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[37850 179100] Aula 3 A todas Disposicoes Constitucionais Transitorias

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Profª Alessandra Malheiros Fava da Silva
Direito ConstItucional Econômico e Processo Constitucional
Aula 3
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
ADCT: Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição da República Federativa do Brasil
- Qual é a natureza jurídica?
- Qual é a sua função?
- Qual é a sua Utilidade?
- Forma em que vem sem utilizadas no Brasil?
NATUREZA JURÍDICA:
 	
 	 Não há dúvida de que o ADCT é uma norma constitucional, não só porque foi elaborado pelos nossos constituintes de 1988, como também em face do fato do mesmo só ser alterado por Emenda Constitucional.
 	Entretanto, se analisarmos a Constituição de 1988, perceberemos que o ADCT foi inserido fora do texto constitucional, tendo, inclusive, uma numeração própria, diferentemente do que acontece, por exemplo, no Código de Processo Civil, no que tange as suas disposições finais e transitórias. 
 	Porém, ao que parece, não existem discussões relevantes acerca do fato da ADCT trazer normas constitucionais, uma vez que, assim como foi explicitado acima, é com esse status que ele vem sendo encarado pelos nossos legisladores, bem como pelos nossos tribunais. 
 	A dúvida maior é saber o que o nosso constituinte quis dizer com o termo “transitórias”.
 	Segundo o Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa (Ferreira, 1977, p.476), transitório quer dizer: de pouca duração, passageiro, efêmero. 
 	
 	Assim sendo, com base no conceito acima, as normas do ADCT só deveriam vigorar por algum tempo.
 	De fato, alguns dos seus dispositivos nos dão essa impressão, como, por exemplo, o caput do artigo 77, in verbis: Até o exercício financeiro de 2004, os recursos mínimos aplicados nas ações e serviços públicos de saúde serão equivalentes: (...).
 	Conforme podemos verificar, a referida norma constitucional teve uma vida efêmera, pois, na presente data, já deixou de vigorar. 
 	Por outro lado, diz o artigo 15 da ADCT, in verbis: Fica extinto o Território Federal de Fernando de Noronha, sendo sua área incorporada ao Estado de Pernambuco.
 	Não há como dizer que o dispositivo acima é uma norma temporária, pelo contrário, ele acaba com as discussões que existiam em torno da propriedade de Fernando de Noronha, passando o ex-Território para os domínios do Estado de Pernambuco de forma definitiva, não apenas por um prazo determinado.
 
Assim, não se pode dizer que:
 O ADCT traz normas de pouca duração ou que se trata de local para normas passageiras, porque seria o mesmo que, a contrario sensu, afirmar que as demais normas são permanentes, o que não é verdade, pois, tirando as Cláusulas Pétreas, todos os demais dispositivos da nossa atual Constituição podem ser modificados pelo poder constituinte derivado reformador, podendo então vir a deixarem de existir. 
 
 	 Desse modo, acredita-se que quando o constituinte originário utilizou-se da expressão “transitória”, ele quis dizer que as referidas normas buscavam a transição de um ordenamento jurídico para outro, uma vez que a Constituição de 1988, decorrente do poder Constituinte originário, que como sabemos é autônomo, fez com que passássemos a ser regidos por outra ordem jurídica totalmente desvinculada da Constituição anterior.
Função do ADCT:
 	 A função maior da ADCT é justamente fazer uma transição entre o ordenamento jurídico que se vai com o ordenamento jurídico que chega.
O autor francês Paulo Roubier sintetiza a função e utilidade do ADCT ao dizer que “as disposições transitórias  têm por finalidade estabelecer um regime intermediário entre duas leis, permitindo a conciliação das situações jurídicas pendentes com a nova ordem legislativa” (ROUBIER, apud FERRAZ, 1999, p. 56)
FINALIDADE:
 	 
 A maior finalidade do ADCT é fazer um elo de ligação entre duas constituições, evitando, assim, um colapso decorrente da referida transição.
 	Vejamos: O que teria acontecido se o nosso Texto Magno não trouxesse o artigo 19 (conhecido como Trem da Alegria)?
 Porém, a feitura do referido artigo 19 teve suma importância, pois seria nefasto para o andamento da administração pública se todos os funcionários públicos não concursados fossem demitidos, vez que não haveria material humano para tocar o país durante o tempo necessário para a realização de novas seleções públicas.
 Veja que se pode pensar: Porque não os mantiveram por período provisório? Respondem os estudiosos constitucionalistas que o país correria o risco de não se interessarem em continuar um trabalho sem estabilidade.
Resume-se: que os dispositivos do ADCT têm natureza jurídica de normas constitucionais de transição, sejam temporárias ou não.
 
 “Significa que todas as normas contidas numa Constituição formal têm igual dignidade (não há normas só formais, nem hierarquia de supra-infra-ordenação dentro da lei constitucional)”. (CANOTILHO, 1982, p.190)
Da divisão de José Afonso da Silva :
 	José Afonso da Silva (SILVA, 2005, p. 44 e 45) traz uma divisão muito esclarecedora dos elementos das constituições, senão vejamos:
1) Elementos orgânicos, são os elementos que regulam a estrutura do Estado e do Poder, como os dispositivos que regulam as Forças Armadas. 
2) Elementos limitativos, são os que trazem a substância dos direitos e garantias fundamentais, como os direitos individuais e suas garantias. 
3) Elementos Sócio-ideológicos, regulam a relação do Estado individualista com o Estado Social, como o Título que trata Da Ordem Econômica e Financeira. 
4) Elementos de estabilização constitucional, tratam de buscar a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do Estado e das instituições democráticas, como o Título que regula o Estado de Defesa. 
5) Elementos formais de aplicabilidade, são os que trazem as regras da constituição, como o preâmbulo e a ADCT. 
 
Tendo em vista a divisão apresentada por José Afonso da Silva chega-se à conclusão que considerou as normas do ADCT como regras de aplicabilidade, ou seja, elas ajudariam a Constituição de 1988 a ter eficácia. 
 
 
 	As regras transitórias em tela protegem o novo ordenamento jurídico, elas dão uma base de sustentação para que os dispositivos constitucionais possam vir a ser aplicados, haja vista que só um ordenamento jurídico em perfeito funcionamento é capaz de suportar novas regras.
As normas das disposições transitórias fazem parte integrante da Constituição. Tendo sido elaboradas e promulgadas pelo constituinte, revestem-se do mesmo valor jurídico da parte permanente da Constituição (SILVA, 1982, p.190). 
 		Se o fim precípuo do ADCT é evitar um colapso entre um ordenamento jurídico e outro não teria o mínimo sentido qualquer modificação nas suas normas após a sua criação, uma vez que só existe mudança no ordenamento jurídico quando uma nova constituição é criada.
 	Acontece que boa parte das nossas emendas constitucionais modificou os Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, como as de número 10, 21 e 29.
A mutabilidade do ADCT:
Não existe dúvida de que o Supremo Tribunal Federal – STF aceita a possibilidade do ADCT ser modificado, caso contrário muitas emendas constitucionais teriam sido declaradas inconstitucionais. Mas qual é a explicação para esse fenômeno? 
 	As normas inseridas nas referidas disposições são normas constitucionais, de modo que não existe hierarquia entre elas e os demais dispositivos da Carta Magna brasileira.
 Desta feita, ao que parece, elas só poderiam não ser modificadas se estivessem inseridas dentre as Cláusulas Pétreas, pois elas teriam mais “força” ou mais importância do que as demais normas constitucionais. 
 Acontece que se o ADCT tem como função evitar um colapso quando da mudança de ordenamento jurídico não deveria haver utilidade em suas normas serem alteradas, ou seja, essas modificações desvirtuam o fim do instituto. Nesse sentido, Anna
Cândida da Cunha Ferraz, após reconhecer a possibilidade das Disposições Transitórias serem reformadas, afirma que elas enfrentam o seguinte limite: o da compatibilidade da “modificação” com a “finalidade” do regramento contido em suas disposições.(FERRAZ, 1999, p.60).
 
 	Se a finalidade da ADCT é trazer normas com fito de fazer uma tranquila transição entre um ordenamento jurídico e outro, poderemos considerar que as emendas não poderão inserir normas com outros objetivos. 
 
 	As emendas devem respeitar o ato jurídico perfeito, não podendo alterar as normas das Disposições Transitórias que já surtiram efeito. Como o já citado artigo 48, uma vez que o Código de Defesa do Consumidor já foi criado. Pensar de outra forma seria ferir um dos mais comezinhos princípios do Direito, qual seja, o da segurança jurídica.
Classificação das disposições do ADCT
Analisando o seu conteúdo durante o ano inicial de sua vigência, Raul Machado Horta identificou as seguintes categorias normativas:
- normas exauridas: aquelas que já desapareceram, em virtude da realização da condição ou do ato nela previstos, como, por exemplo, os arts. 1.º; 4º, § 4º;15 etc.;
- normas dependentes de legislação e de execução: arts. 10, § 1.º; 12, § 1.º; 14,§§ 1.º, 2.º e 4.º etc.;
- normas dotadas de duração temporária expressa: art. 40, que manteve, por 25 anos, a partir da promulgação da Constituição, a Zona Franca de Manaus (prazo esse acrescido de 10 anos pela EC n. 42/2003, nos termos do art. 92 do ADCT); art. 42, também alterado por emenda, modificando as regras de transição;
- normas de recepção: art. 34, § 5º; art. 66 etc.;
- normas sobre benefícios e direitos: arts. 53 e 54, que asseguraram direitos;
- normas com prazos constitucionais ultrapassados: nessa classificação, o autor identificou, à época (no primeiro ano de vigência do ADCT), todos os artigos que dependiam de legislação para sua implementação, como o art. 29, § 1.º, que fixava prazo para o encaminhamento de projeto de lei complementar dispondo sobre a organização e o funcionamento da AGU, e o art. 48 do ADCT, que estabelecia prazo para que o Congresso Nacional elaborasse o Código de Defesa do Consumidor. Muitos dispositivos, como os citados, já foram regulamentados.
Por sua vez, Luís Roberto Barroso, identificando espécies distintas de disposições transitórias, estabeleceu três categorias:
- disposições transitórias propriamente ditas: são as disposições típicas que regulam de modo transitório determinadas relações, estando sujeitas a condição resolutiva ou termo. Como exemplo, o autor lembra o art. 10, § 1.º, e o art. 23, caput;
- disposições de efeitos instantâneos e definitivos: essas disposições não aguardam uma condição ou um termo, operando imediatamente ou no prazo estabelecido. Nesse sentido, podemos citar o art. 13, caput, do ADCT, que criou o Estado do Tocantins, ou o art. 15, que extinguiu o Território Federal de Fernando de Noronha, reincorporando a sua área ao Estado de Pernambuco;
- disposições de efeitos diferidos: são aquelas que "sustam a operatividade da norma constitucional por prazo determinado ou até a ocorrência de um determinado evento". Como exemplo, o autor menciona o art. 5.º, caput, do ADCT, que determinou a não aplicação do disposto no art. 16 e das regras do art. 77 do corpo da Constituição às eleições previstas para 15.11.1988.

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