunda Guerra Mundial 
e durou até a década de 1990 – mostrava os riscos de um novo conflito de escala mundial, acirrado pela 
ameaçade uso de armas nucleares, fez‑se necessário o esforço de se chegar a consensos em favor da 
paz e da não agressão entre os povos.
As necessidades que a DUDH atendia para que se garantisse o acesso aos direitos básicos coletivos 
e de liberdades individuais foram levantadas e discutidas por representantes dos dois blocos envolvidos 
na Guerra Fria: o capitalista e o socialista. Dessa forma, ficou evidente que seria necessário um esforço 
mútuo para que todos garantissem e fiscalizassem as garantias do cumprimento da declaração.
No entanto, a disputa imperialista entre os dois blocos levou ao descumprimento de uma série de 
direitos. As disputas belicosas por domínio de territórios, por si só, já elevam o potencial de violação 
dos direitos humanos, ao se detectar crimes de guerra e práticas de genocídio. Além disso, as mazelas 
econômicas provenientes diretamente do conflito armado ou indiretamente pelas disputas de mercados 
levam à violação dos direitos por levar à escassez de recursos que são necessários para propiciar 
habitação, saúde, educação, cultura etc. às populações envolvidas nas disputas dos blocos econômicos.
Um exemplo claro dessa violação dos direitos humanos envolve os fluxos migratórios forçados, nos 
quais grandes contingentes populacionais são cruelmente expostos à escolha de viver em meio à guerra 
ou migrar para um lugar completamente novo e desconhecido. O próprio deslocamento se dá, na maior 
parte das vezes, em condições de alto risco de morte ou prisão, em que os refugiados enfrentam fome e 
sede, meios de transporte perigosos, ataques de organizações paramilitares e risco de extradição. Assim, 
é urgente a construção de uma cultura, de políticas e de uma sociedade que valorize e faça cumprir os 
direitos humanos.
O desenvolvimento de uma cultura de respeito aos direitos humanos no Brasil é uma tarefa complexa 
que requer o apoio de todas as forças progressistas. Esse processo enfrenta o desafio das grandes 
desigualdades sociais e também deve considerar os aspectos subjetivos que influenciam a promoção e 
violação dos direitos humanos. A psicologia tem um papel importante nesse contexto, ao investigar os 
mecanismos subjetivos que legitimam ou invalidam práticas sociais que afetam os direitos humanos.
82
Unidade II
Rosato (2011) diz que, a partir da redemocratização do país, o campo psicológico se ampliou e houve 
uma ruptura com o que inicialmente foi a proposta da profissão. Já não era mais possível manter uma 
psicologia individualizante, descontextualizada e a‑histórica. Esse momento político vivenciado no país 
apresenta‑se como um momento de ruptura para a psicologia ou, pelo menos, permite à profissão o 
começo de uma longa e fértil revisão de suas propostas de intervenção. Pode‑se dizer, inclusive, que esse 
novo contexto reforçou a necessidade de uma avaliação da profissão e de seus objetivos, logo, de sua 
função pública perante a sociedade brasileira.
Com a redemocratização do Brasil, a psicologia passou por uma ampliação e ruptura em relação à 
sua proposta inicial, deixando de ser uma prática individualista e descontextualizada. Esse momento 
político impulsionou uma revisão profunda da profissão, destacando a necessidade de avaliar seus 
objetivos e sua função pública na sociedade brasileira (Rosato, 2011, p. 16).
Ao adotar a dignidade humana como princípio central, os direitos humanos se aproximam da 
psicologia, que também visa o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida das pessoas. Essa 
convergência destaca a similaridade entre os dois campos, pois ambos buscam, de forma direta ou indireta, 
promover a dignidade humana, o que favorece uma estreita relação entre teoria e prática em ambos.
Considerando ainda que o sofrimento humano tem sido um dos principais 
objetos de estudo e intervenção da Psicologia, infere‑se que frequentemente 
violações de Direitos Humanos são colocadas aos profissionais, tendo em 
vista que, muitas vezes, violações vem acompanhadas de sofrimento e 
adoecimento psíquico. Nessa lógica, fica o questionamento sobre o que 
foi e tem sido feito pelos profissionais nessas situações de violações? 
(Rosato, 2011, p. 25).
Nos últimos tempos, cresceu no Brasil o clamor pela redução da maioridade penal, especialmente 
em contextos urbanos, em que acontecimentos cotidianos tornam mais fácil angariar apoio para essa 
causa e defender punições mais severas. Essa proposta segue a tendência crescente da judicialização e 
da política de penalização, que contribuem para o aumento do encarceramento no país.
No entanto, há estudiosos que afirmam que reduzir a idade penal não resolve a criminalidade, nem 
diminui a violência, o medo social e a insegurança que afetam os cidadãos, especialmente nas grandes 
cidades do Brasil. Isso se dá, principalmente, porque a violência se manifesta de diversas formas, como: 
guerra, tortura, corrupção, preconceito, trabalho infantil, tráfico de drogas e pessoas, violência doméstica, 
entre outras. Esses fenômenos fazem parte do cotidiano, seja através da mídia, das experiências diretas 
ou das estatísticas, afetando as vidas das pessoas em várias esferas.
De forma a se colocar contra esse crescente da judicialização, o Estatuto da Criança e do Adolescente 
reflete os avanços das normas internacionais de direitos humanos e tem um caráter sancionatório e 
educacional. Ele busca responsabilizar o adolescente, reconhecendo sua capacidade de discernimento 
e considerando a fase de desenvolvimento importante, com mudanças físicas, psíquicas e sociais 
aceleradas, além da formação de identidade e novas oportunidades de inserção social e produtiva.
83
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Os críticos do ECA alegam que ele é brando com adolescentes infratores, mas ignoram que a legislação 
está alinhada com normas internacionais e que a redução da maioridade penal em outros países falhou. 
Além disso, esquecem que a prisão pode tornar os adolescentes mais perigosos e aumentar a reincidência, 
e que o Brasil é um dos países que mais mata seus jovens, refletindo a gravidade do problema.
Adolescentes em situação de vulnerabilidade carregam uma história de perdas e violações de direitos, 
sendo frequentemente marginalizados e submetidos a violência policial, tortura e prisões. A sociedade 
os vê como uma ameaça a ser corrigida por medidas punitivas, muitas vezes seletivas e discriminatórias, 
baseadas em classe social e etnia. As tensões sociais aumentam entre os que defendem punições mais 
severas e os que se opõem a esse modelo, que reduz a complexidade das questões sociais a uma lógica 
de punição antecipada, tratando a adolescência como um risco a ser contido.
Faz‑se necessário promover um amplo debate sobre a garantia dos direitos humanos e sociais para 
todos, independentemente de classe, raça, etnia, gênero, entre outros. A redução da maioridade penal 
deve ser conduzida pelo viés da garantia de direitos, esclarecendo equívocos disseminados por alguns 
meios de comunicação e grupos sociais que culpam os marcos legais pela impunidade e pelo aumento 
da violência no país.
Ao tratar crianças e adolescentes como pessoas em desenvolvimento, a resposta ao ato infracional é a 
aplicação de medidas socioeducativas previstas no ECA, como advertência, reparação do dano, prestação 
de serviços à comunidade etc. Essas medidas consideram a capacidade do jovem, as circunstâncias e a 
gravidade da infração, sem admitir, em nenhum caso, o trabalho forçado.
8.2 Psicologia e políticas públicas voltadas ao uso de álcool e drogas
O problema das drogas surgiu recentemente, no século XX, quando passou a ser visto como uma 
ameaça à sociedade, levando o Estado a adotar políticas de proibição. Substâncias psicoativas foram 
consideradas prejudiciais à saúde pública e seus usuários criminalizados. A política proibicionista teve 
início com a Primeira Conferência Internacional do Ópio, em 1912, e foi consolidada pela Convenção 
das Nações Unidas sobre Entorpecentes, em 1961, quando os países se comprometeram a combatero 
“flagelo da droga”.
Ao longo do século XX, intensificaram‑se as estratégias de controle e proibição de substâncias como 
maconha, cocaína, heroína e outras drogas. As razões para a proibição envolvem fatores econômicos, 
políticos e culturais, além de um discurso médico‑científico controverso sobre risco e prazer. Assim, 
as motivações do proibicionismo vão além da preocupação com a saúde pública, chegando a ser uma 
forma de promoção de racismo e violência de Estado.
O paradigma proibicionista nas estratégias de atenção aos usuários de álcool e outras drogas adota 
práticas tuteladoras e violadoras de direitos, baseadas no modelo médico‑moral. Esse modelo contraria 
a Reforma Psiquiátrica Brasileira, reforçando a internação compulsória e o tratamento voltado para a 
abstinência. A alta exigência dificulta o vínculo entre os usuários e os serviços de saúde, gerando 
obstáculos no acesso a saúde e outros direitos, especialmente para quem não deseja ou não pode parar 
de usar drogas.
84
Unidade II
O proibicionismo e a redução de danos representam abordagens diferentes para lidar com o uso de 
drogas. O proibicionismo busca reduzir a oferta e demanda por substâncias psicoativas (SPAs) por meio 
de ações repressivas e criminalização, enquanto a redução de danos foca em tratar problemas de saúde, 
sociais e econômicos relacionados ao uso de drogas de forma pragmática, sem julgamentos morais. 
Além disso, há uma discussão sobre a divisão moral entre drogas prescritas, consideradas essenciais à 
saúde, e as proibidas, vistas como prejudiciais. O processo de medicalização da sociedade ampliou o uso 
de psicofármacos, mostrando que a questão das drogas vai além das substâncias proibidas.
As drogas lícitas, como álcool e psicofármacos, são as principais responsáveis pelos danos à saúde. 
Uma pesquisa da Senad revelou que 12,3% da população brasileira tem dependência de álcool. Em 
2003, a política pública brasileira passou a coordenar ações contra o álcool, após identificá‑lo como o 
principal problema de saúde pública, criando a Política do Ministério da Saúde para atenção integral a 
usuários de álcool e outras drogas (Pechansky; Duarte; De Boni, 2010).
Por muito tempo, a única forma de atenção aos usuários de álcool e outras drogas era a internação 
em hospitais psiquiátricos ou clínicas privadas, além de iniciativas religiosas e de apoio mútuo. Essas 
abordagens viam o uso de drogas como uma doença incurável. A partir da década de 1980, com a 
Política Nacional de DST/Aids e a Reforma Psiquiátrica, surgiram novos dispositivos de cuidado e 
políticas públicas. Nesse período, predominavam instituições com foco na abstinência, mas também 
foram criados centros de referência para pesquisa e tratamento.
Alguns centros de tratamento e pesquisa foram criados na década de oitenta, 
ligados a universidades brasileiras, e se tornaram referência para as políticas 
de álcool e outras drogas. Podemos citar o Centro de Estudos e Terapias ao 
Abuso de Drogas (CETAD) e, posteriormente, a Aliança de Redução de Danos 
Fátima Cavalcanti (ARD‑FC), em Salvador; o Núcleo de Estudos e Pesquisa 
em Atenção ao Uso de Drogas (NEPAD), no Rio de Janeiro; o Programa de 
Orientação e Assistência a Dependentes (PROAD), em São Paulo; o Centro 
Mineiro de Toxicomanias (CMT), em Belo Horizonte, e o Centro de Referência 
para Assessoramento e Educação em Redução de Danos da Escola de Saúde 
Pública do RS, entre outros (Conselho Federal de Psicologia, 2019, p. 30).
Os centros de pesquisa foram fundamentais para o desenvolvimento de práticas clínicas e de cuidado 
para usuários de álcool e outras drogas. Na década de 1990, iniciativas como o Consultório de Rua, 
em Salvador, ajudaram a aproximar os usuários nas cenas de uso e tornaram‑se políticas públicas de 
atenção psicossocial. Essas políticas foram essenciais para consolidar estratégias de cuidado e afirmar a 
cidadania dos usuários, combatendo a discriminação.
O movimento da Reforma Psiquiátrica, focado na desinstitucionalização da loucura, demorou a 
reconhecer a especificidade do álcool e de outras drogas e a necessidade de desenvolver tecnologias de 
cuidado para esse campo. Como resultado, entrou tardiamente no debate sobre estratégias psicossociais 
para o uso de substâncias. A falta de uma proposta política coordenada fez com que outros modelos, 
como as comunidades terapêuticas, ganhassem espaço, combinando assistência médica e apoio religioso.
85
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
As práticas de cuidado na saúde mental ainda refletem fortemente o paradigma da abstinência. 
O Programa dos Doze Passos, criado pelos grupos de Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos, muitas 
vezes é adotado sem crítica nos serviços de saúde mental. Nas comunidades terapêuticas, a lógica da 
abstinência e da medicalização predomina, integrando estratégias motivacionais e outras práticas que 
não são baseadas no conhecimento clínico, ético e político da psicologia.
Em 2003, a política do Ministério da Saúde para a atenção integral aos usuários de álcool e 
outras drogas adotou o paradigma da redução de danos, promovendo práticas de cuidado alinhadas 
à Reforma Psiquiátrica e à defesa dos direitos humanos dos usuários de drogas. Embora ainda em 
fase de experimentação, o campo de atenção psicossocial começava a se estruturar no Brasil, apoiado 
pelas experiências de centros de referência. Ações como os Caps AD e Consultórios na Rua foram 
implementadas, fortalecendo a cidadania, autonomia e direitos humanos dos usuários, em articulação 
com outras políticas públicas de assistência social, moradia, educação e trabalho.
A portaria n. 2.488/11, que cria a Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), 
fortalece a capilaridade e a abrangência das ações voltadas para a atenção 
dos usuários de álcool e outras drogas. Intensifica‑se a articulação da Unidade 
Básica de Saúde (UBS), junto com a Estratégia de Saúde da Família  (ESF), 
Equipes dos Consultórios na Rua (CnR) com a rede especializada da atenção 
psicossocial, CAPS‑AD e Unidades de Acolhimento (UAs).
Para ampliar as ações de proteção social, o SUAS preconiza os Centros 
de Referência de Assistência Social (CRAS) e os Centros de Referência 
Especializada de Assistência Social (CREAS), além do Centro Pop, voltado 
para o atendimento especializado à população em situação de rua (Conselho 
Federal de Psicologia, 2019, p. 32).
As políticas sobre álcool e outras drogas envolvem diferentes setores públicos, como segurança, 
saúde, assistência social e educação. O desafio é adotar uma abordagem intersetorial que garanta 
direitos, superando a lógica reducionista que vê as drogas apenas como doença e ameaça. Essa visão 
dificulta o acolhimento dos usuários, que enfrentam discriminação, preconceito e exclusão, além de 
impulsionar práticas como a internação compulsória, observada em grandes cidades brasileiras.
Nesse contexto, surge a ideia de redução de danos (RD), uma estratégia que valoriza a autonomia, o 
diálogo e os direitos dos usuários de substâncias psicoativas, sem julgamentos morais ou práticas punitivas. 
Ela busca criar um espaço de corresponsabilização e vínculo entre os agentes e os usuários, reconhecendo‑os 
como sujeitos de direitos e garantindo seu acesso integral às políticas públicas. A RD foca a educação sobre 
os riscos do uso de drogas e a construção de atenção com o sujeito, e não por ele.
A interrupção do uso de substâncias é uma decisão clínica que deve ser feita de forma personalizada, 
não sendo uma prescrição universal. As estratégias de redução de danos não excluem a abstinência, 
que deve ser negociada com o usuário, independentemente da substância. Assim, o paradigma da 
abstinência vai além de uma orientação clínica, envolvendo articulações entre diversos setores, como o 
jurídico, psiquiátrico e religioso, que impõem essa abordagem de maneira coercitiva.
86
Unidade II
A partir de 2003, a política do Ministério da Saúde adotou a RD como estratégia de saúde pública, 
focando em intervenções parausuários de drogas que, por questões de vulnerabilidade, não desejam 
parar de usá‑las. Essa abordagem foi reconhecida como uma intervenção importante para ampliar o 
acesso à saúde para uma população historicamente desassistida. Os modelos de cuidado comunitário, 
que operam fora do modelo hospitalar e da abstinência como única solução, trouxeram à tona debates 
sobre liberdade de escolha, responsabilidade social e familiar, direitos dos usuários e o dever do Estado 
de promover condições para o autocuidado e apoio social.
O papel dos psicólogos no paradigma da RD é construído a partir da prática e do posicionamento 
que adotam nas intervenções com usuários. Eles devem evitar julgamentos ou censuras morais sobre 
comportamentos relacionados ao uso de substâncias ou condutas sociais. Sua função é acessar usuários 
muitas vezes marginalizados pela rede de saúde e social, oferecendo aceitação e respeito, o que permite 
a construção de um vínculo de confiança essencial para o trabalho.
A política de atenção ao usuário de álcool e drogas deve ser construída por meio do diálogo entre 
diversos setores sociais, e não ser definida exclusivamente por especialistas. É importante valorizar o 
protagonismo dos usuários e ativar as redes de cuidado nos territórios. O usuário de drogas pode não 
precisar de tratamento especializado, pois pode ter outras demandas clínicas e subjetivas. Assim, o 
tratamento compulsório não é aceitável, pois o cuidado efetivo depende da autonomia e liberdade do 
indivíduo para lidar com seu sofrimento.
A atenção integral aos usuários de álcool e outras drogas foca em uma rede psicossocial que prioriza a 
integralidade, considerando a subjetividade e as relações sociais na atuação profissional. Essa abordagem se 
distancia da lógica biomédica, rompendo com metodologias que buscam soluções prontas para o sofrimento. 
Em vez disso, valoriza o território e a comunidade, com ênfase na ética da autonomia e nas relações horizontais 
na rede de atenção. A rede deve envolver não apenas a saúde, mas também a assistência social, a educação e 
as entidades comunitárias, especialmente em contextos com crianças e adolescentes.
Desse modo, as(os) profissionais da Psicologia compõem, junto com 
profissionais de outras áreas, as equipes de saúde nos CAPS‑AD, nos 
Consultórios na/de Rua, na Estratégia de Saúde da Família (ESF), nos Núcleos 
de Apoio à Saúde da Família (NASF), nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) 
e Unidades de Acolhimento (UA), nos Centros de Convivência, além de 
atuarem nos equipamentos da Assistência Social, nos Projetos de Inclusão 
Produtiva e de Geração de Trabalho e Renda, nos Centros de Referência de 
Assistência Social (CRAS) e nos Centros de Referência Especializados 
de Assistência Social (CREAS), entre outros dispositivos da rede (Conselho 
Federal de Psicologia, 2019, p. 48‑49).
O SUS, a Reforma Psiquiátrica e o Suas criaram dispositivos de cuidado integral aos usuários de álcool 
e outras drogas, nos quais diferentes profissionais, incluindo psicólogos, trabalham com foco na defesa dos 
direitos humanos e na ampliação da autonomia e participação social dos usuários. A equipe multiprofissional 
adota uma abordagem integrada e multidisciplinar, baseada na clínica ampliada, que rompe com a visão 
fragmentada de atendimento e coloca o sujeito em seu contexto social e histórico. Essa abordagem valoriza 
87
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
a história de vida do indivíduo, dando maior liberdade ao sujeito para discutir temas além de sua patologia, 
favorecendo sua autonomia, protagonismo e a relação de confiança entre profissional e atendido.
O matriciamento é uma estratégia de cuidado colaborativo entre saúde mental e atenção primária, 
proposta por Campos (1999), que visa a construção conjunta de uma intervenção pedagógica‑terapêutica. 
Estruturado de forma horizontal, com equipes de referência e apoio matricial, o matriciamento promove 
novos arranjos organizacionais e uma metodologia de gestão em saúde, fortalecendo a clínica ampliada 
e a integração entre diferentes saberes e profissões.
O apoio matricial é implementado por estratégias como o PTS, interconsulta, consulta conjunta de 
saúde mental na Atenção Básica, visita domiciliar conjunta e o uso de tecnologias de comunicação. 
Baseado nos princípios da Reforma Psiquiátrica, esse trabalho visa fortalecer os laços sociais e atender 
às diversas necessidades dos usuários, desde situações de urgência até o acompanhamento psicossocial, 
sempre com respeito à autonomia, sem preconceito ou compulsoriedade. A estratégia de redução de 
danos é central nesse modelo, oferecendo um cuidado ético e direcionado às intervenções com usuários 
de álcool e outras drogas.
O Caps AD, criado pela Portaria n. 336 de 2002, é um centro de cuidado, integrado em rede, destinado 
a pacientes com transtornos causados pelo uso e dependência de substâncias psicoativas.
As atividades disponíveis no CAPS‑AD incluem, como descreve a portaria:
A. Atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação, 
entre outros);
B. Atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de 
suporte social, entre outras);
C. Atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de 
nível superior ou nível médio;
D. Visitas e atendimentos domiciliares;
E. Atendimento à família;
F. Atividades comunitárias enfocando a integração do dependente 
químico na comunidade e sua inserção familiar e social;
G. Os pacientes assistidos em um turno (04 horas) receberão uma 
refeição diária; os assistidos em dois turnos (08 horas) receberão duas 
refeições diárias.
H. Atendimento de desintoxicação (Conselho Federal de Psicologia, 
2019, p. 52‑53).
88
Unidade II
Nos Caps AD, os psicólogos realizam atendimentos psicoterápicos individuais e em grupo, além de 
oficinas terapêuticas, visitas domiciliares e atividades comunitárias focadas na promoção da saúde, com 
sua gestão também contendo envolvimento de psicólogos.
O Caps AD III oferece atenção integral e contínua a pessoas com problemas relacionados ao consumo 
de álcool, crack e outras drogas, funcionando 24 horas por dia, todos os dias da semana, incluindo fins de 
semana e feriados. Além das atividades realizadas nos Caps AD, este centro inclui plantões diários, ações 
de reabilitação psicossocial e fornecimento de refeições diárias.
As políticas públicas de saúde visam ampliar a autonomia e promover os direitos humanos, com os 
psicólogos incentivando o protagonismo de usuários e familiares por meio de atividades de participação 
e controle social, como assembleias e debates sobre políticas públicas. Na APS os psicólogos atuam de 
forma intersetorial, considerando o contexto familiar e cultural dos indivíduos; no Nasf, os psicólogos 
fazem parte de uma equipe que oferece cuidado longitudinal, promovendo ações de promoção, 
prevenção, cura e reabilitação. A abordagem interdisciplinar e o foco na realidade territorial garantem 
um cuidado integral, com ênfase na participação social e no fortalecimento dos espaços comunitários.
O Consultório na Rua (CR) é uma estratégia de atendimento a usuários de substâncias psicoativas 
em situação de rua, com dificuldade de acesso aos serviços de saúde. Ele funciona de forma intersetorial, 
articulado com políticas públicas de saúde mental e atenção primária. A equipe, formada de maneira 
multidisciplinar, inclui profissionais como médicos, psicólogos, assistentes sociais, técnicos de 
enfermagem e educadores sociais, com foco no desenvolvimento de habilidades dos usuários, ajudando 
na construção do PTS.
A seguir, apresentamos algumas ferramentas metodológicas e de intervenção 
utilizadas nesse dispositivo:
Abertura de campo: a abertura do trabalho de campo é realizada pela equipe 
técnica do CR, em parceria com organizações, lideranças, equipamentos 
e serviços presentes no território de atuação. A abertura de campo visa 
a  identificar as potencialidades e principais características do território, 
identificar os sujeitose grupos atendidos pelo dispositivo de cuidado e 
apresentar o trabalho a ser desenvolvido.
Diário de campo: os membros da equipe técnica do CR utilizam o diário 
de campo como ferramenta metodológica, visando a mapear as principais 
questões identificadas no desenvolvimento das ações de saúde.
Trabalho de campo: o trabalho de campo consiste em ações de cuidado, 
prevenção e promoção de saúde com a população usuária de substâncias 
psicoativas em situação de rua. A atuação de campo é realizada através 
de diversas estratégias de cuidado e integrada com as demais ações e 
programas de saúde presentes no território (Conselho Federal de Psicologia, 
2019, p. 55‑56).
89
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Para além dos Caps AD, há, ainda, os Caps ADi, com serviços psicossociais voltados para crianças 
e adolescentes em sofrimento psíquico intenso e que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas. 
Integrados à Rede de Atenção Psicossocial (Raps), esses serviços foram criados pela Portaria n. 3088/2011 
e fortalecem o cuidado e acolhimento dessa população. Sua criação está alinhada à política nacional de 
atenção a usuários de álcool e drogas e ao Plano Emergencial para Enfrentamento de Ações em Álcool 
e Drogas (Pead), focando no cuidado da população infantojuvenil.
Os Caps ADi, alinhados à Reforma Psiquiátrica e legislações vigentes, oferecem atendimento integral 
aos sujeitos, considerando‑os além da doença mental e possibilitando o surgimento de subjetividades, 
problemas, desejos e projetos de crianças e adolescentes com sofrimento psíquico intenso. Dada a 
recente implantação dos Caps ADi, é importante divulgar e conhecer mais sobre essas experiências por 
meio de estudos e pesquisas.
 Observação
O Caps é o serviço de saúde mental implementado via SUS, fruto de 
luta e construção coletiva advindos da Luta Antimanicomial e da Reforma 
Psiquiátrica. O serviço contém as seguintes classificações:
• Caps I: atende populações de 20 mil a 70 mil habitantes.
• Caps II: atende populações de 70 mil a 200 mil habitantes.
• Caps III: atende populações acima de 200 mil habitantes.
• Caps: atende crianças e adolescentes com transtornos mentais.
• Caps AD II: atende pacientes com transtornos decorrentes do uso de 
substâncias psicoativas, como álcool e drogas.
• Caps AD III: atende pacientes com transtornos decorrentes do uso 
de substâncias psicoativas, como álcool e drogas, funcionando 
24 horas por dia.
 
As Unidades de Acolhimento Adulto e Infantojuvenil, criadas pela Portaria n. 121/2012, são serviços 
residenciais temporários que oferecem acolhimento voluntário e cuidados contínuos 24 horas para 
pessoas com necessidades decorrentes do uso de substâncias, como crack, álcool e outras drogas, em 
situação de vulnerabilidade social e familiar. Elas visam reduzir danos, apoiar a construção de novos 
projetos de vida e fortalecer os PTS. Os serviços prestados têm duas modalidades: Unidade de Acolhimento 
Adulto (UAA), para maiores de 18 anos, e Unidade de Acolhimento Infantojuvenil (UAI), para crianças e 
adolescentes, ambas integradas à Raps.
90
Unidade II
O Cras é uma unidade pública voltada para a proteção social básica, localizada em áreas de pobreza 
e vulnerabilidade social. Seu objetivo é prevenir situações de risco e vulnerabilidade, promovendo 
o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. O Cras oferece serviços como Benefícios de 
Prestação Continuada (BPC), Paif, e Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Já o Creas 
atende famílias e indivíduos em situação de risco pessoal e social, como abuso, abandono e uso de 
substâncias psicoativas. Ambos os serviços têm equipes compostas por psicólogos e assistentes sociais 
que atuam para fortalecer a inserção social e os vínculos familiares.
Os psicólogos desempenham um papel essencial na articulação entre diferentes setores da rede de 
saúde, fortalecendo parcerias e ações coletivas para garantir a integralidade do cuidado. Isso promove a 
participação cidadã e contribui para o desenvolvimento da autonomia dos indivíduos, tornando‑os mais 
críticos e protagonistas de suas próprias histórias.
As atividades dos psicólogos no Cras, Caps, CR e na rede de saúde devem focar na atenção e prevenção 
de riscos e vulnerabilidades, além de promover e fortalecer a autonomia dos indivíduos, por meio do 
fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
Como já colocado, a questão do uso de drogas é permeada por determinantes 
históricos, sociais e culturais, não podendo ser reduzida a uma classificação 
ou a um diagnóstico patológico a ser tratado. Por outro lado, não se pode 
negar que o uso abusivo de álcool e outras drogas, ao colocar a substância 
no controle da vida do indivíduo, cria uma condição de assujeitamento 
e coisificação, provocando intenso sofrimento psíquico, o que gera a 
necessidade e impulsiona a busca por cuidado. É nesse indivíduo que vamos 
focar ao nos referir ao cuidado psicológico como prática emancipatória 
(Conselho Federal de Psicologia, 2019, p. 65).
A perspectiva emancipatória de garantia de direitos deve basear‑se na compreensão de que 
a subjetividade é mutável e contextualizada, sendo influenciada pelas relações sociais na família, 
comunidade e sociedade. O uso de drogas, por si só, não define o desenvolvimento do indivíduo, mas 
pode gerar modos de vida diferenciados. A compreensão do uso abusivo de drogas envolve analisar as 
relações e determinantes sociais que influenciam a vida do indivíduo, como família, escola e comunidade.
8.3 Psicologia, políticas públicas e educação
A escola, ao organizar seu cotidiano, estabelece normas de comportamento, define o que é certo e 
errado, e classifica quem sabe ou não, consolidando valores e padrões de conduta. Ao mesmo tempo, cria 
o que foge dessas normas, formando o oposto e a desordem, seguindo uma ideologia que atende aos 
interesses do capital. No entanto, raramente se questiona esse processo ou se reflete sobre as instituições 
envolvidas nas relações escolares. As equipes educacionais frequentemente trabalham de forma 
acelerada, sem compreender completamente as dinâmicas e dificuldades, o que leva a uma crescente 
impotência para professores, estudantes, famílias e psicólogos (Conselho Federal de Psicologia, 2019c).
91
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Quando afirmamos que o psicólogo busca melhorar a saúde mental e as condições de trabalho, 
estamos nos referindo ao acolhimento das imprevisibilidades e ao esforço de analisar coletivamente o 
que ocorre no cotidiano da escola. O objetivo é criar um espaço de reflexão mais lento e criativo, que 
ajude a lidar com o desconhecido e com os problemas que surgem quando algo foge às expectativas e 
à ordem estabelecida.
O papel do psicólogo na escola não se baseia em fornecer soluções rápidas para problemas, mas 
sim em contribuir para a criação de redes de apoio focadas nas potencialidades dos indivíduos, no 
acompanhamento do desenvolvimento das crianças e em ações preventivas. A psicologia na escola 
busca evitar uma posição hierárquica entre educadores, estudantes e familiares, promovendo uma 
relação mais colaborativa. O objetivo não é oferecer respostas definitivas, mas sim estimular a reflexão 
da equipe sobre o trabalho realizado no cotidiano escolar.
Mudar a abordagem na escola exige uma transição do foco nas soluções eficientes para a 
problematização, estimulando novas perguntas e uma formação que envolva todos, incluindo o psicólogo. 
O trabalho deve ser coletivo, com a participação de toda a escola, valorizando o professor, ouvindo os 
pais e fortalecendo a equipe pedagógica. Para isso, é necessário ampliar a cultura educacional, entender 
as questões da formação e estar preparado para compreender e vivenciar o cotidiano escolar.
O cotidiano de trabalho envolve certo uso do tempo, do currículo, das 
relações e das histórias que aproximam e distanciam escola e comunidade. 
A construção de narrativas abre espaço para a produção de conhecimento, 
aprofundamento teórico‑metodológicosobre o que se vive a partir do que 
se faz. As narrativas podem tomar força, deslocando dos casos problemas a 
histórias de vida. Porém, a lógica médica que nos atravessa vem delimitando 
papéis e funções na efetivação de medidas para as velhas urgências e que 
bloqueiam o pensamento, pois requer outro tempo de ação. O que vemos 
no campo de trabalho na atualidade é que, diante das urgências e da falta 
de tempo para conversar, as cenas se repetem e a rotina tem sido passar o 
problema adiante (encaminhamento), culpabilizar (a si próprio, às crianças, 
aos familiares, ao sistema), lamentar‑se (sofrer, adoecer, licenciar‑se). Quando 
a potência de interferir é fragilizada traz como efeito a perda do sentido das 
práticas e a pouca implicação com o processo de trabalho (Conselho Federal 
de Psicologia, 2019c, p. 39‑40).
Os desafios surgem de forma inesperada, entre saberes e experiências que se revelam ao longo da 
ação. A rotina é substituída pela imprevisibilidade, acolhendo o imprevisto. Sem controvérsias, não há 
como questionar as instituições em questão. Somos diversos e vivemos experiências únicas, e o desafio 
está em criar um novo uso do tempo e espaço, longe da ideia de competência ligada à performance e 
produtividade. Esse espaço de experimentação entre ensinar e aprender abre possibilidades para novas 
ideias e a criação de outros mundos.
92
Unidade II
Para melhorar a qualidade da educação, nossas ações devem focar em disponibilizar o conhecimento 
específico da psicologia para questões educacionais, priorizando o fortalecimento de uma gestão 
educacional democrática que envolva todos os membros da comunidade escolar e implemente formas 
eficazes de acompanhamento do processo de escolarização.
Esse conhecimento se baseia na compreensão da dimensão subjetiva do processo de 
ensino‑aprendizagem, abordando temas como desenvolvimento, relações afetivas, motivação, 
comportamento, sentimentos, socialização e identidades, com o objetivo de valorizar os sujeitos 
envolvidos nas relações escolares.
A escola tem como objetivo socializar conhecimentos e proporcionar o acesso ao saber, abordando 
questões como classe, cultura, religião, gênero e etnia. O psicólogo, nesse contexto, pode atuar tanto 
para transformar quanto para manter a sociedade como ela é. Ao compreender as diversas dimensões da 
atividade educacional, o psicólogo pode direcionar suas intervenções para áreas específicas, trabalhando 
de forma coletiva com toda a comunidade escolar, incluindo professores, pais, funcionários e estudantes, 
sempre visando o bem de todos.
Ao elaborar planos de intervenção no contexto escolar, o psicólogo deve entender a organização da 
escola, considerando dados como o número de estudantes, turmas, professores, índices de aprovação, 
reprovação e evasão, serviços prestados, o perfil socioeconômico da comunidade escolar e a história 
da escola. Além disso, é fundamental conhecer a equipe docente, suas condições de trabalho e  a 
metodologia pedagógica utilizada. O psicólogo, ao participar do cotidiano escolar, colabora com as 
equipes para criar experiências enriquecedoras, contribuindo para o planejamento, desenvolvimento e 
a avaliação de intervenções eficazes.
O conhecimento da psicologia sobre os processos de ensino e aprendizagem evoluiu historicamente, 
desde abordagens higienistas até teorias que veem esse processo como resultado de múltiplas influências, 
como as pedagógicas, institucionais, relacionais, políticas, culturais e econômicas. As práticas de 
intervenção na educação, portanto, são baseadas nessas diferentes concepções.
O processo de ensino e aprendizagem, de uma perspectiva crítica, é entendido como resultado das 
práticas sociais e escolares que o influenciam. A psicologia avança na compreensão desse processo 
ao analisá‑lo com base nas condições histórico‑sociais. A superação das desigualdades na educação 
depende de ações que envolvam diferentes aspectos da escolarização, como relações familiares, práticas 
institucionais e contexto social. A análise das práticas escolares deve focar nas relações institucionais e 
no contexto social e histórico. Para trabalhar com estudantes, a psicologia deve usar o conhecimento 
científico para ajudar os alunos a descobrir seu potencial, considerando formas culturais de expressão, 
e, ao avaliar dificuldades, é importante focar nas possibilidades de desenvolvimento, não apenas 
nas limitações.
O psicólogo pode trabalhar com pais, familiares ou responsáveis para refletir sobre o papel da escola 
e da família, abordando as questões que afetam a vida de pais e filhos. Ao discutir coletivamente as 
dificuldades escolares, é possível gerar novas ideias e ações que favoreçam uma prática compartilhada 
e melhorem o processo de ensino e aprendizagem.
93
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Os psicólogos podem colaborar com educadores para compreender os processos de ensino e 
aprendizagem em suas dimensões subjetivas e objetivas, tanto coletivas quanto singulares. Podem ajudar 
a superar explicações que culpabilizam estudantes, familiares ou professores, agindo como mediadores e 
fortalecendo o papel do professor como principal agente do processo educacional. A chave é estabelecer 
parcerias com os docentes e valorizar seu trabalho.
O psicólogo pode atuar na formação contínua de educadores, abordando temas como desenvolvimento, 
aprendizagem e dimensões que constituem os sujeitos, como classe social, gênero, sexualidades, relações 
étnico‑raciais, mídias e tecnologias. O objetivo é fornecer subsídios teóricos para ajudar os professores a 
compreender como os estudantes aprendem, aprofundando o entendimento sobre as relações entre 
a subjetividade humana, a formação do psiquismo e o processo educacional.
Um dos principais obstáculos para uma atuação crítica do psicólogo em contextos educacionais 
inclusivos é a formação inicial, que aborda de forma superficial a deficiência e a inclusão escolar, além 
de focar principalmente na psicologia clínica. A falta de informações sobre esses temas dificulta a 
intervenção eficaz do psicólogo no processo de inclusão de estudantes com deficiências.
A prática psicológica em contextos de inclusão escolar ainda segue o modelo antigo, no qual 
crianças e jovens com deficiência eram encaminhados para escolas especiais. A atuação envolve apenas 
a realização de anamnese e avaliação do nível intelectual e emocional, gerando laudos que destacam 
o que os estudantes não conseguem fazer devido às suas deficiências, sem oferecer informações que 
ajudem os professores. Isso perpetua o preconceito e as práticas de exclusão nas relações entre professores, 
estudantes e equipe escolar. Para combater essa situação, é essencial que o psicólogo promova grupos 
de trabalho com todos os envolvidos, abordando o preconceito e refletindo sobre barreiras atitudinais e 
arquitetônicas no ambiente escolar.
O trabalho do psicólogo no contexto da inclusão escolar deve promover discussões sobre o preconceito 
e garantir o direito de pertencimento do estudante com deficiência à escola regular. Isso pode criar um 
ambiente que desafie o estudante a desenvolver suas potencialidades e superar a deficiência. O foco do 
psicólogo será fortalecer as capacidades do estudante para enfrentar suas dificuldades e buscar uma 
posição social mais valorizada dentro da comunidade escolar.
 Observação
Em 2019, foi promulgada a Lei n. 13.935, que determina que é dever do 
poder público assegurar atendimento psicológico e socioassistencial aos 
alunos da rede pública de Educação Básica.
 
Na esteira das reflexões sobre o preconceito e a “normalização”, é mister para o profissional da 
psicologia se familiarizar com o debate sobre a “medicalização” (Conselho Federal de Psicologia, 2015). A 
chamada medicalização é o processo de reduzir questões sociais complexas e culturais a uma explicação 
simplificada, vinculando dificuldades de adaptação às normas sociais a determinismos orgânicos, 
tratando‑as como doenças.
94
Unidade II
A medicalizaçãolugar importante para o profissional psicólogo, não sem se embasar na mesma 
epistemologia da “neutralidade científica”, ou seja, descontextualizante.
O pensamento crítico a esse processo, que se deu principalmente na primeira metade do século XX 
até os anos 1970, começa a ganhar força como proposta alternativa a práticas e pensamentos 
individualizantes. A história da psicologia comunitária no Brasil parte da percepção de que, em primeiro 
lugar, o contexto sócio‑histórico é parte constituinte dos processos psicológicos e, em segundo lugar, a 
visão da “normalidade” individualista leva ao reforço de práticas sociais ligadas à desigualdade social, ao 
impedimento de participação política e à produção de estigmas e preconceitos.
É importante ressaltar que o desenvolvimento profissional da psicologia no Brasil, a partir da 
regulamentação da profissão, se dá concomitantemente ao regime ditatorial militar, que teve seu início 
com o golpe de 1964. Dessa forma, o regime repressor valida e reafirma as políticas sociais tecnocráticas 
e autoritárias que individualizam os processos de desigualdade social (isso quando o panorama não 
era de total omissão em relação às políticas sociais), despolitizando o debate, ao mesmo tempo que os 
movimentos de resistência se intensificam, inclusive em relação às propostas de políticas sociais e ao 
campo das ciências de teor crítico.
47
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
A aproximação de setores científico‑acadêmicos com movimentos sociais populares faz parte 
de ondas de resistência ao regime opressor e violento. “A psicologia comunitária no Brasil trouxe a 
articulação entre uma concepção sócio‑histórica de subjetividade e uma prática emancipadora do 
sujeito” (Gonçalves, 2010, p. 92). A crítica à neutralidade científica trouxe possibilidades de perspectiva 
de produção de novos conhecimentos (e novas formas de se produzir o conhecimento científico) e 
novas práticas, quebrando paradigmas de instituições conservadoras. A ideia de participação popular 
como forma de promoção de autonomia, de emancipação e até de saúde mental colocou em perspectiva 
o crescimento de uma psicologia comunitária crítica ao modelo psicológico anteriormente hegemônico.
Acentua‑se que a ideia de subjetividade como conceito sócio‑histórico dentro da psicologia se 
desenvolve entre os anos 1970 e 1980, ganhando força à medida que a ciência psicológica foi quebrando 
paradigmas, levando em conta cada vez mais os processos grupais e psicoinstitucionais como objetos 
de estudo e intervenção. Também com o crescimento dos movimentos sociais e o processo político de 
redemocratização na década de 1980 no Brasil, a visão que se tem dos processos psicológicos diretamente 
ligados a propostas de políticas sociais ganha força e protagonismo.
O desenvolvimento teórico‑metodológico da psicologia a partir da década de 1980 passa a ser 
marcado pelo espírito crítico em relação à compartimentalização dos objetos de estudo e dos campos de 
atuação. A psicologia comunitária, a psicologia escolar crítica e a atuação na saúde mental em direção 
à luta antimanicomial são exemplos de como a ciência psicológica passa a rever suas teorias e práticas 
e, ao mesmo tempo, essa revisão aproxima a psicologia das discussões sobre políticas públicas.
No entanto, algumas questões limitantes se colocam a partir daí. No campo das comunidades 
pobres, como seria possível pensar em subjetividade e psiquismo em relação às populações que passam 
fome, que sofrem com o desemprego e com a violência estatal? No campo da educação, qual seria o 
papel da psicologia em um contexto escolar preconceituoso, no qual a criança seria um porta‑voz de 
políticas de descaso e abandono? Quais seriam alternativas a um modelo de saúde mental aprisionante, 
que colocava o paciente como uma ameaça à sociedade, estigmatizando‑o, e não se pensava nos seus 
direitos e na sua cidadania? Questões como essas vão moldando uma nova forma de se fazer ciência e 
de se construir práticas profissionais.
É dessa maneira que a Psicologia começa a se inserir de outra forma no 
campo social, uma forma crítica ao que predominava. Evidentemente, tais 
perspectivas não são as únicas nem são hegemônicas. A psicologia elitista, 
adaptadora, calcada em um saber naturalizador da realidade e em uma 
formação tecnicista, desvinculada da nossa realidade e distante das políticas 
públicas, persistia e persiste ainda hoje (Gonçalves, 2010, p. 97).
Dado o panorama de embate político no que se refere à construção da psicologia no campo das 
políticas públicas, com o avanço do movimento crítico, mas não sem resistência daqueles que adotavam 
uma visão supostamente neutra, pode‑se fazer uma análise histórica de uma aproximação cada vez 
maior da psicologia com o campo social.
48
Unidade II
Com a Constituição Cidadã de 1988, a previsão de garantias e promoção dos direitos sociais traz a 
psicologia para um lugar importante no debate das políticas públicas. Pesquisas e práticas que abordam 
a importância psicossocial da cidadania crescem em número e em qualidade crítica.
A democratização das instituições entra na psicologia como valor não apenas político, mas também 
científico e profissional. As instituições que regulam a profissão e os centros de pesquisa passam a se 
preocupar com um fazer institucional democrático, o que marca não apenas uma nova forma de se fazer 
política, mas também o direcionamento do pensamento científico para as relações sociais pautadas por 
igualdade, justiça e cidadania. Ou seja, era mister pensar e considerar as práticas psicológicas em seu 
contexto mais amplo e propor novas formas de relações sociais que trouxessem valores democráticos, 
não apenas nas instituições que eram objetos de análise da psicologia (escola, manicômio, empresa, 
comunidade etc.), mas nas próprias instituições que regulamentavam a psicologia.
Dessa forma, instituições como o Conselho Federal de Psicologia (CFP), os Conselhos Regionais 
de Psicologia (CRP), o Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira e diversas entidades e 
associações ligadas à prática profissional e científica (por exemplo, a Associação Brasileira de Psicologia 
Social, Abrapso, que teve papel importante nesse processo desde o início da década de 1980) passam a 
promover debates e determinar diretrizes para a profissão que buscavam não somente uma constante 
avaliação crítica da profissão, mas também dar maior visibilidade à categoria.
O avanço de tais discussões gerou um marco importante para a psicologia. Foi criado o slogan 
“Psicologia e Compromisso Social” e, a partir disso, a ideia de que a psicologia tem que pautar suas 
práticas pelo compromisso social se difunde, se tornando um balizador para a categoria profissional 
desde a graduação.
Nesse processo, dois eixos foram se consolidando como referências para 
a discussão sobre os rumos da psicologia em sua inserção social e como 
referência para o Projeto do Compromisso Social: a análise constante de 
práticas e saberes pelo viés do respeito aos direitos humanos; e a defesa da 
presença da psicologia nas políticas públicas (Gonçalves, 2010, p. 100).
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi outro ponto de virada nas discussões sobre as 
diretrizes para a prática psicológica, sendo um documento que traz valores fundamentais, além de ser 
um documento que pauta os valores da Constituição Federal Brasileira. É a partir desse momento que a 
psicologia passa a mergulhar cada vez mais fundo no campo das políticas públicas.
A defesa dos direitos humanos nos fala de um tipo de sociedade que se quer. 
A defesa de políticas públicas nos fala do compromisso com a construção 
de uma sociedade democrática e que respeita os direitos sociais. Essa 
perspectiva é a que se coloca para a psicologia como ciência e profissão no 
projeto denominado “Compromisso Social”, formulando e reformulando, a 
cada momento, seu conteúdo (Gonçalves, 2010, p. 101).
49
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
5.2 Psicologia, subjetividade e políticasno contexto educacional reduz dificuldades e problemas sociais, como o adoecimento 
dos professores ou dificuldades de aprendizagem, a transtornos ou doenças, como o burnout ou o 
transtorno opositor desafiador, sem questionar as condições estruturais da educação e da sociedade. 
Essa abordagem simplifica questões complexas, centrando‑se em distúrbios orgânicos e desconsiderando 
fatores sociais e educativos.
Tome‑se o exemplo da dislexia: tudo o que se poderia problematizar 
sobre leitura e escrita como representação social da linguagem humana 
e enquanto construção simbólica (portanto, dependente de mediação) é 
reduzido a uma suposta “doença neurológica” contra a qual pouco se pode 
fazer. O que nem todos sabem é que existe, na própria comunidade médica, 
uma enorme polêmica e um dissenso muito sério em torno deste suposto 
distúrbio neurológico, várias vezes renomeado e frágil enquanto entidade 
nosológica nos termos da racionalidade médica e nos termos do rigor que 
se espera da ciência médica (Conselho Federal de Psicologia, 2015, p. 11‑12).
Os processos de medicalização criam doenças para justificar o uso de medicamentos, impulsionando 
o mercado farmacêutico. A relação entre a indústria e a produção de diagnósticos e tratamentos, baseados 
nessa lógica, muitas vezes ignora questões éticas e verdadeiras necessidades de saúde. Uma forma de 
combater a medicalização é fortalecer políticas públicas na educação, por meio de objetivos, decisões 
governamentais e ações coordenadas, garantindo que crianças e jovens não sejam influenciados pela 
lógica medicalizante.
O tema das políticas públicas está diretamente relacionado aos sistemas de saúde e educação. 
No entanto, no Brasil, a precarização dos serviços públicos afeta o acesso da população a direitos 
básicos, como saúde e educação, direitos garantidos pelo ECA, direitos estes que têm sido negados pela 
crescente medicalização.
Dessa forma, a crítica ao sistema educacional deve considerar a realidade concreta das escolas e o 
papel dos indivíduos envolvidos. Embora o sistema apresente obstáculos, a escola, como um espaço de 
contradição, pode ser um ambiente fértil para a resistência e para a emergência de novas vozes e práticas.
8.4 Movimentos sociais e a construção de políticas públicas: psicologia e 
diversidade sexual
Estudos contemporâneos apontam que a sexualidade não é determinada por instintos ou uma 
essência fixa, mas, sim, por experiências históricas, sociais e coletivas, moldadas por contextos culturais. 
Ela é entendida como uma produção de subjetividade, que é influenciada pelas condições históricas 
em que se desenvolve. A subjetividade deixa de ser vista como algo interno e psicológico, passando a 
ser entendida como algo complexo, formado por diversos fatores linguísticos, sociais, culturais, legais, 
institucionais e midiáticos.
95
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
A produção de subjetividade abrange diversas identidades e expressões de sexualidade e gênero, 
como heterossexuais, homossexuais, transexuais, travestis etc. Contudo, perguntas sobre a identidade 
de pessoas LGBTQIAPN+ são comuns, enquanto raramente se questiona por que alguém se torna 
heterossexual ou cisgênero. Isso reflete, como apontam os movimentos das lutas identitárias, a lógica 
cis‑heteronormativa, que considera a heterossexualidade e a cisgeneridade como normas universais e 
legítimas, marginalizando outras formas de identidade e expressão.
Para autores ligados aos estudos de gênero, a cis‑heteronormatividade se manifesta desde o 
nascimento, quando o sexo do bebê é atribuído, produzindo uma identidade de gênero baseada em 
características físicas, como os órgãos genitais. Essa produção de masculinidade e feminilidade se 
estende a escolhas de cores, brinquedos, roupas e expectativas sobre comportamentos e orientações 
sexuais futuras. A  sociedade, estruturada em torno dessa norma, é reforçada por instituições como 
família, escola, igreja e mídia, que marginalizam orientações sexuais que fogem do padrão heterossexual.
Esse processo resulta na patologização de expressões de sexualidade e gênero não hegemônicas, 
tratando‑as como “anormais”. Embora a psicologia tenha historicamente contribuído para essa 
patologização, atualmente, ela tem se posicionado contra essa abordagem normalizadora, buscando 
apoiar as identidades de gênero e sexualidades não convencionais, como demonstrado nas referências 
técnicas para a atuação de psicólogos em políticas públicas para a população LGBTQIAPN+ (Conselho 
Federal de Psicologia, 2023).
O direito ao pleno exercício da sexualidade e à autodeterminação de gênero é parte fundamental 
da saúde mental. O profissional de psicologia deve compreender a produção social das expressões de 
sexualidade e gênero, entendendo que as orientações sexuais e identidades de gênero não são escolhas 
individuais simples, mas resultam de fatores sociais e contextuais.
O que significa a sigla LGBTQIAPN+? É importante que todos saibam, inclusive profissionais da 
psicologia, o que cada uma dessas letras significa:
• L — Lésbicas: mulheres que sentem atração sexual e afetiva por outras mulheres.
• G — Gay: homens que sentem atração sexual e afetiva por outros homens.
• B — Bissexuais: pessoas que sentem atração sexual e afetiva por homens e mulheres.
• T — Transexuais: pessoas que assumem o gênero oposto ao de seu nascimento. Uma identidade 
ligada ao psicológico, e não ao físico, pois nestes casos pode ou não haver mudança fisiológica 
para adequação.
• Q — Queer: termo que foi usado como uma ofensa para a comunidade LGBTQIAPN+, no entanto, 
as pessoas do grupo se apropriaram dele e, hoje, é utilizado como uma forma de designar pessoas 
que não se encaixam na heterocisnormatividade, a imposição compulsória da heterossexualidade 
e da cisgeneridade.
96
Unidade II
• I — Intersexo: pessoas que não se adequam à forma binária (feminino e masculino) de nascença. 
Ou seja, seus genitais, hormônios etc. não se encaixam na forma típica de masculino e feminino.
• A — Assexual: pessoas que não têm interesse sexual. Por vezes, esse grupo pode, também, ser 
arromântico, ou seja, não ter relacionamentos românticos com outras pessoas.
• P — Pansexual: pessoas que desenvolvem atração física, amor e desejo sexual por outras pessoas 
independentemente de sua identidade de gênero.
• N — Não binário: pessoas que não se identificam com nenhum ou com vários gêneros.
• +: o símbolo serve para abranger as demais pessoas da bandeira e a pluralidade de orientações 
sexuais e variações de gênero.
 
Os psicólogos devem acolher o sofrimento psíquico de pessoas LGBTQIAPN+, que muitas vezes 
enfrentam angústias devido à não aceitação social de suas orientações sexuais e identidades de gênero. 
A LGBTQIA+fobia, como outras formas de preconceito, surge da tentativa de desumanizar o “outro” que é 
visto como contrário à norma. Esse preconceito é alimentado pela hierarquização das sexualidades, com a 
heterossexualidade sendo considerada o padrão. Pessoas que desafiam essa norma, como homossexuais, 
bissexuais, transexuais, travestis etc., sofrem com a marginalização imposta pela cis‑heteronormatividade.
Desse modo, o sofrimento psíquico não é fruto das orientações sexuais ou 
das identidades de gênero em si, mas sim da LGBTQIA+fobia estrutural que 
as qualificam como expressões anormais ou patológicas. Ter dimensão da 
extensão social do sofrimento psíquico de pessoas não heterossexuais, não 
cisgêneras e não binárias é muito importante para a atuação da(o) profissional 
de Psicologia, principalmente em um momento em que há uma demanda por 
terapias de conversão sexual, como veremos a seguir. “Não há cura para o 
que não é doença”, afirma categoricamente uma Psicologia conectada com os 
Direitos Humanos (Conselho Federal de Psicologia, 2023, p. 35‑36).
O sofrimento psíquico não é visto como um problema interno ou individual, mas como resultado 
de uma rede complexa de fatores ambientais, políticos, tecnológicos e socioculturais. Por exemplo,ao 
atender uma mulher lésbica que sofre preconceito familiar, o profissional de psicologia deve entender 
esse sofrimento como fruto de questões históricas, políticas e sociais, considerando o contexto em que 
a pessoa vive. Assim, a psicologia aborda tanto as condições subjetivas do indivíduo quanto os aspectos 
sociais e históricos que moldam os modos de ser.
A psicologia deve adotar a perspectiva da interseccionalidade, um conceito desenvolvido por 
feministas negras, para analisar as múltiplas formas de opressão que afetam as pessoas, como raça, 
classe social, sexualidade e geração. A interseccionalidade ajuda a entender como diferentes formas de 
discriminação, como racismo, sexismo e classismo, se cruzam e afetam de maneira desigual as mulheres 
e outras pessoas. Aplicando essa abordagem, a psicologia pode compreender melhor o sofrimento 
psíquico de pessoas LGBTQIAPN+, considerando não apenas sua orientação sexual ou identidade de 
97
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
gênero, mas também outras dimensões como classe, raça, idade e deficiência. Esse olhar interseccional 
permite uma compreensão mais ampla das experiências vividas, sem patologizar as diversas expressões 
de sexualidade e gênero.
O atendimento psicológico à população LGBTQIAPN+ deve focar no acolhimento do sofrimento 
do indivíduo, fortalecendo sua identidade de gênero e/ou orientação sexual. Esse atendimento deve 
também promover reflexões e intervenções sobre aspectos que impactam a saúde dessa população, 
considerando as questões específicas que afetam seu bem‑estar, tais como:
– Diminuição da autoestima por meio da internalização do estigma 
quanto ao que representa ser LGBTQIA+;
– Ansiedade ocasionada pelo medo e pela expectativa de rejeição 
decorrente da LGBTQIA+fobia; Referências Técnicas para Atuação 
de Psicólogas, Psicólogos e Psicólogues em Políticas Públicas para 
População LGBTQIA+
Tentativa de suicídio, depressão, transtornos alimentares e angústias das 
mais diversas formas, provocados na população transexual e travesti não 
apenas pelo não pertencimento ao gênero compulsoriamente atribuído no 
nascimento, mas também pelas condições de vulnerabilidade social;
– Exposição às mais diversas formas de violências (psicológica, física, 
sexual, moral) vivenciadas diante da sociedade LGBTQIAfóbica;
– Dificuldade de acesso aos serviços de saúde/educação/cultura/lazer 
diante dos processos de exclusão e preconceitos vivenciados;
– Constrangimentos e sofrimento psíquico vivenciado por pessoas 
transexuais e travestis diante da dificuldade em realizar a retificação 
de nome e/ou gênero no registro civil, caso o desejem (o fato da 
retificação ser realizada desde 2018 no cartório não é sinônimo de 
ausência de burocracia e outros obstáculos);
– No caso das pessoas intersexo, dificuldade de garantir a autonomia 
para determinação dos cuidados ao corpo que não se encaixa 
no binarismo; […]
Dois aspectos importantes ao mencionar os exemplos anteriores se fazem 
necessários apontar. Primeiro, considerar as questões de antes possibilitam que 
psicólogas, psicólogos e psicólogues estejam atentas(os/es) às especificidades 
de algumas demandas apresentadas com frequência pela população LGBTQIA+ 
nos serviços. Segundo, ao apontar tais exemplos, não se pretende limitar as 
vivências das pessoas LGBTQIA+ a sofrimento e dores, pois são corpos que têm 
potência, resistem e persistem em viver apesar da estrutura LGBTQIA+fóbica 
na qual estamos inseridos (Conselho Federal de Psicologia, 2023, p. 85‑86).
98
Unidade II
Pessoas LGBTQIAPN+ devem ter acesso a toda a rede de serviços disponível para a população em 
geral, incluindo os serviços psicológicos. No entanto, devido às violações e violências específicas que 
esse grupo enfrenta, é necessário criar serviços especializados para lidar com essas questões. A psicologia 
deve estar inserida em serviços que tratam da violação de direitos humanos, garantia de cidadania, 
acolhimento de violências na saúde e assistência social, além de serviços específicos como ambulatórios 
LGBTQIAPN+ e os procedimentos transexualizadores no SUS.
Um aspecto importante para o acesso e desenvolvimento de tais políticas públicas, de acordo com 
Ferreira e Aguinsky (2013), é o papel dos movimentos sociais. Na contemporaneidade, os movimentos 
sociais enfrentam dificuldades para manter sua influência, especialmente a partir da década de 1990, 
quando os movimentos passaram a atuar como parceiros do Estado, enfraquecendo sua postura 
combativa. Esse processo foi intensificado nos movimentos sociais de gênero e sexualidade, que lidam 
com temas marginalizados e com pouca atenção estatal. Além disso, os movimentos enfrentam crescente 
resistência de grupos religiosos e da bancada evangélica, que disputam o espaço político, especialmente 
em questões como orientação sexual, empoderamento feminino e direitos reprodutivos.
Os movimentos sociais são formas de enfrentamento das contradições sociais, surgindo como 
reações coletivas a bloqueios ou afrontas aos interesses de um grupo. No caso dos movimentos de 
gênero e diversidade sexual, o foco está nas particularidades de grupos discriminados, em vez de adotar 
uma abordagem universal.
No campo das políticas públicas, os movimentos sociais de gênero e sexualidade enfrentam desafios 
ainda mais complexos. Embora tenham conquistado avanços importantes, como o direito à união 
estável para homossexuais, a Lei Maria da Penha e o direito à cirurgia de transgenitalização no SUS, essa 
visibilidade muitas vezes vem acompanhada de dois vieses problemáticos: a vitimização das identidades 
e a criminalização de outras. Por exemplo, o movimento LGBTQIAPN+ conquista financiamento 
para projetos de prevenção à Aids, ao mesmo tempo que luta para desvincular sua população do 
estigma da doença.
O caso da epidemia de HIV/Aids revela um paradoxo, pois ao mesmo tempo que a epidemia trouxe 
visibilidade à condição homossexual, também a estigmatizou. A população LGBTQIAPN+, especialmente 
os homens gays, foi fortemente associada ao HIV devido ao estigma da promiscuidade e à ideia de 
que esses grupos tinham mais acesso a viagens internacionais, onde ocorreram os primeiros casos 
de transmissão. Isso gerou uma conexão direta entre o HIV e a homossexualidade, intensificando 
a discriminação.
A associação do HIV/Aids aos movimentos de diversidade sexual e de gênero continua até hoje, 
com esses movimentos recebendo financiamento para projetos de prevenção. No entanto, essa 
relação revela contradições, pois, embora os homens gays e bissexuais sejam de fato vulneráveis à 
epidemia, o foco nos financiamentos para prevenção muitas vezes negligencia questões mais amplas 
de cidadania e acesso aos serviços de saúde. Isso cria uma dinâmica de visibilidade e invisibilidade 
perversa, na qual os movimentos acabam utilizando estratégias de autovitimização para garantir sua 
sobrevivência social.
99
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
A criação de políticas públicas é uma bandeira central dos movimentos sociais de gênero e sexualidade. 
A partir da Constituição de 1988, começam a ser reconhecidas as desigualdades sociais, visando à 
distribuição igualitária dos direitos. As primeiras políticas públicas no Brasil focaram na valorização das 
culturas negra e indígena, e na igualdade entre homens e mulheres. A diversidade sexual, no entanto, 
foi o último tema a ser incluído na agenda antidiscriminatória com a fundação da Frente Parlamentar 
Mista Pela Livre Expressão Sexual em 2003 e o Programa Brasil Sem Homofobia em 2004, as primeiras 
ações do governo nacional voltadas para essa população.
Os movimentos sociais de gênero e sexualidade enfrentam a “perversidade” em sua visibilidade 
política, relacionada ao papel das identidades que escolhem assumir, muitas vezes acolhendo ou excluindo 
sujeitos conforme se enquadram nessas identidades. Cabe ressaltar que assumir uma identidade, em 
geral, desafia o status quo, o que é importante para a pluralidade do debate.
 Saiba maisPara entender melhor o assunto estudado, leia:
CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA (CFP). Referências técnicas para atuação 
de psicólogas, psicólogos e psicólogues em políticas públicas para população 
LGBTQIA+. Brasília, 2023. Disponível em: https://tinyurl.com/dkr4vwac. Acesso 
em: 4 abr. 2025. 
100
Unidade II
 Resumo
Nesta unidade, abordamos, principalmente, o papel da psicologia frente 
aos direitos sociais e culturais da população e, com o auxílio de exemplos 
de vivências retirados de pesquisas da área, conseguimos traçar de forma 
mais contundente as noções da prática do profissional de psicologia.
Dessa forma, vimos como a inserção da psicologia na discussão das 
políticas públicas, junto ao papel do Estado, auxilia na criação de leis e 
medidas que beneficiam toda uma comunidade, especialmente quando 
atrelado ao seu papel sócio‑histórico. O Crepop, dispositivo esse que é um 
importante instrumento para promover o avanço da categoria e fortalecer 
sua presença nas políticas públicas, é uma das instituições criadas pelo 
Conselho Federal de Psicologia, a fim de promover uma maior inclusão do 
profissional de psicologia nas discussões sobre a sociedade.
Junto a discussão sobre o papel da psicologia nas ações junto ao Estado, 
discutimos o papel dessa profissão, também, no SUS, uma instituição que 
sofre problemas constantes desde sua implementação, mas que é um dos 
poucos meios de acesso à saúde para grande parte da população brasileira. 
Assim, a atuação do psicólogo no SUS requer discussões frequentes 
no que toca uma prática normativa na qual predominam práticas 
diagnósticas e clínicas dissociadas dos contextos socioeconômicos e da 
integralidade, sem levar em consideração os fatores políticos e sociais do 
processo saúde‑doença.
Ainda adentramos a prática da psicologia junto ao Suas, o Sistema 
de Único de Assistência Social promovido pelo Estado. Desse modo, 
discutimos como a psicologia social comunitária percebe a importância 
de uma construção conjunta, a partir de uma base comum ético‑política 
em que profissional e público atendido se relacionem sem as amarras do 
autoritarismo e da desigualdade.
Por fim, ao encerrarmos este livro‑texto, estudamos o conjunto de ações 
que percorre a luta pelos direitos humanos e os movimentos sociais que 
lutam por um mundo mais justo e democrático. Frente a isso, encontra‑se 
o papel do psicólogo e da psicologia, já que, ao adotar a dignidade humana 
como princípio central, os direitos humanos se aproximam da psicologia, 
que também visa o desenvolvimento e a melhoria das condições de vida das 
pessoas. Essa convergência destaca a similaridade entre os dois campos, pois 
ambos buscam, de forma direta ou indireta, promover a dignidade humana, 
o que favorece uma estreita relação entre teoria e prática em ambos.
101
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
 Exercícios
Questão 1. Em 2013, após extensa pesquisa, a jornalista Daniela Arbex publicou o livro Holocausto 
brasileiro, no qual narra a história do hospital psiquiátrico Colônia, localizado em Barbacena, Minas 
Gerais. Do início do século XX até 1980, os pacientes que viviam no hospital eram abandonados em 
condições desumanas e estima‑se que cerca de 60 mil pessoas morreram no local. No documentário 
baseado no livro e realizado pela Netflix, a autora declarou que a obra foi motivada pela constatação de 
que o Brasil desconhecia uma de suas piores tragédias.
Leia, a seguir, um trecho do prefácio, escrito pela também jornalista Eliane Brum:
Neste livro, Daniela Arbex devolve nome, história e identidade àqueles que, até então, eram 
registrados como “Ignorados de tal”. Eram um não ser. Pela narrativa, eles retornam, como Maria de 
Jesus, internada porque se sentia triste, Antônio da Silva, porque era epilético. Ou ainda Antônio Gomes 
da Silva, sem diagnóstico, que ficou vinte e um dos trinta e quatro anos de internação mudo porque 
ninguém se lembrou de perguntar se ele falava. São sobreviventes de um holocausto que atravessou 
a maior parte do século XX, vivido no Colônia, como é chamado o maior hospício do Brasil, na cidade 
mineira de Barbacena. Como pessoas, não mais como corpos sem palavras, eles, que foram chamados de 
“doidos”, denunciam a loucura dos “normais”. As palavras sofrem com a banalização. Quando abusadas 
pelo nosso despudor, são roubadas de sentido. Holocausto é uma palavra assim. Em geral, soa como 
exagero quando aplicada a algo além do assassinato em massa dos judeus pelos nazistas na Segunda 
Guerra. Neste livro, porém, seu uso é preciso. Terrivelmente preciso. Pelo menos 60 mil pessoas morreram 
entre os muros do Colônia. Tinham sido, a maioria, enfiadas nos vagões de um trem, internadas à força. 
Quando elas chegaram ao Colônia, suas cabeças foram raspadas, e as roupas, arrancadas. Perderam o 
nome, foram rebatizadas pelos funcionários, começaram e terminaram ali.
Cerca de 70% não tinham diagnóstico de doença mental. Eram epiléticos, alcoolistas, homossexuais, 
prostitutas, gente que se rebelava, gente que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram 
meninas grávidas, violentadas por seus patrões, eram esposas confinadas para que o marido pudesse 
morar com a amante, eram filhas de fazendeiros as quais perderam a virgindade antes do casamento. 
Eram homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo 
menos trinta e três eram crianças.
Homens, mulheres e crianças, às vezes, comiam ratos, bebiam esgoto ou urina, dormiam sobre capim, 
eram espancados e violados. Nas noites geladas da serra da Mantiqueira, eram atirados ao relento, nus 
ou cobertos apenas por trapos. Instintivamente faziam um círculo compacto, alternando os que ficavam 
no lado de fora e no de dentro, na tentativa de sobreviver. Alguns não alcançavam as manhãs.
Os pacientes do Colônia morriam de frio, de fome, de doença. Morriam também de choque. Em 
alguns dias, os eletrochoques eram tantos e tão fortes, que a sobrecarga derrubava a rede do município. 
Nos períodos de maior lotação, dezesseis pessoas morriam a cada dia. Morriam de tudo — e também 
de invisibilidade. Ao morrer, davam lucro. Entre 1969 e 1980, 1.853 corpos de pacientes do manicômio 
102
Unidade II
foram vendidos para dezessete faculdades de medicina do país, sem que ninguém questionasse. Quando 
houve excesso de cadáveres e o mercado encolheu, os corpos foram decompostos em ácido, no pátio 
do Colônia, na frente dos pacientes, para que as ossadas pudessem ser comercializadas. Nada se perdia, 
exceto a vida.
ARBEX, D. Holocausto brasileiro. São Paulo: Geração Editorial, 2013. p. 14.
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas.
I – O SUS, a Reforma Psiquiátrica Brasileira e o Suas criaram dispositivos de cuidado integral aos 
usuários de álcool e de outras drogas, nos quais diferentes profissionais, incluindo psicólogos, atuam com 
foco na defesa dos direitos humanos e na ampliação da autonomia e da participação social dos usuários.
II – A internação compulsória ainda permanece como a prática predominante recomendada pela 
psicologia, principalmente nos casos de usuários de drogas e de doentes mentais.
III – Em relação à homossexualidade, que já foi considerada doença no Brasil, atualmente, o 
profissional de psicologia deve compreender as orientações sexuais e as identidades de gênero nos seus 
atendimentos, mas deve sempre conduzir os pacientes à cis‑heteronormatividade.
É correto o que se afirma apenas em:
A) I e II.
B) I e III.
C) II e III.
D) II, apenas.
E) I, apenas.
Resposta correta: alternativa E.
Análise da questão
Atualmente, a internação compulsória é amplamente criticada, não sendo mais a prática 
comum, e, em oposição à afirmativa III, o profissional de psicologia não deve conduzir ninguém 
à cis‑heteronormatividade.
103
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Questão 2. Observe a charge:
Figura 2 – Charge representa cidadãos lendo a Constituição de 1988
Disponível em: https://tinyurl.com/4p6vyh63. Acesso em: 19 fev. 2025.
Combase na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas.
I – A charge revela que os direitos básicos, garantidos pela Constituição brasileira, não são acessíveis 
a uma parcela da população.
II – A psicologia deve atuar de forma alinhada aos direitos humanos, visando o desenvolvimento e a 
melhoria das condições de vida das pessoas.
III – A violação dos direitos básicos é um fator que causa sofrimento psíquico. Por isso, as questões 
sociais permeiam a atuação dos psicólogos.
É correto o que se afirma em:
A) I, apenas.
B) I e II, apenas.
C) II e III, apenas.
D) I e III, apenas.
E) I, II e III.
Resposta correta: alternativa E.
104
Unidade II
Análise da questão
A violação dos direitos básicos garantidos pela Constituição provoca sofrimento e problemas 
psicológicos. Assim, o profissional de psicologia deve atuar considerando os aspectos socioeconômicos 
do indivíduo, visando seu desenvolvimento.
105
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000públicas
De acordo com Yamamoto e Oliveira (2010), para analisar a inserção da psicologia nas políticas 
públicas, deve‑se levar em conta o contexto do avanço neoliberal entre a década de 1990 e o início do 
século XXI em todo o mundo e, no caso, especificamente no Brasil. Ao mesmo tempo que a psicologia 
busca, por meio da atuação de suas entidades reguladoras e científicas, levar adiante a discussão da 
garantia de direitos sociais incluindo as práticas psicológicas, vimos um desmonte da estrutura estatal 
que poderia garantir essas garantias. É nesse contexto que a psicologia vai desenvolver sua entrada 
definitiva no campo das políticas públicas. No entanto, ao mesmo tempo que se buscava discutir 
garantias de direitos, políticas governamentais indicavam a terceirização, a privatização e o estado 
mínimo como formas de políticas sociais.
Não obstante, é notável o avanço da psicologia em direção à defesa das políticas públicas. A partir da 
década de 2000, começam a ser organizados pelo CFP os Seminários Nacionais de Psicologia e Políticas 
Públicas. Observa‑se, conforme Gonçalves (2010), uma ampliação do debate dentro da categoria 
profissional. São aspectos abordados nos seminários:
[...] justificativas para a discussão de políticas públicas pelos psicólogos; 
elementos conjunturais que foram considerados; concepções de políticas 
públicas que se apresentaram; aspectos da relação entre psicologia e 
políticas públicas; e condições para a participação da psicologia nas políticas 
públicas (Gonçalves, 2010, p. 104).
Um elemento importante presente nas discussões dos seminários foi a necessidade de uma 
deselitização da profissão. Para justificar a presença da psicologia nas políticas públicas, seria necessário 
entender as práticas profissionais destacadas do consultório particular e dos contextos privatistas e 
liberais. Logo, seriam necessárias novas formas do fazer profissional em psicologia.
Na esteira do debate da deselitização, vem a ideia de que as políticas públicas devem considerar os 
aspectos subjetivos envolvidos. Sendo a subjetividade o objeto da ciência psicológica, cabe defender que 
esta seja considerada em formulações de políticas públicas. Tal ideia vem como contraponto de uma 
tendência de estado neoliberal, já que a objetivação e busca de resultados por números e índices é 
uma tendência que “atropela” a subjetividade. Como citado anteriormente, não foi sem disputa política 
que se deu a entrada da psicologia nas políticas públicas.
Já no I Seminário apontou‑se a necessidade da redefinição do papel do Estado 
em relação às políticas sociais. A questão a ser enfrentada seria: em tempos 
de globalização e reorientação de políticas sociais, o Estado é financiador, 
provedor ou regulador? Financiador e provedor? Ou apenas regulador? 
A depender da resposta que se desse a essas questões, o direcionamento na 
defesa do que são e como devem ser desenvolvidas as políticas públicas e 
sociais mudaria (Gonçalves, 2010, p. 109).
50
Unidade II
O debate se coloca a ponto de se discutir a relação entre a psicologia e o Estado. A defesa das 
práticas profissionais e da ciência psicológica passa pela ideia de que a subjetividade deve ser levada em 
conta, na saúde (inclusive na saúde mental), na assistência social, na educação, no trabalho, em suma, 
em qualquer campo social. A defesa dos direitos humanos é a defesa também do bem‑estar psicológico, 
portanto, dos aspectos subjetivos.
A concepção crítica de que os fenômenos sociais têm uma dimensão subjetiva está no cerne do 
desenvolvimento científico da psicologia e, logo, serve como base teórica e epistemológica para a 
consideração de tal dimensão para o desenvolvimento de políticas públicas. Para além de uma disputa 
de teorias psicológicas, é uma disputa política, já que, como abordado anteriormente, o avanço científico 
da psicologia se dá no bojo da democratização e da defesa dos direitos humanos.
Como vimos, considerar a dimensão subjetiva dos fenômenos sociais é 
identificar na relação entre os indivíduos e o contexto social aspectos que 
vão se constituindo em ambas as direções. Há aspectos subjetivos individuais 
que passam a constituir os fenômenos sociais; e há aspectos objetivos dos 
quais se apropriam os indivíduos e que passam a constituir sua subjetividade. 
A leitura da dimensão subjetiva dos fenômenos sociais presentes no campo 
das políticas públicas permite que as políticas considerem o sujeito a que se 
destinam e, ao mesmo tempo, apontem o campo social em que se propõem 
a introduzir transformações, dirigidas aos objetivos das referidas políticas 
(Gonçalves, 2010, p. 116‑117).
Dessa forma, pode‑se dizer que a prática profissional do psicólogo é uma prática de um cidadão. 
O compromisso social, mais que um slogan, é uma posição política, que revela uma visão profissional 
e científica que leva em conta a cidadania, os direitos humanos e o bem‑estar como partes do 
mesmo contexto.
Como um dos resultados dos debates nos Seminários Nacionais de Psicologia e Políticas Públicas, 
devemos considerar a fundamental importância, por parte do CFP, da criação do Crepop.
 Saiba mais
Para entender melhor as disposições do Crepop, acesse:
Disponível em: https://shre.ink/MtOP. Acesso em: 4 abr. 2025.
51
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
As questões abordadas nos debates dos seminários podem ser acompanhadas a partir da criação do 
Crepop; por meio desse dispositivo, se configura um importante instrumento para promover o avanço da 
categoria e fortalecer sua presença nas políticas públicas. O Crepop conta com uma metodologia própria 
para gerar referências de diferentes naturezas sobre a relação entre psicologia e políticas públicas, além 
de contar com os seguintes itens (Gonçalves, 2010, p. 121):
• Levantamentos sobre a inserção dos psicólogos nos diversos programas e projetos de políticas 
públicas de diferentes áreas, por meio de pesquisa online, reuniões abertas e grupos fechados, 
atividades coordenadas pelo CFP e executadas pelos CRP.
• Levantamento e divulgação sobre os marcos legais das diferentes políticas públicas.
• Produção e divulgação de relatórios quantitativos e qualitativos sobre a inserção dos psicólogos 
nas políticas públicas.
• Identificação de práticas inovadoras nas diferentes áreas.
• Produção de documentos de referências sobre a prática.
Ressalta‑se que a análise realizada a partir dos relatórios mencionados pondera as opiniões dos 
psicólogos que atuam em cada uma das áreas abordadas, coletadas por meio de questionários respondidos 
online, além das reuniões abertas e discussões em grupos fechados realizadas regionalmente.
Nesse sentido, os psicólogos, embora critiquem as políticas implementadas, reconhecem a 
necessidade de fortalecer os sistemas de garantia de direitos e políticas mais abrangentes, como o SUS, 
o Suas, o ECA e a Reforma Psiquiátrica. Eles também apontam dificuldades no ambiente de trabalho, 
como a falta de condições adequadas para o desenvolvimento das ações. Além disso, destacam que as 
políticas existentes não abordam o problema em sua totalidade e que há obstáculos na implementação 
das diretrizes políticas já estabelecidas, como nas unidades de internação em medidas socioeducativas, 
no sistema prisional, nos Caps e nos programas de atendimento e prevenção em DST/Aids.
Entre os aspectos mais positivos, acentuam‑se os relatos que mencionam práticas inovadoras, 
criadas em resposta às demandas da realidade. Os depoimentos destacam essa característica e ressaltam 
a necessidade de uma postura flexível por parte do profissional, capaz de articular conhecimentos, 
frequentemente estabelecidos, com as demandas de uma realidade repleta de especificidades e 
situações inesperadas. É primordial o diálogo com outros campos do saber para que se possa alcançar a 
flexibilidade desejada.
52
Unidade II
 Destaque
Principais pontos abordados pelo Crepop
Ponto 1: há necessidade de posicionamento; o psicólogo não é neutro; as produções 
subjetivas não são neutras;os indivíduos têm posição e devem explicitá‑la frente à 
realidade; a produção subjetiva deve incluir direção, escolha, posição.
Ponto 2: políticas devem se referir a diversas esferas da vida social; elas devem se 
referir a ações que promovam o acesso amplo às riquezas socialmente produzidas e às 
conquistas da humanidade. Explicitando um posicionamento, dizemos que não se trata 
apenas de garantir sobrevivência e reprodução à força de trabalho nem de assistir os 
menos favorecidos ou os excluídos do processo social; trata‑se de criar o espaço social 
necessário para o desenvolvimento de todos os indivíduos, para o acesso de todos à 
riqueza, material e cultural, existente em cada período histórico.
Ponto 3: ter direitos é conquista histórica dos homens e representa hoje, diante da 
desigualdade social produzida historicamente, a defesa da necessidade de lutar pela 
superação da sociedade desigual e do que a determina; reconhecer a necessidade de se 
ter políticas públicas em sentido amplo é reconhecer o direito de ter direitos.
Ponto 4: as políticas públicas devem ser universais e garantidas por um Estado e 
instituições democráticas; deve haver a participação dos indivíduos e deve haver 
controle social; as políticas devem garantir direitos de forma universal e a participação 
dos sujeitos, na direção da transformação da sociedade e da superação da desigualdade.
Ponto 5: a diversidade de possibilidades de realização dos sujeitos deve ser respeitada, 
mas não deve encobrir seu caráter histórico e a desigualdade social, que não é inexorável, 
mas constituída historicamente.
Ponto 6: nosso objeto – a subjetividade – é sempre passível de transformação, que 
pode ser deliberada e na direção desejada; resta escolher a direção da transformação; 
as intervenções devem explicitar isso e, para não se correr risco de arbitrariedade, é 
necessário explicitar posições e trazer o sujeito da intervenção para a cena, para que ele 
participe também.
Ponto 7: a atuação em políticas públicas deve visar compreender e intervir junto 
à dimensão subjetiva dos fenômenos sociais presentes nesse campo; a compreensão da 
dimensão subjetiva se inicia com a afirmação do homem como sujeito e da historicidade 
da subjetividade.
53
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Ponto 8: as referências da psicologia sócio‑histórica podem orientar a elaboração de 
políticas públicas e a intervenção do psicólogo, que deve se reconhecer como responsável 
por realizar uma possibilidade: colocar a psicologia a serviço da transformação social em 
direção a um outro mundo possível.
Adaptado de: Gonçalves (2010, p. 125‑129).
6 ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO SUS
6.1 A esfera de trabalho da psicologia no campo das políticas públicas 
de saúde
O principal desafio para os psicólogos, demais profissionais de saúde e a sociedade brasileira é a 
consolidação do SUS. Após mais de 15 anos de implementação, o SUS ainda enfrenta problemas como 
acesso, financiamento, descentralização, participação popular, desigualdade regional, oferta de serviços 
e insumos, além de questões relacionadas à gestão e formação dos trabalhadores da saúde (Spink; 
Mattel, 2010, p. 44).
Algumas estratégias em andamento para reformular a formação e o trabalho em saúde, alinhando‑os 
aos princípios do SUS, incluem a expansão do Programa Saúde da Família (PSF), a criação da Secretaria 
de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), que desenvolve iniciativas como polos 
de educação permanente, o Ensina‑SUS e o fortalecimento das Escolas Técnicas do SUS. O desafio de 
formar profissionais mais alinhados aos ideais do SUS não é exclusivo da psicologia, mas, sim, uma 
preocupação para várias profissões da área da saúde.
Há uma tendência política de incentivar a formação e organização de equipes de saúde para 
ampliar o acesso e reorientar o modelo assistencial a partir da AB. Diversas profissões estão se voltando 
para a expansão desse novo modelo, alinhado aos discursos de saúde pública e coletiva, visando à 
democratização e socialização das questões de saúde. O objetivo é substituir o enfoque individualista e 
médico‑curativo por uma abordagem coletiva e integral.
Portanto, para pensar a possibilidade de formação e atuação profissional, a 
partir do SUS, é fundamental reafirmar os seus princípios:
1) Da saúde como um direito (universalidade).
2) De reduzir as desigualdades do sistema, que espelham as desigualdades 
sociais e regionais por meio da distribuição equânime dos serviços, dos 
profissionais e dos recursos (equidade).
3) Da organização das ações, a partir das demandas de saúde da 
população, as quais são produzidas nas lutas pela interpretação daquilo 
que se convencionou chamar de necessidades de saúde (Spink; Mattel, 
2010, p. 44‑45).
54
Unidade II
Esses princípios, combinados com diretrizes de descentralização, regionalização, hierarquização e 
participação popular, formam uma base que obriga os profissionais de saúde a refletir e se envolver 
com questões como gestão do sistema, participação e autonomização dos usuários, e a formulação de 
políticas de saúde e direitos sociais.
O primeiro grande desafio da psicologia, considerando sua história, teorias e práticas, é alinhar seus 
saberes e práticas aos valores e ideais do SUS. Isso implica que todos os profissionais de saúde, incluindo 
os psicólogos, devem assumir seu papel no compromisso constitucional de construir o sistema de saúde 
no Brasil (Spink; Mattel, 2010).
O segundo desafio da psicologia no SUS é a noção de indivíduo. A prática privada dos psicólogos e 
sua associação histórica com o modelo médico/normativo formaram a identidade cultural da profissão, 
o que se reflete nas unidades de saúde do SUS, onde predominam práticas diagnósticas e clínicas 
dissociadas dos contextos socioeconômicos e da integralidade. Esse cenário destaca a necessidade 
de desafios em formação, pesquisa e organização do trabalho para a psicologia, especialmente em 
atividades ambulatoriais, hospitais e unidades de AB.
Diversas atividades no campo da saúde mental, historicamente contra‑hegemônicas, avançaram 
na compreensão ampliada do processo saúde‑doença, identificando os fatores políticos, sociais 
e institucionais presentes nas interpretações sobre a loucura. A psicologia social e a abordagem 
institucionalista foram fundamentais na denúncia da medicalização da psiquiatria e na formulação 
de propostas para sua crítica e superação. Essa perspectiva, ao analisar o campo da saúde pública, 
busca identificar os fenômenos que envolvem a possibilidade de patologia mental, como transtornos de 
humor, dependência química e psicoses.
O terceiro desafio é estabelecer um diálogo produtivo entre a saúde mental e a saúde pública, 
superando a ideia de “universos paralelos”. Para atingir os objetivos da Reforma Sanitária, é essencial 
expandir seu campo de atuação, incorporando os desafios da Reforma Psiquiátrica e promovendo a 
integralidade das ações de saúde.
A integralidade, como princípio do SUS, visa organizar o sistema de saúde, integrando ações de 
prevenção, tratamento e reabilitação que antes estavam separadas entre os Ministérios da Saúde e 
da Previdência. A integralidade foi expandida para além do sentido constitucional, considerando a 
pessoa como um todo, incluindo aspectos sociais, econômicos, políticos e psicológicos no processo 
saúde‑doença. Isso ressignifica o paciente como sujeito de direitos, levando à criação de práticas como 
medicina integral, psicologia médica e bioética.
A Política Nacional de Humanização, defendida por muitos psicólogos da área da saúde, sobretudo 
em hospitais, enfatiza que todas as políticas e ações de saúde devem ser centradas na humanização. 
Essa abordagem critica o modelo anátomo‑fisiológico da medicina moderna, reconhecendo o paciente 
como sujeito com necessidades que vão além do cuidado com a doença e o corpo.
55
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Os atores da Saúde Coletiva foram partícipes importantes do movimento 
da Reforma Sanitária que levou à aprovaçãoe implantação do SUS. Não 
surpreende, pois, que, nos princípios básicos do SUS, estejam incluídas:  a 
regionalização – enfatizando o nível local da atenção à saúde; a integralidade – 
enfatizando a perspectiva transdisciplinar da atenção à saúde; e a participação 
popular % enfatizando o necessário envolvimento de todos na implementação 
plena do SUS (Spink; Mattel, 2010, p. 49).
Ao comparar as abordagens históricas da psicologia, focadas na individualização, com as necessidades 
coletivas na atenção à saúde, surgem desafios políticos significativos para a formação de psicólogos no 
SUS. Cabe aqui acompanhar a discussão de Spink et al. (2010) a respeito de alguns dados da atividade 
profissional da psicologia, a fim de que nossa discussão possa se aprofundar mais.
Em 2006, o Cadastro do CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde) registrou 18.353 
psicólogos, mas estão inclusas 3.948 duplicações devido a vínculos em mais de um local. Assim, 
14.407 psicólogos estavam efetivamente atuando na rede de serviços de saúde na época da pesquisa.
A proporção entre o número de psicólogos(as) que possuem vínculos com 
o SUS e o número de psicólogos(as) registrados no Sistema Conselhos de 
Psicologia, varia de 7,97% dos psicólogos da Região Centro‑Oeste a 14,76% 
dos psicólogos da Região Nordeste. A média no país é de 10,08% do número 
total de psicólogos, que possuem algum tipo de vínculo com o SUS (Spink 
et al., 2010, p. 60).
A pesquisa indicada pela Abep (Associação Brasileira de Ensino em Psicologia) confirma dados de 
estudos anteriores, feitos por entidades da área e pesquisas acadêmicas, que mostram que os serviços 
de saúde, tanto privados quanto públicos, sobretudo os conveniados com o SUS, se tornaram opções 
para a inserção de psicólogos. Essa situação está ligada tanto às mudanças na organização dos serviços 
públicos de saúde após a criação do SUS, quanto às transformações nas percepções sobre o que é “saúde”.
Os desafios para a formação dos psicólogos são evidentes, conforme abordado anteriormente. 
A pesquisa indica que apenas uma parte dos psicólogos ingressou nos serviços de saúde movidos por 
motivações alinhadas às políticas do SUS. Muitas respostas revelam um caráter assistencialista, com a 
intenção de ajudar a população carente, o que não corresponde à proposta da Reforma Sanitária. Além 
disso, a maior parte das motivações está relacionada a fatores oportunistas, como concursos ou a falta 
de opções no mercado de trabalho tradicional da psicologia.
Ou seja, temos muito a fazer de maneira a levar a proposta do SUS à atenção 
dos formadores em cursos de graduação, clínicas, escolas e supervisão de 
estágios. Para que a saúde da população seja, de fato, uma prioridade, 
temos que batalhar para que o ingresso de psicólogos em serviços de saúde 
deixe de ser uma opção paliativa diante do desejo da prática terapêutica 
em consultório, ou em cargos sedutores da área de recursos humanos de 
empresas multinacionais (Spink et al., 2010, p. 79).
56
Unidade II
Os dados apresentados por Campos e Guando (2010) também são interessantes: as pesquisadoras 
entrevistaram psicólogos que atuam no SUS e que, quando perguntados sobre suas atividades, mais 
de 80% das respostas se concentram nas atividades do atendimento, diretamente no usuário, estando, 
assim, menos representadas
todas as tarefas ligadas ao planejamento e gestão do trabalho, nas quais todos 
os profissionais devem estar envolvidos, como, por exemplo, o conhecimento 
das demandas do território, dos recursos públicos e comunitários de que 
este dispõe e o trabalho conjunto com o gestor para administrar e otimizar 
o seu aproveitamento (Campos; Guando, 2010, p. 85‑86).
As demandas nos serviços de saúde, conforme as respostas, envolvem principalmente queixas ou 
quadros clínicos, refletindo a predominância das classificações internacionais da doença (CID) e da 
epidemiologia. Embora essas ferramentas sejam necessárias, é importante que o psicólogo reconheça as 
demandas da saúde pública sob outras perspectivas, distinguindo entre diagnóstico, queixa e demanda 
real dos pacientes.
As demandas mais pesadas envolvem situações de violência, abuso, maus‑tratos, negligência, 
proteção da família e inclusão social, mencionadas pelos entrevistados, mas com menor frequência. Isso 
sugere que muitos profissionais ainda não conseguem distinguir claramente entre as demandas para a 
atuação das equipes de saúde e os quadros clínicos que enfrentam.
De novo, neste aspecto, a pesquisa mostra as respostas dos que trabalham em 
diferentes modelos de atenção; fica claro principalmente “quem demanda” nos 
diferentes modelos. Outros profissionais (médicos, enfermeiros, professores, juízes 
etc.) e instituições (conselho tutelar, escola, asilos, presídios etc.) demandam a 
atenção tradicional:
– Toda natureza de demanda da saúde mental;
– São vários, não vou nem especificar…;
– Vários, todos patológicos, escolares, do conselho tutelar;
– Todos pacientes encaminhados pelo psiquiatra;
– Todas, crianças e adultos, idosos… de médicos, de escolas…;
– A maior demanda é depressão em idosos e problemas de aprendizagem 
e comportamento em criança;
– A gente recebe de tudo, abre o CID‑10 e tem lá tudo… depressão, falta 
de limites, aprendizagem…;
– É bem ampla, bastante variada… diversificado (Campos; Guando, 
2010, p. 88).
57
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Contudo, quais são os temas e mudanças essenciais que nesses últimos anos têm influenciado o 
trabalho do psicólogo na saúde pública? Vejamos.
Em 1988, a Constituição Brasileira estabeleceu a saúde como um direito de todos e dever do Estado, 
marcando um divisor de águas no setor. Esse avanço foi resultado da luta pela Reforma Sanitária, que 
culminou na criação do SUS por meio da Lei n. 8.080, garantindo acesso universal e atenção integral 
e equitativa.
Antes da criação do SUS, já existiam experiências de um modelo de atenção integral à saúde, 
organizado em níveis (primária, secundária e terciária). A oferta de serviços era hierarquizada conforme 
a complexidade tecnológica e financeira, e os resultados eram avaliados com base no custo‑benefício. 
O perfil epidemiológico da população definia as necessidades e a oferta de procedimentos na região.
O modelo de atenção era centrado em uma organização hierarquizada dos serviços, com foco nas 
“necessidades do serviço”, oferecendo ações programadas de prevenção e promoção. Nesse modelo, 
profissionais como psicólogos podiam definir sua oferta com base no seu saber técnico. Por exemplo, 
a psicoterapia passou a ser uma especialidade isolada na atenção primária, desconectada tanto do 
profissional que a solicitava quanto da necessidade subjetiva do usuário.
O modelo de atenção brasileiro está em transição, com remanescentes do antigo sistema centrado 
em hospitais e especialistas, com pouca coordenação e planejamento na assistência. As mudanças no 
modelo de atenção focaram nas necessidades do usuário, orientando a oferta e as tecnologias utilizadas. 
O trabalho deve ser multidisciplinar, valorizando o saber coletivo e promovendo uma atenção integral 
ao sujeito, considerando seu território de vida, relações e conflitos.
O modelo exige que o psicólogo saiba integrar uma equipe multiprofissional e multidisciplinar, focada 
na inclusão do usuário, na construção de uma rede de cuidado intersetorial e na adaptação de sua prática 
clínica às necessidades do sujeito. A prática em saúde coletiva foca na relação dos indivíduos dentro do 
território, sendo o sujeito um membro dessa coletividade. Seu processo de trabalho é multiprofissional, 
exigindo saberes inter e transdisciplinares para a gestão do cotidiano.
A formação do psicólogo ainda foca na patologia e no cliente individual, criando uma dicotomia 
na prática da saúde pública, em que o profissional lida com a complexidade da vida e do entorno do 
paciente, entre a formação acadêmica e a realidade prática, entre técnica, política, modelo e mercado.
O paradigma da Saúde Públicacoloca, além disso, outras ambiguidades, já 
que ela é, quase que por excelência, normativa; deve cuidar da vida, da 
coletividade. Tome‑se, por exemplo, as notificações compulsórias, para os 
casos de moléstias infecciosas, riscos, e, mais atualmente, casos de violência 
e maus‑tratos, tentativas de suicídios e suicídios. O psicólogo, perplexo, fica 
entre a discrição que protege o cliente, que lhe foi ensinada na escola, e a 
notificação à Vigilância de Saúde, que protege o direito dos indivíduos na 
política pública. A notificação de violência doméstica expõe quem é atendido, 
quem o trás e busca ajuda. Porém a notificação é importante para proteção 
58
Unidade II
destes mesmos indivíduos e do coletivo onde vivem. É função do psicólogo 
e de quem o forma encontrar maneiras de fazê‑la: quantas pessoas deverão 
ser envolvidas, que fato serão narrados, que ações serão empreendidas. 
É  este o cenário da possibilidade de encontro entre o sigilo em respeito 
ao envolvido/vítima, e o respeito ao dever político com o coletivo. Aqui as 
considerações passam pelo indivíduo – em cada caso haverá uma melhor 
solução – em cada caso haverá uma melhor solução – e pelas obrigações do 
coletivo (Campos; Guando, 2010, p. 93).
O exemplo mostra como a formação acadêmica pode gerar conflitos na prática, com psicólogos se 
escondendo atrás do código de ética ou recusando atendimentos devido à falta de formação específica. 
A situação revela que a singularidade do caso, incluindo o contexto da pessoa e sua inserção no serviço, 
deve ser discutida e avaliada, não se limitando apenas à formação teórica.
6.2 Desafios teóricos‑metodológicos e ético‑políticos da atuação do 
psicólogo no SUS
Nos anos de 1950 e 1960, a estatização da saúde, impulsionada por organismos da ONU, coexistiu 
com o modelo preventivista, que, segundo Sergio Arouca, apresentava um dilema. Embora o modelo 
defendesse a prevenção de doenças, ele individualizava o adoecimento, ignorando as condições 
concretas de vida. Isso levou o Estado a apoiar uma visão liberal, centrada na prática médica e no uso de 
insumos da indústria farmacêutica e tecnologias em saúde, refletindo uma visão limitada e financiada 
pela indústria da saúde.
No século XX, o Brasil passou por um processo de construção da nação, com destaque para a saúde 
pública. Na primeira metade do século, o sanitarismo campanhista foi fundamental e, nos anos 1950, a 
lógica hospitalar da indústria da saúde se somou ao sanitarismo, impulsionada pela indústria incipiente. 
Já nessa época, havia mobilizações por um sistema de saúde regionalizado e de responsabilidade 
estatal, como evidenciado pela III Conferência Nacional de Saúde de 1963. Contudo, com a ditadura 
militar de 1964, alinhada aos Estados Unidos, as iniciativas progressistas no país foram enfraquecidas, 
especialmente no contexto da Guerra Fria.
Com a chegada dos militares ao poder, houve uma diminuição da responsabilidade do Estado na 
execução de políticas públicas, incluindo na saúde. A Constituição de 1967 atribuía ao Estado apenas 
a elaboração de planos e normas, sem envolvimento na implementação de políticas. Setores da saúde, 
especialmente hospitais, foram entregues ao interesse privado, com financiamento público. O ensino de 
saúde retornou ao modelo de Abraham Flexner, focando na doença individual. Como resultado, várias 
epidemias controladas anteriormente voltaram a se espalhar devido ao abandono da saúde pública e à 
estratégia de medicalização social.
Durante o período ditatorial, o modelo de saúde pública brasileiro, que estava em construção 
de forma mais abrangente, foi destruído e abandonado. A construção foi interrompida, e o modelo 
campanhista (baseado em campanhas para combate a epidemias) do início do século foi retomado, 
com foco em um complexo médico‑hospitalar, tudo sob o regime militar. Antes da Constituição Federal, 
59
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
a ideia de atenção primária à saúde, isto é, AB, já discutida globalmente desde a Conferência de Alma 
Ata em 1978, surgia como uma possível mudança radical para melhorar a saúde nos países, visando a 
manutenção e potencialização da vida.
Sob a influência da Conferência de Alma Ata e dos Princípios do SUS, a AB passou a ser vista como 
o espaço capaz de abordar de forma integral os fenômenos relacionados ao adoecimento, considerando 
sua natureza multifacetada e biopsicossocial. No entanto, a AB enfrentou grandes desafios para superar 
os interesses econômicos consolidados e as percepções sociais sobre saúde que haviam se formado ao 
longo do século.
O setor de saúde no Brasil, conforme previsto na Constituição, permitiu a complementaridade do 
setor privado, o que resultou em mudanças tímidas no sistema de saúde. Durante os anos 1990, as 
transformações na AB foram limitadas, com sua implementação e financiamento de forma inadequada. 
A atenção médico‑hospitalar, embora prevista como universal, ficou dividida entre o público 
pagante e com planos de saúde, criando uma saúde seletiva, tornando a AB principalmente para a 
população mais pobre.
A partir da década de 1980, práticas semelhantes à AB começaram a surgir em condições precárias, 
como no semiárido do Ceará, por meio de programas como os Agentes Comunitários de Saúde e de 
postos de saúde em regiões com grandes problemas, oferecendo vacinas e medicamentos. No entanto, 
a AB formalmente começou a ser implementada a partir de 1994 com o PSF, financiado pelo Banco 
Interamericano de Desenvolvimento, mas com uma abordagem seletiva quanto aos serviços e população 
atendida. A política econômica e o modelo biomédico centrado nos hospitais influenciaram a instalação 
da AB, resultando em uma medicina simplificada voltada para a população pobre, tanto em áreas 
urbanas quanto rurais.
A AB foi oficialmente estabelecida com nível de atenção em saúde em 1997, por meio do documento 
“Saúde da Família: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial”. Essa mudança de 
“programa” para “estratégia” visava revisar as concepções de saúde, com base nas propostas de Alma 
Ata, buscando a integração das ações de saúde de forma territorializada, e não vertical. A AB passou a 
ser vista como uma abordagem mais relacional e integrada, com foco na continuidade do cuidado e na 
abordagem biopsicossocial da saúde e doença, sempre próxima à realidade das pessoas.
Apesar dos avanços institucionais, a AB manteve uma lógica seletiva, com financiamento insuficiente 
e convivendo com um sistema hospitalar e ambulatorial centralizado. A AB continuou a atender apenas 
uma parte da população, enquanto o setor privado, como planos de saúde e hospitais, crescia dentro da 
lógica de mercado. Nos primeiros anos, a AB, embora oficializada como política pública, ainda combinava 
uma abordagem epidemiológica com uma ideia vaga de transformação nos processos de trabalho e 
cuidado, sem uma mudança efetiva na ética do setor.
Na década de 2000, a Atenção Básica começou a demonstrar maior eficácia na saúde da população, 
especialmente com a criação da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) em 2006 – tendo revisões 
em 2011 e 2017 –, por meio de portarias ministeriais que alinharam a AB aos princípios constitucionais 
do setor de saúde no Brasil.
60
Unidade II
No início do século XXI, a AB passou a ser vista como um ponto estratégico para um sistema de saúde 
biopsicossocial, indo além da retórica. Esse papel central da AB também abriu espaço para a psicologia, 
permitindo sua contribuição técnica e política. A AB passou a ser parte de uma rede poliárquica, não 
mais hierarquizada, conforme a perspectiva técnica de redes de saúde.
Com esses avanços, a AB passou a exigir cada vez mais a atuação da psicologia, especialmente 
no que se refere ao conceito de território, presente na PNAB. O território envolve o conhecimento 
das necessidades de saúde da população, considerando suas condições de vida, e está diretamente 
relacionado às perspectivas da psicologia, que aborda a interação entre a sociedadee a subjetividade.
A PNAB busca superar abordagens simplistas que veem a assistência e a promoção da saúde como 
opostas, reconhecendo que a ação deve considerar os múltiplos determinantes e condicionantes dos 
fenômenos de saúde no território.
A fim de exemplificar as possibilidades e alcance da Atenção Básica, sob 
a égide da riqueza fenomênica que envolve sua presença no território, 
vejamos algumas dessas extensões:
– A AB pode açambarcar, a um só tempo, toda a população de um 
território, realizando ações que sejam fundamentais para o “caminhar 
pela vida”, como controle de doenças, por meio de vacinas; prevenção 
de afecções comumente presentes na vida das pessoas, contabilização 
e análise de dados de vigilância em saúde;
– A AB pode fazer o acompanhamento de etapas e condições específicas 
da vida, não necessariamente relativas a adoecimento, mas visando 
as potencialidades nessas situações, acompanhamento de gestação, 
puerpério e até as vicissitudes do envelhecimento;
– A AB tem potencial técnico e metodológico para acompanhar 
situações complexas como situações de recuperação após 
hospitalizações, inclusive para dar seguimento após tratamentos de 
alta complexidade, como o câncer;
– A AB tem no seu escopo a possibilidade de desenvolver práticas de 
promoção da saúde, que envolvem o desenvolvimento de hábitos 
de vida que potencializam a relação com o corpo em sua plenitude 
máxima, como prática de exercícios, e convivências em processos 
de rede; mas na perspectiva da integralidade envolve prevenção de 
doenças e agravos, tratamento, reabilitação e redução de danos ou 
de sofrimentos das pessoas adstritas ao seu território;
– A AB tem como premissa se relacionar intersetorialmente com 
outras políticas públicas de saúde localizadas no território; ou 
61
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
com instituições de outra natureza, ou mesmo com a organização 
comunitária de maneira mais geral, de modo a fazer a gestão 
de práticas que alcancem objetivos relativos ao zelo pela vida e a 
potencialização das pessoas;
– A AB é locus potencial de cuidado em saúde mental, tendo em vista 
estar embrenhada na vida das relações da comunidade e poder 
funcionar como potencializadora de desenvolvimento e/ou resgate 
de vínculos entre pessoas com história de sofrimentos psíquicos 
severos e persistentes;
– A AB pode fazer seu projeto de trabalho, para além de levar em conta 
as diretrizes pactuadas nacionalmente. Ela tem como premissa realizar 
atividades participativas junto ao território que pode colaborar no rol de 
atividades projetadas.
– A AB, pela sua organização territorial, tem a potência de indicar políticas 
voltadas às populações e situações específicas. E tem sido estabelecido 
a partir dela políticas direcionadas à saúde de pessoas que vivem 
em situações de rua, os Consultórios na Rua, ou ainda o trabalho de 
atenção primária a populações ribeirinhas. Outras políticas podem ser 
articuladas ao espaço da AB, na perspectiva de se ter ampliado o ethos 
nesses espaços (Conselho Federal de Psicologia, 2019b, p. 25‑26).
Com a criação da PNAB, houve uma maior aproximação com os fenômenos presentes nos territórios, 
permitindo à psicologia da saúde atuar na ampliação da ética do cuidado, considerando as realidades 
locais. A ética pessoal foi resgatada, promovendo práticas de resistência à medicalização, impessoalidade 
e burocracia. A partir da PNAB, também foram incorporados os Núcleos de Apoio à Saúde da Família Nasf, 
em 2008, permitindo à psicologia uma atuação mais estruturada no apoio a fenômenos que iam além da 
lógica médica tradicional, especialmente em saúde mental.
 Lembrete
O SUS foi criado pela Constituição de 1988, após anos de luta do 
Movimento Sanitário, sendo, assim, fruto de lutas sociais. Os princípios 
do SUS – universalidade, equidade, integralidade, participação popular e 
controle social – têm relação direta com a luta pela democracia.
Os Nasf permitiram a inserção da psicologia na AB, embora enfrente desafios, como cobrir grandes 
populações e territórios, com demandas de trabalho complexas e metodologias diversificadas. Cada 
equipe de Nasf, composta por cinco profissionais de saúde, atende cerca de 20 mil pessoas, o que 
dificulta a prática da psicologia. A partir da PNAB, foi possível integrar novas tecnologias assistenciais, 
como educação permanente, matriciamento e projetos terapêuticos, e reconfigurar a AB dentro da rede 
62
Unidade II
de saúde, corrigindo a visão anterior de “rede básica”, fazendo com que a AB passasse a ser vista como 
parte central dentro do sistema de saúde, em vez de uma rede separada.
Com a PNAB, a AB passou a ter maior visibilidade sobre os fenômenos apresentados a ela. Isso foi 
corroborado pela ideia de “trabalho vivo” de Emerson Elias Merhy, que envolve três tipos de tecnologias: 
a dura (como diagnósticos e prescrições), a leve‑dura (como indicações de cuidados) e a leve (que inclui 
ouvir a pessoa e entender suas dificuldades). Quando a prática de saúde não integra essas diferentes 
tecnologias, ela se torna desconectada do paciente e não gera transformações, resultando em um 
“trabalho morto”.
O trabalho vivo é centrado na relação, no vínculo, acolhimento e no uso integrado de todas as 
tecnologias, sendo essencial para lidar com os fenômenos na AB. Práticas como acolhimento e clínica 
ampliada são fundamentais, pois exigem a criação de um ethos no serviço e na prática, ampliando 
as normas biológicas tradicionais. Nesse contexto, a psicologia pode fazer uma grande contribuição, 
ajudando a redefinir essas práticas de cuidado.
O acolhimento é uma prática que, ao considerar o sujeito em sua totalidade, leva em conta suas 
condições de vida e adota uma postura inclusiva em relação a sofrimentos relacionados à marginalização, 
exclusão ou violência. Ele não pode negligenciar questões como violência doméstica, racismo e 
diversidade sexual, já que estas estão ligadas a práticas divisórias nos direitos e geram sofrimento.
A clínica ampliada é uma tecnologia de cuidado que aborda tanto o indivíduo quanto o coletivo, 
conforme a PNAB. Ela busca construir vínculos positivos e intervenções eficazes, centradas na pessoa 
e visando aumentar a autonomia de indivíduos e grupos sociais. Além disso, ela reconhece que os 
fenômenos de saúde são múltiplos e requerem um encontro com o sujeito e suas demandas, considerando 
não apenas o aspecto biológico, mas também as condições do território, como espaço de vida, vínculos 
e projetos de vida.
A AB, em meio a práticas sociais, foi sendo ampliada na medida em que 
foi revisada com relação a espaço de normatividades biomédico‑centradas. 
Nesse percurso tem sido fundamental uma política que tornou mais próximo 
do exequível o financiamento com o estabelecimento de tecnologias 
biopsicossociais para além da retórica, sua articulação com outras políticas 
com vieses democráticas no âmbito das políticas públicas, sejam elas as de 
saúde ou intersetoriais como o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), 
Educação, Justiça e as outras políticas públicas. Em meio a esse processo 
pode ser destacada uma última busca de reorganização do sistema, agora 
vislumbrando a direção para a gestão dos serviços: o Decreto n. 7508/11 
(Conselho Federal de Psicologia, 2019b, p. 31).
Esse decreto estabeleceu a territorialidade e a responsabilidade dos gestores pela organização da 
saúde em Regiões de Saúde, com pontos de atenção estratégicos, incluindo a AB, e sua articulação em 
redes. Destaca‑se a criação da Rede de Atenção Psicossocial dentro dessas regiões e a implementação 
do Contrato de Gestão em Saúde, tornando os gestores responsáveis pela manutenção dos serviços 
63
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
pactuados. Caso não cumpram os planos de saúde estabelecidos para sua região, os gestores podem ser 
responsabilizados civilmente.
6.3 Relatos de experiência
Como já acentuado, muitas são as possibilidades de atuação da psicologia no SUS. É possível atuar 
em todos os níveis de atenção àsaúde: primária, secundária e terciária. Ainda, há a possibilidade de 
atuação em equipamentos como UBS, Centros de Referência em DST/Aids (atenção primária), UPA e 
Caps (atenção secundária), hospitais, centros de cirurgia e diagnóstico avançado e clínicas oncológicas 
(atenção terciária). São muitas as possibilidades de atividades e atuação, passando por prevenção em 
saúde mental, acolhimento, atendimento clínico, atendimento comunitário, atendimentos em grupos 
para públicos específicos, acompanhamento psicológico de pessoas adoentadas, atendimento a pessoas 
enlutadas etc.
Assim, serão apresentados três relatos de experiências de atuação de psicólogas e psicólogos no SUS. 
Aqui, vale retomar a ideia de desconstrução de um modelo clínico privatista e a valorização de um modelo 
que promova a saúde enquanto direito coletivo, mais ligado a democracia e aos direitos humanos.
O primeiro exemplo (Mota; Costa, 2017) traz a atuação de uma psicóloga no Caps no município de 
São José dos Quatro Marcos, no estado do Mato Grosso. O segundo exemplo (Santos; Casado, 2022) traz 
a atuação de estagiários do curso de Psicologia em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) no município 
de Belém, no estado do Pará. O terceiro exemplo (Colosio et al., 2007) traz a atuação de um psicólogo 
pesquisador em dois CTA (Centro de Testagem e Aconselhamento) no município de São Paulo, estado 
de São Paulo.
No artigo de Mota e Costa (2017), nosso primeiro exemplo, as autoras têm como objetivo “fomentar 
a discussão sobre os desafios na reconstrução cotidiana do ser psicólogo, promover saúde mental, 
reabilitação psicossocial, participação social, entre outros” (Mota; Costa, 2017, p. 834). Para tanto, as 
autoras acompanharam o trabalho de uma psicóloga concursada que atuava no Caps I do município de 
São José dos Quatro Marcos, no estado do Mato Grosso. As experiências da psicóloga foram relatadas e 
analisadas a partir da identificação de desafios e dificuldades relativos ao trabalho no Caps. Em relação 
às atribuições da psicóloga, escrevem as autoras:
Foi realizado acolhimento, avaliação psicológica, observação e atendimento 
individual com usuários de diagnóstico recente e que não se adequaram 
às atividades de grupo, norteadas pela formação do estágio em Psicologia 
clínica na abordagem existencial fenomenológica (Mota; Costa, 2017, p. 835).
Um dos grandes desafios encontrados foi a forma de lidar com a questão culturalmente estabelecida 
da institucionalização como prática em saúde mental. Embora um dos princípios do Caps seja o das 
portas abertas, via‑se o fenômeno da cronificação da doença mental enquanto vivência psicossocial. 
Os pacientes com transtornos mentais leves, que poderiam se libertar das amarras institucionais das 
práticas psiquiátricas medicalizantes, mostravam apatia e submissão veladas.
64
Unidade II
Muitos desses usuários frequentavam o serviço desde o início do seu 
funcionamento, e havia receio da equipe em colocar limites na relação de 
assistência do serviço, no sentido de reduzir gradativamente a frequência 
do mesmo até encaminhar para outros espaços da comunidade que lhes 
oferecesse lazer e convivência. [...] Apesar das portas e portões abertos, 
era como se no CAPS as pessoas que o frequentavam até então também 
desenvolvessem nova cronicidade, organizando sua rotina em torno da 
instituição, desenvolvendo atividades que poderiam ser realizadas em outros 
serviços públicos de saúde e de assistência social, limitando seu percurso 
pela cidade e suas relações interpessoais (Mota; Costa, 2017, p. 835).
Já os pacientes com transtornos mentais mais severos frequentavam o serviço para atualização de 
receita médica e encaminhamento para a internação. A questão da busca por novas formas de inserção 
social do usuário de serviços de saúde mental, preconizada pela Reforma Psiquiátrica, não era praticada 
no momento observado pelas pesquisadoras. Estava colocado o desafio de romper com as barreiras 
institucionais e psicossociais que reforçam o estigma de pacientes de serviços de saúde mental.
Observou‑se que havia uma dificuldade na equipe de saúde do Caps em abandonar as práticas 
psiquiátricas medicalizantes. Quando novas formas de tratamento eram propostas, havia um 
estranhamento inicial, tanto por parte da equipe quanto por parte dos pacientes.
Mais do que o tratamento/controle da doença neste paradigma, era 
necessário pensar a perspectiva do cuidado e da reabilitação psicossocial, 
a ampliação das relações pelo que os usuários ainda possuíam de saudável 
sem deixar de considerar os impactos que a doença gerava na sua vida 
e a utilização das mais variadas estratégias terapêuticas para que a 
vida  desses sujeitos se desenrolasse em outros espaços comunitários 
(Mota; Costa, 2017, p. 836).
Ou seja, iniciou‑se a busca por novas propostas de tratamento. Retomaram‑se as ideias da Reforma 
Psiquiátrica, e a equipe (não sem resistência) pôde discutir novas propostas. Uma delas foi a realização 
do Projeto Terapêutico Singular (PTS) juntamente com cada paciente. Isso deu uma nova dimensão 
subjetiva à experiência no Caps, e os pacientes passaram a se sentir mais autônomos e empoderados, 
já que a possibilidade de discutir sobre o próprio tratamento trazia a possibilidade de discutir sobre seu 
próprio destino, o que por si só já tem um efeito terapêutico.
Outra iniciativa importante foi a proposta de realização de assembleias com a equipe, os usuários 
e os familiares dos usuários. Foram implementadas oficinas de geração de renda, oficinas de expressão 
subjetiva e também um cinedebate, em que eram exibidos filmes sugeridos pelos usuários para discussão 
posterior. Propostas que na perspectiva psiquiatra tradicional não fazem sentido, mas que, na perspectiva 
de uma atenção à saúde mental pautada por ideias da Reforma Psiquiátrica, traziam efeitos na saúde 
mental, justamente porque quando se considera a autonomia e a cidadania como componentes da 
saúde, promovem‑se bem‑estar e sentimento de pertencimento.
65
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
Uma questão fundamental nessas práticas foi o desenvolvimento de vínculos, já que é no vínculo 
social que a saúde mental se realiza enquanto fenômeno. A importância do vínculo traz a ideia de que 
não é apenas a saúde do paciente que está em jogo. Todos os envolvidos, da equipe até os familiares e 
as comunidades, são parte do adoecimento e do tratamento.
A ocupação do CAPS por seus usuários não só proporcionou à equipe, 
mas principalmente a eles mesmos, o estabelecimento de um vínculo pela 
potência de saúde que sobreviveu a todo tipo de assujeitamento que eles 
passaram, e até mesmo um espaço para dar vazão aos delírios e alucinações 
como produção de subjetividade, ao invés de dopá‑los junto com os seus 
possíveis significados (Mota; Costa, 2017, p. 839).
O segundo exemplo, trazido por Santos e Casado (2022), relata a experiência de grupos de estudantes 
no estágio “Multicampi Saúde”, projeto realizado pela Universidade Federal do Pará. A atuação dos 
estagiários de deu na UBS do bairro da Cremação, no município de Belém, capital do estado do Pará. 
A UBS em questão está localizada em um bairro onde a desigualdade socioeconômica é visível, pois está 
entre os bairros mais ricos e os mais pobres da cidade.
Para realização do estágio, antes de ir a campo, os estudantes fizeram um curso de capacitação. 
O curso tinha um olhar inter e multidisciplinar para a atuação em saúde.
 
A psicologia se faz presente no cotidiano da Atenção Básica, atuando a 
partir de princípios profissionais e éticos da mesma e do SUS, enfatizando 
a importância em um prol coletivo dentro de um campo de extrema 
importância para produção de novas perspectivas em saúde. É nesse espaço 
que também se encontraram temáticas que dizem respeito ao usuário 
enquanto sujeito político, e que sofre de opressões nos âmbitos de raça, 
gênero, classe social, orientação sexual, trabalho etc. Assim, entende‑se que 
o psicólogo deve atuar considerando todo o histórico socioculturalde cada 
indivíduo, para então compreender seu processo de adoecimento em sua 
totalidade (Santos; Casado, 2022, p. 708).
Ao ser inserido no campo, em um primeiro momento, o grupo de estagiários foi recebido pela 
preceptora de campo, uma enfermeira, que explicou e mostrou o funcionamento da unidade. Em 
um segundo momento, foi realizada coleta de informações junto aos pacientes, com a finalidade de 
identificar demandas e proporcionar acolhimento.
A partir daí, os estagiários foram inseridos em diferentes setores da UBS e experienciaram as diversas 
formas de atuação do psicólogo no campo da saúde pública:
• Acompanhamento pré‑natal: observação dos procedimentos médicos e exames no pré‑natal, 
ao mesmo tempo que se buscava identificar demandas psicológicas, por exemplo, o sofrimento 
de gestantes de alto risco, estresse ocasionado por problemas conjugais, casos de violência 
obstétrica, aborto espontâneo, morte de recém‑nascido etc. Adolescentes grávidas também eram 
66
Unidade II
acompanhadas e acolhidas pela equipe de psicologia, além de ser realizada uma iniciativa de 
psicoeducação nas escolas do bairro sobre a temática da gravidez na adolescência.
• Acompanhamento do desenvolvimento infantil: crianças com idade de zero a 2 anos, com suas 
respectivas famílias, eram monitoradas para identificação de demandas emocionais em relação à 
dinâmica familiar vivenciada no puerpério.
• Clínica geral e encaminhamento para serviços especializados: foram supervisionadas 
consultas gerais, exames gerais e específicos, atendimento a ferimentos diversos, e tratamento de 
tuberculose. Foi explorada a questão da evasão de tratamentos, assim como foram acompanhados 
encaminhamentos para o Caps e os CTA.
• Saúde da mulher: exames de prevenção do câncer no colo do útero tiveram acompanhamento. 
A questão da violência doméstica também teve a atuação da equipe de psicologia, com a promoção 
de rodas de conversa entre as pacientes.
• Saúde do homem: durante o ”novembro azul” (mês de prevenção ao câncer de próstata), 
foi realizada uma atividade que promoveu escuta para os homens que estivessem na UBS. 
O engajamento na escuta coletiva foi baixo, mas alguns homens procuraram posteriormente a 
equipe para tratar de questões individuais.
• Saúde mental: algumas consultas em caráter de psicologia clínica foram acompanhadas. A partir 
delas, seguiu‑se uma discussão sobre o modelo clínico individual e foram discutidas propostas 
coletivas de promoção de saúde mental. Uma dessas ações foi uma atividade na sala de espera, 
discutindo o tema da saúde mental.
• Saúde do idoso: participação no encontro mensal dos idosos usuários da UBS, promovido pela 
psicóloga e assistente social. Posteriormente, foi realizado um grupo sobre depressão.
Com essas experiências, algumas reflexões importantes surgiram a partir do relato dos estagiários:
Considerando os temas encontrados no cotidiano da experiência na UBS e 
como se deu o desenvolvimento de habilidades e intervenções referentes 
à prática da Psicologia, percebe‑se a interdisciplinaridade como item 
fundamental em uma ação de atenção à saúde, seja nas intervenções 
em conjunto com outros estagiários de outros cursos de saúde, como 
enfermagem, ou no diálogo intersetorial para identificar demandas e poder 
elaborar ações com ponto de partida (Santos; Casado, 2022, p. 727).
Também foi ressaltada a importância da psicologia na identificação e acolhimento de demandas 
emocionais e psicossociais, sendo que o conhecimento e a consciência sobre os processos coletivos 
relacionados à saúde são condições para a promoção de práticas que estejam em consonância com os 
princípios do SUS.
67
POLÍTICAS PÚBLICAS E PSICOLOGIA
 Observação
A atuação profissional do psicólogo no campo da saúde e da assistência 
social deve estar fixada em políticas públicas. Como complemento, as 
atividades desenvolvidas em estágios curriculares são válidas, com muitas 
delas sendo apresentadas em artigos de relato de experiência.
 
O terceiro exemplo de atuação está no artigo de Colosio et al. (2007). Trata‑se de uma pesquisa 
feita sobre uma intervenção em grupo, denominado grupo operativo (a partir da proposta de Enrique 
Pichón‑Rivière), no trabalho de prevenção de infecção pelo HIV. O estudo foi dirigido à população de 
HSH (homens que fazem sexo com homens, ou seja, gays e bissexuais), com foco nos usuários de dois 
centros de testagem e aconselhamento da cidade de São Paulo, onde essa seleção se deu devido à alta 
demanda e aos altos índices de testes positivos nesses locais. Foram convidados 147 usuários para 
participar, que receberam explicações sobre o estudo, assinaram o termo de consentimento informado 
e participaram de entrevistas individuais.
Realizou‑se um estudo de intervenção controlado, com alocação aleatória de voluntários, na sede 
do CRT‑DST/Aids (Centro de Referência em Testagem), em São Paulo. Inicialmente, foram formados 
grupos de intervenção e controle (100 voluntários, 50 em cada grupo), distribuídos por meio de sorteio 
realizado por uma pessoa não envolvida diretamente no recrutamento. O estudo utilizou um desenho 
metodológico de ensaio clínico aleatorizado, com grupo de controle, considerado eficaz na avaliação 
de intervenções. Esse método permite comparar os efeitos da intervenção, controlando as diferenças 
entre os grupos por meio da alocação aleatória, garantindo que eles sejam semelhantes, exceto pela 
intervenção em questão.
O grupo operativo desenvolveu‑se em cinco sessões semanais de uma 
hora e meia. O trabalho foi conduzido por dois coordenadores, psicólogos 
especializados neste procedimento de intervenção e um observador 
(anotações para posterior trabalho de supervisão). Todas as sessões foram 
registradas em fita cassete e transcritas. Ao início dos trabalhos de grupo, 
os coordenadores esclareceram dúvidas sobre a pesquisa e apresentaram a 
tarefa (conceito definido para grupo operativo): discutir sobre as relações 
entre “proteção e sexualidade” (Colosio et al., 2007, p. 951).
A condução dos grupos operativos seguiu as orientações de Pichon‑Rivière e Fernandes, com 
foco na articulação entre pensamento e afeto. O trabalho visou identificar fantasias inconscientes e 
os mecanismos de cisão e enrijecimento no grupo, criando espaços para desenvolver associações que 
promovam a ressignificação das representações conscientes sobre a proteção contra o HIV, além de 
possibilitar que as representações inconscientes se tornassem conscientes.
68
Unidade II
Observou‑se diminuição do número médio de ocasiões com prática de sexo anal desprotegido entre 
os participantes do grupo de intervenção e aumento deste número médio entre os participantes do 
grupo de controle.
Os resultados do estudo indicam que HSH podem se beneficiar de um programa de prevenção 
utilizando o grupo operativo. Esse efeito positivo, observado mesmo após seis meses, foi notado tanto 
nas práticas sexuais com uso de preservativo quanto nas crenças, atitudes e conhecimento sobre a 
infecção pelo HIV.
O estudo permitiu identificar que é possível construir contextos mais amplos valendo‑se da 
articulação de afetos pessoais e grupais, a fim de promover uma maior compreensão de como essa 
comunidade pode se proteger do HIV.
Isto se deu à medida que os participantes tomaram contato com contradições 
em seus discursos, nas polarizações da defesa de ideias, na superação de 
enrijecimentos e tensões que surgiram no processo grupal. Estes foram 
momentos do grupo promovidos pelo surgimento e articulação de 
questões (representações) tais como: identidade gay (revelar‑se/ocultar‑se), 
relacionamentos amorosos (abertos/fechados), representações sociais sobre 
o gay (preconceito/exaltação, o olhar da ciência), pacto conjugal (protetor/
opressor), funções do gueto (exclusão/proteção), diferenças e atritos na 
subcultura homossexual (pobre/rico, festivo/discreto, jovens/coroas) (Colosio 
et al., 2007, p. 954‑955).
Ademais, o estudo destaca a importância de considerar contextos mais amplos

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