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“O COMUNICADOR POPULAR” Mario Kaplun PARTE 1. MODELOS DE EDUCAÇÃO E MODELOS DE COMUNICAÇÃO Tradução coletiva realizada pelo Coletivo de Comunicadores Populares http://www.camaracom.com.br/coletivo Agradecimentos especiais aos tradutores(as): Cristina Beskow, Cecília Reigada, Flávio Vieira, Jefferson Vasques Apoio de tradução: Ofélia Por que começar falando de educação e não de comunicação? Não é alongar o caminho com um rodeio desnecessário? Em primeiro lugar, quando estamos fazendo comunicação popular estamos sempre buscando, de uma maneira ou de outra, um resultado educativo. Dizemos que produzimos nossas mensagens “para que o povo tome consciência de sua realidade”, ou “para suscitar uma reflexão”, ou “para gerar uma discussão”. Consideramos, pois, os meios de comunicação que realizamos como instrumentos para uma educação popular, como alimentadores de um processo educativo transformador. È bom, então, que comecemos clareando e idéia que temos da educação; que concepção de educação está por trás das nossas práticas de comunicação. No entanto, há outra razão ainda mais importante para começar por este tema. E é que, como veremos: A CADA TIPO DE EDUCAÇÃO CORRESPONDE UMA DETERMINADA CONCEPÇÃO E UM A DETERMINADA PRÁTICA DA COMUNICAÇÃO. Por isso é tão útil e esclarecedor começar analisando os diferentes tipos de educação. Pela experiência de nossas oficinas, temos comprovado que, depois de refletir sobre este tema, o entendimento do conceito de comunicação se torna mais fácil; e que ele constitui um bom ponto de partida. OS TRÊS MODELOS DE EDUCAÇÃO Ainda que na realidade existam muitas concepções pedagógicas, Díaz Bordenave1 assinalou que se pode agrupá-las em três modelos fundamentais. Estes três modelos não se encontram em sua forma pura e isolada na realidade, e sim mesclados entre si e presentes em distintas proporções nas diversas ações educativas concretas. Entretanto, é possível distinguir estes três modelos básicos: MODELOS EXÓGENOS (educando = objeto) MODELOS ENDÓGENOS (educando = sujeito) Æ 1. Educação que enfatiza os conteúdos; Æ 3. Educação que enfatiza o processo. Æ 2. Educação que enfatiza os efeitos. Chamamos os dois primeiros de modelos exógenos porque foram concebidos desconsiderando o destinatário, como se fossem externos a ele: o educando é visto como objeto da educação. Já o modelo endógeno parte do destinatário: o educando é o sujeito da educação. Cada modelo dá ênfase a um objetivo distinto; isto é, que acentua, dá prioridade a este aspecto. Não que prescinda radicalmente dos outros dois, mas se centra e privilegia o que lhe é próprio. Por exemplo, a educação que enfatiza o processo, não por isso se desprende dos conteúdos e dos efeitos, mas sua prioridade básica nunca estará neles e sim no processo individual do educando. 1 JUAN DÍAZ BORDENAVE: Las Nuevas Pedagogías y Tecnologías de Comunicacíon. Conferência apresentada na Reunião de Consulta sobre a Pesquisa para o Desenvolvimento Rural na América Latina. Cali, 1976. Comecemos definindo os tipos de educação sumariamente para logo analisá-los: 1. EDUCAÇÃO QUE DÁ ÊNFASE AOS CONTEÚDOS: Corresponde à educação tradicional, baseada na transmissão de conhecimentos e valores de uma geração a outra, do professor ao aluno, da elite “instruída” às massas ignorantes; 2. EDUCAÇÃO QUE DÁ ÊNFASE AOS EFEITOS: Corresponde à chamada “engenharia do comportamento” e consiste essencialmente em “moldar” a conduta das pessoas com objetivos previamente estabelecidos; 3. EDUCAÇÃO QUE DÁ ÊNFASE AO PROCESSO: Destaca a importância do processo de transformação da pessoa e das comunidades. Não se preocupa tanto com os conteúdos a serem comunicados nem com os efeitos em termos de comportamento, quanto com a interação dialética entre as pessoas e sua realidade; com o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais e de sua consciência social. Trataremos de descrever e caracterizar cada uma destas três pedagogias a fim de ver que modelo de comunicação se relaciona com cada uma delas: 1. ÊNFASE NOS CONTEÚDOS Esse modelo de educação é, como já foi dito, o tipo de educação tradicional, baseado na transmissão de conhecimentos. Ao professor (ou comunicador), o instruído, “o que sabe”; cabe ensinar ao ignorante, o que não sabe. Como o leitor seguramente já deve ter reconhecido, é o tipo de educação que um de seus mais agudos críticos, Paulo Freire, qualificou de bancária: o educador deposita conhecimentos na mente do educando. Trata-se de “inculcar” noções, de introduzi-las na memória do aluno, que é visto como receptáculo e depositário de informações. Díaz Bordenave propõe esta adequada caricatura para caracterizar este modelo educativo: Todos conhecemos este tipo de educação vertical e autoritária: o paternalista (o paternalismo é tão somente uma forma mais amenizada do autoritarismo). Todos o sentimos. É ele que predomina no sistema educativo formal: no ginásio, no colegial, na Universidade. Repetidamente se censura a escola tradicional por sua tendência a confundir a autêntica educação com o que é mera instrução: ela INFORMA, mas não FORMA. Paulo Freire, ao analisá-la, diz que esta educação bancária serve para a domestificação do homem. Nela, aponta o autor de “Pedagogia do Oprimido”: O EDUCADOR O EDUCANDO - é sempre quem educa - é sempre o que é educado - é quem fala - é quem escuta - prescreve, põe as regras - obedece, segue a prescrição - escolhe o conteúdo dos programas - recebe o conteúdo em forma de depósito - é sempre quem sabe - é aquele que não sabe - é o sujeito do processo - é o objeto do processo. O MODELO EM SUA APLICAÇÃO: * Os eixos do método são o professor e o texto. * Os programas de estudo são frondosos e baseados nos conceitos que a fonte emissora (o professor) considera importantes. * Se dá muita pouca importância ao diálogo e à participação. * Valoriza-se muito a data e muito pouco o conceito. * Se preza a boa retenção dos conteúdos (ou seja, sua memorização) e se castiga a reprodução pouco fiel. A elaboração pessoal do educando também é reprimida como erro. * Há uma única verdade: a do professor. As experiências de vida dos educandos não são valorizadas. OS RESULTADOS * O aluno (ou o ouvinte, o leitor, o público) se habitua à passividade e não desenvolve sua própria capacidade de raciocinar e de desenvolver sua consciência crítica. * Se estabelece uma diferença de “status” entre o professor e o aluno (ou entre o comunicador e o leitor ou ouvinte). * Se fomenta uma estrutura mental de acatamento ao autoritarismo: o aluno internaliza a superioridade e autoridade do professor, atitude que logo passará paro o plano social e político. * Se favorece a manutenção do “status quo” no qual uma minoria pensante domina a uma massa apática. * Em virtude do regime de notas (prêmios e castigos) se fomenta o individualismo e a competência em prejuízo à solidariedade e aos valores comunitários. * Os educandos adquirem uma mente “fechada” ou dogmática, incapaz de julgar as mensagens recebidas por seus próprios méritos, independentemente da autoridade de suas fontes; * No estudante da classe popular se acentua o sentimento de inferioridade: o educando se sente inseguro, perde sua auto-estima, sente que não sabe. OBJETIVO: QUE O EDUCANDO APRENDA O indicador que o educador utilizará nestemodelo para avaliar seu produto será sempre: o aluno sabe (a lição, a matéria)? Ele aprendeu? Na verdade, o resultado é que geralmente o aluno não aprende, e sim memoriza, repete e logo esquece. Não assimila, porque não há assimilação sem participação, sem elaboração pessoal. A educação bancária dita idéias, não há intercâmbio de idéias. Não debate ou discute temas. Trabalha sobre o educando. Impõe-lhe uma ordem da qual ele não compartilha, e sim que o incomoda. Não lhe oferece meios para pensar autenticamente, porque ao receber as fórmulas dadas, simplesmente as guarda. Não as incorpora, porque a incorporação é o resultado da busca, de algo que exige da parte de quem a tenta, um esforço de re-criação, de invenção. PAULO FREIRE2 Convém reter estas últimas palavras, pois nos dão uma chave importante para nosso trabalho como comunicadores populares. Nossa comunicação popular deve procurar suscitar, estimular nos destinatários de nossas mensagens uma re-criação, uma invenção. 2 PAULO FREIRE: La Educacíon como Práctica de la Libertad. Tierra Nueva, Montevideo, 1969. A COMUNICAÇÃO NESTE MODELO Assim como existe uma educação bancária, existe uma comunicação bancária. Que conceito da comunicação tem o tipo de educação que acabamos de caracterizar? Como transmissão de informação. Um emissor (E) que envia sua mensagem (m) a um receptor (R). O emissor é o educador que fala frente a um educando que deve escutá-lo passivamente. Ou é o comunicador que “sabe”, emitindo sua mensagem (seu artigo jornalístico, seu programa de rádio, etc.) a partir de sua própria visão, com seus próprios conteúdos, a um leitor (ou ouvinte ou espectador) que “não sabe” e que não reconhece para si outro papel que o de receptor da informação. Seu modo de comunicação é, pois, o MONÓLOGO. O COMUNICADOR O RECEPTOR - emite - recebe - fala - escuta - escolhe o conteúdo das mensagens - recebe o conteúdo como informação - é sempre o que sabe - é o que não sabe Na realidade, quando este modelo se propõe a si mesmo um traçado horizontal, já está trapaceando. Seria mais exato representá-lo como no desenho abaixo, posto que é uma comunicação essencialmente autoritária e, por tanto, vertical. O emissor domina, é o dono, o PROTAGONISTA de comunicação. Qualifica-se esta comunicação de unidirecional porque flui apenas em uma direção, em uma única via: do emissor ao receptor. Pareceria que, em nossa comunicação popular, este modelo autoritário não tem lugar; que nos é totalmente alheio. Apresentado assim, ele merece apenas nossa rejeição/repúdio. Todavia, a concepção comunicacional emissor/mensagem/receptor está tão incorporada à sociedade, aparece como tão corriqueira e natural, que acaso, sem que sejamos conscientes disso, segue ainda influindo com força em nós e em nossa produção popular. * No nosso jornal, quem é que escolhe os conteúdos; quem os determina e seleciona? Fazemos o periódico consultando com a comunidade, recolhendo suas necessidades e suas aspirações, ou o fazemos desde nossa própria perspectiva? *Quando criamos nossa obra de teatro ou roteiro de nossa montagem de slides? Ou de nosso programa de rádio, tratamos de ir suscitando nos destinatários um processo pessoal, ou lhes disparamos verticalmente a informação que eles têm que aprender? À medida que seguimos assumindo o clássico papel de emissores, de possuidores da verdade que ditamos aos que “não sabem”; à medida que seguimos depositando informações e idéias já “digeridas” na mente de nossos destinatários, por libertadores e progressistas que sejam os conteúdos de nossas mensagens, continuamos tributários de uma comunicação autoritária, vertical, unidirecional. EXEMPLOS QUE NOS INTERPELAM Valeria a pena refletir sobre o caso da chamada “educação radiofônica” (instrução por rádio) na qual, por própria limitação do meio, o aluno se faz ausente, ouvindo a lição da sua casa e reduzido, portanto ao silêncio e à passividade. Somente lhe resta escutar, repetir o que lhe indica o professor e “aprender”. Muitas das tão meritórias “escolas radiofônicas” da América Latina, destinadas à educação de adultos reagiram saudavelmente contra essa concepção e a rechaçam, em muitos casos com indubitável sinceridade; em seus postulados hoje sustentam os princípios de uma educação libertadora e personalizante/pessoal; mas suas emissões, no entanto, continuam sujeitas ao esquema mecanicista tradicional – mestre que “ensina”, aluno que “aprende” – porque não souberam encontrar e criar outras maneiras de educar através do rádio. Seria interessante assim mesmo analisar e avaliar o caso de alguns grupos que produzem audiovisuais. Hoje, existe a moda de tais meios. A educação bancária tradicional sentiu a necessidade de “modernizar-se” e introduziu os chamados “apoio audiovisuais”: dispositivos, películas, vídeos... Inclusive se fala de uma “pedagogia audiovisual”. Mas com isso a educação em si, na realidade, não mudou nada. Ao contrário: fez-se ainda mais rígida e autoritária. Frente a um audiovisual, o educando nem sequer tem com quem falar. Já se dá tudo feito, todo o ensinamento digerido. Os meios audiovisuais na educação tradicional se usam somente como reforços para a transmissão dos conteúdos. É educação “envasada”. Pois bem, atualmente, na comunicação popular vemos utilizar cada vez mais e com maior entusiasmo as montagens de slides, as películas, os vídeos, etc. O que, em si mesmo, pode ser positivo: não estamos questionando o valor inegável desses recursos quando se sabe como utilizá-los bem. Mas talvez muitos desses comunicadores populares tão entusiasmados por eles, não estejam fazendo outra coisa que imitar irrefletidamente uma moda e valer-se de uma linguagem visual mais atrativa e penetrante para impor suas próprias idéias, seus próprios conteúdos (por mais “progressistas” que estes sejam). Realizam audiovisuais de tal maneira que não deixam um espaço, um respiro sequer ao espectador para que possa por sua conta recriar com sua própria elaboração. O bombardeiam com imagens, efeitos sonoros e musicais, com frases altissonantes e lhe dão, já digerida e mastigada, sua própria conclusão. Em síntese, todos que tratamos de fazer autêntica comunicação popular deveríamos nos perguntar: • Lançamos afirmações ou criamos as condições para uma reflexão pessoal? • Nossos meios monologam ou dialogam? SUGESTÕES PARA O FACILITADOR Naturalmente que o que aqui, no livro, não temos possibilidade de apresentar senão em forma de exposição já elaborada e desenvolvida, nas oficinas o vamos inferindo, descobrindo no diálogo com os participantes, a partir de suas experiências e suas observações. Distintas dinâmicas podem ajudar a essa descoberta. Por exemplo, no caso deste primeiro tema: • Reconstruir (em forma de improvisação teatral ou sócio-drama) uma classe tradicional ou um exame. Logo, analisar a atitude do professor e dos educando e inferir dali as características e conseqüências deste tipo de educação. • Analisar algumas mensagens de comunicação popular (inclusive produzidos pelos próprios participantes) e detectar em que medida estão influenciados pelo modelo autoritário emissor/receptor. • Discutir se este modelo é eficaz ou não para uma educação libertadora e por quê. 2. ÊNFASE NOS EFEITOS Convém analisar este segundo modelo com especial cuidado, porque é este o que mais influenciou a concepção da comunicação: em quase todos os manuais de comunicação que se utilizam como textos de estúdio em nossos países, os estudantes encontram, explícitaou implicitamente, os princípios que regem este tipo de educação. Outro motivo para examiná-lo com atenção é que, aparentemente, apresenta características que compartilhamos: • questiona o modelo tradicional; surgiu como uma reação contra ele, como uma resposta mais atual, mais “moderna”; • dá muita importância à motivação; • rechaça o modelo livresco, os programas frondosos; • busca uma comunicação com retroalimentação por parte do destinatário; • postula como objetivo a “mudança de atitudes”; • é um método ativo, propõe ações; • preocupa-se muito em avaliar o resultado das mesmas. No entanto, apesar dessas aparentes coincidências que podem fazê-lo atrativo a nossos olhos, sua diferença com a educação libertadora é radical; e é, como vamos ver, tão autoritário e impositivo como o modelo tradicional ou ainda mais. A ORIGEM DO MODELO Se o primeiro modelo – o que põe a ênfase no conteúdo – é de origem europeu e acunhado pela velha educação escolástica e enciclopédica que recebemos do Velho Mundo desde a Colônia, este segundo modelo nasceu nos Estados Unidos em pleno século XX: durante a segunda Guerra Mundial (década de 40). Desenvolveu- se precisamente para o treinamento militar; para o rápido e eficaz adestramento dos soldados. Seus planejadores – como apontamos antes – questionavam o tradicional método livresco por ser pouco prático; porque não conseguiam uma verdadeira aprendizagem em pouco tempo; porque é lento e caro. É ineficaz: o educador repete e depois esquece. Propunham, em seu lugar, um método mais rápido e eficiente, mais impactante, mais “feito em série”, para CONDICIONAR o educando para que adote as condutas e as idéias que o planejador havia determinado previamente (o qual explica porque este modelo teve tanta aceitação no exército, na guerra). O que determina o que o educando tem que fazer, como deve atuar, inclusive o que deve pensar, é o programador. Todos os passos do ensino vêm já programados. Tudo se converte em técnicas: em técnicas para o aprendizado. Chamaram-se ao primeiro tipo de “educação bancária” a este poderíamos chamá-lo de educação MANIPULADORA. O MODELO CHEGA À AMÉRICA LATINA Na década de 60, na chamada “década do desenvolvimento” ou de “desenvolvimentismo”, chega este modelo à América Latina, importado da Nação do Norte, como uma resposta da Aliança para o Progresso ao problema do “subdesenvolvimento”. Pensava-se que a solução para a pobreza em que estavam mergulhados nossos países “atrasados e ignorantes” era a modernização, isto é, a adoção das características e dos métodos de produção dos países capitalistas “desenvolvidos”. Era necessário multiplicar a produção e conquistar um rápido e forte aumento dos índices de produtividade; e, para isso, resultava imprescindível a introdução de novas e modernas tecnologias. As inovações tecnológicas eram vistas como a panacéia para todos nossos males; elas por si mesmas permitiriam obter progressos espetaculares. A educação e a comunicação deviam servir para alcançar essas metas. Por exemplo, deviam ser empregadas para PERSUADIR aos campesinos “atrasados” a abandonar seus métodos agrícolas primitivos e adotar rapidamente as novas técnicas. Repare no verbo persuadir. PERSUASÃO é um conceito chave neste modelo. Já não se trata, como no anterior, só de informar e dar conhecimentos; mas, sobretudo, de convencer, de manipular, de condicionar o indivíduo, para que adote a nova conduta proposta. Era fundamental buscar os meios e técnicas mais impactantes de penetração e de persuasão para - assim o dizem literalmente num escrito de 1960 – “mudar a mentalidade e o comportamento de milhares de seres humanos que vivem no campo”. Mudá-los – claro está – “para o bem deles mesmos e dos demais membros da coletividade”. Estes educadores trabalhavam de boa-fé, criam sinceramente que essa era a maneira de ajudarmos a sair da pobreza. Não é necessário imaginá-los como seres diabólicos. Todo manipulador legitima seu trabalho na convicção de que o faz pelo bem daqueles a quem tenta “conduzir para o bom caminho”. Assim se instrumentalizou a chamada ENGENHARIA DO COMPORTAMENTO. Em textos de comunicação escritos por esses anos, é possível encontrar definições tão significativas como a seguinte: O comunicador é uma espécie de arquiteto da conduta humana, um praticante da engenharia do comportamento, cuja função é induzir e persuadir a população a adotar determinadas formas de pensar, sentir e atuar, que lhes permitam aumentar sua produção e sua produtividade, e elevar seus níveis e hábitos de vida.3 AS BASES PSICOLÓGICAS Não seria de todo justo afirmar que este tipo de educação “não tem em conta o homem”. Pelo contrário, existe todo um vasto estudo da psicologia humana desenvolvido ao serviço desta corrente. Mas não é uma psicologia que procure o pleno desenvolvimento autônomo da personalidade do individuo, senão que investiga os mecanismos para poder “persuadi-lo” e “conduzi-lo” mais eficazmente; para modelar a conduta das pessoas de acordo com os objetivos previamente estabelecidos. 3 JORGE RAMSAY e Outros: Extensão Agrícola - Dinâmica do Desenvolvimento rural. Instituto Interamericano de Ciências Agrícolas, Sari José, costa Rica. 1960 {4a. edição, 1975} Tal é o objetivo da psicologia CONDUTIVISTA (ou, em inglês, BEHAVIORISTA, de behavior, conduta), que se baseia no mecanismo de estímulos e recompensas e que originou este modelo educativo. O HÁBITO, A RECOMPENSA O condutivismo assinala ao HÁBITO um papel centra na educação. Por hábito entende esta escola “a relação entre o estímulo e a resposta que a pessoa dá a esse estímulo, resposta pela qual recebe recompensa”. O hábito assim definido é, pois, uma conduta automática, mecânica, não-reflexiva, não- consciente e, portanto, possível de ser condicionada, modelada, suscitada externamente pelo educador em poder do estímulo e das recompensas adequadas. Educar não é raciocinar, senão gerar hábitos. Como o leitor já terá percebido, se parte do mesmo princípio da teoria neurofisiológica dos “reflexos condicionados” de Pavlov, aplicados aqui à educação. É partindo disso que, para representar graficamente esse modelo educativo, Díaz Bordenave propõe o desenho presente na página anterior. A “MUDANÇA DE ATITUDES” A recompensa joga, pois, um papel fundamental nas técnicas educativas deste modelo. Ela é a que determina a criação de novos hábitos no indivíduo. É algo mais que o prêmio de obter uma boa nota em um exame; deve ser algo capaz de mover o indivíduo para que adote uma nova conduta; ou seja, de provocar um efeito e produzir um resultado. Um bom exemplo de recompensa encontramos na campanha de controle de natalidade realizada na Índia, onde o organismo norte-americano que financiou a campanha oferecia um presente um rádio a todo homem que se deixasse esterilizar. É também nesse sentido que este modelo de educação fala de “MUDANÇA DE ATITUDES”, entendida como a substituição de hábitos tradicionais por outros favoráveis a novas práticas; mas sempre hábitos, vale dizer, condutas automáticas, modeladas, condicionadas. O MANEJO DO CONFLITO; A RESISTÊNCIA À MUDANÇA É também significativa a estratégia que adota este modelo de educação em relação ao conflito. Os educadores e comunicadores formados neste modelo, ao utilizar as técnicas para impor a modernização e a “mudança de atitudes”, prevêem o que chamam de “resistência à mudança”: crenças, mitos, juízos, tradições, valores culturais ancestrais que conformam e condicionam o comportamento social das pessoas e que podem entrar em conflito com os novos hábitos propostos, gerando resistência e rechaço. Qual é a estratégiaque se aconselha nesse caso à comunicação persuasiva? Antes de tudo, desde logo, não fazer caso nem escutar os destinatários; considerar que o técnico sempre tem razão e que se a gente não quer aceitar as novas condutas é sempre por “prejuízos”, por “ignorância”, por “atraso”. E, em segundo lugar, tratar de introduzir a nova conduta evitando o conflito. “Para substituir algo – dizem – não é indispensável discutir os defeitos do anterior. É melhor ressaltar as vantagens do novo que se propõe e insistir na recompensa. Quando a mensagem não está de acordo com os valores do meio social que forma o destinatário, se deve omitir toda referência a esse desacordo”. Ou seja, INCULCAR AS NOVAS ATITUDES SEM PASSAR PELA REFLEXÃO, PELA ANÁLISE; SEM PASAR PELA CONSCIÊNCIA; SEM SUBMETÊ-LAS A UMA LIVRE ESCOLHA. A consciência, a liberdade, molestam, cansam. Fazem perder tempo. Temos que chegar a algum resultado: não que a pessoa pense, discuta a questão e tome uma decisão livre e autônoma (porque isso leva tempo e há sério perigo de que ao final termine negando a proposta), senão persuadi-la, condicioná-la, oferecer-lhe a isca de uma recompensa para que adote de uma vez a mudança que se deseja impor. ONDE ESTÁ PRESENTE ESTE MODELO? • Já demos um exemplo: nas técnicas difusoras da modernização agrícola. Muitos extensionistas o aplicam. • O encontramos também no treinamento técnico-profissional: adestramento de operários, ensino de ofícios. • O achamos assim em todo o conjunto de técnicas, métodos e aparatos da chamada “tecnologia educativa”; nas “máquinas de ensinar” que dão lugar à “instrução programada”. • Está muito presente também na maioria dos métodos planejados para a chamada “educação a distancia”, onde o estudante estuda só, mas não investigando ou pensando por sua conta, senão seguindo os passos rigidamente prefixados pelo programador do curso e instrumentados em uma bateria de cassetes, programas de televisão, vídeo-cassetes, etc, aonde já vem tudo definido. • Outra das aplicações da tecnologia educativa consiste nos exames escritos de múltiplas opções, com varias respostas já formuladas e um espaço onde o estudante deve marcar com um x a que resposta que crê correta. Este tipo de exame tecnifica o ensino, porque depois se pode processá-lo rapidamente por computadores sem necessidade de intervenção do professor para corrigi-lo. Mas suprime todo interesse pelo o que constitui o verdadeiro objeto da educação: o raciocínio pessoal pelo qual o estudante chegou à resposta (o aluno pode chegar à resposta por puro “chute”, adivinhando). E exclui, desde o início, toda a possibilidade de que o educando proponha uma resposta própria, pessoal, reelaborada por ele, que não coincida com nenhuma das opções formuladas. Tudo se reduz, não a raciocinar, não a relacionar, senão a respostas “corretas” e “incorretas”. O MODELO EM NOSSA VIDA COTIDIANA Ainda que não tenhamos experiência pessoal de termos sido submetidos a este modelo de educação, o conhecemos por analogia, por fenômenos sociais que aplicam esses mesmos mecanismos, tais como: • Os meios massivos de comunicação (televisão, imprensa, radio, cinema comercial, revistas), os que se valem com freqüência destes mesmos recursos condicionadores para manipular a opinião do publico e modelar e uniformizar suas condutas. Não é de surpreender que este modelo de educação seja o que assinale mais importância aos meios massivos e os empregue amplamente em suas “campanha educativas”. • As técnicas publicitárias (propaganda comercial) que atuam por pressão, repetição e por motivações subliminares e onde o que interessa é que o público compre o produto anunciado (efeito) ainda que o faça por mero impulso, sem pensar, sem consciência dos motivos de seu ato e seduzido por um mecanismo ilusório de estímulo/recompensa que nada tem que ver com o conteúdo e com o uso do produto: “Camisa X: o segredo do êxito”... “Desodorante N para conquistar os homens... o desodorante da sedução”... • A propaganda política (particularmente a eleitoral), que, em geral, só se propõe criar uma pressão para que a massa vote no candidato (efeito) somente por sua presença e sua destreza oratória, sem reflexão nem analise nem conhecimento de seu programa de governo. O slogan é um grande recurso emocional desta concepção educativa. O MODELO EM SUA APLICAÇÃO Voltemos ao modelo no aspecto estritamente educacional. Muitas de suas características foram assinaladas, incluímos aqui algumas poucas mais: • Assim como no modelo tradicional, o eixo residia no professor e o texto, aqui no centro é o PROGRAMADOR. O trabalho de ensinar se deixa para materiais escritos ou audiovisuais, máquinas de ensinar, computadores etc. • O planejamento da instrução e sua programação é encarada como uma engenharia do comportamento; • Dá-se uma aparência de participação dos educandos ou receptores. Mas, é somente uma aparência, uma pseudoparticipação: os conteúdos e os objetivos já estão definidos e programados de antemão. O educando só “participa” execuntando-os . (Por exemplo: quando se oferece um curso de cultivo de frutas, os camponeses participam das práticas; mas não têm nenhuma oportunidade de discutir sua realidade econômica e formas de libertação). ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS - Aos serem estabelecidos os objetivos de maneira específica e rígida, pelo programador, o educando se acostuma a ser guiado por outros; - O ensino de maneira individual tende a isolar as pessoas, não propiciando uma atividade educativa e solidária; - Em troca, tende a desenvolver a competitividade; - Desde o ponto de vista dos valores sociais, pela vida da recompensa individual imediata, implantam-se ou reforçam-se valores de caráter mercantil ou utilitário, tais como o êxito material como critério de valorização, o consumismo, o individualismo e o lucro; - Ao rejeitarem seus valores culturais tradicionais, os educandos sofrem a perda de sua identidade cultural, o que lhes tira a segurança e referências, os deixando desenraizados. - Por outro lado, o método não favorece o desenvolvimento do raciocínio. Como só valoriza os resultados (efeito) em termos de ganho de objetivos operacionais pré-estabelecidos, este tipo de educação não contribui para o desenvolvimento da criatividade e da consciência crítica. - Tampouco favorece a inter-relação , a integração dos conhecimentos adquiridos, a capacidade de analisar a realidade de forma global, de tirar conseqüências. - Não se promove a participação, a auto-gestão, a tomada de decisões. - Por último, desde o ponto de vista sócio-político, é obvio que este modelo de educação tem um efeito domesticador, de adaptação ao status quo. OBJETIVO: QUE O EDUCANDO FAÇA. COMO A COMUNICAÇÃO CONCEBE ESTE MODELO O esquema de comunicação persuasiva introduz uma diferença importante com respeito ao defendido pela educação tradicional. Faz-se necessário analisar com especial atenção, porque se trata do modelo clássico de comunicação, o mais difundido e consagrado Continua havendo um emissor (E) protagonista, um dono da comunicação, que envia uma mensagem (m) a um receptor (R), o qual, por conseguinte, continua reduzido a um papel secundário, subordinado, dependente; mas agora aparece uma resposta ou reação do receptor, denominada retroalimentação (r) ou, em inglês, feedback, o qual é recolhida pelo emissor. O modelo pode ser percebido, portanto, como algo mais equilibrado e participativo, já que, aparentemente, lhe reconhece um papel relativamente mais ativo ao receptor, a quem se lhe daria ao menos a oportunidade de reagir ante a mensagem recebida e ter, assim, alguma influência, algum peso na comunicação. Parece atenuar a unidirecionalidade do modelo e insinuauma certa bidirecionalidade. Contudo, não devemos esquecer que estamos diante de uma comunicação persuasiva cujo objetivo é conseguir efeitos. Indagando com mais rigor, se descobre que nesta o feedback tem um significado e uma função muito diferentes. Tomemos um texto de um comunicador desta corrente, que define o verdadeiro sentido do modelo de forma esclarecedora. “Quando aprendemos a expressar nossa mensagem em termos de respostas específicas por parte de aqueles que a recebem, damos o primeiro passo para uma comunicação eficiente e eficaz (David Berlo). Diante de uma proposta de troca – intenção de comunicação – a reação do sujeito pode ser positiva ou negativa. Por exemplo, quando através de nossa campanha educativa propusermos ao camponês adotar um novo produto químico para combater determinada praga, o camponês pode aceitar a proposta ou rejeitá-la. Se a aceita, se estabelece uma comunicação. Se não ocorre a troca desejada, se não se produz a resposta desejada diante do estímulo empregado, pode considerar que a comunicação falhou. Ou, mais radicalmente, ainda, pode afirmar-se tecnicamente que não houve comunicação.”4 O texto transcrito não deixa lugar para dúvidas. Comunicar é impor condutas, conseguir acatamento. Em tal contexto, a retroalimentação é somente a comprovação ou a confirmação do efeito previsto (é dizer, a “reação do sujeito” diante da “proposta” ou “intenção de comunicação”). Esta pode ser positiva se o indivíduo acata a proposta ou negativa se a rejeita. Neste último caso, lhe serve ao emissor como instrumento de verificação e controle: pode ajustar as próximas mensagens, regulá-las, fazer as trocas formais requeridas para, agora sim, obter o efeito determinado, a resposta desejada. Em um excelente estudo crítico, um especialista tão qualificado como Beltrán confirma cabalmente este explicação do real significado do conceito: A retroalimentação remete aos mecanismos de controle destinados a assegurar que os organismos se ajustem automaticamente às metas de comportamento. De fato, segundo Wiener, trata-se do “controle dos efeitos da mensagem”. Ainda que o conceito tenha sido criado basicamente no campo da engenharia, foi aceito por muitos teóricos da comunicação humana por considerá-lo útil também para descrever o processo desta última. Falavam que, se as fontes emissoras queriam produzir certos efeitos nos receptores com suas mensagens, deviam receber de volta , por parte destes últimos, reações indicativas, enquanto em relação à eficácia do esforço persuasivo e, segundo este resultado, ajustar as mensagens aos seus objetivos. Concluindo, na definição clássica de comunicação, o objeto principal desta é o propósito do comunicador de afetar o comportamento do receptor em uma certa direção. A retroalimentação é um instrumento para assegurar o ganho das metas do comunicador.5 Não há nada aqui, portanto, de participação, nem de influência do receptor na comunicação. Há somente acatamento, adaptação, medição e controle de efeitos. A retroalimentação é o MECANISMO PARA COMPROVAR A OBTENÇÃO DA RESPOSTA BUSCADA E QUERIDA PELO COMUNICADOR. Como bem assinala Escarpit, “o feedback tem uma função de regulação destinada a manter uma situação em um estado estável, é uma forma de ‘robotização’ social”.6 Ainda que se tenha querida entender e apresentar como uma forma primária de participação do público, a retroalimentação ou “comunicação de retorno” não é, nesta concepção, mais que engrenagem do processo de 4 RAMSAY e Outros, obra citada (ver nota 3). 5 LUIS RAMIRO BELTRAN: Adeus a Aristóteles - Comunicação Horizontal. Revista Comunicação e Sociedade, No. 6, São Paulo, setembro 1981. 6 ROBERT ESCARPIT: Teoria Geral da Informação e da Comunicação. Icaria, Barcelona, 1977. condicionamento dos receptores: primeiro os condiciona em sua conduta, suas atitudes e seus hábitos e logo se verifica se dão resposta para a qual foram condicionados. Podemos citar dois bons exemplos práticos destes mecanismos: • Na publicidade comercial, cujo feedback consiste na comprovação posterior do aumento de vendas conseguido pela campanha publicitária; e • No índice de audiência dos canais de televisão, que logo permite afirmar que é o público que escolhe “livremente” e determina a programação. NÓS, COMUNICADORES POPULARES, DIANTE DO MODELO Talvez mais de uma vez o leitor poderá ter observado que, em atos culturais e artísticos populares, o companheiro que fica com o papel de apresentador ou animador – sendo assim um militante de base com alto grau de compromisso – tende a imitar em sua atuação os recursos manipuladores do animador profissional dos shows da televisão. “Pantallea”. Força as pessoas a aplaudirem uma ou outra vez aos artistas populares que se apresentam, pede a gritos que os aplaudam com mais vigor, grita palavras de ordem e exige compulsivamente que o público repita. Mencionamos este exemplo trivial (o acaso não tão trivial) para sugerir que, ainda que conscientemente lhe critiquemos e rejeitemos, o modelo de comunicação dirigista está tão presente na comunicação massiva e em tantas outras manifestações da sociedade, que mesmo os comunicadores populares não serão imunes a sua influência. A tentação de manipular reveste o atrativo de aparecer como o meio mais eficaz e mais rápido de conseguir um resultado; e sempre se pode justificar em função deste resultado. Mais que denunciar indícios, cremos que este é um tema de reflexão para que cada leitor – ou melhor, cada grupo – medite e discuta. Em que medida nos vemos refletidos no modelo educativo que se acaba de descrever? Em que medida, consciente ou inconscientemente, reproduzimos em nossas produções de comunicação o tipo de pedagogia que coloca ênfase nos efeitos? A pergunta se mantém aberta para que todos analisemos, com honesto espírito autocrítico, nossa concepção e nosso estilo de trabalho. Contribuímos somente com algumas pistas para esta reflexão, ainda que não apelemos a recompensas materiais nem fomentemos ao individualismo e a competência, podemos cair em parte nesta concepção dirigistas quando: • Damos mais importância aos EFEITOS imediatos de nossas realizações e ações que ao PROJETO dos participantes e assim forçamos resultado sem respeitar o ritmo de crescimento de nossos destinatários e sua liberdade de opção. • Confundimos COMUNICAÇÃO com PROPAGANDA e reduzimos nosso trabalho de comunicação a tarefas de “agitação”, a slogans, a campanhas, a palavras de ordem. • Assinalamos mais importância à QUANTIDADE do que à QUALIDADE; contabilizamos adeptos, adesões, leitores, espectadores, ouvintes por seu número e não analisamos se captaram ou compreenderam o significado de seu compromisso. • Não consideramos nossos destinatários como PESSOAS, mas sim como MASSAS, as quais nós, os “dirigentes lúcidos e esclarecidos, cabe conduzir. • Planejamos o conteúdo de nossos meios de comunicação, nossas campanhas etc, nós sozinhos, por nossa conta, sem dar participação à comunidade, e reduzimos a “participação” a assistir a nossos atos, leiam veja ou ouça nossas mensagens e execute as ações que nós programamos. • Em nossas mensagens, buscamos, sobretudo o “impacto”, apelamos aos EFEITOS EMOCIONAIS mais que aos CONTEÚDOS RACIONAIS; e esmagamos os espectadores com imagens e estímulos afetivos sem facilitar sua própria reflexão. O RISCO DE ABSOLUTIZAR Confiamos em não ser mal compreendidos. Se, por um lado, existem alguns comunicadores populares que, inadvertidamente se deixam levar facilmente pela tentação de manipular, há também quem, por reação, tem tanto em cair neste erro que tendem a ver manipulação em tudo. É bom e são estar sempre alertas e ser crítico. Mas, levar esta atitudea extremos irreais pode resultar em paralisia. Por temos ao fantasma da manipulação, poderemos terminar bloqueados e não fazer nenhum trabalho concreto. Esperamos que, ao longo do livro, o conceito vá se tornando mais claro. A comunicação popular, sempre colocando sua ênfase no processo, também tem que atender aos conteúdos e aos resultados. A propaganda, a palavra de ordem, o símbolo, a expressão coletiva e massiva, o elemento emocional, colocados dentro de seus justos limites, ocupam um espaço necessário e legítimo na prática comunicacional e organizativa do povo. Contanto que não substituam nem sufoquem o processo. O MODELO CONDUTIVISTA É EFICAZ? A receita condutivista atrai por sua aparente eficácia. “Não será muito ética, mas, diabos!... dá resultado”. Assim como assinalamos anteriormente o modelo bancário, além de ser impositivo, tampouco é pedagogicamente rentável, é bom agora destacar que se rejeitamos este modelo dirigista, não é somente por reservas éticas, mas também por sua muito baixa eficácia para o trabalho popular. Convêm em primeiro lugar anotar que, em suas aplicações educativas específicas, este método mecanicista apresenta mais fracassos que êxitos. Pos sorte, os seres humanos não somos “moldáveis” como supunham os “engenheiros do comportamento”. Mas, em todo caso, há que se perguntar se o modelo resulta produtivo para nossa ação popular. Mesmo que a manipulação demonstre ser eficaz em certos casos quando a classe dominante a utiliza; disso não se pode inferir que também o seja na educação do povo. Impor, moldar condutas, tratar educação de suscitar hábitos automáticos, não geram – já vimos – criatividade nem participação nem consciência crítica. E sem estas não existe trabalho popular durável e eficaz. Nossas mensagens libertadoras, conscientizadoras, problematizadoras, vão “contra a corrente” do sistema, da ideologia dominante. Os mecanismos que este emprega para reforçar seus valores são inoperantes quando se trata justamente de questionar e trocar estes valores. Não se “vende” criticidade, solidariedade, libertação, com os mesmos recursos com que se vende Coca-Cola. SUGESTÕES AO FACILITADOR • A DINÂMICA DOS “MUDOS”. Esta pequena cena é muito útil para problematizar a pseudocomunicação dos meios massivos. Pede-se a colaboração de três ou quatro voluntários, ao que lhes tapamos a boca com uma venda. Um dos facilitadores (ou algum colaborador previamente preparado) os chama, os convida a sentar-se ao seu redor e, em tom de voz normal, lhes diz: “Comunico que a Organização decidiu realizar um ato artístico para celebrar o Primeiro de Maio”. E logo lhes passa as instruções: um deles deverá encarregar-se de conseguir o local, outro os números artísticos, outro a propaganda, etc. Depois disso, lhes diz que podem se retirar e executar suas tarefas. Os voluntários lêem se levantam e se retiram. Em seguida criamos uma segunda situação: tira-se as vendas dos voluntários, o facilitador os chama novamente e lhes diz: “Cremos que deveríamos organizar algo para o Primeiro de Maio. Que vocês acham? Que deveríamos fazer?”. Os outros, certamente, começa a opinar, a propor, a dar seu parecer. Aí cortamos a cena: já cumpriu seu propósito. Logo, começamos a oficina: Em qual destas duas situações diríamos que houve comunicação? Logicamente, quase todos indicarão que somente a segunda, já que na primeira uma única pessoa dava o direcionamento, falava; os outros não podiam falar, estavam emudecidos pela venda. Então, levamos o grupo a confrontar a primeira situação com o modelo clássico de comunicação; e, com surpresa, os participantes descobrem que, apesar das mordaças, o modelo se cumpriu perfeitamente: o emissor transmitiu uma mensagem aos receptores e inclusive houve um feedback, “resposta”, posto que estes saíram para executar as instruções recebidas. A comprovação impressiona o grupo, já que os conduz a perceber como o consagrado modelo que legitima aos meios massivos de “comunicação” oculta a realidade que os receptores são mudos; estão impedidos de falar. Outras duas comprovações interessantes: O conteúdo da mensagem era bom, compatível: celebrar o 1º de Maio. E, no entanto, a situação era autoritária. Vemos, então, que o problema dos meios massivos não é somente de conteúdo, mas, também, de forma de comunicar; Ainda que o emissor tenha dado suas instruções em tom normal, sem prepotência, a relação era autoritária e impositiva, pelo fato de que os convocados não podiam replicar nem opinar. Destas comprovações se pode inferir que, sempre que alguém monopoliza a palavra e se coloca no papel de emissor exclusivo, incorre em uma comunicação impositiva, independentemente de suas intenções, do conteúdo de suas mensagens e do tom que emprega. Também será interessante analisar a expressão empregada pelo emissor: “Comunico que...” em que sentido está dita? Que entende esse emissor por comunicar? Por último, pode-se perguntar aos voluntários como se sentiram em uma e outra situação, e em qual delas estiveram mais motivados para colaborar. Seguramente na segunda, quando foi permitido que opinassem, dialogassem, propusessem, participassem das decisões. Disso pode-se perceber que a comunicação concebida como dialogo não é somente a mais humana e respeitosa, mas também a mais eficaz. • Analisar anúncios de publicidade comercial. Buscar onde está a imaginaria “recompensa” que oferecem (por exemplo, a camisa ou o cigarro que se valem de uma modelo “sexy” para vender o produto... os xampus e desodorantes que oferecem a mulher a promessa de que, usando-os, conseguiram romper sua solidão e cercar-se de pretendentes). • Analisar a propaganda da ultima campanha eleitoral do país, seus slogans, os efeitos de que se valeu cada candidato. • Reproduzir a atuação do animador e apresentador de um ato cultural popular. Analisar seus recursos e atitudes e confrontá-las com as de um profissional dos shows televisivos. • Analisar meios de comunicação popular – inclusive os produzidos pelos próprios participantes – e detectar possíveis influências do modelo dirigista. 3. Ênfase no Processo Veremos, finalmente, o terceiro tipo de educação: o endógeno, o que centra na pessoa e enfatiza o processo. É o modelo pedagógico que Paulo Freie, seu principal inspirador, chama de “educação libertadora” ou “transformadora”. SUA ORIGEM De certo modo pode-se dizer que é um modelo nascido na América Latina. Que recebeu valiosos aportes de pedagogos e sociólogos europeus e norte-americanos, e em nossa região, onde Freire e outros educadores mostram sua clara orientação social, política e cultural e a elaboração como uma pedagogia do oprimido, como uma educação para a liberação das classes subalternas e um instrumento para a transformação da sociedade. SUAS BASES Partiremos, para caracterizar, de uma frase do próprio Freire: “A educação é práxis, reflexão e ação do homem sobre o mundo para transformá-lo”. E não se trata, pois, de uma educação para informar (ainda menos para firmar comportamentos) e sim que busque FORMAR as pessoas e levá-las a TRANSFORMAR sua realidade. Dessa primeira definição, o pensador brasileiro extrai os postulados desta nova educação: - Não há um educador do aluno. - Não há um aluno do educador. - Mas sim, um educador-aluno com um aluno-educador. O que significa: - Nada educa nada. - Tão pouco nada se educa sozinho. - Os homens se educam entre si mediados pelo mundo. Esta dinâmica no transcorrer da qual os homens se vão educando entre si, é precisamente “o processo” educativo. O QUE É ENFATIZAR O PROCESSO? É ver a educação como um processo permanente em que o sujeito vai descobrindo, elaborando, reinventando, fazendo seu o conhecimento.Um processo de ação-reflexão-ação que ele faz a partir de sua realidade, de sua experiência, de sua pratica social, junto com os demais. E também aquele que está aí – o educador/aluno – No entanto não como aquele que ensina e dirige, mas sim para acompanhar a outro, para estimular esse processo de analise e reflexão, para facilitar; para aprender junto com ele através dele; para construir juntos. A TROCA NESTE MODELO Como se vê, este modelo também apresenta uma “troca de atitudes”; mas que não está associado à adoção de novas tecnologias ou o estado mecânico de condutas. A troca fundamental aqui consiste em transformar um homem acrítico em um homem critico; no processo em que um homem passa desde seu estado passivo, conformista, fatalista, até a vontade de assumir seu destino humano; desde suas tendências mais individualistas e egoístas até fixação dos valores solidários e comunitários. Não é necessário salientar que está transformação não poderá jamais ser alcançada por via de mecanismos manipuladores. Trata-se, necessariamente, por exigência dos objetivos, de um processo livre, no que o homem deve tomar suas opções cada vez com maior autonomia. UMA EDUCAÇÃO QUE PROBLEMATIZA Trata-se de uma educação problematizante, que busca ajudar a pessoa a desmistificar sua realidade, tanto física como social. O que importa aqui, mais que ensinar coisas e transmitir conteúdos, é que o sujeito aprenda a aprender; que seja capaz de resolver por si mesmo, de superar as constatações meramente empíricas e imediatas dos fatos que o rodeiam (consciência ingênua) e desenvolver sua própria capacidade de decidir, de relacionar, de elaborar sínteses (consciência critica). O que o adulto carente de educação não necessita de dados e informações tanto quanto de instrumentos para pensar, para inter-relacionar um fato com outro e perceber conseqüências e conclusões; para construir uma explicação global, uma cosmo-visão coerente. Sua maior carência não está nos dados e noções que ignora, mas nos condicionamentos de seu raciocínio nos exercícios que o reduzem somente a o que é capaz de perceber em seu redor imediato, em seu contingente. UM MODELO AUTOGESTIONÁRIO O modelo se baseia na participação ativa do sujeito no processo educativo; e forma para a participação na sociedade. Como foi visto, tem de ser assim, participativo, não somente por uma razão de coerência com a nova sociedade democrática que busca construir, mas também por uma razão de eficácia; por que somente participando, se envolvendo, investigando, fazendo perguntas e buscando respostas, problematizando e problematizando-se, se chega realmente ao conhecimento. Aprende-se de verdade o que se vive, o que se recria, o que se reinventa. E não o que simplesmente se lê ou escuta. Somente há verdadeiro aprendizado quando há processo; quando há autogestão dos alunos . PROCESSO, ERRO, CONFLITO * Ao contrario do modelo bancário, este não rechaça o erro, não o vê como falha nem o sanciona; pelo contrário, o assume como uma etapa necessária na busca, no processo de buscar a verdade. Nesta educação não há erros ou falhas, mas sim aprendizagem. * Também é distinta sua atitude diante do conflito. Em vez de contorná-lo , assume-o como força geradora, problematizante. Sabe que sem crise dificilmente há crescimento. Não pretende, naturalmente, agredir o sujeito e encará-lo bruscamente e marcá-lo como acrítico, de alienante em sua cosmo-visão, de dominado; No entanto tampouco pretende ocultar-lhe as contradições entre essa cosmo visão e a nova perspectiva libertadora cuja qual ele participa da construção. Para que haja real processo transformador, é necessário que os estereótipos e os hábitos do homem dominado aflorem a sua consciência e pouco a pouco vão revisando-o criticamente. OUTRAS CARACTERÍSTICAS DO MODELO * Não é uma educação individual, ao contrário, sempre GRUPAL, comunitária: “nada se educa sozinho”, mas sim através da experiência compartilhada, da interação com os demais. “O grupo é a célula educativa básica” (Freire). *O olho aqui não é o professor, se não o grupo de alunos. O educador está ai para estimular, para facilitar o processo de busca, para problematizar, para fazer perguntas, para escutar,para ajudar o grupo a se expressar e aportar a eles a informação que necessita para que avance no processo. * Este tipo de educação exalta os valores comunitários, a solidariedade, a cooperação; exalta também a criatividade, o valor e a capacidade potencial de todo o individuo. * Se a educação é um processo, é um processo permanente. Não se limita a alguns momentos da vida, a algumas instancias educativas, a um curso escolar de alguns meses. A educação se faz na vida, na práxis do pensamento. * Não tem medo de ambigüidades diante a realidade, diante a pluralidade de opções. É uma educação não- dogmática, aberta. * Esta pedagogia também pode usar – e de fato usa – recursos audiovisuais, porem não para reforçar conteúdos se não para problematizar e para estimular a discussão, o dialogo, a reflexão e a participação. * Na esfera psicossocial e cultural, suas meta são: - Favorecer através educação a tomada de consciência de sua própria dignidade, de seu próprio valor como pessoa; - Ajudar o sujeito de classes populares a superar seu “sentimento aprendido” de inferioridade, recompondo sua auto-estima e recuperando a confiança em sua própria capacidade criativa. * E é, claramente, uma educação com um compromisso social: uma educação comprometida com o oprimido e que se propõem a contribuir com sua libertação. Sua “mensagem” central é a liberdade essencial que todo homem tem para realizar-se plenamente como tal em sua entrega livre aos demais homens. Se é possível caracterizar ao primeiro tipo de educação como o que propõem que o aluno APRENDA e o segundo como o que busque que o receptor HAJA, poderíamos resumir a finalidade deste modelo na seguinte formulação: OBJETIVO: QUE O SUJEITO PENSE E que esse pensar o leve a transformar sua realidade. O PAPEL NECESSÁRIO DA INFORMAÇÃO Pareceria que este modelo de educação não apresenta, como os anteriores, conseqüências questionáveis. Contudo, é preciso salientar um risco que ela implica e uma conseqüência negativa que ela pode derivar; não da educação autogestora em si, mas do fato de mal entendê-la; de exagerá-la e encará-la de forma absoluta a tal extremo que termine por fazê-la inoperante. Existem críticos radicais que são “mais freiristas que Freire” e que tendem a condenar todo aporte do educador ou do comunicador como uma imposição e até como uma manipulação. Sim é certo que “nada educa nada”, também é que “nada se educa sozinho”. Colocar ênfase no dialogo, no intercambio, na interação dos participantes, não significa prescindir a informação. Não equivale a afirmar que tudo, absolutamente tudo, há de sair do autodescobrimento do grupo. A educação popular rechaça tanto a idéia de diferenciação hierárquica entre educadores e alunos – os primeiros donos de uma verdade levada aos segundos – como a de “um educador passivo que por um mal entendido ‘respeito’ ao povo se desresponsabiliza da finalidade do processo educativo e se inibe de fazer seu aporte”.7 7 MARIA CRISTINA MATA: A investigação associada à educação popular, papel do trabalho. Lima, 1981. A citação entre aspas foi tomada de um trabalho de JUAN E. GARCIA HUIDOBRO e SERGIO MARTINIC. O próprio Freire, máximo inspirador da educação autogestora, mostrou a necessidade de deixar claro em um de seus últimos livros que “conhecer não é adivinhar” e que “a informação é um momento fundamental do ato do conhecimento”. Isso não significa retratar-se dos princípios da pedagogialibertadora. O decisivo, aquilo que é necessário perguntar a si mesmo é como e em que contexto se proporciona essa informação. Se ela se dá de forma negativa, como conhecimento dado “em pára-quedas”, somente por que “está no programa”, como uma mera transmissão do “emissor” aos “receptores”, ela entrará indubitavelmente em franca contradição com os princípios. Porem aportar uma informação dentro do processo é outra coisa. Freire explica assim: Na relação entre o educador e os alunos, mediados pelo objetivo que há de descobrir-se, o importante é o exercício da atitude critica frente ao objeto e não o discurso do educador em torno do objeto. Quando os alunos necessitam alguma informação indispensável para prosseguir a analise – posto que conhecer não é adivinhar – nunca será esquecido que toda informação deve ir precedida de certa problematização. Sem esta, a informação deixa de ser um momento fundamental do ato de conhecimento e se converte em simples transferência entre o educador e os alunos.8 A informação, porem, é necessária. Uma data, um aspecto da realidade pode ser indispensável para que o grupo avance. E o educador (o comunicador) não deve deixar de aportar9. No entanto essa informação deve responder a uma previa problematização: a una dificuldade que o grupo sente, a uma pergunta que este formule, a uma busca, a uma inquietude. Se essa inquietude não nasce no grupo e o educador julga que essa informação é imprescindível para que os alunos possam avançar em seu processo, sua primeira tarefa será despertar essa inquietude, fazer que essas perguntas surjam; vale dizer, problematizar. Somente então aportará a informação. Por que somente assim o grupo se incorporará. Como educadores populares, é importante que absorvamos essa recomendação. Ela nos da uma pauta chave para a formulação de nossas mensagens. Mas adiante vamos ver quando e como se aplicar a nosso trabalho. OS CONHECIMENTOS PRÁTICOS Da mesma forma muitas vezes surgiu o problema da instrução. Quando se necessita ensinar destrezas, técnicas, conhecimentos práticos – se argumenta – não é possível aplicar esta pedagogia no processo. Diaz Bordenave discute este tema e chega a uma resposta razoável e equilibrada. Ela pensa que estas duas metas não são incompatíveis; e que apresenta-las como tal é gerar uma falsa oposição. 8 PAULO FREIRE: Cartas a Guiné-Bissau. Século XXI, México, 1977. 9 -(Adendo a esta nova edição). Nos textos recentes, Freire, todavia foi mais claro e preciso, declarando “em oposição positiva tanto ao autoritarismo arrogante quanto ao espontaneísmo irresponsável” (prólogo à J. WERTHEIN, A. CASTILLI, P. LATAPI e M. KAPLUN – Educação de adultos na América latina, Edições da Flor, Buenos Aires, 1985) e rechaçando a posição de alguns educadores que o qualificam como espontaneísta: “É dizer, uma posição segundo a qual, o nome do respeito à capacidade de pensar e a capacidade critica dos alunos, se deixa a esses livres a si mesmos, se deixa às massas populares livres a elas mesmas. Obviamente, uma educação revolucionaria deve estimular a capacidade critica e autônoma de pensamento entre os alunos, porem jamais deixa-los entregues a eles mesmos” (Em: ROSA MARIA TORRES, Educação popular; um encontro com Paulo Freire, CECCA-CEDECO, quito 1986). Indicadores Modelo Ênfase no Conteúdo Ênfase no Resultado Ênfase no Processo Concepção Bancaria Manipuladora Libertadora – Transformadora Pedagogia Exógena Exógena Endógena Lugar do aluno Objeto Objeto Sujeito Olho Professor – Texto Programador Sujeito – grupo Relação Autoritária – Paternalista Autoritária – paternalista Autogestionaria Objetivo Ensinar/Aprender (Repetir) Alinhar/ Fazer Pensar – Transformar Função Educativa Transmissão de Conhecimento Técnicas – Condutas Engenharia do Comportamento Reflexão – Ação Tipo de Comunicação Transmissão de Informação Informação/Persuasão Comunicação (dialogo) Motivação Individual: prêmios/castigos Individual: estimulo/recompensa Social Função do Docente Ensinar Instrutor Facilitador – Animador Gral de Participação Mínimo Pseudo participação Máxima Formação Critica Bloqueada Evitada Altamente Estimulada Criatividade Bloqueada Bloqueada Altamente Estimulada Papel do Erro Falha Falha Troca Busca Manejo do Conflito Reprimido Iludido Assumido Recusa de Apoio Reforço transmissão Tecnologia Educativa Geradora Valor Obediência Lucro Utilitarismo Solidariedade Cooperação Função Política Acatamento Acatamento/Adaptação Libertação. Posto que em qualquer tipo de sociedade será necessário que as pessoas adquiram conhecimento e destrezas, nada impede que se utilizem procedimentos de índole transmissora, sempre que os mesmo sejam empregados dentro de uma orientação global problematizante e participativa, mediante a qual o educador aprenda conhecimentos e destrezas instrumentais ao mesmo tempo em que conhece a realidade que o rodeia. Desenvolve sua consciência critica e seu espírito solidário mediante o dialogo, o debate e a participação na ação transformadora.10 Cabe-nos, para completar esta analise, definir o conceito de comunicação que se desprende de este tipo de educação. Ele equivale a construir o novo modelo libertador, próprio da comunicação popular. Pela importância do tema, este será destinado ao capitulo seguinte. SUGESTÕES PARA O FACILITADOR • Representar, através de dois “sociodramas”, uma classe tradicional e uma atividade formativa dentro deste terceiro tipo de educação. Analisar as diferenças. Ver qual é a atitude do professor bancário e qual a do formador o facilitador no modelo que põem ênfase no processo. • Aplicar as conclusões a nossos meios de comunicação popular: como devem ser nossos meios e nossas mensagens para gerar e se inserir num processo educativo? • Analisar produções de comunicação popular (incluso as realizadas pelos próprios participantes) e ver em que medidas correspondem a este modelo educativo: - em seus objetivos - em seu conteúdo - em sua forma - no uso ao qual se destina Pergunta-se: - problematizam? - Geram um dialogo? - Geram participação? • Colocar uma informação que se considere importante difundir em um meio popular ( em um jornal, um programa de radio, etc.) e ver como apresenta-lo na forma que coloca FREIRE, “a partir de uma clara problematização” 10 JUAN DIAZ BORDENAVE: América Latina necessita repensar a TECNOLOGIA EDUCATIVA. Mimeo, Caracas, 1982.
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