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1 
OS FEDERALISTAS E O GOVERNO NACIONAL: COMÉRCIO, TRIBUTOS E 
EXÉRCITO 
 
Camila Oliveira do Valle (Ciência Política, Universidade Federal Fluminense) 
Claudio de Farias Augusto 
 
 
Federalistas – Governo – Exército 
1. Introdução 
Num contexto de conflitos e de ampla participação nos legislativos estaduais, 
Hamilton, Madson e Jay argumentam pela criação de um governo nacional, central, que 
seria a oportunidade para a paz e a liberdade dos Estados como barreira contra as 
facções e a insurreição doméstica. Os Federalistas encontram a noção de “união” para 
melhor garantir a segurança em “O Espírito das Leis”, de Montesquieu, que trata da 
república confederada no capítulo “como as repúblicas garantem sua segurança”, do 
livro “das leis em sua relação com a força defensiva”. 
Inspirados em Locke e Montesquieu, os Federalistas desenvolvem um projeto 
de “nação”, participando dos debates de elaboração da Constituição dos Estados 
Unidos, vigente ainda hoje. Rebatendo as críticas dos Antifederalistas, argumentam na 
defesa da Constituição e da criação de um governo central, legitimado pelo povo. Nesse 
sentido, a pesquisa objetiva verificar como os Federalistas relacionam a necessidade de 
um governo nacional com a segurança e o exército permanente. 
 
2. O governo central e a segurança 
 
Segundo Hamilton, as conseqüências da deliberação e aceitação de uma nova 
Constituição para os Estados Unidos da América envolvem a existência da União, a 
segurança e a prosperidade das partes que a compõem, o destino de um país. A crise em 
que os Estados Unidos estariam seria o momento para tomar uma decisão como essa. Os 
Federalistas buscam justificar governo no consentimento do povo, daí os inúmeros 
artigos com esse objetivo. 
 2 
Para os Federalistas, o povo da América deve ficar unido sob um único 
governo federal, investido de poderes suficientes para todos os propósitos gerais e 
nacionais. Uma das principais argumentações em prol do governo único é a 
demonstração de força, de grandeza, a proteção contra agressão externa. A outra é a 
ameaça interna, as guerras civis e revoltas, que poderiam ser mais facilmente reprimidas 
por um governo único que por uma Confederação. Uma firme União será a 
oportunidade para a paz e a liberdade dos Estados como barreira contra o facciosismo e 
a insurreição domésticas. Para os Federalistas, a garantia da segurança é o primeiro 
objeto a que um povo sábio e livre julga necessário dirigir sua atenção. 
Essa noção de União para melhor garantir a segurança é desenvolvida por 
Montesquieu, que sustenta que, se uma república é pequena, destrói-se por uma força 
estrangeira, e se é grande, por um vício interno. Segundo o pensador francês, há grandes 
indícios de que os homens teriam sido obrigados a viver sempre sob o governo de um só 
caso não tivessem imaginado a república federativa, um tipo de constituição que possui 
todas as vantagens internas do governo republicano e a força externa da monarquia. 
Essa forma de governo é uma convenção pela qual vários corpos políticos consentem 
em se tornar cidadãos de um Estado maior que querem formar. É uma sociedade de 
sociedades, que dela fazem uma nova, a qual pode ser aumentada pela união de novos 
associados. Assim, as repúblicas, para garantir sua segurança, devem se unir. 
Se os Antifederalistas usaram Montesquieu para afirmar que a república é um 
governo dos Estados pequenos, Hamilton busca em Montesquieu a noção de Estados 
federados e, portanto, a união das repúblicas. E sustenta que a Constituição proposta, 
longe de implicar uma abolição dos governos estaduais, torna-os partes integrantes da 
soberania nacional, ao conceder a eles uma representação direta no Senado, e deixar em 
suas mãos porções exclusivas e importantes do poder soberano, o que corresponderia à 
idéia de um governo federal. 
Mas, ao contrário do que sustenta Hamilton - que o governo uno deve ter sua 
autoridade sobre indivíduos e não sobre coletividades - e Madison - que sustenta que o 
vício da Confederação está no principio da legislação para Estados ou governos em seu 
caráter de corporações ou coletividades, em contraposição à legislação para os 
indivíduos que os compõem -, a concepção de Montesquieu de república confederada 
parece conferir ao governo maior autoridade sobre as repúblicas, ou seja, é uma 
 3 
convenção pela qual vários estados menores concordam em se tornar membros de um 
maior, é uma união de sociedades. 
Nesse sentido, parece-me que a argumentação de Montesquieu faz mais 
sentido à defesa dos Antifederalsitas, que sustentam a autoridade sobre Estados, que a 
dos Federalistas, que buscam um governo sobre indivíduos, ainda que, ao longo dos 
artigos, os Federalistas tenham mostrado que o governo uno é um governo tanto 
nacional como federal, ou seja, que em alguns aspectos age sobre indivíduos e, em 
outros, sobre Estados. 
Montesquieu afirmou e Madison reproduziu, que os outros Estados serão 
capazes de sufocar uma insurreição popular que ocorra em um dos Estados. Os 
Federalistas preocupavam-se com uma “infeliz espécie de população que abunda em 
alguns Estados e que, se mergulhou abaixo do nível dos homens durante a calmaria do 
governo regular, pode recobrar o caráter humano e dar superioridade de força a qualquer 
partido a que se associe” (HAMILTON et al, 1993: 311). 
Buscando combater os opositores de um governo central, os Federalistas 
afirmam que entre os obstáculos que a nova Constituição terá que enfrentar estão o 
interesse de certa classe de homens em todos os Estados em resistir a todas as mudanças 
que podem ocasionar uma diminuição do poder, emolumento e importância dos cargos 
que detêm nos órgãos estaduais e a ambição pervertida de uma oura classe de homens, 
que pretenderão se promover às custas das confusões de seu país, ou se iludirão vendo 
melhores perspectivas de ascensão na subdivisão deste em várias confederações parciais 
que em sua união sob um só governo. Mas se a crítica dos Federalistas parece reduzir os 
opositores à ambição, cabe analisar a situação em que se encontravam os Estados 
Unidos, a fim de mostrar que o debate vai além do que os Federalistas apresentam em 
seus Artigos. 
Kramnick (1993), analisando a situação dos Estados Unidos na época da 
Independência e da elaboração da Constituição, afirma que, para muitos americanos, em 
meados de 1770, a independência era o único significado da Revolução, mas para outros 
ela envolvia, também, o repúdio das formas coloniais tradicionais de governo e o 
repúdio às elites tradicionais que tinham dominado a vida política e social na América 
colonial. E foi esse ideal igualitário que tendeu a dominar após 1776, durante o período 
da primeira Constituição americana, os Artigos da Confederação. Após 1776, homens 
 4 
novos, bastante humildes em muitos casos, chegaram ao poder na América. Kramnick 
sustenta que a criação da Constituição foi em grande parte uma reação ao poder desses 
homens novos e aos programas igualitários que desenvolveram em seus principais 
pontos de apoio, os legislativos estaduais. Ao deslocar o poder dos Estados, onde os 
homens novos estavam atuando e dominando, para um governo central, a Constituição 
inverteu o veredicto de 1776 sobre quem governaria a América. A Constituição e o ano 
de 1787 representam o triunfo de uma interpretação da Revolução sobre outra. 
Segundo os autores Federalistas, os princípios de 1776, que impulsionaram a 
Guerra de Independência, teriam gerado um governo que prezaria demais a liberdade, 
produzindo a “falta de energia na administração do governo”. Em 1776 são formulados 
e, em 1777, aprovados pelo Congresso Continental os Artigos da Confederação, quevão 
guiar a política americana durante os anos seguintes. 
 Segundo os Artigos, o poder estava nos Estados separados, concentrado nos 
legislativos populares, em detrimento de qualquer compromisso com a separação de 
poderes. Baseados na teoria republicana que prescrevia que a liberdade só florescia em 
Estados pequenos, os fundadores acreditavam que os direitos alienáveis da liberdade e 
da busca de felicidade estariam mais bem protegidos por governos estaduais pequenos e 
locais. Assim, conservaram-se as treze soberanias separadas, havendo o Congresso 
continental como única instituição central, porém, sem grande poder. Em função disto, 
os Estados competiam entre si e guardavam sua liberdade e, ao mesmo tempo, 
permitiam uma maior influência popular. Em todas as constituições estaduais, o 
legislativo fazia-se dominante, e praticamente todas exigiam eleições anuais para seus 
legisladores e impunham esquemas de rotatividade. A política de liberdade sob os 
Artigos, portanto, se expressava também num igualitarismo agressivo. Entre 1776 e 
1789 o sufrágio foi ampliado na maioria dos Estados, de tal forma que 70% a 90% de 
todos os adultos do sexo masculino tornaram-se elegíveis. Isto produziu uma mudança 
no tipo de homem eleito para os legislativos estaduais, havendo um aumento no número 
de agricultores pequenos e médios e de homens de recursos modestos em geral. Morris, 
que posteriormente defende a Constituição de 1787, afirma que “o populacho começou 
a pensar e a raciocinar”. “A preocupação de muitos que repudiaram os Artigos na 
convenção Constitucional seria não simplesmente o imenso poder dos legislativos, 
abstratamente considerados, mas o conteúdo substantivo da legislação aprovada por 
 5 
esses legislativos todo-poderosos, pois ele ameaçava interesses econômicos adquiridos e 
direitos privados. A natureza redistributiva de parte tão grande da legislação emanada 
dos legislativos estaduais nesse período é que enraiveceu os críticos dos Artigos” 
(HAMILTON et al, 1993: 17). Programas específicos, desenvolvidos pelos legislativos, 
eram tão ameaçadores para os direitos de propriedade, que despertavam escândalo. 
Os Federalistas preocupavam-se com o excesso de poder popular, daí o 
desenvolvimento de uma teoria que sustenta a existência de um governo central, 
afastado das localidades. A grande motivação, ao defender a construção de um governo 
central, era tirar o poder dos legislativos estaduais e, em especial, do povo, 
concentrando num poder central distante do controle popular. 
Hamilton era preocupado com a inter-relação entre comércio, Estados e 
política internacional, e evidencia que um estado poderoso é um Estado comercial. Os 
principais objetivos a serem atendidos pela união são a defesa comum dos membros, a 
preservação da paz pública, seja contra convulsões internas ou ataques externos, a 
regulação do comércio com outras nações e entre os Estados, a superintendência do 
intercurso político e comercial com países estrangeiros. Os poderes essenciais à defesa 
são recrutar exércitos, construir e equipar frotas, impor normas para o governo de 
ambos, dirigir suas operações e prover sua manutenção. Um governo cuja estruturação o 
torna incapaz de ser investido de todos os poderes que um povo livre deve delegar a 
qualquer governo seria um depositário inseguro e impróprio dos interesses nacionais. 
Sob o governo nacional, tratados, cláusulas de tratados e leis das nações serão 
interpretados num único sentido e executados da mesma maneira, o que traz mais 
segurança do que se fossem adjudicações em treze Estados diferentes ou três ou quaro 
confederações. E o governo nacional não estando afetado por circunstâncias locais, não 
será induzido a desviar a boa-fé e a justiça em função de prejuízo ou vantagem 
momentânea. Assim, segundo Jay, uma vez que violações, deliberadas ou acidentais, de 
tratados e das leis fornecem causas justas para a guerra, há menos razões para temer sob 
um governo geral uno que sob vários governos menores e, sob este aspecto, o primeiro é 
de todo propício à segurança do povo. Da mesma forma, quanto às causas justas da 
guerra que procedem da violência direta e ilegal. 
Segundo Hamilton, a força do executivo é uma característica central na 
definição de um bom governo, essencial para proteger a comunidade de ataques 
 6 
externos, para a administração de leis, para proteger a propriedade dos conluios 
irregulares e arbitrários que por vezes interrompem o curso regular da justiça, para a 
garantia da liberdade contra as investidas e assaltos da ganância, do facciosismo e da 
anarquia. 
Por trás da noção de segurança e de proteção, conforme argumentaram os 
Federalistas, está a propriedade. Ou seja, é a propriedade que os Federalistas buscam 
proteger com a criação de um governo central. O governo, para eles, precisa garantir 
que os diferentes indivíduos desenvolvam suas aptidões para que possam ter suas 
propriedades. Ao considerar que as causas latentes do facciosismo se enraízam na 
natureza humana, Madison naturaliza tanto as aptidões humanas como suas 
conseqüências, ou seja, a propriedade que vem em decorrência dessa aptidão. 
Madison sustenta que as causas do facciosismo não podem ser eliminadas e o 
remédio só pode ser buscado nos meios de controlar seus efeitos - o que significa 
reconhecer que sempre existirão seres humanos com diferentes aptidões que irão lhes 
originar diferentes propriedades, logo, diferentes interesses. Sempre haverá classes e 
disputa entre elas. Madison escreve que, quando uma facção não consegue ser 
majoritária, o princípio republicano torna a maioria capaz de destruir pelo voto regular 
as pretensões da minoria; e quando uma facção inclui uma maioria, a forma de governo 
popular lhe permite sacrificar à sua paixão ou interesse dominante o bem público e os 
direitos dos demais cidadãos. E a meta do governo é justamente evitar isso. Para isso, há 
dois meios, ou evitar que uma paixão ou interesse exista ao mesmo tempo em uma 
maioria ou, tendo a maioria, tornar, por seu número e situação local, incapaz de pactuar 
e executar esquemas de opressão. 
Daí a defesa de um governo central. Madison entende que quanto menor for a 
sociedade, menor tenderá a ser o número de partidos e interesses distintos que a 
compõem e, assim sendo, mais facilmente a maioria se concentrará no mesmo partido, e 
quanto menor a esfera, mais facilmente executarão seus planos. Por isso, necessário é 
ampliar a esfera. E a mesma vantagem tem uma república grande sobre uma pequena. A 
influência de líderes facciosos pode atiçar Estados particulares mas será incapaz de se 
espalhar pelos outros Estados. Por essas razões, Madison vê na extensão e estrutura 
apropriada da União a solução para os problemas do governo republicano. 
 7 
A União, portanto, faz-se necessária contra o perigo estrangeiro e para a 
manutenção da paz entre o povo. É a guardiã do comércio e de outros “interesses 
comuns”. 
 
3. Democracia x República 
 
Os Federalistas não precisavam salvar o Rei, posto que não havia Rei. Não 
estavam em oposição à monarquia absoluta, a poderes concentrados na Coroa. Não são 
nobres buscando garantir sua liberdade em face a um soberano em um regime feudal 
que já começa a entrar em decadência. Não tendo mais Rei, nem monarca absoluto, o 
que restou do outro lado da trincheira nessa disputa foram as massas populares. Se 
Locke e Montesquieu pensavam em uma monarquia em oposição à monarquia absoluta; 
os Federalistas pensavam em uma república em oposição à democracia. Mas não era 
uma democracia que estava para ser criada, era uma república, que afastasse ao máximo 
as reivindicações populares de seus espaços de decisão. 
Uma democraciapura, segundo Madison, é uma sociedade formada por um 
pequeno número de cidadãos que se unem e administram pessoalmente o governo. Ela 
não dispõe de nenhum remédio contra os malefícios da facção, uma paixão ou interesse 
comum contamina, em quase todos os casos, a maioria do todo. A própria forma de 
governo propicia a comunicação e o ajuste e nada controla as tendências a sacrificar a 
parte mais fraca ou um indivíduo inofensivo. 
 Uma república é um governo em que está presente a representação. O governo 
é delegado a um pequeno número de cidadãos eleitos pelos demais. Pode se exercer 
sobre um maior número de cidadãos e um território mais extenso que um governo 
democrático e isso torna as combinações facciosas menos temíveis. A república, quer 
extraia seu poder direta ou indiretamente do povo, 'é administrado por pessoas que 
conservam seus cargos enquanto são aprovadas e por um período limitado, ou enquanto 
exibem bom comportamento'. Madison sustenta que é essencial que ele emane da 
grande maioria da sociedade e não de uma proporção insignificante ou de uma classe 
favorecida. 
Madison sustenta que a verdadeira distinção entre a democracia e a república é 
que, na primeira, o povo se junta e exerce o governo pessoalmente e, na segunda, ele se 
 8 
reúne e o administra por meio de seus representantes e agentes. Com conseqüência, 
entende que uma democracia deve ser limitada a uma pequena área e uma república 
pode se estender a uma grande região. 
Madison diferencia república simples de república composta. Naquela, todo o 
poder concedido pelo povo é submetido à administração de um governo único e a 
usurpação é evitada por uma divisão do governo em braços independentes e separados; 
numa república composta, o poder concedido pelo povo é primeiro dividido entre dois 
governos distintos – estadual e federal – e depois a porção que coube a cada um é 
subdividida por braços independentes e separados, do que provém uma dupla segurança 
para os direitos do povo, posto que os diferentes governos vão se controlar um ao outro, 
ao mesmo tempo em que cada um será controlado por si mesmo. 
Para proteger a sociedade contra a opressão de seus governantes e, também, de 
uma parte a sociedade contra a injustiça da outra, insere-se na sociedade um número tão 
grande de categorias distintas de cidadãos que se tornaria improvável ou impraticável o 
conluio injusto de uma maioria. Enquanto toda a autoridade emanará da sociedade e 
dela dependerá, a própria sociedade estará fragmentada em tantas partes, interesses e 
categorias de cidadãos que os direitos dos indivíduos, ou da minoria, serão pouco 
ameaçados por combinações interesseiras da maioria. Segundo Madison, quanto mais 
ampla for a sociedade, desde que ela abranja uma esfera viável, mais capaz de 
autogoverno ela será. E, para a causa republicana, a esfera viável pode ser bastante 
ampliada por uma judiciosa modificação e composição do princípio federativo. Assim, 
Madison utiliza a palavra república para defender sua forma de Estado e cria uma 
estrutura governamental que é baseada na aprovação popular, mas com reduzida 
participação do povo. 
Esse receio com relação ao povo é evidenciado na crítica ao despotismo 
eletivo. O fato dos poderes serem exercidos por uma pluralidade de mãos e não por uma 
mão única não melhora, segundo Madison, nada. Quanto a isso, é possível pensar duas 
questões: uma, que o receio dos Federalistas é o povo, e outra, que mesmo com eleições 
é possível o despotismo. Ora, se não há a ameaça da monarquia absoluta, continua o 
outro motivo da retirada dos poderes em estado de natureza, qual seja, impedir que 
todos sejam reis e, assim, a propriedade seja ameaçada. Não há uma nobreza, mas a 
ameaça vinda do povo, de suas paixões, de sua tolice que precisa ser controlada pelos 
 9 
representantes e mesmo pelos outros poderes. A preocupação com o despotismo eletivo 
relaciona-se com os avanços sobre a propriedade que os legislativos estaduais e os 
novos homens que começam a chegar no poder cometem. E não com uma simples 
dominação da maioria. 
Os Federalistas, por razões distintas, acabam chegando à mesma conclusão: no 
governo republicano, a autoridade legislativa predomina necessariamente. Apoiados em 
Montesquieu, buscam conter o legislativo por ele mesmo, uma vez que não acreditam – 
ou não querem acreditar por medo de perder a estabilidade - na possibilidade do povo, 
mesmo que por convenções, barrar ao governo. Do que se segue que os Federalistas 
dividem o legislativo em duas câmaras, com características um tanto distintas, ou seja, 
com diferentes modos de eleição e diferentes princípios de ação, pouco vinculados um 
com o outro quanto o permitam a natureza de suas funções comuns e sua dependência 
comum da sociedade. Não falam de uma Câmara de nobres, mas em senado composto 
de homens diferenciados. E os representantes do povo estarão na Câmara de 
Representantes, o outro braço do legislativo. Para eles, todo o poder do governo deverá 
estar nas mãos dos representantes do povo. Isso é a única segurança eficaz para os 
direitos e privilégios que o povo pode alcançar numa sociedade civil. Se, por um lado, 
os Federalistas afirmam que o povo é soberano, sustentando que a representação do 
povo no legislativo é feita por deputados eleitos por ele próprio – o mecanismo da 
eleição é fundamental para manter os representantes fieis aos eleitores -, por outro lado, 
Madison entende que, se há membros com talentos superiores, irão se tornar membros 
duradouros, mestres acabados nos negócios públicos, logo, serão reeleitos (motivo pelo 
qual esses membros poderiam tirar proveito de sua situação, daí a necessidade de maior 
informação para que não haja o controle de apenas alguns). 
Aos Federalistas não resta dúvida de que os homens são divididos em classes e 
que essas possuem interesses diferentes. Sua noção de classe relaciona-se com o ramo 
de atividade. Ainda que os Federalistas reconheçam a existência de classes com 
diferentes interesses, não as coloca como antagônicas. 
Segundo Hamilton, a idéia de uma representação genuína de todas as classes 
do povo por pessoas de todas as classes é inteiramente visionária; e mesmo que a 
Constituição estipulasse que cada diferente ocupação mandaria um ou mais membros, 
isso jamais ocorreria na prática. Como o comércio e a preservação da propriedade estão 
 10 
na base do governo, para os Federalistas, são os comerciantes que devem estar no 
governo central. Hamilton argumenta que mecânicos e manufatores sabem que o 
comerciante é seu benfeitor e amigo natural, daí porque pode representá-los. Os 
Federalistas justificam o governo no mérito, na capacidade, qualidade essa que o povo 
não possui. Hamilton sustenta que mecânicos e manufatores 
sabem que seus hábitos de vida não têm sido os mais adequados para 
lhes dar aqueles dotes adquiridos sem os quais, numa assembléia 
deliberativa, as maiores habilidades naturais seriam em grande parte 
inúteis; sabem ainda que a influência, o peso e os conhecimentos 
superiores dos comerciantes os tornam mais competentes para uma 
luta conta qualquer tendência contrária aos interesses da manufatura e 
do comércio que venha a se insinuar nos conselhos públicos 
(HAMILTON, 255). 
 
Nesse sentido, artesãos e manufatores estarão dispostos a dar seus votos aos 
comerciantes e aos indicados por eles. Hamilton é ainda mais enfático: os comerciantes 
são os representantes naturais de todas as classes da comunidade. 
Jay sustenta que será necessária uma reputação mais geral e ampla, fundada 
em talentos ou outras qualificações, para recomendar homens para cargos num governo 
nacional. Para ele, a administração, os conselhos políticos eas decisões judiciais do 
governo nacional serão mais sábios, sistemáticos e judiciosos que os dos Estados 
individuais. E, como conseqüência, serão mais satisfatórios para outras nações e mais 
seguros para os americanos. 
Madison sustenta que o objetivo de toda a organização política é, ou deveria 
ser, em primeiro lugar, “obter como governantes os homens dotados da maior sabedoria 
para discernir o bem comum e da maior virtude para promovê-lo; em segundo lugar, 
tomar as mais efetivas precauções para conservar tais homens virtuosos quanto mantêm 
sua responsabilidade pública” (HAMILTON et at, 1993: 376). 
Ora, a preocupação, aparentemente, dos Federalistas, já não é com a riqueza, 
mas com o mérito. Entretanto, o mérito acaba por ser relacionado com a riqueza, mesmo 
que indiretamente. Em certo sentido, já não há uma restrição legal a riqueza ou 
nascimento, nem uma divisão em classes dentro da Câmara. Mas a restrição se impõe de 
outra forma: por meio do mérito e da exclusão de um conhecimento que acaba ficando 
restrito a uma certa classe – que, para os Federalistas, como já citado, é a dos 
comerciantes. Os Federalistas sustentam, constantemente, que os representantes 
precisam ter noção de comércio – essa é uma das matérias que eles precisam saber, além 
 11 
de milícia e tributação. Se a decisão é tomada por mérito e por conhecimento, ambos se 
relacionam, justamente, com o comércio. 
O sistema desenvolvido pelos Federalistas possui esse objetivo: filtrar, 
escolher os melhores. Se, numa república, em especial uma grande, existem inúmeros 
interesses, é preciso filtrá-los. A representação surge com essa finalidade. Madison 
sustenta que o efeito da representação política, em uma república, é depurar e ampliar as 
opiniões do povo, que são filtradas por uma assembléia escolhida de cidadãos, cuja 
sabedoria pode melhor discernir o verdadeiro interesse de seu país e cujo patriotismo e 
justiça serão menos propensos a sacrificar o esse interesse a considerações temporárias 
ou parciais. É bem provável que a voz pública, manifestada pelos representantes do 
povo, seja mais consoante com o bem público que se manifesta pelo próprio povo, 
convocado para esse fim. Todavia, poderia acontecer que homens facciosos obtivessem 
os sufrágios do povo e depois traíssem seus interesses. Em função disso, é que as 
repúblicas grandes são mas favoráveis a escolha dos guardiães adequados do bem-estar 
público. 
É interessante a crítica feita pelos Antifederalistas, de que os membros da 
Câmara serão extraídos da classe de cidadãos menos solidária com o conjunto do povo e 
com maior tendência a visar um sacrifício da maioria em prol de poucos. Madison 
argumenta que a objeção é “dirigida contra uma pretensa oligarquia”. Pergunto-me se 
seria realmente “pretensa”. O filtro, surtindo o efeito de escolher “as melhores pessoas” 
ao governo, seleciona. Os Federalistas deslocaram o poder para o centro e criaram um 
legislativo nacional fundado em unidades representativas grandes e diversas que refina 
as decisões populares. 
 
4. Considerações finais 
 
Ao defender a Constituição dos Estados Unidos, os Federalistas desenvolvem 
um projeto de “nação”, cujos representantes precisariam ter noção de comércio, milícia 
e tributação. A fim de evitar o conflito e criar um Estado comercial forte e competitivo, 
preocupando-se com a estabilidade em oposição à liberdade, buscando retirar o poder 
das localidades e impedir a participação do “populacho” nas decisões nacionais, os 
 12 
Federalistas propõem um governo dos “melhores” que, para atingir seus objetivos, 
precisa dos meios necessários: o exército permanente é um deles. 
A Constituição dos Estados Unidos simboliza a vitória da exclusão da 
participação popular ativa e da decisão recolhida a espaços restritos a poucos que 
conseguem chegar a ocupá-los. Ainda que alguns membros das classes exploradas, 
artesãos ou camponeses, pudessem defender a Constituição, bem como indivíduos 
tradicionais e ricos pudessem criticá-la, os debates em torno dela giraram com a 
expectativa de diminuir a participação política das classes menos abastadas e de criar 
uma nação forte e competitiva no mercado. 
A tarefa prática dos Federalistas, portanto, era manter uma oligarquia 
proprietária com o apoio eleitoral da multidão popular. Eles não buscavam uma 
igualdade formal e se cederam espaço às vontades populares foi em virtude da 
impossível volta ao passado, já que estas massas participaram da Guerra da 
Independência e estavam entrando na política por meio dos legislativos estaduais. E, de 
certa forma, isto representa um avanço na consciência que não pode ser negado pelos 
Federalistas, os quais “concedem”, portanto, ao menos o mecanismo de eleições. Não 
que os Antifederalistas representem um avanço em termos de consciência, eles mais 
simbolizam um saudosismo a um passado comunitário, já ultrapassado pelo “andar” da 
história. 
 
5. Referências bibliográficas 
 
Hamilton, A; Madison, J.; e Jay, J. (1993) Os Artigos Federalistas, 1787-1788. Rio de 
Janeiro, Nova Fronteira. 
Kramnick, I. (1993) Introdução. In: Os Artigos Federalistas, 1787-1788. Rio de Janeiro, 
Nova Fronteira. 
Locke, J. (2005) Segundo Tratado sobre o Governo Civil. São Paulo: Martins Fontes. 
Montesquieu. (1999) Do espírito das leis. In. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova 
Cultural Ltda.

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