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Falta de Animus Abandonandi e Perdão Tácito

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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO	
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Numeração Única: 00212920820074013500
APELAÇÃO CÍVEL 0021292-08.2007.4.01.3500 (2007.35.00.021355-5)/GO
Processo na Origem: 200735000213555
R E L A T Ó R I O
O EXMº SR. JUIZ CONVOCADO RENATO MARTINS PRATES (RELATOR):
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto por SUPERCÍLIO BARROS FILHO, contra sentença prolatada pelo MM. Juiz Federal Substituto da 6ª Vara da Seção Judiciária de Goiás, Hugo Otávio Tavares Vilela, que, ao julgar o Mandado de Segurança impetrado contra ato do DIRETOR GERAL DO CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE GOIÁS - CEFET, “objetivando anular os atos materializados nas Portarias n. 415 e 491 de 2007, que o demitiram do cargo de odontólogo junto à impetrada, bem como pleiteando sua reintegração e o recebimento de todos os direitos e vantagens inerentes ao referido cargo desde a data de sua demissão”, denegou a segurança (fls. 315/319).
2. Embargos de declaração, opostos às fls. 326/328, rejeitados, fls. 329/330.
3. Em sua apelação, fls. 334/351, aduz o impetrante, em síntese, inexistirem os requisitos para a aplicação da penalidade de demissão, haja vista que não se caracterizou o “animus abandonandi”, eis que a)retornou ao serviço sem oposição das autoridades competentes, o que implicaria em perdão tácito; b) antes de haver a portaria instaurando processo disciplinar, já havia retornado a suas funções, havia mais de 3 (três) meses, inclusive cumprindo plano de reposição de horas; c) houve acordo verbal com sua chefia imediata, autorizando sua permanência em Goiânia (fora de sua lotação, em Jataí-GO), para acompanhar seu genitor, doente, que necessitava de cuidados especiais e que veio a falecer; d) houve pedido de remoção formulado pelo apelante, tardiamente apreciado e deferido como autorização de exercício provisório, descaracterizando o abandono de emprego e cuja decisão deveria retroagir à data do requerimento.
 Destaca jurisprudência dos tribunais federais em abono a seu entendimento de que, não caracterizado o elemento subjetivo não é possível falar-se em abandono de serviço, passível de aplicação de pena de demissão.
Argumenta, ainda, que (fl. 350):
(...) se entendia a Direção do CEFET/UNED-Jataí que o servidor estava se ausentando do serviço no horário de expediente, deveria ter agido com eficiência, aplicando-lhe, primeiramente, advertência escrita e, se reincidente, a penalidade de suspensão, e não se omitindo para, posteriormente, atingir o seu objetivo, que tudo indica seria o de demitir o servidor ora Apelante.
Requer o provimento do apelo, com a concessão da segurança, reconhecendo-lhe o direito de ser reintegrado no cargo de Odontólogo, Classe E-107, na sede do Centro Federal de Educação Tecnológica de Goiás, “com a condenação do apelado no pagamento dos salários não percebidos desde o mês de outubro de 2007, corrigidos monetariamente e acrescidos de juros legais, a partir da data de impetração”.
4. O CEFET apresentou contra-razões, em fls. 356/360, pugnando pelo não provimento da apelação.
5. Nesta instância, o Ministério Público Federal, pela Procuradora Regional da República Ana Borges Coelho Santos, opinou pelo não provimento do recurso (fls. 369/372).
6. É o relatório.
V O T O
O EXMº SR. JUIZ CONVOCADO RENATO MARTINS PRATES (RELATOR):
1. Cuida-se de recurso de apelação interposto contra sentença que denegou o pedido do impetrante, para que fossem anuladas as Portarias CEFET nº 415 e 491 de 2007, que culminaram na sua demissão, bem como para que o impetrante fosse reintegrado no cargo efetivo de Odontólogo daquela instituição de ensino.
2. Entendeu o juiz sentenciante que não houve ilegalidade no processo administrativo disciplinar, tendo sido observados os princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa. Fundamentou ainda seu “decisum” na ausência de justificativa para as faltas do impetrante, que culminaram com sua demissão. 
3. O recurso merece parcial provimento.
4. Conquanto a sentença recorrida tenha corretamente rechaçado alegados vícios formais no procedimento administrativo, que supostamente teriam importado em ofensa aos princípios do devido processo legal ou da ampla defesa, tenho que o ponto central abordado pelo ora apelante – a ausência do elemento subjetivo, “animus abandonandi”, necessário à caracterização da falta funcional, não foi corretamente avaliado.
5. Consoante se verifica dos elementos constantes do processo administrativo, cf. fl. 231, o apelante afastou-se de suas funções, na UNED/Jataí, no período de 14/02 a 30/04/07, lapso temporal mais do que suficiente para, sob o aspecto estritamente objetivo, caracterizar o abandono de seu cargo, nos termos do artigo 132, inciso II da Lei 8112/90.
6. Nada obstante, consoante pacífica jurisprudência do STJ, “em se tratando de ato demissionário consistente no abandono de emprego ou inassiduidade ao trabalho, impõe-se averiguar o animus específico do servidor, a fim de avaliar o seu grau de desídia” (STJ, 3ª. Seção, Rel. Min Gilson Dipp, MS 6.952/DF, DJ 2.10.2000; STJ, 3ª. Seção, MS 8291/DF, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ 05.05.2003, p. 216).
7. No caso dos autos, existem elementos consistentes de prova, desconsiderados na sentença recorrida, a demonstrar a inexistência do “animus abandonandi”.
8. Em primeiro lugar, conforme consta de relatório médico de fl. 34, vê-se que o pai do impetrante, Sr. Supercílio Barros de Abreu, 91 anos, esteve sob cuidados médicos, nos três meses que antecederam seu falecimento, ocorrido em 21 de abril de 2007. Lê-se do relatório que o falecido pai do impetrante esteve “acamado, exigindo cuidados intensivos e tratamento domiciliar , exigido do filho Supercilio Barros Filho, uma dedicação permanente neste período”
9. É certo que, nessa circunstância, deveria o servidor ter formalizado o pedido de licença para tratamento de pessoa na família, como lhe autoriza o Estatuto (artigo 83 da Lei n. 8112/90), que poderia ter sido autorizada se cumpridas as formalidades ali previstas, o que não ocorreu.Nota-se, entretanto, que o impetrante efetivamente informou a doença de seu pai ao Coordenador de Recursos Humanos da UNED/Jataí, que, no entanto, não lhe orientou sobre a possibilidade de licença para o tratamento de pessoa da família, não obstante fosse missão da CRH prestar tal orientação. É o que se apreende da leitura do depoimento do Sr. Edson Luiz Capellão Saldanha, fls. 150-152, nos autos do processo administrativo. 
10. Relevante, ainda registrar-se que a Chefe Imediata do apelante, Sra. Marinice Gonçalves do Prado, confirmou em seu depoimento (fl. 215) “ter havido um acordo verbal sobre a permanência do acusado em Goiânia, para acompanhar seu genitor”.
11. É verdade que o impetrante deveria ter o cuidado de formalizar o pedido de licença para acompanhar o tratamento do pai, como é igualmente verdadeiro dizer que sua chefia não poderia, apenas verbalmente, autorizar a ausência. Todavia, a doença do pai, que acabou por levar-lhe a óbito, bem como a autorização verbal da chefia imediata para a ausência do impetrante, são fatos provados nos autos do processo administrativo que, mesmo não tendo o condão de regularizar as faltas, apontam para a inexistência do elemento subjetivo caracterizador do abandono do cargo. 
12. Há mais, todavia. Consta igualmente dos autos que, na data de 14 de fevereiro de 2007, ou seja, exatamente no primeiro dia em que se passou a registrar as faltas do impetrante, este apresentou requerimento de remoção para a sede do CEFET-GO, na cidade de Goiânia, conforme se vê a fl. 86, tendo em vista a transferência de sua esposa para aquela cidade. O pleito obteve pareceres favoráveis da Procuradoria Federal (fls.102 e 109-110 e 113). Nada obstante, alegando inexistência de interesse da Administração na pretendida remoção, o Diretor Geral do CEFET-GO indeferiu o pedido de remoção,em 26.06.2007 (fl. 118). Mas autorizou o exercício provisório do servidor na sede, Goiânia, conforme se vê à fl. 119, à consideração do princípio constitucional que visa a “manter a unidade familiar” e enquanto durasse “a cessão e permanência de sua esposa na Secretaria de Trabalho do Governo do Estado de Goiás”.
13. Não verifico, na demora do atendimento ao pleito do autor, e no seu deferimento apenas parcial, “prova de má-fé” da autoridade, como alega o apelante. Todavia, mais uma vez, pode-se afirmar que, não obstante, a rigor, devesse o servidor aguardar em serviço, na sua lotação originária, a solução do seu pleito de remoção, o simples fato de haver ingressado com requerimento nesse sentido, antes mesmo de começar a se ausentar, demonstra a inexistência do animus de abandonar o cargo. Nesse sentido, trago à baila os seguintes precedentes do Superior Tribunal de Justiça: 1 e 2.
14. Por fim, como destacado na apelação (fl. 342), e provado nos autos, “em 19 de abril de 2007 (depoimento do ex-Coordenador de Recursos Humanos da UNED/Jataí, fls. 151), o apelante retornou às suas atividades, voluntariamente, tendo trabalhado com a aquiescência da Administração daquela UNED por mais três meses (fls. 183,184,185), cumprindo inclusive, plano de reposição de horas (fl. 35), antes da publicação da Portaria de Instauração do Processo Disciplinar, que ocorreu somente em 27 de agosto de 2007”.
Também essa circunstância contraria a existência do “animus abandonandi”, a par revelar um “perdão tácito” da Administração, consoante entendimento do Superior Tribunal de Justiça no julgado seguinte: ...3 ....
15. Em síntese, entendo que, não caracterizado o ânimo de abandonar o cargo, não é possível a aplicação da pena de demissão, sendo cabível a reintegração postulada
 16. Ante o exposto, dou parcial provimento à apelação para conceder o writ, determinando à autoridade impetrada que promova a reintegração do ora apelante no cargo de odontólogo, classe E-107. Condeno a apelada no pagamento dos vencimentos em atraso, a partir da data da propositura da ação de mandado de segurança (05.11.2007), com os acréscimos legais de juros e correção monetária, na forma prevista no Manual de Cálculos da Justiça Federal. 
5. É o voto. 
TRF 1ª REGIÃO/IMP.15-02-05	� FILENAME \p �W:\2ª TURMA ASSESSORIA\PAUTAS\PAUTAS 2013 DR. RENATO\agosto\05.08.2013\2007.35.00.021355-5GO.doc�
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TRF 1ª REGIÃO/IMP.15-02-05	� FILENAME \p �W:\2ª TURMA ASSESSORIA\PAUTAS\PAUTAS 2013 DR. RENATO\agosto\05.08.2013\2007.35.00.021355-5GO.doc�

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